Em revisão...
Liara
- Ficou sabendo? – A Késsia entra em minha sala. - Um dos promotores está assumindo outra cidade como Juiz e terá uma vaga na promotoria. Vai tentar?
Ela parecia tão feliz, mas quanto a isso eu havia desistido. Trabalhar em outra cidade estava fora de cogitação. Nunca me deixariam assumir ao próximo ao Cairon.
O Cairon e eu, chegamos uma vez a discutir seriamente por causa do assunto. Ele tinha consigo que eu poderia ir muito além se não fosse por ele ser juiz.
- Já cheguei bem mais longe que pensei um dia chegar Késsia. Estou feliz com o que faço e estou em um caso grande, me foi dado de presente.
- E a Valentina como está? – Ela puxou a cadeira e sentou-se.
- Está bem. Mas se puder passar por lá e conversar com ela.
- Passo sim. Talvez eu possa busca-la na escola um dia destes da semana.
- O Cairon não disse nada, mas sei que está profundamente magoado com ela a ponto de a estar evitando a semana toda. Não foi almoçar no horário, quando foi. E a noite deixou de jantar por dois dias.
- E ele acha que assim ela compreenderá que ele a ama?
- Acho que não é bem essa a intenção dele. Creio que é para que compreenda que está muito decepcionado com ela. E ela sentirá, porque sempre foi ele a fazer todas as suas vontades.
O assunto passou por família, maridos e trabalho. Voltou novamente a alguns pontos dos quais tínhamos falado até que recebi um telefonema da Josy.
Ela andava sumida, e com motivos. Agora como Juíza de uma comarca vizinha, quase não tinha tempo para as amigas.
- Doutora? – Brinquei. Mas senti que sua voz, mesmo quando perguntou pelas crianças e pela Késsia, estava preocupada. Mas não quis dizer o motivo. Depois desligou eu brinquei com a Késsia.
- Achei essa ligação um pouco estranha. Está acontecendo algo?
- Não que eu saiba. Mas precisa ir ao fórum, e talvez lá descubra algo.
Peguei minha bolsa e sai. Caminhei pela rua dos poderes. Primeiro, passei no gabinete do Cairon, como ele ainda estava em reunião, desci até a garagem para deixar algumas coisas no carro dele.
Quase chegando ao carro eu me desequilibre e por pouco não fui ao chão. Por pouco não... Por duas mãos enormes que me seguraram.
- Obrigada! Eu devia prever que esse salto não aguentaria uma caminhada maior que... – Olhei para cima e ele me observava silenciosamente. Negro, devia ter seus 1,88 por aí. Barba cerrada e cabelo cortado à máquina número um e alguns desenhos no corte do cabelo. Lembrou-me muito um ator de filme americano.
- Algum problema por aqui? – Eu havia me perdido na comparação com o ator americano e nem percebi que o Cairon estava chegando.
- Ah não. – Me arrumei e me coloquei firme sobre as pernas.
- A moça se desequilibrou e a ajudei.
- A moça em questão é minha esposa. E me parece que ela já está bem.
- Obrigada. – Ele continuou seu trajeto rumo ao TRF e eu esperei que o Cairon viesse até a mim. - O que foi isso?
- Isso o que?
- Você foi mal educado.
- Não fui.
- Claro que foi. O homem estava apenas me ajudando, se não fosse por ele, teria me machucado ao virar o pé com esse salto de quinta que inclusive me venderam por uma fortuna.
- Ele estava com você nos braços. E se não bastasse minha filha querer me chatear essa semana, agora vou ter que aturar minha esposa nos braços de outro?
- Quem vê, ou ouve, pensa que eu estava até fazendo algo de mais.
- Você não. Ele não estava ainda.
Encerramos o assunto e entramos no mesmo carro. Um dos agentes sempre trazia o carro que ficava. Eu até queria tocar novamente no assunto sobre a Valentina, mas achei que não era hora.
Quando chegamos em casa o Cairon foi direto para o quarto do Benjamim. Antes ele passava nos dois quartos para saber como fora a aula e se estavam precisando de algo.
Mas desde o ocorrido no sábado passado ele não tem feito o trajeto até o quarto da menina e isso me cortava o coração. Saber do amor que ele devotava àquelas crianças e agora isso.
- Pai. – Da cozinha eu a ouvi chamando quando ele passou pelo quarto dela sem dizer nada. Fui até a porta e sem que eles me vissem fiquei observando.
- O que foi Valentina? – Ele respondeu sem se virar.
- Podia pedir minha mãe, por favor, para devolver meu celular. Amanhã faz uma semana que estou sem ele. – Eu não acreditei no que estava ouvindo. Achei por um momento que ela pediria à ele que voltasse a falar com ela, ou que fosse até seu quarto como costume, e ela vem falar de celular. Se fosse uma mágoa passageira seria testada agora. Ele sempre vinha intervir quando ela fazia algo que eu colocava de castigo.
- Assuntos com sua mãe trate com ela. – Foi só o que ele disse e saiu. Quando ele despareceu para o quarto fui até o dela.
- Valentina filha. Não está arrependida? Não acha que precisa pedir desculpas a seu pai?
- Mãe... Esperei a semana toda que vocês vissem o quanto estão me tratando mal e você ainda acha que preciso pedir desculpas a meu pai?
- Nós te tratamos mal Valentina? Eu não acredito em uma coisa desta. - Decidi sair do quarto, e ela ainda veio falando atrás de mim.
- E vocês ainda fizeram com que o George ficasse chateado comigo. É tudo culpa de vocês. – Pedi a Deus que me desse paciência. Seria a primeira vez que eu daria uns tapas em minha filha.
- Uma pena Valentina não sei onde estamos errando com você. Eu achei o George uma gracinha de menino. E se fosse a mãe dele não gostaria realmente que ele namorasse uma menina mimada e sem limites como você filha.
- Mas eu sou sua filha e tem que me entender.
- Juro que eu estou tentando.
- Não está! – Quando ela gritou, dei dois passos em sua direção, minha vontade era de enfiar a mão na cara dela. Mas me lembrei de tantos casos de pais que maltratam filhos e nós estávamos ali para defendermos os direitos das crianças. Então fechei os olhos e respirei e ouvi a voz forte do Cairon.
- Quem você pensa que é garota para gritar assim com sua mãe dentro da nossa casa? Nunca te demos este exemplo. – O Benjamim veio assustado do quarto e ficou observando.
- Mas pai ela...
- Ela? Ela? Esta mulher é sua mãe. Cale a sua boca e abaixe sua voz ao falar com quem deu a vida por você.
- Eu não pedi para nascer. – Ela chorou.
- Mas está pedindo para levar umas boas palmadas. E se não quer que seja a primeira vez que isso aconteça, vá para seu quarto e fique por lá. Nem nossa convidada para o jantar não será essa noite.
- E meu celular? – A confiança dela era demais.
- Onde está o celular dela Liara? – Eu agora queria dar umas palmadas era no Cairon. Devolver o celular da Valentina? Mas tínhamos um acordo. Não tiramos a autoridade um do outro, principalmente na frente das crianças.
Abri minha bolsa e peguei o aparelho. Entregando a ele. Ele que cometesse essa loucura.
Assim que viu o celular em suas mãos, ele pegou o aparelho e jogou no chão e pisou em cima, destruindo cada pedaço. Nunca tinha visto meu marido tão descontrolado.
- Para o seu quarto agora! – Ele gritou tão forte desta vez que ela girou nos calcanhares e saiu correndo.
- Desculpa filho. Não precisava presenciar isso.
- Hoje na escola pai, ouvi a Valentina dizer que amanhã não voltaria para casa.
- Como assim filho?
- Ela disse que iria dar um jeito e fugiria para se encontrar com o George.
- Disse isso a você?
- Não. A uma menina da sala dela.
- Então amanhã ela que me aguarde. Vou mandar reforçar a segurança de vocês.
- Bom... Vamos jantar. Deixe-a pensar um pouco. Venha filho. – Abracei o Benjamim e fomos para a sala de jantar.
- E você filho? Como está na escola?
- Péssimo em português. A prova valia dez e eu tirei quatro.
- Isso quer dizer...
- Que um de vocês terá que assinar a prova. Mãe, mas não foi falta de estudar. Eu me esforço par entender a matéria, mas não entendo.
Ele conversou com o pai sobre um acontecimento no clube de xadrez e o tempo estava passando tranquilamente.
- Boa noite família.
- Filho!
- Pietro que bom que você veio para casa hoje.
- Fala moleque. Trouxe um jogo irado para jogarmos mais tarde.
- Que legal Pietro. Estou sentindo muito sua falta. Meu pai não sabe jogar, a Valentina não quer jogar e a mamãe não tem tempo.
- E mesmo se eu tivesse com certeza não saberia jogar também.
O Pietro era o porto seguro do Benjamim, tenho observado ele um tanto triste depois que o irmão viajou para faze pós-graduação.
- E essa carinha triste? Onde está a namorada? – O Cairon era observador.
- A gente terminou? – Ele suspirou pensativo. - Mas onde está a pirralha? Trouxe uns DVDs para ela.
- Está no quarto de castigo.
- Posso ao menos entregar os DVDs?
- Claro filho. Talvez a convença a deixar de ser tão desobediente.
Ele foi e a moça que estava como ajudante veio tirar a mesa... Mal ela tinha começado o Pietro voltou.
- É melhor verem isso. – Entregou um papel ao pai. Fui até o lado dele e li o bilhete.
"Não me procurem... Ninguém me levou, eu fui porque quis. Quando for rica e independente eu volto." – Valentina.
- Que Droga. – O Cairon saiu de perto de mim já pegando o telefone e eu sabia para quem ele iria ligar.
- Murilo a Valentina fugiu de casa!
Ele saiu brigando com os seguranças que ficam à porta e querendo todo tipo de informação. Mas parecia que a garota tinha virado fumaça.
Sentei-me no sofá e rezei. Rezei aos céus que protegessem minha filha mesmo sem ela querer. Ela não tinha noção do que pessoas de má fé poderiam fazer se a tivesse nas mãos.
Pior... Eu não queria nem pensar só rezar.