Nemtsi e Selvagens - As almas...

By catarinasmirsky

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Quem se prenderia a uma promessa que não pode ser quebrada nem com a morte? Nemtsi e Selvagens - As almas cat... More

Prólogo
Capítulo 1 parte 1
Capítulo 1 parte2
Capítulo 2 parte1
Capítulo 2 parte2
Capítulo 3
Capítulo 4 parte 1
Capítulo 4 parte 2
Capítulo 5 parte 1
Capítulo 5 parte 2
Capítulo 5 parte 3
Capítulo 6 parte 1
Capítulo 6 parte 2
Capítulo 7 parte 1
nota da autora
Capítulo 7 parte 2
Capítulo 8 parte 1
Capítulo 8 parte 2
Capítulo 10
Capítulo 11 parte 1
Capítulo 11 parte 2
Capítulo 12 parte 1
Capítulo 12 parte 2
Capítulo 13 parte 1
Capítulo 13 parte 2
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18 parte 1
Capítulo 18 parte 2
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
capítulo 23
Capítulo 24
NOTA DA AUTORA
Capítulo 25 parte 1
Capítulo 25 parte 2
Capítulo 26
Capítulo 27 parte 1
Capítulo 27 parte 2
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Nota da Autora
Prévia
Nemtsi e Selvagens - A prisão dos ventos
Premiações

Capítulo 9

84 28 24
By catarinasmirsky


Capítulo 9

***

Pela manhã, Marta entrou no quarto encontrando Asia acordada:

- Olá! Bom dia, Asia! Está com febre novamente? - pousou a mão na testa de Asia. - Vou pegar mais remédio para você. Está se sentindo mal?

- Sim. Tentei tomar o remédio, mas derrubei o copo no chão. Desculpe-me.

- Não faz mal, pego outro para você.

Marta foi até a cozinha e retornou em seguida com mais remédio.

- Obrigada - disse Asia pegando o copo das mãos de Marta. Ela tomou aquele remédio horrível que a fazia querer vomitar e depois se deitou novamente. Outra pessoa entrou no quarto e posicionou-se ao lado de Marta, que acabara de limpar o que tinha caído no chão.

- Este é meu marido, Francesco - Marta estendeu o braço e pegou a mão dele com um sorriso satisfeito estampado na face.

- Olá, Asia! Seja bem vinda entre nós! - disse Francesco, que parecia ser um pouco mais velho que Marta, tinha o cabelo claro e ralo, as feições do rosto eram miúdas e o sorriso amigável. Depois, voltando-se para a esposa, continuou, - Tenho de ir. Volto à noite com Vladímir e os garotos, certo? - inclinou-se, deu um beijo no rosto de Marta e saiu do quarto sendo seguido por ela.

Nesse pequeno intervalo de tempo em que Asia pôde observá-los, notou como ambos eram próximos e atenciosos, era algo bonito de ser visto: "Há quanto tempo já estão casados? Ele parece ter trinta ou trinta e cinco anos. Ela, uns vinte e cinco, talvez. Quantos anos terão, na verdade? Sei que não têm o que aparentam. E são tão amáveis.". Asia ficou ouvindo os dois se despedirem na sala e se animou com a ideia de estar com eles, de estar sendo atendida por pessoas tão acolhedoras, pelos seus. "O velho Aron, afinal, chamou boas pessoas para cuidar de mim. Por que mamãe fugia tanto, então? Talvez ela soubesse que eles não poderiam ajudá-la, quem quer que nos perseguisse devia ser tão perigoso que os colocaria em risco, também." Assim que Marta retornou ao quarto, Asia articulou:

- Marta...

- Sim?

- O que nós somos? - perguntou finalmente. - Quer dizer, mamãe disse que eu não era como os humanos, que seria capaz de controlar melhor minhas habilidades quando fosse adulta, mas não sei bem o que posso fazer!

- Não existe uma definição correta do que nós somos realmente, Asia... Mas, obviamente, não somos como os humanos. Tivemos muitos nomes ao longo da história, dados por nós mesmos, pelos Selvagens e pelos humanos, também. Podíamos ser oráculos, druidas, elfos, Nemtsi... Tivemos muitas denominações em várias línguas. Não éramos organizados, no início, vivíamos muito dispersos pelo mundo e, por isso, não formamos uma unidade de povo, nem nós, nem os Selvagens - Marta se acomodou na mesma cadeira em que se sentou no dia anterior. - Nós nos identificávamos pelas famílias as quais pertencíamos. Éramos tribos isoladas e, no passado, lutávamos entre nós mesmos, também. Por terras, discórdias ou outras disputas. E lutávamos com os humanos e com os Selvagens pelos mesmos motivos.

Ficou pensativa, observando a corrente que Asia trazia no pescoço, e continuou.

- Havia alguns costumes antigos. - Marta pousou sua mão sobre o anel-pingente que estava sobre a camiseta de Asia. - Comuns a todas as nossas tribos. A escrita usada pelos oráculos era comum a todos nós. Este era de sua mãe, não é? - Marta se referia ao anel-pingente preso à corrente e solto sobre a roupa de Asia. - A Sra. Stern me contou ontem, eu perguntei a ela - Marta recolheu a mão e prosseguiu com suas explicações. -Éramos mais capazes de nos organizar e estabelecer acordos entre nossas famílias. Não tínhamos como vencer os clãs Selvagens nas nossas guerras se não estivéssemos em grande número. Mas, estando mais organizados e juntos, éramos mais fortes do que eles. Então, nós pudemos vencê-los, os Selvagens.

Marta se endireitou na cadeira e sorriu para Asia:

- Como disse, tivemos vários nomes, em diferentes regiões do planeta, mas o nome que ficou foi Nemtsi, o nome que os Selvagens nos deram. Vem do eslavo, é o equivalente aos Bárbaros, para os Gregos e Romanos; povos que falam língua estrangeira. Eles só nos chamavam assim e esse foi o nome que acabou nos identificando, nos separando dos Selvagens. Somos rápidos, ágeis, intuitivos e alguns dos nossos possuem habilidades mais pronunciadas. Vladímir acredita que, com concentração e treino, conseguiríamos fazer o que "ele" faz. Eu não acredito muito nisso. Vladímir é muito diferente de nós! Enfim, também temos uma vida mais longa e envelhecemos mais lentamente que os humanos. Infelizmente, anos acumulados não representam necessariamente maturidade - comentou Marta ao ouvir os irmãos entrarem ruidosamente pela porta da frente.

- Olá! Bom dia, Johanna! Está melhor?

- O que vocês fazem aqui? Não deveriam estar com Vladímir? - disse Marta, deixando transparecer certa impaciência.

- Ele já está subindo - respondeu o mais alto sem olhar para Marta e sorrindo para Asia.

- Então, aguardem na sala, estou conversando com ela.

- Está bem, está bem. Você anda com muito mau humor, Marta! - os dois saíram do quarto.

- Como eu ia dizendo... Durante o início da Idade Média, éramos tribos isoladas que compartilhavam crenças em comum. Na época, nossa única unidade eram os acordos feitos entre nossas antigas famílias, que se comprometiam a ajudar umas às outras diante de um inimigo, mas ainda não éramos muito organizados. Aos poucos, e depois de muitos conflitos, fomos nos constituindo em uma sociedade. Dispersa, mas com uma unidade de governo, composta por membros das famílias mais antigas. Os acordos nos uniram em um único povo, separados dos Selvagens. Seguimos assim... Unidos sobrevivemos melhor.

Marta já havia encerrado sua narrativa quando ouviu os passos de Vladímir atravessando a sala. Ele entrou no quarto, olhou fixamente para Asia e perguntou de maneira gentil:

- Sente-se melhor, Johanna? Sua mãe correu muitos riscos vivendo sozinha com você, aqui, no meio de humanos. Você poderia ter ficado sem ajuda.

- Minha mãe confiava que Yeda me ajudaria. Ela ajudou a família de Yeda na Guerra - chamava a atenção de Asia, a aparência de Vladímir. Ele parecia ter uma postura diferente das outras pessoas, movia-se de maneira diversa, como um líder diante da certeza de suas decisões sem, contudo, deixar de demonstrar o que, para Asia, era paternalismo absolutista.

- Eu sei, eu sei. Muito louvável, mas imprudente, já que a Sra. Klein morreu. Por sorte, os outros a estavam vigiando.

- Acho que ela estava contando com isso também - respondeu Asia de maneira um tanto desafiadora, provocada em resposta à autoridade que ele impunha e ela rejeitava.

- Seu pai era humano? - perguntou ele.

Esta pergunta desmontou a postura segura que Asia havia edificado diante dele, e aturdida respondeu:

- Não...! Quer dizer, não sei...

Asia nunca havia pensado nessa possibilidade. Aliás, ela nunca havia pensado nisso. Mas com expressão confusa, olhando para o chão, começou a pensar: "Será possível? Mamãe sempre falou de nós duas, nunca de papai!".

- Isso é possível? - perguntou, erguendo os olhos para Vladímir.

- Vocês conviviam muito com humanos, pode ser. Nossas mulheres podem ter filhos com humanos, é raro..., mas é possível - Vladímir respondeu à pergunta de Asia e a observava de maneira questionadora.

Asia tentava se lembrar de seu pai, lembrar como ele era ou de alguma coisa que sua mãe tenha dito. Vladímir continuou:

- Você sabe o nome dele? - Vladímir estava bem próximo à Asia e percebeu como ela ficou confusa: - Posso levantar informações e depois te informar.

Um pouco atordoada, Asia concordou com a cabeça, mas não pensou muito em sua última pergunta, estava perdida em suas dúvidas pessoais, esquecendo-se um pouco de Vladímir. Nem percebeu quando ele saiu do quarto. Ela passou o resto do dia pensando no assunto, quase não prestou atenção em Marta, que contava como era a vida na colônia. Após muitas divagações, concluiu que não, que seu pai era como elas. Sua mãe sempre fez distinção entre elas e os humanos comuns. Nunca se referiu a seu pai como se referia a eles: "Não procure seu pai, ele a encontrará no devido tempo. Mantenha a ordem das coisas". Pensava Asia no que sua mãe lhe dizia em sua infância. Seu pai não era humano, tinha certeza disso, mas não diria nada a Vladímir: "Talvez, papai esteja escondido, também." Pensou.

Anoiteceu. Asia não dormiu desde a noite anterior, mas encontrava-se estranhamente desperta. Estava sentindo-se melhor e fez movimentos para sair da cama. Sentiu que dominava seu corpo novamente sem estar tão atordoada a cada movimento que fazia com a cabeça. Levantou-se, caminhou sozinha lentamente até a porta do quarto, mostrando a Marta que era capaz de controlar-se outra vez e que conseguiria tomar um banho. Marta ajudou-a a ir ao banheiro e elogiou sua rápida recuperação.

Após o banho, Asia vestiu uma calça jeans de cor clara e uma camisa com um suéter com gola em V por cima. Asia não queria voltar para o quarto, queria ficar na sala, não se mostrando tão frágil e indefesa diante de seus novos companheiros. Mesmo não estando totalmente recuperada sentia-se realmente melhor, impondo uma postura mais segura de si mesma, indicando que já era capaz de se cuidar novamente.

Acreditando que conseguiria, arriscou comer um biscoito, mas não passou da primeira mordida.

- É assim mesmo, o enjoo não diminui tão depressa. Amanhã você estará um pouco melhor. Até acho que se recuperou mais rapidamente que outros que acompanhei. Você nem vomitou! Nenhuma vez! Passou por tudo de forma bem tranquila. Parabéns! - comentou Marta que se admirava com ela.

Depois de ouvir os elogios de Marta, Asia sentou-se no sofá dedicando-se a lhe dar toda a atenção, ouvindo as histórias de sua vida e de Francesco: de como se conheceram, de como criaram seu filho e que rapaz maravilhoso ele se tornou. Ouviu sobre as pessoas que iria conhecer na colônia, sobre casos pitorescos que já aconteceram e sobre como seria a vida dela lá. Nesse ponto, Asia começou a rejeitar a ideia que recebia. Não queria ir a nenhum lugar. Não foi para isso que se preparou toda a vida. Asia queria seguir com seus estudos em São Paulo e, nos períodos livres, tinha esperança de poder encontrar o rapaz que aparecia em seus sonhos: o que ela já havia escolhido. Achou boa a ajuda de Marta, mas não iria para nenhuma colônia:

- Marta, tenho planos de fazer faculdade aqui. Não vou sair de São Paulo!

- Mas precisa. Precisa aprender sobre quem somos e entender melhor o que você é para poder lidar com os humanos e o mundo aqui fora! Depois, pode voltar. Pode seguir o caminho que escolher.

- Já sei lidar com humanos. Cresci fazendo isso.

- Não é mais a mesma coisa. Você tem mais agilidade agora. Reage de forma instintiva ao que acontece ao seu redor. No início, vai precisar de nossa ajuda ou terá problemas! E se estiver sozinha e algo acontecer com você, quem vai te socorrer, Asia? Não pode ficar assim tão solitária, é muito triste, e nós sofremos muito se ficamos muito sozinhos, você precisa da companhia dos seus!

O marido de Marta chegou logo em seguida, e sem ter ciência da rebeldia de Asia, sentou-se no sofá da sala para conversar com elas. Asia, no entanto, se alienou de tudo a sua volta, a ideia de partir com eles era algo inconcebível nesse momento; não poderia se afastar dali e deixar para trás as expectativas que acumulou ao longo daqueles anos. Durante a conversa, ela não ouviu muito do que Francesco disse: que era, na verdade, quase uma repetição das coisas que Marta já havia contado; foi ponderando as alternativas que teria e o que poderia fazer para escapar daquela situação.

Vladímir retornou com os rapazes, mas conversou muito pouco com Asia, mantendo-se reservado em seus próprios pensamentos. Francesco foi ao quarto em que se alojaram para descansar um pouco, enquanto Marta, que permaneceu na cozinha, preparou um lanche. Todos comeram menos Asia, que ainda se sentia enjoada e um pouco tonta.

Os rapazes, Bruno e Mario, cercaram Asia com muitas conversas sobre suas habilidades e sobre coisas que já haviam feito em diversos lugares onde viveram. Disputavam a atenção dela entre si, um mais eloquente que o outro; falaram sobre Vladímir e de como ele os ensinou a atirar e a se defender empunhando uma espada. Sim, sabiam lutar. Afirmavam que eram Nemtsi muito treinados, capazes de enfrentar até Selvagens. Asia estava pouco interessada no que eles diziam, nem entendeu quando um deles puxou-a pelo braço e correu arrastando-a para fora do apartamento.

O apartamento de Asia ficava no último andar do prédio. Eles saíram pela porta da cozinha, subiram as escadas e foram para a plataforma no telhado. Estava frio e ventava muito no alto do prédio, o céu estava coberto por nuvens e havia chovido, porque o chão estava molhado. Asia foi conduzida por eles sem ter como reagir porque ainda se encontrava atordoada, como se o chão não fosse firme e tudo girasse em torno de si. Eles a soltaram próximo à porta por onde haviam passado para chegarem ao telhado e, em seguida, e falando muito, Bruno e Mário começaram a se mover diante dela mostrando que tinham reflexos muito rápidos e fingiam lutar. Asia tinha dificuldade em acompanhar tudo o que diziam ou faziam e não se sentia muito firme em relação a si mesma, seus próprios movimentos eram, por vezes, muito instáveis.

Havia uma pequena mureta de proteção que contornava os limites do prédio. Um dos rapazes, Mario, agarrou o braço de Asia e subiu na mureta de proteção arrastando-a para junto dele. Enquanto puxava Asia para a mureta, Mario ia dizendo como eles eram capazes de se equilibrar, como dominavam seus movimentos e como isso os diferenciava dos humanos. Asia olhou para baixo e sentiu vertigem, por conta da altura. Assustada, empurrou Mario, que se não fosse tão ágil, teria caído.

Asia girou com extrema agilidade e rapidez, saltando para próximo da porta que levava de volta às escadas. Viu Marta, que os seguiu até o telhado e estava parada próximo aos cabos da antena de TV e a porta, por onde ela passou correndo.

Asia não parou, foi extremamente ágil e desceu os seis andares pelas escadas rapidamente. Passou pela portaria correndo e seguiu pela rua.

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