O MISTÉRIO DE HELENA - (EM HI...

By SilviaChaves7

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Helena é uma jovem órfã que foi internada em um hospício. Ela precisa de ajuda, mas ninguém presta real assis... More

Prólogo
Capítulo 1 - O convite
Capítulo 2 - A porta do desconhecido
Capítulo 4 - Trenton Psychiatric Hospital
Capítulo 5 - Helena
Capítulo 6 - A decisão
Capítulo 7 - Iniciando em meu novo trabalho
Capítulo 8 - Conhecendo o estranho.

Capítulo 3 - Voltando a rotina

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By SilviaChaves7


- Amor, já são 9h. Você não iria até o consultório hoje?- Dizia Frence ao abrir bruscamente as cortinas. A forte luz solar que adentrou no quarto fez com que meus olhos ardessem, então coloquei uma das mãos no rosto para impedir que a luz não atrapalhasse mais a minha visão.

- A primeira consulta são às 10:30 - eu disse em meio a um bocejo - não se preocupe chegarei a tempo.

- Querido, o trânsito pode estar engarrafado. Não pode deixar os pacientes esperando - ela dizia sem olhar para mim. Pegando o cesto de roupas sujas que estava no banheiro e colocando mais algumas peças que estavam no armário, ela caminhou apressadamente em direção à porta. Então parou subitamente e me encarou antes de sair.

- Não vai se levantar?- ela ergueu uma das sobrancelhas, seu tom de voz era de impaciência.

- Já vou descer meu bem. Vou tomar um banho, quer se juntar a mim? Dei um breve sorriso. Ela levantou o cesto como demonstração de que tinha outra coisa a fazer, mas torceu um pouco a boca, típico de quando estava indecisa. Acredito que estava pensando em como resistir a minha oferta.

- Bem... Parece-me tentador, mas não sou eu quem precisa abrir um consultório em menos de 2h. Ande rápido meu bem, senão vai se atrasar. - e saiu já gritando alguma coisa para Margô.

Eu deitei novamente a cabeça no travesseiro e fiquei olhando para o teto. A luz artificial do quarto era expandida por um lustre candelabro, estilo treviso redondo, revestido por um cristal genuinamente transparente, que quando se encontravam com a luz do sol, iluminava ainda mais o quarto. Ouvir aquele cintilar dos cristais após serem movimentados pelo vento me acalmava. Na verdade, eu não queria levantar, porém tinha responsabilidades. Uma hipoteca, três filhos e esposa, despesas adjacentes, dentre outras coisas que não me deixariam permanecer deitado.

Depois de tomar um banho rápido, desci as escadas tentando dar um nó na gravata. Margô passou tão rápido na minha frente que quase não consigo parar para não me chocar com ela. Assim que virei em direção à sala de estar, Anne passa tão rápido quanto Margô e aos berros chama pela irmã.

- MARGÔ! ME DEVOLVE O TEO!- Teo era o ursinho de pelúcia de Anne.

- Hoje vocês duas acordaram pilhadas hein! - Eu disse, mas elas já tinham sumido de minha vista.

- Sai da frente, está atrapalhando a passagem - disse Tobias ao passar por mim seguindo em direção à cozinha.

- Bom dia para você também. E olha o modo como fala comigo - eu e Eric não nos dávamos muito bem. Eu o peguei fumando maconha na porta do colégio no final do ano passado. Briguei feio com ele. Desde então não conversamos mais direito.

- Você não aprende mesmo não é? Deixa-me arrumar essa gravata para você. Frence apareceu de repente e me assustei um pouco. Ela sorria enquanto dava o um nó Windsor na gravata listrada que ela mesma deu de presente.

- Pronto, agora está apresentável. Ela observou feliz o trabalho que tinha feito. Dei um beijo em sua testa e abri um sorriso amarelo. Frence suspirou.

- Desculpe meu bem, eu sei que você não tem dormido bem ultimamente. - ela passou delicadamente a mão em meu rosto e observava, com olhos fixos, as minhas olheiras. Eu tentei desfaçar o desânimo dizendo que está tudo bem, que um pouco de trabalho me faria bem. Ela sorriu com carinho, mas sabia que estava mentindo para não deixá-la mais preocupada.

- Eu te amo - ela disse

- Eu também te amo, já vou indo. Comprarei café no caminho.

- Tudo bem, bom trabalho meu amor, até mais tarde. Ela me abraçou e entregou-me a minha maleta que havia pegado em cima da mesa da sala.

Sorri e sai da casa. Ao entrar no carro olhei rapidamente para o andar de cima, e vi na janela do quarto de Margô, a imagem de uma mulher, ela se assustou e sumiu. Fiquei atônito. Sacudi a cabeça e entrei no carro.

- Realmente, preciso de um café. Com certeza era Margô ou Anne. Esses sonhos estão acabando comigo.

Durante o trajeto de carro até a chegada à porta do consultório eu fiquei pensado o quanto a minha vida era sem cor. A monotonia voltava acompanhada  da rotina, sempre as mesmas coisas. Abrir o consultório, ficar o dia inteiro lá, ir para a casa no fim do dia, jantar, ver TV e ir dormir. Às vezes eu lia uma história para Anne dormir. Porém nada, além disso, acontecia de diferente. O vislumbre de distração ficou na viajem ao Canadá.

Cheguei ao consultório e ao abrir a porta pensei: como ainda não demiti Ângela? Ângela Dunkim é minha secretária.

Desde que montei o consultório há sete anos, tive três secretarias: Bonnei Macking, que ficou por dois anos até fugir com o namorado, um jovem entregador de pizza. Bonnei tinha dezoito anos na época.

Sarah Erban, uma bela jovem de seios fartos. Trabalhou menos de um ano, pois além de dar em cima de mim, descobri que estava cobrando errado pelas consultas. Se não fosse um cliente me perguntar o porquê do aumento do preço, eu não saberia.

E nos últimos quatro anos e meio Ângela ocupa o cargo. Ela era uma senhora de aproximadamente 57 anos. O seu tom de pele era pardo, olhos grandes de cor castanha. Não era muito alta e nem muito baixa e um pouco acima do peso.

De um modo geral ela era uma boa secretária, porém completamente desorganizada. Perdi as contas de quantas vezes ela não sabia onde tinha guardado os recibos de pagamento ou onde tinha colocado o carimbo para correspondências. No inicio, quando começou a trabalhar para mim, ela misturou todas as fichas dos pacientes que eu tinha. Eu dizia sempre a ela: Ângela, por favor, tenha pelo menos um pouco de organização, imagina o que os clientes vão pensar ao verem o estado dessa mesa? Tudo bem Sr.Marcos, eu serei mais organizada - ela dizia. A mudança durava três dias.

O estado em que se encontrava a sala de espera era deplorável, não que a limpeza fosse reponsabilidade de Ângela, mas quem coordenava a faxineira, Catarina, era ela. A mesa da recepção bagunçada como sempre. Olhei para o relógio, já eram 10:10. Tomei o restante do café que havia comprado em uma lanchonete na Sprinfeld Av.

A minha sala pelo menos não estava bagunçada, pois ficou trancada todo período de férias. Só eu tinha o porte da chave.

_ Aonde será que Ângela está? Já deveria ter chegado. Foi terminar de dizer ela entra esbaforida pela porta principal.

_ Sr. Marcos! Que bom revê-lo! Como foram as férias? E a família vai bem? Mande um abraço a Margô, aquela gracinha. Ela dizia tão rápido que mal pude entender as palavras que saiam de sua boca.

_ Calma Ângela, respire e inspire, fale pausadamente tudo bem?

Ela consentiu com a cabeça e após fazer o que falei e tomar um copo d'água retornou a falar.

- Sr. Marcos me desculpe pelo atraso e pelo estado da sala.

- Desculpas?! Estou voltando ao trabalho depois das férias, e o mínimo que eu queria era que a sala de espera estivesse arrumada, olha o estado dessa mesa? Ângela, eu não falarei novamente, da próxima vez você será despedida! – acho que fui ríspido de mais. Os olhos dela se encheram de água e ela abaixou a cabeça.

_ Perdão Dick, eu não quis ser grosseiro.  Eu não tenho dormido bem ultimamente e estou com um pouco de mau humor. Ela ainda não olhava para mim.

_ Ei, não vou te demitir! Quantas vezes eu já disse isso hein? – ela olhou para mim como se fosse uma criança triste.

- Você é uma boa secretária. Senão fosse você a Sra. Terry não viria aqui hoje. – Eu sorri e ela sorriu também

Ângela me trouxe muitos clientes. Sempre muito educada e fazendo propaganda do consultório, tenho 5 novos pacientes. Ela se importava como trabalho e o fazia com gosto. Por isso que ainda não a demiti- pensei.

- Imaginei que não estava bem senhor, reparei em suas olheiras. Bem, não a tempo para conversar tenho que... – o telefone tocou – Alô, consultório de psicologia Gregory o que posso ajuda-lo?... Sra. Terry? Vai se atrasar? Para as 11 horas?- ela olhou para mim eu consenti com a cabeça - Tudo bem. Remarcado, até logo.

- Senhor, ligarei para Catarina. Logo essa sala estará limpa.

- Tudo bem, assim que a Sra. Terry chegar me avise.

Quando ia entrando na minha sala, Ângela me chamou.

- Senhor, chegou isso para o senhor há duas semanas. Não abri, mas achei curiosa a cor do envelope ser vermelha.

- Obrigado Dick- disse pegando o envelope- me avise hein?! Ela sorriu e assentiu com a cabeça.

Entrei onde realizava os meus atendimentos. Abri a janela e deixei que o ar puro daquela manhã enchesse o ambiente. Ajeitei a mesa e liguei para Ângela pedindo que quando Catarina chegasse, visse a minha sala passar o aspirador de pó no estofado. Sentei-me na poltrona que fazia conjunto com a mesa principal e tirando da maleta a agenda, revi os pacientes que estavam marcados para hoje.

- Vejamos o que temos aqui, Sra. Terry, Srta. Regina às 14h, Sr. Durfe às 15h e o pequeno Jimmy às 16h.- olhei as fichas deles para saber o ponto exato em que parei com cada um.

Depois fiquei a observar o envelope avermelhado. Maldito. Ele era o culpado pelos pesadelos que eu havia tendo. Desde que recebi esse convite os pesadelos começaram. Então após três noites de sono mal aproveitadas, resolvi achar a raiz do problema.

Eu consultei os meus livros do tempo de faculdade e olhei o que dizia a respeito de sonhos, o de maior renome é assinado por Sigmund Freud "A interpretação dos sonhos". A partir do que li fiz uma base de raciocínio.

De acordo com Freud mesmo que seja oculto, todo sonho tem um significado que pode estar relacionado a um desejo primitivo, que é "realizado" inconscientemente durante o sonho. Dentre outros pontos abordados por Freud, para analisar o sonho que tive, usei o que o conceito de conteúdo latente e manifesto. O conteúdo manifesto é aquilo que o sonhador diz lembrar, ou seja, a descrição verbal do sonho. No caso eu escrevi.

Sonhei que estava em uma floresta que parecia ser a estadual de Stokes. Corria por dentro da floresta até dar em uma casa feita de madeira de dois andares. Estava perseguindo uma mulher ou uma garota. Entrava na casa, ia para o segundo andar, via a maldita porta vermelha, chegava à porta e ao tentar abri-la, saia sangue por baixo dela que escorria pelo chão e pelas paredes. Acordava atônito.

Após escrever aquilo que lembrava, fui para a próxima etapa. Ver qual o real motivo desse sonho, o conteúdo latente. Separei momentos chaves do sonho e analisei.

_ Floresta

_ Perseguição

_ Casa de madeira

_ Sangue

_ Porta Vermelha

_ Mulher ou garota

O conteúdo latente é resumidamente, aquilo que está por trás do sonho, o real significado que pode corresponder a ideias, impulsos, sentimentos reprimidos, pensamentos e desejos inconscientes.

Separar por fragmentos e ligar fatos a elementos do sonho, são uma forma de decifrar e achar o motivo pelo qual eu estava sonhando aquilo em específico e continuamente.

O tópico no qual não conseguir decifrar por completo foi o penúltimo. A porta vermelha. O mais intrigante e com certeza, o que eu mais desejava entender. O rascunho ficou assim:

_ Floresta: A minha observação diária na mata ao lado de minha casa/ lembrança familiar das férias que passei no Canadá

_ Perseguição: Correr atrás de algo ou alguma coisa.

_ Casa de madeira: Algo sólido, consistente.

_ Sangue: Algo inconstante, incomodo, ferida.

_ Porta Vermelha: Duvidas e curiosidades.

_ Mulher ou garota: Figura representativa do desejo de algo novo.

Tudo havia uma explicação lógica e racional. Eu não vi nada na mata realmente. Os sonhos eram fruto do incomodo que sentia a respeito da minha comodidade profissional.

Então, escrevi o significado do sonho resumidamente em outra folha.


Após análise dos fatos, separados e estudados, concluo que o sonho nada mais é, que uma representação inconsciente do desejo e da curiosidade de mudanças na área profissional.

Dado o fato de que a casa representa um ambiente estável (o trabalho) e que mesmo assim, no local havia algo inconstante (o sangue), que representa a minha insatisfação.

A floresta foi o local onde meu cérebro usou para que o sonho passe, nada que altere ou acrescente no resultado final desta análise. Correr ou fugir representados pela perseguição a alguém (mulher) é interpretada como a busca de algo novo, diferente do comum.

As respostas para a minha insatisfação foram depositadas na pessoa configurada como sendo uma mulher. Tudo embasado e voltado a minha insatisfação ou frustração a respeito do que me incomoda: a área profissional.

Podemos incluir também que o convite de algo novo me despertou dúvidas e curiosidades (a porta) e o desejo de descobrir uma nova forma de trabalho que poderia por um fim a minha frustração.

Li umas duas vezes e me pareceu correto o resultado em que cheguei. Realmente o convite tinha despertado em mim a curiosidade e quem sabe, até a esperança de que as coisas poderiam mudar. Algo novo poderia acontecer. Queria me sentir importante novamente. Os sonhos foram produzidos baseados nesse sentimento oculto no consciente por assim dizer.

Porém, eu sabia que duas coisas ainda não estavam esclarecidas muito bem: a sensação de algo ruim aconteceria e a porta vermelha tornar aparecer em meus sonhos. Tentei interpretá-la como algo de curiosidade devido ao fato de que a mulher que perseguia no sonho estar além dela. Contudo, quando ela apareceu em meus sonhos há alguns anos ela não tinha esse significado. Esse é o meu medo, de que ela tenha voltado pelo mesmo motivo, mesmo que não há possibilidades possíveis para isso acontecer. Não queria que o passado me assombrasse mais uma vez.

Tornei a olhar o envelope que estava sobre a mesa. Peguei e o abri. O convite era o mesmo que chegou a mim em minha casa há quase duas semanas, mesmo depois de analisar e saber o motivo do sonho eu tornei a sonhá-lo. Então, para acabar com as minhas noites maldormidas de uma vez por todas, resolvi investigar mais a respeito do hospital. Não gostava de fazer nada sem o consentimento de Frence com relação a trabalho, mas a curiosidade estava me consumindo. O desafio e o mistério daquilo que me aguardava se eu aceitasse o convite, era tentador.

Abri meu notebook e pesquisei o nome do hospital e o que encontrei foi assustador.

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