Pretend

By allthsecuban

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A Stanford High-College é a instituição de ensino integrado entre escola e faculdade mais famosa de todo o Es... More

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Πόλεμος
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Ozymandias

Uncontrollable

9.2K 617 1.7K
By allthsecuban

Olá! Queria agradecer e dizer que chegamos à marca de 5,5K de leituras! Obrigada por isso, vocês são demais!

Acho que é a partir daqui que terão surtos e respostas para as diversas teorias de vocês (as quais faço questão de ler uma por uma, sério, adoro os comentários).

Aproveitem!

—;—

Narrador POV

"29 de maio de 2021 - Palo Alto, Califórnia

Pânico.

Esse era o único sentimento que podia ser sentido e observado dentro da sala de língua grega naquela noite de sábado. Apenas uma das lâmpadas brilhantes no teto estava acesa, dando a visão parcial da sala para os olhos de uma única pessoa dentro dela. A garota sentada na cadeira acolchoada - destinada ao profissional de ensino - apertava a mesa de madeira com força, na tentativa de eliminar a crescente sensação de crise de ansiedade em seu corpo.

Seu estômago estava embrulhado em um nível que sentia que iria vomitar a qualquer segundo, o que a fazia engolir em seco sobre o nó incômodo em sua garganta. As unhas postiças raspavam contra o material escuro do móvel, criando um barulho terrível que, no momento, não parecia incomoda-la. Seus olhos castanhos estavam arregalados em alerta, procurando na sala alguma fonte de distração enquanto esperava a ligação de aviso que, provavelmente, não tardaria a acontecer.

Em cima da mesa, a alguns centímetros de onde suas unhas raspavam, a faca de tamanho médio esperava pacientemente o momento de ser segurada e utilizada. Sua base na cor marrom escuro era bonita, tendo pequenas granulações brilhantes entre o preto e o marrom claro; lembrando o que o objeto e a garota representavam: a terra. Sua lâmina perfeitamente afiada era tão bem polida que se parecia com um espelho, fazendo a arma poderosa se portar de maneira ainda mais voraz e esplendorosa.

A loira observava as pinturas nas paredes brancas, lendo e relendo os textos que explicavam as histórias da mitologia grega entre as caricaturas de Zeus, Poseidon e todos os Deuses mais famosos. Qualquer coisa que prendesse sua atenção por mais de um segundo era importante, já que seu coração bombeava tão rápido contra seu peito que acreditava estar à beira de um infarto. Apesar de evitar olhar na direção do iPhone de última geração ao seu lado, seus olhos traiçoeiros faziam esse trabalho de forma inconsciente, esperando a grande ligação que, àquela altura, demorava mais que o necessário.

Entre um longo suspiro e mais uma engolida em seco, os dois toques suaves na porta a alguns passos de si a assustou completamente, fazendo-a levar a mão ao coração instintivamente. Franziu o cenho para a ideia da pessoa que havia batido, não entendendo o porquê de ter ido até ali e não apenas ligado.

— Posso entrar? - A voz masculina perguntou em sua usual forma gentil de dizer, esperando pacientemente a concessão de sua entrada pela pessoa dentro da sala.

A resposta não veio verbalmente, para a surpresa do garoto que estava com a mão na maçaneta da porta. Do lado de dentro, a loira finalmente puxou a faca consigo, segurando-a com a mão direita enquanto guardava seu celular em seu bolso traseiro com a mão livre. Seus passos foram rápidos até a porta, não tardando a esticar seu braço esquerdo até o interruptor na parede e desligar a luz que dava a claridade para o local, para logo depois girar a maçaneta com precisão e colocar seus olhos castanhos no garoto à sua frente.

Seu olhar foi ágil em encontrar o rosto de seu melhor amigo, esse que encarava-a com afeto e preocupação. Descendo ainda mais sua atenção, pôde notar que o loiro também segurava sua própria faca em sua mão direita, a qual brilhava em um tom chamativo de azul escuro em sua base. Ao subir seu olhar novamente, passando dessa vez pela cabeça do garoto que deu um passo para o lado no objetivo de dar passagem para si, sua atenção foi puxada para a câmera de segurança apontada para os dois na parede oposta; observando que o sinal vermelho que indicava que estava gravando, dessa vez, estava apagado.

— Não funciona enquanto seguramos as facas, lembra? - O garoto disse divertido, em uma tentativa de tirar a tensão quase palpável do pânico crescente da garota. Seu braço direito musculoso foi levantado acima de sua cabeça, acenando com a faca para a câmera que deveria estar filmando pelo sensor de movimento, no entanto, nada acontecia.

— Onde estão os outros? Ele já apagou? - Ignorou a tentativa de distração do garoto, indo direto ao ponto enquanto ajeitava sua camiseta sobre a calça jeans. Seus olhos furtivos observaram o quão escuro estava o corredor no qual se encontravam naquele momento, tendo somente algumas lâmpadas acesas para que não ficassem no completo breu.

— Sim, acredito que só acordaria amanhã, se fosse o caso. - Ele confidenciou com seu tom ameno, esperando o tempo da garota de começar a caminhar até o encontro dos outros. Sentia a vontade de abraçá-la por observar o quão frágil sua amiga estava, todavia, sabia que contato físico não seria de bom grado no momento, portanto, estabeleceu seu apoio moral apenas com sua presença.

— Por que veio até aqui? Achei que iria me ligar quando terminassem. - Seu tom era baixo, em uma crescente tentativa de tirar a sensação horrível de seu peito. O nó em sua garganta só crescia a cada segundo que chegava mais perto de precisar, finalmente, cometer o horror que a tirava de órbita.

— Instinto. Senti que precisava da minha presença para encorajá-la. - O garoto respondeu com sinceridade, sorrindo de forma curta e compreensiva para a loira que apenas assentiu lentamente.

Mesmo que não fosse admitir naquele momento, sabia que a presença do loiro ali consigo era de suma importância; sentia que, de fato, se ele não fosse buscá-la, não teria a coragem necessária para caminhar e terminar o que iria fazer. Se sentiu orgulhosa por manter aquele garoto de cabelos bem cortados em seu ciclo de amigos, entendendo o quão incrível ele era para si e para uma grande parcela de pessoas.

Um porto-seguro. Tristan era exatamente isso desde que chegara àquela instituição anos antes.

Sem perder mais tempo que o necessário, ao sentir uma súbita sensação de mal-estar, a loira iniciou sua caminhada pelo corredor, sendo acompanhada automaticamente pelo garoto ao seu lado. O silêncio reinou no lugar, já que ambos sabiam que as palavras não eram necessárias a partir daquele ponto. Apesar de andarem em uma velocidade média, a brisa fresca que somente a primavera concedia à região batia contra seus corpos, dando uma sensação mesclada entre a liberdade e o pânico.

Após virarem à esquerda em direção ao corredor dos Seniores e seguirem o caminho até o hall de entrada onde a bifurcação da escadaria se fazia presente, a estátua de Leland Stanford ali parecia uma grande ironia na cabeça da loira, que fez questão de estacionar seu corpo por alguns segundos bem à frente da escultura de pedra do homem que fundara o lugar onde ela agora pisava.

— É tudo culpa sua! Espero que esteja orgulhoso. - O rancor em sua voz era palpável, assim como a súbita sensação de raiva que crescia em seu corpo. Ela sabia que, no fundo, não sentia raiva e nem nada do tipo sobre Leland, muito pelo contrário; entretanto, inconscientemente, o que aconteceria nos próximos minutos era, de fato, culpa do homem eternizado na escultura esplendorosa.

Tristan sabia que Dinah precisava de um tempo para si, e foi exatamente por saber disso que preferiu se manter em silêncio ao ouvir o que havia sido proferido por sua boca. Sua mão esquerda se elevou gentilmente até a cintura da loira, em um gesto silencioso de que deveriam seguir o caminho. Quando passaram para o corredor sob a escadaria e seguiram em direção ao largo corredor cheio de portas, o pensamento de Dinah foi ágil em perceber aonde estavam os outros.

Não foi muito difícil de entender que estavam no refeitório, já que, nitidamente, atrás das janelas redondas de vidro encontradas na porta dupla, as luzes do ambiente estavam acesas. O tremor no corpo de Dinah aumentou enquanto continuava sua caminhada ao lado do atleta, contando os segundos até chegar ao local que serviria de palco para a atrocidade que aconteceria em questão de minutos. O pensamento de que aquilo aconteceria no refeitório, ou melhor, em um lugar específico do refeitório, deixou a loira ainda mais irritada com a situação.

Com o atleta liderando a entrada de ambos ao empurrar o lado esquerdo da porta, Dinah pôde notar que apenas as luzes do lado esquerdo do ambiente estavam acesas, dando luminosidade suficiente para um lugar em específico. Sem parar a caminhada, continuaram o caminho entre as mesas vazias que sempre ficavam lotadas nos dias úteis da semana, seguindo em direção ao local mais cobiçado de toda a High.

A loira observou sua melhor amiga sentada em sua usual cadeira, com as pernas perfeitamente cruzadas enquanto batia levemente a lâmina afiada de sua própria faca contra a madeira maciça da mesa em que se sentavam todos os dias. Em seu lado direito, com apenas uma cadeira vazia de distância da garota sentada rigidamente, se encontrava seu outro amigo; que, por sua vez, girava divertida e habilidosamente sua faca com a mão esquerda.

— No Olimpo, sério?! - A loira perguntou com descrença ao subir os degraus da pequena escada do local, ganhando a atenção de ambos na mesa a poucos metros de si. Seus olhos observaram o garoto desacordado no chão, percebendo suas vestes mais largas que o comum, provavelmente proveniente da força que utilizaram para mantê-lo quieto enquanto aplicavam a seringa com a dose necessária da medicação que o fez entrar em estado absoluto de sono.

— Não é irônico que seja aqui?! Foi por isso que escolhi. - O de cabelos loiros claros disse com um sorriso de canto, continuando a girar o objeto em sua mão esquerda com diversão.

— Eu disse que poderia ser na porra da quadra de basquete, Troye, não quero precisar lembrar do que aconteceu todas as vezes que subir aqui. - Vociferou com mais raiva dessa vez, apertando com mais força a base marrom da faca em uma tentativa de conter suas emoções.

— Relaxa aí, estressada, foi só uma piada. - O suíço disse ao revirar os olhos com tédio, dividindo agora seu olhar entre o rapaz desacordado e os dois indivíduos que recém chegaram ao ambiente.

— Fica quieto, Troye, não está vendo que ela precisa de um tempo para entender o que irá fazer?! - A de cabelos castanhos sentada perto do garoto disse com firmeza, parando de bater a lâmina contra a mesa.

Dinah voltou a observar o garoto de cabelos cacheados completamente desacordado, conseguindo notar que sua pele - clara já de nascença - agora estava pálida como uma folha de papel. Sentiu pena de Ethan; sentiu rancor de si mesma; sentiu saudades da época em que não precisava fazer isso; sentiu o sentimento de angústia a abraçar com força. O nó em sua garganta agora parecia tão pesado que sentia o choro vindo a qualquer momento, o que a fazia piscar rapidamente enquanto olhava para cima, em uma tentativa clara de controlar as lágrimas.

— Coiote, sabe que não precisa fazer isso hoje, se não quiser. - Camila disse com pesar na voz, compreendendo a dor de sua amiga como ninguém.

Ela seria a próxima a precisar matar, então entendia o pânico palpável da garota.

— Camila, você não tem ideia de quantas vezes eu quase desmaiei nessa semana. Minhas pálpebras estão quase brancas como papel, sendo que deveriam estar avermelhadas como as de qualquer pessoa normal. O meu cabelo não para de cair, e não é só na droga do banho ou quando escovo, é em qualquer minuto do dia. Me sinto fraca a cada dia, e sei que se eu não fizer isso logo, vou morrer aos poucos. - A voz de Dinah, apesar de baixa, demonstrava a dor que sentia não só em seu corpo, mas pelo que teria que cometer naquele lugar tão especial para si no refeitório.

A capitã preferiu manter o silêncio pela resposta que levou, assentindo levemente com a cabeça. Engoliu em seco por não conseguir dar seu apoio completo à sua melhor amiga, entendendo que, no momento, palavras não eram necessárias. Sabia que não adiantaria de nada dar conselhos ou qualquer coisa do tipo enquanto aquilo não fosse terminado.

Dinah não escutaria nenhum deles.

— Vocês têm certeza de que ele não vai acordar? - Perguntou a loira com incerteza na voz, apertando ainda mais a base da faca ao se aproximar do corpo do garoto. Sua atenção foi puxada para a frente quando notou o loiro de olhos azuis se levantar de sua cadeira, parando de girar a faca em sua mão esquerda.

Troye se aproximou de ambos com o olhar fixo no corpo do garoto no chão. Apesar de parecer normal, sua expressão tediosa dizia por ele mesmo; dizia que queria que aquilo terminasse logo. O suíço inspecionou o corpo de Ethan por alguns segundos sob o olhar furtivo de Dinah, e então, deu um forte chute no estômago do rapaz que apenas se moveu com a força do impacto, não falando nem uma palavra sequer, tampouco abrindo seus olhos.

— Para, porra! Não quero que ele sinta dor. - Dinah empurrou a cintura do loiro que apenas subiu as sobrancelhas em descrença, soltando uma risada nasal pela frase escutada. A co-capitã puxou o garoto novamente pela cintura, o ajeitando no chão da mesma forma que se encontrava anteriormente.

— Ele não vai sentir nada, idiota, está dopado até os dentes de diazepam! - Troye revirou os olhos enquanto explicava o óbvio, voltando a girar a faca de base branca com diversos raios azuis claros, quase transparentes.

— O retardado tem razão, Dinah. A dose aplicada apagaria até mesmo um cavalo. - O de olhos cor de mel disse em seu tom ameno, ainda estando parado a poucos centímetros de si, dando-a sua total atenção e apoio.

— Quem você chamou de retardado, Tristan? - O co-capitão disse com irritação, dando um passo rápido na direção do outro que apenas acompanhou o movimento sem medo, também dando um passo para mais perto do de olhos azuis.

— Vocês dois! Calem a porra da boca! - Camila aumentou o tom de voz de maneira significativa, raspando a lâmina de sua faca sobre a mesa de madeira de forma tão rude que criou um ruído horrível no local. A capitã se levantou da cadeira, andando rapidamente até os dois garotos que se encaravam com fúria nos olhos, se colocando ao lado de ambos. - Eu não quero vocês brigando igual cão e gato agora, ouviram bem?!

— Mas Cami, eu... - Tristan tentou iniciar uma argumentação plausível, olhando para a expressão fechada da latina ao seu lado. O outro loiro também teve a mesma reação defensiva, encarando o rosto da garota que olhava para ambos com as sobrancelhas baixas e a mandíbula travada contra o maxilar.

— Estamos nessa porra de refeitório para dar apoio à Dinah. Estou sem paciência para as brigas de vocês, e se eu escutar - levantou sua faca na altura dos olhos dos dois, em uma ameaça verbal clara - qualquer ofensa ou início de discussão de qualquer um de vocês, o próximo a dormir até amanhã não será a droga do Ethan, entenderam?!

Os ombros dos dois caíram ao mesmo tempo enquanto assentiram com vergonha para a capitã, que apenas revirou os olhos com a cena. Sua atenção foi voltada para sua melhor amiga agachada ao lado do garoto desacordado, sentindo pena da situação em que se encontrava. Não tardou a se aproximar de ambos, esfregando o braço de Dinah em um carinho especial de apoio moral. Após se agachar do lado oposto ao que sua amiga estava, tendo a cabeça de Ethan quase embaixo de si, sua mão foi ágil em se aproximar o pescoço do garoto, sentindo seus batimentos cardíacos.

A capitã franziu o cenho ao notar que a velocidade de batimentos estava normal, já que, pela dose de diazepam aplicada com a seringa, deveria estar muito mais lenta que aquilo. Geralmente, em pessoas saudáveis, a referência de intervalo dos batimentos cardíacos é entre 60 e 100 bpm, no entanto, contra os dedos quentes de Camila, o ponto de pulso do garoto não parecia estar abaixo disso, pelo contrário, parecia bem normal.

— Gente, eu acho que... - Camila ia iniciar seu argumento sobre uma possibilidade do garoto despertar, no entanto, seu questionamento foi respondido pela movimentação inusitada de Ethan abaixo de si, em uma tentativa de mexer seu braço.

Os dois garotos arregalaram os olhos pelo movimento, tomando a atitude de aproximar da cena no mesmo momento. Aquilo, definitivamente, não era para estar acontecendo. Dinah se assustou com a súbita movimentação dos amigos, dando dois passos para trás enquanto observava Tristan segurar as pernas do garoto e Troye manter seu tronco parado abaixo de seu joelho contra sua barriga.

— O que está acontecendo? - A loira indagou aflita, voltando a sentir os tremores em seu corpo quando notou os olhos se Ethan se abrirem com confusão.

— Não era para estar acontecendo. Droga, temos mais diazepam? - Camila perguntou com rapidez, trazendo os braços ainda moles do garoto para cima de sua cabeça enquanto segurava seus pulsos com força, impedindo que se movesse.

— Não, utilizamos o vidro inteiro. - O atleta de futebol disse um pouco mais alto, travando ambas as pernas do garoto abaixo de seus joelhos, utilizando também sua mão esquerda livre para forçar o próprio joelho do garoto para baixo.

A loira se levantou de supetão, levando ambas as mãos até seus cabelos em um início de crise de pânico. Sua respiração se intensificou ainda mais, fazendo-a resfolegar a cada vez que engolia sobre o nó em sua garganta, parecendo estar se afogando. Não conseguiria terminar aquilo com o garoto ainda acordado; não queria que ele sentisse dor ou visse seu rosto enquanto o assassinava.

Play em Jason Walker - Echo

— Socorro! Alguém me... - A voz confusa e grogue de Ethan tentou gritar, assustando os quatro no Olimpo. Troye levou sua mão direita até a boca do garoto, travando seu direito de fala em questão de segundos. Apesar de agora estar sendo silenciado, o de cabelos cacheados ainda tentava gritar, movendo a cabeça de um lado para o outro no objetivo de se soltar do toque de Troye.

'Anybody out there? Cause I don't hear a sound'

— Cale a boca, caralho! Ninguém vai te ouvir, estamos sozinhos. - O loiro com a faca na mão esquerda disse com raiva, forçando ainda mais seu toque áspero contra os lábios do garoto que agora estava completamente desesperado. - Dinah, porra! Venha aqui e faça logo isso.

— Eu não vou conseguir com ele acordado, não dá! - A loira aumentou seu tom de voz enquanto andava de um lado para o outro, sentindo o suor pingar de sua testa em uma velocidade assustadora. Os nós de seus dedos já estavam brancos pela força excessiva a qual segurava o objeto cortante, resfolegando sem parar ao sentir sua cabeça latejar em dor.

— Dinah, eu sei que é difícil mas você precisa decidir se vai ou não terminar isso agora! - Camila disse no mesmo tom utilizado por sua amiga, gemendo dolorosamente ao sentir sua mão ser apertada com força enquanto forçava o pulso do garoto contra o chão.

'Sometimes when I close my eyes, I pretend I'm alright but it's never enough'

— Me deixa pensar, porra! - Ao tentar coçar sua cabeça, a loira notou o grande tufo de cabelo em sua mão esquerda, ficando horrorizada pela situação enquanto jogava-o no chão. Parecendo ter levado um choque de realidade do porquê precisava fazer aquilo, seus pés pareceram se mover de maneira inconsciente até estar ao lado de Tristan, se agachando com rapidez ao lado do garoto que era mantido parado.

— Porra! Filho da puta! - Troye urrou com dor ao sentir uma forte mordida na palma de sua mão. Ele tentou afastar sua mão da boca do rapaz, no entanto, os dentes de Ethan estavam cravados contra sua pele, o fazendo gritar ainda mais alto. Movido pela raiva de estar sentindo dor, o garoto trouxe sua mão esquerda com a faca até a metade da altura acima de sua cabeça, descendo seu punho com força contra o pescoço do garoto, batendo com a base da faca em sua garganta.

Pela força excessiva na região, Ethan retirou os dentes da pele de Troye enquanto tossia sem parar pelo golpe recebido, se engasgando com força. Se desesperando ainda mais com a cena em que estava sendo obrigado a estar, seus movimentos de tentativa de se soltar ficaram ainda mais violentos, fazendo com que Tristan tivesse que aumentar a força de repreensão em suas pernas. O loiro de olhos azuis voltou a colocar a mão contra a boca do garoto, ameaçando-o dessa vez com sua própria faca.

— Se você me morder de novo, eu juro que te estraçalho! - Disse com raiva, forçando seus dedos contra a bochecha do rapaz que ainda tentava mexer sua cabeça de um lado para o outro.

— Vamos, Dinah! Escolha agora! - Camila gritou mais alto, observando a apreensão no olhar de sua amiga que respirava com força. A capitã sentia que não conseguiria segurar as mãos de Ethan por muito tempo, visto que sua mão estava sendo apertada de forma tão rude que sabia que deixaria a região marcada.

'You could come and save me and try to chase the crazy right out of my head'

A co-capitã olhava nos olhos arregalados do garoto abaixo de si, sentindo a vontade de chorar aumentar de forma tão exponencial que parecia que ia explodir ali mesmo. Ela via o medo em seus olhos; via a sensação de que ele tinha sobre sua iminente morte; via seu futuro ser fadado a nunca mais esquecer aquela noite. Em um movimento rápido, a loira segurou a base da faca com ambas as mãos, posicionando a lâmina para baixo enquanto elevava seus braços até a altura de seus olhos, acima do abdômen do garoto que agora grunhia mais alto contra a mão de Troye.

Ela parou seu movimento no ar quando, na posição em que a faca estava, pôde se olhar contra o metal resistente do objeto, encarando seu próprio rosto como se estivesse vendo um espelho. A base marrom agora cintilava ainda mais, assim como o brilho esplendoroso que partia da lâmina curvada na ponta; entretanto, quando encarou seu próprio reflexo na faca, Dinah não se reconheceu.

Sabia que nunca mais seria a mesma garota natural de Londres que sonhava em estudar moda; que pedia o mesmo Frappuccino de café duplo no Starbucks; que amava seus dois cachorros com todo o seu coração; que sentia a vibe da vida de uma forma mais romântica que o resto da população.

Ela sabia, no fundo, que perderia sua alma naquele instante.

— Dinah, sua filha da puta! Mate-o logo! - Troye gritou tão alto que fez um eco em seus ouvidos, um eco tão forte que silenciou a audição da loira por alguns instantes, fazendo-a sentir e ouvir apenas a batida frenética de seu coração contra sua caixa torácica.

Dinah deixou de se encarar no reflexo da faca, sentindo uma súbita coragem tomar conta de seu ser. Algo parecido com um grunhido saiu por entre seus lábios ao sentir que estava pronta para seguir adiante, criando uma brecha perfeita para que ela, finalmente, terminasse o que iniciaram quase uma hora e meia antes.

E então, ela fez o que mais temia.

— Me perdoa, por favor. - Ela disse baixinho em um súbito soluço que cortou sua garganta, segurando a base da faca com mais força que nunca. - με το αίμα ενός πρωτότυπου έγινε. (Com o sangue de um Original foi feito).

'I don't wanna be an island, I just wanna feel alive and get to see your face again'

Seus punhos desceram com uma brutalidade fora do comum contra o peitoral do garoto que resfolegou com os olhos fechados pela dor abrasiva. A faca rasgou o tecido da blusa do garoto em questão de segundos, assim como a pele que protegia todo o sistema cardiovascular. Sabendo que uma única facada não resolveria, antes que a coragem desaparecesse, Dinah subiu novamente o objeto até a altura de seus olhos, observando o sangue avermelhado pingar rapidamente.

Sem dar um espaço longo de tempo, seu movimento para baixo foi ainda mais rápido, assim como o outro que fez após ainda senti-lo vivo. E de novo, e de novo, e de novo... em toda a região do peitoral malhado do garoto que, àquela altura, já havia parado do tentar se mover. Dinah nem sequer percebeu o choro alto que a abraçou, e só teve a noção disso quando sentiu o gosto salgado das lágrimas ao tocarem seus lábios.

Na realidade, ela chorava tanto que nem sequer percebeu que começou a chorar antes mesmo de dar a primeira facada.

Camila sentiu o aperto em sua mão diminuir consideravelmente, até notar que o garoto nem sequer se movia mais. O cheiro de sangue que subia entre os cortes profundos fez a garota sentir a ânsia de vômito a dominar, fazendo-a virar o rosto para o lado na tentativa de encarar outro ponto qualquer no refeitório. Troye, por sua vez, havia tirado sua mão da boca do garoto ao perceber que ele não gritava mais, limpando-a de maneira enojada em sua calça jeans ao perceber que estava molhada de saliva. E, bom, Tristan tinha a expressão fechada para a cena, reconhecendo que Dinah estava em um estado frágil e que sua ajuda no momento não era mais necessária, o que o fez largar as pernas já imóveis do garoto.

— και μόνο με το αίμα ενός πρωτοτύπου μπορεί να αναιρεθεί. (E somente pelo sangue de um Original poderá ser desfeito). - Terminou sua sentença mortal entre soluços intermináveis, puxando sua faca para si quando percebeu que Ethan já não estava mais entre eles.

O choque de realidade a abraçou com vontade ao perceber que havia assassinado uma pessoa, fazendo-a cair de bunda no chão enquanto se arrastava para longe do corpo imóvel do garoto. Seus olhos estavam tão abertos quanto sua boca que gritava com dor pelo que tinha feito, assim como as lágrimas que caíam livremente, molhando suas bochechas como se tivesse tomado um banho de chuva. A crise de pânico a acometeu com força, deixando-a com falta de ar no mesmo momento em que puxou seus joelhos contra seu peito enquanto os abraçava com força.

— Ethan, me desculpa. Por favor, me desculpa. Me desculpa, me desculpa. - Sua voz saía da forma mais dolorosa possível, entrecortada pelos soluços fortes que cortavam sua garganta. Ela se engasgava com suas próprias lágrimas, sentindo um tremor terrível tomar conta de cada parte de seu corpo.

A latina engoliu em seco pela cena horrorosa à sua frente, se direcionando para perto de sua amiga que se balançava na tentativa de conter a crise de ansiedade gritante. Sem medo da reação de Dinah, que ainda tinha a faca coberta de sangue em sua mão, Camila a abraçou assim que se agachou ao seu lado, colocando a cabeça da garota contra seu peito enquanto sentia sua camiseta molhar automaticamente pelas lágrimas.

— Calma, estou aqui. Vai ficar tudo bem. - Ela confidenciava baixinho ao pé do ouvido da loira que a apertava como se o mundo dependesse disso, não parando de chorar nem por um segundo.

Tristan, por outro lado, aproximou sua mão esquerda do tronco estraçalhado do garoto, abrindo espaço com os dedos entre as brechas de sua camiseta amarela. Quando seus olhos focaram na pele clara do garoto, antes rasgada como a camiseta que a abraçava, o loiro franziu o cenho com confusão ao notar uma cicatrização rápida do local, parecendo estar se fechando a cada segundo. Seus olhos cor de mel foram direcionados para seu lado esquerdo, focando-os agora no co-capitão das CashCats que encarava sua mão mordida, parecendo estar com dor.

— Ei, seu idiota. - Chamou com desprezo, recebendo um murmúrio baixo do outro em sinal de que deveria continuar sua fala. Troye nem ligou pelo apelido que havia sido chamado, tinha sua atenção completa na marca funda dos dentes de Ethan na palma de sua mão. - A pele dele está cicatrizando muito rápido. Isso é normal?

A pergunta havia sido direcionada para Troye porque ele havia sido o primeiro entre eles a precisar matar, três meses antes daquela noite. Jessica Hardin, a líder de torcida - agora ex integrante das CashCats - havia sido a escolhida do loiro, o que o deixava mais experiente no assunto que qualquer um dos três. O sumiço da garota só não foi um problema com as autoridades pois, milagrosamente, os ferimentos profundos vindos da arma mortal de Troye haviam sido cicatrizados momentos depois que sua alma havia sido oferecida.

— Sim. Em cinco minutos, vai parecer que ele apenas dormiu e morreu. Precisamos colocá-lo em algum lugar que pareça ter sido um acidente natural. - Explicou em seu típico tom tedioso, balançando sua mão no ar com a dor que ainda fazia sua mão arder.

O atleta se surpreendeu com as palavras ouvidas enquanto encarava a forma como os cortes, a cada segundo passado, se fechavam. Voltando a camisa para o mesmo lugar que antes, Tristan novamente se levantou, cruzando os braços contra o peitoral enquanto assistia Camila abraçar a amiga que ainda chorava como se tivesse perdido um familiar ou um amigo próximo.

Sangue por sangue. Era assim que funcionaria a partir daquele ano.

Enquanto continuava a chorar, Dinah nem sequer percebeu o quão forte havia ficado de forma tão súbita; nem sequer percebeu a forma como seu cabelo ganhou vida novamente, ficando ainda mais bonito e sedoso; nem sequer percebeu o sangue voltar a circular com mais voracidade em suas veias. Sua vida havia sido restaurada com louvor, sendo trocada pela de Ethan que ainda estava imóvel contra o chão de mármore do Olimpo.

A londrina sabia que, a partir daquele dia, mesmo que não tivesse perdido sua alma em uma possível morte, sua alma havia sido arrancada de si, falecendo entre os cortes profundos feitos no peito do garoto de cabelos cacheados. Ela chorava por vários motivos, porém, em seu âmago, sabia que teria de lidar com a ardência fervorosa de sua alma apodrecida, dependendo do sangue de uma outra alma a cada ano passado.

Até o fim de sua vida."

Lauren Jauregui POV

Dias atuais - Palo Alto, Califórnia

Mesmo sabendo que eu precisaria de uma boa noite de sono para enfrentar a quinta-feira da melhor forma possível, me senti tentada a pesquisar sobre os assuntos conversados com Ariana e Camila. As dúvidas incessantes sobre a conversa com a ruiva na ida à Menlo Park ainda martelavam meu cérebro, o que me deixou mais tentada a me sentar na cadeira em frente ao notebook depois do longo e refrescante banho.

Com uma ida rápida à cozinha para pegar uma bolsa de gelo, seguindo as instruções da capitã, lá estava eu sentada enquanto posicionava o objeto gelado sobre minha coxa direita. O alívio era realmente instantâneo, o que me deixou mais tranquila para seguir com minhas pesquisas. Após abrir o Google, pensei durante alguns segundos em qual tópico procuraria primeiro, não levando muito tempo para decidir digitar "Camila Cabello-Swoord" na barra de search.

Me surpreendi quando apareceram mais de dez mil resultados, sendo os principais - no topo dos links - várias notícias e suas contas em redes sociais diversas. Arrastei o cursor do mouse até o primeiro link, sendo ele de um site de notícias nova-iorquino. Quando a página carregou, revelando um layout moderno com textos e fotos, percebi se tratar de uma notícia do mundo da moda ao ver a foto de Camila desfilando em uma passarela com um belo vestido vermelho-carmesim. A data da postagem não era tão antiga, sendo ela do dia dois de abril desse ano.

"Cansada do mundo dos pompons? Conheça a nova queridinha da Prada, que também é a capa da edição de primavera da revista Vogue

Camila Cabello-Swoord é a nova estrela das passarelas, sendo a primeira adolescente a desfilar na Paris Fashion Week como âncora de uma marca mundialmente conhecida. Neste ano de 2022, a modelo participou do evento mais importante do mundo da moda por quatro dias, sendo um deles o dia de seu aniversário (03/03). Seu nome foi o mais comentado da ocasião nas redes sociais, conseguindo a marca de mais de dois milhões de comentários e menções à sua conta no Twitter.

Apesar de ter somente 18 anos de idade, seu longo leque de trabalhos e conquistas impressiona até mesmo as modelos mais experientes, como por exemplo, Alessandra Ambrósio e Gisele Bündchen. Se tornando o rosto da Prada no ano passado e também, surpreendentemente, embaixadora da Dior, Camila acabou por receber o convite para se tornar embaixadora da Saint Laurent, o qual foi aceito após uma longa conversa com sua equipe de marketing.

Uma curiosidade incrível sobre a latina que tomou conta das maiores marcas de moda do mundo: ela é líder de torcida! Sim, isso mesmo! Swoord é capitã das CashCats em Palo Alto, sendo a mais conceituada equipe de torcida de todo o Estados Unidos. Em uma entrevista para a Vogue francesa, a modelo foi questionada sobre seu futuro nas passarelas e com os pompons nas mãos, no entanto, sua resposta foi clara: 'Não tenho nenhuma pretensão de largar minha carreira como líder de torcida, mesmo que eu precise continuar a praticar o esporte na faculdade. [...] minha carreira como modelo continuará próspera, não me vejo largando nenhum dos dois mundos, realmente'.

Apesar de manter as aparências e a vida em Atherton em sigilo, a herdeira (e dona) da maior empresa imobiliária da América foi flagrada aos beijos com o atleta Tristan West Walls, na saída de uma das festas que a Pangeia (um grupo da Stanford High) costuma dar. No anexo abaixo, veja a foto tirada por um dos paparazzi da região."

Senti meu coração bater tão forte com a informação lida que parecia querer rasgar o peito. Não entendendo (ou não querendo entender) a última linha do parágrafo, rolei o dedo pelo mouse fazendo com que a tela também descesse, me dando a visão nítida da imagem que havia sido mencionada anteriormente. Apesar de não ter uma qualidade das melhores, a foto era nítida o suficiente para que fosse compreendida.

Encostado no capô de um carro que lembrava uma Range Rover preta, Tristan segurava a cintura de Camila que estava com os braços em volta de seu pescoço. Me perguntei o quão sensacionalistas os donos da matéria eram quando notei que não havia nada mais que um abraço na imagem, no entanto, quando rolei novamente para baixo, entendi o que disseram antes.

Mas que porra é...

Ainda na mesma posição que a imagem anterior, Camila tinha a boca grudada na de Tristan, esse que agora tinha uma de suas mãos no pescoço da garota. Abri a boca em descrença com a foto, me perguntando em que momento aquilo havia acontecido e o porquê de eu não ter percebido nada assim antes. Eles eram um casal?! Por que, então, o loiro tinha quase me beijado há dias atrás?!

Ainda sem acreditar na foto e com mais dúvidas gritantes em minha mente, voltei até a página de resultados da pesquisa com o nome da capitã, clicando no próximo link sem nem escolher o título. A dor em minha coxa havia voltado de maneira latejante, o que me fez trocar a bolsa de gelo para a outra perna. Depois que a nova página foi carregada, notei ser um outro site de notícias, dessa vez - para o meu espanto - do The New York Times.

"Doações para a campanha beneficente da menina de 7 anos cresce depois de Camila Cabello-Swoord doar uma boa quantia

Em abril de 2021, a jovem garotinha Peyton Anderson, de 7 anos, decidiu criar uma ONG de ajuda às crianças sem-teto no país. Depois de descobrir que os Estados Unidos têm, pelo menos, 2,5 milhões de crianças em situação de rua ou passando necessidade, a moradora de Wisconsin se sentiu tentada a ajudar nessa pauta tão importante. Assim, em maio desse mesmo ano, nasceu a Eye of a Child, uma campanha em busca de dinheiro e mantimento para as crianças carentes.

No início, a ONG não recebeu muitas doações, no entanto, isso mudou após dois meses de um dos vídeos postados pelos pais de Peyton, no aplicativo de vídeos curtos, TikTok. O vídeo em questão, do qual tinha a garota dizendo suas principais ideias para quando recebesse doações, chegou até a nova estrela das passarelas, Camila Cabello-Swoord; essa que se sentiu comovida pela pauta defendida por Anderson. Após uma conversa com os pais da garota, que eram os responsáveis pela campanha, Camila doou uma bagatela de dois milhões de dólares para a ONG, assim como pediu o aval dos responsáveis para postar em sua própria rede social sobre a campanha; pedido esse que foi aceito sem dificuldades.

'Sei que tenho minha própria ONG de ajuda às crianças e aos animais, entretanto, peço que pensem, nem que seja por um segundo, o quanto vocês ajudariam se doassem pelo menos um dólar. Reflitam sobre quem você estará ajudando ao fazer a diferença na vida de uma criança que, um dia, pode se tornar um médico; um advogado; um professor ou o que quer que seja [...]' - disse a garota em sua conta oficial do Instagram, em um reels dedicado à campanha. Cerca de duas semanas depois, mais de três milhões de dólares foram arrecadados para a ONG por meio de sua ajuda ao viralizar a pauta."

E, novamente, eu estava chocada. Lembro-me bem da latina ter mencionado algo sobre seus trabalhos com filantropia, no entanto, eu não imaginava algo como aquilo. Era estranho o fato de eu não ter o conhecimento de quem era Camila de verdade, já que, todos os dias, ela parecia adotar uma postura diferente comigo e com o mundo. Me perguntei, inconscientemente, o que tinha atrás da grande muralha de aço que protegia seu coração e sua alma.

Mais do que isso, me questionei sobre como eu poderia tentar conseguir acesso àquela parte dela.

Mordi a parte interna de minhas bochechas enquanto semicerrava os olhos com o pensamento intrusivo, me sentindo mais encantada ainda pela notícia lida, apesar de ainda conseguir ver o amargor em minha mente sobre a foto com Tristan. Antes de terminar minha pesquisa em seu nome, cliquei no link que dava acesso à sua conta oficial no Instagram enquanto movimentava a perna que começara a formigar pela contração do músculo.

Senti falta de estar em ligação com Megan e Normani naquele momento, sabendo que eu estaria surtando de todas as formas possíveis enquanto elas gargalhavam do outro lado da tela. O fuso horário de três horas entre os estados me deixou hesitante em ligar, sabendo que lá já era, basicamente, madrugada. Me concentrei na tela do notebook novamente, observando o perfil da capitã no site.

Eu teria caído no chão se já não estivesse sentada.

Quinhentas e duas publicações oficiais estavam marcadas no alto da página, sendo prosseguidas do número exorbitante de seguidores: incríveis 7,9 milhões. Abri a boca em completo choque enquanto lia sua (humilde) biografia: "Modelo, líder de torcida e mais algumas coisas aí. @Prada @ysl @dior". Quis rir da simplicidade a qual Camila resumiu sua vida em uma linha e meia, me sentindo terrivelmente encantada por ela.

A cada segundo pensando, pesquisando ou apenas respirando, eu me sentia mais atraída pela morena de personalidade forte. Seja como capitã ou como supermodelo, ou, talvez, apenas como uma garota de 18 anos comum; eu ainda estava terrivelmente encantada por ela. Parecia loucura o quão fodidamente atraente Camila era, e a forma como ela sorria para mim, assim como a forma que ela olhava para mim, me deixava a ponto de cometer coisas insanas.

Ela tinha um efeito catastrófico sobre mim.

Balancei a cabeça na tentativa de arrancar os pensamentos de minha mente, voltando a focar meus olhos na tela a poucos centímetros de mim. Me dando por vencida no assunto "Camila Cabello-Swoord", voltei o cursor sobre a barra de pesquisas, digitando dessa vez o título "Zagonis". Eu sei que poderia parecer meio gay o que eu estava fazendo, no entanto, qualquer fonte de assunto que pudesse ser útil para uma possível conversa com Camila já me agradava.

Eu queria parecer inteligente para ela da mesma forma que ela era aos meus olhos; eu queria ter domínio nos assuntos de sua preferência, para que pudéssemos conversar cada vez mais; eu queria entrar em sua bolha, se assim me fosse permitido. Em um pequeno resumo, eu a queria.

Antes que eu pudesse ter mais uma sequência de pensamentos intrusivos, franzi meu cenho ao encarar a tela completamente branca do navegador.

Nenhum resultado encontrado.

Sem entender o motivo da falta de resultados, mordi meu lábio enquanto pensava de que outra forma poderia pesquisar aquilo, não demorando muito para digitar o complemento "Zagonis Deus grego". Ficando ainda mais confusa que antes, semicerrei os olhos para a tela do aparelho quando, novamente, não obtive êxito na pesquisa.

Nenhum resultado encontrado. Você quis dizer: Zeus.

"Mas que porra! Não quero saber de Zeus, inferno!" Meu subconsciente gritou em pura raiva, me fazendo rir comigo mesma. Pressionei a tecla de deletar as letras, pensando, uma última vez, em outra frase para pesquisar. Depois de alguns segundos, tive a ideia de digitar o título "Deus grego da modificação de realidade e elementos", apertando a tecla enter depois de terminar de escrever os carácteres.

1 resultado encontrado.

Para a minha surpresa e, ao mesmo tempo, confusão, o único resultado encontrado era de um link para um site de notícias da cidade de Palo Alto, o que me fez franzir o cenho em dúvida. Sem pensar muito, cliquei duas vezes sobre o texto azulado, sendo redirecionada ao jornal digital da cidade em que eu agora morava. A matéria em questão estava datada no dia 11 de fevereiro de 2011, o que me deixou encucada sobre a veracidade dos fatos apresentados logo abaixo.

"Leland Stanford cultuava um Deus inexistente? Entenda, de uma vez por todas, o mistério que corre pela vida tempestuosa do fundador da Stanford High-College

O ex governador do estado da Califórnia e também fundador da maior instituição de ensino do país, Amasa Leland Stanford, é um alvo de bastante dúvida para qualquer pesquisador e historiador americano. O magnata vivia uma vida regada a luxos com sua esposa, Jane Lathrop, e essa vida era tão fechada que até mesmo os amigos do homem tinham dificuldades de contatá-lo.

Após sua estadia de cinco anos na University of Athenas, na Grécia, o homem que anteriormente tinha uma vida ligada à pobreza voltou ao Estados Unidos mais influente e rico que nunca, exercendo seu papel na luta dos estudantes ao criar a Stanford College. Essa mudança brusca de vida nos deixa intrigados, levando em consideração a época em que viveu (séc. XIX). Apesar de não termos muitas informações de sua real situação, um boato da época, o qual foi passado de geração em geração pela família Winston (peregrinos da cidade de Palo Alto naquela época), deixa a história do ex governador um tanto quanto interessante.

Segundo Bruce Winston, descendente da família que tinha ligação direta com os Stanford, uma história estranha ronda a real imagem de Leland e sua vida regada a luxos após sua volta ao país. 'Ele acreditava em um Deus grego que, aparentemente, mudou sua realidade para que obtivesse sucesso na vida. No início, ninguém ligava muito por ser apenas boatos da igreja católica, entretanto, após o súbito ganho de dinheiro e fama dele, as pessoas começaram a desconfiar de um possível pacto com o Diabo [...]' - disse Bruce em uma entrevista para o jornal local.

Apesar de sabermos que nunca iremos, de fato, descobrir a veracidade da informação passada pela família Winston, a história de Leland fica um tanto mais macabra e interessante [...]"

Subi as sobrancelhas com as frases lidas, massageando ambas as coxas enquanto processava as informações que meus olhos capturavam com velocidade. Não havia realmente uma fonte de resultados em todo o navegador que me ajudaria a entender a história de Zagonis, o que, no fundo, me fazia cogitar a ideia de que Camila havia apenas inventado aquele nome no calor do momento. A chance da matéria estar dizendo a verdade era, em minha concepção, quase zero, já que a época em que Leland viveu era recheada de preconceitos e incertezas.

Imagine que você, uma pessoa de origem pobre, retornasse ao seu país natal após cinco anos de estudos em uma grande universidade com riquezas e um nome feito. Era bem óbvio que a igreja surtaria com uma história assim, e pior, se ainda fosse possível, mandariam-o até mesmo para a forca ou a fogueira se descobrissem que, de fato, aconteceu um pacto demoníaco. A falta de provas era óbvia naquele boato, o que me fez rir com graça pela idiotice passada de geração em geração em uma família.

Um Deus grego que manipula a realidade? Conta outra, caralho! Daqui a pouco vão dizer que Leland sacrificava pessoas em uma oferenda para o tal Deus. Patético, simplesmente patético.

Me dando por vencida ao bocejar pela quinta vez em menos de dois minutos, cliquei com o cursor sobre o X no canto superior direito da tela, não demorando muito para abaixá-la e forçar o desligamento do aparelho. Senti uma fisgada incômoda na coxa ao me levantar da cadeira, me fazendo gemer baixinho pela dor ainda presente. Praticamente me arrastei até a cama após deixar a bolsa de gelo sobre a mesa de cabeceira, me jogando contra o colchão macio enquanto pegava o celular ao lado do objeto gelado em cima do móvel.

Cocei os olhos pela claridade da tela do aparelho, desbloqueando-o sem muito esforço e me direcionando para o aplicativo da Hybris, o qual continha uma série de mensagens de várias pessoas diferentes. Era engraçado o quanto minha popularidade aumentava a cada dia, o que fazia os números em meu perfil crescerem exponencialmente. Coloquei minha atenção no grupo fechado com as três garotas da equipe, percebendo ter apenas duas novas mensagens.

"Ei, Lauren! Espero que já tenha chegado em casa. Ariana foi atendida bem rápido no hospital, e para o nosso alívio e o dela, o médico constatou que não passou apenas de uma torção, no entanto, a probabilidade dela participar da apresentação de amanhã é quase nula. Não se preocupe, ela já está em casa e, muito provavelmente, está dormindo.
- Hailee"

"Não se esqueça do ensaio de amanhã! Terá início na metade do intervalo, então pode ir com o uniforme normalmente. Nos vemos mais tarde! Durma bem e se cuida!
- Billie"

Me senti mais aliviada por saber o estado de Ariana antes de dormir, não demorando a digitar uma resposta em compreensão. Minha mente fervilhava em pensamentos quando bloqueei a tela do celular, deixando-o de volta na mesa de cabeceira ao meu lado esquerdo. Abracei um dos travesseiros enquanto pensava nas informações recebidas sobre Camila há poucos minutos, imaginando o quão boa a alma da garota era.

Eu tentava esquecer a imagem de Tristan e ela se beijando, focando no quão incrível era a carreira e as ações beneficentes da latina. Era irrevogável o fato de que eu estava perdidamente encantada por ela, entendendo que, sim, ela era realmente foda para um caralho. Me perguntei, inconscientemente, em que bolha de pobreza eu estava em Nova Jersey por não ter tido o conhecimento de sua existência até vir para cá, me sentindo uma completa idiota por ter passado a vergonha de não tê-la reconhecido.

Apesar disso, me recordo claramente da forma como ela disse ter achado uma graça esse fato, o que me deixou ainda mais envergonhada. Mesmo tendo mais de dez mil resultados com minha busca pelo seu nome no Google, minha mente não deixava de pensar, nem por um segundo sequer, que haviam coisas infinitas sobre ela que a internet não sabia (e provavelmente nunca descobriria), e foi esse pensamento que me deixou com a plena certeza de que eu a queria.

Eu não estava nem aí para sua carreira como supermodelo ou para a sua conta bancária que já deveria ter, pelo menos, alguns bilhões. Eu não queria conhecer a pessoa da qual a internet inteira já conhecia, pelo contrário, eu queria ter a oportunidade de desvendar os mistérios e sentimentos que a máscara resistente de Camila escondia.

Eu queria conhecer e compreender sua alma.

✯♕

Na manhã seguinte, minhas dores haviam diminuído consideravelmente, o que me deixava mais tranquila sobre os acontecimentos do dia. Apesar de ainda sentir algumas fisgadas chatas em minhas coxas, adentrei o gramado da Stanford com minha usual caminhada esplendorosa, recebendo os olhares habituais. Àquela altura do campeonato, eu já não me importava tanto com a atenção focada em mim, muito pelo contrário; no fundo, eu realmente gostava da sensação de ser desejada.

Não era difícil de ler as expressões nos rostos das pessoas que me olhavam enquanto eu caminhava tranquilamente pelo gramado do campus, indo em direção ao edifício High. Inveja, interesse, desejo, desgosto e admiração eram os sentimentos mais repetidos dentre as pessoas que colocavam seu foco em mim, me fazendo sorrir de lado pela forma como eu me tornava outra pessoa enquanto estava utilizando o uniforme em meu corpo; como agora, por exemplo.

O uniforme das CashCats não precisava de um portador para ser ouvido. Ele dizia por si só, sem ser preciso de nenhuma palavra sequer.

Antes que eu pudesse chegar à grande fonte que ficava em frente à escadaria principal, escutei meu nome ser chamado por uma voz masculina que não me era estranha, o que me fez franzir o cenho e estacionar o corpo ainda no gramado. Olhando na direção em que a voz pareceu dizer, senti minha pressão descer consideravelmente quando notei quem havia me chamado, percebendo agora que ele estava a cerca de dois passos de mim.

Noah Hart estava de volta à escola.

— E aí, Lauren! Fiquei sabendo que você é a nova integrante das CashCats, vim te parabenizar pelo feito histórico. Eu queria ter ido à sua iniciação, mas tive alguns... problemas no meio do caminho. Você é uma gata! - O ruivo dizia com sua voz grossa arrastada, me fazendo engolir em seco pela confissão de que, em sua cabeça, eu não o conhecia e nem sabia o motivo pelo qual ele não pôde comparecer à minha iniciação, tampouco aparecer na escola nas últimas duas ou três semanas.

— Eu entendo. Obrigada pelo elogio. - Segurei a alça direita da minha mochila com força enquanto, instintivamente, abaixei a saia com a outra mão. Seu olhar parecia me devorar inteira enquanto tratava de descer e subir para qualquer lugar de meu corpo, menos no principal, que seria o meu rosto.

— Sei que agora é de nível Popular, mas eu te garanto que o Olimpo não é tão legal assim. Se chegar em Famous, não entre nessa. - Ele travou sua mandíbula contra seu maxilar ao terminar de falar, colocando sua atenção em um ponto longe de meu corpo, o que evidenciava que estava dizendo uma mentira deslavada. Sua expressão corporal gritava esse fato, demonstrando o quanto ele se importava, sim, com o Olimpo e seu nível. - Por falar nisso... meu nome é Noah! Se quiser se sentar comigo e com alguns amigos meus, nossa mesa estará te esperando no intervalo.

Um nó horrível se instalou em minha garganta, assim como a súbita sensação de embrulho no estômago que me fez segurar a alça da mochila com mais força. A forma como ele me olhava me deixava com nojo e raiva, e, de alguma forma, ele não parecia se importar menos com isso, continuando a me devorar viva enquanto focalizava seus olhos em meus seios abraçados pelo cropped verde escuro.

— É, acho que entendi seu ponto. Bom, eu preciso ir, foi um prazer conhecê-lo, Noah. - Eu disse rapidamente, lançando-o um sorriso forçado antes de continuar meu caminho sem esperar uma resposta para a minha despedida.

Eu não tinha olhos em minhas costas, no entanto, eu consegui ver e sentir seu olhar cravado em minha bunda enquanto eu caminhava; dessa vez em uma velocidade mais rápida que o comum. Respirei fundo pela conversa nem um pouco agradável, me sentindo nua e frágil depois daquilo. Apesar de ter ficado, sim, sentida pela situação, decidi que o idiota não iria estragar o meu dia, adotando minha caminhada normal ao adentrar, de fato, o edifício High.

Enquanto eu fazia meu caminho até a bifurcação de escadas no hall, subindo pela parte da direita, recebi mais uma meia dúzia de olhares e acenos dos quais tratei de retribuir com gentileza. Não demorou muito para que eu chegasse até a sala de número 57, da qual serviria de local para as duas aulas de literatura e, logo após, as duas aulas de física quântica. Ao adentrar o ambiente climatizado pelo ar condicionado, me direcionei até uma das carteiras no meio, me sentando ao mesmo tempo em que apoiava minha mochila contra o material resistente da mesa.

O barulho da notificação da Hybris pôde ser ouvido, o que me fez retirar o celular do bolso menor. Olhei em volta, no objetivo de vasculhar o local para a presença da professora de literatura, no entanto, percebi que ela ainda não havia chegado. Ao desbloquear o aparelho, deslizei meu dedo sobre a tela até o aplicativo, percebendo ter uma nova postagem na aba de eventos e convites.

Diferente dos outros que eu já havia visto, a nova postagem na aba não tinha uma imagem anexada como um convite desenhado, sendo apenas um pequeno texto convidativo para uma ocasião específica. Não demorei muito para começar a ler o novo evento marcado, me surpreendendo pelo conteúdo descrito.

"Festa da vitória e conquista da vaga nos playoffs na casa da Camila Cabello-Swoord hoje, em Atherton. Quem não for do time dos Lions ou das CashCats, favor levar bebida. Singulares não serão aceitos na ocasião; perfis na Hybris serão analisados na entrada da casa. Endereço: 44 Tuscaloosa Avenue - Atherton.
Horário: após a vitória no jogo de hoje.
- A Pangeia"

Levantei uma das sobrancelhas para o convite lido, sentindo a vontade de rir pela falta de modéstia que a equipe tinha. Eles nem sequer haviam jogado e já estavam cantando vitória, o que era, pelo menos ao meu ver, muito engraçado. Acabei por guardar o celular após notar a presença da professora Stewart na sala, não querendo dar motivos para que a mulher de meia idade confiscasse-o.

Pelas próximas quatro aulas, tendo duas matérias diferentes, me mantive ocupada ao extremo com exercícios e anotações, parecendo estar mais exausta mentalmente que antes de botar os pés na escola. Quando o sinal anunciando o início do intervalo finalmente soou, quase gemi sofregamente ao me colocar de pé, sentindo as mesmas fisgadas incômodas. Não perdi tempo em sair do ambiente ao colocar a mochila sobre os ombros, seguindo o mesmo caminho que a pequena multidão de alunos fazia até a escada principal.

Percorri o caminho até o corredor sob a bifurcação da escadaria, recebendo alguns acenos que, automaticamente, tratei de retribuir com gosto. Não demorei muito para chegar até o refeitório que já se encontrava lotado, observando a fila quase quilométrica para conseguir o almoço do dia. Ao adentrar o ambiente de fato, tive a lembrança óbvia da informação que Hailee havia me passado em meu segundo dia oficial como uma CashCat, sobre a fila especial no refeitório para os membros das equipes principais da escola ou da Pangeia.

Engoli em seco quando notei que, de fato, havia uma fila separada dos demais com quatro pessoas nela, tendo duas meninas e dois meninos. Enquanto eu caminhava até lá, pude sentir e ouvir os murmúrios desgostosos das pessoas que esperavam na fila comum, me sentindo mal por estar, basicamente, furando a fila. Quando cheguei perto o suficiente, quase revirei os olhos ao ver Alice ali, acompanhada por Gigi que apenas sorriu gentil para a minha aproximação.

A loira mais baixa fez sua melhor cara de nojo ao me ver ali, subindo e descendo o olhar pelo uniforme que abraçava meu corpo. Sem temer a garota que tinha uma grande parcela de culpa pela minha fixação por fazer parte da equipe, me coloquei atrás de um garoto alto e forte, o qual julguei fazer parte da equipe de basquete ou de futebol.

— A fila dos comuns é do outro lado, Lauren. - Sua voz irritante entrou pelos meus ouvidos sem eu nem querer ouvir, me fazendo suspirar baixinho em uma tentativa de buscar paciência no fundo de minha alma.

— Tudo bem, Alice, mas quem? - Fiz minha melhor cara de curiosidade ao questiona-la, ganhando um olhar confuso da garota que desceu as sobrancelhas pela indagação repentina.

— Quem o quê? - Seu tédio era quase palpável, no entanto, a brecha que sua resposta me deu foi o suficiente para que eu prendesse a risada entre meus lábios antes de responder a coisa mais infantil possível.

— Te perguntou. - Respondi da forma mais séria que consegui no momento, arrancando uma gargalhada em Gigi que agora tinha sua bandeja com o prato do dia em mãos.

Sorri com a expressão de choque e raiva no rosto da garota que parecia soltar fogo pelas narinas, soltando uma risada nasal ao notar que os dois garotos à minha frente riam pela resposta idiota que eu havia dado. Eu sei que foi a coisa mais infantil do mundo, no entanto, eu não me rebaixaria ao nível dela. Conhecia à mim mesma e sabia que minha paciência não era das maiores, não demoraria muito para que um milhão de xingamentos ofensivos saíssem por meus lábios.

Às vezes, a quinta série era a melhor forma de sair por cima em situações desconfortáveis.

Ainda parecendo indignada com minha resposta, a loira saiu do lugar pisando duro no chão ao pegar sua própria bandeja com comida, me lançando um olhar mortal enquanto se afastava e fazia seu caminho até, provavelmente, o Olimpo. Eu sabia que brincar com pessoas de níveis mais altos era, basicamente, suicídio social aqui dentro, no entanto, àquela altura do campeonato, apenas algumas centenas de seguidores separavam eu e Alice; diferentemente do momento no corredor que ocasionou uma paranoia péssima em minha mente.

Já não éramos tão diferentes assim, em quesitos de popularidade.

Não demorou muito para que a pequena fila voltasse a andar, fazendo com que eu pegasse finalmente minha bandeja com o prato do dia. Quase salivei ao observar a salada verde acompanhada de arroz e frango xadrez, tendo um belo suco de laranja natural em uma garrafa de plástico lacrada ao lado do prato. Eu estava com muita, muita fome, e o fato de não ter tomado café da manhã em casa só aumentava esse (grande) detalhe.

Andei por entre as mesas já abarrotadas de alunos enquanto tomava o devido cuidado de não derrubar a bandeja em minhas mãos, escutando alguns cochichos sobre mim enquanto eu fazia o caminho até minha mesa usual. De maneira quase inconsciente, coloquei meus olhos no Olimpo a uma distância média de onde eu agora estava, observando ambas as mesas lotadas com os membros da Pangeia. Pela distância ainda tecnicamente longa, não pude notar a forma nítida de Camila, o que me fez suspirar levemente enquanto voltava meu olhar para a mesa com meus amigos.

— Vocês não têm ideia do quão grande e grosso era! - Foi a primeira coisa audível o suficiente que minhas orelhas captaram, vindo de, obviamente, Harry. Franzi o cenho para o sentido que aquela frase poderia ter, me aproximando ainda mais.

— E ele ficou na sua casa depois disso ou você o jogou na rua depois de te comer? - A pergunta veio de Sofia que, milagrosamente, estava presente em nossa mesa naquele dia. Me coloquei na visão de Harry e Veronica, que notaram minha presença sem muito esforço.

— Você sabe bem o que eu fiz depois disso e... E aí, Lauren?! Quanta saudade, gata. - Era óbvio que, implícito em sua declaração de afeto, o garoto queria fugir da pergunta feita por Sofia, o que me fez rir da situação caótica na mesa ao me sentar ao lado de Heather; colocando minha mochila no chão encostada no apoio da mesa.

— Você é um falso, Styles. Sobre o que estavam conversando? - Perguntei com curiosidade ao retirar o plástico que protegia os talheres dos quais eu utilizaria para comer, conseguindo notar que, com a exceção de Jade, todos comiam o mesmo prato do dia que o meu.

— Esse gay teve um date ontem e deu até não aguentar mais. Estamos tentando descobrir se ele mandou o garoto embora depois do sexo ou não. - Veronica explicou entre uma risada e outra, recebendo um gesto obsceno do garoto pelo apelido carinhoso proferido.

— Se quer tanto saber, Veronica, eu o mandei embora sim! Ficar de grude depois de transar não é a minha praia, você sabe. - O de cabelos cacheados disse dando de ombros, me arrancando uma risada genuína enquanto eu me concentrava em abrir a tampa da garrafinha de suco.

— Você é ridículo! Não tem coração não? - Jade questionou, ainda não tendo olhado em minha direção nem sequer uma vez, o que me fez parar de rir no mesmo momento.

Eu sabia que a garota ainda não havia me perdoado completamente, apesar de não ver a mesma raiva em seu olhar que eu antes via a cada segundo. Ela agora parecia adotar uma postura mais defensiva, o que me deixava mais aliviada sobre uma possível reconciliação em pouco tempo.

Sem perder tempo, ainda escutando a pequena discussão caótica sobre o quanto Harry não era um cavalheiro, dei a primeira garfada na comida de aparência apetitosa, experimentando o frango com o arroz em questão de segundos. Quis gemer pelo prazer de estar comendo uma comida tão fodidamente gostosa, sentindo meu estômago agradecer automaticamente enquanto eu dava outra garfada, dessa vez puxando a salada junto, levando novamente até a boca.

Não consegui conter a curiosidade misturada com uma outra sensação ainda indefinida quando, movida por um ato irracional, virei minha cabeça para a esquerda no objetivo de encarar o Olimpo mais uma vez. Estando em minha mesa habitual, a visão de ambas as mesas agora era mais nítida, o que me deu a oportunidade perfeita para encarar a latina sentada em sua usual cadeira enquanto comia a mesma comida que a minha.

Semicerrei os olhos por perceber que a capitã estava calada enquanto o restante da mesa conversava e ria de algum assunto que eu, obviamente, não tinha conhecimento. Ela comia quieta, não expressando emoção alguma em seu rosto. Antes que eu ficasse (estranhamente) preocupada, pude notar o braço de Tristan sobre seus ombros, o que me fez lembrar automaticamente da foto no site. Ao observar com mais precisão, não foi difícil notar a forma como um carinho afetuoso era feito em seu ombro pela mão esquerda do garoto que conversava e ria com os demais.

Sentindo uma sensação estranha no peito, voltei meu olhar para o meu prato alguns segundos depois, voltando a comer quieta em meu canto. A lembrança da fotografia agora estava estampado em cada parte de meu cérebro, fazendo-me questionar novamente a veracidade da relação entre os dois. O que poderiam ser?! Namorados? Amigos? Estavam em um relacionamento aberto?

Meu pensamento pareceu brincar comigo ao recuperar a memória do dia em que ouvi a voz de Camila pela primeira vez, em seu quarto na festa Esmeralda. Apesar de minha mente focar muito nesse acontecimento inédito, eu não pude deixar de lembrar o momento quase íntimo entre Camila e Tristan na pista de dança, onde dançaram de forma... sexy. Me senti uma idiota por não ter percebido ali mesmo que tinham algo, apesar de que, claramente, senti uma puta tensão sexual no ar enquanto estavam grudados dentro da roda de pessoas que visualizaram a cena.

Claro que tinham algo, porra! Em que mundo eu estava?! O fato de Camila me olhar como se fosse me devorar ainda me arrancava dúvidas, assim como o momento com Tristan no gramado após o jogo contra os Warriors. Eu estava em uma encruzilhada de casal poligâmico?!

— Lauren?! Tudo bem? - Fui tirada de meus devaneios pelo sussurro de Heather ao meu lado, me fazendo olhar para seu rosto enquanto piscava rapidamente pela forma que eu era bombardeada com pensamentos e lembranças.

— Sim, não se preocupe. - Respondi no mesmo tom baixo que o dela, voltando a comer a deliciosa comida em meu prato.

Àquele ponto, eu já não sabia qual era o assunto abordado na mesa, apesar de notar que ainda continuavam discutindo animadamente sobre algo. Meu foco havia sido estraçalhado, o que me fez dar uma boa golada no suco para tirar o súbito amargor em minha garganta.

— O que me diz, Lauren? Está a fim?! - Franzi o cenho pela pergunta de Harry sendo direcionada à mim, pigarreando de leve ao notar que eu não fazia ideia do que ele estava me questionando.

— A fim de quê? - Indaguei com curiosidade, dando outra golada no maravilhoso suco de laranja natural.

— Estava viajando nos últimos cinco minutos?! Estávamos discutindo sobre nossa ida à uma boate nova no centro da cidade, está a fim de ir? - O de olhos verdes argumentou com animação antes de colocar um pedaço de frango xadrez na boca, esperando pela minha resposta. Olhei de relance para Veronica que somente deu de ombros para mim, me garantindo que, de fato, falavam sobre aquilo.

— Ok, e como vamos entrar em uma boate? Não temos idade o suficiente. - Minha resposta foi em um tom óbvio, o que, de fato, era. Lugares como aquele só aceitavam maiores de vinte e um anos, coisa que estávamos (nem tão) longe de ter.

— Eu te arrumo uma identidade falsa, não se preocupe. Apesar de que você nem precisaria, só com essa cara de quarentona já passaria despercebida pelos seguranças. - Seu tom foi sugestivo enquanto subia e descia suas grossas sobrancelhas, me fazendo abrir a boca em choque pelo que tinha falado. As risadas genuínas de todos na mesa me fizeram elevar a mão direita até a altura dos olhos de todos, esticando apenas o dedo médio em um gesto obsceno.

— Olha aqui, seu... - Antes de eu iniciar uma série de xingamentos, ouvi meu nome ser pronunciado atrás de mim, em um chamado vindo de uma voz feminina que eu já conhecia bem.

Mesmo que eu ainda não tivesse me virado para constatar a obviedade de quem havia me chamado, as expressões sérias que meus amigos adotaram ao ter sua atenção para trás de mim diziam por si só. Engoli em seco ao me virar para trás, dando de cara com uma Hailee já devidamente uniformizada a cerca de dois passos de distância de mim, assim como Billie que tinha sua atenção puxada para uma das mesas próximas à nossa.

— Ei, H, como vai? - Perguntei com educação, ganhando um sorriso curto em resposta antes que a verbal saísse por entre seus lábios preenchidos com gloss.

— Muito bem. Se esqueceu do ensaio no intervalo? Já estão todos no ginásio. - A morena disse em seu usual tom gentil, o que me fez franzir o cenho rapidamente enquanto olhava de soslaio para o Olimpo à minha direita, do qual se encontrava parcialmente vazio, no entanto, percebi a obviedade de que havia sobrado apenas os meninos do time de futebol ali em cima.

No meio tempo entre escutar sua fala e dar uma resposta para o que havia dito, me questionei mentalmente sobre quando é que as meninas saíram do Olimpo porque, bom, eu realmente não me recordava daquilo. Com esse mísero pensamento, a pergunta de Heather me veio à tona em questão de segundos, fazendo-me questionar sobre quanto tempo eu havia ficado pensando na situação de Camila e Tristan.

Em um cálculo rápido, eu presumi que havia ficado, pelo menos, cinco longos minutos pensando e repensando nos dois Originais.

— Me esqueci por alguns instantes, desculpe. - Fui sincera com minhas palavras, arrancando um riso genuíno da garota que apenas concordou com a cabeça para a minha pataquada. Billie, por sua vez, já havia tirado sua atenção da mesa a poucos metros de onde estávamos, me lançando seu típico sorriso de lado.

— Relaxa, eu imaginei que teria acontecido isso. Então... vamos?! - Suas sobrancelhas subiram em um misto de obviedade e confusão, não entendendo o motivo pelo qual eu ainda estava sentada.

Parecendo ter levado um choque de realidade, eu me virei novamente para encarar meus amigos; esses que pareciam ter fechado ainda mais suas expressões. Apesar de notar um desprezo em comum, a expressão no rosto de uma pessoa em específico me deixou pensativa por alguns instantes, enquanto eu puxava minha mochila do chão para posiciona-la sobre meus ombros novamente.

Veronica não parecia ter desprezo em sua expressão. Parecia ter remorso, ou algo parecido com isso, já que sua mandíbula travada não condizia com suas sobrancelhas relaxadas.

— Eu falo com vocês depois, ok? - Quase sussurrei para eles, direcionando-me principalmente para Harry sobre o assunto da boate. Eu tinha a noção de que a presença de minhas outras duas amigas não agradava em nada a nenhum deles, o que me deixou meio travada em ir embora sem receber uma resposta verbal de algum deles.

— Tudo bem, Laur. Bom treino! - Sabendo que nenhum dos quatro tomaria uma atitude de iniciar uma despedida formal, Heather fez o trabalho com um pequeno sorriso nos lábios, me fazendo relaxar automaticamente.

Antes de eu me virar completamente, percebi a forma como Veronica se inclinou de maneira quase imperceptível para perto do ouvido de Harry, cochichando alguma coisa inaudível para os meus ouvidos. Sabendo que eu não compreenderia o que estavam falando naquele momento, me virei finalmente para as garotas que me aguardavam pacientemente, dando dois passos rápidos ao me colocar ao lado de Hailee.

Ao contrário do que achei que faríamos assim que eu me levantasse, a morena ao meu lado não moveu um músculo ao me ter perto de si, no entanto, seus olhos castanhos furtivos estavam ainda em minha mesa usual, encarando alguém que eu ainda não tinha a noção de quem seria.

— Como vai, Veronica? - Sua voz foi firme em sua pergunta, parecendo tecer entrelinhas que somente ela e minha amiga poderiam compreender.

Eu já não estava entendendo porra nenhuma. Por que elas estavam conversando?

— Vou bem, Steinfeld, obrigada por perguntar. - Pude observar o quão curta e grossa a voz de Veronica foi, não querendo continuar a conversa com a morena ao meu lado. Franzi ainda mais o cenho ao notar um pequeno suspiro vindo de Hailee, que apenas assentiu com a cabeça em concordância pela resposta que obtivera.

Sem que eu pudesse questionar que porra estava acontecendo, a morena colocou sua mão direita delicadamente em minha cintura, em um gesto mudo de que deveríamos iniciar nosso caminho para o ginásio. Não tive muita escolha senão acompanhar os passos rápidos das duas garotas para fora do ambiente ainda lotado, seguindo o caminho curto até o atalho para o vestiário do ginásio que continha naquele mesmo corredor em que estávamos.

Não trocamos nenhuma palavra no caminho até lá, tendo o silêncio interrompido apenas quando entramos no corredor extenso que dividia as quadras do local, escutando a música eletrônica alta que vinha da sala de ensaios da qual utilizávamos todos os dias. Cerca de vinte segundos depois, Billie liderou a entrada ao empurrar a porta ainda fechada, acabando com o jeito abafado do qual a música tocava anteriormente.

Refiz o mesmo caminho de todas as tardes, indo em direção ao extenso banco de madeira com Hailee ainda ao meu lado, percebendo que Billie havia sido chamada por Kyle perto do corrimão de alongamento. Deixei minha mochila ao lado dos pertences da morena que já começara a se alongar, sentindo falta de ver a mochila roxa de Ariana ali. Antes de iniciar meu alongamento, vasculhei todo o espaço de treinos com os olhos, buscando uma única pessoa em específico que, estranhamente, não se encontrava ali.

— Cadê a Camila? - Indaguei com curiosidade para Hailee, essa que tinha sua perna esticada sobre o banco de madeira enquanto inclinava seu corpo para frente até que conseguisse tocar a ponta de seu tênis com os dedos.

Com o meu questionamento inusitado, a garota franziu o cenho antes de soltar seu próprio calçado e olhar por cima de seu ombro esquerdo, vasculhando a sala com o olhar da mesma forma anteriormente feita por mim. Ao se dar conta que eu, de fato, não estava brincando ao questionar a falta da latina, sua cabeça se virou para a minha direção novamente.

— Acho que está com o Troye na sala de equipamentos, também não o vi. Aproveita e bate lá, precisamos dos tapetes de treino para iniciarmos os saltos. - Ela deu de ombros ao voltar sua atenção para o alongamento executado, inclinando novamente seu tronco para frente no objetivo de alcançar a ponta de seu calçado.

Engoli em seco ao assentir com a cabeça, não vendo outra alternativa a não ser iniciar uma caminhada até a porta que protegia a sala ainda desconhecida por mim. A porta em questão era feita de madeira, localizada na mesma parede em que o grande espelho ficava, estando mais para perto da parede com os troféus que do próprio espelho em si. Ao me aproximar o suficiente, pude ouvir o que deveria ser a metade de uma conversa entre os dois dentro da sala, o que me fez olhar sobre os ombros para observar se alguém tinha a atenção em mim.

A música eletrônica estava alta o suficiente para abafar as vozes do lado de dentro da sala, no entanto, quando tampei o ouvido esquerdo e aproximei o direito ainda mais do material escuro, consegui ouvir o que diziam com mais nitidez.

Você é a porra de uma irresponsável! Não vê a gravidade que está se metendo ao adiar o inevitável?! - A voz de Troye era alta, o que me fez questionar se ele realmente gritava com a latina dentro da sala.

Para de gritar comigo, imbecil! Eu disse que vou fazer, só preciso de um tempo. - Camila respondeu no mesmo tom antes ouvido por mim, fazendo com que eu franzisse o cenho para o quão irritada ela parecia estar com a conversa. O fato de eu não conseguir visualizar as expressões corporais de ambos não me ajudava em nada para tentar entender o sentido da conversa.

Você não tem tempo, Swoord! Você quer eu escolha para você? Eu posso pegar no banco de dados. - A voz de Troye pareceu tomar um rumo mais ameno, no entanto, o sentido de sua frase era tão desconhecido por mim que me deixou encucada. Sabendo que eu não entenderia nunca o que se passava ali dentro, me preparei para bater na porta finalmente.

Não quero sua ajuda; não quero que veja nenhum histórico, entendeu bem?! - O tom ameaçador de Camila me fez engolir em seco, mesmo sabendo que a frase não havia sido direcionado para mim.

Me sentindo a maior fofoqueira do mundo, finalmente bati três vezes contra a madeira da porta, esperando a concessão verbal de que eu poderia adentrar o cômodo. Para a minha surpresa, a porta foi aberta alguns segundos depois, me deixando visualizar o co-capitão que tinha a expressão fechada para mim. Engoli em seco pela forma raivosa com que ele abriu a porta, me sentindo na obrigação de explicar o motivo de eu estar ali.

— Hailee me pediu para buscar os tapetes de treino, iremos começar o treino de saltos. - Argumentei rapidamente, sentindo um alívio automático ao ver sua expressão séria se desmanchar enquanto ele assentia levemente.

— Claro. Me ajude aqui, Lauren. - O loiro disse em um tom completamente diferente do adotado para conversar com Camila segundos antes, fazendo-me questionar novamente sobre a importância do assunto tratado. Apesar disso, eu sabia que não me dizia respeito, portanto, apenas coloquei meus olhos para dentro da sala, procurando por Camila inconscientemente.

Parecendo ler meus pensamentos, a latina passou do meu lado esquerdo como um vulto, levando dois tapetes de treino embaixo de seus braços. Como sempre, seu perfume inebriante entrou em contato com meu olfato na mesma rapidez com que passou perto de mim, me fazendo fungar levemente pelo aroma gostoso.

Ao notar que Troye havia entrado novamente na sala, tive a concessão necessária para adentrar o ambiente também, colocando minha atenção em todo o local. Não era grande, tampouco pequeno, tinha o tamanho ideal para guardar todos os equipamentos com folga. As paredes brancas estavam quase que completamente preenchidas por estantes e divisórias de vidro, contendo equipamentos dos mais variados tipos, partindo dos mais simples até os mais avançados.

O piso era feito de algum material que imitava madeira, no entanto, um longo tapete verde escuro tampava quase que por completo a visão do material escuro no chão, tendo o brasão dourado da Stanford estampado bem no meio. Não demorei mais que cinco segundos para andar até a parede oposta à porta pela qual entrei, onde estavam encostados os tapetes de treino.

Enquanto eu colocava um de cada lado do braço, Troye já fazia o caminho até a porta ao levar dois em cada mão, não parecendo ter muitas dificuldades em carregar o equipamento. Sendo quase que completamente ao contrário do suíço, me surpreendi quando notei o quão pesados eram os tapetes, tendo certo grau de dificuldade em levá-los para fora da sala. Quando refiz o caminho até o meio da sala com os tapetes, pude perceber que Camila já iniciava seu habitual discurso explicativo sobre o treino do dia, indicando que começaríamos o ensaio a qualquer momento.

Como se meu corpo conseguisse compreender que seria um treino cansativo, a fisgada em minha perna se fez presente a cada passo que eu dava para conseguir posicionar o material sobre o chão já parcialmente preenchido.

Eu precisaria de forças para conseguir aguentar o dia e, de uma forma estranha, algo me dizia que ele seria longo.

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Para a minha surpresa, o ensaio não foi tão cansativo quanto eu imaginei, apesar de ter durado mais tempo que o necessário. Ademais, minhas pernas ainda latejavam como o inferno enquanto eu tomava um bom banho e lavava o cabelo para estar perfeitamente arrumada no jogo algum tempo mais tarde. Sem conter minha ansiedade, precisei da atenção e presença de minhas duas melhores amigas enquanto eu me arrumava para a minha primeira apresentação oficial como uma CashCat.

— Vocês não têm noção do quão pesados são os treinos! É tipo, mil vezes pior que o que nós fazíamos. - Eu dizia um pouco mais alto pelo barulho que o chuveiro fazia, direcionando minha boca para perto da saída de áudio do celular enquanto me ensaboava.

Não fico surpresa com isso, sua traidora de uma figa. Para ganhar três nacionais seguidos, isso é o mínimo. - A voz de Megan do outro lado da linha disse com um falso desprezo, me fazendo rir alto pelo apelido carinhoso utilizado comigo.

Supere que a Lauren não é mais uma Queen, Meg. - Normani respondeu com a voz mais tediosa possível, ainda que estivesse rindo da mesma forma idiota que eu.

Não irei superar nunca! Vou sofrer esse luto pelo resto da minha vida. - Minha melhor amiga forçou um início de choro na brincadeira, me fazendo revirar os olhos enquanto ria com seu falso drama. O cheiro de lavanda proveniente do sabonete me fazia ficar mais relaxada que antes, o que me deixou melhor com as dores ainda sentidas em meus membros inferiores.

Por falar nisso... precisamos conversar sobre o quão gostosa você está com aquele uniforme, amiga. - Franzi o cenho para a fala de Normani, me perguntando mentalmente se ela estava se referindo à mim ou à Megan.

— Está falando de mim? - Perguntei com curiosidade, terminando de torcer meu cabelo no objetivo de retirar o excesso de água. Após concluir minha curta tarefa, estiquei o braço até a janela onde estava apoiado o celular e o peguei, saindo do box logo em seguida.

Uma grande nuvem de fumaça pairava acima de minha cabeça, proveniente do quão quente a água do chuveiro estava. Apesar de ainda estarmos no verão, minha mania incessante de tomar banho com a água estupidamente quente não mudava. Enquanto esperava a resposta de Normani, puxei a toalha branca para começar a tarefa de me secar corretamente, dando foco especial para os cabelos recém lavados.

Sim! Vi sua foto no Instagram, você fica uma puta gostosa com o uniforme das pragas. - Megan respondeu por cima de Normani, confidenciando um tom sugestivo à sua fala do qual eu apenas sorri enquanto negava com a cabeça pelo apelido com as CashCats.

Internet dos infernos! Mas sim, amiga, estava falando de você. Eu nunca elogiaria essa baranga da Megan. - O tom de Normani foi em um grau tão alto de seriedade misturado com brincadeira que me fez gargalhar alto, já sabendo que começariam uma pequena discussão sobre quem era mais baranga.

Enquanto ouvia a briga incessante de minhas duas melhores amigas, me coloquei novamente dentro do quarto quando terminei de me secar completamente. Com alguns passos, cheguei facilmente até o guarda-roupa no objetivo de retirar um outro conjunto de uniforme, dessa vez cheiroso e lavado; já que, obviamente, o que eu utilizara mais cedo na escola já estava no cesto de roupas sujas.

Não demorei muito para vestir o uniforme que parecia ter sido feito sob medida para o meu corpo, tendo tempo o suficiente para terminar de me arrumar ao tocar duas vezes na tela do celular e constatar faltar cerca de quarenta minutos para o início do jogo. Ainda de meia, fui até o banheiro novamente para conseguir escovar os dentes e me encher de perfume, assim como passar um bom creme hidratante nas pernas para que eu parasse de sentir, milagrosamente, as dores em minhas coxas e panturrilhas.

Só na minha cabeça que um creme hidratante iria retirar o incômodo em meus músculos, mas isso é irrelevante.

Após terminar de calçar os - agora inseparáveis - Air Forces brancos, a última coisa a se fazer, enquanto eu respondia uma ou duas coisas para Megan e Normani que ainda discutiam incansavelmente do outro lado da linha, era prender meu cabelo em um rabo de cavalo alto. Olhando no espelho do banheiro e passando a mão direita sobre o tecido liso do uniforme, me senti a mulher mais gostosa do mundo, apesar de ainda estar com a ansiedade quase me comendo viva.

Depois de me despedir da ligação com as duas, escutando as frases motivacionais de Normani e os xingamentos incessantes de Megan (apesar de que, sim, ela estava muito orgulhosa de mim), não demorei muito para sair de casa após pegar a chave reserva na mesinha ao lado da porta da frente. Meus pais haviam saído para algum lugar de nome estranho, pelo menos era o que o bilhete em cima da ilha da cozinha dizia, o que me deixou mais tranquila em apenas responder um "Ok, volto mais tarde" no final da mesma folha.

A brisa do lado de fora me atingiu com força, me fazendo respirar o ar puro do dia que ainda não dava indícios de se pôr. Resolvi não levar o celular para a ocasião pelo simples fato de não saber se teria um local adequado para guarda-lo, no entanto, eu tinha a plena consciência de que eram quatro e três da tarde quando eu pisei na calçada. O jogo estava marcado para às 4:30 p.m, o que me dava tempo o suficiente para andar até o campus da Stanford.

Passando pela avenida que me levaria até lá, percebi um alto fluxo de carros e pedestres que, geralmente, não era tão grande. Eles seguiam o mesmo caminho que o meu, e grande parte deles estavam vestidos com as camisetas oficiais dos Lions ou apenas camisetas verdes. Senti um arrepio correr pelo meu corpo ao notar que todas essas pessoas assistiriam à minha primeira apresentação, o que me deixava em alerta sobre um possível erro ou algo assim.

Eu não poderia errar. Seria, literalmente, o meu fim na equipe se algo assim acontecesse.

Apertei ainda mais o passo ao chegar no extenso gramado da instituição, observando o quão lotado o lugar ficava a cada minuto que passava. Acenei rapidamente para um trio de garotas que me desejaram boa sorte na apresentação enquanto eu fazia o caminho até o campo, me sentindo automaticamente mais tensa que antes. O barulho de conversas paralelas vindo das arquibancadas era consideravelmente alto quando eu adentrei o corredor que ligava todas as áreas de torcidas organizadas e as direções distintas das arquibancadas.

Me senti perdida no meio de tantas pessoas que já escolhiam seus lugares, não sabendo como eu desceria até a lateral do campo para me encontrar com a minha equipe. Como se fosse a minha salvação, senti uma mão me segurar gentilmente quando passei pela entrada da arquibancada leste, o que me fez olhar para trás em espanto com rapidez. Suspirei em alívio quando encontrei os olhos castanhos de Hailee me encarando, sentindo minha tensão diminuir quase que de maneira instantânea.

— Estava te procurando, L. Vem, já estamos na concentração lá embaixo. - E então, sem mais explicações, a morena me puxou pela mão enquanto começava uma caminhada para o caminho contrário pelo qual eu estava tomando.

Caminhamos rapidamente pelo largo corredor bem iluminado entre as dezenas de pessoas que chegavam para assistir ao jogo, nos direcionando até a ala norte do estádio. Após alguns segundos, chegamos até uma porta de metal que se encontrava encostada, a qual Hailee empurrou rapidamente; me dando a visão parcial de uma escada de tamanho médio. Não demorou muito para, enquanto descíamos os degraus da escada, eu começar a escutar as vozes altas vindas de algum lugar lá embaixo.

Para a minha surpresa, nos colocamos para dentro de um túnel de acesso ao gramado do estádio, do qual estava lotado com os jogadores dos Lions e, um pouco mais para trás, a minha própria equipe. Senti meu coração bater ainda mais forte quando notei que já faziam o último aquecimento antes da apresentação principal, colocando minha atenção no círculo que os jogadores faziam a poucos passos de distância de mim.

— Eu quero o foco de vocês. Quero que joguem com a alma e deem o sangue, se assim for preciso. Somos os atuais campeões e favoritos para ganhar esse campeonato pela terceira temporada seguida, então vamos mostrar à eles quem são os Lions. - Tristan dizia em uma boa altura enquanto era o único dentro da roda, recebendo murmúrios em concordância de todos os outros.

Apesar de saber que aquele discurso motivacional não era para mim, senti meu corpo arrepiar pela forma com que o garoto falava, parecendo ter a certeza de que venceriam qualquer coisa que viesse pela frente. Sem ter muita escolha, me aproximei da equipe que conversava despojadamente enquanto, a grande maioria, utilizava ambos os corrimões nas duas paredes do túnel para realizarem os alongamentos com as pernas.

Meu olhar traiçoeiro pareceu se mover sem a minha intenção, no objetivo de encontrar a latina que não saía de minha cabeça quase nunca. Não foi muito difícil encontrá-la, visto que ela fazia um alongamento coletivo com Dinah, tendo a loira alta segurando sua perna perfeitamente esticada. Suspirei automaticamente ao ter a visão parcial de seu rosto, observando o quão realmente bonita ela ficava de perfil.

— Viu quem vai cobrir a Ariana como flyer hoje? - Hailee me perguntou ao me ter perto de si enquanto eu esticava minha perna direita sobre o corrimão, forçando um pouco meu joelho para baixo quando franzi o nariz pela dor na coxa.

— Não, quem? - Respondi de prontidão, aproveitando para movimentar os braços em movimentos circulares para que meus ombros fossem aquecidos.

— Sua melhor amiga, oras! Alice Cooper. - Revirei os olhos automaticamente pelo sussurro da garota, vendo-a rir audivelmente com a minha reação. Olhei por cima dos ombros rapidamente e tive o vislumbre do projeto de Regina George se aquecendo afastada de onde eu estava, conversando animadamente com Zacary.

Eu mereço isso?! Não, eu não mereço!

— Não acredito que vou ter que fazer a base para essa cobra. Vou bem tirar a mão na hora que ela subir... "Ops, que tragédia horrivel!" - Levei a mão direita até a boca em uma falsa expressão de choque, arrancando uma risada ainda maior em Hailee.

Alguns segundos depois, Billie se aproximou de nós com um sorriso enorme no rosto, parecendo estar tão ansiosa com o jogo quanto eu. E por falar em ansiedade, meu estômago se encontrava no maior grau de embrulho pelo momento mais que especial do qual eu vivia. As vozes acima de onde estávamos não me deixavam esquecer o fato de que, sim, dali a alguns minutos eu estaria me apresentando para a Stanford quase inteira. Eu digo quase inteira porque, de fato, julgando pela visão que tive antes de entrar no túnel e o quão alto era a conversa paralela nas arquibancadas (apesar de estarem abafadas pelas grossas paredes de onde estávamos), parecia que Palo Alto inteiro veio assistir ao jogo.

Eu não sabia se o estádio estar lotado era algo bom ou ruim, visto que a sensação de ansiedade só crescia na boca do estômago.

Continuei com os alongamentos enquanto sentia minha cabeça fervilhar com a ansiedade crescente em meu peito, tentando a todo custo ignorar esse fato para que não me atrapalhasse. Me concentrei nas palavras sábias que o treinador dos Lions agora dizia para o time, tendo tomado o lugar de Tristan no meio da roda. Cerca de dois minutos depois, escutei um barulho alto vindo dos alto-falantes das arquibancadas, conseguindo ouvir a narração abafada que sempre ocorria antes da entrada das equipes no campo.

— Pessoal! Atenção em mim, por favor! - Meu foco foi arrancado pela voz de Camila a poucos metros atrás de mim, me fazendo virar o corpo para encarar a capitã que tinha os braços atrás das costas enquanto olhava para toda a equipe; equipe essa que não demorou nem cinco segundos para parar os alongamentos e focar a atenção na latina. - Essa é a última apresentação oficial antes de viajarmos para Oklahoma, para competirmos no NUC. Eu sei que peguei pesado com vocês nessa última semana de treinos, mas preciso do foco de cada um para fazermos uma execução de coreografia perfeita.

Senti meu coração acelerar com força ao perceber que eram as últimas palavras antes de, finalmente, entrarmos em campo. Engoli em seco enquanto encarava a latina perfeitamente arrumada que discursava em seu típico tom educado e formal, não excedendo o limite da voz em momento algum. Minha ansiedade só subiu quando consegui ouvir os gritos animados da torcida acima de nós, já prontos para receberem ambas as equipes da escola.

— Eu sei da capacidade incrível de cada um de vocês; sei o quão bons vocês são e, ainda melhor, sei que continuarão a me orgulhar quando pisarem naquele gramado. Quero que dancem com o coração, que saltem com a alma e que animem com felicidade, porque é isso o que significa ser uma CashCat. - Senti a vontade esmagadora de chorar com suas frases, ficando ainda mais encantada pela garota ao notar a forma sincera com que ela falava para toda a equipe. Camila tinha fé em todos nós, não era muito difícil de perceber isso. - Agora, juntem-se aqui e estiquem as mãos.

Com Hailee ao meu lado direito e a loira de mechas azuis ao meu lado esquerdo, me aproximei ainda mais do meio do círculo quando percebi que todos fizeram o mesmo, deixando um espaço ainda menor no centro. De alguma forma estranha, eu pude sentir a vibração das emoções de cada um ao chegar mais perto, conseguindo sentir a energia incrível que a equipe inteira passava apenas com a presença de corpo e o olhar.

— O grito no três! Um, dois... três! - Com as mãos esticadas para o centro da pequena roda, tendo uma praticamente em cima da outra, nos preparamos para soltar a famosa frase de efeito da equipe, escutando a contagem arrastada da capitã no objetivo de sincronizarmos as vozes.

Go CashCats or Go Home! - Gritamos em uníssono, subindo o braço até acima de nossas cabeças. Arrepiei dos pés à cabeça pela forma sincronizada que o grito saiu, me vendo em um estado de êxtase puro pelo momento.

Antes que eu pudesse parar de sentir o frenesi em cada pequena parte do meu corpo, a atenção de toda a equipe foi puxada para a roda de jogadores não tão distante de onde estávamos. Todos os atletas já estavam devidamente uniformizados e utilizavam as proteções por baixo do conjunto de uniforme, coisa que deixavam-os maiores que nunca. Eles pareceram fazer o mesmo movimento que o nosso, esticando o braço direito para o centro do círculo enquanto a mão esquerda estava ocupada segurando o capacete de proteção.

Hear me roar like a King of forest! - As vozes masculinas gritaram em uma sincronia sinistra, me fazendo engolir em seco pela forma como senti todos os meus pelos se arrepiarem com a visão da cena. Cerca de dois segundos depois da frase de efeito ser dita, um coro de grunhidos que lembrava os gritos vikings pôde ser ouvido, me fazendo subir as sobrancelhas em surpresa pela energia que transpassavam com aquilo.

Era de arrepiar qualquer um. Nada era como a Stanford, em nenhum lugar do mundo.

Não demorou muito para iniciarem uma caminhada em forma de corrida para fora do túnel, sendo liderados por Dylan, qual era o capitão oficial da equipe. Consegui ouvir nitidamente o quão alto ficou o ruído de gritos na arquibancada, me fazendo sentir um nó se formando em minha garganta por saber que seríamos a próxima equipe a adentrar o campo. Balancei a cabeça de um lado para o outro na tentativa de estalar meu pescoço enquanto me colocava atrás de Hailee em uma das duas filas indianas que formamos ali, já nos preparando para entrar oficialmente.

A voz do narrador ficou mais abafada naquele ponto, seja por conta da ansiedade que me deixava meio surda ou por conta dos gritos nas arquibancadas, no entanto, não era muito difícil presumir que a voz nos alto-falantes estava anunciando a nossa entrada quando a latina à nossa frente levantou a mão acima de sua cabeça, fazendo uma contagem regressiva de cinco segundos com seus dedos.

Senti minha pressão abaixar consideravelmente quando iniciamos a mesma caminhada em forma de corrida anteriormente adotada pelos jogadores, nos direcionando para fora do túnel e adentrando o gramado com animação. As luzes brilhantes que iluminavam toda a extensão do campo e das arquibancadas deixava o momento ainda mais mágico, apesar de eu evitar levantar os olhos para encarar a torcida que berrava a plenos pulmões com a nossa entrada.

Imitando a forma como Hailee saltitava de maneira contente à minha frente, cheguei até a lateral do campo com a equipe, notando os pares de pompons verdes e dourados em cima de uma das mesas que utilizavam para colocar os equipamentos e as garrafas d'água; esperando o momento de serem pegos para utilizarmos na coreografia. O barulho incessante de gritos e palmas me fazia sentir um início de desmaio ali mesmo, fazendo-me respirar mais fundo e forte para conter a crise se ansiedade iminente.

Traindo minha própria cabeça, sem conseguir conter a curiosidade gritante, subi meu olhar para a arquibancada a poucos metros à nossa frente, abrindo a boca em choque ao ver o quão lotado estava o estádio. Um mar de pessoas com camisetas verdes e douradas aplaudiam nossa entrada, urrando com animação por estarmos finalmente ali. Passei os olhos pelos rostos sorridentes, me sentindo contente em fazer parte de um momento como aquele.

Com vocês, a equipe de torcida mais famosa e vitoriosa de todo o país, que estará defendendo o título de tricampeã em sequência no National United Cheer: as CashCats! - A voz do narrador foi nítida como um lago cristalino, me fazendo engolir em seco pela apresentação resumida em títulos e poder.

Senti todo o meu corpo se arrepiar quando notei a aproximação de Hailee ao meu lado esquerdo, me entregando o meu próprio par de pompons do qual tratei de posicionar devidamente em ambas as palmas de minhas mãos. Notei que a equipe já havia se posicionado nos pontos iniciais da coreografia, o que me fez dar alguns passos para trás e segurar delicadamente a cintura de Hailee, encarando-a com um sorriso de lado enquanto esperávamos o início da música.

Quando a voz de Britney Spears se fez presente no ambiente, junto à batida agitada da música que se iniciou com mais lentidão, iniciei os passos precisos com Hailee me acompanhando em cada movimento de seu quadril. Havíamos ensaiado bastante aquela parte no dia anterior, trazendo os passos da espécie de bachata que eu e Camila executamos na segunda-feira. A morena trouxe a cintura para perto da minha, transitando com seu corpo de uma forma lenta enquanto eu liderava a dança conjunta.

Não posso negar que fiquei triste por não ter continuado a ser a dupla de Camila, no entanto, eu sabia que ainda não estava à sua altura.

Depois de alguns segundos, sentindo a batida da canção se tornar mais animada e rápida, nos separamos com um giro ágil para tomarmos nossas posições entre a coreografia tão bem ensaiada na semana. Contei mentalmente os passos enquanto movimentava os pompons acima da cabeça, girando os pulsos quando inclinei o corpo lentamente para frente em uma espécie de círculo que foi devidamente imitado por todos. Eu seguia a agilidade dos movimentos de Camila a poucos metros à minha frente, sorrindo abertamente para o público que gritava com a apresentação.

No drop do pré-refrão, girei novamente meu corpo para a direita, me posicionando ao lado de Kyle para fazer a base da pirâmide para Alice que terminava de remexer seu corpo ao lado de Dinah e Zendaya. Cerca de três segundos depois, Billie se aproximou de nós dois quando Alice deu um mortal para trás como foi ensaiado tantas vezes no treino do intervalo mais cedo, caindo perfeitamente na base que fizemos; não demorando mais que dois segundos para levantá-la com maestria.

Enquanto o refrão rolava, cinco integrantes faziam saltos triplos seguidos de mortais, acompanhando o ritmo frenético da coreografia onde o centro focava perfeitamente em Camila. No fim do refrão, desfizemos as pirâmides com cuidado, o que me deu a oportunidade de me colocar dessa vez no centro junto à latina e a londrina que dançavam sem parar. Antes que eu pudesse pensar muito, Hailee fez o mesmo caminho que eu, segurando em minha cintura de maneira firme enquanto eu segurava na cintura da latina à minha frente, rebolando lentamente com o tronco inclinado para a lateral.

Minha respiração já estava descompassada quando remexi os pompons em sincronia com as três ao meu lado, continuando a fazer o jogo de pés incansavelmente enquanto girava meu corpo no mesmo momento em que as meninas fizeram o mesmo. Meu coração batia de forma acelerada contra o peito, fazendo-me sentir estar à beira de um colapso nervoso.

A sensação era arrepiante, partia do âmago mais abrasador de minha alma, padecendo na fonte mais fervorosa do meu ser; acalentando todas as emoções de tal forma que, estranhamente, eu me sentia mais viva que nunca.

Nada se comparava àquilo. Nada.

No meio para o final da música, era a minha deixa para iniciar, finalmente, minha sequência de saltos de um lado para o outro, sendo acompanhada por Camila e Zacary. Me posicionei na direita, observando a latina se colocar no sentido oposto ao meu enquanto outras duas pirâmides compostas eram montadas. Com um breve impulso, dei dois passos rápidos para frente ao inclinar o tronco totalmente na direção do chão, colocando ambas as mãos no mesmo para dar o apoio necessário à sequência de saltos duplos, no entanto, não havia percebido que Camila tinha feito o mesmo exatamente na mesma hora que eu.

Parecendo cena de filme passada em câmera lenta, senti o ar brusco de seu corpo bater contra o meu ao vê-la transicionar o mesmo salto duplo, imitando - novamente - meu movimento de continuar a saltar quando fiz a transição para um mortal seguido de outro salto duplo. Parei no mesmo lugar onde ela iniciou seus saltos, notando que ela também havia feito o mesmo, do outro lado dessa vez. Sem pensar muito, sabendo que eu precisaria voltar com os mesmos saltos para, enfim, me colocar junto aos outros na pose final em frente às pirâmides, decidi voltar com saltos de costas dessa vez.

Eu só não contava que Camila havia pensado o mesmo.

Depois de saltar duas vezes para trás, sentindo minhas mãos reclamarem pelo constante contato com o chão, eu ia tomar um novo impulso para iniciar a última sequência de saltos quando parei exatamente no meio do local da coreografia, no entanto, arregalei os olhos ao sentir um baque em minhas costas. Aquilo, com toda certeza do mundo, não deveria ter acontecido. Não tive a coragem de me desgrudar da pessoa que tinha as costas grudadas em mim, assim como o antebraço grudado ao meu; dando-me a visualização do quão quente sua pele era.

Eu mal tinha percebido que a música havia chegado ao fim, todavia, meu coração parecia querer pular para fora de minha boca quando notei que eu ainda estava parada na frente de todo o resto da equipe com a outra pessoa atrás de mim. Olhei por cima do ombro esquerdo lentamente, observando que todo o restante da equipe já estava posicionado na pose final, faltando apenas duas pessoas na frente das duas pirâmides: eu e a capitã.

Engolindo em seco, tomei a iniciativa de desgrudar meu corpo da única pessoa que poderia estar atrás de mim, não imaginando que ela havia feito o mesmo exatamente no mesmo segundo que eu. Cerca de três segundos depois, ainda parecendo estar em uma cena em câmera lenta, tive a visão nítida do olhar devorador de Camila sobre mim. Seu peito movimentava rapidamente, denunciando a falta de fôlego pela qual passava naquele momento.

Pude ver em sua expressão confusa que ela, de fato, não parecia entender o que havia dado errado no último minuto para que parássemos naquela posição, no entanto, a forma como ela me encarava - parecendo olhar no fundo da minha alma - me deixava a ponto de desmaiar.

Eu estava fodida. Eu havia errado. Ela ia me tirar da equipe.

Antes que eu me perdesse na confusão de pensamentos intrusivos que começaram a martelar em minha cabeça, meu foco foi colocado na multidão de pessoas que aplaudiam de pé a apresentação, gritando com animação pelo o que tinham assistido. Nem sequer notei a aproximação da equipe, voltando a sentir meu batimento cardíaco regulado quando vi os pulos coletivos em alegria pelo êxito da execução da coreografia. Enquanto eu acompanhava os pulos animados da equipe, perdi a latina de vista quando a vi ser engolida por Dinah em um abraço caloroso, sendo seguida de vários outros abraços.

Meu sangue bombeava a sensação de êxtase com voracidade, liberando serotonina o suficiente para todo o resto da semana em meu cérebro. Apesar de estar sorrindo de orelha a orelha, minha mente repassava a pose final da coreografia, sendo ela nem um pouco ensaiada por nós anteriormente. Eu acredito que, nem se houvesse sido ensaiado, aquilo sairia com tanta perfeição quanto aconteceu naturalmente.

Eu e Camila havíamos cometido o erro mais bonito e sincronizado do mundo, e eu não sabia dizer se isso era bom ou ruim.

Narrador POV

Sem surpreender a torcida, tampouco os atletas e a equipe de torcida, o time da casa venceu o jogo por 48 x 17. Cerca de duas horas após a apresentação, antes do fim do último quarto, cujo placar já era favorável à vitória da equipe, as CashCats se retiraram do campo na intenção de utilizarem o vestiário para tirar o suor de seus corpos. Ainda dentro do chuveiro, as dores de Lauren se tornaram tão fortes, provenientes da perda da sensação de adrenalina, que a garota quase gritou ao massagear sua panturrilha dura como pedra.

A equipe já estava se preparando para ir até a casa de Camila no after do jogo, e, de fato, a neojersiana queria muito comparecer à festa de vitória, entretanto, a vibração dolorosa em seus músculos fizeram seus planos irem por água abaixo. Sua única reação foi pedir desculpas à equipe por precisar se ausentar da comemoração, recebendo falas compreensivas de todos. Antes das nove da noite, Hailee se ofereceu para levá-la até em casa em seu carro, se preocupando com o estado físico da garota que mancava sem parar.

— Você vai ficar bem? Tem certeza que não quer que eu fique? - A morena perguntou à Lauren quando estacionou em frente à casa dos Jauregui, olhando para a de olhos verdes com preocupação em sua expressão.

— Relaxa, H, pode ir para a festa tranquilamente. Vou precisar apenas de uma bolsa de gelo e um bom bolo de caneca antes de dormir. - A garota disse com um sorriso curto, tranquilizando sua amiga sobre seu estado físico. Obviamente, Lauren sabia que a dor gritante em seus músculos não cessariam em pouco tempo, entretanto, não queria preocupa-la a ponto de fazer Hailee faltar à festa.

— Hm, então ok. Me ligue se precisar de algo, sim? - Sua voz gentil e preocupada fez Lauren sorrir com apreciação, se inclinando para mais perto da garota no intuito de dar-lhe um abraço, o qual não demorou a ser correspondido.

— Eu ligo. Boa festa, beba muito por mim. - A neojersiana disse com um falso pesar na voz, ganhando uma risada genuína da garota enquanto recebia um "joinha" com a mão direita, não demorando muito a sair do carro e forçar suas pernas no chão novamente.

Lauren mancou, entre um gemido e outro de dor, até a entrada de sua casa, tirando a chave reserva da parte do bojo de seu sutiã e girando-a na fechadura. Notando que quase todas as luzes estavam apagadas, com exceção da cozinha, não foi difícil para a garota presumir que seus pais ainda não tinham chegado. Seus passos eram lentos e pesados, o que ocasionou uma demora maior que o comum para chegar em seu quarto, não deixando de pegar a bolsa de gelo na geladeira antes disso.

Ao adentrar o cômodo íntimo para si, seus olhos varreram toda a região no intuito de procurar por seu celular e, quando finalmente percebeu que estava em cima do edredom, não tardou a se mover até a cama e se sentar sobre o colchão. O gemido sôfrego que soltou ao sentir as vibrações dolorosas em suas pernas foi audível, fazendo-a posicionar a bolsa de gelo contra sua coxa direita no mesmo momento. Com a mão esquerda, seu celular foi segurado com firmeza enquanto ela ajeitava seu corpo na cama, não ligando para o fato de ainda estar de uniforme.

Seus dedos foram ágeis em selecionar os contatos das garotas que moravam do outro lado do país, esperando pacientemente que aceitassem a ligação, no entanto, após sete longos toques, foi encaminhada para a caixa postal. Bufando de maneira alta e arrastada, Lauren se levantou novamente para retirar o uniforme que colava em seu corpo, escolhendo uma blusa lisa mais solta enquanto tirava um short curto de uma das gavetas de seu guarda-roupa.

Com o cansaço batendo firme contra seu corpo, ao deitar novamente na cama e posicionar o objeto gelado no lugar onde mais doía em seus membros inferiores, Lauren nem sequer percebeu que havia caído no sono, praticamente desmaiando entre os travesseiros e o edredom grosso. Cerca de quatro horas depois, já no início da madrugada de quinta para sexta, um barulho alto foi o suficiente para despertar a garota.

Seus sentidos estavam tão sonolentos que acreditou ter sido fruto de sua imaginação, no entanto, ao tentar voltar a dormir segundos depois, outro barulho alto foi ouvido, fazendo-a franzir o cenho para a possível causa daquilo. Esperou mais alguns segundos para ter certeza de que não estava sonhando, e então, outro barulho estranho veio em seguida, deixando-a com medo quando percebeu que vinha da janela a poucos centímetros de distância de si.

Sem ter outra alternativa, a neojersiana se levantou da cama com outro gemido sôfrego ao colocar seus pés no chão, mancando dolorosamente até estar na frente da janela. Seu reflexo rápido foi o que não deixou com que a pedra atingisse sua cabeça quando abriu o vidro, encarando o jardim de sua casa com a expressão do mais puro choque.

Camila estava ali. Tentando chamar sua atenção jogando pequenas pedras em sua janela.

— C-Camila?! O que você está fazendo aqui? - A de cabelos pretos perguntou com o tom de voz alto o suficiente para que a latina escutasse, pigarreando de leve ao perceber que havia gaguejado como uma idiota no início. Seu coração batia de maneira mais frenética contra o peito ao visualizar a imagem da capitã encarando seu rosto de volta.

— Desce aqui. Quero conversar com você. - A voz de Camila pôde ser ouvida no mesmo tom utilizado anteriormente por Lauren, fazendo a garota franzir o cenho levemente pela forma urgente que ela adotou.

"Por que caralhos Camila Cabello-Swoord estaria jogando pedras em minha janela às uma e treze da madrugada quando, na verdade, deveria estar em uma festa em sua própria casa?!" O subconsciente da garota gritou em questionamentos sem respostas, dando a oportunidade de Lauren apenas assentir para o pedido da garota e fechar a janela novamente. Antes de descer as escadas, fez a jogada rápida e inteligente de escovar os dentes e jogar uma água no rosto, não tardando a sair de seu quarto e ir em direção às escadas.

Seus passos, apesar de ainda estarem pesados, eram mais rápidos e certeiros daquela vez, o que a ajudou a não demorar mais tempo que o necessário para sair pela porta da frente e ir em direção ao jardim. A brisa fresca da madrugada bateu em seu corpo, fazendo-a se arrepiar instantaneamente, apesar de jurar de pé junto que o motivo real daquela reação corporal foi a visão que tinha da garota a poucos passos de distância de si.

A latina usava uma calça jeans de cintura baixa, de lavagem clara e bolsos comuns na parte da frente; seu tronco era abraçado pelo cropped branco de tiras médias, fazendo o contraste perfeito com o Hoops 3.0 em seus pés que também levavam a mesma cor. Ao chegar mais perto da garota que a fazia suspirar forte, Lauren percebeu que havia uma camada tecnicamente forte de maquiagem em seu rosto, parecendo estar escondendo algum traço que a garota não sabia explicar o que era.

Em sua cabeça, Camila estaria linda de qualquer jeito e em qualquer hora.

— O que faz aqui? Não deveria estar na festa? - Lauren indagou com curiosidade, chegando perto o suficiente da garota para sentir o aroma que quase a tirava do chão. Seus olhos verdes acompanhavam cada pequeno movimento que seu corpo e rosto fazia, o que a fez notar que os olhos da latina estavam mais focados em si que nunca.

— Eu... precisava conversar com você, só isso. - Pela proximidade, o cheiro de álcool misturado com menta veio com tudo até o olfato da neojersiana, fazendo-a se questionar sobre o estado alcoólico e mental da capitã.

— Você está bêbada? - Sua pergunta pareceu pegar Camila de surpresa, que piscou rapidamente como se não entendesse o que ela queria dizer ao franzir o cenho de maneira fofa.

Fofa aos olhos de Lauren, é claro.

— Não, eu só bebi alguns copos. Eu não... - Iniciou sua argumentação meio indecisa, dividindo seu olhar entre os olhos e a boca de Lauren. Quando viu a garota levantar uma das sobrancelhas em sua direção, a latina suspirou baixinho ao perceber que estava começando a divagar. - Eu só... eu só fiquei preocupada com você, ok? Sei que não foi para a festa pelas dores na perna, quis ver como você estava.

Seu tom foi tão baixo que se Lauren não estivesse perto de si, não teria ouvido nenhuma palavra. A neojersiana engoliu em seco para a declaração da outra, sentindo o palpitar forte de seu coração contra seu peito aumentar gradativamente. Camila a encarava com os olhos mais fechados que o normal, parecendo querer colocar seu foco completamente na garota à sua frente.

Lauren nunca imaginaria escutar algo como aquilo vindo dela, o que só aumentou sua teoria sobre a bebida alcoólica.

— Tem certeza que não está bêbada? - Decidiu tirar a prova final, recebendo uma leve revirada de olhos da latina que subiu as sobrancelhas com tédio.

Sem precisar explicar o que deveria fazer, a própria capitã tomou um passo de distância de si, subindo sua perna direita até a altura de seu joelho esquerdo e ficando na famosa posição de provar que não está bêbado, retomando sua postura normal após dez longos segundos sem sequer cambalear. Voltou a dar um passo para perto de Lauren, encarando-a com uma das sobrancelhas arqueadas em convencimento.

— Olha! Você tem um balanço! - A atenção da latina foi puxada para o objeto a poucos metros à sua direita, fazendo-a se separar de Lauren em questão de segundos ao fazer o caminho até lá. O tom animado utilizado por Camila foi comprovação o suficiente de que, sim, ela poderia não estar bêbada, no entanto, tinha um grau de álcool correndo em suas veias que a deixava sem filtros.

O que Lauren não sabia é que essa quantidade - tecnicamente baixa - de álcool foi o suficiente para fazê-la dirigir até ali. Seu corpo havia perdido a muralha de proteção naquele momento.

A de olhos verdes acompanhou o mesmo caminho feito por ela com mais lentidão, observando Camila tomar impulso no balanço enquanto havia se sentado na região destinada àquilo. Não pôde acreditar quando viu a garota rir com divertimento ao soltar os pés do chão, se balançando para frente e para trás em uma velocidade média.

Lauren não conseguia acreditar que ali, em seu jardim, de madrugada e brincando em seu balanço, estava a modelo mais comentada da Paris Fashion Week e a dona da maior empresa imobiliária de toda a América. Sentiu um sorriso sincero rasgar seus lábios ao encarar a cena incrivelmente fofa à sua frente, ainda conseguindo sentir seu coração batendo com força e rapidez dentro de seu peito.

Sem conseguir conter seu próprio corpo, Lauren deu dois passos para perto da garota quando viu que ela ficou de pé para novamente tomar impulso no balanço e, antes que Camila soltasse seu corpo novamente para sentir o objeto balançar, colocou sua mão direita sobre a mão esquerda da latina, sentindo a textura e a temperatura quente da pele da garota.

O sorriso de Camila morreu aos poucos quando sentiu os olhos da neojersiana a devorar sem receio, querendo compreender toda a sordidez de sua alma. A proximidade entre elas era tão magnética que parecia ter um escudo de força entre os corpos, apesar sentirem as respirações uma da outra com mais ritmo que o normal. A latina umedeceu seus lábios lentamente ao descer seu olhar para a boca chamativa da garota a poucos centímetros de si, saindo de vez do balanço ao dar um pequeno passo para frente, praticamente colando seu corpo contra o da neojersiana que resfolegou.

Play em Two Feet - I Feel Like I'm Drowning

— Estou a um passo de cometer loucuras, Lauren, acho melhor você se afastar. - Camila avisou com sua voz baixa, dividindo seu olhar sem parar entre a boca chamativa e os olhos verdes que estavam mais escuros que o normal.

— Por que você se controla tanto? Eu consigo sentir que quer o mesmo que eu, Camila... - A neojersiana sussurrou no mesmo tom utilizado anteriormente por Camila, inspirando com força o perfume da garota quando uma rajada de vento bateu contra seus cabelos.

"All my friends think you're vicious and they say you're suspicious"

— Você não entende... - A latina negou com a cabeça ao morder o lábio na tentativa de se controlar, não conseguindo evitar de olhar para o rosto de Lauren. Seu coração batia como louco dentro do peito, implorando para que seu cérebro desse o aval de que, sim, poderia perder o controle que tanto a protegia de agarrar Lauren e não soltar nunca mais.

Então me deixa te entender. Me deixa te sentir... - Seu tom se tornou quase nulo ao aproximar seu rosto do de Camila, conseguindo sentir o hálito cheirando à menta e, em sua concepção, bourbon escocês.

A modelo quase fechou os olhos pela aproximação inusitada, se perdendo entre as íris verdes de Lauren durante alguns segundos. Seu cérebro dizia que não; implorava para que não fizesse o que estava prestes a cometer, no entanto, seu coração tinha a ajuda de todo o resto do seu corpo que implorava sem parar para que quebrasse aquela distância mínima entre os corpos que queimavam no mais puro desejo ardente.

— Porra! Foda-se! - Foi a última coisa proferida pelos lábios da latina antes do inevitável acontecer.

E então, depois de muito tempo, Camila perdeu completamente seu controle.

"I feel like I'm drowning (I'm drowning), you're holding me down and holding me down. You're killing me slow..."

A modelo fechou a distância de seus lábios com um beijo fervoroso, ganhando um gemido de surpresa e prazer da garota que levou as mãos até sua cintura instantaneamente. Enquanto seus lábios se conheciam; se conectavam; sentiam o gosto um do outro, os braços da latina abraçaram o pescoço da de olhos verdes com gana, sentindo a vontade de gemer pelo beijo esmagadoramente prazeroso.

O gosto do álcool misturado com a bala de hortelã de Camila parecia a melhor combinação do mundo na concepção da neojersiana que explorava a boca da garota com sua língua, mantendo o ritmo do beijo no limbo entre o fervor e a calmaria. Sua mão direita subiu da cintura da morena, segurando seu pescoço com firmeza quando, para recuperar o ar perdido, puxou o lábio da cubana entre os dentes lentamente, escutando o gemido baixinho que saiu por entre os lábios da garota que tomou a iniciativa de descer suas mãos para a cintura de Lauren, apertando a região com força pela pontada gostosa que a ação da neojersiana causou em seu baixo ventre.

Ao puxar o ar novamente, Lauren não perdeu tempo em voltar a grudar os lábios que já se encontravam avermelhados, movimentando a cabeça em plena sincronia com a garota que apertava sua cintura com força. Sem conseguir se conter, ao lembrar da cena no espaço de ensaios que martelou em sua mente durante dias e noites, Lauren fechou sua mão contra o pescoço da morena e apertou com firmeza, aproveitando o momento para chupar o lábio inferior da garota que gemeu em um tom mais audível que antes.

"I don't know what the hell you gonna do when your looks start depleting"

O som proferido por seus lábios foi motivo o suficiente para Lauren sentir as vibrações incômodas em seu baixo ventre terem início, descendo como fogo até seus instintos mais selvagens. Ainda com a mão no pescoço da latina que parecia gostar de ser levemente enforcada, os lábios voltaram a dançar em conjunto, ocasionando milhares de sensações em ambas as almas incompletas naquele jardim, em uma tentativa quase tenebrosa de reconhecer uma à outra.

Sentiam os corpos; sentiam a alma; sentiam, até mesmo, os pensamentos fervorosos que transpareciam nos atos vertiginosos contra a chama do desejo ardente.

Camila separou seus lábios após alguns minutos, colando sua testa contra a de Lauren enquanto puxava o ar com força para dentro de seus pulmões, ainda de olhos fechados por sentir várias emoções ao mesmo tempo. Lauren, por outro lado, agora segurava sua nuca com força, como se tentasse a todo custo não deixar com que ela se separasse da posição íntima em que estavam.

Sem ter palavras no momento, Camila abriu os olhos para encarar as íris verdes à sua frente, ainda tentando controlar sua respiração descompassada. Apesar de ver o desejo nos olhos de Lauren, ela conseguia notar um sentimento a mais dentro das esmeraldas brilhantes que devoravam tanto sua carne quanto sua alma, delimitando que não sairia dali por nada.

Conseguiu enxergar claramente uma tentativa de promessa íntima que os lábios não poderiam dizer, mas os olhos não conseguiam mentir àquele ponto. E era exatamente isso que a fazia querer correr dali, ao mesmo tempo que não queria nunca mais precisar se controlar. Lauren não aceitaria sair de sua vida sem conhecer a fundo toda a imensidão de sentimentos que a alma de Camila poderia sentir e demonstrar.

Não aceitaria perdê-la sem nem ter tido a chance de tê-la. Ainda.

—;—

E então saiu a notícia que o mundo não acreditou: Camila Cabello-Swoord perdeu o controle.

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