Rua Dornelas, 45

By SilvioAlencar

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Há lugares que são santuários de memórias. Há casas que tiveram bons ocupantes, que se amavam e se respeitav... More

A casa
Serelepências
Floresta de cinzas
O poder do esconjuro
Só por hoje
Floresta de sangue
Gaio
Comichão
Floresta de pedras

Envelhecer

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By SilvioAlencar

"Que bom que pôde vir, senhorita Cristina Augusta".

"Apenas, Cristina, ou Cris. Nunca gostei do meu nome composto, senhor Costa".

"Ok, Gabriel então, o que achou da casa?"

Cristina olhou em volta. Tinha sentido um arrepio ao olhar a construção do lado de fora. Era como se todas as janelas a observassem por trás dos vidros grossos, mas, uma vez lá dentro, era diferente. Seu olhar profissional aguçava seus sentidos para outras coisas, o que lhe excitava sobremaneira.

"Eu adorei".

"Sério?", impressionou-se o advogado. Pousou a pasta sobre uma mesa na sala e tirou dela alguns papéis. "Bem, o trabalho é simples,... hã, pelos menos de explicar, a execução já é com você. Entramos em contato com a universidade, pois achamos que lá poderíamos encontrar algum especialista em textos antigos, história medieval, sei lá. Então, indicaram o seu departamento. Devo supor que é professora lá?"

"Ahh... bem, na verdade, não", a moça sentiu as bochechas corarem. "Trabalho como bolsista. A professora Enderlein que é a responsável. Ela me enviou aqui para avaliar o trabalho".

"Uma estudante, então", disse o advogado massageando com o polegar e o indicador o topo do nariz entre os olhos. "Bem, o cômodo fica subindo as escadas."

"E do que se trata exatamente?"

"Melhor ver por si mesma".

Há três corredores no segundo andar da casa, que levam aos demais ambientes. O advogado toma o da frente e segue até o final.

"Por muito tempo esta casa ficou fechada. Passou por diversas mãos ao longo de sua história desde que foi reconstruída pela família Vanderbilty. Alguns fizeram melhorias, construíram alas novas, outros apenas deixaram ao Deus dará. Recentemente, o novo proprietário decidiu avaliá-la, para quem sabe reformá-la ou simplesmente vendê-la. O que fosse mais lucrativo". Os dois chegam ao final do corredor e o advogado, usando um gancho da parede, puxa a portinhola do sótão. "Foi então que nos deparamos com o motivo de sua vinda, senhorita Cristina".

Os dois sobem a pequena escada para o sótão. Cristina fica impressionada com o pé direito alto e a estrutura de madeira do teto. Vira aquele entrelaçamento de vigas apenas em construções medievais, nunca numa casa antes. Há apenas uma janela, virada para a frente da casa, para o Leste; no entanto, a iluminação não vinha de lá, mas sim dos diversos holofotes dispostos em pedestais voltados para as paredes. E o que eles iluminavam! Cristina desviou das tralhas no centro da sala e se aproximou mais das letras. Havia diversas delas. Espalhadas por todas as paredes, por cada pequeno trecho e reentrância. Não só letras, mas palavras, textos... histórias! Leu uma aleatoriamente:

"Era fim do Inverno, a mulher cobriu-se com a pele do veado e sentou-se perto da fogueira. Beltane havia passado e com ele o interesse pelo parceiro que dormia ao seu lado. Talvez ele tenha germinado seu ventre, talvez não, hoje a mulher não se importava mais com isso. Já havia dado ao mundo seus filhos. A maioria a abandonou pela guerra, pela glória e pelas riquezas do mundo cristão. Ela não precisava mais de filhos. Só precisava esperar o tempo de partir".

"Quem escreveu isso?", perguntou Cristina puxando o caderno para tomar notas.

"Não será necessário, senhorita", disse o advogado entregando os papéis que trazia consigo. "Coloquei minha estagiária nas últimas semanas a cargo de transcrevê-los. Ela ficou bastante transtornada com algumas coisas que leu. Pediu demissão ao fim do trabalho. Quanto à sua pergunta, não temos a mínima ideia. Possivelmente algum antigo proprietário, ou algum drogado que tenha invadido o lugar. Não sabemos mesmo. Mas..."

"Mas precisavam saber, não é?", os olhos dela brilhavam. É claro que precisavam saber. Não eram meras pixações, eram textos e mais textos escritos por alguém. Podem ser de algum desconhecido, de algum doido, ou drogado como Costa havia dito, mas também poderiam ser o contrário. Poderiam ser de alguém importante, algum antigo morador, ou hóspede que decidiu criar sua obra nas paredes do sótão, fazendo dele o seu livro único e assim tornando toda a casa inestimável. Imagine um Machado de Assis, ou um Jonathan Swift recluso escrevendo dia após dias suas missivas para a posteridade? Sua última obra, talvez inacabada, quem sabe, ou melhor, a última desconhecida. Póstuma!

"Vocês trabalham com livros na universidade, têm projetos de restauração e de pesquisa de obras perdidas. Será que podem descobrir o autor disso tudo? Quem sabe datar e ver se é algo importante, ou valioso de algum jeito?", era óbvio o desconforto de Costa com aquilo tudo. Estava habituado com coisas mais simples na advocacia.

"Isto que me entregou são as únicas cópias?", disse ela folheando uma a uma as páginas datilografadas.

"Não, há uma num cofre no centro. Certifiquei-me de que mais ninguém tivesse acesso. E então?"

"O quê?"

"Consegue descobrir o autor?"

"Bem", disse ela sorrindo por trás dos óculos de aros grandes e finos, "vamos tentar".




Cristina montou o seu posto de trabalho em um dos cômodos do segundo andar. Não tencionava passar noites ali, mas era interessante ter algum lugar onde se sentar e escrever suas cartas. Afinal, não existia uma forma diferente de fazer a pesquisa. Não havia um lugar onde pudesse ir e pesquisar por trechos de textos, ou estilo caligráfico. A única forma era por meio de cartas, apelando à presteza dos colaboradores da rede de pesquisadores do mundo.

As coisas seriam mais fáceis, se ela possuísse o apoio do seu próprio departamento, mas Cristina decidiu contar à ninguém da universidade. Aquilo seria a sua pesquisa e não a do departamento. O nome no artigo que iria escrever seria apenas o seu, nada destes professores que querem apenas levar a fama e dar pontos ao seu programa de pós-graduação. Quando leu a carta de Gabriel na hora da triagem diária da correspondência, viu ali uma oportunidade, mas não esperava tanto. Será que haviam encontrado um livro antigo? Ou a cova rasa de algum escritor? Imagine se são as duas coisas juntas!

A primeira coisa a fazer era planejar as ações. Muitas pessoas acreditam ser perda de tempo esse momento, mas a verdade era outra. Se não fosse organizada, teria retrabalho, ou pior, não teria rigor científico. Resolveu fazer um diário da pesquisa, para deixar tudo documentado. As primeiras linhas traziam o nome da pesquisa (A Casa da Esquina), a data (23 de março de 1973) e o seu nome (Cristina A. Celestrino). Achou que ficou muito bem na página. Olhou as demais folhas e pensou, "o que fazer agora?"

Ela sabia que o seu primeiro passo real era entender o "estado da arte" do seu problema, ou seja em que pé se encontrava tudo aquilo antes da sua ação. Mas como fazer? Rascunhou alguns tópicos no caderno: 1) conhecer a história da casa: era fundamental saber quem fora proprietário e quem morara ali para tentar encontrar algum perfil que se enquadrasse no autor sem nome. Talvez procurasse algum vizinho para perguntar ou iria ao arquivo público municipal. 2) Ler os textos: estava ansiosa por este passo, como amante dos livros e da literatura, queria muito saber daquela história, o que teria escrito aquele desconhecido do passado? 3) Enviar os trechos da história para especialistas: precisaria tirar fotos das paredes. Anotou num canto da página: comprar câmera. Para início, aquilo tudo estava de bom tamanho.

Foi até o telefone e ligou para Gabriel. O advogado se comprometeu em levar no dia seguinte, sem falta, tudo que possuísse sobre os antigos donos. Depois foi até a cidade e comprou o restante do material que precisaria, inclusive uma polaroid. O que esgotou seu salário de bolsista. Voltou para a casa e foi até o sótão. Verificou as condições do ambiente, mediu a umidade e a temperatura. Pensou em limpar com um pincel a poeira das paredes, mas achou melhor ir devagar com isso. Ligou os holofotes e tirou fotos de cada parede. Mas não delas completas, apenas trechos. Não queria que ninguém tivesse acesso ao todo. Desligou tudo e desceu. Pegou o catálogo de fontes da Universidade e escolheu alguns nomes. Passou a tarde escrevendo cartas na Oliveti de seu pai. Para saber a quem enviar o quê, precisava ler os textos e tentar classificá-los de alguma maneira. Quem sabe pudessem ser vários autores ao invés de um? Mas detendo-se sobre a caligrafia, descartou logo essa ideia. Eram idênticas, frutos de uma mesma mão, meticulosa, detalhista e firme. As letras entraram dentro da madeira e preenchiam o sulco com uma tinta escura. Cristina teria que tirar alguns fragmentos e enviar aquilo para algum laboratório. Que história contaria seria outra coisa a se pensar, mas no fim sabia que a curiosidade acadêmica sempre superaria qualquer desconfiança.

Já era sete da noite quando saiu de lá e pegou o ônibus para sua casa. Jantou com os pais e prometeu brincar com o irmãozinho mais tarde. Tomou um banho e foi para o seu quarto. Tirou os textos da bolsa e leu-os até as três da manhã. Não conseguiu dormir, ao invés disso pegou o diário e escreveu o seguinte:

"Envelhecer é um péssimo hábito".

Fez um quadrado em volta da frase e começou a rabiscar arabescos repetidas vezes em volta, depois negritou cada letra e fê-las em três dimensões. Por fim, fechou o caderno e ficou deitada fitando o teto. Foi conseguir dormir às cinco. Matou a aula da manhã e deu desculpa para não ir trabalhar. Depois do almoço, foi para a casa. Sua mãe tinha até se oferecido para dar-lhe uma carona, pois achava-a muito abatida. Mas Cristina não queria causar má impressão em Gabriel caso chegasse de carona com a mãe.

Seu quarto de estudo estava como havia deixado, com exceção de duas rosas em um vaso e uma pilha de pastas sobre a mesa. Gabriel tinha se adiantado. Isso era muito bom. Cristina sentou-se, limpou os óculos e pôs-se a trabalhar. Primeiro separou algumas fotos por carta, anexando selos para as respostas. Queria fazer isso com todas as fotos, mas estava sendo mais demorado do que supunha encontrar as passagens correlatas no documento da estagiária. Decidiu-se por ceder à ansiedade de ver logo os arquivos trazidos por Gabriel e foi ao Correio postar as cartas que já tinha feito. Depois terminaria as demais com calma. Voltou à casa, pegou os arquivos e passou a lê-los.

Havia muitas folhas antigas, quase esfareladas, algumas escritas à mão, sem qualquer carimbo de cartório, apenas recibos comuns ou páginas de livros atas. O primeiro documento datava de 1810 e tratava da compra do próprio terreno. Havia algumas taxas administrativas que chamaram a atenção de Cristina, como "sacramentação e realocação de nativos". Outros documentos falavam de custos de frete de diversos containers vindos da Espanha, ao longo de cinco anos. Em 1945, a casa foi vendida em leilão, após uma ação judicial. Mas o novo dono não chegou a usufruir do imóvel, havia um recorte de jornal com a notícia de sua morte em um acidente de carro. A casa passou por herança para parentes próximos: os Rodrigues. Um caso famoso na Universidade. Uma família inteira de canibais que ocultava os corpos em uma adega no porão. Depois a casa ficou fechada por anos, até ter outro dono. Uma família vinda do interior do estado. Foram duas gerações até terminar com uma senhora chamada Emingarda, cujo marido falecera engasgado ainda muito jovem. Quem assumiu a casa foram primos distantes, anos depois, que logo a venderam. Depois ela foi vendida e revendida, com distâncias curtas de tempo, mas não parecia que realmente havia sido ocupada alguma vez nesse período. Os documentos acabavam por ali. Nada mais. Nenhum artista, nenhum escritor, ou autodidata, apenas pessoas simples, amarguradas e tocadas pela violência de alguma forma. O que mais incomodava Cristina, era que não havia nenhuma menção ao tempo longínquo da Espanha. Nada com que pudesse fazer correlação ao que dizia os textos. Era uma esperança vã, sabia bem disso, mas de alguma forma esperava encontrar algo de real em tudo aquilo que lera das paredes.

Estava tão absorta que não tinha reparado que estava sendo observada da porta. Uma senhora idosa, de cabelos loiros esbranquiçados, xale marrom e lenço azul na cabeça. Ela a encarava com vigor, crispando as mãos no batente da porta. Cristina deu um salto da cadeira quando a viu. A mulher não se mexeu, ao invés disso simplesmente disse: "Vá embora, enquanto ainda tem tempo".

Depois disso, a mulher partiu. Cristina ficou parada, atônita, ouvindo os passos rápidos descendo as escadas. Foi então que percebeu que tinham invadido o seu sítio de pesquisa e aquilo a deixou furiosa. Desceu correndo atrás da velha com um guarda-chuva fechado na mão. Foi Gabriel quem a segurou na porta da casa.

"Opa, calma. Onde vai com isso aí?", perguntou ele segurando seus pulsos.

"Uma mulher invandiu a casa", justificou-se tentando se desvencilhar.

"Uma mulher? Ela ainda está aí?"

"Não", Cristina olhou em volta e não viu ninguém por ali. "Foi... foi embora".

"Levou algo da casa?"

"Não, não sei, acho que não", ele a solta e Cristina senta no degrau da varanda tentando parar de tremer.

"Deixe-me ajudá-la a entrar. Aqui não é um bom lugar para ficar sentada à noite".

Cristina deixou-se conduzir até a sala. Sentou-se no sofá e largou o guarda-chuva ao seu lado. Ficou tão focada no trabalho que não tinha percebido que anoitecera. Gabriel escolheu um lugar de frente à ela e esperou.

"Ela me assustou", disse Cristina recostando no sofá. "Não sei como ela entrou aqui."

"Você deve ter deixado a porta aberta. Nestes lugares existe todo tipo de pessoa. Desde bêbados assalariados a senhoras idosas que entram em qualquer lugar se vêem a porta aberta."

"Não sei o que dizer, sou sempre tão cuidadosa."

"Não se preocupe, está tudo bem agora. Como vão as pesquisas?"

"Vou buscar as minhas notas", fez menção de se levantar, mas foi impedida por um gesto de Gabriel.

"Não há necessidade. Dê-me apenas uma prévia".

"Bem, li os arquivos. Tirei fotos das paredes e as mandei para alguns pesquisadores do país. Pelo que li, esta casa possui um histórico bem grande de, como posso dizer, histórias trágicas. Mas infelizmente não encontrei ninguém que pudesse ser o autor dos textos. Vou continuar pesquisando".

"Que bom que achou fontes confiáveis de pesquisa", disse Gabriel com um sorriso.

"Tenho fontes prestativas e céleres", disse Cristina com um sorriso cúmplice.

Gabriel se ajeitou no assento, perturbado.

"E as histórias?", mudou ele de assunto com um sorriso amarelo.

"Ainda é cedo para saber se são originais ou cópia de algo, mas..."

"Não, quero saber o que achou delas?"

"Interessantes."

"Interessantes? Só isso? Perco uma estagiária por causa delas e é tudo que pode dizer sobre elas?"

"Bem, senhor Costa..."

"Gabriel, lembre-se. Vamos, fale o que achou?"

"Você leu?"

"Nem uma linha. Por isso contratei você", diz ele sorrindo.

"Bem, elas são intrigantes. Contam sobre um tempo antes da vinda da casa para cá. Você sabe que a casa veio da Espanha, pedaço por pedaço, né? De certa forma as histórias têm a ver com ela, pois falam de um local anterior à invasão moura e aos califados na Espanha. Possivelmente, onde teria sido feita a primeira construção dessa casa".

"Interessante. O que mais?"

Cristina ficou desconfortável. Normalmente não tinha pudores bobos quando se tratava de livros. Os universos neles pertenciam aos autores, se eles não tinham pudores em escrevê-los, por que ela os teria em falar a respeito deles? No entanto, aquele texto era diferente, em tudo. As cenas de erotismo, por exemplo, eram tão viscerais. Não era simplesmente sexo, era algo mais, como uma força simbólica e mística, tão intimista e perturbadora. O sexo era um meio para algo, não um simples prazer. Era um contato direto com uma entidade metafísica, interior ou exterior à protagonista: a mulher da colina, que era outro caso à parte. Cristina sentiu que ao terminar de ler, algo havia mudado dentro de si, como se tivesse sido transformada. Não, renascida, essa seria a palavra correta. Mas como dizer isso para Gabriel?

"Bem... O texto conta a história de uma mulher. De uma certa forma, ela era uma bruxa. Vivia em um casebre em cima de uma colina numa mata fechada e era adepta dos costumes celtas. Costumava viver junto a outros, mas aconteceu algo que a afastou do convívio deles. Mesmo assim, as pessoas vinham se aconselhar com ela. Era considerada sábia e sagrada. O texto acompanha principalmente seus últimos dias. De como ficou só, sem os filhos, que a abandonaram para a nova fé cristã, e sem o seu povo, cada vez mais perseguido por causa de seus costumes".

"Entendo. Se me permite, tenho duas perguntas para você e espero que reflita bem antes de me responder", disse Gabriel colocando as mãos sobre os próprios joelhos e inspirando profundamente. "Você disse que não encontrou ninguém nos registros que poderia ser o escritor destes textos".

"Ninguém provável, sim".

"Ok, a minha pergunta é: há a possibilidade de estes textos terem vindo da Espanha junto com a casa?"

Cristina pensou sobre isso. Se fosse verdade essa hipótese, aquelas escrituras teriam mais de cem anos! Ou seja, elas deveriam ter sido escritas numa forma antiga, pelo menos duas reformas ortográficas anteriores a atual. Mas o texto não era nem um pouco arcaico. Os sulcos das letras denotavam uma certa idade, mas não a ortografia. Seja quem for que os escreveu não era de forma alguma do século passado. Talvez uns 30 anos antes, não mais que isso. Disse isso a Gabriel que ficou visivelmente decepcionado.

"E a segunda pergunta?", quis saber Cristina.

"Dependia da primeira, deixa para lá", disse ele se levantando. "Melhor irmos, já está ficando tarde. Quer carona?"

"Não, obrigada. Tenho que arrumar as coisas, depois eu vou", disse ela acompanhando Gabriel até a porta.

Gabriel parou no pórtico e voltou-se para Cristina. "Você disse que a mulher era celta. Como você acha que eles eram?"

"Sei lá, brancos com pintura azul na cara, talvez", sorriu Cristina.

Gabriel considerou o que ela disse por um momento antes de sorrir e ir para o seu carro.

"Eles também não escreviam livros", disse Cristina vendo o carro virar a esquina e desaparecer. "Caso esta seja a segunda pergunta".


No dia seguinte, acordou com dores nas costas após a noite mal dormida e saiu cedo de casa. Era sábado e por isso teve de se esgueirar para não ter de dar explicações aos pais sobre por que estava trabalhando no final de semana. Não queria confusão logo cedo, apenas se embrenhar totalmente naqueles arquivos tão logo possível. Mas até isso teria de esperar, pois Cristina tinha visita.

Um homem de idade se levantou do degrau da varanda ao vê-la se aproximar. Ele segurava sua boina e uma sacola nas mãos e vestia um casaco fino marrom abotoado por dois botões. Sua barba era branca e cobria totalmente o pescoço abaixo do nariz adunco e dos óculos redondos, grandes, grossos e de aros negros. Tinha um ar professoral que inspirava confiança, o que desarmou qualquer alerta de perigo de Cristina.

"Bom dia", disse ele descendo do degrau que antes estivera sentado. "Não quero incomoda-la, tampouco assusta-la. Vim aqui apenas pedir desculpas pelo comportamento inconveniente de minha protegida aqui ontem".

"O senhor fala daquela senhora que invadiu a casa?", disse Cristina cruzando os braços.

"Sim. Gostaria de pedir desculpas em nome dela e dizer que isso não vai se repetir novamente. Ela possui uma fixação por esta casa e para ela às vezes é difícil se manter longe daqui."

"Ela já morou aqui?"

"Digamos que teve um momento crucial de sua vida sob este teto".

"Entendo. Bem, está perdoada. Deixemos isso de lado".

"Excelente", disse o homem apertando a mão pequena de Cristina. Comparada com a sua, a mão dele era quente e rechonchuda sob a pele já crispada da velhice. Seu sorriso transparecia realmente alívio por estar tudo resolvido. "Somos quase vizinhos. No que precisar na sua nova moradia é só me dizer", disse ele sacando um cartão e entregando para Cristina.

"Ah, não. Não estou morando aqui. Estou apenas fazendo um trabalho, senhor...", disse ela lendo o cartão: "... Padre Antonino? O senhor é padre?"

"Acho que ainda sim", riu ele, "mesmo aposentado, sempre serei um. Guarde-o caso precise de algo, nunca se sabe quando vai precisar de uma oração, não é mesmo?"

Cristina guardou o cartão na bolsa, mas achou meio difícil precisar em algum momento dos préstimos de um clérigo.

Despediu-se do padre e foi para a sua mesa no segundo andar. Subiu devagar as escadas sentindo ainda o preço das noites insones.

Relatou o episódio com a velha e o encontro com Gabriel no diário de pesquisa, e depois escreveu: "Exatamente o que contêm aquelas paredes?". Lembrou-se da conversa que tivera com o seu empregador. Por que fizera aquela piadinha sobre os celtas? Com certeza sabia como eles eram. Pelo menos o que havia para saber deles. Por que precisava sempre se rebaixar para se fazer notar? "Bem-vinda ao mundo acadêmico feminino", disse a si mesma. A verdade, por mais que custasse a admitir, era que apesar da riqueza de detalhes, aquilo não era um relato, mas sim uma ficção.

A questão maior sempre voltaria a ser "quem era o seu autor?"

Juntou as cartas que faltavam enviar e passou a casa-las com as fotografias. Dessa vez decidiu se empenhar e termina-las todas apesar do cansaço.

Depois de meia hora de trabalho reparou em algo estranho. Havia mais fotos do que trechos datilografados. Revisou as cartas e teve certeza. Por isso a sua dificuldade no dia anterior em juntar os trechos iguais. Por que a estagiária de Gabriel não tinha copiado todos os trechos? Teria ficado louca antes de concluir o serviço, ou simplesmente, deliberadamente, recusou-se a copiar? Cristina juntou as fotos das partes faltantes, pelo menos 25 fotos, e percebeu que havia uma concatenação entre elas, faziam parte de um mesmo trecho da narrativa. Leu-as em voz alta:

"Os homens vieram à noite. Como a mulher sabia que um dia viriam. Traziam tochas e conhaque. O primeiro deles a entrar fedia à bebida e gritava enquanto agarrava os cabelos da mulher e tapava-lhe a boca. O segundo rasgou seu vestido, deixando-a nua. O terceiro apertou-lhe os seios e mastigou-os como se fossem bagas de alguma fruta. O quarto abriu-lhe as pernas e usou-a enquanto socava-lhe a barriga e o rosto. Diziam coisas suja enquanto estavam sobre ela. 'Puta', 'bruxa', 'meretriz do demônio', 'lançadora de feitiços e de mal olhado'. Acusavam-lhe de ser invasora daquelas terras de seu deus e de ser merecedora daquilo que faziam a ela por seduzir as pessoas de bem com a sua lassidão.

"Eles se revesaram nela até que a mulher perdesse os sentidos. Depois cuspiram e mijaram nela, limpando-se em seus cabelos vermelhos e grisalhos. Ao saírem, deixaram as tochas lamberem as cortinas e caminharam rindo de volta para suas esposas e Igreja.
No entanto, a casa recusou-se a queimar e a mulher a chorar, mesmo com toda dor que sentia. Ela havia decidido que o tempo das lágrimas havia passado e que talvez o do fogo ainda não."

"Já ouvi essa história antes", disse uma voz vinda da porta. Cristina se virou e viu o padre Antonino lá encostado. Seu rosto estava pálido e ele segurava uma bolsa de tecido. "Desculpe. Não devia ter entrado. Eu chamei, mas ninguém veio. Vim entregar isso. Esqueci de entregar. Minha protegida. Bem, ela pegou isso aqui ontem. Preciso ir".

O padre deixou a bolsa no chão e se virou para partir.

"Espere", pediu Cristina indo até ele. "Onde ouviu isso?"

"Numa confissão", disse o padre sem se virar. "Desculpe, mas não posso lhe falar sobre isso, foi sob o sigilo do sacramento".

"A pessoa era uma antiga moradora dessa casa?"

"Não creio".

"Por favor, preciso encontrar o autor desse texto. Há paredes repletas dele lá em cima. Se puder me dar uma pista, qualquer coisa, vai me ajudar muito".

"Você disse 'paredes'?

Cristina o levou até lá em cima, ligou os holofotes e deixou que o padre caminhasse pelo sótão contemplando o seu objeto de estudo. Ele andava lentamente, estupefacto, com uma das mãos à boca, vez ou outra se detinha em algum trecho e exclamava com algumas interjeições guturais. Quando terminou o seu périplo, encarou Cristina com lágrimas nos olhos.

"Eu não imaginava... Agora compreendo tudo", disse ele retirando os óculos e secando os olhos com lenço. "O que eu ouvi em confissão tinha a ver com o que está aqui narrado. Não posso lhe dizer no que difere, ou no que é semelhante. Tampouco a natureza dos pecados envolvidos. O que posso dizer é que o indivíduo em questão não é o autor destes textos, mas de certa forma compartilha do que é narrado aqui".

"Se não foi ele quem escreveu, como pode compartilhar disso? O autor contou-lhe essa história? Ou ele a leu em outro lugar?", perguntou Cristina exasperada.

O padre fez um gesto pedindo paciência e compaixão da jovem. Ela entendia o conflito pelo qual ele passava, seus votos talvez nunca foram tão cruelmente testados como agora, mas para ela era frustrante que ele soubesse algo e não pudesse contar.

"O que posso lhe oferecer como ajuda é uma sugestão de pesquisa. Apenas uma pergunta que acho que a ajudará."

"Que pergunta?"

"O que está faltando nesta narrativa?", disse o padre abrindo os braços e girando o corpo. "Encontre isso e estará perto do seu objetivo".

Padre Antonino desceu sem se despedir. Cristina ouviu a porta da frente bater distante depois de algum tempo. Olhou ao redor para aquelas paredes cobertas de letras e refletiu sobre a sugestão do padre. O que faltava? Seu devaneio foi interrompido pelo toque do telefone no andar de baixo. Ela desceu com cuidado as escadas, sentindo as pernas fraquejarem, e pegou o fone do gancho em seu "escritório".

"Alô", disse ela cansada.

"Alô, Cristina? Sou eu, Gabriel".

"Oi".

"Ei. Desculpe não ter passado aí mais cedo, mas é que você me arranjou um trabalhão".

"Eu?"

"Claro. Tá certo que demorei, mas você não precisava me mandar aquelas indiretas. Pra falar a verdade, achei até meio descortês e petulante de sua parte na hora, mas depois refleti que eu não teria feito de outra forma. Sei o quanto a minha falta impacta em seu trabalho e apesar de sua pouca idade, você é uma acadêmica, a pesquisa é o seu trabalho, seu ganha pão e sua vida. Sua chamada de atenção serviu para que eu me empenhasse mais e justamente por isso não pude ir aí até agora. É muito difícil desenterrar qualquer coisa nesses arquivos públicos ou na prefeitura, nada anterior à década de cinquenta parece existir nas microfilmagens, como conseguiu algo...?"

"Gabriel, desculpe, mas do que está falando?"

"Ora, dos documentos que lhe prometi".

"Mas você já me entregou".

"Cristina", ela pôde ouvir o barulho do fone sendo trocado de orelha do outro lado da linha. "Não, eu não entreguei. Achei que você tinha conseguido esses seus arquivos de outras fontes. Por isso, fiquei tão arrasado quando me disse que já havia conseguido tanto sem a minha ajuda e..."

Cristina desligou o telefone.

"A velha", sussurrou ela retirando um único fio de cabelo branco seu sobre os olhos.

Foi até a sacola e olhou o seu interior. Lá dentro viu um pequeno caderno de folhas amareladas. Ela se sentou no chão sujo e afastou o elástico que mantinha o livreto lacrado. Na primeira linha vinha escrito em letras garrafais:

"Envelhecer é um péssimo hábito".

A mesma frase qua havia chamado a atenção de Cristina nas páginas transcritas da parede pela estagiária de Gabriel. Mais abaixo na contracapa viu um nome escrito com caneta esferográfica, Monique. Cristina folheou algumas páginas, não havia dúvida de que era o texto das paredes ali. Mas de onde ela havia tirado aquilo? Foi então que Cristina se deu conta de que a estagiária deveria ter feito como ela e montado um posto de trabalho também. Será que ele ainda existia e não fora desmontado por Gabriel? Será que foi de lá que a velha tinha tirado os documentos que colocou em cima de sua mesa? Era a única explicação plausível.

Cristina se levantou e caminhou pela casa, revistando os cômodos. No andar de cima foi até o quarto principal, com uma cama de dossel e alguns armários velhos, bolorentos e empoeirados. Nada ali, entrou nos outros quatro quartos, além do seu posto de trabalho. Tudo que viu foi mais poeira e decrepitude. No térreo, foi até a saleta de fumo. Sentiu um mal estar dentro daquele lugar. As paredes eram manchadas e encardidas e havia um odor peculiar de tabaco e maldade. Foi até a biblioteca, e então encontrou o que procurava. Os livros nas estantes estavam imprestáveis, estufados de umidade e cheios de bichos. Algumas prateleiras haviam tombado devido à infiltração das paredes e com o próprio peso dos tomos. No entanto, no centro daquele ambiente havia uma mesa e uma cadeira plásticas brancas. Não havia documentos ou escritos ali, mas sem dúvida alguma fora ali que a estagiária trabalhara. Cristina olhou em volta à procura de mais pistas, mas não havia nada para ver. Tudo parecia ter sido recolhido há um bom tempo. Foi quando reparou num trecho de livros faltantes em uma prateleira boa, que não havia caído ainda. Olhando o fundo dela nas pontas dos pés, pôde ver que havia algumas poucas pastas marrons de couro no fundo. Retirou-os dali e colocou tudo em cima da mesa branca.

As marcas em cima da pasta superior mostrava que antes havia outras por cima desta, devido ao retângulo de poeira no centro. Provavelmente as pastas que estavam no seu escritório de trabalho. Na etiqueta vinha escrito: "Relatos das Dornelas, Ano 1945". Cristina abriu a pasta. Logo por cima havia uma carta de um senhor chamado Godofredo Mansur em que dizia estremamente curioso com o texto encontrado no sótão daquela mansão. Ele dizia não ter encontrado o autor, mas que aconselhava cautela aos atuais moradores para futuras invasões. "Quem sabe", dizia ele, "seja de grande auxílio a fixação de grades e cercas farpadas à propriedade". Anexado à carta vinham diversas páginas datilografadas do texto nas paredes. Cristina leu tudo. Depois guardou as folhas.

Apertou as mãos sobre os olhos e depois jogou os cabelos para trás, puxando-os sobre a nuca.

Subiu as escadas até o escritório e discou o número impresso no cartão do padre. Depois de três toques, ele atendeu. Cristina não respondeu o costumeiro "alô", e foi logo perguntando:

"Qual é o nome de sua protegida?"

"Desculpe, quem está falando?"

"Cristina. Qual o nome de sua protegida, Padre Antonino?"

O padre não respondeu de imediato, parecia ponderar, como se antevisse o pior, mas disse por fim o nome: "Monique. O nome dela era Monique. Ela faleceu agora à tarde".






"Caro, Gabriel", leu Gabriel na folha escrita com a Olivetti. "Amanhã quando ler isto, decerto já estarei morta. Escrevo esta carta com as mãos trêmulas como um último esforço profissional (afinal me contratou para encontrar o autor, não é mesmo?), mas também como uma suplicante. Espero que atenda ao meu último pedido ao fim dessa narrativa".

"Descobri os documentos guardados pela estagiária Monique na manhã de ontem. Estavam na biblioteca da casa, atrás de alguns livros. De alguma forma ela havia descoberto uma cópia do que estava escrito nas paredes do sótão, feita por um tal de Godofredo Mansur, datada de 1945. (Poderá analisá-los, se quiser, estão logo abaixo desta carta). A partir de minha leitura pude entender algumas coisas. Que eu não fora de forma alguma a primeira a estudar os textos, que eles eram mais antigos do que supunha e, principalmente, pude entender o que Padre Antonino havia dito a respeito de procurar pelo que estava faltando na narrativa. Eu o descobri ao ver que a cópia de Mansur era bem menor que a nossa. Então, o que faltava?"

"O final. O texto ainda estava incompleto. Pois ainda estava sendo escrito".

"Subi as escadas do sótão e lá fiquei por toda madrugada olhando as paredes. Por volta das 3h da manhã o autor apareceu. Não era alto e nem baixo, era branco, olhar cansado e possuía um pequeno estilete de calígrafo. De início não me notou, afiou a pena e depois deu um pequeno corte na barriga. De lá colhia a sua preciosa tinta vermelha e passou a escrever na parede. Em detrimento do medo que sentia, resolvi interpelar-lhe. De início, ele parecia não me ver. Procurava pela origem do som de minha voz, até que seus olhos desanuviaram e eu me vi neles".

"'Quem é você?', perguntei a ele."

"'Malcom', disse ele".

"'O que faz aí?', perguntei a ele levantando a lanterna para o seu rosto. A luz atravessou-o e, por um momento, ficou sem rosto. Baixei o facho de luz, sentindo-me inconveniente por algum motivo. O rosto voltou a existir e ele nem pareceu notar o fato".

"'Preciso terminar de narrar a vida dela', ele falava da mulher da colina com certeza".

"'Por quê?'"

"Então ele me olhou com a mais pura tristeza e apontou para um trecho na parede, que transcrevo aqui:"

"Então, os quatro violadores deixaram a missa naquela tarde de Outono. Cada qual abraçado à sua adorável esposa, quando viram a mulher parada à sua frente, desafiadoramente à porta de seu deus. Ao primeiro deles, a mulher disse: 'Você que rasgou-me a roupa, eu lhe condeno a se despir de suas vestes carnais e a viver por toda eternidade sem carne". Ao segundo disse: 'Você que comeu de minha carne, por toda eternidade sinta os dentes de todos sobre si, que você nunca sacie ou seja saciado'. Ao terceiro disse: 'A você que primeiro me violou, que o demônio esteja contigo e que por toda a eternidade seja usado pelas hostes infernais. Que todo orifício seu seja repositório das bestas'. Por fim, ao quarto disse: 'A você, que me privou o direito de bradar por auxílio, eu lhe condeno a contar a todos por todo o tempo o porquê de terem sido amaldiçoados. Que cada um que souber dessa história saiba que eu serei a precursora até o fim dos meus dias da decadência e do declínio do seu deus e do seu povo. Que sintam o seu tempo chegar mais cedo, envelhecendo, como o tempo da humanidade envelhecerá. Quando acreditarem que terei terminado, eu estarei do outro lado esperando por vocês, e então entenderão que envelhecer é um péssimo hábito".

"Não sei o quanto você escondeu de mim, Gabriel. A respeito da doença mental de Monique, ou de sua condição extraordinária de decrepitude em que se encontrava após trabalhar e ler estes textos. Sei apenas que envelheço a olhos vistos por sua culpa, por sua negligência ou pela sua falta de princípios ou escrúpulos. Sinto dores em minhas mãos que não tinha antes, minha pele está enrugada e meus cabelos caem sobre as teclas da máquina. Não consigo enxergar de um olho e minhas costas doem como se facas quentes tivessem sido enfincadas em minhas vértebras".

"Odeio você por ter me trazido até esta casa maldita e por ter me seduzido por este texto.  De certa forma, por isso, você me deve, Gabriel. Assim, chego ao meu pedido. Busque a cópia que está no cofre no centro da cidade, junte a tudo que está nesta casa e queime tudo. Até o último papel e alicerce. Não deixe sobrar nada. Só assim este mal poderá ter um fim. Malcom me afiançou que quando concluísse a narrativa, algo aconteceria. Algo maléfico, ou grandioso. Se eu ainda tivesse forças, eu o faria, mas não consigo sequer mais andar. Não pense no prejuízo que terá com perda da casa, ou com o texto que deixará de existir, pense no bem que fará para a humanidade, se tudo isto acabar".

"Assinado, "
"Cristina Celestrino".

"PS -> Caso seu pensamento mesquinho e prático ainda lhe faça pensar em continuar com a venda desta casa, ou no comércio do texto  completo do sótão, vou-me com um alento. Afinal, você chegou até aqui lendo o trecho dos textos que coloquei nesta carta.

"PS 2 -> Espero que tenha reumatismo. Até mais, senhor Costa".

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