Alex
Lucy me surpreendia cada dia mais, não entendia o porquê de eu gostar tanto assim de estar com ela, ou do fato de eu querer beijá-la neste exato momento, mas a culpa não era totalmente minha, ela que me imobilizou e acabou caindo sobre mim. Sentia que ela também queria aquilo, se não já teria se afastado. Estávamos muito próximos e meu nariz já encostava no seu e nossos lábios estavam quase unidos, mas parece que o universo não concordava com a gente.
Por que?
É a única coisa que eu pergunto, por que, universo? Por que jogar aquela maldita bola em um momento como esse?
É isso mesmo. Uma bola!
Um infeliz saiu de Nárnia para jogar uma bola em nossa direção, que acabou agarrando na cabeça da Lucy, fazendo ela tombar para o meu lado e sair do transe. Uma pena que não estava funcionando comigo, eu ainda continuava com vontade de beija-la. Não sei o porquê.
Estava louco, só podia.
Acho que o fato dela gostar de coisas diferentes, fazia eu querer isso. Era admiração, essa era a única explicação.
— Desculpe! — Um garoto diz com um sorriso sem graça pegando de volta a sua maldita bola.
— Sem problemas. — Lucy retribuiu o sorriso, já em pé arrumando sua roupa.
Que merda eu tinha feito. Agora ela estava com raiva de mim. E ela era bem frágil, se não se sentisse confortável se afastaria em questão de segundos, e isso eu não deixaria acontecer, porque eu precisava dela perto de mim.
Ela me olhava esperando que eu levantasse. — Não queria sair dali, queria que ela voltasse para onde estava e continuássemos de onde paramos. Então desviei meu olhar do seu, procurando qualquer coisa que fosse para me distrair, até que avistei um vendedor de algodão-doce e levantei correndo indo atrás dele, ela me olhava sem entender nada, e um sorriso divertido brotou em seu rosto quando eu voltei caminhando com um algodão-doce azul em minha mão.
— Pronto! — Disse entregando a ela, fingindo estar totalmente bem com o clima que havia se formado minutos atrás.
— Não precisa, eu não quero! — Disse tentando me devolver, enquanto eu recuava para não tocar no doce.
— Eu sei que você quer comer, admita! — Olhei a desafiando. Tinha descoberto que ela nunca fugia de um desafio, era interessante.
Ela mordeu o algodão-doce sorrindo e iniciamos uma caminhada lado a lado.
Quando estávamos perto da lagoa avistei Thiago e Mary encostado em duas bicicletas, tomando água. Andamos até eles e percebi que Lucy estava um pouco tensa.
— Está tudo bem? — Perguntei preocupado e ela apenas acenou positivamente.
— Onde vocês estavam? — Mary nos questionou terminando sua garrafa de água.
— Passeando perto do campo, vocês começaram a correr que nem loucos, aí desistimos de ir atrás. — Expliquei omitindo os detalhes.
— Fomos alugar bicicletas — Thiago disse mostrando o óbvio — Vocês não vão?
— Não! — Lucy respondeu, antes que eu pudesse concordar com Thiago e todos nós a olhamos esperando por uma explicação melhor — É que tá ficando tarde e Alex ficou de me levar em um supermercado.
Era impressão minha ou ela estava querendo fugir dali? Para querer me lembrar que íamos fazer compras, alguma coisa tinha, já que ela não queria que eu fosse junto. Eu sabia que poderia estar sendo invasivo, e tudo mais, mas ela realmente precisava de umas boas compras, pois eu pretendia ir lá muitas vezes, assim como vou na casa de Thiago e da Mary, então era bom que tivesse comida.
— Tem certeza que já quer ir? — Insisto.
— Tenho sim Alex, mas se você quiser ficar eu posso pegar um táxi.
— Não, de jeito nenhum, nós vamos agora mesmo.
Nos despedimos do casal e saímos em direção ao estacionamento. Já passavam das quatro da tarde e o sol ainda brilhava no céu. Entramos e seguimos para o supermercado em silêncio. Estava começando a me preocupar que ela estivesse irritada pelo nosso quase beijo, mas nada comentei. Estacionei o carro e pegamos um carrinho seguindo para dentro do mercado. Começamos pelo básico, limpeza, higiene pessoal etc., no qual eu não me meti muito. Até porque não estava interessado em saber a marca do absorvente dela. Na parte da comida ela só colocava o essencial enquanto eu enchia o meu carrinho de besteiras. Uma música animada começou a tocar e eu comecei a dançar no meio do corredor de frios, Lucy ria da minha palhaçada. Comecei a correr com o carrinho me apoiando nele para que fosse carregado, como fazíamos quando éramos crianças, e Lucy continuava a rir empurrando seu carrinho normalmente. Chamávamos atenção de muitas pessoas por ali e uma senhora chegou a comentar que éramos um belo casal, embora jovens para casar. Ri muito com isso, e Lucy ficou me perguntando o que era tão engraçado, já que ela não havia escutado a senhorinha. Mas eu não contaria nada, pois poderia estragar este momento e eu estava adorando, e até concordava com a senhorinha, fazíamos um belo casal só que de malucos.
Lucy entrou na minha e começou a correr com o carrinho e uma corrida se iniciou, paramos em frente as massas e uma discussão sobre macarrão surgiu.
— Alex, não vou levar miojo. Isso é ruim e faz mal para saúde. — Disse retirando os potes de macarrão instantâneo que eu havia colocado no meu carrinho.
— Mas é prático, e não é nada ruim. — Retruquei colocando os pacotes de volta no carrinho.
— Eu deixo você pegar mais doce-de-leite se você não colocar isso no carrinho — Ela me olhava piedosa.
— E mais Pizza!? — Olhei esperançoso para ela. Neste momento parecíamos mais mãe e filho do que um casal de amigos.
— Massa para fazer nossa própria pizza, pode ser? — Ela com certeza seria uma ótima mãe, saberia controlar e fazer acordos com seus filhos. Ela era boa nisso.
Acenei virando para pegar mais um pote de doce-de-leite e quando ela estava distraída coloquei um miojo escondido no carrinho. De alguma forma ela viu e veio para tentar tirar, mas eu fui mais rápido levantando o miojo no alto onde ela não podia alcançar.
— Alex, me dê este miojo agora! — Ela estava brigando comigo e eu cai na gargalhada.
— Tenta pegar então! — Ela pulou tentando pegar, mas eu desviei e ela veio para cima de mim enquanto eu me esquivava de suas tentativas.
— Alex? — Ouvi meu nome em um tom de surpresa e congelei ao constatar de quem pertencia aquela voz enjoada.
Viramos para ver o rosto de quem me chamava e vi Lucy fechar a cara e enrijecer o corpo. Eu gostei daquilo. Seria ciúmes? Se a Mary tivesse aqui estaria da mesma forma.
A nossa frente a mulher de cabelos ruivos lisos em um corte Chanel e um corpo escultural, um pouco mais alta que Lucy usando um salto que a deixava do meu tamanho, nos encarava com os braços cruzados e uma cara de nojo.
— Daisy?! — Disse depois de um tempo de silêncio — O que faz aqui?
— Compras! — Responde com um sorriso na cara — E você?
— Também! — Falo secamente.
— Quanto tempo, não é mesmo? — Continuou insistindo, agora vindo em minha direção para um abraço que eu recusei, fingindo que ia pegar algo em alguma prateleira. — Quem é essa? — Perguntou olhando para Lucy com uma cara de nojo.
— Eu sou Lucy a ...
— A minha noiva. — Falei cortando Lucy, e deixando as duas mulheres, na minha frente, boquiabertas.
— Noiva? — Daisy parecia não querer acreditar e Lucy apenas me encarava tentando entender.
— Sim, e Lucy essa é a Daisy. — Respirei fundo antes de continuar — Uma ex-namorada minha.
— Oi! — Foi a única coisa que Lucy conseguiu dizer. E antes que ela tentasse falar algo a mais sai empurrando meu carrinho e puxando sua mão para que me seguisse.