De volta ao meu apartamento, precisei beber um grande copo de água gelada para acalmar os ânimos. Além do ocorrido minutos antes com a Rafa, ainda havia a expectativa da revelação. Eu tentava me manter positivo, dizendo para mim mesmo que a ruivinha da porta da frente receberia a notícia numa boa e retomaria a situação inacabada do corredor; eu tentava pensar em todas as coisas que me faziam, em tão pouco tempo, admirá-la, na esperança de que ela não me decepcionasse como tantas outras fizeram.
Bastou uma busca breve pelo apartamento para constatar que Nina e Nico ainda não haviam terminado de arrumar suas coisas e que Marcela, para variar, estava desaparecida. Ela deixou um bilhete em cima da sua cama dizendo "não me esperem para o jantar" e apenas isso. Nenhuma explicação ou informação adicional. Estamos falando da Marcela, afinal de contas.
Tomei um banho demorado, apesar de não ser do meu feitio. Eu vivia preocupado com o planeta e uma possível falta d'água, então tentava economizar o máximo possível, mas daquela vez não pude evitar. A água gelada refrescava o meu corpo e o acolhia de maneira relaxante, como se estivesse me prometendo que tudo ficaria bem. Eu não tinha outra opção a não ser torcer para que ela estivesse certa.
Coloquei uma bermuda e uma camiseta... O calor era intenso, ficar dentro do apartamento sem ligar o ar condicionado era impossível. Joguei-me na cama de casal e liguei para a minha mãe, que pedia notícias com assustadora frequência. Dona Elena, é claro, quis saber se eu estava me alimentando bem, se estava evitando álcool e gordura, se continuava me exercitando, enfim, ela fez pelo menos vinte perguntas para garantir que seu adorado filho mais novo estava como devia estar. Ela havia visto algumas fotos e queria saber quem era "a linda garota ruiva" (palavras dela), mas não foquei muito no assunto. Eu poderia dizer que estava encantado por ela, mas e se ela reagisse mal à minha revelação? Precisaria explicar a situação para a minha mãe, que ficaria ainda mais magoada que eu. Poupá-la parecia a melhor decisão.
Assim que finalizei a chamada com a minha mãe, resolvi tirar um cochilo, mas deixei o celular bem perto, para o caso da Rafa ligar. Peguei no sono e fui invadido pelos bons momentos vividos naquele breve, mas já inesquecível, carnaval. Minha ruivinha dominava as boas lembranças e a sensação de paz que a acompanhava me permitiu um descanso leve e revigorante.
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Meu corpo, ainda nada desperto, foi tomado por uma estranha corrente elétrica que costumava ser de responsabilidade de uma única pessoa. Abri os olhos, duvidoso sobre o que podia me despertar daquela forma inusitada e fui surpreendido pelo par de olhos castanhos mais lindos que já conheci em toda minha vida. Pisquei, aturdido, achando que se tratava de uma miragem ou brincadeira sem graça. Meus olhos baixaram um pouco e aquele sorriso inconfundível também estava ali, me saudando em toda sua beleza. Esfreguei os olhos e me sentei na cama o mais rápido que pude... Senti meu mundo girar e precisei fechar os olhos novamente.
− Vai com calma – sussurrou, tocando meu rosto e me fazendo esquecer de respirar. – Seu irmão e sua cunhada estavam de saída e me deixaram entrar... Não queria acordá-lo, porque você estava realmente lindo, mas não consegui controlar a ansiedade. Você me desculpa?
Se eu a desculpava? Que tipo de piada era aquela? Eu estava louco por aquele momento e ficava feliz por ele não ter demorado tanto. Agora que o momento havia chegado, no entanto, senti meu estômago embrulhar instantaneamente.
Sinceridade... Eu precisava e queria ser sincero com ela. Respirei fundo, baguncei (ainda mais) o cabelo e tentei encontrar a melhor forma de começar.
− Você pode me dar dois minutinhos? – pedi e ela assentiu. Levantei-me e segui em direção ao banheiro. Com as mãos em concha embaixo da pia, juntei água gelada o suficiente para levar ao rosto e me ajudar a despertar. Aproveitei para escovar os dentes, afinal, se tudo desse certo como eu esperava que desse, eu a beijaria assim que a revelação fosse feita.
Quando voltei para o quarto, ela já estava sentada com pernas de índio em cima da minha cama. Sentei-me de frente para ela. Seu sorriso continuava largo e acolhedor e sua expectativa era quase palpável naquele momento. Estávamos sozinhos no apartamento e eu desejava ficar mais íntimo dela, é claro, mas não antes de lhe contar sobre mim.
− Quero te contar uma coisa, mas não sei bem por onde começar – lhe direcionei meu melhor sorriso amarelo e respirei fundo mais uma vez. – Não diga "do começo" – avisei, fazendo aspas no ar. – Você é melhor que isso – arranquei-lhe uma risadinha e aquele som realmente me relaxou um pouco mais.
− Comece pelo motivo de querer me contar... – sugeriu de forma tranquila. – Isso costuma me ajudar – assenti e então prossegui, seguindo seu conselho mais do que bem-vindo.
− Sei que nos conhecemos há pouquíssimos dias, mas não posso mais negar o meu incontrolável interesse por você. Não estou apenas interessado, na verdade. Eu gosto de você, Rafa. Gosto muito e não quero que você goste de mim sem saber quem eu realmente sou. Seria tudo mais fácil se fosse assim, eu sei, mas sinto que estou enganando a nós dois e não é o que eu quero. Nem para mim, muito menos para você. Quero muito que você goste de mim sabendo tudo que precisa saber a meu respeito. Para isso preciso compartilhar algo muito íntimo com você e é por isso que não sei bem por onde devo começar.
− Eu te contei que sou virgem e isso também é algo bem íntimo – ela tentou me incentivar e eu quase ri de desespero.
− Isso é íntimo, é verdade, mas totalmente possível e esperado. Todo mundo é virgem até deixar de ser... Enfim... Tanto faz... – chacoalhei a cabeça, tentando, desesperadamente, colocar as ideias em ordem. – Não consigo pensar em outra maneira de te contar isso, então aqui vai: eu sou um homem transgênero.
Seus lindos olhos castanhos, que transmitiam seu sorriso doce há alguns instantes, de repente mostraram certa confusão. O mesmo aconteceu com o seu sorriso. Ela ficou em silêncio durante longos e tortuosos minutos, tentando digerir a confissão que eu havia acabado de soltar. Quando ela finalmente abriu a boca...
− Eu... Er... Bem...
Foi apenas isso que ela disse. Era óbvio que ela queria dizer mais, mas parecia incapaz de encontrar as palavras naquele momento. Silenciosamente, implorei para que o ocorrido com a Nayara meses antes não estivesse se repetindo. De novo não, de novo não...
− Existe outro termo para transgênero? – perguntou, ainda sem expressar nada além de confusão.
− Transexual, talvez. Mas nem todos estão de acordo com a denominação.
Seja positiva, Rafa. Por favor. Eu ainda sou o mesmo Noah que você conheceu!
− Eu... Bem... – ela se levantou e parecia TÃO constrangida, que me odiei por não haver lhe contado com um pouco mais de tato. Acabei me levantando também, como se pudesse segurá-la entre os braços e lhe provar que eu ainda era o mesmo, que as coisas não precisavam ser diferentes. – Eu preciso de... Eu já volto – ela se virou, abriu a porta do quarto e simplesmente saiu feito um furacão.
Aquilo me destroçou. Não saber como ela se sentia e vê-la fugindo de mim não era o que eu esperava. Mas de que adiantaria segui-la porta afora e implorar para que ela tentasse me entender? Isso precisava partir dela, não de mim. Rafa havia dito que já voltava, mas eu começava a duvidar seriamente disso.
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Resolvi aparecer mais cedo por aqui para tentar aliviar o fato de tê-los deixado mega curiosos na semana passada, rs! Sei que todos já me perdoaram, né???? ASSIM ESPERO, RS! Terminando o capítulo de hoje com o coração partido </3, mas cheio de esperança. Façam suas apostas e sexta-feira a gente descobre quem acertou :p hahaha
Tenho alguns recadinhos, mas tentarei ser breve (juro juradinho): no dia 13/03, domingo, participarei do Encontro de Fãs da Travessa, no Barra Shopping, a partir das 15h. No dia 19/03 acontecerá o evento "Papos & Ideias: A importância da mulher na literatura", em comemoração ao dia internacional da mulher. O evento está sendo organizado por mim e contará com a presença das escritoras e amigas Yohana Sanfer e Bruna Fontes ♥ A partir das 15h, na livraria Saraiva do terceiro piso do Plaza Shopping Niterói! Todos convidados para os eventos *-*
E no mais, estou ansiosa para a chegada da sexta... E vocês? Nos vemos por aqui?
Câmbio,
desligo.