As Duas Versões

By marialauranog

391K 33.7K 15.6K

Se a vida de Marília fosse um livro, ela certamente saberia qual a versão de Pietro sobre aquele reencontro;... More

Oi, gente! E informações
Prólogo
Reencontro de All Star
O início - flashback
O Grande Dia
Flashback I - versão Pietro
Amigos
Flashback II
Bônus - por Pietro
1K :DDD
Sobre tias inconvenientes
Bônus (2) - por Pietro
Perguntas e respostas
Sinônimo de azar
O jogo virou?
Sofá compartilhado
Açaí com brigadeiro
Tiete da Taylor Swift
Momentos - flashback
Um grande mal-entendido
O fim da negação
Bônus (3) - por Pietro
Fora de foco - flashback
Quatro caipirinhas
Vergonha em dobro
As duas versões
#MyWattysChoice
Sobre ironias
Outras possibilidades
Um brinde às garotas
A terceira versão
You know nothing, menina Lia
Papo de irmãos - por Pietro
Recíproco
Confidências
Era uma vez, a sanidade
Grupo no whatsapp
Perdida
Recomeço
Ah, a vida de casal...
Enlaçados
Mentira tem perna curta
Alerta de spoiler
Tempo indeterminado
Pingos de chuva
Epílogo (por Pietro)
Agradecimentos
Conto na Amazon + novidades!!!!
❗❗ Livro GRATUITO na Amazon (05 e 06 de janeiro)

Pensamentos atordoados

4.2K 481 179
By marialauranog


Assisto Pietro sair e fico parada olhando para porta por um tempo, suspiro. Decido que preciso fazer alguma coisa, não aguento mais pensar nisso. Na verdade, não consigo acreditar que me envolvi em tanta confusão nos últimos tempos, isso era para ser o recomeço, onde eu faria tudo certo, tomaria as decisões mais sensatas e não me envolveria nesse tipo de coisa. Suspiro de novo. Acho que não dá para evitar a confusão, é parte de nós e sempre nos faz crescer.

É pensando nisso que decido que está na hora de voltar para casa e enfrentar os fantasmas que deixei para trás. Se tem uma coisa que aprendi, é que nada se soluciona se você fugir, o problema continua lá, ignorado, mas em algum momento, ele vem à tona novamente e não há escolha a não ser lidar com ele. E é preciso muita coragem para isso.

Quando me levanto para arrumar a mala, meu celular apita com uma mensagem de Analu:

> Lia, a mãe do Pietro teve uma intoxicação por remédios, ela teve que fazer uma lavagem estomacal, mas tá bem agora. Além disso, os médicos descobriram que ela não tava tomando os remédios :/

> Você foi com eles? - Pergunto.

> Sim, Pietro disse que seria bom pra Beca.

Apesar de saber que Pietro precisa de um espaço agora, uma dorzinha aperta meu peito por não estar lá também.

> Os médicos descobriram sobre os remédios ou Pietro contou?

> Como contou? Lia, se ele soubesse, nada disso teria acontecido.

Ai. "Se ele soubesse, nada disso teria acontecido". Não, isso não foi sua culpa, Marília, não foi.

> Ele descobriu agora há pouco.

> Como assim, Lia??

> Eu já sabia disso.

> O quê???? Como?

> Eu vi. Mas ela me implorou pra não contar e eu não sabia o que fazer. Por favor, não me julgue.

> Não vou julgar. Você vai contar pra Beca?

Penso em dizer que não, não tem porque Beca saber, mas o que eu estava falando sobre problemas mesmo? Ah é, não adianta fugir deles. Sem omissões dessa vez. Respiro fundo antes de digitar:

> Vou. Assim que eu a vir pessoalmente.

> Vai ficar tudo bem, Lia.

Eu realmente espero que sim, Analu.

Faço a minha mala e vou até a rodoviária, entro no ônibus pensando em como fugir é mais fácil que enfrentar o que tiver de vir. Eu fui embora de casa sem ter uma conversa decente com a minha mãe e mal conversei com meu pai e meu irmão desde então. Por mais que eu esteja com medo de voltar para casa, sei que precisa ser feito.

Obviamente, assim que meus olhos encontram os olhos castanhos escuros da minha mãe, minha coragem desaparece e eu tenho vontade de fugir de novo.

— Marília. – Ela me cumprimenta.

— Mãe. – Respondo, encarando-a numa tentativa de dizer "eu não tenho mais medo de você" ou "você não me controla mais". Certeza que acabou saindo como o oposto.

— Liaaaaa! – Meu irmão pula em mim, me abraçando tão forte que quase me sufoca.

— Oi, Cé! Como você está? Saudade, coisinho.

— Lia, como você cresceu! – Papai brinca e eu rio. Claro, porque pessoas de dezoito anos crescem muito em algumas semanas.

Quando entramos, a casa está igual, tirando uma coisa ou outra na decoração, que minha mãe ama mudar. Meu quarto está intacto e, apesar das promessas de César de roubar minha escrivaninha, nada mudou.

É estranho voltar para casa depois de um tempo fora, ainda é a minha casa, onde eu cresci, mas é como se tivesse algo errado, como se eu não pertencesse mais a esse lugar. Meu guarda-roupa vazio diz que eu realmente não pertenço.

Também é estranho isso de crescer e ir embora, num ano, você passa todos os dias com a sua família, vocês fazem as refeições juntos, contam um para o outro sobre o que aconteceu durante o dia, dividem os problemas e riem de alguma besteira que seu irmão falou. Quando você vai embora, tudo isso continua a acontecer, mas sem você. Até agora, eu não tinha parado para pensar no quanto eu perdi, mas César ganhou uma medalha por uma competição de natação e eu nem sequer fiquei sabendo, meu pai arranjou mais um emprego no dia eu costumava ser de folga e a minha mãe... Bom, eu não sei. Mas certamente algo mudou.

Deito na minha cama, ah, como eu senti falta desse colchão... Durmo tão rápido que quando acordo no dia seguinte, não consigo lembrar dos meus pensamentos antes de pegar no sono.

— Bom dia. – Digo ao entrar na cozinha. — Mas o quê? – A expressão pasma em meu rosto diz tudo. César está... fazendo pão com ovo na frigideira. Ok, eu passei um mês fora ou três anos?

— Eu aprendi, Lia. É bem fácil, você pega o pão... – E assim começa um monólogo imenso sobre como fazer pão com ovo na frigideira. Como minha mãe pode ter deixado isso começar? Imagina se o menino se queima?

— Ele fez isso escondido por dias, até que eu desconfiei da frigideira sempre molhada no escorredor, então ele me contou tudo e eu acabei deixando. – Joana (é estranho chamá-la pelo nome?) explica as perguntas que eu havia feito mentalmente.

— Ah... – Muito bom, Marília, estabeleça um diálogo.

Quando estamos todos sentados à mesa, minha mãe resolve conversar comigo:

— Como estão as coisas em BH?

— Bem, tudo está bem. – Uau, eu deveria ganhar um prêmio por ser tão ótima continuando um assunto.

— Pietro...? – Ela insiste.

— Bem. Tudo bem. – Urgh, alguém me para.

— Eu soube que a mãe dele... – Ela hesita.

— Ela sofreu uma intoxicação de remédios. – Completo.

— Ontem cedo.

— Sim.

— E por que você não está lá com seu namorado? – Questiona. Eu ergo os olhos, mas abaixo a cabeça. Por favor, chega de perguntas. Uns segundos passam e ela ainda está esperando uma resposta.

— Eu não quero ser julgada. – Declaro.

— Como assim? – Pergunta.

— Se eu te contar o verdadeiro motivo por eu não estar lá, você vai me julgar e eu não quero que isso aconteça. – Falo tudo tão rápido que não tenho certeza se deu tempo de ela processar.

— Bom, acho justo. – Responde, com uma expressão indecifrável.

E o assunto acaba. Até que César começa a contar sobre sua competição que rendeu uma medalha de prata. Te devo uma, Cé.

O sábado passa quase normal, quase como se eu ainda passasse todos os dias aqui. Quase.

À noite, quando abro a gaveta da minha escrivaninha, encontro "A garota no trem", o livro que Pietro me emprestou e eu nunca devolvi, porque sequer terminei de ler.

— Você esqueceu aqui. – A voz da minha mãe ecoa.

— É, eu notei.

— Já terminou de ler? – Ela senta na cama.

— Não, ainda não. – Meus olhos varrem seu rosto tentando decifrar o que está por vir. Ficamos um tempo em silêncio, ela pega o livro e lê a sinopse.

— Parece bom.

— Até onde eu li, é bom. – Digo. Ela concorda com a cabeça.

— Você faz falta aqui. – Fala e eu dou uma curta risada sarcástica, juro que não consegui controlar.

— Faz falta ter alguém com quem brigar? Alguém em quem você desconta todo seu estresse? – Rebato.

— Marília, eu...

— Sabe o que eu não entendo? – Corto-a, pois já ouvi demais, por todos os esses anos, eu ouvi sem dizer nada. Agora é a minha vez de colocar para fora. — Como você está tão bem em um momento e, do nada, surta com alguma coisa. Você parece estar se divertindo agora e uma hora depois está brigando comigo por algo extremamente pequeno que te incomoda. – Há rancor em minhas palavras e eu não me orgulho disso.

— Marília, eu sinto muito por tudo isso. Por ter descontado o estresse em você.

— Você sente muito?! – Lágrimas começam a brotar em meus olhos.

— Marília, me escuta. – Ela segura o meu braço, a intensidade com que fala acaba me silenciando. — Eu descobri que tenho Transtorno Bipolar.

— O quê? – Pergunto, incrédula.

— Calma, não é nada muito sério. Existem três tipos, eu tenho o mais leve. Ele até pode evoluir, mas está sendo tratado com medicamentos, então não há com o que se preocupar.

— Mas, mãe, isso é sério. E está relacionado a depressão.

— Sim, eu sei. Mas o meu caso é o mais leve deles, a ciclotimia, e envolve oscilações de humor pouco graves, isso justifica o que acontece comigo.

Eu balanço a cabeça para sinalizar que entendi. Isso é muito para absorver tão rápido. Imagino como deve ser para Pietro...

Então, quer dizer, que tudo isso que a minha mãe tem, a forma com que ela me trata... Não é culpa dela? Ela não pode controlar?

— Eu sei que você tem muita mágoa de mim. – Começa a dizer. — Eu não poderia te culpar por isso. Eu sinto muito, de verdade, por tudo. – Fala. Eu realmente não sei como me sentir em relação a isso. Eu devo dizer que tudo bem? Que não é nada? Que podemos deixar para trás? Não. Eu entendo que seja uma doença, realmente entendo, mas não consigo simplesmente esquecer do que já aconteceu, não é assim que funciona.

— Eu não sou boa com essas coisas, então se você não demonstrar nenhuma reação, não vou saber como estou indo. – Diz.

— Olha, eu não vou te dizer que tudo está bem, que eu posso esquecer o que passou. Eu não posso, não assim.

— Entendo. Na verdade, eu ainda sou suscetível a algumas crises, mesmo com a medicação. Então...

— Agora nós sabemos, pelo menos isso, né?

— É.

— Eu preciso ir dormir.

— Tudo bem. Boa noite. – E sai do meu quarto, deixando-me sozinha com meus pensamentos atordoados.

*******

Ok, esse capítulo foi difícil de escrever. Sério.

Primeiro: se eu falei algo errado sobre Transtorno Bipolar, me perdoem e me corrijam (!!!), fiz uma pesquisa sobre, mas isso não me torna super entendida do assunto.

Segundo: eu sei que tô atrasada (de novo), mas voltemos pra minha primeira frase, certo?

Terceiro: o resultado do sisu saiu e isso, aliás, antes disso, eu fiquei muito preocupada/estressada (mais uma justificativa pro atraso). Mas o que importa é que eu vou pra faculdade esse ano *dancinha*

Quarto: o último capítulo deve sair amanhã, no máximo quarta. É uma promessa. Depois disso ainda vai ter o epílogo (não esperem nada idealizado).

Quinto: ME DIGAM O QUE ESTÃO ACHANDO, PLMDDS. E FALEM SOBRE ESSE CAPÍTULO, SOBRE A ~REVELAÇÃO~ DA MÃE DA LIA, TUDO!

Sexto: Bjbj <3

Continue Reading

You'll Also Like

8.1K 1.3K 43
Lyrian acabara de completar 17 anos e estava finalmente sendo enviada para seu destino, traçado ainda no ventre da sua mãe: casar se com o príncipe d...
481K 39.4K 121
Ayla Cazarez Mora uma adolescente que é mal vista pelas garotas da sua escola por achar os garotos da escola idiotas e babacas, por mais que sejam bo...
278K 13.7K 58
📍ʀɪᴏ ᴅᴇ ᴊᴀɴᴇɪʀᴏ, ᴄᴏᴍᴘʟᴇxᴏ ᴅᴏ ᴀʟᴇᴍᴀᴏ "dois corações unidos num sentimento, novinha e guerreiro em um só fundamento..."
16.3M 1.2M 97
(CONCLUÍDA) Livro Um "Não é que seja proibido... é porque é real" Até onde você iria pelas coisas que sente em seu coração? Teria coragem de arriscar...