Filhos da Entropia

By ssotavares

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No ano 1973, vivendo na época da Ditadura Militar, Wolfgang era um jovem brasileiro pobre, gay, filho de um i... More

AVISOS
O Viajante - Capítulo I - Wolfgang - Janeiro de 1973
O Viajante - Capítulo II - Wolfgang - Janeiro de 1973
O Viajante - Capítulo III - Mikael - Janeiro de 1973
O Viajante - Capítulo IV - Wolfgang - Janeiro de 1973
O Viajante - Capítulo V - Mikael - Janeiro de 1973
O Viajante - Capítulo VI - Wolfgang - Janeiro de 1973
O Viajante - Capítulo VII - Mikael - Fevereiro de 1973
O Viajante - Capítulo VIII - Wolfgang - Fevereiro de 1973
O Viajante - Capítulo IX - Wolfgang - Fevereiro de 1973
O Viajante - Capítulo X - Mikael - Fevereiro de 1973
O Viajante - Capítulo XI - Isabelle - Março de 1973
O Viajante - Capítulo XII - Wolfgang - Março de 1973
O Viajante - Capítulo XIV - Mikael - Março de 1973
O Viajante - Capítulo XV - Levi - Março de 1973
O Viajante - Capítulo XVI - Wolfgang - Março de 1973
O Viajante - Capítulo XVII - Isabelle - Março de 1973
O Viajante - Capítulo XVIII - Wolfgang - Março de 1973
O Viajante - Capítulo XIX - Levi - Março de 1973
O Viajante - Capítulo XX - Mikael - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXI - Wolfgang - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXII - Isabelle - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXIII - Levi - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXIV - Wolfgang - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXV - Wolfgang - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXVI - Mikael - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXVII - Isabelle - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXVIII - Wolfgang - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXIX - Wolfgang - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXX - Levi - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXXI - Mikael - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXXII - Isabelle - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXXIII - Wolfgang - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXXIV - Wolfgang - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXXV - Mikael - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXXVI - Levi - Abril de 1973
O Viajante - Capítulo XXXVII - Wolfgang - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo XXXVIII - Wolfgang - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo XXXIX - Isabelle - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo XL - Mikael - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo XLI - Levi - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo XLII - Isabelle - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo XLIII - Wolfgang - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo XLIV - Isabelle - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo XLV - Levi - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo XLVI - Mikael - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo XLVII - Levi - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo XLVIII - Isabelle - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo XLIX - Rosa - 1953 a 1954
O Viajante - Capítulo L - Mikael - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo LI - Wolfgang - ?
O Viajante - Capítulo LII - Isabelle - ?
O Viajante - Capítulo LIII - Mikael - ?
O Viajante - Capítulo LIV - Wolfgang - ?
O Viajante - Capítulo LV - Wolfgang - ?
O Viajante - Capítulo LVI - Wolfgang - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo LVII - Levi - Maio de 1973
O Viajante - Capítulo LVIII - Mikael - Maio de 1973

O Viajante - Capítulo XIII - Isabelle - Março de 1973

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By ssotavares

Finalmente eu tinha conseguido escrever um texto digno sobre o meu pai. Li e reli os papéis, rasurei com uma caneta, sobre as letras datilografadas, os pequenos erros e, em minhas mãos, contemplei a matéria pronta.

Catarina iria gostar daquele texto. Era sucinto, mas capaz de contar toda a jornada do Álvaro da Silveira. Meu pai foi de um mero professor universitário a um homem perseguido pelo regime.

Guardei os papéis na pasta. O telefone tocou, tirando-me das divagações sobre o meu pai e o seu legado. Fui até à mesinha de canto e atendi o telefone.

— Oi, Belle. — Ao ouvir aquela voz, bufei, irritada.

— Oi, Eduardo. — O meu ex-namorado era o meu maior arrependimento. Jamais deveria ter namorado aquele rapaz. — O que foi dessa vez?

— Calma! Credo, sempre que tento falar com você, é assim.

— O que você quer?

— Quero ver você.

— Isso só vai trazer ainda mais dor pra nós dois.

— Você sabe que a gente precisa conversar direito. Vai fugir o resto da vida? — Aquilo era uma infeliz verdade. Eu terminei com ele em uma explosão de raiva e nunca mais conversamos de maneira funcional.

— Tá. A gente pode conversar. Mas depois, vai cada um pra um lado.

— Eu posso passar aí na sua casa? — Sua voz rouca indagou.

— Hoje eu tô ocupada. Amanhã à tarde você vem.

— Vai fazer o quê?

— Não te devo mais satisfação alguma, Eduardo. Tchau. — E desliguei o telefone. Eu já estava chorando quando coloquei o telefone no gancho. Sequei as lágrimas como se pudesse contê-las com os meus dedos.

Aquele pranto durou um bom tempo. Foi de lágrimas esparsas a um choro alto com soluços em questão de segundos. Eu ainda amava o Eduardo e não podia negar isso. Precisei esperar o pranto acabar para seguir o que eu tinha planejado para aquele dia. Fiquei mais de meia hora sentada no sofá tentando lutar contra as minhas lágrimas.

Quando consegui me levantar, fui até o banheiro e tomei um banho quente. Após o banho, diante do espelho do banheiro, cobri meus fios de cabelo com creme, os penteei cuidadosamente e os prendi em um rabo de cavalo baixo. Troquei os brincos de argolinhas douradas por um par de brincos de pérolas. Cobri a face marcada pelo pranto com maquiagem. Vesti a minha melhor camisa de algodão, ela era de um rosa suave e tinha uma textura macia. Trajei minha calça de linho branca e não passei batom nos lábios.

Queria parecer doce e roupas de cores escuras e uma maquiagem pesada não ajudariam a passar essa impressão. 

Peguei minha bolsa, sempre com o revólver dentro dela, e saí do apartamento. Desci as escadas e andei apressadamente até o meu Opala.

Fiz o trajeto enquanto pensava na conversa que eu teria como o Eduardo. Eu sentia falta dele. De vez em quando, questionava-me se tinha sido uma decisão sábia terminar o nosso namoro.

Neguei com a cabeça. Ele fizera coisas que eu não podia relevar. Eu tinha que ser firme em minha decisão, embora o meu maior desejo fosse me jogar nos braços dele.

Cheguei até aquele quarteirão isolado. Ele era cercado pela natureza, circundado por matagais. Dirigi até uma rua vazia, há alguns quilômetros do internato. Estacionei meu carro em ali e caminhei até o prédio da instituição. Ele tinha grandes muros brancos e um portão de metal cinza enorme com uma cruz de metal entalhada no meio.

Fui recebida por um homem forte e uniformizado. Anunciei que era uma jornalista e que buscava fazer uma reportagem sobre os jovens infratores que contribuíam para as ondas de vandalismo e debater a necessidade de leis mais rígidas - me senti particularmente repulsiva ao dizer aquelas palavras. Após o Ato Institucional 5, pedir por mais repressão, midiaticamente, soava-me como um crime. Mais repulsivo ainda foi o fato de que fui bem recebida ao contar essa mentira.

Mesmo amaciando o ego daqueles que gostavam da ordem em mão de ferro, ainda esperei por cerca de duas horas até ser recebida pelo diretor do internato.

Após aquela longa espera, o diretor me chamou.

Ele usava um hábito e foi me apresentado como Padre Juliano Teixeira. Entrei  na sala do Juliano. As paredes do lugar eram brancas, contra umas das paredes havia uma grande estante de mogno repleta de livros empoeirados. Sobre uma grande mesa, também de mogno, estava um pequeno crucifixo de madeira que era sustentado em um suporte com os seguintes dizeres: "Preferiria estar à porta da Casa do meu Deus, a habitar nas tendas da impiedade.” 

O padre me convidou para me sentar em uma cadeira diante daquela elegante mesa. Assim o fiz. Ele se sentou em sua cadeira e me olhou nos olhos. Seus cabelos grisalhos elegantemente penteados o faziam parecer uma pessoa sofisticada.

— Muito prazer, padre Juliano. Deixa eu me apresentar melhor. Meu nome é Priscila, sou jornalista e trabalho no Jornal Coluna da Cidade. — Menti. Aquele jornal sequer existia. Torci para que o homem acreditasse no que falei.

— Muito prazer, Priscila. Sou Juliano, o diretor do Santa Maria. — Ele cerrou os olhos. — Não conheço esse jornal.

Meu estômago gelou.

— É um jornal muito pequeno ainda. — Abri a bolsa e tirei uma caderneta e uma caneta lá de dentro. Fitei, brevemente, a empunhadura do revólver que se revelava em um bolso interno. Meu corpo inteiro se arrepiou.

Fechei a bolsa e encarei o homem.

— Ah é? — Ele indagou com o cenho franzido. Percebi um discreto sorriso no canto de seus lábios. — Bom, então devem estar nas primeiras edições.

— Ele já tá circulando há um mês e meio. Ainda é muito pouco tempo pra ser considerado um jornal... Importante. — Minhas mãos estavam tremendo. Coloquei a ponta da caneta sobre o papel.

— Então, fico feliz que tenha escolhido escrever sobre esse internato. — O padre sorriu.

— Eu é que fico feliz por ser recebida pelo senhor. — Retribuí o sorriso enquanto sentia o meu coração acelerado em meio peito. — O senhor pode me falar um pouco sobre como funciona o internato?

— Na maior parte das vezes, somos procurados por pais desesperados que vivem cercados de violência. Eles querem evitar que seus filhos acabem indo pro caminho do crime.

— Aqui é um internato só para meninos, é isso?

— Sim! — Falou com certa surpresa na voz. — Claro! Só internamos meninos aqui.

— Como é a rotina desses meninos?

— Eles são divididos por turmas de acordo com a idade. As aulas duram meio período. Almoçam todos juntos no refeitório e então são mandados para fazer alguns pequenos trabalhos durante à tarde. Os rapazes têm aulas para aprenderem a bater cimento, construir paredes… Também têm aulas de marcenaria. Aram e cuidam da horta e alimentam os animais que temos… Enfim. A tarde é gasta para aprenderem a trabalhar. Às 6h da tarde, recebem uma ceia e temos missa. Às 9h eles vão dormir. Não admitimos nenhum menino fora dos dormitórios depois desse horário. Temos monitores que vigiam e cuidam da disciplina dos internos pra que se evitem transgressões.

— Transgressões?

— Não toleramos que as regras aqui sejam quebradas. — Era um pouco estranho como o padre jamais perdia a compostura. Ele falava com muita calma e sempre mantinha um discreto sorriso nos lábios. — Mantemos o pulso firme. Como você acha que eles vão se tornar cidadãos decentes, senhora Priscila?

— O senhor tem toda razão, padre Juliano. — Senti meu rosto queimar ao ter que concordar com aquilo. — O senhor pode me mostrar algumas fotos das turmas? Com sua autorização, é claro, eu gostaria de levar algumas delas pra estampar nossa reportagem.

Juliano se manteve com a mesma expressão de sempre. O padre se levantou, pegou grossos livros com capas de couro e os abriu  sobre aquela grande mesa. Haviam muitas fotos dos jovens realizando as atividades que ele contou que aplicavam ali, também vi fotos em que muitos meninos, juntos, posavam sérios para a câmera.

— Pode ficar à vontade, senhora. — Sorri nervosamente. Por longos minutos, folheei aqueles registros, sempre sentindo os olhos, de cor azul turquesa, do padre sobre mim.

Meus dedos trêmulos deslizavam pelas folhas. Analisei com atenção cada garoto em cada foto. A cada página com datas marcadas… Até que cheguei na página que marcava o ano de 1966 e achei aquele garoto que vi na rua 18, quando encontrei com o Wolfgang e com o Mikael.

Na fotografia, sua aparência estava idêntica a da ocasião em que eu o vi. Os cabelos estavam raspados, o rapaz carregava um olhar irritado e vestia o uniforme do internato. Ele era o terceiro, da esquerda para direita, da fila da frente daquela foto. Em letras miúdas feitas com caneta de tinteiro, haviam os nomes: Jesuíno Albuquerque, Eliosmar Rocha, Levi da Costa…

— Levi da Costa… — Sussurrei. Era esse o nome do garoto que eu vi naquela situação absurda e sobrenatural.

— Perdão?

— Eu acho que conheço o Levi da Costa. — Menti. O padre, com gentileza, pegou o livro de minhas mãos e cerrou os olhos, fitando a fotografia e lendo os pequenos nomes abaixo dela.

— Levi da Costa… — Juliano cerrou os finos lábios e fez um longo som que parecia uma meditação. Seus olhos pareceram se distanciar por alguns instantes. — Hmm… Acho que lembro dele. Em 66 eu ainda era professor…

— Ele é namorado de uma prima minha. — Menti ainda mais. Quanto mais eu mentia, mais eu tremia e mais rápido o meu coração pulsava.

— Ele deve ter se tornado um homem íntegro, de certo. — Juliano olhou nos fundos dos meus olhos

— Sei muito pouco sobre ele, padre. Mas confesso que fiquei preocupada por ver esse moço aqui. Eu sei que vocês fazem um bom… Mas… Acho que o senhor consegue me entender. — Minhas mentiras estavam ficando cada vez mais elaboradas, como uma teia que envolvia uma mosca infeliz predada por uma aranha. Temi que eu fosse a presa ali.

— Claro, minha querida. Claro. Bom, Levi entrou aqui depois de cometer uma infração. Não lembro exatamente o que ele fez. Era um garoto muito difícil, muito rebelde. — Em momento algum, o padre hesitou ou desviou o olhar.

— Como se chamava a mãe dele? O senhor se lembra?

Um longo silêncio tomou conta do local. Ele se levantou mais uma vez, pegou um outro livro grosso e empoeirado e colocou sobre a mesa. As páginas já estavam um pouco amareladas. O padre folheou aquele livro por algum tempo, parou em uma página específica e me olhou.

— Tereza da Costa. — Juliano colocou o livro sobre a mesa e o empurrou para perto de mim. Um caos de livros grandes e cheios de informações se instaurou sobre aquela mesa. Anotei o endereço e número de telefone que estavam ao lado das palavras “Tereza da Costa, mãe de Levi”. Meus dedos, então, foram até as páginas do livro de fotos e, delicadamente, descolei a foto da 1966, que estava grudada com uma cola bastante frágil.

— Posso pegar essa foto? — Indaguei, trocando um olhar rápido com o padre. O meu suor nervoso refletiu sobre a superfície da foto.

— Claro, claro… — E então ele riu. — Então, era isso que você queria aqui?

Naquele momento, eu senti a minha cabeça girar. O vômito me subiu à garganta, mas não regurgitei e o ácido desceu de volta pelo esôfago, queimando todo o caminho. Desejei fugir dali, mas o medo era uma entidade forte que me empurrava contra aquela elegante cadeira acolchoada em que eu estava sentada.

— Eu… Eu não entendi. — Falei em um sussurro fraco.

— Menina, quer mesmo que eu acredite nessa história toda? — Ele riu. — Um jornal simples, que acabou de começar, escrevendo sobre um reformatório que fica no meio do nada.

— Mas é verdade! — Meus olhos se encheram de lágrimas.

— No início, achei que você fosse uma dessas jornalistas subversivas que veio aqui só pra roubar informações, distorcer e divulgar por aí, como se estivéssemos cometendo um crime. Mas agora percebi que você só tá atrás desse rapaz. — Ele acenou com a cabeça para a fotografia em minhas mãos. — O Levi. — E ele permaneceu, ainda assim, com aquela expressão calma. As lágrimas escorreram dos meus olhos.

— Não chora, menina. Eu não vou te fazer mal. Esse rapaz é só mais um de tantos que passaram por aqui. Pode levar essa foto embora, se quiser. Mas peço que não volte mais aqui. Não gosto de pessoas mentirosas.

Levantei-me e saí daquela sala em passos rápidos. Minha visão estava enevoada pelo choro. O percurso até o meu carro foi tão turbulento, em minha mente, que só voltei à mim quando já estava sentada no banco do meu Opala, diante do volante. Guardei minha caderneta e a foto dentro da minha bolsa e, em meio às lágrimas, dirigi de volta para o prédio em que eu morava e subi até o  meu apartamento. Eu sentia um medo inexplicável. E se aquele padre me denunciasse? Não disse meu nome a ele, mas alguém poderia ter me seguido e me visto entrar no carro. Ou talvez ele pudesse dar uma descrição física da minha fisionomia para alguma autoridade… Eram tantas possibilidades.

Respirei fundo, tentando ser racional. O padre Juliano percebeu que tudo o que eu procurava eram informações sobre o Levi. Ele liberou informações sobre um interno sem titubear. Caso o padre me denunciasse, ele também teria problemas e eu não disse nada que pudesse me ligar a práticas subversivas.

Eu chorei por horas naquele dia. O meu desespero tardou a diminuir e só foi embora porque o meu corpo, cansado de tanto chorar, adormeceu.

No dia seguinte, eu não consegui ir até o porão em que Catarina montava e imprimia as edições do Vozes do Povo. Eu acordei tomada por uma enorme letargia que eu conhecia bem. Essa sensação me era tão familiar que eu sabia que duraria um dia inteiro.

O telefone tocou. Eu não atendi e o aparelho tocou mais uma vez. Devido a insistência, eu resolvi atender. Quem me ligou era o seu Matias, a fim de anunciar que Eduardo estava na portaria.

Eu tinha esquecido totalmente da conversa que teríamos naquela tarde. Entretanto, permiti que ele subisse. Não tardou para eu o ouvir bater na porta, eu a abri e o contemplei antes de dizer qualquer palavra.

Eduardo era muito bonito aos meus olhos. O rapaz tinha um semblante forte e sério. Seus cabelos eram encaracolados e volumosos e alguns cachos caíam sobre a sua testa. Ele era mais alto que a maioria dos homens e seu físico era atlético. O rosto carregava traços firmes, com um nariz aquilino, olhos amendoados e escuros - com algumas olheiras - e sobrancelhas grossas e escuras. Porém, o seu queixo, aos poucos, suaviza-se, destoando do restante das feições fortes.

— Oi, Belle. — Ele me cumprimentou, olhando-me com alguma estranheza.

— Oi. — Ofereci espaço para o rapaz passar. — Eu não tô muito bem, desculpa.

Eduardo entrou no apartamento e fechei a porta.

— Você não tem que se desculpar por isso. — Ele parou diante de mim e me olhou nos olhos. — O que aconteceu?

— Eu não quero contar, Eduardo.

— Polícia?

— Eu… Só tô com medo. — Andei até o sofá e me sentei. O meu ex-namorado me seguiu e se sentou ao meu lado

— Você tem que parar com isso, Isabelle.

— Foi por isso que eu terminei com você. — Esfreguei os meus olhos inchados e minha voz saiu arrastada. — Você nunca vai entender…

— Belle, eu entendo. Mas você não pode se matar por causa do que aconteceu. — Ele desviou os olhos e encarou a janela. — O seu Álvaro não ia querer isso.

— Nunca mais fala pelo meu pai. — Retruquei em um chiado entre dentes. — Você entendeu?

— Eu não tô falando por ele! — O rapaz voltou a me encarar. — Mas ele amava você, não amava?

— Claro que amava!

— E eu também te amo! Quem ama, não quer ver a outra pessoa correndo perigo!

— Você não me ama, Eduardo.

— Amo mais do que tudo. — Seus olhos brilharam. Eles estavam marejados.

— Se você me amasse, não teria me deixado sozinha naquele dia. Você não teria me abandonado do jeito que você abandonou.

— Isabelle, eu não sabia que você ia…

— Eu te falei que ia, Eduardo. Falei várias vezes.

— Desculpa…

— Não tem perdão pra isso.

— Eu amo você, Isabelle. Amo mesmo. — Ele tocou o meu rosto com leveza. A maldita letargia não me permitiu desviar do toque e, quando o calor de sua mão se debruçou sobre a minha face, eu senti paz.

— Eu não parei de amar você, mas você me decepcionou de um jeito que não tem mais volta. — Eu estava prestes a chorar, como denunciou a minha voz embargada.

— Não tem nenhuma chance de você me perdoar?

— Não.

— Eu posso… Pelo menos beijar você uma última vez?

Assenti e senti os lábios dele sobre os meus. Entreguei-me ao beijo, sabendo que era o último. Quando nossos lábios se tocaram, eu desejei, profundamente, transar com ele e dormir em seus braços. Quis esquecer tudo o que aconteceu e toda decepção que ele me causou e almejei voltar para a vida do Eduardo.

Mas fui fiel a mim mesma e me afastei. Seu olhar choroso não se desprendeu do meu, embora tenhamos nos afastado fisicamente. Percebi que eu também estava chorando.

— Se você mudar de ideia, é só me procurar. — Eduardo secou as próprias lágrimas. Ele se levantou e eu me levantei também. Caminhamos em silêncio até à porta. Antes de ir embora, ele contemplou o meu rosto.

— Tchau, Belle. — Disse em meio a um sorriso triste.

— Tchau, Edu. — E eu falei em meio às lágrimas. Quando Eduardo seguiu pela porta afora, tive a certeza que aquele não foi o último adeus. Em algum momento, eu iria trair a mim mesma e me jogar nos braços dele. Soube, de imediato, que Eduardo também pensava aquilo, pois ele não teria sido tão breve caso acreditasse que não tinham mais chances para nós.

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