Mostra Ecos 6ª edição

Per MostraEcos

751 65 4

A Ecos 6 é uma nova Ecos. Mudar, tentar ir além, buscar o diferente, esta é a única rotina a ser seguida... Més

Aviso
Editorial
Daniel na cova dos leões astrológicos
Sombras e relâmpagos
Abalos de final de ano I
Ao clarear dos Holofotes
Trinta e Três
Fluxo
Noites sem sonhos & Sonhos acordados
Voltando para casa
Abalos de final de ano II
Ucronia
Contato

Corredor da sorte

36 3 0
Per MostraEcos


ereuss

Conto Seis

CORREDOR DA SORTE

E. Reuss


"Precisamos jogar com mais balas."

Michael, o Franco Atirador


Eu gosto mais deles do que eles gostam de mim, disso eu tenho certeza. Para falar a verdade, eu os admiro. Admiro a espera e a paciência deles. Me sinto um deus caminhando sobre suas cabeças. Meus passos ressoam de forma regular na passarela de alumínio do telhado. Mantenho minha velocidade constante para não perturbar o sono dos apenados. A minha volta, a cidade geme e da sua maneira tenta reproduzir o padrão das estrelas com luzes brancas e amarelas. A minha aparência é heroica, mas talvez seja um efeito da bebida. Você se sente grande caminhando pela passarela, não tem como evitar. Lá embaixo, eles dormem sob uma camada suspensa de roupa suja, colchões e outros corpos presos por cordas e redes no teto da gaiola. As pessoas simplesmente aprendem a viver em níveis, como na cidade. Mas aqui não é como na cidade, não é mesmo? Aqui você sente o cheiro... Se você estivesse aqui, você também sentiria. E não é o cheiro de merda de que estou falando, é o cheiro da ausência da sorte. Afinal, a prisão é isso, uma sala de espera para aqueles que nasceram sem sorte.

Na Galeria E as coisas são diferentes. Não há sorte por aqui também, mas aqui eles tem portas e janelas, privacidade e sono sem perturbações. Um reflexo do dinheiro que eles tiveram lá fora. Aqui é o lugar onde gosto de passar meu tempo, pois posso deslizar sem fazer barulho pelos corredores e espiar pela pequena janela em suas portas. Um deles sorri para mim, o primeiro sorriso que recebo na ala masculina em não sei quantos anos. Há uma espécie de passividade nele que chamou minha atenção, algo que me lembra Santidade, assim, sentado de pernas cruzadas no chão úmido, sorrindo... Esperando. E que sorriso, tenho que dizer. Dava para perceber que foi investido dinheiro naquele sorriso. Um polimento perfeito, reluzente, caloroso, um sorriso que te convida a fazer loucuras. Ah, aquele sorriso já viu muita sorte por aí.

Tirei meu cantil do bolso da farda e comecei a beber. Ofereci um pouco para o monge, mas ele não ia querer aquela merda, não com aqueles dentes.

"Obrigado, mas não."

Enrosquei a tampa enquanto ele sorria para mim e comecei a deslizar novamente pelo corredor.

"Parece meio abatido, rapaz"

Eu parei. No estado terminal em que eu estava, eu precisava parar para qualquer coisa. Perguntei se ele falava comigo.

"É, é... Eu sei como tu vive... Conheço bem o teu tipo. Às vezes, ladeira abaixo é o caminho mais fácil."

"Ladeira abaixo?" Arrotei e comecei a rir.

"Acha que eu tô aqui contra a minha vontade?", ele disse enquanto eu abria minhas calças e mijava pela janelinha da bandeja de comida.

"Opa, acho que é hora de sair daí então... Oi? Como é? Não consegue? Ah, é mesmo. Sua vontade não vale nada aqui" Olhei para ele. Nenhum movimento. "Vivendo e aprendendo, meu amigo", eu disse, "vivendo e aprendendo".

Verdade. A vida nos ensina muita coisa. Naquela mesma tarde, por exemplo, ela me ensinou que paraplégicos não sofrem de disfunção erétil. Eu não teria problema nenhum com isso, se a ereção não estivesse dentro da minha mulher.

Acordei por volta da uma da tarde sentindo o cheiro do almoço. Simone estaria na cozinha, preparando o mesmo prato que ela preparava todos os dias desde que firmamos esse contrato de decomposição mútua de espírito que é o nosso casamento. Espaguete, molho de tomate e frango empanado. Para ela e para o irmão, Laércio, um ovo frito. Meio-irmão, na verdade. Ele veio junto com o casamento.

Eles sempre foram próximos, próximos até demais. Você teria pena dele se o visse chorando na mesa de jantar com a boca cheia de espaguete, dizendo que eu o ofendi de alguma forma. A face do atraso mental e da melancolia, inconsolável. Quando isso acontecia, Simone sentava em seu colo, enfiava a cabeça do irmão no meio das tetas e balançava (a cabeça) para os lados, enquanto cantava cantigas infantis com uma voz melosa e enjoativa. Por isso eu não julgo o pai deles, que em algum momento da infância de Laércio decidiu enfiar uma picareta nas costas do filho e na cabeça da mulher, que não era a mãe de Simone. Infelizmente, o garoto ficou apenas paraplégico e, depois que o pai se matou, foi morar com a meia-irmã.

E foi por isso que entrei na cozinha naquela tarde e não me surpreendi ao encontrar irmã sentada no colo do irmão do outro lado da mesa. Quando me levantei da mesa para levar o prato sujo até a pia, Simone disse: Deixa aí que eu lavo. O problema é que não havia nenhuma cláusula sobre lavar louças no contrato. O trato era o meu dinheiro pela comida e pela companhia dela. Até o sexo deixou de ser uma atividade cooperativa.

Eu mesmo lavo, falei e eles cravaram seus olhares em mim e me acompanharam enquanto eu dava a volta na mesa. O que me surpreendeu não foi a nudez, mas sim o fato de que, no momento em que Simone elevou o corpo e deslizou para o lado, o pênis de Laércio olhou para mim e pareceu fazer uma reverência. Ereto, imponente, rindo da verdade aniquilada, uma crença que permaneceu comigo durante todo o casamento e que agora jazia no chão pisoteada e abusada sexualmente. Caralho, eu disse e não consegui dizer mais nada.

Agora, como você acha que essas coisas se resolvem? Com violência? Também acho. Minha mãe sempre me disse que não devemos maltratar mulheres, idosos e deficientes. Por isso decidi bater nos dois. Consegui acertar um soco na boca da Simone, o que é muito mais do que eu poderia esperar com aquela concentração de álcool no sangue. Quando consegui me estabilizar para poder chutar a cara do Laércio, senti seu abraço me imobilizando com uma força descomunal. Jesus, esses deficientes tem força nos braços. Você sabia? Acho que tem alguma coisa a ver com ficar girando por aí o dia inteiro. Bem que eu deveria ter comprado aquela cadeira de rodas elétrica que a Simone queria, talvez eu não teria apanhado tanto. De repente, Simone cravou as unhas nas minhas bochechas e logo comecei a sentir a pele sendo rasgada e o gosto de sangue em minha boca. Caí de joelhos e permaneci no chão da cozinha por horas, eventualmente caindo de costas e dormindo até a hora de ir para o trabalho.

"Hora de ir". Simone me acordou com um tapa. "Quero o divórcio."

Eu ri e senti a carne das minhas bochechas me dar outro tapa na cara.

"Simone..."

"Olha, acabou. Vai embora, você e essa barriga nojenta"

"Depois de todos esses anos?"

"Conheço ele há mais tempo que você"

"Mas foi bom... Digo, o casamento. Não foi?"

"O sexo com ele é muito melhor"

"Eu te amo, Simone. Esquece isso. Você disse que me amava..."

"Menti."

Cacete. A vadia estudou bem as respostas.

Acordei molhado e com uma dor se instalando em algum lugar da minha cabeça.

"Se serve de consolo, a urina é sua"

Eu conhecia essa voz. Era a minha? Não, não, minha voz não soa tão bem assim, não é mesmo? Você que me lê com certeza já tem alguma opinião formada sobre isso. Era a voz do monge. Eu havia dormido na porta de sua cela e a minha própria urina havia encontrado alguma reentrância no concreto desnivelado que levava até a minha bunda.

"Sabe o que você não tem?" Ele disse.

"Um fígado?"

"Não."

"O que?"

"Sorte. Você acha que passaria por tudo isso se tivesse sorte?"

"Olha, eu que comecei com esse papo de sorte..."

"Sorte e dinheiro, Bruno. Isso eu posso conseguir pra você."

Levantei lenta e dolorosamente do chão molhado e parei tentando afastar a náusea. Minhas energias permitiram apenas que eu virasse a cabeça na sua direção e fosse atingido pela força daquele sorriso milionário. Eu não me lembro do que fiz em seguida, mas tenho quase certeza que sorri de volta.

"Isso mesmo, Bruninho. É dinheiro o que você quer, não é?"

Seu sorriso se abriu mais do que eu achei que fosse possível. Aquilo que era felicidade. Eu precisava daquilo.

"E você pode ter."

Você é um cético desgraçado, não estou certo? Você não acreditou que aquele monge vegetando numa cela úmida e escura pudesse me dar algum dinheiro, não é mesmo? Eu também não acreditei. Mas agora você tem na sua frente a prova concreta de que as coisas mudaram para mim, meu amigo. Dois meses se passaram e agora eu sou um milionário. Talvez bilionário, você para de contar quando o peso do dinheiro começa a ficar inconveniente. O dinheiro simplesmente continuou entrando. Entrando. Entrando. Estuprando minha conta bancária como se não houvesse amanhã. Criando a minha volta uma força análoga à gravidade, mas que não opera sobre a massa dos corpos, e sim sobre desejos. Conscientes e inconscientes. No fundo, todos veneram a sorte. Todos veneram o próprio ego e o próprio direito de ser o centro de tudo. Você pode me dizer que valoriza o intelecto, as artes, a própria vida, que você trocaria todo o dinheiro do mundo pela oportunidade de realizar sua grande obra. Uma obra que fará o mundo abrir os olhos diante da verdade suprema. A veneração do dinheiro é a verdadeira escravocracia, você diria, desprezando o meu modo de vida, as minhas roupas, as minhas mulheres. Mika, minha assistente pessoal, uma estudante de medicina de dezenove anos resgatada da Dinamarca, com os olhos mais azuis que você já teria visto durante toda a sua existência terrestre, levantaria então graciosamente a porta da minha Lamborghini Murciélago e colocaria a si mesmo a sua total disposição. A demonstração de poder teria o efeito intimidante desejado, mas seria uma intimidação amigável e hipnótica e te lembraria um tipo de dominação sexual a qual os homens e mulheres adoram se submeter. Salvatore Ferragamo, Gucci, Versace, Alexander McQueen, Brioni, você veria esses nomes espalhados pelo meu corpo e estaria convencido de que eu detenho o segredo para a vida eterna. Eu convidaria você para me acompanhar em uma viagem em direção ao núcleo rosado e suculento de uma vida cercada de mimos e conforto. Você seria transportado pela minha Lamborghini quase que instantaneamente para um lugar sem igual, talvez comparável unicamente ao útero de sua mãe: O meu Palácio de Cristal, uma réplica da construção em ferro fundido e vidro projetada pelo lendário Sir Joseph Paxton. Mas em vez da Inglaterra, estaríamos em pleno solo brasileiro, elevados aos céus pela majestosa serra catarinense e pela força transcendental da riqueza. O Palácio é construído sobre florestas e rios, jardins de pedras e vinhedos, você mesmo estaria em uma das câmaras reservadas a hóspedes em que duas araucárias tocam com delicadeza a abóboda vitrificada a trinta e três metros de altura, enquanto o som das bolhas do seu champagne Boërl & Kroff seriam abafadas apenas pelas bolhas da jacuzzi olímpica instalada nos seus aposentos. Você teria a sua disposição um grupo de jovens cuja beleza o hipnotizaria e suprimiria seus sentidos. E riríamos juntos de todo o nosso passado financeiro e de nosso ceticismo, da mesma forma que eu riria pelo resto da minha vida daquela noite em que quase não acreditei que um carimbo mágico pudesse me trazer felicidade.

"Eu sei que parece mentira. Mas as notas, você deve ter alguma das minhas aí na sua carteira, agora mesmo." Nesse momento, o monge deixou a posição meditativa em que estava e começou a abaixar as calças. "Procure por isso aqui. Esse símbolo é a marca que você deve procurar." Ele me mostrava um símbolo simples que lembrava um floco de neve tatuado na coxa esquerda.

"E você inventou toda essa história para poder furtar a minha carteira?"

"Não... É simples. Acredite em mim. Tudo o que você tem que fazer é batizar as notas com o carimbo."

"Certo..."

"Sabe o que esse símbolo significa? Para o universo? Que o dinheiro é seu... E ele sempre devolve o que te pertence."

"Olha, amigo, eu já ouvi falar de muito esquema miserável nessa prisão, mas que puta montoeira de bosta você inventou aqui, hein. Eu até admiro esse seu autocontrole, porque tenho que admitir que você mente consideravelmente bem pra um pé-rapado filho de uma puta, com esse tom sensato e crédulo de alguém que descreve algo de partir o coração e que você nem cogita que seja mentira, tipo o suicídio da própria mãe."

Situações como essas num lugar como esse geralmente não levam a nada porque ceticismo, estupidez e arrogância são praticamente pré-requisitos do candidato a Agente Penitenciário. Não que os agentes sejam todos pessoas sem alma, mas estamos falando aqui de interação diária com indivíduos que se assemelham a seres humanos apenas fisiologicamente, do tipo que trocam bebês viciados em crack desde o útero por ampolinhas de quetamina ou que ficam num estado tão deplorável que são parados pela polícia e não entendem o motivo de estarem presos até o advogado deles explicar que ele foi preso por excesso de velocidade e por haver um braço amputado preso na antena am/fm do carro. Mas por incrível que pareça, esses agentes com quem eu divido o local de trabalho são caras com um bom senso de autopreservação, e por isso a resposta padrão para propostas do tipo "me passe a sua carteira que eu te mostro" é uma sessão de espancamento grupal envolvendo três ou quatro agentes e um meliante sob um lençol. O problema aparece quando o agente se encontra num momento sombrio de sua vida, pessoalmente falando, e sentindo dores em lugares que ele nem imaginava que possuíam terminações nervosas, à beira de um colapso emocional ou de um coma alcoólico. Nesse estado, eu pensava que qualquer proposta, por mais idiota que fosse, não poderia tornar as coisas piores do que já estavam. E por isso eu cheguei ao final do corredor da galeria E e abri minha carteira e peguei a única cédula que eu tinha: uma nota de dois reais amassada e fedendo a bunda com o seguinte símbolo ao lado da frase "Deus seja louvado":

"Isso é outra piada?" Estendi a nota para dentro da cela e ele a pegou.

"Eu não disse?"

"Que porra é essa?"

"Eu apenas imaginei, sabe, considerando a quantidade de dinheiro que eu carimbei na minha época, que você teria uma dessas notas."

"É? E de que quantia estamos falando aqui?"

"Uma estimativa? Algo em torno do PIB do Suriname."

"E isso é muito?"

O silêncio repentino me fez olhar pela pequena abertura da porta. Minha visão foi ofuscada pelo brilho que emanava de sua cabeça sorridente. Não esperei por uma resposta para a minha pergunta, aquilo era tudo o que eu precisava. Afinal, um sorriso daqueles custava dinheiro. Muito dinheiro.

"Seus dois pilas, amigo." Ele disse enquanto eu caminhava em direção à saída.

"Pode ficar com ele", eu disse e uma risada infantil e sincera reverberou pelo corredor.

"Eu não disse, Bruno? Eu não disse que o universo sempre devolve o que é seu?"

Não vou negar que me senti um idiota carimbando aquela primeira nota de dez reais. Entreguei o dinheiro para a atendente da lotérica e ela nem sequer percebeu o símbolo. Dois dias se passaram sem eu me lembrar da aposta quando, no terceiro, fui atingido em cheio pela lembrança do sorteio, que fora na noite anterior. Comparei os números da loteria com os números do meu bilhete e descobri que havia ganhado quatro mil, trezentos e vinte e um reais, descontado o imposto de renda. Naquela noite eu não consegui dormir e fiquei o tempo todo sentado na cama alternando entre goles de uísque e gargalhadas histéricas.

Foi fácil no começo, quando o dinheiro ainda era pouco e as viagens até a loteria não eram tão frequentes. Mas logo precisei contratar uma fisioterapeuta para tratar de uma dor no ombro direito que havia surgido após uma sessão de carimbagem de dezoito horas ininterruptas. Todo o dinheiro que eu ganhava em jogos da loteria era sacado, levado em malas com rodinhas até a espelunca em que eu morava, carimbado e mais uma vez carregado até as lotéricas mais próximas para que eu pudesse fazer minhas apostas. De repente, me vi dividindo o chuveiro com uma pilha de malas de viagem cheias de dinheiro e me surpreendi ao ver que o lugar das bebidas na geladeira estava ocupado por tijolinhos de notas de cem reais. A fisioterapeuta agora prestava seus serviços 24 horas por dia. Nós começamos a ficar realmente preocupados com o calombo no meu ombro, que crescia mais a cada dia e adquiria feições quase humanas, como se eu estivesse desenvolvendo uma segunda cabeça.

Paguei a fiança do meu amigo monge, afinal, eu devia pelo menos isso a ele. Descobri então que ele havia sido preso por fraude bancária e suborno e que ele, o Monge, era um advogado e economista conhecido internacionalmente no submundo da vigarice corporativa.

"Eu vou garantir, pessoalmente, que nada do que aconteceu comigo aconteça com você." Ele me disse durante uma reunião de negócios. "Mas não podemos continuar pagando isso para o governo".

Ele apontava para uma daquelas somas monstruosas que ninguém sabe como se chamam.

"Como fazemos isso?"

"Microfinanças", ele disse em meio a um de seus sorrisos.

"..."

"Montamos uma ONG internacional especializada em microfinanças. Oferecemos pequenos empréstimos para comunidades rurais do oeste da África e da Índia. Criamos uma carteira de clientes de fazer qualquer investidor chorar de dó. Quer um exemplo? Uma velhinha de noventa e dois anos precisa de dinheiro para comprar uma nova cabra, já que aquela que a acompanhava diariamente pelos campos de fumo caiu de um penhasco e ela precisa desesperadamente do leite e da única companhia que ela tem na vida. Nós ajudamos esse tipo de gente. Milhões deles. Os impostos são baixíssimos, e os lucros, altíssimos. O maior juros do mercado, o das microfinanças. A perfeita máquina de lavar dinheiro. Nessas comunidades, eles não emitem notas fiscais de cabras e coelhos, então, nenhuma prova contra nós."

"Nós vamos ajudar esse povo?"

O monge colocou sua mão no meu ombro e sussurrou entre os dentes, para não desfazer o sorriso: "Elas não existem, Bruno. Nada disso existe."

"Não?"

"O que existe por traz da fachada é uma organização bilionária, composta por milhares de funcionários instalados nas nações mais viciadas do mundo. E sabe o que eles estão fazendo? Jogando com a sua sorte, com o seu dinheiro. Nada de lotecas com imposto de renda retido na fonte. Nada disso. Estamos falando de jogo do bicho, pôquer francês, luta de rua em Valparaíso, cassinos subterrâneos da yakuza, briga de galo na Costa Rica, whe whe em Trindade e Tobago, etcétera, etcétera. Tudo que você tem que fazer é carimbar o dinheiro. Eles te ligam e você escolhe no que apostar. Logo em seguida você recebe a ligação e é sempre a mesma frase: Nós ganhamos. E o dinheiro continua entrando mais rápido do que você consegue gastá-lo. Dinheiro para você fazer o que quiser. Me diz, Bruno, qual é o seu maior sonho?"

Eu estava sonhando alto. Alto demais. Garrafas e carros e putas e um sonho que eu queria realizar mais do que tudo. Um sonho tão grande que ofuscava todos os outros.

"Meu sonho é acabar com a vida daquela vagabunda."

Eu estava sentado num facho de luz que se projetava da janela e conferia ao ambiente aquela atmosfera sonífera e poeirenta de escritórios de advocacia com carpete. A recepcionista digitava alguma coisa no computador e o ar condicionado zumbia e cuspia gotas de condensação na minha cara. De repente, um telefonema. A recepcionista atendeu e desligou num intervalo de um segundo.

"Pode entrar."

Quando entrei na sala de reuniões, percebi no rosto das duas mulheres sentadas à mesa que elas não me reconheceram. Talvez fossem meus sapatos de couro de crocodilo, que brilhavam tanto sob a luz do sol que mais pareciam globos de discoteca. Isso ou Simone apenas não estava acostumada a ver o brilho da sorte emanando do meu rosto daquele jeito. Sentei de frente para elas e esperei que falassem.

"Senhor Bruno?" A advogada precisou confirmar e senti que Simone também esperava a resposta.

"Sim."

"Você está ciente da dificuldade que tivemos para encontrar o senhor?"

"Sim."

"Entramos com uma ação de divórcio litigioso contra o senhor. No entanto, o juiz não quis assinar a sentença por conta do seu... desaparecimento."

"Certo."

"O senhor concorda com o divórcio?"

"Não."

Tive ainda um ou dois segundos de paz antes que Simone começasse a falar.

"Seu broxa. Seu egoísta filho de uma puta. Viado. Tu sabe o que eu tive que aturar no nosso casamento? O nojo que eu sentia toda vez que te via com aquela farda nojenta? O desprezo que eu ainda sinto por ti? Olho pro Laércio e vejo como tu é atrasado. Metade do homem que ele é. Tua vida é patética, seu alcoólatra desgraçado. E tu ainda tem a coragem de aparecer aqui vestido desse jeito? Um terno, sério? Nem na porra do nosso casamento tu usou um terno, seu demônio! Na lua de mel tua camisa era só vômito e cerveja. Filho da..."

A essa altura você já deve saber como eu silenciei aquela lamentação toda. Isso, isso mesmo, você pode falar. Ninguém vai te julgar, estamos todos entre amigos aqui...

Dinheiro.

Sabe qual o segredo? As pessoas adoram os vencedores, principalmente os vencedores por acidente. Elas querem crer em algo ao seu alcance e se sentem ligadas por essa crença em comum, a crença na Sorte, mais ou menos como os religiosos formam um conjunto de indivíduos em torno da ideia de Deus. E a minha maneira, eu sou um Deus. Exerço minha soberania com aquilo que melhor representa a sorte: Grana. Por isso, quando tirei vinte mil reais do bolso e coloquei na mesa a minha frente, só pude ouvir o som da submissão.

"Simone," eu disse. Ela não tirou os olhos dos dois montinhos de notas de cem reais a sua frente. "Eu quero sentir prazer." Silêncio.

"Senhor Bruno..." A advogada me interrompeu e eu lancei um monte de notas de cem reais na sua direção, que a atingiu na testa. Apontei na direção da saída e ela colocou as mãos no joelho de Simone, esperando alguma instrução. Coloquei mais trinta mil sobre a mesa e Simone virou para o lado e acenou positivamente com a cabeça. A advogada foi embora.

Nesse momento assinamos um novo contrato tácito.

Simone receberia dez mil por cada encontro que marcássemos e, em troca, eu receberia noites de um sexo selvagem do tipo que nós nunca fizemos antes. Nossos encontros passaram a acontecer numa frequência metronômica, exatamente às 22 horas de toda segunda, quarta e sexta-feira. Nossa performance era frenética e sonora, com algo de falso em todos aqueles gemidos e caretas. Mesmo assim, deixei escapar um Eu te amo sincero na nossa décima noite e, por incrível que pareça, recebi a resposta que eu queria. Ela chegou até a tatuar o floco de neve mágico atrás de sua orelha esquerda, mas aquilo não me convenceu. Aquilo era Veneração, e o problema é que todos sabem que nós deuses não nos importamos com quem nos venera, apenas com quem nega nossa existência. Por isso naquele ponto eu comecei a enjoar do sexo. Comecei a enjoar da constância dele, do prazer sem nenhuma emoção verdadeira. Não era mais Simone quem eu queria, era Laércio. Tudo o que eu queria era encará-lo mais uma vez, mas agora do alto do meu panteão, e finalmente esmagar aquela cabeça suja de espaguete.

"Quer alguma coisa? Um café?" Laércio perguntou em meio ao som do caos na cozinha.

"Álcool", eu disse.

"Ah, temos heineken."

Aceitei. Às vezes, até aqueles que têm sorte precisam fazer sacrifícios.

"Como vão as coisas aqui em casa? Tudo benzinho com a Simone?" Eu gritei.

"Bruno, meu chapa. Desculpa mesmo pelo o que aconteceu aquele dia, não era pra ser daquele jeito, sabe? A gente tava planejando explicar tudo para você, de um jeito bem explicadinho mesmo, bem correto tipo bem ético e honesto, sabe?"

A cada pausa eu ouvia um utensílio doméstico se espatifando na cozinha.

"Não se preocupa com isso, Laércio. Eu vim aqui para fazermos as pazes."

Ele surgiu todo sorridente na porta da cozinha carregando uma long neck entre as coxas e uma xícara de café equilibrada no braço da cadeira. Com a mão livre, ele guiava a cadeira de rodas usando o joystick que, aparentemente, oferecia um controle extremamente vago sobre a direção em que ele queria realmente ir. Ele ziguezagueou e colidiu com cadeiras e mesas, derrubando vasos e uma luminária, até encostar seus joelhos esqueléticos nos meus. Olhamos para a garrafa no meio das suas perninhas subdesenvolvidas e eu a peguei sem fazer contato visual.

"Você tá com uma aparência boa." Laércio disse. "Acho que nunca vi você vestido assim."

"Tenho sorte agora."

"Sorte?"

"E dinheiro. Montei uma ONG. Ajudo pobres e ganho muito dinheiro assim. Moro num palácio de vidro lá em Bom Jardim."

"Verdade? Estamos pensando em nos mudar pra serra."

"Bom lugar pra morar."

"É o sonho dela... Morar num lugar frio. Ela quer montar o abrigo lá."

"Abrigo?"

"Ela sempre quis isso... Um abrigo para os sem-teto."

"Sei, sei. Ela adora homens fedidos e indefesos"

Nós não sabíamos o que dizer em seguida e ficamos olhando para os nossos pés por um bom tempo.

"Já tenho um bom dinheiro guardado pra dar a entrada numa casa. Não usei ainda o dinheiro da herança, mas esse não vou gastar por enquanto, né? Vamos precisar daqui a pouco." Ele riu. "Você já sabe, né?"

"RARRRRGHHHH... AAAAHHHH."

"Você tá bem?"

"Não é nada... Só dando um gole."

"Então, você já sabe?"

"Sei o que?"

"Simone está grávida."

"Ah... É?"

"É."

"Parabéns."

"Um verdadeiro milagre."

"Milagre?"

"Anos atrás eu fiz vasectomia. E agora isso." Seus olhos brilhavam de emoção.

"Você está querendo dizer... GLUTGLUT AHHHHH... que houve uma intervenção divina?"

"Acredito que sim. Foi o que eu disse, um milagre."

"Você está dizendo que um Deus interveio... e fez Simone engravidar?"

"Sim... Deus colocou uma criança na nossa vida. Nunca me senti tão abençoado."

Pobre Laércio. Laércio, meu amigo, se alguém pudesse esclarecer as coisas para você de um jeito que o sofrimento pudesse ser amenizado. Se eu tivesse a paciência ou inclinação para isso, eu faria. Juro. Alguns vêm ao mundo para sofrer. Não bastava perder as pernas, a mãe e o pai, o coitado agora tinha que perder a dignidade.

Me levantei do sofá e caminhei até o quarto de Simone.

"Laércio," eu disse, "vem aqui." Ouvi às minhas costas o zumbido do motor da cadeira se aproximando e esbarrando nas paredes do corredor. Me sentei na cama, de frente para Laércio. A mesma cama em que eu enrabava Simone três vezes por semana.

"Laércio, eu vou ser sincero com você. Eu gosto de você Laércio, eu acho que todo o seu sofrimento te deixou meio cego para algumas coisas."

"Cego?"

"Sim. E agora eu preciso te mostrar quem a Simone é de verdade."

"..."

"Eu vou te dizer exatamente o que você vai encontrar aqui embaixo do colchão." Suguei meus lábios e olhei para o teto, pensativo. "Não sou muito bom com números, mas eu acho que temos aqui trezentos mil reais em notas de cem, alguns conjuntos de espartilho e fantasias sensuais, alguns potes de lubrificante e um pen drive com algumas músicas românticas que ela gosta de pôr para criar um clima."

Ele ficou mudo e o seu queixo começou a tremer. Levantei o colchão e me senti estranho presenciando as evidências das minhas noites com Simone. O dinheiro espalhado pelo estrado era muito mais do que eu lembrava, mas de alguma forma aquilo pareceu muito pouco. Todo o nosso casamento reduzido a notas e brinquedos sexuais. De repente o quarto ficou vazio e silencioso, e eu ouvia apenas o som exagerado do choro de Laércio.

Leitor, leitora, eu odeio minha rotina. Passo noites sem dormir, pensando no inferno que seria minha vida se eu perdesse o encanto. Quando durmo, eu acordo tendo ataques do pânico e achando que tudo aquilo foi um sonho. Eu ando constantemente acompanhado por três guarda-costas que juntos pesam uma tonelada. Não para me proteger, mas para proteger o carimbo. Meu braço lembra uma coisa atrofiada e mentalmente paralítica e me provoca ânsia de vômito quando me olho no espelho. Demiti minha fisioterapeuta incompetente e contratei uma equipe de três dos melhores fisioterapeutas do país, seis enfermeiras trabalhando vinte e quatro horas por dia, e um chimpanzé treinado em um circo da Nigéria que me acompanha para onde quer que eu vá massageando meu ombro. Quando entro em algum lugar acompanhado pelo meu staff todos batem palmas e crianças com os olhinhos brilhando gritam de alegria, mas logo caem num silêncio constrangedor quando se dão conta de que aquilo tudo não é uma performance artística. De noite, contemplo a equipe de limpadores de vidro responsável pela limpeza da fachada do meu palácio enquanto carimbo meu dinheiro usando meu braço esquerdo para guiar o braço dormente. Todas as noites, converso com o Monge sobre a nossa operação usando códigos complexos que ele insiste em usar e que há muito tempo deixaram de fazer algum sentido para mim.

"galinheiro pagou doze", ele falava quando eu coloquei o telefone na orelha e eu ouvia os sons das teclas e do papel sendo cuspido por sua calculadora ao fundo, "com vinte e sete da semana passada é trinta e nove, e vinte dois do china pagou cinquentão vezes treze maloqueiros daquelas bandas, mais treze apostas com o Marconi é dezoito vezes treze menos comissão é duzentos com três pagando sessenta pra um é cento e oitenta na trifeta do Longo, mais vinte por cada Lote do Uruguai é trezentos e trinta que dá um por oitenta é o que me disseram e deixa eu ver aqui... Parari, parara, é setecentos e um pra caridade."

"Mil?"

Uma gargalhada estrondosa disparou do telefone.

"Mil, diz ele", o Monge disse para ninguém. "Ô."

"Ãhn?"

"Nem te conto."

"Tudo bem."

"Tua patroa tá presa."

"A Simone?"

"Parece que ela entrou em estado de choque quando descobriu que o Laércio usou a roda da cadeira de propulsão elétrica como um torniquete para espremer o próprio pescoço com uma gravata. Tudo isso enquanto ela fodia com outro no quarto ao lado. E quando a polícia chegou lá a cabeça já tinha sido decepada e a Simone tava olhando pro que sobrou do Laércio. Agora ela tá em prisão preventiva porque encontraram o dinheiro embaixo do colchão."

"Mas o dinheiro era dela!"

"Sim, mas aí temos um plot twist e aparece uma mulher clinicamente obesa lá dizendo ser irmã do Laércio de outra mãe e que aquela vadia da Simone na verdade só queria o dinheiro da herança dele porque afinal quem é que se interessa por um decrépito paralítico desses. Então a polícia descobre que o Laércio já tinha um histórico de fodelança com irmãs, e que essa irmã na verdade é uma ex mulher com quem ele tem uma filha que na verdade é uma aberração mutante feia de te fazer perder o sono. Mas eu e você sabemos que essa mulher tá na história porque quer essa grana não declarada, e agora a Simone tá lá presa por suspeita de assassinato e fraude e tá bem feio a coisa pro lado dela."

"Jesus. Ela tá na minha prisão?"

"Isso mesmo."

Afastei o telefone da orelha. Antes de desligar, ouvi as últimas palavras do Monge soando como um sussurro:

"Boa Sorte Brun..."

Ela parecia cansada e humilhada. Na verdade ela parecia um cotoco, um resto humano, uma carcaça leitosa e inanimada. Havia me esquecido de quão branca era sua pele. Ali, sentada no vaso sanitário e me olhando através do buraco na porta, ela tinha uma aparência vazia e inconsciente. A expressão nula de um cego. Parecia não se importar comigo, mas mesmo assim virei o rosto tentando respeitar sua privacidade.

"Simone", eu disse, "Jesus... Que cara é essa?"

Ela não respondeu. Seu olhar catatônico encarava as profundezas daquele vazio que só ela enxergava.

"Ele me contou sobre a gravidez." E então ela olhou para mim e agora ela parecia assustada, como se eu a tivesse lembrado de algo que ela queria esquecer. "Porra, Simone, olha o teu estado. Eu vou te tirar daí..."

Ela desviou mais uma vez o olhar.

"Simone, por favor, fala alguma coisa."

Não era o silêncio que me incomodava. Depois de quinze anos casado com ela, o silêncio é algo de que você acaba sentindo falta. O que me parecia estranho era sua docilidade. O jeito como ela me olhava, alheia a tudo, sozinha em seu sofrimento. Um sacrifício que eu não sabia que Simone era capaz de fazer. Eu estava acostumado com o seu egoísmo, sua necessidade de levar a vida a sério e de desprezar a minha mania de fazer piada com tudo. Mas naquele silêncio eu podia ouvir o sofrimento e a vergonha de alguém que não precisava mais de pena.

"Simone..."

"..."

"Simone... Eu não estou entendendo. O que você quer? Eu tenho mais dinheiro do que eu posso gastar e posso realizar todos os teus sonhos. Quer morar em Bom Jardim? Montar um abrigo? Quer ter meu filho, Simone? Quer ser feliz, porra?"

Então me dei conta de uma coisa: que caralhos ela ia querer com meu dinheiro, hein? Naquela sala de espera, minha sorte não tinha serventia nenhuma. Nesse momento, meus olhos estavam afundando em lágrimas e eu estava perdendo o controle da minha face. E não era tristeza, mas sim um tipo de medo que nunca havia sentido antes. Eu estava assustado... Assustado pra caralho. Porque quando ela virou o rosto para a parede num gesto de vergonha e submissão, enxerguei o floco mágico tatuado em seu pescoço e percebi que pela primeira vez ele estava falhando comigo.

Aquilo era um presságio.

Eu chorava enquanto deslizava minhas costas na porta da sua cela. E tudo o que eu queria era que ela dissesse o óbvio, que aquilo tudo era culpa minha.

Acordei com as costas apoiadas na porta da cela e sentindo uma dor na nuca. O único som humano que eu ouvia era a batida irregular do meu coração. Me dei conta da familiaridade daquela situação e comecei a me desesperar.

"Não..." Disse, olhando para o teto e rindo como um louco. "Não é possível... Por que? Por que?" Foi tudo um sonho? Todo aquele dinheiro? Toda aquela felicidade? Claro que foi... Como eu pude acreditar na sorte? Como eu pude acreditar que a porra de um carimbo pudesse me aproximar dela, da sorte?

Atrás de mim, a cela. Em breve minha urina ensoparia minhas partes baixas e eu ouviria a voz zombeteira do Monge me oferecendo consolo. E eu precisava de consolo. Preferencialmente de um com no mínimo 50% de teor alcoólico. Apalpei todos os bolsos da minha farda tentando encontrar meu cantil. Nada. Estiquei as pernas e enfiei a mão nos meus bolsos e encontrei dinheiro. Ai, meu dinheiro amado, se você soubesse o quanto eu te amo... Estendi a nota de dez reais e enxerguei o pequeno floco de neve mágico.

Foi um alarme falso. Quem diria, não? O universo gostava realmente de mim. Quase perdi o controle do meu esfíncter. Deus seja louvado, a efígie da república disse, e eu beijei sua boca. Não tenho preconceitos, amo todos eles da mesma forma, do peso chileno à libra esterlina.

Aquilo significava que atrás daquela porta estava Simone. Talvez estivesse morta, não sei, não tive coragem de checar. Eu seria o dono da sorte por mais uma noite e amanhã me preocuparia com Simone. Afinal, eu nunca seria o dono dela e daquela criatura que se formava em seu ventre.

Não pense que eu não a amava. Só amei duas coisas durante minha vida inteira. Simone era uma delas. A outra me esperava no fim do corredor, com seu sorriso tênue e receptivo de cem mil dólares, pronta para me abraçar e dizer que o mundo podia ser meu. Seus ombros estavam cobertos de neve e ela usava sapatos Jimmy Choo e um xale Hermès esvoaçante, bordado à mão nos platôs Tibetanos. É o primeiro dia do inverno, ela disse, vamos voltar pra casa. Seu nome era Sorte e eu corri até ela sem olhar para trás. Porque esse é o problema de se viver seus sonhos, você nunca sabe quando se vai acordar de um deles.

Continua llegint

You'll Also Like

1.1M 157K 93
Trilogia COMPLETA ⚠ ATENÇÃO! Este é o segundo livro da trilogia A RESISTÊNCIA, a sinopse pode conter spoilers. Após descobrir que Emily faz parte da...
16M 304K 14
(CONCLUÍDA) Livro Um "Não é que seja proibido... é porque é real" Até onde você iria pelas coisas que sente em seu coração? Teria coragem de arriscar...
726K 3.6K 30
coleção de contos eróticos (Aceito sugestões)
1.3M 1.4K 5
Tem um novo garoto no bairro. Seria uma pena se ele fosse mais perigoso do que ela pensava.