Pretend

By allthsecuban

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A Stanford High-College é a instituição de ensino integrado entre escola e faculdade mais famosa de todo o Es... More

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By allthsecuban

Olá! Antes de dar início ao capítulo, queria dar uns avisos e explicar algumas coisas que podem ter ficado confusas ou desentendidas.

Primeiramente, quero deixar claro que não terá ponto de vista da Camila, em nenhum capítulo sequer. Grande parte da graça da fanfic (inclusive desse capítulo mesmo) está no mistério dos pensamentos da Camila. Dessa forma, teremos apenas a visão da Lauren e do narrador sobre os fatos, como vocês já estão vendo até então.

Segunda coisa: sobre a aparência do Tristan. No início, quando criei a personalidade de um personagem tão importante para a estória quanto ele, idealizei um garoto em minha mente. Em um dos primeiros capítulos, até coloquei como seria o rosto dele (feito por IA). Acontece que eu percebi que, basicamente, eu imaginava o Josh Beauchamp, só que com os olhos cor de mel, por isso o coloquei como rosto do Tristan.

Por último, mas não menos importante: o título desse capítulo. Como todos sabem, utilizo o grego e o inglês para nomear todos os títulos dos capítulos, e todos têm uma tradução literal. Menos este. O título desse capítulo é uma expressão grega muito específica, que significa "luto alegre" ou "doce tristeza", evidenciando uma contradição pura entre uma coisa e outra.

No mais, queria agradecer por termos atingido a marca de 30K de leituras. Vocês são demais, muito obrigada!

—;—

Narrador POV

"15 de setembro de 2007 - Palo Alto, Califórnia

Não é estranho como quase sempre tudo parece seguir em uma linha muito boa e igualmente feliz, e, de repente, rui de uma vez só?

Certa vez, um dos maiores escritores que já passaram na Terra escreveu uma frase que daria sentido a esse (quase) sentimento alastrante sobre a população mundial: 'Estas alegrias violentas têm fins violentos; Falecendo no triunfo como fogo e pólvora, que num beijo se consomem'.

Cinco viaturas da polícia estadual estavam estacionadas na rua pertencente ao campus da Stanford High junto a dois carros particulares da perícia. A fita amarela com listras pretas estava estendida por toda e qualquer entrada do local, que agora, se tornara uma cena de crime. Aquilo deixava claro que somente pessoas autorizadas poderiam adentrar o edifício, o que fez com que as dezenas e mais dezenas de alunos que chegavam para as aulas diárias ficassem confusos enquanto esperavam no gramado principal.

— Com licença, senhor... O que está acontecendo? - Christopher Gomez, um estudante da turma dos Seniores, questionou ao policial fardado que portava uma espingarda de calibre 12 milímetros.

— Não estou autorizado a dar informações. Informe aos seus colegas que as aulas de hoje estão suspensas. - O oficial respondeu com seriedade  ainda parado em frente à enorme porta principal do local.

Naquela manhã de segunda-feira uma cena grotesca e inusitada foi o motivo daquela confusão total. Como todos os dias, Alicia Eldemoor - a professora responsável pela matéria de avanços tecnológicos e geográficos - adentrou o edifício High mais cedo que qualquer outro funcionário ou aluno. Seu alto desempenho em preparar completamente a sala de projeção para sua aula era quase um ritual diário.

Em primeiro momento ficou completamente confusa ao encontrar a porta do local totalmente escancarada, assim como vários objetos jogados no chão dos corredores por onde andava. Seu primeiro pensamento foi ligado à um possível ato de vandalismo; levando em consideração o estado de algumas estátuas quebradas que pareciam interditar o caminho até sua sala de costume.

Esperava encontrar uma boa parte de equipamentos tecnológicos quebrados dentro da sala de projeção e vários piches nas paredes, no entanto, o horror tomou conta de seu corpo ao adentrar a sala por completo e ver o que tinha lá dentro. De fato a sala estava uma catástrofe. Cerca de noventa por cento das carteiras estavam tombadas e espalhadas de maneira bagunçada pelo ambiente; alguns computadores estavam quebrados e jogados no chão e a mesa destinada ao profissional de ensino estava rente à parede.

Todavia, não era na bagunça extrema que seu horror estava, mas sim nos dois corpos imóveis naquele chão: Elizabeth Allord e Donovan Edwards.

Estavam mortos.

— O que ele disse? - A melhor amiga de Christopher questionou para o garoto quando o mesmo se aproximou novamente de seu grupo de amigos.

— Disse que não está autorizado a dar informações e que as aulas foram canceladas. Me ajudem a avisar o pessoal aqui. - O ruivo respondeu de prontidão, iniciando seu anúncio para a grande parcela de alunos no gramado principal.

Enquanto isso, Anthony Jones acabava de estacionar seu carro de maneira desleixada no estacionamento, tendo pressa em cada ação que tomava. Não havia sido informado do que tinha acontecido ao certo, apenas de que deveria comparecer ao local o quanto antes por uma 'emergência'. Seu terno em tom marfim ainda estava meio amassado, entretanto, aquela informação era inútil naquele momento.

O sol quente dos últimos dias restantes do verão já dava as caras naquela manhã  fazendo com que a pele alva e ligeiramente suada do diretor brilhasse contra a luz. Seus passos eram rápidos e pesados em direção à porta dupla que dava acesso à quadra de vôlei, a qual também estava interditada pela fita amarela e preta. Seus olhos capturaram com clareza a imagem do oficial fardado e armado em frente à porta, fazendo-o se aproximar com mais cautela dessa vez.

— O que está acontecendo? Por que a porta está interditada? - O mais velho perguntou com certa urgência na voz, recebendo a atenção completa do outro homem.

— Não estou autorizado a dar nenhuma informação e... - Iniciou o policial como havia sido instruído a fazer, entretanto, o diretor o cortou.

— Sou o diretor e responsável por esta instituição. Tenho o direito de saber o que está acontecendo! Fui chamado até aqui! - Respondeu de prontidão, tomando o cuidado para não alterar muito o tom de voz com uma figura como aquela.

— Você é Anthony Jones? - Questionou o homem agora com a postura diferente, tomando a iniciativa de guardar a pistola semiautomática no coldre de sua cintura. O aceno rápido de cabeça do diretor foi o suficiente para que o oficial abrisse a porta atrás de si e levantasse a fita para que pudessem passar. - Me acompanhe, por favor.

Os dois adentraram a quadra de vôlei com pressa no passo, já que o oficial praticamente escoltava o diretor até a sala de projeção no corredor central. A expressão de choque no rosto de Anthony só piorava a cada passo que dava, visualizando o estrago que tinham feito nos corredores até o local em questão. Uma dúzia de policiais estava transitando por entre os corredores  inspecionando a área por completo como havia sido solicitado.

Na porta ao lado, que dava acesso à sala de aula comum, de número 67, o corpo de investigadores do caso interrogavam Alicia. A mulher de quase quarenta e cinco anos contava com detalhes cada passo que deu até aquele momento, ajudando a polícia a entender o que tinha acontecido, mesmo que, para todas as pessoas do mundo, não houvesse uma explicação plausível.

Play em Thom Yorke - Hearing Damage (pode deixar no repeat até o flashback acabar, dá uma diferença enorme para a cena)

A respiração de Anthony ficou presa na garganta quando viu o quão bagunçada a sala de projeção estava, podendo visualizar meia dúzia de funcionários da perícia e da investigação ali dentro, não deixando com que visse o problema principal logo de cara. Quando sua passagem foi autorizada pelo oficial na porta e, finalmente, se colocou para dentro da sala, ele sentiu sua alma quase sair de seu corpo como um sopro horrível.

— Oh, meu Deus! Don! - O diretor disse em um fio de voz, sentindo seus olhos marejarem com brutalidade pela cena terrível. Ignorando a presença de dois médicos legistas que examinavam toda a extensão do corpo do homem.  Anthony se aproximou apressadamente. - Donovan, meu Deus! O que aconteceu? O que fizeram com ele?

'A tear in the membrane allows the voices in'

Sentado no chão com as costas entre a parte dianteira da mesa dos professores e a parede branca, Donovan Edwards tinha seu corpo parado tanto quanto todos os órgãos dentro de si. Seu crescido cabelo castanho estava desgrenhado, tendo sua cabeça tombada para o lado de seu ombro direito. Suas pálpebras ainda se encontravam abertas (devido ao fato de que os legistas esperavam o comando principal do perito responsável pelo caso), dando a visão de seus olhos verdes - agora sem vida e completamente opacos.

— Senhor, terei de pedir para que se afaste e... - Um dos dois legistas encarregados disse com serenidade enquanto se levantava e fechava a visão de Anthony, entendendo o momento de luta do homem.

'They wanna push you off the path with their low-frequency wiring'

Antes que pudesse terminar, o grito engasgado de  puro horror por parte do diretor pôde ser ouvido na sala inteira. A imagem do corpo já sem vida de Elizabeth estirado sobre o chão frio foi o motivo de tal ato. Quando deu o primeiro passo para se aproximar da mulher, os braços fortes do médico legista agarraram seus quadris com firmeza o afastando até a parede próxima ao quadro negro.

— Elizabeth! Meu Deus, o que fizeram com ela? Meu Deus, não acredito nisso, meu Deus! Elizabeth! - As palavras pareciam atropelar sua respiração, correndo contra seu próprio pensamento lógico em tentar entender a situação caótica. - Me solta! Me deixe vê-la! Elizabeth!

— Senhor Jones, eu preciso que se acalme! Todo esse local agora é uma possível cena de crime, não podemos mexer em quase nada. - Explicou o homem pacientemente ainda agarrando o tronco do outro.

— Eu não vou encostar nela! Me deixe chegar perto, por favor... - Pediu quase sem voz, sentindo sua garganta se fechar em um nó doloroso para não chorar compulsivamente.

Em um único suspiro o oficial assentiu com a cabeça lentamente, soltando completamente a cintura do homem mais velho. Por segurança acompanhou os passos dele, ficando a alguns centímetros quando o mesmo se agachou próximo ao corpo da mulher.

— Liz... o que aconteceu? - Anthony pareceu ter pensado alto, fazendo a pergunta para si mesmo. Sua mão direita se elevou inconscientemente até a metade da distância até o rosto da mulher, no entanto, ao lembrar que não podia tocar em nada, seus olhos se fecharam com força ao puxa-la de volta para si.

'In my eyes, in my eyes.... You can do no wrong'

A pele - já alva de nascença - da modelo parecia ainda mais pálida, denunciando a falta de vida em seu corpo. Os olhos azuis estavam escondidos por detrás das pálpebras, ao contrário do que viu por parte de Donovan. Ao descer seus olhos para a extensão do tronco, franziu o cenho com espanto ao notar alguns cortes em sua camiseta preta.

Ao sentir uma lágrima escorrer por sua bochecha, o diretor fechou os olhos dolorosamente enquanto a limpava com prontidão. Nesse pequeno segundo , sua mente materializou cada memória compartilhada com os dois , em diversos momentos de sua vida. Tinha um carinho especial pela dupla de amigos, já que, além de serem parceiros de negócios em relação à instituição em que trabalhava, havia dado aula para eles enquanto ainda eram adolescentes.

As imagens nostálgicas dos adolescentes em sua sala de aula vieram acompanhadas pelo som das risadas sapecas, materializando um momento em específico em que Donovan fazia uma piada sobre geografia e seu grupo de amigos ria alegremente. A rapidez com que seu cérebro lançava todos os momentos em que os teve em sua vida, fazia com que mais uma série de lágrimas descesse com voracidade , fazendo-o limpar ainda mais.

— Senhor Jones? - A voz desconhecida o tirou do transe horrível, fazendo com que se levantasse de supetão e olhasse em direção a quem o tinha chamado. Um homem de estatura mediana completamente calvo e vestido com o uniforme do FBI, o olhava com seriedade. - Sou Kevin Foster, o perito-chefe do caso.

'A drunken salesman, your hearing damage (and you can do no wrong)'

— O que aconteceu aqui? - Refazendo a pergunta que rondava em sua mente desde que chegara ao campus, Anthony deixou o homem se aproximar, e, consequentemente, de Elizabeth.

— Ainda estamos tentando descobrir exatamente o que aconteceu, é realmente um desafio, acredite. Na sala ao lado, sua funcionária  Alicia Eldemoor , está dando o depoimento de tudo o que viu e ouviu quando chegou aqui pela manhã. Ela quem os encontrou. - Explicou Kevin, observando as expressões compenetradas do outro sobre si. - A verdade é que tudo aqui pende para um lado, mas não há provas sobre este lado.

— O que quer dizer com isso? - Questionou com confusão, evitando agora de olhar para o lado direito; evitando olhar para Elizabeth.

Um meio suspiro saiu pelas narinas do perito criminal antes de ele se afastar por completo de Anthony e se colocar no meio exato da sala, posicionando-se de forma amistosa para que pudesse gesticular e apontar para o que precisasse.

— Os primeiros exames nos corpos mostram que a morte foi recente, provavelmente entre as duas e quatro da manhã. Isso significa que era noite, madrugada para ser exato, e, pelo o que a senhorita Eldemoor nos contou, as luzes no corredor até aqui não estavam acesas quando ela adentrou o edifício. - O homem gesticulava rapidamente enquanto falava, criando um raciocínio próprio para que o diretor compreendesse toda a narrativa. - Imagine, então, que por volta das duas da manhã, em uma escuridão completa, você e sua melhor amiga entram aqui dentro, por qualquer motivo que seja. Pela falta de visão, vocês derrubam várias coisas no caminho, dificultando a passagem.

'But you don't feel any better (in my eyes, in my eyes)'

— Eles estavam bêbados? - Questionou novamente, fazendo as anotações mentais enquanto imaginava a cena criada pelo perito.

— O exame toxicológico ainda não está pronto, mas temo que não; llevando em consideração alguns sinais nos corpos o que dificulta ainda mais nossa dedução. Continuando... vocês entram aqui dentro e ligam as luzes, também de acordo com a senhorita Eldemoor, que encontrou as luzes da sala ligadas. O estado em que a sala foi encontrada dá indício à duas coisas. - O calvo levantou o dedo indicador da mão direita enquanto movimentava a mão esquerda aberta em círculos para a extensão de onde ficavam as carteiras enfileiradas. - Número um: eles brigaram. Houve um desentendimento feio entre ambos e uma briga física aconteceu, fazendo com que tentassem ou usar as carteiras como armas, ou se empurraram o suficiente para que esbarrassem em várias delas e tombassem por completo.

— Eles não brigaram, não tem a mínima possibilidade de terem cometido homicídio um contra o outro! Eram melhores amigos, Foster, quase irmãos! - Exclamou o diretor com urgência na fala, evidenciando o óbvio para si.

Em sua mente, a possibilidade daquilo ter acontecido era nula. Sabia muito bem como Donovan e Elizabeth eram quase uma só pessoa. Bom, pelo menos era assim que se lembrava deles alguns anos antes...

— Pensamos no mesmo, e, bom, partimos para a segunda opção: alguém os matou. Isso explicaria a forma bruta como os objetos no corredor foram jogados  como se tentassem impedir ou atrasar alguém de ir atrás deles. Ao entrar na sala, eles usaram as carteiras para barrar a porta contra seus agressores, mas eles conseguem entrar. E quando eu digo 'agressores', quero dizer que não há a mínima possibilidade, se esse for o caso, de ter sido apenas uma pessoa a cometer o crime. Porém, há uma ressalva. - O homem andou em passos rápidos até a porta da sala, fechando-a por completo e passando a mão direita pelo material de madeira maciça. - A madeira é consistente e, se fosse trancada por dentro, seria quase impossível de arrombar. Outro ponto é que as carteiras são feitas de ferro, e, se forem colocadas com muita pressão contra este material, causaria marcações e riscos; e, como pode ver, não há nenhuma marcação ou risco em toda a extensão, tampouco uma rachadura.

— E o que você supõe então? - Anthony questionou desconsertado com a situação, não entendendo o ponto que o outro queria chegar. - Não há provas?

— É exatamente aí onde quero chegar. Chegue mais perto, irei lhe mostrar. - Kevin argumentou enquanto dava passos certeiros para perto do corpo de Elizabeth, se agachando na lateral esquerda. Com a aproximação rápida do diretor, que também se agachou para prestar total atenção, dessa vez do lado direito, o oficial se colocou à explicar. - Percebe como a camiseta está rasgada e furada em diversas partes do tórax e do abdômen? Fizemos alguns testes, e, pelo diâmetro do corte e da profundidade que fez no tecido com brutalidade, o objeto cortante é positivo para faca. Porém, se você olhar por baixo... - Ele elevou a mão direita, coberta pela luva de silicone, até o tecido macio usado pela mulher, afastando o material para o lado para que pudessem visualizar sua pele nua por baixo da peça.

Com a ação sútil e bem demonstrada do oficial, Anthony conseguiu visualizar a pele com clareza. Sua expressão de confusão só piorou ao notar que não haviam cortes no local, nem um arranhão sequer; entretanto, a camiseta ainda estava manchada e fedendo a sangue, o que se contradizia completamente com a sua visão.

— A camiseta está suja com sangue, os cortes no tecido evidenciam que houve um golpe de faca, porém, como pode notar, não há uma marca sequer. Não há ferimentos; cortes,  cicatrizes, arranhões, ou marcas de luta. É como se ela tivesse vestido uma blusa repleta de cortes e sangue, e, de repente, morrido por causas naturais. - Evidenciou o perito tendo seu olhar perdido entre as brechas da camiseta da mulher, buscando de qualquer forma uma explicação para o que ele mesmo dizia. - Estamos procurando por alguma faca em todo o perímetro, mas ainda não encontramos nada.

'Your speakers are blowing, your ears are wrecking (and you can do no wrong)'

— Não entendo onde quer chegar; não sei o que quer me fazer entender. O que a matou? - O diretor indagou ainda mais confuso, tirando os olhos do rosto pálido e sem vida de Elizabeth e os colocando no homem ao seu lado.

— Esse é o problema, senhor Jones. Nós não sabemos. Donovan tem os mesmos cortes brutos em sua vestimenta, e, para a nossa surpresa, a dele está em um estado pior que a dela, totalmente deplorável. É como se tivessem morrido enquanto dormiam. Os órgãos vitais estão em perfeito estado, apesar de não funcionarem mais. Não há perfurações em qualquer lugar do corpo, tampouco uma marca que evidenciasse uma possível prova de homicídio. - O perito continuava a explicar com sua voz quase robótica, ainda mantendo sua mente presa em alguma explicação plausível para o caso. Era inexplicável. - Sinceramente; em meus vinte e oito anos de carreira nunca vi algo  parecido com isso. É surreal.

'In my eyes, in my eyes... You can do no wrong'

O homem de terno marfim piscou lentamente para a fala do outro, ainda sem acreditar no que acontecia no momento. O suor em sua testa descia com abundância àquela altura, o que o fez levar o pulso coberto pela peça de roupa até a região e limpar. Uma crise de ansiedade parecia chegar a qualquer momento para si, fazendo-o se levantar novamente e controlar a respiração.

Demorou a perceber que tremia violentamente em suas extremidades, evidenciando o pânico que sentia. Não sabia o que fazer; não sabia para quem ligar; não sabia o que pensar. Sua mente parecia sobrevoar em uma linha tênue entre o tudo e o nada, deixando à mostra cada ponto terrível que aquela situação causava em si.

— A área precisará ficar interditada por pelo menos dois dias  já que faremos todas as investigações necessárias aqui dentro. Se aconteceu um homicídio, iremos descobrir. Isso é uma promessa, senhor Jones. - Entendendo o momento horrível que o homem passava e querendo demonstrar força e fidelidade, o oficial proferiu tais palavras com um quê de confiança, também se levantando e caminhando para perto do mesmo.

Um outro agente do FBI adentrou a sala, carregando consigo uma pilha de folhas na mão direita e um copo de café na esquerda. Seu cabelo bem cortado e a barba bem feita enganavam a idade que tinha. Ainda que bem afeiçoado, sua seriedade poderia ser vista de longe ao se aproximar dos dois homens que anteriormente conversavam.

— Foster, o Kagan está precisando de você na sala ao lado. Parece que a mulher está passando mal ou algo assim, não consegue se lembrar direito das coisas e está trocando as histórias. - O homem disse com a voz um tanto mais grossa que o comum, recebendo um aceno em concordância do parceiro de profissão que logo se retirou da sala. Com um gole bem dado no café ainda quente, os olhos castanhos astutos se direcionaram para o diretor. - Senhor Jones, meu nome é Howard Fisher. Sou o agente principal do caso, estarei em cada passo do que ocorrer daqui em diante. Podemos conversar por um momento? Sei que era próximo das vítimas e suas palavras podem ajudar.

— Claro. Eu só... - O diretor suspirou fundo, se arrependendo logo em seguida após sentir o cheiro horrível de sangue que estava infestado no local. - Quero que deixe o caso em sigilo absoluto. Não sei o que aconteceu, mas não quero que a mídia faça disso um espetáculo.

— Claro, sem problemas, mas não acho que a mídia esteja muito interessada nisso agora... - Declarou o agente com um meio sorriso desdenhoso, virando novamente o copo de café em seus lábios para que pudesse sorver o líquido escuro.

Levado pela confusão e pela mistura de sensações que sentia no momento, uma súbita raiva subiu pelo corpo do diretor após ouvir aquilo. Sua dedução nua e crua sussurrou para si que o agente não acreditava que aquele caso tinha relevância, o que o deixou fora de si. Sem conseguir conter a si mesmo, sua mão direita agarrou o colete à prova de balas com a sigla do FBI, o trazendo ainda mais para perto.

— Eu não o conheço, 'agente Fisher', mas tenho certeza que conhece as duas vítimas de seu caso. Não estamos lidando com pessoas comuns. A maior modelo da última década está morta, assim como o ex governador da Califórnia, que, inclusive, era o atual senador do estado. - A voz do diretor era tão ardilosa quanto raivosa, ainda que falasse baixo e com educação. A força empregada no aperto do colete era mediana, apenas o suficiente para intimidar o oficial. - Estamos falando de estrelas. Como você acha que a mídia não está interessada nisso?!

— Sugiro que me largue agora  antes que eu te prenda por desacato à autoridade. Sei que está conturbado pela situação, mas não tolerarei algo assim. - O homem proferiu com mais seriedade que antes, afastando completamente a mão do outro de seu colete. - Eu sei exatamente quem são e que são dois grandes personagens do nosso país, mas quando digo que a mídia americana não está interessada nisso agora, quero dizer que há algo muito maior e pior acontecendo.

— O que quer dizer com isso? - Indagou o de terno, dessa vez confuso com o que o outro dizia.

— Já viu as notícias de hoje, senhor Jones? - O tom do agente voltou à formalidade usual, apesar de ainda parecer sério.

— Não, eu fui acordado com a ligação da polícia e vim direto para cá. - Explicou Anthony, recebendo um aceno em concordância do homem que tomou a iniciativa de agarrar o controle remoto em uma das carteiras em pé para, logo em seguida, ligar a televisão acima do quadro negro.

Sem precisar dizer com suas próprias palavras o que estava acontecendo de tão grave, o agente apenas aumentou o volume da televisão o suficiente para ser ouvido por todos. Sabendo que qualquer canal que colocasse estaria passando a mesma coisa, se contentou com a NBC. Anthony se aproximou quase que inconscientemente da tela do aparelho, mantendo sua visão focada na apresentadora âncora que aparecia ali.

'— ...no dia de hoje. Diretamente de Nova York, a nossa repórter Amanda Johnson conta com detalhes em frente à matriz do banco. - A mulher loira dizia com a voz séria e levemente desesperada, logo tendo sua imagem dividida com a da repórter que vestia uma capa de chuva e segurava um guarda-chuva com a mão esquerda enquanto a outra estava ocupada com o microfone. - Amanda, bom dia! Há alguma atualização?

— Bom dia, Ellen, e bom dia para todos os telespectadores da NBC. Há algumas atualizações e elas não são nada boas. - A mulher dizia um tanto quanto alto contra o microfone, visto que a chuva grossa quase engolia sua voz, e, para piorar, mais uma centena de pessoas e repórteres estavam à sua volta. - A nossa equipe está aqui na frente do Lehman Brothers desde a notícia do pedido de falência, e, nesse meio tempo, mais de três centenas de funcionários foram vistos saindo do prédio com os pertences em mãos. Até agora, o número oficial de desempregados pela empresa é de três mil e setecentos, mas a tendência é que esse número suba até próximo aos dez mil, já que era aproximadamente essa a quantidade de funcionários.

A câmera tirou o foco da mulher e se direcionou para o fundo da paisagem, destacando a entrada do banco da Lehman Brothers. Em poucos segundos mais de uma dezena de pessoas saíam do prédio com caixas nas mãos. O choro compulsivo dos funcionários despedidos podia ser ouvido de longe mesmo que a chuva torrencial tentasse atrapalhar aquele detalhe.

— Henry foi o único dos três irmãos a conceder entrevista para a mídia. De acordo com ele, a equipe do banco ainda está fazendo as contas finais do prejuízo que os levou à falência, porém, em sua dedução, este número pode chegar a um bilhão de dólares. Ainda em suas palavras afirma que estes números já vinham caindo desde a crise das subprimes, entretanto, nesta manhã, um rombo enorme e desconhecido simplesmente acabou com qualquer chance de uma reestruturação. - O contraste da voz quase desesperada junto à chuva e a imagem terrível que se passava era o combo perfeito para a notícia tenebrosa.'

Anthony tinha a boca e os olhos completamente abertos, escandalizado com o que assistia. Seu sangue pareceu ter parado de circular em seu corpo, o deixando mais frio que o normal. Sentia um início de desmaio o acometer, o que o fez cambalear levemente para trás. Antes que o agente pudesse lhe oferecer ajuda, a mão do homem agarrou o controle remoto e o trouxe para si querendo colocar em outro canal com rapidez.

— Não adianta mudar de canal, está em todos os telejornais. - Avisou Howard, porém não foi o suficiente para parar o outro.

O diretor pressionou a tecla de mudar para o próximo canal, sendo ele a CBS. Para seu espanto, o mesmo assunto se passava ali tendo apenas uma mudança de apresentadores e repórteres. O homem de cabelos grisalhos e terno tinha a expressão séria enquanto apresentava a notícia terrível, evidenciando o que mais temiam: uma crise econômica.

'— Na manhã desta segunda-feira, o Lehman Brothers, o maior e mais conceituado banco dos Estados Unidos, declarou falência. Com isso, uma queda de mais de noventa e três vírgula quatro por cento foi detectada na bolsa de valores, apresentando um rombo na economia. Como a empresa era especializada no ramo imobiliário, todas as aquisições dos investidores foram basicamente perdidas. A conta dos prejuízos só sobem, e, neste momento, já passa da casa dos trezentos milhões de dólares. - O homem de meia idade tinha a voz séria; era possível ver em sua linguagem corporal a quantidade de desespero que se passava dentro de si. - A inflação desenfreou ainda nesta manhã subindo terríveis treze por cento. O governo federal já tem em mente que isso pode virar uma das maiores crises econômicas da história, perdendo apenas para a crise de vinte e nove.

O silêncio no estúdio da CBS era quase ensurdecedor tendo apenas a voz do homem na transmissão. O suor pareceu tomar conta do pescoço do apresentador, fazendo-o esfregar a mão na região para limpar. Era óbvia a sua ansiedade, demonstrando o que cada estadunidense sentia naquele momento.

— Vamos agora com a nossa correspondente, Agatha Hallew, diretamente da entrada do prédio do Lehman Brothers. - A imagem do homem dividiu espaço com a da repórter que também vestia uma capa transparente de chuva, estando debaixo de uma árvore, um tanto mais afastada da multidão em frente ao prédio. - Agatha, alguma notícia boa?

— Bom, Martin, infelizmente não. O clima aqui é de enterro e tristeza, e as coisas só parecem piorar. A lista de desempregados só cresce a cada minuto, e o que mais se vê aqui são os ex-funcionários saindo da sede. A chuva terrível que cai aqui não parece incomodá-los, visto que choram muito. Emanuel e Mayer estão desaparecidos até então, e, muito provavelmente, não concederão entrevistas. - O áudio parecia pipocar pela chuva torrencial, fazendo com que a mulher totalmente encharcada falasse mais alto. - Ainda nesta manhã o dólar desvalorizou em nove vírgula sete por cento, e este valor pode aumentar ainda mais ainda nos próximos dias. O Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, marcou uma reunião de urgência com os investidores do banco e com o governo federal. Aparentemente, o fundo monetário de emergência não cobre nem trinta por cento do valor perdido pelo banco, já que as casas anteriormente vendidas e creditadas não serão recuperadas. Além disso, se esta situação não entrar nos eixos ainda esse ano, estaremos frente à frente da maior crise econômica da história desde mil novecentos e vinte e nove.'

A expressão de indignação só crescia no rosto de Anthony, esse que agora passava os canais com velocidade. Não importava para qual fosse assistir, toda a rede televisiva noticiava a mesma coisa: a crise de 2007-2008. A imagem do centro de Nova York em total desespero, transmitida pela Fox, deixava nítido o pânico que o país estava no momento.

Era fatal.

— Meu Deus, o que está acontecendo? - Anthony pareceu pensar em voz alta, perguntando para si mesmo em um fio de voz.

Naquele mesmo momento, próximo dali, em uma certa entrada secreta no chão da sala de equipamentos das CashCats, Zagonis encarava as duas facas - agora limpas de sangue - posicionadas em cima do pano verde escuro no altar. Sabia que com a morte de seus dois únicos discípulos não tinha muito tempo para ficar ali.

Seu ódio era quase palpável.

Não acreditava que Elizabeth tinha, de fato, cometido homicídio contra Donovan. A briga dos dois foi tão absurda e brutal que apesar de ela tê-lo matado primeiro, os cortes em toda a extensão de seu torso a levaram a óbito. A divindade sempre zelou pela fidelidade e irmandade, principalmente se tratando de seus discípulos. Tinha visto, sim, que a forma como Donovan levava suas oferendas à ele incomodava (e muito) Elizabeth, entretanto, nunca pensou que chegaria nesse ponto.

Com a morte dos dois, o pacto estava oficialmente extinto. Por um tempo, óbvio. Até que um outro discípulo chegasse até ali. O país inteiro dependia de maneira totalmente desconhecida e sigilosa, da vida dos dois. Sem um Original não existia basicamente nada. O capitalismo desenfreado, que transformava os Estados Unidos em uma nação de primeiro mundo e uma potência mundial, não existia.

Furioso por além de ter perdido os dois Originais, o fato de ter sido de uma forma tão bruta e fora de suas próprias éticas, fez com que resolvesse acelerar totalmente o processo de queda do país. Faria o país cair em uma crise histórica, e, decepcionado com a cidade em que fizera o pacto com Leland, muitos e muitos anos antes, deixaria a cidade de Palo Alto apodrecer na miséria.

Não sabia se chegaria a ter outros discípulos naquele lugar, tampouco se seriam tão fiéis e corajosos quanto os três anteriores foram. Com medo de que acontecesse a mesma coisa que fez com que Elizabeth matasse Donovan ou qualquer outro motivo que levasse à morte de um de seus futuros discípulos, Zagonis utilizou seus últimos minutos na dimensão terráquea para escrever uma nova regra no livro sagrado.

Dessa vez se certificaria que caso tivesse mais de um discípulo, um não conseguisse matar o outro com a faca do pacto.

Após deixar a tinta preta marcada com as palavras em grego no livro, se direcionou pela última vez até o altar com as facas, acariciando-as com certa angústia. Sentiria falta de receber mais de cinco oferendas por mês, apenas por parte de Donovan. Em um piscar de olhos, os objetos endiabrados sumiram junto consigo, viajando para outra realidade que desejava estar.

Deixando para trás uma bola de neve de confusões que colocaria o país em alerta vermelho."

                                          ✯♕

Dias atuais - Palo Alto, Califórnia

O resto da semana passou mais arrastado que o comum para grande parte dos alunos, menos, é claro, para os quatro Originais. O luto pelo "suicídio" de Tatum ainda era o ponto mais forte de todos os dias parecendo ter sugado a felicidade de grande parte do lugar. Apesar disso, os treinos seguiram normalmente após o dia em que as aulas foram suspensas, já que, além das CashCats terem entrado no mês mais agitado antes do NUC, os Lions teriam um grande jogo no fim de semana.

Dentre todas as pessoas da Pangeia, a que menos tinha envolvimento (na realidade, nenhum envolvimento) com o garoto morto era Lauren. Seus dias passaram com uma normalidade sem igual; inclusive, sua maior preocupação na semana inteira, além dos treinos cada vez mais cansativos, era o convite feito por Camila sobre viajar para São Francisco.

Viajar com ela; assistir ao seu desfile de pertinho; estar na presença dela; dormir com ela; acordar com ela. Era somente isso que se passava em sua cabeça nos últimos cinco dias.

Convencer seus pais não havia sido uma tarefa fácil, no entanto, após uma longa conversa sobre cuidados essenciais e depois que descobriram com quem ela iria viajar, ouvir o "tudo bem, você pode ir" de sua mãe nunca foi tão satisfatório. Nesse meio tempo a troca de mensagens de texto entre as duas se tornou quase habitual, mesmo que Camila sempre estivesse um tanto quanto ocupada.

Sempre achava um tempo para Lauren. Gostava muito de sua companhia, sendo ela via internet ou pessoalmente.

Sua ansiedade quase gritava na noite de sexta-feira, fazendo-a dormir mais tarde que o usual. Mesmo que tivesse colocado o despertador para às sete da manhã, levando em consideração que Camila havia avisado que estaria em frente à sua porta às oito em ponto, seu corpo despertou sozinho trinta minutos antes do horário marcado no celular. A excitação era tão grande que precisou tomar um banho longo e relaxante, aproveitando para lavar os cabelos para que ficassem mais cheirosos quando a garota chegasse.

Na noite de quinta-feira, em um momento específico da troca de mensagens entre as duas, na plataforma da Hybris, Camila avisou com cuidado sobre o que Lauren deveria levar para vestir. Não necessitava de algo tão formal, tampouco feio ou casual demais, portanto, apenas disse para a neojersiana ser autêntica na escolha de seu traje para se sentar na primeira fileira da passarela. Quanto às outras roupas, deixou completamente à mercê da mesma, visto que voltariam ao entardecer do domingo.

Não que isso fizesse tanta diferença na cabeça da estadunidense, já que  naquele momento, mais de cinco conjuntos de roupa diferentes estavam bem dobrados dentro da mala roxa que usaria. Sempre usou o ditado "melhor prevenir do que remediar" como lema pessoal, e era isso que estava fazendo. Contudo, um pedido inusitado por parte da cubana foi o que a deixou fora de si.

"Não esqueça de levar um biquíni, tenho alguns planos em mente." Era o que dizia a mensagem enviada por Camila após os avisos sobre as vestes, deixando Lauren em um estado quase desesperado.

Ainda que fosse cedo, o sol já castigava do lado de fora de sua janela quando saiu de toalha do banheiro. Os raios solares invadiam as brechas de sua cortina meio aberta de forma bonita, iluminando o quarto o suficiente para que ela se trocasse com calma e atenção. Um short preto e curto acompanhado de uma camiseta branca básica foi o escolhido por ela, junto ao novo par de Air Forces brancos que ganhara de seu pai como presente por ter passado no teste para a equipe de torcida.

Seus olhos checavam as horas a cada cinco minutos enquanto secava seus longos e ondulados cabelos pretos. Sua pele pálida parecia reluzir contra a luz do sol, evidenciando a harmonia de todo o look que tinha escolhido. Preferiu passar o básico da maquiagem focando bastante na pele. Um gloss rosa e brilhante fechou sua obra de arte com chave de ouro contrastando perfeitamente com os cílios recheados de rímel, deixando seu olhar mais voraz que o comum.

Perto das sete e quarenta Lauren terminou de colocar o celular e todos os pertences em sua pequena bolsa preta, colocando-a em seu ombro direito. Carregou a mala com cuidado para fora de seu quarto, seguindo em direção às escadas. Ao chegar no primeiro andar conseguiu ter a visão de seu pai na cozinha, percebendo que o mesmo tomava seu café da manhã tranquilamente enquanto lia algo em seu celular.

— Bom dia, meu raio de sol! Você está linda. - Michael disse ao ver a garota se aproximar da bancada aonde estava sentado, tendo um sorriso enorme no rosto enquanto a olhava.

— Bom dia, papai, e obrigada. Cadê a mamãe? - A neojersiana franziu o cenho ao vasculhar as áreas mais próximas de onde estavam procurando a presença da mais velha da casa.

— Saiu mais cedo, teve um cliente novo para atender em uma rua próxima daqui. - Respondeu o homem com tranquilidade, tomando um tempo para bebericar em sua xícara recheada de café. - Não vai comer antes de sair, filhota? Pode passar mal na viagem.

— Pai, são quarenta minutos de carro até lá. Eu não estou com fome, e, além do mais, já escovei os dentes. - Deu de ombros para o outro  recebendo um aceno em concordância.

O homem pareceu ter se recordado de algo por um momento, fazendo-o se levantar de supetão do banquinho e andar apressado até seu paletó preto; este que estava jogado no braço do sofá, na sala de estar. Sem entender, Lauren apenas o acompanhou com o olhar confuso, e, então, após alguns segundos, Michael se aproximou novamente, segurando sua carteira em mãos.

— Tome, compre o que quiser lá. Acha que é suficiente? - O mais velho estendeu duas notas de cem dólares na direção da garota.

— Pai, não precisa... Mesmo que eu queira comprar algo, não acho que a Camila me deixará gastar nem um centavo sequer. - Lauren riu de leve, empurrando com leveza a mão de seu pai para que guardasse o dinheiro em sua carteira.

— Não, meu amor, leva. Compra alguma coisinha que você goste. - Sem esperar pela aceitação da garota, tomou a iniciativa de puxar a bolsa preta para si e enfiar as duas cédulas lá dentro. - Já sabem em que hotel vão dormir? Onde será o desfile?

— Camila fez reserva no Four Seasons. Ainda não faço ideia de onde será o desfile, mas deve ser perto, sei lá. - Deu novamente de ombros, pensando por alguns instantes sobre a possibilidade do desfile ser longe do hotel.

— Me ligue assim que chegar lá, ok? Se precisar de algo, você já sabe... - Michael disse com carinho, aproveitando para dar um beijo rápido na testa da garota. - A que horas ela disse que chegaria?

— Ahm... às oito, não sei se ela se atrasou ou... - Lauren disse meio incerta, tomando o momento para pegar seu celular e checar as horas. Marcava exatamente oito em ponto quando o barulho alto da buzina do lado de fora da casa a fez sorrir de leve. - Acho que é ela.

— Eu te acompanho, querida, vamos. - Seu pai disse com um sorriso simples nos lábios, tomando a iniciativa de segurar na alça da mala e levá-la consigo até a entrada.

Ao abrir a porta, o sol quase cegou a garota dos olhos verdes, que precisou semicerra-los assim que passou pela batente. Seu coração pareceu chegar em 100km/h em dois segundos ao notar a aproximação de Camila até a pequena escada que dava acesso à entrada de sua casa. Mesmo que ela ainda estivesse a cerca de cinco passos de si, o cheiro forte de seu perfume usual entrou em contato com seu olfato com brutalidade, a fazendo fechar os olhos para desfrutar da fragrância gostosa.

Quando os abriu novamente, teve a chance de fiscalizar com cuidado todo o corpo da modelo. Por pura coincidência, as cores neutras prevaleciam no look das duas, em especial o de Camila, tendo um padrão totalmente monocromático, de cor branca. A camiseta bem ajustada em seu tronco só tinha o pequeno símbolo preto da Adidas como estampa; do lado esquerdo de seu peito. O short branco se assemelhava bastante ao de Lauren, no entanto, tinha sua barra desfiada.

Percebendo que estava encarando quase que fixamente as coxas definidas da modelo, a estadunidense desceu o olhar outra vez, notando o lindo par do Yeezy Boost 250 V2, também em um tom de branco quase cegante. Ao subir seu olhar para o rosto bem desenhado da garota quase desfaleceu ao vê-la utilizar um RayBan Aviator que cobria seus olhos castanhos. Os cabelos levemente ondulados balançavam conforme ela andava parecendo estar em câmera lenta para si.

Em sua concepção, Camila tinha sido desenhada à mão.

— Oi, Lauren! - Desejou a cubana com a voz usualmente amena e controlada, sorrindo amplamente para a garota enquanto estacionava seu corpo a um passo da mesma.

— Oi, Camila! - Respondeu a estadunidense após umedecer os lábios com a ponta da língua, tomando a iniciativa de dar um passo à frente e abraçá-la.

Seus braços circundaram o pescoço da garota sendo contribuída de imediato ao sentir os dela abraçarem sua cintura com carinho. A fragrância de seu perfume era mais intensa por estar a cinco centímetros de tocar com seu nariz no pescoço da mesma, o que fez com que Lauren fungasse baixinho para sentir ainda mais do seu cheiro preferido no mundo.

Quase contra sua vontade, Camila se separou do aperto gostoso, dessa vez com um sorriso maior que antes. Querendo manter sua educação e seus modos presentes, subiu os óculos até seus cabelos para que pudesse olhar para o homem ao lado da garota de forma mais respeitosa. Conseguiu notar uma boa semelhança entre os traços de Lauren e de seu pai logo de cara.

— Olá, senhor Jauregui, sou Camila Cabello-Swoord. É um prazer conhecê-lo! - Estendeu sua mão direita com rapidez na direção do homem, recebendo um aperto firme do mesmo logo em seguida.

— O prazer é meu, senhorita Swoord! Não posso mentir e dizer que não te conheço. Já te vi várias vezes na empresa e você guarda o sobrenome dos Swoord. Você é filha de Alejandro, não é? - Indagou para a garota com curiosidade e respeito na voz, recebendo um aceno em concordância.

— Sim, eu sou. Lauren comentou comigo que trabalha na minha empresa, fiquei chocada pela coincidência. - Exclamou a modelo com certo entusiasmo na voz, se sentindo leve pelo momento.

— Bom, então eu ach... - Michael iniciou entre uma risada curta, porém, antes que pudesse continuar a frase, um grito entusiasmado de sua filha o fez pular no lugar.

— Oh, meu Deus! Camila, você tem uma Veneno Roadster?! - Lauren disse com a voz em um tom mais agudo que o normal, nem sequer esperando por uma resposta antes de praticamente saltitar por seu jardim e olhar o veículo mais de perto. - Caralho! Olha essa máquina! Pai, olha isso!

Camila franziu o cenho com dúvida pela reação totalmente inusitada de Lauren com seu carro, acompanhando o homem até onde a garota estava. A estadunidense parecia uma criança em frente à uma vitrine de brinquedos circulando o carro com a visão totalmente focada em cada detalhe da Lamborghini. Não conseguindo conter a si mesma, passava a mão na pintura bem feita sentindo a textura da tinta preta fosca que a lataria tinha quase por completo.

Por ser um conversível, a visão de dentro do veículo era nítida para quem olhasse. Os bancos eram de um tom de verde escuro bonito, assim como vários detalhes do pára-choque traseiro e dianteiro. Todos os detalhes - até mesmo o aerofólio - eram em um carbono fosco combinando com a pintura original. Uma única listra verde escura se estendia na lateral do carro seguindo o padrão dos bancos e da parte traseira.

Uma máquina em quatro rodas, completamente.

— Ahm... sim?! Você gosta de carros? - Camila questionou com incerteza, achando graça na reação totalmente espontânea da neojersiana.

— Muito! Eu evitei surtar antes com você a cada Lamborghini que você tinha, mas isso aqui... é o carro dos meus sonhos! - Exclamou a garota ainda com a voz mais aguda e entusiasmada, observando agora a frente do veículo. - V12 aspirado, setecentos e cinquenta cavalos com tração integral, e, esse body kit?!

— É um belo carro, Camila. Meus parabéns. - Michael disse ao inspecionar o carro, recebendo um sorriso de agradecimento por parte da modelo.

— Você sabia que só existem nove dessas no mundo inteiro? - Lauren questionou ao saltitar para perto da cubana, tendo um sorriso mais aberto que nunca.

— Sei, sim. Essa é a terceira. - Respondeu a cubana com o mesmo sorriso no rosto, sentindo seu coração se aquecer quando notou a outra quase fechar os olhos ao soltar mais um gritinho entusiasmado.

Poucas coisas no mundo a deixaram tão rendida quanto ver a felicidade de Lauren com algo tão comum para si.

— Podemos ir logo?! Eu quero muito entrar e... - Se lembrando com quem estava falando, Lauren diminuiu parcialmente o entusiasmo quase infantil em sua fala, pigarreando logo em seguida ao colocar seu olhar no rosto da garota. - É um carro bem legal.

A risada da modelo fez com que a neojersiana sentisse suas bochechas arderem em vergonha como nunca, se sentindo uma idiota por alguns instantes. Seu pai sorria abertamente para a interação das duas, ainda segurando a alça de sua mala com cuidado.

— Você é uma graça, Lauren, acredite. Podemos ir, sim. - Camila disse após cessar as risadas sobre a situação, colocando novamente um sorriso feliz nos lábios ao encará-la.

— Ahm... mas a Roadster não tem porta-malas... onde vou colocar a mala? - Lauren questionou com dúvida na voz ao inspecionar o veículo novamente, notando que, de fato, não havia porta-malas, tampouco quatro portas.

— Oh, claro. A sua mala irá junto com as minhas no carro dos meus seguranças pessoais. - A modelo apontou com o queixo para a Lamborghini Urus, anteriormente utilizada até mesmo por Lauren, estacionada alguns metros atrás de onde seu próprio carro estava. - Se estiver pronta...

— Claro! Vamos! Eu levo a mala até lá. - A neojersiana disse ao notar a aproximação de Camila para ajudá-la, ainda controlando o entusiasmo na voz. Quando voltou seu olhar para seu pai não perdeu tempo em abraçá-lo com força antes de pegar a alça que o homem antes segurava. - Tchau, pai.

— Vai com Deus, meu raio de sol! Papai te ama, ok? - O homem disse com um sorriso contido nos lábios, sentindo uma palpitação no coração por deixar sua filha viajar completamente sozinha e sem supervisão pela primeira vez.

As bochechas da garota novamente arderam em vergonha por ter sido chamada por aquele apelido na frente de Camila, fazendo-a virar as costas e praticamente correr com a mala até o carro, estacionado um pouco mais para trás. Com a presença da garota mais longe de onde estavam, a modelo novamente se colocou na frente do homem de cabelos quase grisalhos.

— Como eu dizia antes, é um prazer conhecer a minha chefe! - Michael proferiu com uma risada curta sendo acompanhada pela adolescente.

— Ah, que isso, não me veja assim. De qualquer maneira, é um prazer conhecer o senhor! - Como fez na entrada da casa, novamente estendeu a mão na direção do homem recebendo um novo aperto firme alguns instantes depois.

— Cuide bem da minha filha, senhorita Swoord. - Apesar de respeitoso e educado, o tom implícito de preocupação e seriedade não passou despercebido por Camila.

Não se preocupe, cuidarei dela com minha própria vida, se necessário. - O tom sério fez com que Michael sorrisse internamente, assentindo com a cabeça para a declaração honrosa da garota.

Quando Lauren se aproximou novamente, apenas acenou para seu pai ao seguir direto para a porta do passageiro da Veneno Roadster. Sua excitação quase excedeu todos os limites terráqueos quando viu a porta abrir para cima, soltando fogos de artifício dentro de si enquanto adentrava o veículo por completo.

Se sentia em uma nave espacial.

— Pronta? - Camila questionou com o olhar semicerrado, terminando de ajustar e afivelar seu próprio cinto de segurança. Sorriu de maneira graciosa ao receber um aceno animado da estadunidense, fazendo-a rir nasalmente enquanto girava a chave na ignição e sentir a potência do motor. - Coloca o cinto.

— Você vai correr? - Questionando a mesma coisa que pensava quando ouvia aquela frase, Lauren sentiu um frio no estômago ao notar que, daquela vez, a expressão da garota não se fechou por completo.

Pelo contrário, Camila apenas sorriu de lado como se concordasse.

— Coloca o cinto, Jauregui. - Repetiu a modelo de uma forma mais pausada, tendo o mesmo sorriso presunçoso de canto.

Obedecendo o que havia sido solicitado, Lauren afivelou o cinto de segurança logo em seguida, acenando para seu pai uma última vez antes do carro começar a andar. A potência do motor era tão bruta que o barulho da aceleração fazia todos os pelos do corpo da neojersiana se arrepiarem. Mesmo que estivesse curiosa em olhar cada detalhe no longo painel de controle a poucos centímetros de si, sua atenção parecia grudada na cena de Camila dirigindo ao seu lado.

— Você dormiu bem? - A cubana quebrou o silêncio confortável após alguns minutos olhando de soslaio para a garota enquanto fazia a primeira curva para fora do bairro onde a outra morava.

— Sim, e você? - Mentiu a estadunidense na cara dura, não querendo dizer para ela que quase não tinha dormido, tamanha era sua ansiedade para o dia seguinte.

— Sim. Quer escolher a música? - Ofereceu com a voz calma, direcionando sua mão direita até a tela multifuncional do painel enquanto mantinha a outra no volante.

Com um aceno rápido em concordância, a estadunidense tomou a iniciativa de deslizar o dedo indicador esquerdo pela tela antes tocada por Camila, vasculhando cada música contida ali com o olhar atento. Na faixa das mais tocadas, encontrava mais música indie e pop-eletrônica que qualquer outra coisa, o que a deixou levemente surpresa.

— Qual o seu cantor ou cantora favorita? - Indagou para a modelo com curiosidade, ainda deslizando o dedo sobre a tela.

— Hm, depende. Gosto de vários estilos de música, mas se fosse para escolher um só, acho que... - A modelo arrastou o final da frase sem uma resposta na ponta da língua, semicerrando os olhos de maneira pensativa enquanto trocava a marcha para a terceira. - Arctic Monkeys, e o seu?

— Você não tem muita cara de quem gosta de música indie. - A estadunidense observou com uma risadinha curta, ainda tentando escolher uma música entre as diversas faixas disponíveis ali. - O meu é Coldplay.

— E eu tenho cara de quem gosta do quê? - Camila questionou com curiosidade ultrapassando um caminhão de mudanças com maestria antes de virar à direita, seguindo o caminho para fora da cidade.

"Com essa sua cara de patricinha? Taylor Swift!" O cérebro de Lauren gritou em ironia, a fazendo prender a risada pelo pensamento indevido. Ouvindo o resquício de risada por parte da outra, a modelo girou a cabeça o suficiente para olhar em direção à ela, observando suas feições de quem prendia a respiração. Por já estar de óculos de novo, o sorriso meio confuso e presunçoso foi o único traço de expressão visto pela estadunidense, fazendo-a negar com a cabeça de leve.

— Não sei. - Disse por fim, percebendo a sobrancelha direita da garota subir em desafio, como se desacreditasse de suas palavras. - Tive uma ideia. Por que não jogamos um jogo?

— Qual jogo? - Camila perguntou, finalmente chegando à estrada principal que ligaria a cidade até São Francisco. Pelo horário, o trânsito ainda não se fazia tão presente, o que fez com que Camila pudesse acelerar com mais tranquilidade.

— É simples. Você faz uma pergunta e eu respondo, depois eu faço uma e você responde. Fácil, não?! - Ofereceu a de olhos verdes, finalmente clicando em cima do nome "Magic - Coldplay" e colocando em altura ambiente.

— De onde eu venho, isso se chama "conversa". - Camila soltou com um sorriso debochado, conseguindo ver a garota ao seu lado revirar os olhos em tédio. - Tudo bem, você começa.

— Hm... - Lauren pareceu pensar por alguns momentos, sentindo arrepios gostosos passarem por sua pele por ouvir o início de sua música preferida da banda. - Qual a sua cor preferida?

— Preto, e a sua?

— É uma cor muito específica, não sei se conseguiria entender. - O sol, agora estando totalmente à mostra para as duas, sem uma sombra sequer, começou a incomodar os olhos de Lauren, fazendo-a colocar a lateral da mão aberta contra a testa para que pudesse enxergar.

— Parece interessante. Me diga. - A capitã disse com um interesse genuíno pelos gostos da outra.

— Sabe quando está escurecendo e o céu começa a ficar em um tom de azul escuro? - Questionou a garota enquanto descrevia a cena para Camila, recebendo um aceno em concordância da mesma. - Então, a minha cor favorita é o último tom de azul do céu, antes de ficar completamente preto. Não acho que falar "azul escuro" seja o suficiente.

O jeito como Lauren especificou o que gostava e explicou de sua própria maneira fez com que Camila olhasse para ela no mesmo momento, tombando a cabeça para o lado inconscientemente. Quando percebeu que o sol incomodava os olhos verdes que tanto admirava, se inclinou rapidamente para o lado e abriu o porta-luvas, retirando de lá outro óculos de sol, quase idêntico ao que usava no momento.

— Obrigada. - Agradeceu a estadunidense com um sorriso tímido nos lábios, sentindo um alívio imediato ao colocar o objeto em seu rosto. - É a sua vez de perguntar.

— Qual a sua comida preferida?

— Essa é difícil. - Lauren riu de leve enquanto pensava, se ajeitando no banco macio e cheiroso. - Acho que carbonara.

— Você não tem cara de que gosta de comida italiana. - Foi a vez de Camila observar, ultrapassando outro carro na rodovia que seguia.

— E eu tenho cara de que gosto do quê? - Refez a mesma pergunta que recebera da modelo minutos antes, recebendo um olhar rápido de Camila e o típico sorriso presunçoso.

— Não sei... - Imitou a resposta de Lauren, rindo de leve ao receber outra revirada de olhos. - É a sua vez de novo.

— Qual o seu filme ou sua série preferida?

— Gente Grande, e a sua? - Ao trocar a marcha novamente, a necessidade de tocar a coxa esquerda de Lauren surgiu como um tiro de tão rápida e violenta.

Sem conter à si mesma, Camila levou sua mão direita até a coxa grossa da garota e apertou de leve, iniciando uma carícia com o dedo polegar logo em seguida. O ato fez com que Lauren engolisse em seco, sentindo pequenos choques passarem por todo seu corpo de maneira gostosa. Por alguns instantes, seu cérebro se esqueceu da pergunta que recebera, o que fez com que a modelo olhasse de soslaio para si.

— Não tem um filme preferido, Lauren? - Usando seu tom mais inocente, ainda com o sorriso presunçoso no canto dos lábios, Camila fez questão de apertar a região com mais força, percebendo a garota ao seu lado segurar a respiração dentro dos pulmões.

— As Branquelas. - Respondeu a estadunidense após soltar o fôlego que prendera, fazendo Camila prender a risada irônica que subiu por sua garganta.

— Gosto muito desse filme também. - Ainda acariciando o local, a latina tomou a iniciativa de questionar outra coisa, já que estava em sua vez. - Se um gênio aparecesse agora na sua frente e lhe oferecesse três desejos, o que pediria?

"Pediria para você me comer no capô desse carro até eu não aguentar mais!" Novamente, o subconsciente de Lauren gritou para si, fazendo-a engolir em seco e olhar para a mão da garota em sua coxa. Entendendo que seu corpo era fraco para esse tipo de coisa, principalmente se tratando de Camila, levou sua mão esquerda até onde estava sendo tocada, entrelaçando seus dedos aos da garota.

Por mais que a modelo soubesse o motivo daquele ato ter acontecido, não deixou de sentir um arrepio gostoso cortar sua espinha ao ter sua mão entrelaçada à de Lauren. Quando precisou trocar a marcha novamente, não tardou a fazê-lo com rapidez, voltando à posição carinhosa logo em seguida.

— Hm... pediria um bilhão de dólares; pediria uma carreira legal e de sucesso, em um futuro próximo; e também pediria que eu, finalmente, conhecesse o amor da minha vida. E você? - Disse Lauren após pensar por um tempo, completamente encantada e extasiada com o gesto de carinho que se passava entre as duas.

Um riso nasal escapou por parte da latina junto a um leve balançar de cabeça em negação. A ação fez com que Lauren a encarasse com curiosidade, se perguntando o que poderia estar passando em sua cabeça naquele momento. A necessidade que sentia de compreendê-la era tão grande quanto a de tê-la por completo, o que deixava a neojersiana mais encucada que nunca sobre o que pensava.

Os pensamentos de Camila pareciam mais importantes que as palavras que saíam por entre seus lábios.

— Sinceramente? Acho que pediria uma máquina do tempo. Somente isso. - Respondeu por fim, novamente tendo que (totalmente contra sua vontade) sair do toque para que pudesse trocar de marcha e virar à esquerda, seguindo a direção que a placa verde, com o nome da cidade destinatária, indicava.

O tom utilizado por Camila foi tão pensativo que fez com que Lauren a encarasse novamente, tentando ler suas feições para que assim, talvez, pudesse entender o que pensava ou sentia. O fato de seus olhos estarem tampados pelos óculos escuros não ajudava em nada. Antes que pudesse questionar sua resposta, o início de uma música fez com que se entusiasmasse.

Play em Vaults - One Last Night

— Oh, meu Deus! Eu adoro essa música! - Disse com animação, levando a mão direita até o painel de controle e aumentando o volume da canção. - Me dá vontade de voar e gritar, igual acontece no filme em que ela passa.

— Por que não faz isso, então? - Embalada pela animação da qual Lauren transpassava, Camila ofereceu com um sorriso travesso nos lábios.

"Tied to a sallow heart, why does he want to bring me where he goes"

O sol agora parecia iluminar a cena que se passava na rodovia, assim como o vento levemente forte e gostoso que batia contra o pára-brisa. Pela baixa quantidade de veículos passando por ali, era a chance perfeita para que o plano arquitetado por Camila naqueles instantes pudesse ser concluído.

— E como é que eu vou voar? - Indagou a estadunidense com dúvida, sentindo um início de borboletas no estômago ao notar o sorrisinho travesso nos lábios da garota.

— Te mandei colocar o cinto, não é? Se apoia no alto do pára-brisa, vou te fazer voar. - Como uma criança endemoniada, Camila ofereceu o plano com o mesmo sorriso no rosto, tomando aquele tempo para aumentar a música ao máximo que conseguia.

"Ghosts and silhouettes... They take a piece of me they want it all"

Entrando no clima de travessura e adrenalina, Lauren apenas sorriu de lado antes de empurrar o banco levemente para trás e se levantar com segurança, sendo segurada pelo cinto a todo momento. Com os antebraços rentes à peça que dava o início ao pára-brisa, o vento ficou ainda mais forte contra seu corpo, a fazendo fechar os olhos por ter seu cabelo sendo jogado para trás.

Quando se acostumou o suficiente, ainda usando os óculos escuros, conseguiu finalmente ter a visão perfeita da rodovia extensa à sua frente, observando alguns poucos carros na pista ao lado. As cores das árvores dos dois lados da rodovia passavam com rapidez diante de seus olhos, assim como as nuvens que enfeitavam o céu bonito e brilhante acima de sua cabeça.

Uma das melhores cenas de sua vida, sem sombra de dúvidas.

— Pronta para voar? - Camila perguntou com o tom de voz um pouco mais alto que o normal, sabendo que o vento poderia obstruir a audição da garota.

— Como você vai... - Lauren iniciou seu questionamento, no entanto, antes que pudesse terminar, a modelo trocou de marcha com agilidade, acelerando o carro absurdamente. - Meu Deus! Camila!

"I had a dream I was dying but I found nobody there"

Acelerando à incríveis 200km/h, aproveitando a longa linha reta que passava, Camila ofereceu à Lauren a sensação mais próxima de voar que já tinha sentido antes. O vento agora fazia com que seu cabelo quase ficasse totalmente para trás de sua cabeça. Embalada pela adrenalina do momento surreal, seu braço direito se elevou para acima de sua cabeça com espontaneidade enquanto sorria abertamente.

UHUUUUL! - Concluindo o que tinha dito antes de toda a loucura acontecer, Lauren gritou a plenos pulmões enquanto balançava o braço de um lado para o outro.

Parecendo estar em câmera lenta, enquanto trocava para a antepenúltima marcha, Camila colocou sua atenção na cena ao seu lado. A expressão de felicidade genuína da garota e o jeito que gritava sem pensar em qualquer outra coisa fez com que ela mesma sorrisse totalmente encantada.

Pela primeira vez, se perguntou aonde Lauren esteve durante todo esse tempo.

"For one last night. For one last night"

Cerca de um minuto depois, Lauren se sentou novamente, tentando ajeitar seu cabelo que, à essa altura do campeonato, já se encontrava totalmente embaraçado. Com isso, Camila diminuiu a velocidade em quase 70%, mantendo um padrão normal para a rodovia. A sensação de adrenalina corria por cada parte do sangue da neojersiana, deixando-a mais extasiada que o normal.

— Obrigada. - Disse Lauren com um sorriso quase emocionado nos lábios, fazendo com que a modelo a olhasse de soslaio por alguns segundos antes de virar à direita, conseguindo visualizar, ainda ao longe, a tão famosa Golden Gate.

— Pelo quê? - Indagou a capitã com curiosidade, voltando a entrelaçar a mão esquerda da garota junto a sua.

Por me fazer voar. - Lauren respondeu com um suspiro baixinho, sabendo que sua frase tinha muitos e muitos significados além do que tinha acontecido minutos antes.

Entendendo parte das entrelinhas do que a garota disse, Camila sorriu de canto ao mesmo tempo que iniciava um carinho na lateral da mão da mesma, com seu dedo polegar. Sentia muitas coisas no momento, e, grande parte delas, não conseguia sequer entender, tampouco explicar. Nunca tinha sentido algo próximo daquilo, era óbvio.

Eu quem te agradeço. - Deixando Lauren ainda mais encucada e causando uma explosão de borboletas em seu estômago, a latina apenas apertou levemente a mão da mesma, tentando transpassar algo que nem ela mesma sabia.

Tentando expressar o que não sabia.

                                         ✯♕

Lauren Jauregui POV

Se algum dia você tiver a oportunidade de se hospedar em uma unidade do Four Seasons, simplesmente vá.

Tentei transparecer um falso costume em estar dentro de um hotel de luxo, no entanto, isso era quase impossível. Tudo ali dentro cheirava a dinheiro, por mais que, na realidade, todo o lugar cheirasse à lavanda fresca. O atendimento impecável pelos funcionários uniformizados era um espetáculo à parte, mesmo que meu foco estivesse na arquitetura moderna da construção.

Quando chegamos ao quarto de número 93, logo após Camila abrir a porta com um cartão magnético, senti meu queixo cair pela estrutura de onde iríamos ficar. A grande King Size estava forrada com um conjunto de roupa de cama branco (e estupidamente caro), tendo algumas toalhas da mesma cor por cima do edredom. Continuando em um padrão mais claro e quase monocromático, as paredes seguiam em um bonito tom de branco-gelo.

Dividindo o tom que se passava em todo o ambiente, a grande maioria dos móveis eram na cor preta, inclusive o divã ao lado da cômoda. De frente para a cama, a cerca de dez passos, uma janela enorme descia até o chão, dando espaço para uma sacada revestida com vidro que dava visão para uma grande porção de prédios à frente.

Era lindo. Era de tirar o fôlego.

Infelizmente, não tive tempo o suficiente de apreciar todo o lugar, visto que, assim que chegamos, o serviço de quarto nos trouxe um belo café da manhã de boas-vindas. Só me lembrei que estava com fome quando vi as frutas cortadas em cubinhos e os pães frescos. Enquanto eu devorava a comida da forma mais elegante que eu conseguia, descobri que Camila não poderia comer até que desfilasse, estando de jejum desde o dia anterior.

Depois disso, o tempo pareceu correr diante dos meus olhos enquanto conversávamos sobre todos os assuntos possíveis, nos conhecendo ainda mais. Nesse meio tempo, descobri que a capitã nem sempre teve todo esse dinheiro, e que, até alguns anos atrás, ela seguia apenas sendo de classe média. Não pude deixar de perguntar qual receita mágica ela tinha usado para que conseguisse tudo o que conquistou, no entanto, só recebi um "foi o meu pedido ao gênio".

Eu quase acreditei. É uma pena que gênios da lâmpada não existem na vida real.

Perto das duas da tarde, após um belo almoço, também oferecido pelo hotel, começamos a nos arrumar. E quando eu digo "começamos", quero dizer "eu comecei". Camila acabou por me dizer que ela não tinha muito o que fazer sozinha, já que sua equipe cuidaria de tudo quando ela chegasse ao local do desfile. Não preciso dizer o quão tímida me senti por me trocar na frente dela, e, além do mais, precisei mostrar o vestido mais elegante e formal para a ocasião que achei no meu guarda-roupa.

Mesmo que ela tenha dito que amou, me senti levemente incomodada por não saber como me portar em um evento desse calibre. Nunca tinha ido em um desfile, tampouco me sentado na primeira fileira. Eu tinha deixado a ansiedade para sentir no momento, é claro, mas aparentemente ela me passou a perna no momento em que entrei no hotel. Talvez, no momento em que entrei no carro mais incrível que já tive o prazer de olhar.

Onde eu estava com a porra da cabeça quando aceitei esse convite?

Exatamente às três em ponto, saímos do hotel em direção à uma BMW preta que nos levaria diretamente ao local do desfile. De acordo com a modelo, um coquetel de comemoração aconteceria após o evento, fazendo com que seu carro ficasse são e salvo no estacionamento do hotel, caso acontecesse de ela beber. De qualquer maneira, entretanto, seus dois seguranças pessoais estariam prontos a qualquer instante com a Urus.

— Quando chegarmos, muito provavelmente vou ser encaminhada diretamente para o backstage. Minha fotógrafa pessoal te acompanhará até o seu assento, ok? - Camila disse, estando sentada ao meu lado enquanto cruzávamos uma avenida de via dupla, me fazendo assentir de leve.

— Qual o nome dela? - Perguntei quase que por educação, tentando parar de tremer as pernas por sentir que estávamos chegando.

— Alexia. Não se preocupe, ela é um amor de pessoa. - A capitã disse com um pequeno sorriso, fazendo-me sorrir de leve também. - Ela estará de amarelo, na entrada, não tem como errar.

As ruas de São Francisco tinham quase o quádruplo de trânsito que Palo Alto, apesar de conter uma arquitetura belíssima. Os prédios dividiam espaço com o céu azulado e totalmente recheado de nuvens, o que o deixava ainda mais bonito. Quando adentramos uma rua em específico, no entanto, deduzi estarmos a alguns segundos de estacionarmos, levando em consideração a quantidade exorbitante de automóveis de luxo parados em toda a extensão do meio-fio.

— Ela vai se sentar comigo? - Questionei com curiosidade genuína dessa vez, tirando os olhos da janela e os focando no rosto da garota.

— Não, ela vai tirar as fotos junto aos outros fotógrafos autorizados. - Ela disse com calma ao dar de ombros uma vez, colocando sua total atenção em mim. - Você vai se sentar ao lado de outras pessoas...

— De quem? - Perguntei meio confusa pelo tom adotado por ela, notando a forma como seu olhar deixou o meu e focou no banco à minha frente.

Um sorriso irônico brincou em seus lábios, me deixando ainda mais confusa e levemente desesperada. Antes que eu pudesse questionar novamente, sua porta foi aberta pelo motorista particular que tinha nos levado até ali, sendo ajudada pelo mesmo a sair do veículo. Só então percebi que tínhamos estacionado em frente à um belo e charmoso local, o que me fez sair pela porta da mesma forma que a garota fizera.

Agradeci mentalmente à mim mesma por ter escolhido as botas ao invés dos saltos, sabendo que, em um evento como aquele, qualquer tropeço em cima de um salto era um ultraje sem igual. Quando dei a volta pela traseira do veículo, tentando chegar até onde Camila estava, dei de cara com quatro pessoas em volta da mesma, a apressando para dentro de uma porta menor que a principal.

— Vamos, Camila, já estamos atrasados! - Um homem careca e de óculos de grau disse em um tom levemente agudo, tentando a apressar com a mão esquerda em suas costas.

Sem saber o que fazer, apenas fiquei parada ali enquanto a esperava entrar. Antes que ela fizesse o que pediam, me deixando em um estado de quase pânico, sua aproximação me pegou de surpresa. Sua mão direita tocou minha cintura de leve enquanto ela levava seus lábios até a minha bochecha, deixando um beijo casto ali.

Divirta-se, e não surte com os convidados do seu lado. - Seu tom sussurrado, quando chegou próximo o suficiente do meu ouvido, me fez arrepiar dos pés à cabeça. - E, ah, você está linda.

Sem que eu pudesse dizer uma palavra sequer, Camila se deixou ser levada por sua equipe profissional até a porta que, provavelmente, dava acesso ao backstage. Quase tendo uma síncope, me dirigi até a entrada do lugar, dando de cara com um hall charmoso e bem iluminado. O fluxo de pessoas era grande ali dentro, o que me deixou meio apreensiva por alguns instantes; até que, um minuto depois, notei a presença de uma mulher vestida com um vestido amarelo e uma câmera profissional na mão.

Se não for essa desgraçada, me jogo da Golden Gate por vergonha alheia de mim mesma.

— Oi, o seu nome é Alexia e você é fotógrafa da Camila Swoord? - Perguntei após tomar coragem o suficiente para me aproximar, ganhando um sorriso grande em troca.

— Sim! Você deve ser a Lauren, certo?! - A mulher devia ter por volta dos quarenta anos, estando conservada em boa medida. Assenti com a cabeça em concordância, cumprimentando-a logo em seguida após notar que ela havia estendido a mão para mim. - É um prazer conhecê-la! Irei te acompanhar até o seu assento.

Enquanto eu acompanhava a mulher pelo caminho que ela fazia, engoli em seco diversas vezes pela visão dos trajes utilizados ali. A moda e o estilo brilhavam em um contraste perfeito em todas as pessoas que perambulavam até o local do desfile, o que me deixou apreensiva sobre minha escolha de roupa. Por alguns segundos, xinguei Camila de todos os nomes possíveis em minha mente.

Ela disse que não era algo tão formal ou elegante! Que porra dos infernos!

— A sua cadeira é a de número sete, do lado direito. É a primeira fileira, não há como errar. - Alexia me explicou com algumas gesticulações quando adentramos o salão principal.

— Mas eu vou sentar com... - Iniciei minha indagação principal do dia, entretanto, antes que eu terminasse, ela já não estava mais ao meu lado, tendo pressa para se juntar ao corpo de fotógrafos bem posicionamos em frente à longa passarela. - Ah, ótimo!

Sussurrei baixinho a última frase para mim, colocando meu foco na estrutura da sala em que eu estava. A longa passarela de piso prata brilhante se estendia até quase onde eu estava, tendo uma cortina enorme em seu fim que, até onde eu sabia, era por onde as modelos saíam. As cadeiras de metal eram no mesmo tom de preto que as paredes, dando um charme a mais para o lugar.

Ainda não estava completamente cheio, apesar de que várias e várias pessoas já estavam sentadas em seus devidos lugares. As iluminações impecáveis deixavam a sala um tanto quanto escura, fazendo um drama à parte antes do espetáculo, de fato, iniciar. Sem perder mais tempo, me direcionei até meu assento, tendo uma visão incrível de toda a extensão da passarela.

Quando me sentei, ainda não tendo nenhum indício de que o desfile começaria, me contentei em enviar algumas mensagens para minhas amigas. Sabendo que lá já seria quase noite, deduzi que estariam desocupadas com treinos ou algo assim.

"Cheguei no desfile e já sinto que vou desmaiar a qualquer momento. Eu me mato agora ou depois???
                                                    - Lauren"

"Deixa de ser ovo mole, caralho! Enfrenta essa porra direito e aproveita para tirar algumas fotos.
                                                    - Megan"

"Não sei se é permitido tirar fotos aqui, pelo menos por alguém que não seja da equipe de fotografia profissional. Tem até rede televisiva aqui!
                                                    - Lauren"

"Sim, amiga, a E! vai transmitir tudinho! Vou acompanhar enquanto como um balde de pipoca, espero que foquem a câmera nessa sua cara de sonsa.
                                                    - Normani"

Soltando uma risada baixa pela troca de mensagens com minhas amigas, mal notei que um homem tinha se sentado à minha direita. A primeira coisa que notei foi o cheiro forte de seu perfume masculino, o que me fez franzir o nariz levemente pela intensidade do aroma. Não tendo tirado minha atenção do celular, pulei de leve em meu assento quando senti um toque leve e respeitoso em meu antebraço, me fazendo olhar na direção do homem ao meu lado.

Senti minha pressão descer com tanta brutalidade que vi minha alma saindo do meu corpo. Pisquei diversas vezes enquanto mantinha a boca aberta, não conseguindo proferir uma palavra sequer nesse meio tempo. Meus olhos estavam tão abertos que eu tive medo de saltarem para fora, tamanho era o choque que eu sentia no momento.

Sentado ao meu lado e me chamando, estava Leonardo DiCaprio.

— Olá, você tem o cronograma do evento aí com você? Esqueci de pedir na recepção. - Ele disse com um sorriso gentil nos lábios, ignorando completamente meu ataque de pânico silencioso.

— Eu. Ahm... eu... - Tentei proferir alguma frase com coerência, sentindo meu cérebro falhar com tudo no processo.

Parecendo me salvar de um possível AVC, as luzes diminuíram quase que por completo, sendo ligadas apenas as LED's nas bordas da passarela. Virei minha cabeça para a frente e simplesmente ignorei a presença do ator mais bem pago do ano ao meu lado. Enquanto eu suspirava fundo em busca de me acalmar, a voz do apresentador da marca se fez presente nos alto-falantes do ambiente.

Eu não sabia se queria matar Camila ou se queria dizer a ele que o Jack cabia, sim, na porta.

Senhoras e senhores, é um prazer estarmos apresentando-vos mais um desfile especial de verão. Desta vez, nossa missão é que vocês conheçam o lado mais primitivo de nossa marca, assim como da humanidade. Com vocês, os looks da última edição de verão da Prada! - A voz do homem foi cortada pelos aplausos animados e respeitosos da plateia, sendo seguida pela música principal da atração.

Play em Chris Brown & The Weeknd - Under The Influence x I Was Never There (remix)

Com um holofote central sendo focado na saída da cortina preta, tive a visão perfeita de Camila entrando na passarela. Abrindo o desfile, a modelo utilizava um belo conjunto do que, ao meu ver, parecia uma canga estilizada e moderna. Abri a boca em completa descrença e encanto enquanto a observava praticamente deslizar sobre o chão. Seus saltos de tamanho médio combinavam com a coloração leve da roupa.

Seu catwalk impressionava até mesmo os leigos em relação à modelos, no entanto, eu me senti em outro mundo enquanto ela parecia andar em câmera lenta. Seus quadris balançavam em uma velocidade perfeita, apesar de seu corpo manter uma linha ereta e elegante. Senti meu coração errar uma batida ao notar que o sorriso de canto era, de fato, sua marca registrada, ainda que tivesse o olhar felino focado na grande quantidade de câmeras em frente à passarela.

"Fuckin' Robitussin. I don't know why this shit got me lazy right now, yeah"

Ainda que eu não tivesse recebido um olhar seu, senti um calafrio correr pela minha espinha quando ela parou no final da passarela e posou com a mão direita na cintura, girando o corpo elegantemente para que todos tivessem a visão perfeita da peça. Ao voltar pelo mesmo caminho que fez, uma nova modelo já desfilava de sua própria maneira, dessa vez usando um conjunto mais longo e aberto que o utilizado pela latina.

Quando ela sumiu por entre a cortina, me mantive focada nos outros looks apresentados pelas outras modelos, realmente gostando do que via. Os cortes e as cores quase monocromáticas - sendo um marco da Prada nesse quesito - davam um charme a mais para uma vestimenta casual, na maioria das vezes.

Na segunda parte, a modelo principal deixava claro que a inclusão estava explícita no meio das modelos. Até então, não havia uma raça repetida sequer dentre todas as que desfilaram, no entanto, percebi algum tempo depois que era algo cronológico da própria evolução humana, o que focalizava em cada continente com respeito.

Quando uma brasileira adentrou a passarela, vestida com um belo conjunto de corte segmentado e cravejado com pedras brilhantes, deduzi que havíamos voltado para a América novamente, o que fazia com que a presença de Camila ficasse próxima. Como se eu tivesse adivinhado, a modelo seguinte era justamente a latina mais cobiçada de Palo Alto, utilizando um conjunto em tons pastéis que continha um belo caimento.

Enquanto ela caminhava de maneira deslumbrante até o final da passarela, semicerrei meus olhos para enxergar seu rosto com clareza, e, então, fazendo meu sangue correr mais rápido que o comum, pude notar seu olhar de canto para mim. Tão rápido quanto olhou, desviou para a frente novamente, encarando as dezenas de câmeras que lançavam flashes e mais flashes para ela.

"I don't know what you did, did to me. Your body lightweight speaks to me"

Sem a sua presença, novamente, cerca de três modelos desfilaram com os conjuntos do mesmo padrão, diferenciados pelas cores, cortes e estilos. O show de luzes tanto nas LED's quanto nos holofotes deixava a apresentação ainda mais sensacional. Me lembrando que eu poderia estar em rede nacional, estiquei minha coluna por instinto e cruzei a perna direita sobre a esquerda com classe.

Eu não poderia correr o risco de virar um print tenebroso no celular de Megan. Minha vida estaria arruinada para sempre!

Quando a música mudou de repente, tendo o início icônico de "I Was Never There", eu soube que a melhor parte do desfile começaria. Para a minha surpresa, ao mesmo tempo que excitação extrema, Camila foi a modelo responsável por puxar a última fase da ocasião: os biquínis. Senti minha boca ficar seca como nunca ao ver, pela primeira vez, o corpo semi nu da capitã.

Sem uma marca ou estria sequer, suas curvas deixavam o biquíni colorido ainda mais vivo que aparentava ser. As coxas grossas e igualmente definidas chamavam a atenção tanto quanto sua barriga chapada, assim como seus seios medianos cobertos pelo tecido que imitava um tomara-que-caia. Contrariando à mim mesma sobre eu conseguir ficar ainda mais chocada e fora de mim, Camila finalmente passou por onde eu estava e me deu a visão de suas costas.

Pelo amor de Deus, que bunda era aquela?!

"What makes a grown man wanna cry?
(Cry, cry, cry, cry). What makes him wanna take his life?"

O formato redondo e arrebitado na medida certa, assim como o jeito que a calcinha fio-dental sumia por entre os dois montes, me fez pressionar uma coxa na outra com força. Tive a oportunidade de apreciar cada mínimo detalhe de seu corpo quando ela posou no final da passarela, parecendo que os flashes das câmeras iluminavam cada parte crucial de suas curvas formosas.

Linda. Camila Cabello-Swoord era estupidamente linda. Dos pés à cabeça.

Com sua saída, quase rasgando meu coração por deixar de ter aquela visão de ouro, mais uma série de modelos desfilaram com seus devidos biquínis, no entanto, quase não prestei atenção. Minha mente estava ocupada recriando cada frame de seu corpo; cada curva; cada detalhe perfeito. Minha mente estava ocupada a admirando, internamente.

Depois do que pareceram horas (para mim), as luzes centrais se acenderam novamente, o que indicava um possível término do desfile. Quase caí da cadeira quando notei que todos as pessoas da plateia se levantavam em conjunto, me fazendo repetir o ato como um robô desengonçado. Cerca de um minuto depois, a fila das modelos que participaram do desfile - dessa vez vestidas com o último estágio da coleção de looks - se estendeu sobre a passarela.

Com Camila na frente, demonstrando que, de fato, era a modelo principal da marca, uma salva de palmas e assobios cortaram o ambiente. Imitei o gesto com orgulho, sorrindo abertamente para a imagem das garotas que agradeciam com charme e destreza. Parecendo me procurar com o olhar, a capitã passou sua atenção pela direita da plateia, e, então, quando finalmente me encontrou aplaudindo de pé, piscou o olho direito de maneira charmosa enquanto sorria presunçosamente.

Ela sabia que tinha me dado uma das melhores experiências de toda a minha existência. Ela, somente ela.

                                          ✯♕

Narrador POV

Cerca de uma hora após o término do desfile, deu-se início ao coquetel comemorativo. Os acionistas da marca estavam presentes, assim como a grande maioria dos convidados da ocasião. O fluxo de garçons bem trajados com smokings era grande, servindo devidamente cada mesa do grande salão. Sendo (quase) um jantar de alto padrão, a comida seguia a mesma ideia, contendo ingredientes que Lauren jamais tinha visto na vida.

As bajulações com Camila aconteciam quase que de minuto em minuto, fazendo a garota parar de comer para retribuir os elogios e conversar com gentileza. Sua fome àquela altura do dia já fazia com que seu estômago roncasse baixinho, portanto, mesmo que não gostasse tanto da comida servida, comeria até pedra se fosse necessário. Sua mesa estava bem localizada, quase no meio exato do salão extenso, o que a deixava ainda mais acessível de receber bajulações.

Ao seu lado, Lauren franzia o nariz disfarçadamente enquanto cutucava a espécie de carne que continha em seu prato. O cheiro do arroz com aspargos e o creme estranho que acompanhava não era nem um pouco apetitoso para si. Quando tentou comer uma garfada, precisou tomar meio copo de água para que conseguisse descer sem fazer careta.

Preferia estar em uma rede de fast food qualquer do que comer aquilo.

O que é essa carne? - Perguntou baixinho para a modelo ao se aproximar de seu ouvido.

Camila tirou os olhos do estilista responsável pela coleção de primavera e focou sua atenção na garota ao seu lado. Quando observou o prato quase intocado de Lauren, sentiu uma preocupação instantânea. Com uma breve inspeção na carne que a neojersiana cutucava com o garfo de um lado para o outro, chegou a um veredito rapidamente, sendo ajudada pelo cheiro apetitoso.

Isso é cordeiro. - A latina sussurrou de volta, observando bem as feições seguintes da garota. Lauren tentou, tentou muito disfarçar a careta de nojo, no entanto, foi impossível. Camila prendeu a risada por saber que estavam rodeadas de várias pessoas. - Você não gosta?

A estadunidense apenas sorriu amarelo, voltando sua atenção para o prato e cortando um pedaço do cordeiro. Quase a contragosto, misturando a carne com o creme e um pouco do arroz, levou o garfo recheado até sua boca novamente. Camila apenas a olhava de soslaio enquanto comia de seu próprio prato, sendo esse com carne de lagosta.

Quando finalmente mastigou a mistura e fez menção de engolir, Lauren fechou os olhos com força ao franzir o nariz e comprimir a boca. A modelo não se aguentou com a visão, rindo baixinho consigo mesma enquanto trazia sua taça de vinho até os lábios. Já tinha imaginado que a neojersiana não iria gostar do jantar servido, entretanto, não achou que seria tanto.

Isso é uma merda, puta que pariu. - Lauren soltou em um sussurro baixo ao se inclinar para o lado novamente. Sua fala saiu entredentes, já que ela fingia um sorriso aberto para que ninguém percebesse sua gafe.

Camila riu mais abertamente dessa vez, abaixando levemente a cabeça para que ninguém visse sua reação genuína. Sabia muito bem que não era só a comida que estava incomodando a garota, visto que a mesma estava mais calada que o normal. Imaginava que deveria ser um tanto quanto desconfortável para ela não conhecer ninguém ali, e, infelizmente, não conseguia dar a devida atenção à ela, já que precisava "fazer a sala" para toda a marca e a imprensa.

— Quer sair daqui? - Perguntou a latina ainda baixinho, tomando o último gole de vinho em sua taça.

— E como vamos sair daqui? - Respondeu a de olhos verdes na mesma altura, já não aguentando estar mais naquele lugar imensamente chato.

Quando Camila sorriu de maneira sapeca e piscou o olho direito, ela entendeu que viria mais uma ideia mirabolante.

Play em Arctic Monkeys - Fake Tales Of San Francisco

A modelo puxou seu celular da bolsa preta com a logo da Prada, indo direto para a lista de contatos. Quando finalmente achou o nome de um de seus seguranças pessoais, não perdeu tempo em ligar para o mesmo. Sabendo que já estariam posicionados na entrada do evento, apenas esperando seu chamado, não se surpreendeu ao ser atendida depois de dois toques curtos.

— Adebayo, estaremos saindo daqui cinco minutos. Estejam com o carro ligado já. - Avisou a latina para o homem do outro lado da linha, recebendo um "Entendido, senhorita Swoord" do mesmo. Ao desligar a chamada, colocou sua atenção total na garota levemente apreensiva ao seu lado. - Pronta para um plano maluco?

"Fake tales of San Francisco echo through the room"

— Manda a bomba. - Respondeu a estadunidense em brincadeira, aproximando seu ouvido o mais próximo possível da boca da garota.

É o seguinte: você vai até o segurança na porta e diz que precisa muito ir pegar algo no seu carro, mas que não demora a voltar. Invente um nome e um sobrenome, se ele perguntar. Entendeu? - Camila dizia pausadamente para que não houvessem dúvidas, fazendo com que Lauren assentisse de prontidão.

— E você? - Indagou com curiosidade, observando a feição da garota ficar ainda mais sapeca, como uma criança prestes a cometer algo errado. - Camila...

— Não se preocupe comigo, te encontrarei na entrada em três minutos. Não se esqueça de sorrir abertamente se encontrar alguém no caminho, você passará despercebida. - Camila avisou uma última vez antes de se levantar da cadeira, olhando para Lauren de cima. - Assim que eu me afastar agora, conte até quarenta e faça o que eu disse.

"And there's a super cool band, yeah, with their trilbies and their glasses of white wine"

Assim como foi solicitado pela latina, Lauren contou mentalmente até quarenta depois que ela seguiu em direção à uma mesa mais afastada, e, de longe, conseguia ver que nela estavam as pessoas mais honradas da ocasião. Com um pigarro baixo e depois de pegar sua bolsa preta, a neojersiana seguiu em direção à porta principal do salão, adotando uma caminhada mais elegante e vistosa.

Em sua cabeça, fazia parte do teatro de ser uma milionária.

— Olá, senhor, eu preciso muito pegar um remédio que esqueci em meu carro. Posso passar? - Lauren disse para o segurança de quase dois metros de altura, com uma voz mais aveludada que o normal.

— A saída só é liberada após os brindes de honras, senhorita. - Exclamou o homem corpulento e bem vestido, mantendo suas mãos nas costas.

— É de extrema importância que eu pegue, tenho... - Em uma pequena fração de segundos, a estadunidense pensou em um problema grave para um jantar de alto nível. - Intolerância à lactose.

"I don't want to hear you (kick me out, kick me out). I don't want to hear you, no, kick me out, kick me out!"

O segurança franziu o cenho levemente enquanto inspecionava a adolescente com o olhar atento, pensando por alguns segundos se ela estava mentindo ou não. Suas ordens eram claras em não deixar que ninguém saísse do salão até certo momento, entretanto, vendo o rosto simpático e angelical da garota, suspirou baixinho ao assentir.

— Será rápido? - Questionou, quase cedendo ao pedido da outra.

— Sim! Estarei de volta em um instante. - Lauren sorriu simples, recebendo outro aceno em concordância do homem.

— Tudo bem. Me passe apenas seu nome para que eu possa marcar a mesa. - Disse com calma, retirando do bolso um pequeno bloco de notas com as numerações das mesas disponíveis.

No meio tempo em que ele demorou para pegar o objeto e preparar a caneta, Lauren olhou atenta para o lado direito, procurando algum nome sensacional em seu cérebro. Raciocinando a mentira com rapidez, um sorriso ainda mais astuto e aveludado surgiu em seus lábios, fazendo até mesmo o segurança sorrir em retribuição.

Stefannia Ragazzi. - Respondeu com um sotaque italiano arrastado, recebendo outro aceno em concordância enquanto o homem anotava o nome escutado.

— Você é a herdeira dos restaurantes Ragazzi, então? Acho que te vi na televisão. - Exclamou o segurança um tanto quanto entusiasmado, fazendo a neojersiana piscar com rapidez e entreabrir os lábios.

— Ahm... é. Sim, sou eu. - Manteve o sorriso no rosto, quase gritando por dentro que não fazia ideia do que ele estava falando.

"And there's a few bored faces at the back, all wishing they weren't there"

— Bom, vá rápido, senhorita Ragazzi. - Pediu por fim, abrindo finalmente a porta dupla, que Lauren passou com rapidez após ter sua saída liberada.

Enquanto isso, na mesa mais cobiçada do coquetel, Camila atuava com sua melhor expressão de dor e cansaço. Sua mão direita estava apoiada em sua testa, fingindo uma falsa febre. Nem olhou para a porta principal em busca de inspecionar a estadunidense, confiava em seu método de mentir e atuar com facilidade.

— Mas foi a comida? Você é alérgica à alguma coisa, querida? Não nos foi informado nada. - Miuccia Prada, a estilista responsável pela coleção apresentada horas antes, dizia com preocupação para a garota em pé ao lado de sua mesa.

— Eu não sei, acho que foi a lagosta. Sinto que vou vomitar a qualquer momento. - Confidenciou Camila em tom baixo, fazendo outra careta de dor mais forte ao pressionar a mão esquerda contra o abdômen.

A estilista suspirou fundo ao olhar para seu relógio de pulso, percebendo que ainda faltava uma hora para o discurso de honras. Ao olhar a expressão de dor da modelo, sorriu gentilmente enquanto acariciava o antebraço da mesma, tentando passar uma força moral em um momento tão complicado.

— Tudo bem, querida. Irei te liberar mais cedo só porque o seu desfile foi um arraso. - Disse a multimilionária com empatia na voz, recebendo um sorrisinho curto da garota em resposta. - Só vou te pedir para que passe pela porta dos fundos, não quero que a imprensa veja. Tudo bem por você?

— Sim, sem problemas. Muito obrigada, Miuccia! - Camila agradeceu ainda forçando uma careta de dor, recebendo um tapinha leve da mulher, em um sinal de que poderia ir.

Sem perder tempo, a modelo partiu em direção à porta que dava acesso ao corredor lateral do lugar, fingindo um sorriso aberto para as pessoas que a cumprimentavam no caminho. Quando passou pela porta e a fechou, retirou os saltos e os segurou com a mão direita, iniciando uma corrida rápida pelo corredor não tão iluminado quanto a sala anterior.

"Oh, she's running to the streets outside. 'Oh, you've saved me', she screams down the line"

No final do corredor, ao virar à direita e seguir correndo até o hall de entrada vazio, finalmente encontrou a estadunidense encostada na parede branca. Sem parar de correr, assustando até mesmo a garota, Camila passou por ela como um furacão, a puxando pela mão para que corresse junto consigo.

— O que aconteceu? - Lauren questionou um pouco mais alto pela velocidade que corriam, não entendendo a ação da latina.

— Temos um minuto até o carro sem que o segurança venha te procurar. - Respondeu a modelo com a respiração falhada, passando finalmente pela porta de entrada principal e chegando à rua.

Quando desceram a escadaria, a Lamborghini preta já as esperava com o motor ligado, exatamente como havia sido solicitado. Entrando pela porta traseira do veículo, Camila se arrastou no banco com velocidade para que Lauren adentrasse e se sentasse ao seu lado. Com as respirações falhadas e entrecortadas, Adebayo franziu o cenho e olhou para trás, ainda segurando o volante.

— Tudo bem, senhorita Swoord? - Questionou o segurança em tom baixo e respeitoso.

Melhor que nunca. Acelera o carro, Adebayo, vamos para o hotel. - Respondeu Camila de prontidão, ainda tentando recuperar o fôlego perdido.

Fazendo o que foi solicitado por sua chefe, o homem somente acelerou o veículo e saiu com pressa, colocando sua atenção total na rua em que dirigia. No banco de trás, a modelo buscou a mão de Lauren com certa urgência, entrelaçando os dedos quase que instantaneamente. Ao olhar para o lado, percebendo que a estadunidense ainda respirava com dificuldade e estava completamente extasiada, sorriu abertamente para ela ao ter os olhos verdes em si.

— Meu Deus, você é louca! - Exclamou a neojersiana entre uma risada baixa, sorrindo da mesma forma que a outra.

Você ainda não viu nada. - Confidenciou a latina em um tom amistoso, segurando a mão da garota com mais força e carinho.

Com o carro em alta velocidade pelas ruas de São Francisco, Lauren e Camila experimentaram a primeira sensação de adrenalina e felicidade juntas. As batidas desenfreadas dos dois corações pareciam entrar em sincronia, apesar de acelerados ao extremo.

Batiam um pelo outro, pela primeira vez.

—;—

Curiosidade legal: os fatos descritos no flashback, em relação à crise estadunidense de 2007-2008, são reais. Porém, como eu estou ressignificando algo que realmente existiu em nossa história, resolvi mudar (levemente) a data em que aconteceu. Originalmente, o Lehman Brothers decretou falência no dia 15 de setembro de 2008, um ano depois do que coloquei aqui.

Como, aqui na fanfic, a crise teve um outro motivo principal, mudei a data para o dia em que os dois Originais de 1987 morreram.

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