Capítulo 404 Renascido para reencontrar quem amou em segredo
Assim que soube que a Guarda Imperial havia voltado, foi recebê-los pessoalmente.
Era seu pretexto para reencontrar San Dian, havia tanto para contar para ele, ansioso de todos os modos em revê-lo.
No entanto, ele não estava entre os oficiais de patente mais alta, como deveria ser.
Um a um foram descendo de seus cavalos, ou descendo de carruagens e não havia qualquer sinal. O Príncipe Herdeiro andou entre as carruagens e os cavalos com seu olhar procurando avidamente, até que foi cumprimentado respeitosamente pelo General.
Quando o Príncipe Herdeiro recebeu a notícia pelo General da Guarda que o Capitão San Dian Shui havia morrido durante a incursão militar, o choque se estampou por segundos em seu rosto, nem de longe refletindo o golpe recebido em seu íntimo.
Todavia, em seguida, o Príncipe retomou a sua expressão digna e distante, apenas se afastando.
Sem mesmo comparecer ao funeral do Capitão que foi enterrado com honras.
Precisando passar por um tempo em cultivo isolado, para limpar a mente.
O Príncipe causou preocupação na Corte aos seus pais, aos Ministros e Eruditos Conselheiros, por passar tanto tempo meditando em reclusão, mas ninguém interrompeu mais este capricho de sua Alteza.
Jun Wu precisou cultivar sozinho por dois meses e meio para conseguir suprimir por completo a lembrança, a memória que o consumia, ele nunca soube lidar com perdas.
E quando ascendeu nos quinze dias seguintes, pelo resto de seus dias entre ser um humano, um deus, um imperador, uma Calamidade, um Daozhang e um deus menor... San Dian Shui tinha sido praticamente banido de sua mente, era uma dor que ele não tinha como manter em seu íntimo, porque tinha perdido a única pessoa que o ouvia com sinceridade, o único para quem podia abrir seu coração, desnudar a alma.
No instante em que Huan Shui falou sobre seus últimos meses como um Príncipe Herdeiro em Wu Yong, Jun Wu se lembrou e a dor que sentiu extraiu o pior de si.
Sem poder controlar a torrente de sentimentos acumulados por tanto tempo, lágrimas transbordaram em seus olhos e desceram em filete por seu rosto franzido, era tão desconfortável e aterrador ter esse sentimento exposto, depois de passar tanto tempo renegando-o.
Huan Shui, ainda sem a maior parte das memórias sobre Jun Wu, não se lembrava de tê-lo visto chorar e devagarinho ele tentou enxugar o pequeno rio salgado por baixo dos olhos, numa carícia extremamente meiga.
Sem mesmo se importar que as mãos dele seu corpo, estivessem machucando de tão fortes e perdidas.
— Eu não queria te fazer chorar assim... Mas, eu precisava descobrir se o que eu vi desacordado era verdade... Era tão vivo e real.
Jun Wu fungou desconcertado, tentando se controlar enquanto o abraçava num repente, o contato amoroso o ajudava a se recompor, recuperara a firmeza agora quase imperturbável de antes... Mas, não completamente.
Seus olhos ardiam, enquanto a vontade de chorar era cruelmente sufocada pelo seu pudor e orgulho.
— A-Shui... Você... É mesmo ele? Como... Tem certeza que é uma memória sua e não foi implantada?
Os braços de Huan Shui se cruzaram nas costas de Jun Wu, também se abrigando nele.
— Depois de confirmar que você viveu o mesmo, que Dian Shui era real... Faz sentido uma das memórias que abri em uma das orbes e... Antes de confirmar, os sentimentos dele por você... Eram tão meus.
Jun Wu estava intensamente reflexivo e queria muito esquecer que tinha chorado, porque essas lágrimas de agora pertenciam a uma época tão distante, a um príncipe idealista que tinha sido tolo o suficiente para esquecer alguém importante em seu coração.
Com gentileza trêmula, o deus menor afastou um pouco Huan Shui, lhe oferecendo um meio sorriso, tomando-o afetuoso pela mão.
Deixando uma luminária de azeite próximo a esteira de repouso, os dois se deitaram juntos e Jun Wu não estava completamente virado de lado, por conta de seu ferimento que ainda não tinha regenerado por completo.
Havendo a necessidade mútua de se olharem, enquanto conversavam dentro da penumbra do aposento, com o som do mar ao fundo, o cais silencioso, pois os pescadores ainda não tinham retornado com suas traineiras.
— Antes de voltarmos a falar sobre seu pretenso "sonho"... Eu preciso perguntar, A-Shui. Foi você que teve a ideia de enviar Shu Rong em meu auxílio?
— Eu sabia que o Daozhang tinha agido precipitadamente, eu ainda tenho muito de seu poder espiritual no meu corpo... Conhecendo bem Jiahao, eu entrei em desespero... Eu queria ir te ajudar, mas A-Sheng e o Yifu estavam irredutíveis.
Jun Wu deixou escapar um suspiro de alívio pelos dois cultivadores estarem por perto para impedir Huan Shui... Porque, o que poderia ter acontecido se seu amado fosse confrontar Jiahao? Em vez de pensar numa resposta angustiante, o Daozhang levou uma mecha de cabelo longa para trás da orelha de Shui, numa carícia.
— Então... Seu gato preto entrou pela janela, eu pensei em passar o mana que estava em mim para ele e enviar o gato para Sichuan, eu descobri sua localização pelo amuleto de borboleta... Mas, Shu Rong não permitiu... Ele foi meio duro comigo.
Não lhe escapou que Huan Shui baixou os olhos um pouco magoado quando disse "ele foi meio duro comigo", Jun Wu deslizou de leve com a mão em seu rosto e fez cócegas em seu queixo para que o rapaz lhe voltasse o olhar contrariado.
— A-Shui... Se extraísse o mana de seu corpo, iria perder os sentidos. Sang Xing foi claro, o poder espiritual precisa agir junto com a poção que ele preparou.
— Eu sei, mas... Acha que eu ligo? Eu despertei envolvido pelas impressões de Wu Yong e eu morri tendo o último desejo de ver seu rosto... O que eu faria se agora você não voltasse para mim?
Aquelas palavras sinceras, meio enviesadas, tinham um peso imenso ainda que ditas com o tom baixo de Huan Shui, que completou esquadrinhando a face do Daozhang:
— Shu Rong gesticulou que ia no lugar do gato, que ele lutaria por mim e traria meu marido de volta... Fiquei sem jeito quando ele se referiu ao Daozhang como "marido".
E ao admitir, Huan Shui tocou a mão de Jun Wu em seu rosto, piscando como se até seus cílios tivessem envoltos em timidez.
— Mas, A-Shui... — Jun Wu acabou rindo baixo. — É o que somos, desde que voltamos de Jiang Nan.
Completando a sentença ao entregar-lhe um beijo cheio de afeição na testa e Shui se aconchegou ainda mais contra seu corpo.
— Aliás... — O Daozhang emendou, um pouco mais sério, sua voz quase sussurrante. — Posso dizer "finalmente somos". Nem acredito que precisei errar tanto na minha vida, para poder te reencontrar... San Dian Shui.
Pronunciar esse nome em voz alta, causava revoluções em seu espírito, porque naquela época tão antiga, sendo tão jovem... Jun Wu percebeu tarde demais o que sentia pelo Capitão da Guarda.
No entanto, assim que seu guarda costas foi levado pela morte, o Príncipe enterrou junto com San Dian, absolutamente tudo que sentia por ele.
Ou equivocadamente, assim Jun Wu pensou.