O Conto dos Contos - A origem...

Bởi SamaraMoser

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Aurora é temida pelas fadas, odiada pelos conversadores, vigiada pelas bruxas e um mito entre os humanos. Seu... Xem Thêm

Capítulo 1 - A escolha do futuro rei
Capítulo 2 - A grande traição
Capítulo 3 - Segredos
Capítulo 4 - Conversadores
Capítulo 5 - Amigos para sempre
Capítulo 6 - Presentes
Capítulo 7 - A competição
Capítulo 8 - Pais zelosos
Sugestões do Wattpad
Capítulo 9 - Pedido de desculpas
Capítulo 10 - Surge uma nova família
Capítulo 11 - Mudanças
Capítulo 12 - A viúva
Capítulo 13 - O último favor
Capítulo 14 - O alternador
Capítulo 15 - Novos dons
Capítulo 16 - A praga
Capítulo 17 - Amor proibido
Capítulo 18 - Visitas
Capítulo 19 - Fusão
Capítulo 20 - Artes e seus mistérios
Capítulo 21 - Comentários inocentes
Capítulo 22 - Capas e disfarces
Capítulo 23 - Separação
Capítulo 24 - O corcel
Capítulo 25 - O selo
Capítulo 26 - Despedidas
Capítulo 27 - Coração partido
Capítulo 28 - Beleza e poder
Capítulo 29 - Aniversário
Capítulo 30 - Plano e estratégia
Capítulo 31 - Cor favorita
Capítulo 32 - Baile de máscaras
Capítulo 33 - Meia-Noite
Capítulo 34 - Ela ameaça, ela cumpre
Capítulo 35 - Rosa
Capítulo 36 - Questão de honra
Capítulo 38 - As aparências enganam
Capítulo 39 - Revirando o passado
Votação para a capa do livro 2
Capítulo 40 - Objetos especiais
Capítulo 41 - Pequena sereia
Capítulo 42 - Arte da sedução
Capítulo 43 - A carta
Capítulo 44 - Todo prisioneiro quer fugir
Capítulo 45 - O que os olhos não veem
AVISO IMPORTANTE
Capítulo 46 - O sol e a lua
Capítulo 47 - Coração enganoso
Capítulo 48 - Amor e ódio
Capítulo 49 - Os fortes também choram
Capítulo 50 - Olhos abrem e fecham
Capítulo 51 - Sacrifício de amor
Capítulo Final - Luz
Agradecimentos e avisos
#Wattys2016
Grupo no zap
ENTREVISTA
SOBRE O LIVRO OCDC 2 - A LENDA DO ERA UMA VEZ

Capítulo 37 - Amigos e amores

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Bởi SamaraMoser

Eu demorei? Sim! Eu caprichei? Sim! Ficou bom? Espero que sim!

Gente, se alguém faz esgrima e encontrou alguma informação que não procede, peço perdão, mas eu assisti a uns vídeos na internet para poder escrever a cena e foi o que entendi do espanhol do cara e pelas minhas observações... Rsrs! Era para ser maior, mas eu vou escrever as outras informações com mais detalhes no próximo. Beijos e abraços!

Capítulo 37 - Amigos e amores

        A rainha dos fadens estava impaciente aguardando o retorno de Lúcio e de sua neta. Havia muitos problemas para resolver. Estava em pé na sala de uso particular do rei, não pela falta de cadeiras, mas pelo nervosismo. Mal ele passou pela porta ela anunciou:

- Lúcio, eu devo ir agora mesmo.

- Mas Majestade, e sua neta? Não é melhor ficar ao menos para comer conosco?

- Aurora é o principal motivo. Os fadens precisam do meu pronunciamento. E eu vou mandar o Eli trazer algo para ela. Ele disse para algum guarda seu se estaria no Reino Encantado ou no Bosque?

- Não, ele se afastou do grupo durante as buscas.

- Sem avisar? Estranho. Bom, ele vai aparecer logo e vou pedir que traga o espelho de Aurora.

- Nós temos muitos espelhos por aqui, não se preocupe.

- Ainda assim, é muito importante para mim, Lúcio. Vou deixar na casa que você providenciou para ela.

- É a antiga casa do Abner. Pode deixar lá, então.

- E ela vai se mudar quando? Hoje mesmo?

       Lúcio ficou sem graça. Esperava que a rainha simplesmente não tocasse nesse assunto. O que ele poderia dizer? Que estava tentando aproximar a Aurora do próprio filho? Que gostaria que ela passasse alguns dias com eles? Lúcio não sabia se Solange iria aprovar, mas queria muito a moça como nora e queria apenas o bem de seu povo.

- Ainda preciso garantir a segurança dela como plebeia morando sozinha no meu reino. Seus dons foram ampliados, está separada de tudo e de todos. Muito confusa, perdeu a mãe. Acho que precisa ficar mais um tempo com a família. É o melhor para ela.

- Ficar por aqui? Não seria inconveniente? Ninguém sabe que é sua sobrinha!

- Não a quero em qualquer lugar. Ela ficará bem e eu mesmo vou providenciar sua proteção. Não se preocupe.

- Talvez... Seja o melhor para ela. Não é bom que fique sozinha. Então... Quero retornar bem cedo pois sei que Estela vai acabar fazendo alguma loucura para ver a prima e não posso deixar o Reino Encantado sem alguém no comando.

- Insisto que coma conosco. Em breve irei me juntar a todos. Quero apenas conversar com o Vicente antes de descer. Creio que seus netos ficarão muito felizes.

       Solange assentiu com a cabeça e o rei sorriu, verdadeiramente contente por tê-la convencido.

***

        Aurora não conseguia disfarçar a alegria por ter conversado com Felipe. Estava radiante. Essa felicidade acentuou sua beleza, devidamente contemplada durante o trajeto do jardim até o salão onde eram realizadas as refeições. Rosa, a beldade sem títulos, era o assuntou favorito entre os guardas. Alguns acreditavam que Henrique estava por trás daquela estadia. Uma qualquer no palácio, pobre, sem família e linda em cada detalhe. O fato de Vicente tê-la trazido dava mais credibilidade a essa hipótese, pois o gentil cavaleiro fazia as vontades de Henrique. Havia apostas de alto valor a respeito do tempo que demoraria até o mais belo de todos se cansar da moça. Era até mesmo um desejo secreto, visto que depois de desdenhada, eles gostariam de conquistá-la. Ao contrário de Branca de Neve, ela era uma mulher que além de exuberante, estava acessível a qualquer um.

        Outro motivo que levava a mestiça a sorrir seu sorriso adorável era Malévola ainda não ter ordenado algo cruel ou desagradável. Ser como uma marionete nas mãos da pior das bruxas não era nada aprazível, mas ela não queria pensar nisso agora. Tudo o que queria era se apegar à lembrança de Felipe no lago, vermelho de vergonha e interessado em sua conversa.

       Sentada numa cadeira diante da mesa, encarou o peixe temperado com alecrim, e a espera pelo rei parecia uma eternidade. Tão perto dos pratos maravilhosos, porém não podia comer até que seu tio chegasse, se sentasse e começasse a almoçar. A comida parecia mais cheirosa, tentadora ao extremo. A disposição para comer estava restabelecida e a água na boca era a prova.

- Será que só nos duas estamos com fome? - Branca debochou.

- Ah, Vossa Alteza, espero que eles cheguem logo. Confesso que a comida parece deliciosa e cada segundo de espera é uma tortura.

- Deve estar mesmo, temos cozinheiras muito talentosas.

- Olá, minha querida - Solange as interrompeu e depositou um beijo na testa da mais bela de todas. - Senhorita Rosa, boa tarde.

- Boa tarde, Vossa Majestade.

- Ah, pelo visto já foram apresentadas! - Branca comentou.

       A rainha dos fadens sentou-se na ponta da mesa, no lugar oposto ao do rei. Apenas sorriu em resposta, na expectativa de que Lúcio viesse rapidamente. Precisava comer e partir.

- Você visitou sua casa? - a princesa indagou à visitante.

- Sim, hoje de manhã.

- Seu pai vai providenciar mais segurança na região e em breve Rosa irá retornar, querida - a rainha respondeu.

- Não é isso, longe de mim ser indelicada! Imaginei que ela fosse buscar algumas roupas, objetos pessoais.

- Ah, eu... - Aurora não sabia o que dizer.

- Estão no quarto reservado a ela. O jovem Vicente levou tão rápido! Ele é muito eficiente e gentil, bom rapaz.

- Sim, ele é nosso melhor cavaleiro.

        Um guarda que estava perto da entrada revirou os olhos. Vicente, Vicente, Vicente. Sempre o melhor. Já o outro que estava ao seu lado sorriu. Achava que o jovem fazia por onde e tinha até pena do trabalho árduo que era cuidar de Henrique e abafar os escândalos. Já Aurora sorriu e recebeu uma piscadela discreta de sua avó. Suas roupas, finalmente! Nada de arruinar os antigos e belos vestidos da sua rival com tesouras a mando de Malévola, para aprofundar decotes e fendas, e deixar tudo mais justo.

- Senhoras - Felipe as cumprimentou.

        O rapaz estava alegre e sem graça ao mesmo tempo. Sentou-se ao lado de Branca e seu cabelo ainda estava molhado, o que obrigou a guardiã a reprimir uma gargalhada. Ela permaneceu com os olhos esbugalhados e lábios trêmulos, e seus olhos o fitavam famintos por atenção. Ele conversou algo em particular com a princesa dos humanos, o que encerrou o bom humor de Aurora.

- Claro que não! Ela não estava falando de verdade, era... Brincadeira. Não é mesmo, Rosa? - Branca a questionou.

- Perdão, o que?

- Sobre lutar com ele.

        Felipe sorriu e cruzou os braços, a desafiando.

- Vossa Alteza, mas é claro que estava falando sério! - a mestiça disse.

- Branca poderá assistir e avaliar nossa performance - ele completou.

- Avaliar? Eu vou torcer por ela, não quero que fique ferida.

- Então eu posso ficar ferido?

- Não foi o que eu quis dizer.

       O conversador riu. Gostava e muito de provocar Branca.

- O que vocês querem dizer com lutar? - a rainha perguntou.

- Um duelo, Vossa Majestade. Sem feridos, tem minha palavra.

- Sem feridos... É um príncipe muito confiante - Aurora brincou.

      Solange franziu o cenho, em desacordo com o projeto insano do grupo de jovens. Só não deixou claro o quanto desaprovava aquilo porque a neta parecia tão feliz, tão animada, e ela merecia ter um pouco de diversão, ainda que fosse algo bruto e perigoso.

***

- Ora, veja, "Praga", Vossa Majestade deseja falar contigo em particular! Parece tão infeliz. Será que o favorito do rei finalmente mostrou quem é?

       Vicente encarou Edgar, um cavaleiro invejoso, hábil em atacar com a espada e com as palavras. Por ter sido nomeado muito jovem, o rapaz ruivo fora motivo de piada entre os cavaleiros, ainda que sua competência, compromisso e honra fossem inquestionáveis. Como já estava acostumado com brincadeiras devido a loucura de seu pai, apenas ignorava os comentários maldosos. Mesmo sendo o substituto do chefe dos guardas, Dante, e tendo a obediência de homens mais velhos e experientes, evitava arranjar brigas com os outros. Sua fama de pacificador o precedia. E a de lacaio do príncipe também.

       Após respirar fundo, o tímido cavaleiro atravessou o corredor do andar de baixo, onde estava de vigia, e subiu a escadaria, até chegar à temida porta, que dava no cômodo de uso particular do rei. Ser convidado para adentrar naquele salão era sinal de enorme honra em alguns casos, mas na maioria deles, era sinal de problema.

- Vicente, que bom que chegou. Preciso te perguntar algo e quero que seja sincero comigo.

        O rapaz engoliu em seco. Lúcio não tinha o costume de chamá-lo para conversas particulares antes do almoço, e pelo olhar preocupado, deveria ser algo grave. A verdade era que o cavaleiro já imaginava se tratar da noite anterior.

- Vossa Majestade tem minha palavra.

- Ótimo... Apenas você e Dante ficam de vigia no andar superior à noite. Era o seu turno, ele estava descansando. Está ciente da invasão de Henrique ao quarto da minha convidada? Por que não te vi no corredor?

- Invasão? - o rapaz entendeu porque Henrique tinha armado e horrorizou-se. - Não senhor. Perdão, eu... Fui irresponsável.

- Serei mais claro. Você foi conivente à atitude do meu filho? A amizade de vocês, a lealdade foi maior?

- Não, senhor, eu não tinha conhecimento de que ele planejava entrar no cômodo da moça, ainda mais depois de tanto tempo procurando por Aurora, por quem sempre acreditei que ele tivesse afeição. Quando nos unimos ao grupo de busca dele o príncipe nem parecia mais o mesmo de tão abalado. Apesar de nossos laços de amizade, não aprovaria tal comportamento. Eu preciso admitir que... Dormi durante o meu turno. Sinto muito. Eu...

- Está trabalhado demais, preciso de outra pessoa de confiança para dividir os afazeres contigo. Sugere alguém?

- Quem sou eu, Vossa Majestade, para sugerir alguém a...

- Você é aquele em quem confio, o que passa os dias cuidando de minha família e convivendo com os outros cavaleiros. Quero um nome.

        O jovem pensou nas possibilidades, naqueles que respeitavam a família real sem falar mal pelas costas, e que eram mais atentos a qualquer ameaça ou perigo eminente.

- Os irmãos Leonardo e Bernardo, o Tito também....

- Ah, os irmãos! Parecem uma boa escolha. E quanto a Edgar? Ele tem muita experiência, é inteligente, forte e determinado.

         Vicente arregalou os olhos e encarou o chão, sem delatar o pior dos cavaleiros, o que mais o perseguia.

- Vejo que a escolha não o agradou. Então nada de Edgar. Leonardo e Bernardo. Quando você não tiver mais forças para permanecer acordado, peça para um deles te substituir. Eu irei comunicar a eles e a Dante. Porém, nesses dias em que Rosa estiver aqui, quero que você durma de tarde e fique vigiando à noite. Ou durma de manhã, o que preferir. Hoje mesmo deverá passar a noite em claro. Acredito que você ainda seja a pessoa ideal para vigiar nossos cômodos e... Manter segredos.

        O rapaz estava notoriamente infeliz. Não pelo pedido do rei, mas por sentir que havia fracassado, desapontado-o. Decidiu se emprenhar no seu trabalho ainda mais, evitando qualquer distração e disposto a se prevenir das armações de Henrique. A proteção da família real estava em primeiro lugar, sempre.

- Eu peço perdão, Majestade, e...

- Vicente...

- Não irei decepcioná-lo outra vez.

- Vicente! Eu tenho muitas decepções e você certamente não é uma delas.

         As sardas levantaram-se levemente nas bochechas dele, a medida em que um sorriso teimou em sair de seus lábios. Após uma reverência ao rei, Vicente retirou-se, dando de cara com dois homens: o príncipe e Edgar.

- Eu fiquei surpreso em ver o Edgar se aproximar da porta da sala privativa de meu pai. Sabe se o rei o chamou, Vicente? - Henrique debochou.

- Não sei, Vossa Alteza.

- Devo perguntar ao meu pai, Edgar?

- Queria apenas avisar que a mesa está posta - o cavaleiro invejoso mentiu.

- Já estou avisado, Edgar, pode ir agora. Foi muito gentil, dá próxima vez deixe que uma camareira faça o serviço. Você é útil para nós na vigilância do andar inferior do castelo. Deixe-me a sós com Vicente, sim?

           O invejoso fez uma reverência e desceu a escadaria frustrado e com ódio, pois o príncipe o impedira de ouvir a conversa por detrás da porta. O mais belo de todos sorria de forma presunçosa até encarar o olhar de decepção e fúria de Vicente.

- Edgar pensa que me engana. Ele te odeia e mais dia menos dia, vai te prejudicar.

- Vossa Alteza, posso me retirar? - o cavaleiro pediu, irritado.

- Ainda não. O que meu pai te perguntou?

- Eu sei o que você quer saber e não, eu não falei que você colocou dois vigias para dormir com o intuito de invadir o quarto de uma moça. Finalmente entendi porque você armou para mim.

         Henrique ficou surpreso mas logo vestiu uma máscara de ingenuidade.

- Não sei que história é essa - ele negou.

- Eu não cheguei à porta, Henrique - Vicente sussurrou. - Eu me senti tonto, sentei sobre o tapete e dormi no chão do quarto. E você foi tão gentil me oferecendo uma taça de vinho. A mim e ao Dante. Depois do cansativo dia que todos nós tivemos. Não quisemos beber mas você insistiu. Você me fez falhar com o rei e com a segurança de sua família, que é o que mais me importa.

- Não tenho culpa se você é fraco com bebidas.

- Você é... - ele vociferou. - Foram dois goles para não te fazer desfeita.

- Não se deve beber em serviço...

- Quer saber? Vou ficar de jejum todas as noites cuidando da porta da Rosa. Seu pai não precisa se decepcionar com você, deixa ele pensar o que for de mim. Confiei em você, esse foi meu erro. Você é o futuro rei de Campos, e eu quero te servir, mas quero que se porte como um líder. Arriscou a segurança da sua irmã. E pode acabar com minha reputação, que nem é muito boa graças a você. Se quiser que seu pai me expulse, eu entenderei. E eu achava que você estava aflito com o desaparecimento da Aurora. Num momento tão sério você arranja tempo para aprontar.

- Você fala isso porque não sabe do que eu sei!

- Mas eu sei de muitas coisas que você não sabe. Uma delas é como ser um bom amigo.

         E o príncipe exasperou-se, enquanto as madeixas alaranjadas sumiam de vista, sendo ignorado por aquele que sempre consertava seus erros. O fadem tinha certeza de que Vicente iria omitir os detalhes, pois o rapaz evitava a todo custo que problemas chegassem aos ouvidos do rei, mas não imaginava a reação do faz-tudo da família. Considerou uma afronta a última observação do rapaz. Por mais inteligente que fosse, Henrique não compreendia o valor de uma amizade verdadeira como a do cavaleiro de coração ferido. Isso o levava a desperdiçar a confiança que ainda lhe era reservada.

***

- Eu já disse que Aurora é inocente! - Estela afirmou diante dos conselheiros que estavam à mesa.

- Então por que ela está desaparecida?

- Não sabemos e não ajuda em nada essas especulações. Aguardem o retorno da rainha.

- Princesa, quem se esconde...

- Com licença, estou sem fome e muito cansada. Peço perdão por minha ausência. Gostaria que me avisassem assim que minha... Que a rainha chegar. Com urgência. Boa refeição a todos.

         A futura rainha dos fadens olhou para o lindo salão amarelo e saiu devagar, com saudades de suas irmãs e irritada com as ofensas e questionamentos dos conselheiros. Governar era algo enfadonho, exaustivo e importuno. Muitas vezes ela se perguntava se seria capaz de lidar com tantas demandas ao mesmo tempo. Sua avó fazia parecer tão fácil. A princesa estava repleta das melhores comidas, melhores roupas, joias finas, até mesmo instrumentos musicais especiais. Sem Cindia e Aurora tudo parecia sem importância. O que ela mais queria era vê-las, abraçá-las, e conversar sobre aqueles dias terríveis até dormir. Estava decidida. Assim que Solange cruzasse os portões com Aurora, ela abraçaria as duas e defenderia a moça. Depois daria um jeito de ver Cinderela no Reino dos Alternadores e unir as duas irmãs de consideração separadas por um falso testemunho.

***

- Vicente deve saber! - Branca falou.

        Henrique e o pai haviam finalmente chegado ao salão. O príncipe ficou intrigado com os ânimos da conversa. Sua irmã parecia empolgada, o desmemoriado também, mas o principal era Aurora, que gargalhava deliciosamente, entrosada com ambos. Ele havia perdido algum acontecimento? Como isso era possível? Solange exibia um sorriso simples e balançava a cabeça de leve para os lados, como se achasse tudo muito bobo.

- Bom apetite a todos - o rei desejou, surpreso e sorridente.

        Todos começaram a comer, mas o mais belo não quis ficar de fora do assunto.

- Estão alegres. O que houve?

- Você verá daqui a pouco. Teremos um duelo - Branca respondeu.

- Duelo? - o rei se assustou.

- Entre Rosa e o príncipe Felipe.

       A moça respondeu em tom zombeteiro sem perceber o quanto a notícia irritou o irmão, e continuou a falar.

- Vou pedir ao Vicente uma espada leve, e seria bom se ele...

- Se ele estiver dormindo não o incomode, querida, e peça a outro.

- Ele já não dormiu o suficiente? - Henrique debochou e seu pai não gostou da brincadeira.

- Ele ficará acordado a noite inteira vigiando o andar de cima. Será assim por alguns dias. E eu não sei se ele está dormindo, mas espero que sim.

        Aurora sentiu-se culpada pelo cavaleiro ser obrigado a tal serviço. Não queria prejudicar ninguém, muito menos aquele que foi tão gentil durante sua infância.

***

- Vamos vê-lo amanhã?

- Já disse que sim, Victor. E devemos retornar com ele. Já deve estar bem de saúde, e não deve importunar mais a família real de Campos.

        O mais velho dos príncipes Mogliani estava eufórico. A saudade de seu irmão era imensa! Já se imaginava abraçando-o e dando longas broncas pela ausência de cartas ou ao menos bilhetes. Felipe deveria dar ao menos alguma satisfação. Apesar de que conversadores mandavam recados por animais e não tinham o costume de dar satisfação mesmo. Muito menos o impulsivo Felipe.

        A única coisa que preocupava o rapaz era rever Branca. Ela ficou furiosa com seu comentário no baile de máscaras. No fundo, sentia muita falta dela, mas não se dava ao luxo de ter esperanças de um dia tê-la como esposa. A indiferença dela era notória e terrível. Ele já estava acostumado com a dor, logo, não precisava ter receio de vê-la. Não seria pior do que das outras vezes. Ele pensava assim. Bom, nobre e inocente Victor. O dia seguinte não iria lhe poupar de uma nova e tenebrosa experiência.

***

- Tomara que ele perca - Henrique vociferou.

         Aurora e Felipe estavam frente a frente, armados com réplicas de espadas, feitas de madeira, que eram comuns em treinamentos de iniciantes. O uso destas foi por insistência do rapaz. No chão, havia duas espadas de verdade, perfeitas e afiadas, reluzentes aos olhos da moça, que trajava uma calça alaranjada por baixo de um saiote solto, para facilitar seus movimentos. Suas roupas antigas vieram bem a calhar, e a sensação era de finalmente ser ela mesma e não uma estranha. Os dois aguardavam o sinal de Branca para que começassem a lutar. Havia um sorriso travesso que acompanhava o brilho nos olhos do conversador. A mestiça também sorria, e seu olhar deixava claro que estava disposta a provar que era boa de briga.

         Os cavaleiros que se encontravam no jardim nem disfarçavam. Estavam atentos e curiosos, tanto a respeito da técnica do príncipe Mogliani, que era muito famosa, quanto da habilidade e ousadia da jovem plebeia, que era novidade. Ambos sabiam bem como segurar uma espada, mas e quanto a manusear? Eles iriam provar e impressionar, por certo.

- Estão preparados? - a mais bela perguntou.

         Ambos responderam com um menear da cabeça.

- Então lá va...

- Deve contar até três, Branca - o príncipe de Campos instruiu. - Em ordem decrescente.

- Ah, sim, eu sei...

- Então conte!

- Não me apresse! Atenção! Três, dois, ai que emoção, um!

          Aurora estava com a perna direita posicionada para a frente, bem como o braço do mesmo lado, contraído, erguendo a espada sem dificuldade. Felipe estava da mesma forma, e com o braço esquerdo inclinado, de punho fechado, protegia o peito. Como não sabia que estava diante de sua aluna, ciente de cada golpe secreto dele, aguardou que ela o atacasse, dando-lhe vantagem. A fim de provocá-lo, vendo que ele não havia esticado o braço por completo como de costume, bateu contra o cano de madeira que ele empunhava, numa pequena volta, desviando a direção da arma para o lado oposto. Com uma pequena curva aproximou-se rapidamente do rival, posicionou o seu braço em ângulo reto e encaixou a ponta da sua espada entre o peito e o pescoço dele, deslizando-a até erguer seu queixo. Dessa forma deixou claro que não precisava de cuidados, pois sabia muito bem o que estava fazendo. 

         O conversador empurrou sua espada contra a dela, livrando-se do golpe, e gargalhou diante do desafio. Os guardas ficaram fascinados e Branca nem percebeu a química que brotava entre seu querido príncipe e Rosa. Estava maravilhada por uma mulher pequena e frágil mostrar-se tão hábil, e pensou se poderia lutar assim algum dia. Já Henrique esperava ansiosamente que Felipe tropeçasse numa pedra e passasse vergonha diante de todos.

         O jovem Mogliani era esguio, tinha ombros largos e braços compridos, maiores que os dela. Assim, se quisesse vencer de fato, ele deveria erguer o braço em ângulo reto, de forma que a espada tivesse maior alcance, e ela, por ser menor, não o atingiria ainda que esticasse por completo seu braço. Com uma distância razoável, se a moça permanecesse ereta, ele acertaria seu colo e pescoço sem precisar se aproximar. A vantagem dele era o ataque. Logo ela precisaria se abaixar nesses momentos, visto que era mais difícil ele acertar de longe da barriga dela para baixo. Era algo que ele mesmo havia ensinado a ela.

         Por ser menor, Aurora deveria se valer da rapidez, agilidade e estratégia, sendo necessário se aproximar sem medo e defender-se ou aproveitar distrações para atacar. Ele se valeu da distância entre ambos e lançou a espada contra o colo dela, que se desviou habilmente, abaixando-se e protegendo-se, formando com a espada dele uma cruz. Ela não era novata, e isso ele agora tinha certeza. A cada golpe dele ela se desviava com sucesso, como se pudesse prever seus movimentos. Estava impressionado.

- Seu avô deve ter sido um homem fascinante.

- Por quê?

- Porque foram poucas as vezes em que lutei com alguém assim. Ele te ensinou bem.

- Ah, sim, tive um mentor muito dedicado - ela disse, sorrindo.

           O duelo chegou a um nível no qual nenhum dos dois conseguia atingir nem mesmo os ombros do oponente. Felipe mirava para baixo e para cima, e ela apenas para baixo, o que ele deduziu ser devido a madeira pesada e a dor nos braços para mantê-la erguida. A natureza havia lhe conferido muitos músculos que o permitiam segurar peso facilmente, enquanto que a mestiça estava agarrada a sua força de vontade. Se era mais rápida com as pernas, a situação era contrária com relação aos punhos. Foi quando entendeu que para ganhar, precisava atacá-la ao mesmo tempo em que era atacado, ciente de que seria mais rápido.

         A moça correu e com a arma de madeira ergueu no ar a espada de cabo de metal que estava sobre a grama. Felipe ia questioná-la, mas apenas imitou o gesto, o que tornou a luta mais perigosa e interessante. O rabo de cavalo no alto da cabeça, loiro e volumoso, balançava a cada movimento. Era bruta, esperta e graciosa. Seu rosto bonito não o distraía, e nem o amor dela a incapacitava. A princesa mirou no tórax dele, o que o fez saltar para trás e ir contra sua cintura. Aproveitando que estavam próximos, ela saltou sobre uma pedra e mirou pela primeira vez a parte superior, propositalmente. Foi assim que o pegou desprevenido e acabou cortando parte da manga da camisa branca dele, que adquiriu gotas vermelhas. Ao mesmo tempo o rapaz chegou ainda mais perto e empurrou sua lâmina contra a dela, enquanto, com a outra mão, a desarmou. Com um xis, encaixou as duas espadas cruzadas contra o pescoço dela, a imobilizando.

        Ao afrouxar as lâminas ele caminhou até poder dizer a ela e a mais ninguém:

- Os cavaleiros de Lúcio não iriam durar cinco minutos contra você.

- Vossa Alteza também não foi nada mal.

        A moça encarou o sangue no braço dele e se sentiu muito mal. Instintivamente, segurou na parte ferida e analisou com os dedos delicados, puxando a fenda da camisa. O toque dela o fez estremecer, e isso o incomodou bastante. Ele afastou o braço, e em sua mente, pretendia ser fiel a Branca de Neve, visto que seus sentimentos estavam embaralhados. A preocupação nos olhos de Rosa era notável e foi incrível ver uma moça tão desejosa por feri-lo quanto por cuidar dele.

- Que bom que não é profundo. Eu sinto muito. Precisamos lavar esse corte e...

- Irei sobreviver.

         Os olhos de ambos se encontraram outra vez. O perfume de rosas e os lábios grossos eram hipnóticos. Mogliani se sentiu tentado a provar do beijo daquela moça, mas não seria capaz de fazê-lo. Era o calor do momento, apenas isso. Estava, de fato, impressionado, mas quem era dedicada a ele era Branca. Uma moça mais bonita, nobre e meiga. A mulher que todos sonhavam em ter. Ao som de uma salva de palmas da princesa de Campos e dos guardas, o casal se afastou.

- Foi incrível, vocês dois foram... Tão habilidosos - ela os elogiou.

- Obrigado, Vossa Alteza - Aurora agradeceu.

- Será que um dia eu seria capaz de empunhar uma espada assim como você?

- Claro que não, Branca. Você é delicada demais, feminina demais, nunca se interessou em aprender.

- Pois eu acho que se você se dedicar, é capaz de fazer o que quiser - Felipe defendeu a moça e recebeu um sorriso dela em agradecimento.

- Eu gostaria de aprender. Nem sei como se segura.

- Posso te ensinar, agora mesmo, se desejar.

- Ah, sim, eu quero tanto, mas primeiro vamos cuidar desse corte para não infeccionar.

        Aurora viu Branca arrumar uma bacia com água, que surgiu do nada nas mãos de uma criada e com cuidado, lavou e passou unguento sobre a ferida. Isso ela fez rápido de forma que realmente deveria cuidar de pessoas doentes sem medo ou nojo, mas com carinho. A mestiça queria ela mesma cuidar de Felipe, mas não seria possível. O rapaz abraçou a princesa de lado e mostrou como deveria segurar a arma de madeira. Ela parecia com medo, mas cada palavra que ele dizia lhe conferia mais confiança. Ele minava a insegurança da mais bela de todas de forma que cativava seu coração sem perceber. Ao mesmo tempo ela o valorizava tanto que ele mesmo sentia-se feliz em sua presença. Foi uma cena dolorosa para a guardiã contemplar.

         Os cavaleiros brincaram que pela primeira vez o centro das atenções das mulheres não era Henrique.

- Quer assistir aos dois lutando ou quer se banhar, se trocar e conhecer a melhor parte deste castelo? - o príncipe de Campos a indagou.

- Se me disser que a melhor parte do castelo é o seu quarto eu pego a espada do chão e acerto o seu coração, se você tiver um.

- A melhor parte do castelo é a biblioteca. Apesar de o meu quarto ter a melhor vista.

           Ela deu uma última olhada para o seu amado e sua rival e concordou.

- Está certo.

         O mais belo de todos ofereceu o braço para a beldade cansada do esforço físico. Seria deselegante ela recusar, então encaixou o antebraço por cima do cotovelo dele tratou de caminhar, surpreendida pelos olhares dos guardas ao redor. De costas, Aurora não pôde ver Felipe observar a saída dos dois, que caminhavam juntos e cochichavam com intimidade.

***

- Vossa Alteza, a rainha está aqui.

        Estela ouviu a voz de uma criada anunciar por detrás da porta a notícia que ela tanto aguardava. Estava eufórica. Correu as escadarias sem se importar com os modos e sua expressão murchou de tristeza ao constatar que a avó estava só. A avistou sendo atacada por mil e uma perguntas dos conselheiros e foi diretamente até ela. Fez uma reverência e indagou:

- Vossa Majestade soube da Aurora?

- Não, querida. Vamos retomar as buscas amanhã.

        Estela, ciente de que a moça teria que ficar no castelo de Campos por mais tempo do que o esperado, anunciou:

- É uma situação muito difícil. Gostaria de visitar meus primos. Devem estar tão abalados quanto eu com esse desaparecimento.

- Eu imaginei que você iria. Eles precisam de você - a rainha respondeu em tom de cumplicidade.

        A princesa fez o mesmo caminho de volta e separou dois vestidos para levar consigo na viagem. Encarou o livro "As viagens de Gulliver". Aurora ficaria feliz ao tê-lo em mãos, mesmo que fosse uma recordação de um dia ruim. Estela vestiu sua capa azul e passou apressada entre os corredores. Despediu-se da avó com um aceno, visto que era impossível chegar até ela. Recebeu olhares que questionavam sua saída e ela os ignorou por completo. Os empregados do palácio estavam curiosos, mas não ousaram perguntar nada. Ela pediu que preparassem uma carruagem e seguiu rumo a sua prima, irmã e amiga.

***

       Aurora lavou-se e escolheu um vestido verde. Esperou que Malévola se prontificasse. Nada.

- Não vai escolher minha roupa dessa vez?

        Não obteve resposta.

- Decidiu me deixar em paz? Eu é que não vou tentar a sorte.

        A mestiça saiu correndo do quarto, afastando-se das roupas, a fim de evitar qualquer ordem da bruxa. Encontrou Henrique do lado de fora, à sua espera. Desta vez ele não ofereceu o braço, apenas indicou que ela deveria segui-lo. Ambos andaram silenciosamente até o fim do corredor. O rapaz abriu duas portas e a moça quase caiu para trás, emocionada. Tinha livros para todos os gostos, de todos os tamanhos, sobre todos os assuntos. Havia dois andares e uma mesa enorme, poltronas confortáveis, luminárias, o ambiente perfeito.

- Sabia que ia gostar.

       Ela deu dois passos adiante e sorriu. O encarou perplexa e agradeceu.

- Sei que começamos com o pé esquerdo, mas eu gostaria muito que fossemos amigos. Já que a Aurora me odeia, será que a Rosa poderia gostar de mim?

- Eu não te odeio, apenas não aprovo suas atitudes... Mas esta certamente a Rosa gostou muito.

- Por que você gosta tanto de ler?

- Porque me ajuda a esquecer da minha realidade, dos meus problemas. Eu tenho a oportunidade de ser outras pessoas.

- Então a Rosa é a realização de um sonho.

- Ela está mais para um pesadelo. E você, por que ama tanto os livros?

- Conhecimento é poder. Gosto de saber de tudo um pouco, e o que me interessa ou é útil, estudo com profundidade. Eu tiro proveito dos ensinamentos por trás das histórias e me espelho em grandes reis, guerreiros, pessoas sábias, grandiosas.

        A moça olhou para o rapaz e refletiu a respeito de sua resposta. Não era algo difícil de deduzir a respeito de Henrique. Poder e mais poder.

- Com licença, Vossa Alteza, seu pai o aguarda no salão principal - um guarda anunciou.

- Certo. Fique à vontade, Rosa. Devo voltar daqui a pouco.

         Ao encontrar-se só diante daquele paraíso, ela parou em cada estante para admirar seu conteúdo. Depois de rodar a biblioteca inteira pegou um livro dos que chamaram sua atenção e procurou um lugar para se sentar. Curiosa, foi até a mesa onde havia papeladas e livros marcados, sinal de que alguém os estava lendo. Tinha uns sobre topografia, outro sobre filosofia e uma história com um nome engraçado e difícil. Voltou a um dos bancos acolchoados e abriu o livro que era uma compilação de histórias de uma moça chamada Sherazade. Era um livro composto de pequenos livros, com uma capa de couro que os unia. Havia um outro livro, menor e em branco, com anotações de alguém.

       O meu e o seu inseparáveis são.

- Foi o que minha mãe disse para mim!

       A moça continuou a ler. Eram frases tristes de saudade. Falavam sobre a morte de Sofia. Uma das páginas falava sobre amor.

        Ela foi a pior coisa que me aconteceu, mas também foi a melhor. Estava tão fraco, tão abalado que roubei seu beijo. Antes não o tivesse feito, agora me assombra os pensamentos. Sou obrigado a reviver o prazer de sua companhia e a dor de sua rejeição. E odeio amá-la e amo odiá-la. Não importa que esteja separada dele, ela ainda pertence a ele. Mesmo estando nos meus braços, não é minha. Penso que afastá-los de nada me serviu.

- Quem será? Eu? Não é possível! Só pode ser coincidência.

- O que é coincidência? - o mais belo de todos retornou e horrorizou-se ao reparar no que estava no colo da moça. - Onde você achou isso? A biblioteca tem dois andares, mas que...

        Henrique pegou as anotações das mãos de Aurora enfurecido. Sentiu como se tivessem invadido sua privacidade da pior forma. Quais seriam as chances dela encontrar seus escritos?

- O que você leu?

- O que quer dizer "o meu e o seu inseparáveis são"?

- Como assim? Foi algo que minha mãe disse ao se despedir de Branca.

- Minha mãe também me disse isso antes de falecer.

         O príncipe olhou para o papel e viu que nessa parte não havia menção do nome de Aurora. Achou estranho Sofia e Marisol terem dito a mesma coisa às filhas. Será que teria a ver com a fusão?

- Deve ser um tipo de despedida para alguém próximo e querido - ele desconversou.

- Perdão, não quis ser intrometida, achei que fosse um livro.

- É uma compilação de histórias, além dos meus escritos pessoais. Você descobriu algo mais?

       Ela encarou o chão e negou com a cabeça. Não conseguia olhar em seus olhos. Estava com vergonha e com pena dele. Sim, ela tinha lido sobre seus sentimentos. Não adiantava mais negar.

- Por que está me evitando? - ele perguntou, aproximando-se.

- Não... não estou te evitando. Eu...

- Você leu sobre a mulher que eu amo?

        Aurora ficou vermelha, extremamente constrangida. Talvez fosse sua imaginação e ele lhe dissesse que não era ela. Como ela queria que ele negasse tal sentimento!

- Eu li que ela não sente o mesmo que você.

        Tentou cortar a investida dele ao perceber o olhar azul turquesa cravado nela.

- E?

- E que você a separou de quem ela amava.

- Então sabe quem é ela. Sabe quem eu amo.

       Ele não estava debochando. Parecia sério e sofrido, como se estivesse abrindo seu coração, declarando-se. Não dava para acreditar. Não depois do dia intenso que teve com Felipe. Não estava disposta a amar ninguém além de seu noivo, e faria de tudo para reconquistá-lo.

- Sabe que é você quem eu amo. Sempre foi.

- Henrique, eu...

- Você não se sente nem ao menos tentada? - ele disse, acariciando seu rosto.

- Por favor, afaste-se. Eu te ofereço minha amizade e nada mais. Não gosto de sua arrogância.

        Ele não se afastou. O rosto perfeito ficou paralisado, motivado pela mesma vontade que Felipe sentira há pouco.

         "Beije-o" - a voz de Malévola surgiu, numa ordem impetuosa.

- Não! - ela vociferou.

- As coisas acontecem por um motivo, Aurora. Somos mais parecidos do que pensa! Por que não me dá tempo? Ele já te esqueceu, eu posso fazer com que você o esqueça!

         "Pode mesmo" - a voz feminina e ardilosa comentou.

- Não farei isso. Não irei te obedecer dessa vez! - a princesa perseverou.

- Não quero te obrigar a nada.

- Não é você, é ela! A Malévola!

- O que tem ela?

- Por favor, se afaste. Desde a morte de minha mãe ela tem me controlado. Ela escolhe roupas vulgares e me dá ordens.

- Ela quer que você me machuque? - ele disse, afastando-se. - Você pode resistir!

          "Eu estou do lado dele, praticamente"!

- Sim, é o que ela quer... Ai, ah... - a moça mentiu.

           Aurora sentou-se sobre a cadeira e chorou de dor. Caiu ao chão e ficou encolhida, como um feto. O rapaz ajoelhou-se a seu lado e a trouxe para si, apavorado.

          "Um beijo e a dor acaba".

           A mestiça sentiu cólica, torções nos pulsos e tornozelos, o rosto ardeu em brasa, os ossos estalaram e foi tudo tão forte e terrível que cedeu. O rosto dele estava perto do dela. Henrique balançava-a como se a ninasse ou tentasse acalmá-la, e sem esperar, recebeu um selinho rápido. A dor sumiu instantaneamente e mais uma vez, a moça perdeu os sentidos, relaxando nos braços fortes do lindo fadem. Ele encarou o filete de sangue que saiu do nariz dela. O que estava acontecendo com sua prima?

***

          Malévola afastou a rosa do espelho de sua penteadeira e falou para si mesma:

- Quem diria? Garota esperta e teimosa. Ferir o príncipe Henrique? Agora eu terei que ir até ele consertar esse mal entendido. Mas teremos uma conversa estimulante. Céus, toda essa agitação me deixou suada.

          A bruxa foi até a entrada de seu cômodo e badalou um sino. Como o ogro demorou, chamou Anco pelo nome.

- Majestade! - o ser feio que dói veio correndo.

- Anco, chame o Eli para me abanar.

- Sim, sim, eu posso abanar se quiser.

- Não, eu quero o Eli. Ele abana com raiva. Gosto de raiva.

***

         Aurora estava no quarto sem os sapatos, deitada na cama. Ela supôs corretamente que Henrique a havia carregado e deixado por lá. No criado-mudo havia uma bacia com água e a mesma estava turva, avermelhada. A moça correu até o espelho e não viu nada, mas imaginou que fosse de seu sangue. Foi até a janela e viu a porta ao lado com uma varanda. Ficou em pé sobre a mesma admirando a noite. Ao lado havia uma outra varanda, imensa, na qual avistou Henrique lendo alguma coisa. Ele teve a sensação de estar sendo observado e ergueu o olhar, deparando-se com a princesa. Sem se mover, a observou. Ela meneou a cabeça, agradecida por ele ter cuidado dela, e voltou-se para o quarto sem iniciar qualquer tipo de conversa que fosse.

         Ao mirar o relógio, a mestiça viu que havia perdido o chá da tarde. Faltava pouco para o jantar, o que a levou a descer. A figura pomposa e simpática de Lúcio surgiu de uma das portas laterais. Mal a avistou, sorriu.

- Espero que o tempo que esteja passando conosco seja aprazível.

- Sim, Vossa Majestade. Eu tive aventuras o suficiente por hoje.

- Soube que você é melhor do que metade nos meus cavaleiros num combate à espada.

         Ela gargalhou.

- É bem provável - ela zombou.

           Os dois foram até o salão de jantar e sentaram-se nos mesmos lugares. Branca e Felipe chegaram juntos, para a infelicidade de Aurora. O príncipe dos humanos estava na entrada e viu o quanto Aurora sofria pelo casal sentado e animado. Era um sofrimento com o qual ele já estava familiarizado. O mais belo sentou-se ao lado da amada, decidido a conquistá-la a qualquer custo.

          Havia dois cavaleiros ao fundo do salão que iriam subir para vigiarem após todos jantarem: Vicente e o senhor Dante. O mais jovem ficaria no corredor e o mais experiente, no início da escada. O chefe da cavalaria iria revezar com Bernardo, mas o ruivo armado não sairia de seu posto em momento algum. Mal havia começado o jantar, um criado pediu licença e anunciou:

- A princesa Estela acabou de chegar, Vossa Majestade. Veio visitar a família.

        Aurora sorriu.

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