Lauren POV
Acordei sentindo-me sublime como se estivesse no céu. Qual é a definição que você tem de céu? Silêncio, paz ou a harmonia dos anjos. Minha definição nunca foi convencional. O céu é paz, cores vivas, sons de pássaros mesmos que nenhum som seja ouvido, rosas perfumando a sala de uma bela dama enamorada, mas acordar depois de uma noite de sexo com Camila Cabello ao meu lado era o mais perto que podia explanar sobre o que era céu pra mim. Sentia-me tonta, abobalhada e mais viva, seu corpo nu subia e descia em um ritmo calmo, sereno. Camila era um anjo dormindo e uma diaba no sexo.
Eu passei quase toda a noite velando seu sono, sentindo sua respiração me acalentar, espantar meus medos, minha tristeza e meus gritos de culpa. Eu sabia que toda a confusão que me encontrava era minha culpa, mas o menor dos sorrisos dado por ela a mim era uma batalha conquistada. Camila sempre foi meu calcanhar de Aquiles.
O amanhecer tornava-se presente no quarto e eu ansiava como outrora vê-la acordar, cabelos desgrenhados, olhos estreitos, sorriso tímido e certa desorientação, pois sempre detestou acordar cedo.
Meus dedos corriam levemente por suas costas apenas na minha necessidade insana de tocá-la para sentir que não estava sonhando, que não era delírio e que eu não precisaria levantar em uma noite fria em Londres para beber uísque porque a saudade estrangulava meu peito.
Quando sonhava com ela, julgava erroneamente ser um pesadelo, mas era meu coração chorando e gritando febrilmente por ela e para apagar essa dor e afugentar meus medos e fraquezas eu perdia-me no corpo de outras mulheres buscando seu gosto.
Um pequeno sorriso estampava em meu rosto, os longos cabelos negros caiam livremente por seu corpo. Não resisti e aproximei meu nariz de seu corpo, mas antes que chegasse a porta foi aberta e eu vi uma Dinah assustada, envergonhada e triunfante entrar.
Dinah Jane fechou a porta e começou a bater palma e com o barulho Camila acordou.
- Muito bem... - disse triunfante. - Eu sabia que essa baixaria não demoraria.
Camila abriu os olhos rapidamente e olhou assustada para sua amiga e depois para mim como se vasculhasse na lembrança os últimos acontecimentos. Ela cobriu seus seios com o lençol, percebi seu rosto ganhar uma coloração avermelhada.
- Camila esperava mais resistência por sua parte. - negou com a cabeça. - Quanta decepção.
- Cadê o David? - Camila perguntou.
- Está no quarto trocando de roupa. Trouxe-o aqui cedo porque ele não queria ir à escola com a roupa de ontem já que você colocou apenas o pijama na mochila dele... - acusou. - E olha com que cena eu sou presenteada! - exclamou.
- Por favor, não o deixe entrar aqui. - Camila pediu enquanto levantava e recolhia suas roupas do chão.
- Tudo bem mocinha, mas depois conversaremos sério.
- Eu preciso apenas de um banho e um bom café e respondo a todas as perguntas do seu interrogatório. - jogou as roupas em um cesto. Sentia-me invisível, pois Camila conversava como se nada tivesse acontecido entre nós e eu não estivesse naquele ambiente.
- Vou terminar de ajeitar o David... - explicou, mas antes de sair falou um pouco mais alto. Camila havia entrado no banheiro. - Eu apostei que você levaria dois meses para abrir as pernas pra branquela então nada de comentar esse deslize a Mani ou a Ally, pois não estou a fim de perder quinhentas prata. - Dinah saiu do quarto e eu me senti uma idiota por apenas ter ouvido a conversa e não ter interferido em nada, Camila e eu havíamos transado.
Levantei da cama, vesti minha calcinha e dirigi-me ao banheiro de Camila.
- Que susto garota! - Camila resmungou quando eu abri o Box. - O que ainda faz aqui?
- O que eu faço aqui? - repeti sua pergunta quase gritando. - Nós transamos ontem, não finja que sou uma estranha ou que nada aconteceu. - retruquei enraivecida. Camila massageou as têmporas. Desligou o chuveiro e respondeu.
- Eu sei o que aconteceu ontem e não vou inventar um milhão de desculpas e dizer que me arrependo, que não devia ter acontecido, que foi errado porque seria hipocrisia dizer que eu não quis, mas somos adultas e temos problemas maiores que aquela velha indagação - fez aspas com as mãos. - o que vamos fazer agora? - eu ouvia tudo desacreditada daquelas palavras, aquela Camila prática definitivamente não era a Camila de seis anos atrás. - Você vai continuar com sua vida e eu com a minha com a única diferença que eu terei que viver com o peso da traição... Eu estou noiva do Seth e dormir com você não muda nada em minha vida, foi um ato de fraqueza e arrisco até dizer desejo por um corpo feminino, pois mesmo estando com um homem não nego que o corpo de uma mulher é mais atrativo...
- Então por que você está com ele? - foi à primeira pergunta que consegui pronunciar.
- Eu sinto atração por ele. O Seth me encanta, me acalma, me protege... - rolei os olhos com tanta adjetivação. -, então não significa que deixei de ser lésbica, apenas sou hetero por ele. Mas o ponto discutido aqui não é meus sentimentos pelo Seth e sim essa ideia que você alimentou que depois de ontem eu voltaria correndo para seus braços... - inspirou profundamente. - Talvez eu seja rude com o que vou dizer, mas sua língua não será capaz de apagar em uma noite o que você me fez sentir em seis... - sai correndo do banheiro, meu coração doía a cada palavra dita e eu não aguentava mais ouvir aquelas duas palavras que me infernizava a cada segundo que eu respirava. Eu me sentia uma idiota, uma babaca que foi usada e depois renegada, rejeitada. Vesti minhas roupas o mais rápido que pude e saí daquele quarto que me sufocava.
Cheguei à sala e peguei minha bolsa, vasculhando freneticamente pela chave do meu carro. David saiu da cozinha, baixei meu olhar e enxuguei as lágrimas que teimavam em cair.
- Bom dia, meu amor! - o cumprimentei tentando soar a pessoa mais animada possível.
- Bom dia tia Lauren. - respondeu de boca cheia, pois comia um sanduíche. Engoliu rapidamente o pedaço. - Desculpa... - baixou a cabeça. - Mama diz que é falta de educação falar e comer junto, mas eu posso fazer os dois. - fez um bico e eu tive vontade de apertá-lo e não soltar mais, aquela voz, a mínima coisa direcionada a mim me deixava com mais vida e arrastava qualquer tristeza. - Por que a senhora está aqui tão cedo? - entortou a cara como me analisando.
- Eu vim te deixar um presente mesmo você me dando um bolo ontem. - David pareceu lembrar-se do nosso combinado e começou a abrir e fechar a boca como se procurasse uma explicação.
- Desculpa... - choramingou. - Desculpa tia Lauren, mas é porque... É porque a Gina... A senhora não conhece a Gina e ela... e ela é minha amiga... - baixou a cabeça. - e ela veio passar uns dias com a tia Cheechee - sorri pela forma que ele pronunciou o apelido. - e ela veio com o Seth e ele é meu amigão, meu amigão mesmo e, e eu, e eu esqueci, mas foi... foi porque...
- David! - o chamei. - Tudo bem, eu não estou chateada!
- Não?!? - seus olhos saíram de marejados para brilhantes rapidamente.
- Não. - sorri pra ele. - eu te trouxe um presente... - o sorriso de David se alargou. Quando convidei David para o cinema guardei um presente para lhe entregar dentro da minha bolsa, peguei-o e entreguei ao garotinho descabelado que segurava um sanduíche mordido na mão esquerda e uns olhos curiosos para o que retirava da bolsa.
- Pra você. - entreguei.
David pegou o presente, um sorriso estampado no rosto.
- Segura meu sanduíche, não peguei um pratinho e se colocar na mesa Mama me deixa sem sorvete. - fez um bico. Peguei seu sanduíche e fiquei na expectativa para ver o que ele achava do presente. - Se a senhora quiser eu deixo à senhora morder um pedacinho, mas só um pedacinho. - juntou o polegar e o indicador deixando um pequeno espaço entre eles para mostrar o tamanho da mordida que podia dar, gargalhei com a cena.
David rasgou o embrulho e ficou olhando para o presente.
- Não gostou do presente? - perguntei apreensiva.
- Eu gostei, mas é que... - olhou de novo, sorriu nervosamente. - Eu gostei, obrigado tia Lauren!
- Você não gostou. - afirmei.
- Eu gostei. - respondeu nervosamente.
- Diga a verdade, eu não vou brigar com você. - pedi, David me olhou por alguns minutos eu percebi que ele batalhava em me contar ou não o que o afligia.
- Mama disse que não pode reclamar quando ganha um presente. - confessou. - Eu gostei tia Lauren, eu gostei, mas... - olhou de novo para o presente e olhou para os lados como se procurasse alguém, acho que queria se certificar que Camila não estava por perto. - Por que a senhora me deu um gorro usado? - sussurrou. Não tive como me segurar e ri com toda sua inocência e medo de dizer aquilo como se aquela pergunta fosse quase cometer um pecado, Beijei sua cabeça e respondi:
- Eu estava usando esse gorro preto quando conheci sua mãe e ele é muito especial para mim e eu resolvi lhe dar de presente... Ele é velho, mas está limpo e conservado e como ele é especial para mim quis te dá e não se preocupe é unissex.
- O que é unosexi? - arqueou a sobrancelha.
- Unissex. - o corrigi. - Quer dizer que foi feito tanto para meninos quanto para meninas usar. - David sorriu e me abraçou fortemente.
- Obrigado tia Lauren. - o apertei com força desejando que aquele momento perdurasse eternamente, pois era a primeira vez que David me abraça e me permitia retribuir o abraço. Fechei os olhos e aspirei o delicioso cheiro de shampoo de criança que ele tinha. Aquele abraço me deu todas as forças que eu perdi quando ouvi a dura realidade de Camila. Abri meus olhos e pude notar pela primeira vez que Camila estava nos observando do topo da escada e que Dinah no olhava do corredor que dava acesso à cozinha.
David se afastou e pôs o gorro. Babei por ele. Usava um short jeans escuro, um All Star, uma camisa branca do Ramones e para completar o visual aquele gorro o deixava tão meu filho. Camila que me desculpe, mas David nesse momento parece meu filho, apenas me filho.
- Olha mãe! - girou mostrando o visual. Camila beijou seu rosto. - está lindo meu amor! - Olhou para mim e negou com a cabeça. - Você quer transformar meu bebê em uma copia sua... - sussurrou divertidamente.
- Bom, eu tenho que ir! - pronunciei. Beijei o rosto de David. - Tchau!
- Tchau tia Lauren. - abriu os braços e Camila o pôs no colo, senti uma inveja aguda naquele momento.
- Tchau Cabello. Tchau Hansen. - saí antes de esperar a resposta dela. Eu sabia que tinha perdido uma batalha, mas se Camila achava que eu desistiria da guerra, ela estava completamente equivocada. Eu teria minha família de volta e Camila ter dormido era a prova eu que havia provocado uma rachadura em suas defesas, e, eu derrubaria por completo e a tomaria para mim novamente, pois ela pertence a mim, sempre pertenceu e sempre pertencerá.
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