Carlos Eduardo narrando
Assim que Kile foi embora, e eu quase morri com o que "eu achei que vi", me levantei do sofá e olhei a sala.
Wow! A casa estava uma tremenda bagunça. E eu que ia ter que arrumar.
- Fala, estrela.- eu disse assim que vi minha irmã descer.
- Oi.
- Hey, me ajuda a arrumar a casa? - falei.
Lua andou até a cozinha e preparou duas torradas e um copo de suco de laranja.
- Não. - falou.
- Ah, vai...
- Não, a festa não foi minha e ninguém estava aqui por mim.
- Mas poderiam estar, você quem não tem amigos.
- Eu sei.
- Tudo por que você é demasiada estranha.- falei emburrado.
- Exatamente.- ela disse firme.
Lua me fuzilou com os olhos, pegou seu prato e seu copo e subiu pro seu quarto. A ficha do que eu tinha falado caiu minutos depois.
Droga! O que eu fui falar? Merda! Eu tinha que me desculpar. Que tipo de irmão eu sou? Pouco me importa se minha irmã é estranha, nerd, patricinha, tanto faz, o que importa é que eu a amo.
- Lua! - chamei, batendo na porta de seu quarto que estava trancada.
- Carlos Eduardo, faz o favor de ir pra bem longe.- ela gritou e sua voz saiu trêmula (eu tinha feito ela chorar ? Oh não!).
E também, Lua só me chamava pelo nome todo quando estava chateada ou brava.
- Lua, me desculpa. - não ouvi resposta.- Por favor, me deixa entrar.
O silêncio permaneceu. Desci as escadas e peguei o celular.
- Kile? - falei, assim que ouvi que alguém tinha atendido.
- Oi querido, é a tia Lúcia, o Kile ta dormindo.
- Então tá bom, tia. Pode avisar que eu liguei?
- Claro! Beijinho, Cadu.
- Beijo, tia.
- Ah Cadu, mais tarde vem você e a sua irmã pra cá, vou fazer uma torta.
- Tá bom, tia, vou sim. Obrigado, viu? Beijão.
- Beijo.
Desliguei a chamada.
Comecei a limpar aquela bagunça, sozinho mesmo. Que droga! Vai demorar pra Lua me perdoar. Mas olha o que eu falei! Dessa vez fui longe demais. Eu e Lua sempre brigavamos sempre, mas era aquela briga que ... Você briga num segundo, e no outro já está colado. Lua era minha irmã, minha melhor amiga e eu confiava nela mais do que ninguém. E de repente, eu comecei a chorar. Como uma criancinha sem um doce, eu chorava.
Pela 1° vez, por causa se uma garota! E era a garota mais importante da minha vida.
Oh, Lua, perdoe-me.
Comecei a dar vários tapas na minha cabeça, repreendendo-me. Ouvi algo se quebrar no andar de cima, mas acabei por não dar atenção. Resolvi descansar um pouco quando terminei, o melhor a fazer era por a cabeça no lugar. Deitei do sofá e tirei um cochilo.
~•~
7:23 p.m
- Hey cara! Acorda. - ouvi alguém gritar no meu ouvido e o som de panelas.
Abri os olhos e vi Kile, ele estava com uma colher de pau numa mão e uma panela na outra, ele batia um no outro, provocando um som agudo.
- Para, seu louco.- falei lhe dando um leve soco no braço.
- Parei. Parei. - ele falou se rendendo.- Você está com uma cara péssima.
Ele cutucou meu rosto como se tivesse algum animal extraordinário no mesmo.
- "Cê" tá inchado. - pausou.- Espera! Você estava chorando?- ele questionou.
- Visível demais? - perguntei.
- Demais! Minha mãe falou que você me ligou. O que se passa?
- Lua...
- Uuhh, aí vem bomba.
- Para.
- Ok, mas o que tem a Lua?
- Brigamos.
- Sério? Cara, "cê" conhece suas brigas, num momento estão como cão e gato e depois estão que nem... Ahn...Sei lá ... chiclete.
- Mas dessa vez... Foi diferente.
- Já tentou falar com ela?
- Já, bati na porta, gritei e nada.
- Sério?
- Sim. O que eu faço?
- Eu não sei, cara! O que é que você fez ?
- Meio que ... Falei que ela era estranha.
- Hum.
- Hum.
- E aí? Só isso?
- É!
- Ela sabe que é estranha.
Lancei um olhar mortal para ele.
- Calei.
- O que eu faço?
- Você só disse que ela é estranha.
- Mas ... Mas eu entendo ela. Eu aceito isso e eu não vejo mal nisso. Eu sou irmão dela, devo apoia-la, cara. Ela sofre com todo mundo chamando ela de estranha, mas ... O próprio irmão? Não! Ai já é demais.
- Vendo deste angulo ... É cara, você pisou na bola.
- Cara, eu já percebi isso, vai ficar esculachando isso na minha cara?
- Calma. Uau, ok, entendi.
- Vou falar com ela, ou pelo menos tentar.
- Boa sorte.
- Valeu.
Já estava subindo as escadas quando me lembrei de algo.
- Ei.
- Hum? - Kile disse deitado no sofá e ligando a TV.
- Como você entrou aqui?
- A porta estava aberta.
- Hum, acho que ... Tenho que me lembrar de trancar a porta.
- Isso foi uma indireta?
Dei de ombros.
Continuei a subir as escadas e parei diante daquela porta. Por um instante aquela porta negra onde havia escrito DANGER, parecia tão... Distante, parecia que a qualquer momento ela iria explodir. Bati na porta 3 vezes e ninguém respondeu. Ou ela me ignorava, ou ... Estava dormindo.
Prefiri acreditar na segunda opção. Encostei na maçaneta e o ferro estava frio. Girei, mas a porta não abriu. Pensei em empurrar e arrombar, mas lembrei que eu tinha uma chave extra de seu quarto, assim como ela também tinha uma do meu.
Corri até meu quarto e abri umas das gavetas, onde encontrei a chave extra. Abri a porta depois de destranca-la e vi Lua. Ela estava dormindo - como eu havia previsto -, a coberta estava bagunçada acima de seu corpo, o cabelo tampava uma parte do rosto,um braço perto do rosto e o outro estava dobrado em baixo da cabeça.
Ela tão serena. Observei a sua barriga subindo e descendo por causa da respiração.
- Lua? - chamei.
Ela se mexeu, mas não acordou.
- Lua? - chamei novamente.
Quando Lua acordasse, iria explicar tudo a ela, se ela deixasse.
A última coisa que eu queria, era ficar brigado com ela.
- Lua! - chamei mais alto.
Dessa vez ela abriu apenas uma parte dos olhos, mas os fechou rapidamente, como se ainda estivesse inconsciente.
- Lua.- falei com um tom de lamento na voz.
Novamente Lua abriu os olhos, mas agora por completo e assim que se deu conta de onde estava e quem estava na sua frente - no caso eu - ela se sentou e me olhou.
- Lua.
Seus olhos se encheram, como se por um segundo tivesse esquecido tudo, e depois, no outro segundo, tivesse se lembrado.