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Bởi allthsecuban

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A Stanford High-College é a instituição de ensino integrado entre escola e faculdade mais famosa de todo o Es... Xem Thêm

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Bởi allthsecuban

Para a minha surpresa e relaxamento da ansiedade absoluta após a conversa com Heather, a aula de geografia espacial (que descobri ser um "primo" da geografia física planetária) foi pacífica e tranquila, assim como as três aulas de física quântica conseguintes. A sala de aula era um luxo puro, coisa que não me surpreendeu nem um pouco. Além de ser grande, as cadeiras tinham estofado de couro e a lousa era digital, sem contar o fato de ter dois ar condicionados; um acima da lousa e o outro na parede oposta.

Ostensivo, assim como qualquer coisa viva ou inanimada desse lugar.

Os alunos com quem eu dividia a sala pareciam... normais demais. Poucas perguntas foram feitas ao professor com o passar das aulas, assim como foi ouvido pouca conversa de algum aluno ou outro. Eram pacíficos e educados demais, ao meu ver, o que de certa forma era bizarro. Quando o sinal marcando o fim da quarta aula bateu, percebi que finalmente era a hora do almoço, já que todos se levantaram e começaram a conversar - finalmente - como pessoas normais.

Enquanto eu fazia o caminho até a porta de madeira, pensava somente em como eu iria achar Heather naquela imensidão de alunos. Eu nem sequer sabia como chegar ao refeitório! Pelo barulho de murmúrios e risadas no corredor das salas, eu sabia que estava abarrotado de alunos indo almoçar, o que significava que eu teria que seguir a boiada até onde quer que fossem.

Parecendo ouvir meus pensamentos, assim que passei pela porta me preparando para caminhar, senti uma mão segurar gentilmente meu braço direito. Não me surpreendi quando me virei o suficiente para ver o sorriso brincalhão de Heather.

— E aí, olhos verdes? Como foi a aula? - Ela perguntou quando se colocou ao meu lado e começou a andar junto a mim.

— Foi tranquila. Não sabia que existia geografia espacial até vir para cá.

— É uma das aulas mais legais daqui, na minha opinião. Gosto muito do Sr. Jackson. - Ela disse calmamente enquanto andávamos pelo corredor que dava na entrada principal, o mesmo por onde eu havia entrado.

O Sr. Jackson era um senhor por volta dos 60 anos muito educado e formal. Tinha um bigode engraçado do qual me lembrava o Albert Einstein. Me ganhou pelo carisma, e, em minha análise comportamental sobre ele, sua solidão deve ser algo muito forte em sua vida, já que tentou (sem sucesso) fazer um trocadilho com rochas sedimentares.

— Achei ele um senhor bem legal. Vamos nos sentar no pátio exterior ou o que? - Perguntei quando seguimos o caminho por baixo da escada principal que dava em uma bifurcação de corredores ainda inexplorados por mim.

— Não, vamos nos sentar no refeitório. Vou te apresentar a alguns amigos meus, eles já devem estar lá. - Ela disse seguindo reto em um corredor largo onde uma grande porta dupla de empurrar de metal nos esperava, contendo uma plaquinha acima da mesma indicando "Refeitório".

Deus, esse lugar é enorme.

Ao adentrar o lugar, me assustei com o tamanho do refeitório. Era muito, muito extenso. As diversas mesas redondas de madeira se estendiam pela área que no momento se encontrava lotada. Uma fila enorme do lado direito se estendia na frente de alguns funcionários da escola que serviam o almoço. As paredes, por sua vez, eram preenchidas por diversas pinturas de leões, pompom's, esportes, palácios e escrituras gregas. Ao longe, pude ver algumas máquinas de doces e salgadinhos no fundo, bem ao lado de duas portas que deduzi serem banheiros.
A grande maioria das mesas estavam ocupadas por todo tipo de aluno que estudava ali, me fazendo encarar alguns deles e imaginar que tipo de grupo de amigos eles formavam.

Entretanto, não foram as mesas ou as pinturas criativas nas paredes (as quais contavam, provavelmente, a história da escola) que me chamou atenção, mas sim um lugar em específico na esquerda do refeitório que se estendia até parte do meio do lugar. Era como um palco, porém o piso e a base grossa que deixava o lugar mais alto que o chão do refeitório eram feitos de Mármore Travertino Tradicional, material esse que custava uma fortuna. Uma escada de poucos degraus dava acesso a parte de cima, a qual continha 2 mesas iguais ao restante com, ao que pude contar, 18 cadeiras, tendo 6 delas ocupadas.

Por que caralhos tinha aquilo ali? Por que estavam separados das outras mesas?

Que porra de escola estranha.

Segui Heather por alguns segundos passando por algumas pessoas até pararmos em frente a uma mesa no lado oeste. Duas meninas e um garoto conversavam de forma descontraída quando notaram a nossa presença.

— E aí, gente? Essa é a Lauren e ela é nova na escola. Vai se sentar aqui com a gente hoje, beleza? - Heather disse se sentando em uma das 3 cadeiras vazias que tinham ali.

— Claro. Senta aí, Lauren. - O garoto de olhos verdes e cabelo ondulado disse educadamente. Me sentei ao lado de Heather, deixando rapidamente meu celular em cima da mesa quando vi os deles ali também. O cheiro de comida bem temperada que serviam a alguns metros de onde estávamos fez meu estômago roncar. - Então, conta para a gente um pouquinho de você. - Ele disse sorrindo enquanto colocava os cotovelos na mesa e o queixo nas costas de suas mãos, me encarando com curiosidade.

— Não se sinta pressionada a falar nada, Lauren. Acho que todo gay tem curiosidade além do normal igual o Harry. - A menina de cabelo loiro escuro ao lado do garoto afirmou e logo em seguida levou um empurrão de leve do mesmo.

— Cala a boca, Jade, nunca fui curioso além da conta. - Harry disse enfiando a mão no saco de Doritos que havia em cima da mesa e colocando um na boca.

— Fiquem quietos e deixem a garota falar. - A menina da qual eu ainda não sabia o nome resmungou, fazendo Jade e Harry revirarem os olhos com uma careta engraçada e, pela minha leitura labial, dizerem algo como "mimimimimi".

Eu ri um pouco das caretas que ambos faziam para a garota ainda sem nome, que por sua vez os mostrava seu dedo do meio. Heather ria ainda mais ao meu lado, dizendo algo como "Vocês são insuportáveis" e voltando a me encarar com expectativa do meu monólogo sobre mim mesma.

Eram pessoas legais, à primeira vista.

— Ahm, então... Meu nome é Lauren Jauregui, tenho 18 anos e vim de Nova Jersey. - Eu comecei a apresentação de forma contida.

— Nova Jersey? Tipo do outro lado do país? Que tipo de crime você cometeu para fugir até Palo Alto? - Jade perguntou de forma brincalhona. Sua mão fez um movimento veloz até o saco de Doritos em cima da mesa que ocasionou um tapa rápido de Harry quando tentou furtar um biscoito.

— Pois é, eu também não sei, meus pais quem tiveram essa ideia brilhante. Pelo que entendi, meu pai ganhou uma promoção de ser corretor-chefe da empresa em que ele trabalha, mas a matriz ficava aqui, por isso viemos.

— Em qual empresa seu pai trabalha? - Heather perguntou com curiosidade.

— Na Royal Real State.

— Não é a empresa da família da Cabello? - Harry perguntou para as garotas ao seu lado conseguindo um "uhum" em resposta.

Quem diabos era Cabello?

— Quem? - Perguntei com curiosidade.

— Ué, a Cabello. - Harry respondeu como se fosse a pergunta mais óbvia do mundo. Era a segunda vez no dia que alguém respondia algo como se fosse óbvio, o que começou a me preocupar sobre a importância real de saber coisas daquele lugar.

— Por falar nela, cadê ela e a corja dela? - Jade perguntou com uma mudança de tom de voz repentina, saindo de brincalhão para debochado e frio; ato que também não pareceu passar despercebido por Harry.

— Provavelmente tiveram ensaio no fim do terceiro horário, devem chegar daqui a pouco. - A morena ao lado de Jade respondeu dando de ombros.

— Gente, desculpa, mas de quem vocês estão falando? - Perguntei novamente.

Recebi olhares curiosos e, por um momento, cheios de dúvida, mas logo suavizaram com a constatação óbvia de eu simplesmente ser nova na cidade e completamente leiga nas fofocas da Stanford.

Já passava das dez da manhã e nada naquele lugar ainda fazia sentido.

— Eu disse que te explicaria no almoço justamente para ter a ajuda deles na explicação. - Heather apontou. - Harry adora explicar tudo sobre essa escola e principalmente sobre a Pangeia.

"Que nome ridículo!" Ironizei em minha cabeça quando escutei a fala de Heather. Mesmo não sabendo sobre o que se tratava, eu ainda sentia aquela sensação do início do dia.

Sentia que o que quer que iriam me explicar, era muito, muito mais importante do que a escola em si.

Tirei meu olhar deles e observei novamente o palco a alguns metros de onde eu estava. Dois garotos agora se encaminhavam para a escada, subindo calmamente e se sentando em uma das duas mesas dali, a mesma que já tinha 6 pessoas sentadas de costas para mim. Acabei por perceber a quantidade de olhares que os dois atraíram para si apenas por passar entre as mesas e ir até aquela espécie de plataforma gigantesca. Algumas pessoas viraram até a cadeira para acompanhar a trajetória dos dois.

Que bizarro.

— Aí meu Deus, vamos dizer o GESHC para a Lauren?! - Harry disse com a voz super animada fazendo Jade revirar os olhos e sorrir de lado.

— O Harry adora fazer isso. - Jade sussurrava para mim como se ninguém fosse ouvir. - Da última vez, ele e a Veronica ficaram três horários seguidos explicando para a garota nova da sala tudo o que eles sabiam.

— Eu não fiquei três horários, Jade. - Disse a garota que finalmente descobri o nome. - Fiquei somente dois, para a sua informação. - Completou com um sorriso irônico lançando um "beijinho no ar" logo em seguida.

— Ok, e o que seria "GESHC"?

Guia Essencial da Stanford High-College. - Heather respondeu prontamente. - É como um manual para você que é nova entender como tudo aqui funciona.

— Antes de tudo, nós não vamos almoçar? - Eu perguntei timidamente. Meu estômago roncava ainda mais com o cheiro do que parecia ser camarão passando pelas minhas narinas.

Ah, qual é?! Eu enfrentei 4 aulas antes de sentar aqui, estava morta de fome para caralho.

— Eu pego um salgadinho na máquina para você enquanto eles começam a te explicar, já que o meu melhor amigo não me deixa comer o dele. Gosta de Doritos? - Jade falou se levantando e ganhando um sorriso amarelo de Harry.

— Sim, obrigada. - Respondi prontamente vendo a garota me lançar um "joinha" com os dedos enquanto se afastava.

— Então, Lauren, onde podemos começar? - Harry perguntou retoricamente com o dedo no queixo e a expressão pensativa. - Ah, claro, os 6 níveis.

— Antes de tudo, Lauren, você precisa entender que aqui é diferente das escolas tradicionais, como você já pode ter percebido. - Veronica cortou seu amigo.

Sim, Veronica, eu já notei que estou em outro planeta. Obrigada por me lembrar.

— É, é bem importante você entender isso antes de tudo. Temos regras e sistemas de poder aqui dentro que são diferentes de qualquer outra coisa que já tenha visto. - Harry complementou com a expressão séria pela primeira vez desde que sentei na mesa. - Vamos te explicar cada um dos 6 níveis, quem são Os Originais e o que é a Pangeia.

— Na verdade vamos te explicar o que é a Stanford. - Heather disse olhando alguma coisa em seu celular. - O suficiente para você sobreviver aqui.

Antes que qualquer um dos três pudesse falar algo, alguma coisa fez um burburinho se instalar no refeitório, muito mais alto do que os ruídos de conversas aleatórias que antes podia ser ouvido. A inquietação das pessoas à nossa volta era palpável, e tudo o que eu queria era entender o motivo daquilo.

Até que eu os vi.

Play em Fancy - Iggy Azalea ft. Charli XCX

— Parece que o destino quer que você veja com seus próprios olhos como exemplo, Lauren. - Ouvi Veronica dizer com a voz risonha mas nem me dei o trabalho de me virar para olhá-la. Minha atenção estava na porta de entrada.

Um grupo de pessoas entrava no refeitório e passava pelas mesas como se desfilassem em uma passarela. Sete meninas com cropped e saia verde escuro com dourado andavam calmamente enquanto conversavam sobre algo, juntamente a um garoto que por sua vez também usava o uniforme de líder de torcida, porém com uma calça e uma camisa de manga curta. Não era difícil deduzir que eram as CashCats, principalmente para mim que já havia visto o uniforme nas competições algumas vezes, entretanto, aquele era diferente.

O uniforme que elas geralmente usavam nos nacionais em que nos encontramos era composto por um cropped e uma saia rodada listrado com verde e dourado, diferente daquele que usavam naquele momento. O novo adereço das CashCats tinha a saia um pouco mais curta e colada que antes, com uma fenda pequena na coxa direita; o cropped agora tinha um pequeno corte em V que favorecia mais os seios das garotas. Grande parte das duas peças era composta por um verde bem escuro, já a barra e as iniciais "CCSH" estavam em um dourado reluzente, assim como alguns detalhes espalhados pelas peças que remetiam a pequenos raios.

"Porra, que uniforme lindo! Que garotas lindas." Foi o primeiro grande pensamento que tomou conta de mim.

Atrás das cheers, vinham dois garotos que se empurravam de brincadeira enquanto riam de alguma coisa que conversavam. Um deles tinha o cabelo loiro meio escuro jogado para o lado e trajava uma camisa larga preta com short branco. Já o outro, que agora andava pacificamente ao seu lado olhando para algumas mesas e sorrindo galante, tinha o cabelo castanho escuro meio bagunçado, trajando também uma camisa larga e um short, dessa vez azul escuro e preto.

Caralho, só tem gente bonita aqui?

Ouvi Heather dizer alguma coisa que não consegui entender e em seguida veio uma risada alta de Harry. Nem sequer me virei para tentar entender o que ambos falavam ao meu lado. Ao invés disso, mantive meus olhos no grupo que se encaminhava até a escada de mármore da qual dava acesso ao palco que havia ali; logo todos se sentaram na mesa vazia que parecia estar justamente os esperando.

Eu dei uma última olhada nas pessoas que tinham a atenção de todo o refeitório para si e me preparei para virar de volta para a visão dos três na mesa.

E então, eu a vi.

Ela entrou um pouco depois do restante que já se encontrava sentado, ficando um pouco para trás. O burburinho, que antes já era alto, dessa vez parecia ferver ainda mais ao vê-la passar. Algumas pessoas nas mesas ao lado do lugar em que ela atravessava a chamavam animados; alguns gritavam e outros assobiavam para a garota que parecia flutuar no ar. O refeitório parecia uma arquibancada em jogo de Copa do Mundo só por ela estar ali.

Mesmo vendo um pouco de longe, eu conseguia dizer facilmente: era a garota mais linda que eu já tive o prazer de colocar os olhos.

Eu estava hipnotizada. Tudo parecia acontecer em câmera lenta.

Ela usava o mesmo uniforme que as garotas das quais eu vi a pouco e em seus pés estava um par de Air Force completamente branco. Seu cabelo era liso com algumas ondulações perto das pontas e, separando sua testa e escondendo suas orelhas, tinha também uma franja. A saia colada em seu corpo dava destaque em sua bunda farta, me fazendo tirar rapidamente os olhos dali e subir novamente.

Não gostava quando me secavam, então não iria fazer o mesmo com ela.

A garota andava graciosamente e acenava para algumas mesas que a cumprimentavam; sorria e dizia algo para algumas garotas que falaram alguma coisa para ela quando, sem eu nem ter percebido, chegou perto de nossa mesa.

Ela conseguia ser ainda mais bonita de perto. Puta que pariu, que menina gata!

Seus olhos eram de um tom de castanho escuro muito marcantes, me lembrava a cor de chocolate 60% cacau, e pareciam mesmo ser uma mistura de doce com amargo, assim como o chocolate. Seu olhar era empedernido, tal qual o de um leão; seu sorriso era filaucioso e voraz, mostrando o quanto sua boca bem desenhada brilhava com o provável gloss que ela teria passado. Quando ela virou seu rosto para olhar quem havia a chamado na plataforma, ficando de perfil para mim, eu sabia que ninguém daquela escola poderia chegar perto de ser ela.

Quem fica bonito de perfil, meu Deus? Ela era de outro mundo, só isso explicava.

Consegui sentir seu perfume amadeirado com um toque cítrico quando ela passou por mim, me fazendo a acompanhar com o olhar até ela finalmente subir a escada e se sentar ao lado de uma garota ruiva que ria enquanto falava alguma coisa para ela.

— Ok. O que foi aquilo e por que caralhos eles estão sentados naquele palco separado de todo mundo? - Me virei bruscamente e praticamente tropecei em minhas palavras. Até a minha voz ela havia roubado para si.

— "Aquilo" foi a Cabello e sua corja, mas também são conhecidos como Pangeia. - Veronica disse com uma expressão divertida em seu rosto. - Finalmente você voltou do transe, hm? Eles roubam a atenção fácil demais, eu sei.

— Relaxa, Lauren, você não é a única que já ficou hipnotizada. Geralmente acontece com qualquer aluno, imagina só para uma novata vendo pela primeira vez. - Harry completou a fala de sua amiga.

— E respondendo a sua outra pergunta: aquilo não é um palco, é o Olimpo. - Jade simplesmente apareceu, deixando meu pacote de salgadinhos em cima da mesa.

— Vocês podem, por favor, me explicar o que é essa loucura que vocês chamam de escola? - Eu perguntei com certo desespero na voz, o que ocasionou risadas de todos na mesa.

— Ok, vamos lá. Vamos começar do início. - Harry adotou uma postura séria novamente e começou seu monólogo explicativo. - Aquelas pessoas que você acabou de ver fazem parte de um grupo muito seleto de alunos da Stanford, e esse grupo é chamado de Pangeia. Sua grande maioria é composta pelas CashCats, a equipe de torcida multicampeã da escola, e por parte do time de futebol. Eles são como... a realeza escolar, e a maioria deles ocupa o nível Famous, o que é muito, muito alto.

— Como assim "nível Famous"? - Perguntei com o cenho franzido em confusão, recebendo um "Shhh, perguntas no final" de Heather.

— Eu ainda vou chegar lá, calma. Continuando, a Pangeia é composta pelo nível social mais alto daqui, e são eles quem mandam e desmandam nessa escola, como deu para notar obviamente. Mas o que os torna tão exemplarmente conhecidos dessa forma é a Hybris. - Harry deu uma pequena pausa olhando com animação para Veronica que logo deu continuidade à sua fala.

— Antes de se chamar assim, a Hybris era somente um sistema de interação entre alunos fornecida pela Stanford, porém, como existem diversas redes sociais na internet, não era muito utilizada. Isso mudou completamente quando o Tristan e a Cabello fizeram a cabeça da direção e alteraram todo o funcionamento do site. - Veronica dizia calmamente dando algumas pequenas pausas para comer os salgadinhos de Jade. - Eles mexeram em tudo. Transformaram a plataforma em uma espécie de rede social em que os alunos tinham acesso com o número de matrícula. Dentro da plataforma você conseguia seguir e adicionar as pessoas da escola, assim como criar seu perfil com biografia, dedicar uma parte da página com suas conquistas pessoais e também a quantidade de seguidores, amigos e blablabla.

— Basicamente é um Twitter só para a Stanford. - Heather complementou.

— É, tipo isso. Eles denominaram o novo site como Hybris, o que até hoje eu não entendo exatamente o significado. - Jade disse dando de ombros.

Acho que é sobre algum mito grego ou algo assim, nunca quis perguntar. - Harry disse roubando com maestria um biscoito do pacote de Jade, o que fez a garota o olhar com raiva. - O ponto é que depois de um tempo, com o sucesso da Hybris no campus todo, o site se tornou um "medidor de casta social extremamente sofisticado". E é exatamente aí que surgiu a maior distinção entre pessoas que essa cidade já viu: Os 6 níveis de Stanford.

Tudo o que os quatro me falavam parecia coisa de filme, assim como a cena que a poucos minutos tinha sugado minha atenção. Essa desgraça de escola quer me matar de ansiedade logo no primeiro dia?! Eu tenho, sequer, algum direito de terapia gratuita aqui? Pensando exatamente sobre isso, cheguei em uma conclusão muito nítida.

Eu estava em um remake de Meninas Malvadas. Era isso, eu tinha certeza!

— Eu assumo daqui. - Heather disse, recebendo um gesto com a mão de Harry para que prosseguisse. - Os 6 níveis de Stanford foram criados pelos Originais, que foram aqueles que também criaram a Hybris. O intuito, inicialmente, era declarar com quem você andava, baseado em seu ciclo de amizade e perfil no site, mas obviamente deu errado, muito errado. O que era somente uma brincadeira se tornou um marcador de popularidade. Depois de algum tempo, pessoas só andavam com pessoas de seu determinado nível. Os de níveis mais baixos obviamente sofriam bullying e coisas assim, e foi assim que a escola se separou completamente. A Pangeia tomou posse de toda e qualquer coisa; todo mundo praticamente se humilhava para tentar entrar no universo deles, obviamente sem sucesso. A construção do Olimpo foi a última jogada que fizeram para demonstrar o poder que tinham sobre qualquer um daqui.

Virei minha cabeça para o lado esquerdo o suficiente para ter a visão perfeita do "Olimpo" após as explicações absurdas que eu estava recebendo. As CashCats comiam tranquilamente enquanto conversavam entre si, assim como a mesa ao lado delas que era composta, provavelmente, pela tal parte do time de futebol da escola. Era realmente um grupo muito seleto de pessoas, e é impressionante como ninguém nem sequer se atrevia a chegar perto da escada que dava acesso àquele lugar.

Olimpo. Claro, fazia todo o sentido o nome agora. Na mitologia grega, o Olimpo era o lugar onde ficavam os Deuses, completamente separados dos humanos que ficavam em solo terreno.

Eles se viam como divindades, e estavam, literalmente, acima de nós.

— E a direção não fez nada? Não tentaram intervir nessa loucura? - Eu perguntei ainda em choque completo. Se algo assim acontecesse em Nova Jersey, o resto dos alunos já teriam até mesmo quebrado as mesas que eles se sentavam.

— Claro que não, a direção foi quem mais incentivou isso tudo. Foi a própria direção que aceitou a equipe especial do pai da Hansen construir o Olimpo. Pagaram o mármore e tudo. - Veronica disse rindo. - Eles lucraram e ainda lucram muito com a Pangeia, as CashCats e os Lions. Falar "não" para eles é, literalmente, como dar um tiro em seu próprio pé. Além, é claro, do fato que, de alguma forma estranha, a Stanford melhorou muito com a Pangeia no poder. - Ela seguiu seu monólogo encarando o grupo do qual falávamos. - Mas o que vem realmente ao caso é: quais são os 6 níveis da Stanford? É exatamente isso que vamos te dizer agora.

— O primeiro nível é chamado de Singular, e consequentemente é o mais baixo de todos. Pessoas que ocupam esse nível são como... como os nerds em uma escola normal. A grande maioria não chega a ter nem 100 amigos na Hybris, e em conquistas têm muito menos. O segundo nível é chamado de Middle, o que também é bem baixo comparado ao restante. A maioria de nível Middle é segundanista e introvertido ao extremo; o limite de amigos é 400 e não passam de 100 seguidores. - Harry deu uma pequena pausa para puxar o ar. - O terceiro nível é o Notorious, que é o que uma grande parte do campus ocupa. É um divisor de águas entre os mais altos e os mais baixos, tendo seu limite de amigos em 1000 e seguidores em 700. Em seguida temos o Popular, que também tem uma alta porcentagem de alunos o ocupando. É o primeiro nível entre os três grandes, um passo perto dos maiores dos maiores. Seu limite de amigos é de 2000, e, por consequência, seu número de seguidores tem limite de 1600...

"Meu Deus, quantas pessoas haviam naquele lugar?" Perguntei para o meu subconsciente que obviamente não tinha a resposta.

— ...Finalmente, chegamos no tão almejado Famous, que foi do qual você tinha perguntado antes. A galera de nível Famous para cima tem acesso exclusivo ao Olimpo. É realmente um grupo bem seleto, que é justamente o que você está vendo ali agora, faltando umas 4 ou 5 pessoas no total. O limite de amigos é de 3100 ou 3200, e o número de seguidores chega a passar de 3500. Para ter um nível desses, você precisa ter conseguido pelo menos uma de três alternativas: ou você é membro da Pangeia, ou você é atleta de grande porte de algum dos esportes famosos da escola, ou você tem o perfil incrível na Hybris. A terceira opção nunca aconteceu, já que, quando você alcança o nível, praticamente se torna um deles automaticamente.

— Como uma doença contagiosa? - Brinquei com um sorriso curto.

— Exatamente isso, você descreveu bem. - Heather apontou rindo.

São como uma maldição. Se você chegar muito perto também te pega. - Veronica brincou.

— Me deixem terminar. - Harry resmungou. - E aí, bom, tem o sexto nível, que é tipo impossível de alcançar normalmente como você teria a possibilidade de fazer com os outros. O último dos seis níveis é chamado de Elite, e acredite, não é por coincidência. Só 4 pessoas dessa escola estão lá, e são justamente Os Originais. Boatos dizem que foram eles que criaram isso tudo aqui do zero, e eu é que não vou retrucar. - Harry deu de ombros com uma expressão engraçada no rosto, ganhando em troca outra revirada de olhos, dessa vez de Heather, que murmurou um "Meu Deus" baixinho. - Obviamente eles têm acesso ao Olimpo e você deve ter notado que o barulho no refeitório aumenta de acordo com quem passa. Por incrível que possa parecer, eles não têm limites de amigos, mas todos os 4 têm números exorbitantes a partir de 3500 amigos e chegam a ter mais de 5000 seguidores, o que é, basicamente, quase a escola toda.

Novamente me perguntei o que não queria calar: quantas pessoas tinham nessa escola?

— Ele esqueceu de mencionar que a lista de pedidos de amizade também conta muito na Hybris. - Heather alertou. Enfiei a mão dentro do pacote recém-ganhado e peguei alguns biscoitos. Eu sentia a necessidade de comer para abafar a ansiedade que me consumia fervorosamente. - A galera de nível mais alto como Popular ou Famous gosta bastante de "colecionar" os pedidos de amizade. O número total de pedidos ainda não aceitos também fica em seu perfil, e é uma conquista e tanto. Nem preciso dizer que é um pequeno hobbie da Elite fazer o mesmo, ou até pior. Por isso o número de amigos do sexto nível é quase igual o de nível Famous.

Minha cabeça latejava depois de tantas descobertas. Eu esperava que os quatro simplesmente cortassem a conversa e gritassem "É UMA PEGADINHA", mas eu sabia que aquilo tudo era real, era bem real. Estávamos em uma monarquia escolar em pleno século XXI, ou pior, uma monarquia escolar grego-americana.

Onde caralhos eu fui me meter, meu Deus? Eu desisto, Stanford. Perdi as contas ao exato, mas presumo estar 74893 x 1 para você.

— Vocês estão tentando me dizer que deixam aquilo ali acontecer e acham normal? - Perguntei apontando para o Olimpo completamente incrédula com a situação. - Não sei se vocês sabem, mas a monarquia nesse país acabou em 1776. Isso não existe! Vocês não podem deixar que um site meia boca e uma lista de níveis bobos comandem toda a escola.

— Pensamos o mesmo que você, Lauren, mas aqui é Palo Alto, não Nova Jersey. Nós te explicamos no início da conversa que você teria que entender que as coisas aqui funcionam diferente. - Veronica falava como se não existisse nada que pudessem fazer para mudar algo, sua expressão corporal gritava isso. - Basicamente, a Stanford é o que é por causa deles, e isso não vai mudar. Além do fato de que quase todos ali são podres de ricos, principalmente os Originais; mexer com eles é a mesma coisa que colocar fogo em um palheiro. Se você mexe com um, mexe com...

O barulho estridente do sinal acoplado nas paredes cortou a fala da garota me fazendo pular no assento, causando uma gargalhada descontrolada de Harry. Começamos a andar em direção a porta junto da multidão de alunos, porém, minha atenção ficou justamente no alvo de conversas que estávamos tendo.

Ninguém do Olimpo moveu sequer um músculo para se levantar e seguir rumo à sala de aula.

Refizemos o caminho que eu e Heather tínhamos feito até chegar ao refeitório, parando em frente a escada que se dividia em duas na frente da porta de entrada da escola. Pela conversa paralela que havíamos tido no curto caminho até ali, Heather e Harry teriam aula de filosofia e psicanálise no andar superior.

O almoço havia acabado, mas eu não queria que aquela conversa tivesse o mesmo fim. Mesmo assustada com tudo aquilo, eu sentia a necessidade de saber mais. Quem sabe, saber mais sobre ela.

— Algum de vocês tem aula de mecânica automotiva agora? Eu quero muito continuar essa conversa. - Eu sei que eu parecia desesperada, mas porra... eu precisava compreender o lugar que eu passaria um bom tempo dali em diante.

— Parece que é o seu dia de sorte realmente, Lauren, também tenho essa mesma aula. - Veronica disse sorrindo. Observei a movimentação de Harry e Heather quando começaram a subir as escadas rumo ao lugar que eu ainda não conhecia. - Não sou animada como o Harry para contar as coisas, mas posso te passar algumas coisas também, não se preocupe.

— Querida, você não é como eu em nada. Até mesmo chupar a sua namorada eu faço melhor, e olha que eu nem gosto dessa fruta. - Harry disse de forma irônica parando no meio da escada, em seguida fazendo gestos obscenos com a mão e a boca, o que fez alguns alunos que passavam por eles olharem com espanto para nós. Jade e eu nos entreolhamos e observamos o rosto de Heather tomar uma coloração vermelha antes de cairmos todas na risada com a fala inesperada.

— Ah sim, claro, assim como o que eu fiz com a sua mãe ontem naquele bordel sem estrutura no meio da estrada. Acredite, Styles, ela nunca gemeu tanto. - Veronica disse um pouco mais alto pela distância que tinha do garoto agora. Jade, Heather e eu já chorávamos de rir naquele ponto, ainda mais com os olhares espantados das pessoas que passavam por ali como se dissessem "Que porra é essa?!" quando ouviram os (nada disfarçados) gritos de Veronica.

— Essa foi boa, te criei muito bem! - Harry gritou de volta com o tom de voz mais abafado e baixo dessa vez, devido às conversas dos alunos que subiam a escada, e logo sumiu pelo corredor junto com Heather.

— Tenho Cálculo I agora, gente, vejo vocês no final da aula. Lauren, passa o seu número para a Vero e a gente te adiciona no grupo depois, beleza? - Jade disse já se afastando quando respondi um "Belê", novamente me lançando um joinha com a mão e seguindo o lado direito para o corredor.

Veronica e eu nos locomovemos com calma até o mesmo corredor do qual eu tinha tido todas as aulas até agora, dessa vez entrando na última porta perto da janela que, por sua vez, continha o número 19 gravado em uma plaquinha verde escura com letras douradas.

Puta que pariu, essa escola só tinha essas cores na enorme paleta de cores existentes?

A sala já se encontrava parcialmente cheia, tendo algumas mesas vazias no meio e no fundo. Por termos a pretensão de conversar e não aprender sobre motores e prensas hidráulicas, preferimos nos sentar no fundo, longe da atenção do professor. Essa sala era diferente da que eu estava anteriormente, tendo mesas maiores que o normal e lugar para duas pessoas se sentarem em cada uma delas.

Estava nítido que aquela aula funcionava em duplas, e era a desculpa perfeita que eu e Veronica queríamos no momento.

"Não brigue conosco, professor, estamos somente conversando sobre o motor V8 da Ferrari, e não sobre um grupo específico dessa escola que manda e desmanda no que quiser, acredite." Ironizei em minha mente. Que piada de mau gosto.

— Não quero parecer indelicada e nem insultuosa, mas o que a Jade tem com a Pangeia? - Finalmente tive a coragem de perguntar quando nos assentamos.

— Você notou, não é? Bom, é uma história meio confusa e conflituosa entre a Jade e as CashCats, por isso ela não gosta muito de falar sobre ou estar numa conversa em que o foco seja isso. - A morena disse enquanto pegava o estojo preto dentro da mochila. - Eu nunca soube o motivo certo, a Jade nunca quis nos contar, mas ela fez um teste para as CashCats no ano passado. Foi logo quando a Jess, uma garota nova da equipe, simplesmente sumiu da escola, deixando uma vaga em aberto. A Jade sonhava em ser uma delas, então conseguiu o teste por ter sido amiga da Cabello, obviamente antes da Cabello entrar no time há uns três ou quatro anos. Pelo que ouvi dela, ela tinha se saído bem no teste, estava super animada com a possibilidade de entrar. Mas tudo deu errado. Alguma coisa aconteceu que não a deixaram entrar, e com isso ela perdeu dois níveis na Hybris.

— Nossa, que péssimo. Vocês são de níveis baixos ou algo assim? - Me arrependi da pergunta dois segundos após fazê-la. Que indelicadeza, meu Deus, minha mãe me mataria se ouvisse isso.

— Acha que somos anti-sociais e por isso te adotamos hoje? - Ela pareceu ler a minha mente por um momento, mas logo soltou uma risada baixa. - Não se preocupe. Heather, eu e Harry somos de nível Popular. Jade está tentando a todo custo voltar para o mesmo que o nosso, mas ainda está um nível abaixo.

Assenti com a cabeça e me calei por um instante, me deixando absorver a informação. Jade realmente parecia muito incomodada com a conversa no refeitório, eu mal ouvi a voz dela quando a Pangeia fez sua entrada triunfal.

O rancor e a falta de reconhecimento ainda queimavam nela, eu podia sentir de longe.

Uma mulher por volta dos quarenta anos trajando uma blusa carmesim e uma saia preta adentrou a sala segurando alguns livros empilhados. Não demorou muito para ela começar a aula e eu descobrir, depois de uma pergunta direcionada a mesma, que seu nome era Lisa Manning (nome este que ela tratou de corrigir a loira de óculos quadrados que estava sentada algumas cadeiras na frente da minha, pedindo para chamá-la de "Srt. Manning"). Dei uma olhada para o lado e pude perceber Veronica já fazendo algumas anotações que a professora escrevia na lousa, coisa que eu nem havia notado lá.

Eu estava ansiosa e necessitava de respostas.

— Não vai anotar? - Ela perguntou sem parar de escrever ou tirar os olhos do caderno.

— Ahm... vou sim. - Eu disse pegando meus materiais dentro da mochila preta da Adidas que eu havia ganhado no natal do ano passado.

Comecei a anotar o início do enorme texto que dividia a lousa em três partes e, sem perceber, já havia parado de escrever em menos de dois minutos. Ao invés de usar o lápis para escrever, eu o batucava baixinho no caderno, de forma rítmica.

Minha ansiedade estava completamente atacada e eu não sabia o porquê.

— Você tem problema com ansiedade ou algo assim? - Veronica perguntou após algum tempo, deixando o lápis sobre o caderno e me olhando com atenção.

— Acho que sim, bom, eu geralmente fico muito ansiosa mas consigo controlar bem. Acho que estou assim por ser o meu primeiro dia. - Argumentei com a única coisa que veio em minha mente. - Você ainda quer me contar sobre o resto das coisas?

A Srt. Manning já havia parado de escrever e pediu para que anotássemos e fizéssemos a atividade da página 149 do livro. Algumas duplas discutiam sobre as questões em um tom de voz normal, o que nos dava a chance de conversar um pouco mais baixo.

— Se estiver falando sobre os integrantes da Pangeia, sim, claro. Bom, não tem ninguém naquele grupo que não seja de nível Famous ou obviamente Elite, então todos têm uma reputação de ouro, sem excessão. De líder de torcida temos: Dinah Jane Hansen, Zendaya Coleman...

— Senhorita Iglesias, poderia me dizer as principais equações em que chegamos ao resultado da potência de motor de um jato da força aérea, o qual consta na questão de seu livro? - Srt. Manning perguntou abaixando os óculos para olhar em direção ao fundo da turma. Senti Veronica travar em seu assento, o que com certeza significava que a pergunta era para ela.

— Ahm... equações de terceiro grau? - Ela respondeu incerta.

— Não, senhorita Iglesias. Sugiro que pare de conversar sobre coisas que não são sobre mecânica automotiva e resolva os exercícios que passei.

Abaixei minha cabeça e segurei a vontade avassaladora de rir. Tenho problemas sérios com risadas em situações indevidas. A garota ficou em silêncio durante um tempo enquanto fazia os exercícios em seu livro, me dando acesso a ele para copiar os enunciados e seus resultados, já que eu ainda não tinha o material.

Estava fazendo algumas questões aleatórias quando notei Veronica parar de escrever na folha que continha as equações, abrindo a última folha de seu caderno que se encontrava alguns rabiscos com frases escritas e arrancando um pedaço do papel. Me concentrei nas questões à minha frente para não parecer estar invadindo seu espaço pessoal sem querer. Foi quando ela arrastou o papel rapidamente para o meu lado da mesa e bateu duas vezes com o dedo indicador no mesmo, em um sinal claro para eu ler o que estava escrito.

"Acessa sua conta com o número da sua matrícula e sua data de nascimento no site hybris.com e crie seu perfil lá. Dinah Jane Hansen, Troye Sivan, Camila Cabello e Tristan Walls. Se achar esses, consegue achar os outros facilmente. São 18. Me pede em amizade lá também: Vero Iglesias."

Assenti vagarosamente para a garota ao meu lado enquanto guardava o papel em meu estojo. A partir daquele ponto a aula se tornou um borrão de tão rápida que passou, muito por conta da ansiedade que se estabelecia em mim para entrar na Hybris quando chegasse em casa.

Quando o sinal do término das aulas do dia tocou, a morena me perguntou se eu gostaria de ir tomar sorvete com eles em uma rua próxima da escola, o que eu recusei gentilmente dizendo que precisava ir para casa pois tinha muitas coisas da mudança para ajeitar.

Em partes, era realmente verdade que eu precisava ajeitar as coisas em meu quarto e ajudar meus pais a arrumar os móveis na sala e cozinha, entretanto, eu sabia que o verdadeiro fato de eu ter recusado era porque queria entrar no site logo, e, obviamente, contar para Normani e Megan tudo o que aconteceu em meu dia agitado na Stanford.

O caminho até em casa foi tranquilo e sem problemas com entrar em ruas erradas dessa vez. Mamãe pintava a parede da varanda da casa de azul bebê, a mesma cor que nossa casa em Nova Jersey tinha. Passei pelo caminho de pedras no jardim da frente e me escorei no corrimão da escada, esperando minha mãe notar finalmente a minha presença, coisa que não aconteceu.

— Se fosse um ladrão, a casa inteira já estaria revirada e você nem teria percebido. - Eu quebrei o silêncio repentinamente fazendo a mulher pular no lugar e derrubar o pincel no chão, me causando uma gargalhada alto.

— Olha o que você fez, Lauren! Você quer me matar do coração? - Minha mãe dizia dramaticamente quando colocou uma mão para pressionar seu peito. - Como foi na escola?

— Confuso e edificante, difícil de você entender. - Eu disse já entrando na casa recebendo um "Que bom, filha" no caminho.

Subi para o quarto e me joguei na cama após tirar meu tênis, fechando meus olhos por alguns segundos. Não demorou nem 20 segundos para eu os abrir novamente e procurar meu celular no bolso frontal da mochila. Sem perder tempo, abri o FaceTime e liguei em grupo para Normani e Megan que já deviam ter chegado da escola há umas duas horas devido ao fuso-horário. Depois de alguns toques, as duas atenderam uma em seguida da outra.

Fala aí, branquela, como vai aí em Palo Alto? Senti sua falta e da sua chatice de capitã no treino de hoje. - Megan disse com uma voz estranha e abafada. Sorri de maneira triste com a constatação de que hoje teria tido treino das Queens e eu não estava lá.

Megan, você atendeu a ligação de boca cheia? Oi, amiga, eu já ia te mandar mensagem perguntando como foi na aula e então você ligou. - Normani disse.

Eu não tenho culpa da Lauren ter ligado bem na hora do meu cereal da tarde. Diz aí, branquela, como foi lá na Stanford? - Megan perguntou ainda com a voz abafada pelo cereal que comia.

— Vocês não estão preparadas para ouvir o que aconteceu hoje, de verdade...

Eu comecei a contar tudo o que havia acontecido de manhã, sem faltar nenhum detalhe sequer. Contei tudo sobre a estrutura da escola, os níveis, o Olimpo e sobre as pessoas que fiz amizade. Minhas amigas estavam tão chocadas que nem sequer falavam, coisa que não acontecia frequentemente.

Eu sempre soube que aquela escola era estranha demais, sério, quem diabos ganha 3 nacionais seguidos?! - Megan disse depois que terminei meu monólogo de quase dez minutos.

Você tem um problemão para encarar, amiga, te desejo forças. - Normani falou com um falso pesar na voz, causando risadas em mim e em Megan.

— Uau, Normani, que conselho reconfortante. Muito obrigada, viu? - Respondi ainda rindo um pouco.

Falando sério agora, você tem que criar a conta naquele lugar lá e descobrir mais sobre eles. Já que você é novata, deve ser nível baixo ou algo assim. - Normani me lembrou da Hybris.

Vish, branquela, saiu de capitã, líder de torcida e popular em Nova Jersey para ser "Singular" e pobre em Palo Alto. - Megan disse rindo e colocando uma entonação chique ao falar o nome do nível.

— Vai se foder, Megan. Mani, obrigada por me lembrar do que fazer, vou abrir o site agora e mando notícias para vocês depois. Amo vocês. - Eu disse rapidamente.

Não fique beijando a tela do celular quando encontrar o perfil da tal garota lá e... - Não deixei Megan terminar a frase, pois apertei o botão vermelho que me tirava da chamada antes. Quem disse que eu iria beijar a tela do celular? Que coisa de maluco.

Abri minha mochila e retirei meu estojo de lá, encontrando facilmente o papel que Veronica havia me dado. O deixei ao meu lado no colchão enquanto pegava meu celular para abrir o site que constava ali. Digitei "hybris.com" rapidamente no navegador e esperei alguns instantes. Quando o site finalmente carregou, fiquei realmente surpresa com o layout da página inicial.

Era muito bem feito, o fundo era (obviamente) verde escuro e tinha um brasão enorme do lado direito da página. O mesmo brasão que tinha nas paredes do refeitório e no estandarte na entrada do edifício. Vários textos em letras douradas iam passando em sequência, contando a história da escola e suas preciosidades que eram referências nacionais.

Cliquei no botão que ficava do lado superior direito que dizia "Login" e então fui redirecionada para uma nova página que pedia meu número de matrícula e senha. Digitei rapidamente o número 672259-0 na matrícula e 270604 na senha, o que me redirecionou novamente.

Realmente parecia um Twitter misturado com Tumblr. Era assustadoramente satisfatório de ver.

Meu perfil ainda estava sem foto e capa, e também completamente zerado de seguidores e amigos, coisa que já era de se esperar. No canto inferior esquerdo, ao lado do número de conquistas que também estava zerado, aparecia a palavra "Singular" em preto, indicando o óbvio. Fiz uma nota mental para customizar o perfil após fazer minhas buscas.

Peguei o papel ao meu lado e pesquisei o primeiro nome que tinha ali: Dinah Jane Hansen. Ficou óbvio para mim que era o primeiro perfil que apareceu, já que ele brilhava com uma estrela do lado. A foto de perfil era de uma loira sorrindo com um boné escrito "Born in Florida" tampando metade de seu rosto, já sua capa eram dois Huskys sentados em um gramado. Sua biografia dizia: "Gosto de literatura clássica e séries da Nickelodeon. Fred e Duke, eu amo vocês. Aparentemente, sou co-capitã das CashCats e multicampeã de campeonatos pelo país, então acho que isso me dá alguns créditos. xx DH."

Nossa, quanta determinação de demonstrar poder com aqueles cachorrinhos lindos na capa. Muito metódico.

Relembrei a conversa com o pessoal da escola quando olhei as estatísticas do perfil: 5069 seguidores; 3457 amigos; 988 pedidos de amizade em aberto. Aquilo sim era algo impressionante, assim como o resto de seu perfil com conquistas no geral e fotos para lá e para cá. Assim como em meu perfil, havia um campo de texto ao lado das conquistas mostrando o nível em que ela estava. A palavra "Elite" brilhava em um tom de vermelho-vivo.

Imponente e bem descrito, eu diria.

Li o papel novamente e digitei o segundo nome da lista: Troye Sivan. Tal qual o perfil anterior, ficou nítido que era o primeiro resultado da pesquisa, já que o nome dele também brilhava e tinha uma estrela. A foto de perfil do garoto era em preto e branco composta por metade do rosto dele sorrindo e com o cabelo bagunçado; sua capa seguia o mesmo "tema" da foto e tinha um céu branco com galhos de árvore marrons escuros.

Esse tal de Troye parou em 2016? Meu Deus, sai da conta fake reserva, Lana Del Rey.

Em sua biografia estava escrito: "Vive le roi qui te sauve chaque jour. // Co-capitão das CashCats, um dos Originais da Stanford e extremamente rico." Eu ri levemente com a prepotência escancarada que aquele garoto tinha. Que graça, passamos da humildade para a soberba muito rapidamente, acredito que isso seja bem frequente nessa escola. Observei suas estatísticas e eram um tanto semelhantes às de Dinah. 5067 seguidores; 3269 amigos; 1015 pedidos de amizade em aberto.

Bons números, cabeça de vento ambulante.

Nem sequer perdi meu tempo vendo as fotos em seu perfil ou olhando suas conquistas. Não precisava ser muito inteligente para saber que ele também era da Elite. Logo segui para o próximo nome do papel: Camila Cabello. Eu não iria precisar repetir que era o primeiro perfil da pesquisa novamente, porém, dessa vez era diferente. O nome dela brilhava em um tom de verde água clarinho, e na direita haviam três estrelas.

Eu teria caído no chão se já não estivesse deitada na cama quando vi de quem se tratava pela foto de perfil.

Era ela, era a garota dos olhos em chamas.

A foto de perfil era ela de biquíni branco escorada em uma espécie de parapeito de madeira com o fundo contendo uma paisagem que lembrava o Hawaii; sua capa era completamente preta, com excessão do contorno das mãos da obra "A Criação de Adão" em branco, no meio exato da tela. Já sua biografia tinha o seguinte texto: "[I wanna dance by water 'neath the Mexican sky, are u with me?] - Capitã das CashCats e mais algumas coisas aí."

Confesso que tive que conter a vontade praticamente incontrolável de beijar a tela do celular enquanto eu via suas fotos e conquistas que pareciam infinitas, porém não iria dar o braço a torcer para Megan. Até que vi suas estatísticas e me senti paralisar por alguns instantes.

5358 seguidores (número total de matrículas registradas na escola); 3472 amigos; 1886 pedidos de amizade em aberto.

Ela era seguida pela porra da escola inteira.

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