Capítulo 27 - Coração partido

10.1K 710 283
                                    



Capítulo 27 - Coração partido

O mais belo de todos foi surpreendido pela intrusa e o que parecia uma invasão deliciosa, visto que havia descoberto seus sentimentos por ela, poderia causar sérios problemas se ela visse o desenho que Felipe fizera bem ali, em suas mãos. Sempre atento, o príncipe agiu rapidamente. Abriu a gaveta, colocou o desenho de Aurora nela e a fechou, escondendo o roubo. Em seguida, voltou a encarar a moça. Ao reparar na fúria que dela emanava, deduziu que a mesma já havia se encontrado com Victor. Com um olhar debochado, aproximou-se dela e rompeu o silêncio:

- Victor te mandou lembranças minhas?

Em questão de segundos Henrique estava com a mão no rosto, esfregando o lugar onde recebera o tapa. A guardiã mestiça olhou para o príncipe com desprezo, estupefata com a ironia dele, e pior, seu atrevimento. Era evidente que ele menosprezava toda a dor que ocasionou. O fadem retornou à posição, em pé, estufando o peito e mantendo o humor. Até porque não era a primeira vez que levava um tapa de uma mulher, e não seria a última. Considerou a moça mais intrigante por estar furiosa, inclusive mais atraente e por isso a provocou:

- Ele fez melhor do que isso.

Fora de si, Aurora tentou desferir outro tapa, e Henrique segurou sua mão. Com a outra, ela realizou seu intuito, agredindo-o mais uma vez. Ele segurou com força as mãos da moça, que se concentrava na ponta da árvore que batia na janela, disposta a usar seus poderes e lutar, caso fosse necessário. Estava determinada a feri-lo. Ela usava da força, de seus poderes, mas sua indiferença ou mesmo uma palavra de desdém seria mais eficaz.

- Sei bem por que está aqui. - Ele disse.

- Para te avisar que se você me prejudicar outra vez, eu irei te destruir. - Aurora o ameaçou sem titubear, estendendo uma ramificação da planta da janela, que percorria lentamente o chão do quarto.

Henrique estalou a língua várias vezes contra os dentes, emitindo um som de quem discordava, e balançou a cabeça levemente para os lados, negando o que ela dizia.

- Não, meu bem, você está aqui porque está com medo.

- Medo de você? - Ela riu, pisando no pé dele e dando um passo para trás, finalmente libertando as mãos.

- Não. Medo do Felipe. Você sabe que ele vai acabar conhecendo outra e te esquecendo. Acha mesmo que ele vai passar a vida inteira te esperando? Achei que fosse mais astuta.

A mestiça já havia feito a ramificação crescer e se esticar, e após ouvir tal afronta, manipulou o caule de forma que o mesmo ficasse envolvido contra o pescoço de Henrique, pressionado-o levemente, como uma corda.

- Ele me ama e fará de tudo para ficar comigo. - Ela contestou.

- Só porque ele não teve tempo de conhecer outra melhor do que você. Acredite em mim. Vocês não ficarão juntos.

Aurora dominou o caule, que apertou ainda mais o pescoço do príncipe, mas ele não demonstrou o mínimo de preocupação ou medo.

- Se eu fosse você, teria muito cuidado ao me prejudicar. - Aurora vociferou rispidamente.

- Ou você vai fazer o que? Vai me matar? Ambos sabemos que não teria coragem.

O mais belo de todos sentiu a respiração falhar enquanto sua garganta era pressionada cada vez mais forte, e abriu a boca em busca de ar. A moça o observava, disposta a machucá-lo tanto quanto ela a havia ferido, esperando que ele agonizasse. Quando pareceu que estava agoniado, seu olhar se encontrou com o dele, e a misericórdia tomou o lugar da vingança. Acabou afrouxando o caule até o mesmo se desfazer, estirado contra o chão. Nervosa, Aurora sentia-se derrotada, pois realmente não teria coragem de assassiná-lo. Ainda que prendesse o choro, algumas gotas deslizaram pelo rosto, que exibia a raiva e escondia a tristeza. Henrique prosseguiu:

O Conto dos Contos - A origem dos contos de fadasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora