Coração de vidro [FINALIZADA]

By JulianaGiacobelli

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Alice Chantin, princesa do reino de Era Uma Vez, estava destinada a se casar com seu príncipe encantando. ... More

PARTE UM
Um - Alice
Dois - Alice
Três - Alice
Quatro - Alice
Cinco - Alice
PARTE DOIS
Seis - Alice
Sete - Alice
Oito - Alice
Nove - Alice
Dez - Alice
Onze - Alice
Doze - Alice
PARTE TRÊS
Treze - Alice
Catorze - Alice
Quinze - Evangeline
Dezesseis - Evangeline
Dezessete - Alice
Dezoito - Alice
Dezenove - Alice
Vinte - Alice
Vinte e dois - Jax
Vinte e três - Jax
Vinte e quatro - Tobias
PARTE QUATRO
Vinte e cinco - Alice
Vinte e seis - Tobias
Vinte e sete - Jax
Vinte e oito - Alice
Vinte e nove - Tobias
Trinta - Tobias
Trinta e um - Alice
Trinta e dois - Jax
Trinta e três - Alice
Trinta e quatro - Tobias
Trinta e cinco - Alice
Trinta e seis - Alice
Trinta e sete - Alice
Trinta e Oito - Alice
Epílogo
Agradecimentos

Vinte e um - Alice

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By JulianaGiacobelli

As palavras da Sra. Trent me assombraram por horas. Eu obviamente não tinha a intenção de quebrar o coração de Jax, mas o modo com que ela tinha falado... Soou tão perto de uma premonição que me deixou assustada. E eu não conseguia deixar de pensar naquilo.

Havia uma banheira com água quente esperando por mim quando entrei no banheiro e me lembro de ter me despido e de simplesmente ter ficado ali por muito tempo. Esfreguei meu corpo para tirar a lama, mas minha cabeça estava em outro lugar. Estava em Jax, estava na Sra. Trent, estava em Quentin. Jamais imaginaria que me trancar no banheiro naquele dia longínquo, querendo simplesmente um pouco de paz, fosse acabar comigo ali, presa no que parecia um conto de fadas sem graça.

E foi quando eu estava bastante imersa em pensamentos que uma coisa laranja e felpuda aterrissou do lado da banheira, me fazendo dar um pulo de susto e espalhando água para tudo quanto era lado.

– Tobias! – gritei, me enfiando na água para que ele não visse nada que não devesse ver. Quer dizer, Tobias podia ser uma gato, mas era um gato macho que falava demais e, além disso, alguma coisa nele ainda me incomodava.

– Shhhhhh – Tobias respondeu com aquele sopro esquisito que os gatos fazem quando estão assustados ou bravos. Para o meu deleite, a água da banheira tinha caído bem em cima dele. Abençoado carma.

– Qual é o seu problema? – reclamei. – Você sente prazer em surgir do nada e me assustar, não é possível.

Tobias estreitos os olhos, os pelos estavam ensopados. Ele parecia bastante miserável, o que era ótimo.

– Preciso lembrar você, princesa, de que você deve a sua vida a mim?

Levantei uma sobrancelha.

– Todos os gatos são convencidos assim ou é só você?

Tobias levantou a patinha até a altura dos olhos e pareceu desolado ao vê-la molhada daquele jeito.

– Eu apareço quando é necessário – respondeu ele, sacudindo a patinha em questão. – Por exemplo, agora.

Ele parou de sacudir a pata e me olhou com aqueles olhos verdes.

– Ouvi dizer que Quentin Augustini está nas imediações.

Afundei um pouco mais na banheira.

– Eu sei. – disse simplesmente.

Tobias não pareceu satisfeito com a minha resposta, porque pulou na beirada da banheira e deu um tapa na minha cabeça, arreganhando os dentes em um miado estridente.

Eu sei?! – miou ele – E o que você ainda está fazendo aqui, então? Já era perigoso estar aqui quando ele não estava, mas agora... Princesa, precisamos tirar você daqui.

Foi a minha vez de encará-lo.

– Não. – respondi.

Tobias fez uma cara de quem não estava entendendo nada.

– O que você disse? – ele perguntou. Tobias podia estar acostumado com as minhas respostas atravessadas, mas não comigo contradizendo aquilo que ele dizia.

– Eu disse - continuei, pacientemente, sem tirar os olhos dos dele. – que não vou sair daqui.

Tobias olhou de um lado para o outro sem mexer a cabeça, parecendo completamente perdido.

– Por que?

– Porque, Tobias, quero ficar aqui com os Trent. – respondi. – Com o Jax. Aliás, não era você que queria tão desesperadamente que eu ficasse com o Jax? Pois então.

Tobias piscou algumas vezes e depois chiou de novo, pulando da beirada da banheira para a cadeira que comportava minhas roupas sujas.

– Fico feliz que você e o príncipe Trent tenham finalmente se entendido, e é precisamente por isso que você não pode ficar aqui. Se Quentin aparecer...

– Ele já apareceu – interrompi. Os olhos de Tobias dobraram de tamanho. – Há alguns dias, no Buraco. Ele... ele falou comigo.

Tobias parecia prestes a ter uma síncope.

– Me diga que você não disse nada que pudesse sugerir, nem remotamente, sua relação com Jax Trent, princesa.

Automaticamente levei minha mão ao pescoço, lembrando da marca que Jax tinha deixado ali e que Quentin tinha visto.

Tobias estreitou os olhos.

– Princesa...

– Tobias – interrompi. – Eu já falei com o Jax. Nós vamos cuidar disso. Não sei exatamente como, mas vamos. – acrescentei. – Só não... hoje. As pessoas estão todas comemorando, eu não posso simplesmente sequestrar o Jax e fugir com ele daqui.

Tobias ergueu o que devia ser sua sobrancelha esquerda.

– Não pode ou não quer?

Bufei. Gato estúpido.

– Não quero. – disse por fim. – Tobias, falando muito sério... Qual é o seu interesse no Jax? Por que você nem sequer aparece pra ele?

Tobias começou a revezar olhares entre mim e qualquer outra coisa.

Tobias - insisti.

Ele chiou antes de me olhar.

– Porque não quero me ele me reconheça. – disse.

– Qual é o problema dele te... –

Mas Tobias já tinha se jogado janela abaixo, provavelmente descendo pelas árvores altas que cresciam nos arredores da hospedaria. Claro. Ele preferia fugir ao me encarar, não sei por que tinha esperado alguma coisa remotamente diferente daquele monte de pelos.

Terminei meu banho, sofrendo para tirar toda a lama dos meus cabelos, e me deixei demorar na água morna da banheira até ela começar a esfriar e eu ouvir duas batidinhas na porta.

– Alice? – chamou a voz. Era Sebastian. – Está tudo bem?

Me enfiei na água como pude para tirar o resto do sabão. Há quanto tempo eu estava tomando banho? Eles provavelmente achavam que eu tinha me afogado na banheira ou algo assim.

– Sim! – gritei, começando a me levantar. – Tudo certo, já estou indo.

Sebastian não disse mais nada, mas ouvi o barulho de suas botas descendo as escadas e deduzi que ele já tinha saído dali. Não era muito conveniente ter uma porta que simplesmente não trancava.

Foi só quando me levantei e caminhei na direção da cama que reparei no vestido que repousava ali, esperando por mim. Diante da situação toda com a Sra. Trent, mal tinha conseguido prestar atenção em mim mesma.

Era um vestido verde, mais colado no busto e solto a partir da cintura. Parecia ter muitas camadas em tons diferentes, quase como as árvores de uma floresta; os tecidos caíam um por cima dos outros dando uma aparência quase selvagem a ele.

Sorri. Era o tipo de coisa que Jax ia gostar.

Terminei de me vestir e tentei arrumar meus cabelos em uma meia-trança que caía pelas minhas costas, com o restante dos cabelos soltos. Não estava uma primazia, mas era o melhor que eu podia fazer dadas as circunstâncias.

Abri a porta do quarto e desci as escadas. A hospedaria estava fervendo de pessoas, todas bebendo, comendo e falando muito alto. A Sra. Trent, que há poucos minutos – ou pelo menos tinha me parecido pouco minutos – estava andando apressada de um lado para o outro, carregando uma grande jarra do que só podia ser as cervejas que Jax havia pegado no Buraco naquele dia fatídico. Eu fiquei ali, parada, meio admirada e meio espantada com tudo aquilo, quando ela olhou na minha direção e correu deixar a jarra na mesa mais próxima, para vivas dos homens que estavam sentados ali.

– Alice, finalmente! – disse ela, subindo as escadas enquanto levantava o grosso vestido que vestia. – Venha, estávamos esperando por você.

Franzi as sobrancelhas, não gostando nem um pouco daquilo.

– Me esperando? – repeti.

A Sra. Trent me pegou pelo pulso e começou a literalmente me puxar escada abaixo, pelo meio das pessoas, por toda a extensão do salão da hospedaria até irmos parar do lado de fora.

Já era noite. A lua estava brilhando no céu e a fogueira queimava alta ao longe, dezenas e dezenas de pessoas ao redor dela. Era difícil ver para onde a Sra. Trent estava tentando me levar, mas aonde quer que fosse, estava lotado.

E então eu o vi.

Jax estava sentado em um toco de madeira, um instrumento de corda nas mãos. Ele estava concentrado, as mãos afinando o instrumento e tocando as cordas com muita atenção.

– Isso só pode ser uma brincadeira. – murmurei.

Fiquei ali parada, encarando-o por longos segundos. É claro que Jax não se contentaria só em ser bonito, saber cavalgar e ser um ótimo espadachim. Não. Ele obviamente tinha que saber tocar instrumentos musicais. Será que ele sabia cantar também?

Na mesma hora, ainda com a cabeça abaixada enquanto afinava o instrumento, ele começou a cantarolar algumas notas e eu senti minhas pernas bambearem um pouco. Devo ter suspirado ou ter feito algum barulho vergonhoso, porque Jax levantou a cabeça na mesma hora e me encarou.

Ele sorriu e eu tive a honesta sensação de que todo mundo ali estava nos olhando. Mas que maravilha.

– Estava só esperando você, princesa. – ele disse, se colocando de pé. Depois se aproximou, pegou minha mão e a beijou. – Agora já podemos começar.

Definitivamente, ele podia começar o que quisesse.

Jax deu uma piscadinha e voltou a se sentar no tronco. Ele pigarreou e imediatamente tudo ficou silencioso. As pessoas pararam, de repente muito atentas, as cabeças se movendo de uma lado para o outro a fim de tentar enxergar Jax da melhor forma possível.

A mão dele tocou nas cordas. As notas encheram o ar. Logo depois, Jax começou a cantar.

A primeira coisa que eu senti foi meu queixo cair estupidamente. Depois, arrepios percorrerem meus braços e pernas, meu tronco e meu pescoço. Olhei para os lado, tentando entender o que estava acontecendo, mas todos pareciam tão hipnotizados quanto eu.

Jax tinha uma voz rouca, do tipo que eu não conseguiria imaginar que pudesse sair de dentro dele. Ele mantinha os olhos fechados, a cabeça quase baixa enquanto os dedos dedilhavam as cordas e enchiam a clareira de acordes. Eu mal ouvia a letra. Podia ser sobre alguma batalha, um amor perdido ou um passeio no bosque. O que enfeitiçava era a voz dele, o modo como muitas emoções pareciam transbordas de seus lábios ao mesmo tempo. Eu me lembrava de Sebastian falando que Jax ficava diferente no festival, mas aquilo... Era preciso ter um coração para fazer aquele tipo de coisa.

Não sei por quanto tempo ele ficou ali cantando e tocando, mas ninguém se mexeu, nem mesmo quando ele parou. Houve um silêncio grande, um silêncio inteiro. Todos os olhos estavam em Jax, todas as bocas abertas sem saber como reagir. Jax levantou a cabeça, parecendo perdido. Vi quando ele correu os olhos pela multidão, com uma expressão que indicava que ele não fazia a menor ideia do que estava acontecendo. Então ele olhou para mim e levou a mão direita ao peito. E sorriu.

Borboletas voaram dentro do meu estômago e quando ele se levantou eu achei que fossem sair pela minha boca.

Jax veio andando, um meio sorriso ainda atravessado em seus lábios, os passos firmes diminuindo a distância entre nós.

Engoli em seco quando ele chegou perto, muito perto, muito perto...

– Jax, eu acho... –

– Shhh.

E naquele mesmo segundo eu estava nos braços de Jax, nossas bocas coladas uma na outra, seu corpo colado ao meu. Pela primeira vez eu não me importei com as pessoas ao nosso redor, nem com Sebastian e nem com a Sra. Trent. Tudo o que importava era eu e Jax.

Quando ele me soltou, puxou minha mão e a colocou sobre seu peito. Minhas pernas bambearam quando senti as batidas ritmadas, muito mais fortes do que eu conseguia me lembrar.

Eu sorri.

– Obrigado. – ele sussurrou e de repente as pessoas explodiram em palmas e gritos e eu não estava entendendo mais nada. Jax começou a rir e eu vi a Sra. Trent limpando os olhos enquanto voltava para a hospedaria.

Jax me beijou de novo e outra música começou a tocar enquanto as pessoas ainda falavam alto e começavam a se mexer, a buscar parceiros para dançar. Jax me puxou pela mão para mais longe do palco improvisado e envolveu minha cintura com seu braço, guiando meu corpo em uma dança lenta.

– O que foi que acabou de acontecer aqui? – perguntei, apenas alto o suficiente para que Jax conseguisse me escutar por cima da música. Ele deu uma olhadinha ao redor, depois se voltou para mim.

– Acho que... Não sei, talvez eles tenham sentido também. Meu coração. Eu nunca cantei assim, nunca... Nunca me senti assim, na verdade.

Eu sorri e o beijei mais uma vez. Depois tracei as linhas de seu rosto com meus dedos e desci minha mão até parar em seu peito. Sem dúvida, havia um coração batendo ali. Mas então, por que...?

– Você precisa relaxar – disse ele, segurando minha mãe com a sua.

– Ahn? – perguntei, confusa.

– Sua expressão. – explicou ele, franzindo as sobrancelhas. – Você estava pensando na maldição, não estava?

Senti minhas bochechas ficando vermelhas. Era uma coisa idiota e eu sabia daquilo.

– Eu não sei o que é preciso para quebrar a minha maldição por completo, princesa. – Jax continuou, subindo minha mão até seus lábios e pousando um beijo ali. – Mas você fez meu coração voltar a bater e se isso for tudo... Se ninguém nunca mais se lembrar de quem eu sou, de quem eu fui, se eu tiver que viver eternamente assim... Então tudo bem. – ele apoiou a testa na minha. – Contanto que você esteja comigo.

Soltei minha respiração trêmula, com olhos fechados. Eu não sabia o que responder, então simplesmente puxei meu rosto para mim e o beijei de novo, com mais vontade, mais urgência, mais violência do que antes.

Jax respondeu com o mesmo grau de entusiasmo e aquele momento foi a primeira vez que eu não me importei com a maldição. Talvez nós pudéssemos ficar ali, longe da corte, de reis e rainhas, e pudéssemos, quem sabe, encontrar o nosso felizes para sempre. Nem todas as histórias precisam acabar em um castelo encantado.

E foi enquanto eu estava sonhando nos braços de Jax que eu ouvi o grito. Aliás, não um grito, um miado.

Mas era um miado apavorado, desesperado, como se um gato estivesse sendo torturado bem ali. Eu me descolei de Jax como se tivesse levado um choque e já sabia exatamente, com um frio na espinha, de quem era aquele miado antes mesmo de me virar e encontrar Tobias correndo desesperadamente na minha direção.

– Tobias? – chamei, impotente. Um grito morreu na minha garganta quando vi o estado em que ele estava. – O que...?

Tobias, normalmente laranja, estava coberto de manchas vermelho-escuras. Sangue. Havia um grande corte passando por seu rosto e uma orelha tinha perdido a ponta, de onde mais sangue escorria pela pelagem. Seu rabo estava quase completamente sem pelos e naquele momento era simplesmente um gato assustado e não o engraçadinho quase humano que eu conhecia e, apesar de tudo, gostava.

– O que aconteceu? – perguntei, completamente pálida. Todo o sangue tinha saído do meu rosto.

Tobias caiu aos meus pés, tremendo e arfando. Um de seus olhos estava inchado e não conseguia ficar aberto.

– Sebastian... – suspirou ele.

– O que tem o Sebastian? – perguntou Jax, já ajoelhado ao lado do gato, as mãos quase tocando a pelagem, mas mantidas a uma distância que indicava que ele não sabia o que fazer.

– Eles... eles o pegaram.

Minhas pernas ficaram tão moles que eu caí no chão.

– Quem, Tobias? – insisti, mesmo já sabendo a resposta. – Quem pegou Sebastian?

Tobias miou mais uma vez, um miado de pura dor. Ele estava respirando muito pesadamente.

– Quentin, princesa. Ele está vindo. – disse o gato por fim, a cabeça mole apoiada no chão de terra. - E ele trouxe um exército. 

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