Saí da casa do Lucas e fui direto para a minha casa. Fiquei feliz por minha mãe não questionar o que tinha acontecido no dia anterior, significava que ela confiava em mim. E isso me deixou muito feliz.
Eu não estava arrependida, mas algo dentro de mim me dizia que aquilo não estava certo.
Tudo acontecia rápido demais na minha vida, e isso estava começando a me incomodar de verdade.
_A festa foi boa? -minha mãe perguntou entrando no meu quarto.
_Foi sim. Bastante. -disse e ela assentiu.
_Precisa conversar sobre alguma coisa? Ou quer falar sobre algo que esteja te deixando triste?
_Meu pai... -eu disse e ela assentiu.
_Ele me falou que ele estava no aeroporto. Se quiser falar comigo sobre isso... Eu estou aqui filha. -ela disse e eu a abracei.
_Obrigada... Mas tudo que eu preciso agora é checar meus e-mails e dormir um pouco.
_Tudo bem. Vou te deixar em paz. -ela disse e saiu do quarto.
Liguei meu computador e entrei no meu e-mail. Nada de importante.
Deixei meu computador descansando e me deitei na cama. Fiquei pensando em tudo que aconteceu na minha vida. Era realmente uma bagunça.
Logo eu, que sempre desejei que a minha vida sem graça se agitasse, estou me arrependendo nesse momento. Temos que ter realmente um grande cuidado com o que desejamos.
Quinta-feira sempre foi meu dia favorito. Não sei o porque, mas parecia que o dia ficava mais vivo e tudo ficava mais bonito.
Mas aquela quinta-feira estava me matando. Eu estava cansada e muito perdida. Era como se esses seis meses nem tivessem passado. Era como se ficar com o Lucas novamente fosse como dar um passo para trás.
Nem vi como adormeci, mas acordei com minha mãe me chamando.
_Filha! -ela gritou. Deveria ser a décima vez que ela me chama.
_O que foi mãe? -levanto assustada e ela ri.
_A Júlia está aqui. Você dormiu a tarde inteira. -ela disse e a Júlia entrou.
_Posso saber por que me abandonou naquela festa? -ela disse depois que minha mãe saiu do quarto.
_Você que me abandonou.
_Nada a ver. Eu fui buscar uma bebida e em cinco minutos você sumiu. -ela disse e me olhou curiosa. -Pode me contar.
_Eu vim embora, só isso. Não estava me sentindo muito bem.
_Você não me engana. Pode parar com esse joguinho. -ela disse e revirou os olhos.
_O Lucas, eu fui tão idiota... -eu disse e ela começou a rir.
_Você ficaram?
_Aham. -eu disse e cocei meus olhos.
_Deixa eu adivinhar... Tá arrependida. -ela disse e eu assenti. -Ah, para vai.
_Não foi você que ficou com o seu ex depois de ele te trair. Sou uma burra. Ele não tá nem aí pra mim.
_Claro que tá Ester. O garoto ficou desesperado aqui porque tentava falar com você e você não respondia...
_Estranho que agora tudo cai sobre mim. Parece que a errada agora sou eu. Pois até parece que foi eu quem saiu beijando outro garoto sem pensar nele.
_Você não para de pensar nisso! Esquece um pouco o que ele fez e se concentra no importante que é vocês dois estarem juntos! -ela berrou para mim e eu comecei a rir.
_Tá bom, eu vou parar de falar disso, só não precisa sair berrando, pelo amor hein! -eu disse e ela se sentou na cama. -Falou com o Roberto?
_Nem falei... -ela disse e ficou olhando para o chão.- Você acha errado eu tipo que começar um novo relacionamento? Eu não sei se é certo porque nós meio que não terminamos oficialmente, mas é que eu quero conhecer pessoas novas, sair um pouco do meu cafofo... Me entende?
_Pode falar quem é agora! -eu disse jogando o travesseiro nela e ela riu. -Mentira!
_Tá lendo pensamentos agora é? -ela disse e eu arregalei meus olhos.
_Isso por acaso foi uma confirmação do que eu estou pensando? -eu perguntei e ela demorou um pouco, mas assentiu em seguida.
_É que... Foi... Ah! Nem sei o que deu na minha cabeça!
_Vocês foram buscar as bebidas e aconteceu? Assim, do nada? -eu perguntei e ela enfiou a cara no travesseiro.
_É. Assim, do nada. -ela levantou a cabeça e deu um sorriso sem graça, seu rosto estava corado. A Júlia morre de vergonha de falar sobre esses assuntos.
_Que horas são? -perguntei desesperada para a Júlia. Nem tinha visto o tempo passar.
_São 17:40.
_Droga! Era para eu estar na casa dele há trinta minutos. Ele vai me matar! -eu disse e a Júlia riu.
_Eu já vou. Minha mãe inventou de fazer um pudim que viu na internet e me pediu para passar no mercado para comprar os ingredientes. Até amanhã linda. -ela me deu um abraço e foi embora.
A Júlia parecia um fantasma. Cada hora tem que ir em um lugar e some até antes da gente se despedir.
Eu penteei meu cabelo, coloquei uma calça branca, uma blusa preta regata e um tênis cinza. Saí correndo de casa e em pouco mais de quinze minutos cheguei na casa dele.
_Pode ir voltando porque nós vamos sair. -ele abre a porta e sai da casa antes mesmo de eu bater na porta.
_Nós vamos para onde?
_Para uma fazenda. -ele disse e eu o olhei confusa. -Na verdade para ser mais específico, para a fazenda da minha avó. -ele diz colocando umas sacolas no porta-malas do carro.
_Mas eu... Eu preciso avisar a minha mãe.
_Nem precisa. Acabei de ligar lá e está tudo certo. Lá tem algumas roupas que a Thainá deixou lá que devem te servir. -ele fecha o porta-malas e me olha entusiasmado- Vamos!
Eu entrei no carro e ele entrou logo em seguida. Nós percorremos metade do caminho em silêncio, até que ele resolveu quebrar o choque da surpresa que estava me consumindo.
_Então... Se você não gostou de eu ter planejado tudo isso sozinho e não ter te contado eu entendo. Me desculpa. -ele disse e eu o encarei brava.
_Não é pela surpresa. É que eu sinto que você não me conta mais nada e sinceramente eu preferia não ter mais essa sensação de ser a última a saber de tudo. Pode parecer bobo, mas evita não me contar antes, por favor. -eu disse e ele assentiu.
Depois de uns quarenta minutos nós chegamos na fazenda. A avó dele já estava nos esperando na porta de uma casa amarela. Gigante.
_Oi vó! -ele disse saindo do carro e indo até ela lhe dar um abraço.
_Ah, vocês chegaram! -ela disse enquanto abraçava ele e me encarou surpresa. -E essa moça bonita? -ela disse vindo em minha direção e me olhando de cima à baixo.
_Ela é minha namo...
_Amiga. Sou uma amiga. -eu disse sorrindo sem graça pela interrupção que fiz ao Lucas.
_Muito bonita você! Pode ficar à vontade. -ela disse gentilmente e eu assenti e dei o meu melhor sorriso.
Ela de repente sumiu para dentro da casa, me deixando sozinha com o Lucas novamente.
_Eu... -ele disse mas não parecia saber o que dizer.
_Me desculpa. Não quero isso por enquanto, e espero que você entenda. -eu disse firmemente e fui até o porta-malas, arrancando minhas malas de lá e indo para dentro da casa.
O Lucas me mostrou o quarto e eu deixei minhas coisas por lá. Fui para fora "explorar" o lugar.
Encontrei um lago e me sentei na beirada. Fiquei jogando algumas pedrinhas na água para ver se aquilo me acalmava de alguma forma.
_O que quer fazer amanhã aqui? -ele perguntou se sentando ao meu lado.
_Não sei. Qualquer coisa que me distraia.
_Nós vamos embora no fim da tarde, então vamos ter tempo para fazer o que você quiser. -ele disse e jogou uma pedrinha no lago.
_Tudo bem, vou pensar em algo. -eu disse e ele ficou me encarando.
_Quer ver uma coisa? -ele perguntou sorrindo.
_Claro. -eu disse.
Ele se levantou e me estendeu a mão para me ajudar a levantar também. Nós caminhamos sem parar por uns dez minutos, até chegarmos à uma ponte. Uma ponte que atravessava um rio com as águas mais claras que eu já havia visto. O canto dos pássaros enchia meus ouvidos e o cheiro doce que as flores exalavam me deixava calma. Estava encantada com tamanha beleza.
O Lucas sumiu por alguns segundos e logo depois surgiu com uma tulipa branca na mão. Ele me estendeu a tulipa e sorriu.
_Muito obrigada. -eu disse pegando a tulipa e sorrindo.
_Sabe qual o significado das tulipas? -eu neguei com a cabeça e ele sorriu- Representam amor eterno, beleza, prosperidade e independência. E você é linda, tem prosperidade, conseguiu se tornar independente... E quanto ao amor eterno, é o que eu sinto por você. -ele olhou para o chão enquanto falava tudo e de repente olhou para mim.
Ele foi se aproximando de mim, até nos beijarmos. Já estava escurecendo, então decidimos voltar para a casa.
Nós nos deitamos na grama macia e verde perto da piscina e ele enroscou seu braço em meu pescoço. Ficamos olhando para cima, para as estrelas. Nunca tinha visto um céu tão estrelado daquele jeito.
_Você bem disse que gosta de coisas clichês. -ele disse e nós dois rimos.
_Os clichês são os melhores. -eu disse e ele assentiu.
Na verdade, eu não sabia por que eu estava ali deitada na grama, olhando para as estrelas junto com o meu primeiro amor.
Mas de alguma forma, eu queria ter aquele momento. E de algum jeito, queria ter uma última noite ao lado dele. Não que não terei mais noites, mas temia o tempo, e sentia que nada seria como antes.