Crosswords

By kcestrabao

7M 352K 1.4M

Lauren é responsável por fazer as palavras cruzadas do mais importante jornal de Nova York. É uma mulher que... More

Camila
Cabello
Anel
Olhos Castanhos
Beautiful
Aceitação
Please, No Promise
All I Have
I'm Here
Christmas
Sides
Be Loved
A Few Things
Feelings
Crossword
Cruzada
Mistake
Gitana
Amor
I Know You
Supposed
Almas Entrelaçadas
Slowly on You
Casamento
Desire Lesson
Primeiro Beijo
Gift
Far Away
Verdade
Usted
Escolhida
Love Story
Lust & Love
Sinta
Diving Deep Into You
Sixth Sense
B*tch
Kali
Karla
Sensación
Nice To Meet You, Lauren
Destino
Loca Enamorada
Say It
Crossed Worlds
Vows
Home
Collide
Body & Soul

Almost a Suavim

133K 9K 23.8K
By kcestrabao


Eu estava em minha terceira xicara de café, não sabia mais quantas Camila's já havia devorado. Não até aquele momento. Meus dedos iam para a alça da xicara novamente enquanto tentava raciocinar uma cruzada que eu mesma havia feito, até escutar o barulho do sino da porta, e como todas as vezes que o vi soar, eu ergui meu olhar. Ela entrou afobada, olhando para mim em surpresa. Parecia não esperar que eu ainda estivesse aqui, suas bochechas estavam avermelhadas, os cabelos presos.

- Oh caramba, você ficou... – Comentou já se aproximando da mesa onde eu estava sentada. Eu confesso que meu peito aqueceu com aquele aproximar, ela sequer olhou para o lado, ela apenas veio, aquilo não passou despercebido para mim, não dessa vez. Eu tenho essa necessidade... Essa estranha necessidade de prestar o máximo de atenção que eu posso nela.

- Sim... Eu fiquei... – Respondi acenando para que viesse a se sentar. Ela negou com leveza. Apoiando a mão sobre a minha na mesa.

- Desculpe por não ter explicado as coisas direito, foi meio... Repentina, a minha saída... – Seu tom era doce. Eu engoli em seco com seu olhar sobre mim. Eu estava bem, eu estava tentando ficar, ou... Eu...

- Bem, oh, não precisa se desculpar, está tudo bem, sua mãe falou comigo. – Eu disse, apontando para atrás dela, meu olhar pousando em minha mão e sua mão sobre a minha. Oh droga eu queria...

Entender.

Entender o que ela, pensa, o por que faz isso, o por que me trata assim tão gratuitamente.

- Eu quero te chamar para uma missão muito, horrível. – Ela falou repentina. Como se tivesse perdida em pensamentos assim como eu. Eu foquei meu olhar nela. Ela sorriu ao ver meus olhos nela, oh...O pão de mel... O chocolate no olhar.

- Qual?

Ela ergueu a mão da minha e cruzou os braços.

- Eu deixei para organizar certa bagunça que ficou na biblioteca amanhã, mas houve esse imprevisto, em que eu estou tirando minhas coisas do apartamento do meu ex e vou ter que dedicar muito tempo em meu novo apartamento, logo, é o que há, ele anda muito idiota, muito mais agora do que antes... – Falou em tom arrastado. Eu franzi o cenho.

- Ele está lhe tratando mal? – Perguntei sentindo a pontada de irritação sem motivos me invadir. Ela deu de ombros.

- Ele é um idiota, eu só demorei muito tempo para me deparar com isso... – Arrastou o tom desviando o olhar.

- Como descobriu que ele era? – Perguntei sem pensar. Mas algo, algo em seu rosto me fez arrepender imediatamente por ser tão burra, por ter tanta necessidade em saber dela e ficar fazendo perguntas tão impertinentes.

- Ele me traiu com uma mulher que estava trabalhando com ele. – Ela falou tocando no cabelo preso. Um ato ansioso. Franzi o cenho confusa sobre aquilo. Louco.

- Como? Digo, é tão estranha a maneira que as mentes das pessoas funcionam, por que se envolver com alguém, prometer o mundo se não mantem a promessa de amar incondicionalmente em todas as situações? Não falo isso só para você, você até não casou, mas é tão difícil de entender, por que alguém trairia alguém como você? – Perguntei coçando minha nuca com o torrencial que saiu de mim. Foi o maior discurso que eu fiz durante meses. Eu estava impressionada ainda com ele para perceber seu olhar em mim, interessado.

- Alguém como eu?

Eu desviei o olhar, confusa sobre aquilo, sobre aquela última parte. Lauren Jauregui você é uma idiota que deveria ficar trancada em um ambiente sozinha para não se complicar e falar essas suas besteiras idiotas.

- Eu aceito a missão. – Respondi repentina, querendo fugir daquela situação. Escutei sua risada espontânea e foquei meu olhar nela. Sorria para mim, os braços cruzados.

- Tudo bem, vamos, eu vou avisar minha mãe e pegar minhas chaves. – Acenou ainda risonha para que eu me levantasse. Eu olhei dela para o prato de porcelana sobre a mesa, uma última Camila. Voltei a olhar para ela que esperava eu agir.

- O que? – Perguntei confusa. Ela deu de ombros. Eu peguei a tortinha e mordisquei, lhe oferecendo a outra metade ao me erguer. Ela olhou para a tortinha na minha mão e me olhou, e caramba, era como se ela tivesse parado o universo todo lá fora, eu nem sabia se eu respirava.

- Não é como se eu pudesse recusar essa tortinha, mesmo vinda de você. – Ela falou pegando o pedaço da minha mão e o levando a boca, dando uma piscadela e começando a caminhar. Eu não reagi de imediato, eu ainda estava hipnotizada com o mordiscar e a piscadela. Ela é tão...

- Lauren?

Eu movi o olhar, ela me chamava há distância. Eu acenei, ansiosa, começando a me mover para aproximar dela. Iria pegar as benditas chaves. Eu me aproximei do balcão, sua mãe falava com um jovem, parecia trabalhar na cafeteria, ao ver a filha contornar o balcão para ir aos fundos e me ver aproximando, ela sorriu simpática. Ela, sua mãe, eram duas mulheres gentis, apaixonantes, eu pouco a conhecia, mas ela me tratava como se nos conhecêssemos há anos.

- Estão de saída, filha? – Ela perguntou, se inclinando para olhar Camila que pausou a olhando.

- Sim, vamos a biblioteca, vou organizar algumas coisas lá, amanhã tenho que dedicar ao meu apartamento, Austin está agindo como um idiota. – Sua fala me fez ficar pensativa. Aquele nome, não me era tão estranho...Mas há tanta gente por aí. Apoiei o braço no balcão enquanto ela desapareceu para os fundos e sua mãe me olhou como se eu fosse uma pessoa interessante para ser olhada. Oh não, eu não sou, por favor vire seu rosto.

- Eu gostei de tê-la aqui, Lauren, não relute em voltar, mesmo que Camila não esteja aqui, eu vou sempre ser honrada em recebe-la. – Ela falou dando um leve sorriso gentil. Era isso, era esse jeito doce e fascinante que elas me tratavam, digo, é meio maçante a maneira que eu sempre toco nesse assunto, nesse ponto, mas eu nunca estive acostumada com boas aceitações, eu sempre espero uma inicial rejeição a certa doçura, e ter isso, fácil, vindo delas que pouco conheço, ainda, é impressionante.

- Lauren? – Talvez o meu nome seja a coisa que eu mais ouvi na vida. Sempre me chamam, me sugando desse turbilhão que são meus pensamentos.

- Oi, oh, eu... Bem, eu agradeço pela gentileza, e prometo vir sempre de agora em diante... – Falei meio desconcertada. Ela assentiu estendendo a mão. Eu olhei relutante, se para algum aperto. Ela insistiu, sorrindo mais aberto. Eu pousei minha mão sobre a sua em um aperto gentil.

- Aliás, meu nome é Sinu, Camila é avoada demais para apresentações. Sinu. – Acenou. Eu assenti. Sinu, é um nome diferente. Não parece Norte-Americano, aliás. Mas eu fiquei tão sem graça sobre perguntar isso que sorri de volta.

- Lauren, mesmo que já saiba. – Falei sentindo seu aperto macio na minha mão.

- Vamos lá, eu estou pronta. – A voz de Camila me despertou daquele transe interno. Sua mãe soltou minha mão, virando para atrás a abraçando carinhosamente. Essa relação, essa coisa visível que há entre elas. Essa união delas...Camila tem um pai? Onde ele está?

- Lauren? Vamos lá, menina. – Era Camila, o jeito que pronunciou menina, foi doce, era tão doce. Era tudo doce, eu estou mesmo na fábrica da Hersheys. Eu nunca culpo seu ex idiota e o cartão doce, é puramente tão doce, eu posso até ter overdose. Pelas teorias, overdose é bem como uma dose à mais de qualquer coisa, dizem, com grande segurança, que qualquer coisa em excesso faz mal, faz mal ao sistema, faz mal à saúde, pode até matar.

Isso não parece uma coisa que eu morreria por ter em excesso, não essa doçura. Toquei em meu cenho, sentindo o incomodo pelos pensamentos confusos. Eu preciso aprender a controlar algumas coisas.

- Venha. – O toque eu meu pulso despertou-me. Camila me envolveu por ele me puxando consigo para a porta da cafeteria. Foi tempo o suficiente apenas para me virar e acenar um tchauzinho à Sinu que sorriu para a minha confusão.

- Desculpe. – Pedi a Camila a olhando se virar para me olhar sair atrás dela pela porta da cafeteria. Ela soltou meu pulso sorrindo enquanto caminhávamos pelas calçadas.

- Eu gosto.

Engoli em seco.

- Gosta? Do que? – Perguntei relutante olhando para o chão tentando não tropeçar em meus próprios pés.

- Eu gosto dessa confusão. Me faz querer ter vontade de arruma-la eu mesma.

Eu fiquei em silêncio. Ela sempre dava a entender coisas que eu não conseguia ter sanidade o suficiente para raciocinar e responder à altura. Falava tanto de uma inteligência inexistente minha, mas olhe bem ela, me deixa sem palavras, sem respostas.

- Espero não estar lhe explorando, levando você assim, comigo, para trabalhar. – Ela falou tocando ansiosa na alça de sua bolsa. Eu neguei, andando ao seu lado pelas calçadas, o movimento de turistas havia começado, alguns passavam por nós, olhando todos céticos as ruas de York como se nunca tivessem visto algo como aquilo.

- Eu não me importo, sinto que vai ser bom. – Respondi honestamente. E se permitisse ser um pouco mais honesta, eu ainda completaria com um: tudo que lhe envolve soa muito bom as meus ouvidos, só te tê-la incluída lá, se torna bom, muito bom. Mas isso soaria tão precipitado, eu mantive para mim, assim como mais outros um milhão de pensamentos que eu mantinha para mim mesma.

- Livros, um pouco de poeira, e eu. Parece soar tentador. – Ela ironizou, sorrindo. Eu não sorri, não sorri porque realmente soava tentador.

- Soa perfeito. – Falei engolindo a saliva com dificuldades. Eu vi que ela me olhou, mas eu não consegui olhar para ela, eu apenas segui caminhando ao seu lado. Um pouco trôpega, perdida as vezes em alguns outdoors que via pelo caminho e despertavam meu lado critico, alguns objetos tortos demais que impulsionavam meu toc, ou até mesmo pessoas com vestimentas exageradas. Só não me focava nela o tempo todo. Sabia que o risco de cair era grande.

Andava cada dia mais difícil caminhar ao lado dela sem querer tropeçar.

Lauren tropeços Jauregui.

- Eu posso imaginar sua mente. Eu posso imaginar o quanto ela é intensa. – Ela falou repentina. Eu neguei com um aceno de cabeça.

- Não mesmo, não é nada tão atraente assim, agora você, eu vejo como o vale dos ursinhos carinhosos. – Eu falei dando de ombros. Ela riu da minha fala.

- Tenha certeza, não é nada tão puro assim. – Falou inclinando o rosto para me olhar. Eu cerrei os olhos.

- É que você é doce, é o que me remete. – Justifiquei minha fala um pouco receosa. Ela negou, apertando os lábios e uma linha fina.

- É um pouco mais que isso. Eu sou doce, com você. – Falou desviando o olhar. Oh certo, agora eu estou confusa.

- Comigo? O que quer dizer com isso? – Perguntei aumentando meus passos para ficar ao seu lado, era parecia ter começado a ir mais rápido.

- Eu estou dizendo que a minha doçura, ou como queira denominar isso, é coisa que eu cedo a quem merece. Pode soar um discurso amargurado para você, mas as pessoas andam rudes demais, sem compaixão com o próximo por coisa simples, eu não sou doce, não o tempo todo. Eu sou educada, coisa que veio de berço, veio da minha família, eu nunca vou destratar alguém gratuitamente, nunca. Mas não vou dar flores quando me oferecem apenas espinhos, não sou tão boa assim. – Oh meu deus, wow.

- Então, pelo seu discurso, isso, bem, o que você disse, então, quer dizer que huh, espere. – Eu me enrolei, toda. Tomei aquela respiração funda que me ajudava sempre, e foquei nela.

- Quer dizer que me acha boa ao suficiente para ser doce comigo. E se eu não for boa, e sim apenas confusa? – Perguntei a olhando. Ela negou, um sorriso gentil nos lábios bonitos. Tão bonitos.

- Eu não acho que eu possa errar. – Sua resposta era lotada de certeza.

- Como pode ter essa convicção sobre alguém que conhece há tão pouco. – Essas coisas são diferentes para mim.

- Eu só sinto. Apenas isso. – Falou voltando a tocar na alça da bolsa. Certo, ali estava.

- Eu quero te perguntar uma coisa. – Disse, limpando minha garganta por ter guardado aquilo por um tempo. Era a minha maior dúvida sobre ela. Ela assentiu, como se me desse motivações para seguir em frente.

- Por que me trata dessa maneira? Por que é assim comigo o tempo todo? Por que age dessa forma? – Perguntei a olhando, parecia a mesma perguntada repetidas vezes, mas eu não conseguia racionar melhor, tentava concentrar ao máximo para não perder suas reações. Ela se aproximou, pegando em meu pulso.

- Foque no chão, você vai cair. – Pediu, brevemente, desviando da minha pergunta.

- Certo, eu me foco, eu me foco mesmo, me responda... – Pedi um pouco frenética sobre a ansiedade de saber aquela resposta, olhando para os meus pés, tentando não cair.

- Nós estamos quase chegando na biblioteca. – Ela voltou a desviar. Eu não entendo porque desvia. É simples, não é? É apenas responder, ela é boa com palavras... Não há uma desculpa implícita aqui.

- Pare de pensar nisso... – Sua voz me fez a olhar sobressaltada. Eu estou confusa. Muito confusa, eu nunca estive tão confusa.

- Eu só queria que me respondesse isso... – Pedi em um tom mais baixinho.

- Eu vou, apenas, vamos. – Pediu focada à frente. Todo o resto daquele trajeto foi silencioso. Ela nada mais falou. Ela parecia focada em caminhar e me guiar com o toque delicado em meu pulso. Como se eu precisasse de uma guia para não cair. Talvez com ela eu precise.

Paramos em frente as grandes e pesadas portas de madeira antiga, com arabescos de ferro adornando a porta. Ela puxou um molho antiquado de chaves e enfiou nas fechaduras, destravando cada uma delas. Eu me movi a ajudando a empurrar.

- Abre isso sozinha todos os dias? Isso é pesado! – Falei a olhando. Ela deu de ombros, entrando a frente, o cheiro de livros antigos me atingindo as narinas com intensidade. O ambiente ficou fechado por um tempo, o cheiro era mais presente do que quando estava aberto à uso diário das pessoas. Ela tocou nos interruptores iluminando tudo. Eu caminhei relutante a seguindo para dentro.

- Eu estou acostumada, são anos já. – Respondeu colocando a bolsa sobre a mesinha perto da entrada. A mesa que a menininha que ficava aqui vivia sentada.

- Por onde vamos começar? – Perguntei colocando as mãos na cintura. Ela se virou para me olhar, arregaçou as mangas da blusa e apontou para algumas cadeiras desorganizadas perto das longas e altas fileiras de livros.

- Bom, eu acho que vou começar por estas, depois disso eu preciso limpar o chão para depois começar a organizar alguns livros, eu te permito ficar com a parte fácil, com os livros, eu não quero explorar você. – Eu revirei os olhos.

- Pare com isso, nós somos uma equipe aqui, vamos, eu te ajudo com todas as etapas do processo, não sou de açúcar, não vou derreter em ajuda-la. – Falei dando de ombros. Ela sorriu.

- A parte de ser de açúcar ou não, eu posso até relutar sobre. – Ela falou dando uma piscadela. Eu corei, tocando na primeira cadeira mais próxima. Certo, isso são pensamentos e ações metódicas, não há como dar errado, é um círculo vicioso de repetição, só repetir e tudo fica ótimo e...

- Lauren... – Ela me chamou, mas dessa vez foi um chamar cantado, melodioso. Laurennnn... Eu a olhei confusa.

- Sim?

Ela não respondeu, apenas me chamou para aproximar dela enquanto subia na pequena escada de apoio, capturando um livro sobre a estante. Eu olhei relutante com receio de que caísse, mas tinha prática, era impossível.

- Bem, eu lembro do nosso primeiro contato, ao menos o formal, eu lembro que nós pegamos o mesmo livro, nós pegamos George Orwelll, eu gosto dele, eu gosto da mente visionária dele, assim como ele pensava no futuro, Jane Austen também o fazia, tudo se torna coeso depois disso.

Eu não entendia seu ponto com aquilo, mas assenti.

- Então, eu digo que eu acho que essa parte, em especifico, é uma semelhança muito boa entre nós duas. Você gosta de mentes visionárias? – Perguntou, descendo os degraus com cuidado. O olhar sagaz em mim.

- Sim, eu gosto, principalmente quando elas me fazem pensar, eu uso muito disso nas minhas cruzadas, as vezes são mensagens que eu traduzo em uma só para palavra. – Falei olhando para a capa de couro desgastada do livro que ela tinha em mãos.

- Tome este. Leve-o e depois nós vamos falar sobre, mas não abra agora, não leia o título, apenas o faça quando estiver só, em casa. – Falou colocando o livro em minhas mãos.

- Eu não preciso assinar ficha alguma? – Perguntei confusa sobre a situação. Ela negou, me olhando.

- Eu confio em você, sei que cuidará bem dele. Faça o que pedi. – Falou acenando e me contornando para voltar a organizar as cadeiras. Eu fiquei paralisada, olhando para a capa de couro, curiosa sobre espiar, mas eu sabia que não conseguiria. Virei-me a olhando, ela se movia graciosa para cada canto.

Estes momentos me davam certezas internas sobre alguma coisa tão estranha.

Aproximei, colocando o livro sobre a mesinha, o deixando para pega-lo depois enquanto me aproxima das cadeiras e começava.

Foram alguns bons minutos, se não já tivesse passado hora desde que havíamos chegado ali. Ela falava coisas aleatórias, ela falava do tempo, ela falava do telejornal, ela falava da propaganda de iogurte da tv, ela só não falava de mim, sequer dela.

Music on* Sara Bairelles - Breathe Again

Nós havíamos acabado as duas primeiras missões, faltavam organização dos livros, não parecia a missão mais difícil, na verdade de todas, soava a mais atraente. Camila fez chá, e trouxe alguns biscoitos. Nós estávamos sentadas no chão, parecia frio demais para isso, mas ela disse que era mais terapêutico para ela fazer daquela maneira. Não sou a melhor das pessoas para questionar métodos terapêuticos de nada. Sentei há alguns centímetros de distância dela, as vezes meus dedos iam na alça da caneca de chá, outras, ia nas capas de livros.

- Parece ser uma profissão e tanto. – Falei, tocando admirada em capas com tonalidades já desgastadas pelo tempo.

- E é... Não há nada nesse mundo que eu possa fazer melhor. – Falou, perdida em suas próprias admirações. Dava gosto ver aquilo.

- E posso perguntar como decidiu isso? – Perguntei focando nela. Ela pausou o que estava fazendo, se perdendo em pensamentos. Era assim? É assim que se fica quando se perde profundamente em pensamentos? É assim que eu fico?

- Eu era assim desde o ensino médio, eu queria s[o viver cercada de livros, era sonhadora, sabe? Essa coisa que só jovem no ápice de suas melhores imaginações consegue ser. Ter a oportunidade de trabalhar aqui foi uma das melhores coisas que aconteceram comigo, ninguém aceitava a proposta, não queriam cuidar de uma biblioteca desse tamanho sozinhos, mas quando eu vejo isso, é o que eu sempre quis. – Ela falou recostando em uma das estantes, sorridente. O sorriso até seus olhos.

Brilhantes, cegantes.

Eu não me perdia quando ela começava a falar, era uma necessidade tão intensa de ouvir, de absorver tudo o que ela queria colocar para fora.

- E você? Ser cruciverbalista sempre foi seu sonho? – Perguntou inclinando o rosto. Eu senti meu rosto queimar. Este era um destes momentos em que eu teria que falar sobre mim. Com ela era frenético, tudo internamente frenético, eu não sabia se tentava e falhava miseravelmente. Ou admitia tal fraqueza e a deixava me achar uma loser louca.

- Eu queria tudo. – Falei quase engasgando. Concentrei em abaixar o meu olhar para o meu joelho na calça e respirei fundo. Okay, não é difícil, eu já falei isso com a Hansen.

- Eu queria tudo e no mesmo momento eu entendi que não podia ser nada. Minha mente nunca me permitiria prestar quatro horas de atenção em uma cirurgia delicada, minha mente nunca se concentraria em um passageiro em um avião para atender seus pedidos, minha mente nunca executaria a função de ensinar com paciência em uma escola, minha mente ela nunca... – Engoli com dificuldades. Eu me sentia tão trêmula. Parecia frio, mas não era frio.

- Calma... – Foi baixinho, parecia que estava lá, bem no fundo da minha cabeça. Ela tocou a mão sobre a minha. E foi de uma delicadeza sutil, destas que ela sempre usava. Que ela falasse o quanto quisesse, ela é doce, ela é gentil, comigo.

- Por que me trata assim? – Eu voltei a perguntar, aquilo não saia da minha cabeça, não sairia, não até que houvessem respostas, poderia vir a frenesi que fosse. Não sairia, eu precisava ouvir, precisava que ela verbalizasse, não que fosse só coisa da minha imaginação, eu vivo de imaginações, eu sempre vivi, eu preciso de realidade, do concreto.

- O que nós somos? – Perguntei a olhando. Ela rastejou, aproximando de mim, eu podia ver a ponta de sua bota do lado da minha, sua mão continuava sobre a minha. Eu ergui o olhar para o seu rosto e ela estava silenciosa, me olhava.

- Eu gosto de você. Não sei dizer o porquê. – Falou baixinho, o olhar em meu rosto. Eu não me perdi. Pela primeira vez eu estava ligada em cada detalhe. O jeito que a sobrancelhas dela são bem desenhadas, e como as maçãs do seu rosto são coradas de tão perto, seus olhos... eles poderiam adoçar meu café todas as manhãs.

Sua boca.

Engoli em seco, a olhando se aproximar, o rosto pousando em meu ombro, a testa pressionando contra a lateral do meu pescoço. Como se evitasse a si mesma fazer algo. Eu sentia ela em cada pedaço daquela biblioteca, sua mão continuava na minha, seus dedos se moviam, até entrelaçar nos meus, e ela apertou empurrando o rosto mais perto, podia ouvir sua respiração, tão perto. Eu não entendo o que há. Eu não...

- Eu não tenho certeza de nada. – Falou rouca. Minha respiração começou à vir alucinante, eu me sentia até zonza. Ela ergueu o rosto, ficando a nível do meu, o olhar em mim, ela é linda, ela é muito linda, minha respiração já ia a níveis humilhantes, enquanto ela empurrou a testa na minha e soltou minha mão, tocando em meus ombros, como se quisesse me manter entre aquele aperto. Sua respiração parecia vir alucinante também, eram detalhes demais, vividos demais, a minha cabeça conseguia processar cada um deles, sem perder, sem deixar escapar um, como se eu pudesse e quisesse me recordar de todos depois.

- Camiii, está aí? – A voz infantil soou por todo o ambiente da biblioteca. Senti o aperto soltar dos meus ombros, gradativos enquanto virava meu rosto na direção oposta da estante de livros e olhava para a pequena forma, de botas rosas, calça legging brilhante, e uma blusa de frio da Barbie com o capuz lhe tampando a cabeça. Eu não fiauei irritada. Eu sorri de canto olhando para a pequena que parecia um pequeno ursinho empacotado. Eu não consigo nutrir mal sentimentos. Suspirei. Camila se moveu, se erguendo, esta é uma das coisas que eu nunca mais vou esquecer. Nunca. Mesmo que nunca mais volte a se repetir.

- Jasmine, eu estou aqui... – Camila falou acenando.

- Cami, eu vi a porta aberta pela janela do meu prédio, achei que algo estava errado. – O voz infantil voltou a ressonar. Camila estendeu-me a mão, seu olhar, eu podia ver algo tão diferente nele, eu só não sabia dizer o que era. Eu aceitei, tocando minha palma contra a sua enquanto me colocava em pé também.

- Oh não, eu vou te explicar. – Ela voltou a falar. Eu estava tremula sobre os últimos segundos. Tentei me mover e me afastar, mas a mão insistente me manteve perto. Eu tive que olhar seu rosto novamente.

Havia uma determinação.

- Eu vou dizer uma coisa, a única que eu consigo. Nós podemos ser amigas, melhores amigas, ou nós simplesmente podemos ser o que você quiser que sejamos. Não esqueça disso.

Aproximou empurrando os lábios em minha bochecha. E manteve por segundos, até se mover soltando meus dedos com delicadeza, eu me virei, a olhando ir para perto da garotinha, se curvando para a abraçar com carinho enquanto eu só podia pensar em uma coisa agora.

Parecia que durante mais de vinte anos da minha vida eu segui segurando a respiração o tempo todo, como se algo me limitasse, como se o ar aqui fora fosse tóxico, envenenando a minha cabeça a cada segundo em que eu me permitia, por luxo respirar. Mas aqui? Agora?

Eu estou respirando novamente e os 999.999 restos de pensamentos meus foram silenciados. Eu só consigo pensar em uma coisa em cada pedaço da minha mente. E é a coisa mais insana que eu já senti, parece confuso, a quantidade de pensamentos diminuiu, mas soa como se eu nunca tivesse ficado tão repleta assim. Eu só consigo pensar em Camila.

O pão de mel.


Continue Reading

You'll Also Like

1.1M 67K 74
De um lado temos Gabriella, filha do renomado técnico do São Paulo, Dorival Júnior. A especialidade da garota com toda certeza é chamar atenção por o...
12.6K 1.2K 28
(Concluída) Camila tem fé. Fé de que pode conseguir. Fé de que possa carregar esse peso até o final. Lauren carrega um demônio consigo. Seria Camila...
80.2K 4.9K 15
Fria, calculista e rancorosa. Essas eram as três palavras que definiam Lauren Jauregui quando estava fora dos palcos. Camila mal podia reconhecer o s...