Trinta e dois - Jax

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Eu soube que não tinha considerado todas as partes do plano de Ludo quando os guardas começaram a atacar as fadas

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Eu soube que não tinha considerado todas as partes do plano de Ludo quando os guardas começaram a atacar as fadas. As coisas pioraram ligeiramente quando um deles acabou acertando um dos convidados, que caiu gritando e gemendo no chão, sangue escorrendo pelos ladrilhos. Foi a partir daquele momento que os convidados entraram em pânico total. Foi depois disso também que eu percebi como estava completamente ferrado.

Girei o corpo procurando por alguma coisa que eu pudesse usar como arma ou como escudo, alguma coisa com a qual eu pudesse me defender e, não conseguindo enxergar nada remotamente útil, optei por uma bandeja de salgadinhos virada no chão. Assim que a levantei, ainda com um salgadinho grudado nela, ouvi os passos pesados do que só podia ser um guarda se aproximando e, no mesmo segundo que me virei, a espada dele explodiu contra a badeja que, de alguma forma, eu tinha conseguido levantar. O impacto fez meu corpo inteiro vibrar como se fosse um sino e, por um segundo, o guarda ficou parado, surpreso demais para se mexer.

Um segundo era tudo o que eu precisava.

Empurrei a bandeja com toda minha força, conseguindo, pelo menos, distanciar o guarda de mim por tempo o suficiente para que eu pudesse ficar de pé. Ao fundo, as pessoas continuavam a gritar, as fadas a explodir e os guardas a brandirem suas espadas. Eu não tinha nada além de uma bandeja estúpida, e sabia que dar as costas para a confusão seria assinar minha sentença de morte. O que eu também sabia era que a escadaria que levava aos andares superiores, onde Alice e Sebastian provavelmente estavam, ficavam bem atrás de mim.

Comecei a andar devagar, me distanciando do guarda, segurando a badeja com as duas mãos como se fosse um escudo quebrado. O guarda não pareceu gostar muito daquilo. Ele arreganhou os dentes e veio correndo na minha direção, a espada em punho. Tentar aparar o golpe de novo seria estúpido, então me preparei para tentar desviar e sair correndo. Engoli em seco, as pernas tensas , o corpo todo flexionado, só esperando o momento certo de...

Senti alguma coisa estranha nas minhas mãos que seguravam escudo. Eu já estava prestes a jogá-lo para o lado – aquilo só ia atrapalhar meus movimentos – quando vi a bandeja se materializar nas mãos do guarda que vinha correndo em minha direção. Ele parou, quase caindo, e ficou olhando para ela, sem entender o que havia acontecido. Não precisei nem bater os olhos nas minhas mãos para saber onde a espada dele tinha ido parar.

Eu não tinha certeza do que havia acontecido, mas não era hora de procurar explicações. Simplesmente aproveitei e investi contra o guarda, tomando o cuidado de acertá-lo nas pernas. Ele gritou quando a lâmina rasgou roupa e carne, o sangue escorreu e, ao tentar se virar, ele caiu com o estrondo da bandeja no chão.

Deixar que ele se levantasse dali de novo seria burrice, e, se corte na perna tivesse pegado em alguma veia importante, ele não se levantaria mais. Provavelmente sangraria até a morte.

Tentei pensar que quando o empalei com a própria espada, estava na verdade fazendo um ato de misericórdia.

Com a espada ensanguentada em mãos, corri para as escadas, dando de cara com a Sra. Malkin, que parecia muito feliz consigo mesma.

– O que...?

– Você gostou, querido? – ela perguntou, quase batendo palminhas. Quando fiz cara de que não estava entendendo nada, ela apontou para a espada em minhas mãos. – A troca.

Ah. Agora as coisas faziam sentido.

– Ah, claro. Foi espetacular, sra. Malkin, realmente fantástico. – tentei continuar andando, procurando por qualquer sinal de Alice. – Mas agora se a senhora não se importa...

– Ah, mas é claro! Vá em frente, vá em frente! – disse ela, e descobri que seu "vá em frente" na realidade significava "continue andando que vou continuar aqui te seguindo", porque foi exatamente o que ela fez.

A Sra. Malkin disparou falando sobre como todo o castelo era adorável, sobre como eu era um excelente espadachim e como era uma pena que tudo estivesse sendo meio destruído e manchado de sangue. Isso tudo antes de nós sequer terminarmos de subir as escadas. Quase desejei encontrar Quentin, porque talvez na presença dele a Sra. Malkin ficasse quieta.

No fim, não foi Quentin que eu encontrei, mas dois guardas vigiando uma porta que eu reconheci imediatamente. Meu quarto.

Quentin estava com Alice no meu quarto.

Minha mão apertou a bainha da espada com tanta força que me surpreendi ela não ter se desintegrado entre meus dedos. Ao mesmo tempo, comecei a ouvir uma batida ritmada dentro do meu peito e soube, sem nenhuma sombra de dúvida, que era meu coração.

Ótimo momento para ele decidir aparecer.

– Quentin! – gritei. – Quentin!

Os guardas colocaram as mãos em suas bainhas, mas eu não estava com medo. Sabia que poderia vencer os dois, já tinha feito isso antes.

– Abram essa porta e digam ao príncipe Quentin para ele deixar de ser um covarde e vir aqui me enfrentar!

Aparentemente ofendi o pobre do príncipe, porque ambos os guardas avançaram na minha direção, as espadas chiando ao serem desembainhadas.

A sra. Malkin soltou um gritinho.

– Está tudo bem querido, não se preocupe. Eu só vou –

Pof.

Onde antes estava a sra. Malkin agora havia purpurina.

Eu me virei, alarmado, quase ficando surdo com o som do meu coração pulando dentro do peito. Era sempre assim? Sempre tão alto?

O guarda que tinha acabado de acertar a Sra. Malkin agora vinha na minha direção e tudo que eu pude fazer para me defender foi levantar minha espada para refletir o golpe. No mesmo instante em que nossas armas tilintaram, um dos guardas do quarto de Quentin gritou.

– Não o machuque! O príncipe quer ele vivo.

Ah, mas claro.

Eu tinha certeza de que podia dar conta de dois, talvez pudesse dar conta de três também. Fosse como fosse, não ia ficar ali esperando que eles me rendessem.

Avancei para o guarda que tinha atingido a Sra. Malkin, porque decidi que ele merecia morrer primeiro. Assim que tentei golpeá-lo, ele levantou a própria espada e desviou meu golpe. Mal tive tempo de me recompor quando algo atingiu minha cabeça e tudo ficou escuro por um momento. Não me percebi caindo e só entendi o que estava acontecendo quando meu corpo desmontou no chão.

Tudo entrava e saía de foco, minha cabeça pulsando.

Ainda assim, vi quando os guardas bateram na porta. Vi quando Quentin saiu, todo real e com um sorriso no rosto, olhando para mim. Também vi, ali no fundo, o rosto de Alice molhado pelo que só podiam ser lágrimas.

Engoli em seco, as lágrimas querendo queimar no meu rosto também.

Voltei a encarar Quentin.

Eu sabia que me mexer era uma péssima ideia, mas consegui levantar meu braço o suficiente para mostrar o dedo do meio.

A última coisa que vi foi a expressão de ódio no rosto de Quentin e a sola de sua bota, antes dela se chocar contra o meu rosto e tudo se apagar num grito de dor.

Coração de vidro [FINALIZADA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora