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By allthsecuban

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A Stanford High-College é a instituição de ensino integrado entre escola e faculdade mais famosa de todo o Es... More

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By allthsecuban

A garota passava lentamente o batom vermelho escarlate em seus lábios. O vestido longo de cor azul caribenho realçava suas curvas, combinando perfeitamente com o salto alto da última coleção da Dior. Suas costas estavam expostas pelo corte transversal de seu vestido, mas seu cabelo longo cobria grande parte de qualquer visão desnuda que alguém poderia ter de si. Ela deixou um suspiro alto escapar por seus lábios enquanto olhava rapidamente as notificações em seu celular, logo dando uma última olhada no espelho que refletia a imagem de seu rosto perfeitamente maquiado.

Queria a todo custo sair dali, mas não podia, não agora.

Refez seu caminho até a porta do banheiro e saiu disfarçadamente, deixando para trás a tampa dourada do batom que a pouco tempo antes usara. Milimetricamente posicionado sobre a pia de mármore rústico.

Perto dali, a porta do ginásio ainda se encontrava entreaberta; os tapetes de treino faziam um retângulo perfeito no chão dando suporte para os atletas que, por ora, não estavam ali. Do lado de fora, a pintura recém-feita exalava um cheiro forte de tinta para quem passasse por perto. Do lado de dentro, uma única pessoa tentava a todo custo sair sem ser vista.

O estrondo da porta de ferro sendo aberta foi o que a assustou, fazendo-a largar o pacote que havia encontrado na arquibancada.

Para quem passasse por perto, do lado de fora, depois da porta ser fechada, só conseguia ouvir a música alta saindo pelos alto-falantes do ginásio. Do lado de dentro, os gritos incessantes eram a maior atrocidade já vista na cidade.

Lauren Jauregui POV

Descobrir que a sua vida vai mudar da água para o vinho na manhã seguinte do seu aniversário de dezoito anos não era a melhor coisa do mundo, realmente, mas a vida geralmente prega peças nas melhores pessoas, não é? Vou acreditar que sim. Me senti a pior pessoa do mundo quando ouvi a palavra "transferência" e me senti ainda pior com a frase "daqui a três dias".

Ah, qual é?! Logo quando consegui a vaga de capitã dada exclusivamente pela - com todo o respeito, Srt. Carter - insuportável treinadora da minha escola?

Uau, excelente. Papai e mamãe, amo vocês.

Tentava a todo custo parar de pensar de forma negativa e raivosa enquanto encaixotava algumas peças de roupa e miniaturas de personagens fictícios. Qual o problema com Princeton? Minhas notas são boas, o ensino é de um nível elevado, os alunos são sociáveis e bem avaliados no mercado financeiro mesmo tendo pouca idade (o que eu ainda acho esquisito), e além disso, Nova Jersey é um sonho a ser consumido com suas excentricidades únicas e alto padrão. Então, por que a Califórnia?

— Seus pais já estão certos da sua matrícula? - Normani falava do outro lado da tela do meu notebook enquanto lixava incansavelmente suas unhas enormes.

— É, acredito que sim, disseram que viajamos para Palo Alto daqui a três dias. Consegue acreditar que simplesmente, obviamente sem a minha opinião, eles retiraram meu histórico da escola? - Eu continuava encaixotando mais e mais coisas do meu quarto, dessa vez estava focada em retirar as fitas de LED nos cantos das paredes.

— Acho que eles têm autorização por lei para retirar ou algo assim, não entendo muito disso. Ficou sabendo que o Dylan beijou a Sarah depois da apresentação do jogo de quinta? A escola inteira está comentando o quão corna a Ashley é, já que, nas minhas contas, esse é o 12º chifre... só esse mês! - Minha amiga falava com o tom de voz mais engraçado possível quando, colocando algumas partes da fita dentro da caixa, me virei brevemente e consegui visualizar sua expressão de falso choque estampada em seu rosto.

— A Ashley Moore só não ganha o posto de mais traída porque temos o ilustre Billy Elmons fazendo o mundo duvidar da quantidade de chifres que a namorada dele o faz ter. - Comecei a tirar as roupas dos cabides do guarda-roupa dessa vez, dando de cara com o conjunto de saia e cropped branco e vermelho que eu utilizava como uniforme.

— Cara, sim! Fala sério, O Billy deve realmente saber sobre as traições, nenhuma pessoa normal tem tantos amigos e nenhum deles vê os beijos inquietantes da Maddie nas festas.

Demorei um pouco para associar o que Normani havia comentado momentos atrás. Minha total atenção estava no conjunto, agora em minhas mãos, com as iniciais "PHS" em vermelho-vivo. Senti a vontade devastadora de chorar vindo juntamente da enxurrada de lembranças que voavam em minha cabeça.

"Entrei no pátio enorme da escola onde meu grupo de amigos se encontrava para comer no almoço. A mesa já estava composta da maioria deles, faltando apenas Megan e Jess. Me aproximei da mesa vermelha de formato redondo ouvindo as risadas altas e as conversas incessantes dos meus amigos. Quando me sentei com a bandeja contendo o almoço do dia, ouvi a conversa animada de Normani e Stacy sobre a nova coreografia da equipe para o jogo contra os Tigers. Do outro lado da mesa, Taylor, Bruce e Bryan discutiam sobre a campanha vitoriosa que os Kings - o time de futebol da escola - faziam.

Abri o suco na bandeja dando uma leve bebericada, sentindo o sabor cítrico da laranja me preencher agradavelmente por dentro. O sol estava radiante, com quase nenhuma nuvem no céu. O dia perfeito. As mesas ao nosso redor estavam igualmente cheias, cada uma com seu respectivo grupo de amigos.

— Ficou sabendo dos novos passos para a coreografia de sexta, Lauren? A Srt. Carter simplesmente quer a maior sequência de mortais para trás já vista na escola. Dá pra imaginar? - Stacy gesticulava freneticamente enquanto falava expondo sua clara animação com a apresentação.

— E também tem a coroação da nova capitã no sábado. - Normani apontou, dando uma mordida no sanduíche de frango com queijo. - A semana vai ser cheia e a demanda de treinos vai aumentar.

— Estou dando o máximo de mim para não pensar em quem será coroada no sábado, mas sei que a treinadora vai pegar pesado nessa semana. O nacional é daqui a três meses, não podemos perder o foco. - Respondi depois de dar outra bebericada no suco.

Os três garotos que antes discutiam sobre futebol agora prestavam atenção em nossa conversa, discutindo de forma cômica quem seria a próxima base da pirâmide nas apresentações. No último treino, Taylor teve um 'probleminha' com o tornozelo quando Esther escorregou no segundo nível da pirâmide.

Eu estava terminando meu prato de macarrão quando braços rodearam meu pescoço inesperadamente.

— Mas que porra? - Virei a cabeça para trás com o susto na intenção de ver quem foi o idiota que tinha me assustado, mas logo revirei os olhos quando dei de cara com o sorriso aberto de Megan.

— Vocês não têm ideia do que eu acabei de ouvir quando passei pela porta da sala da diretora Williams.

— Se for responder o motivo pelo qual você tentou um homicídio contra mim, ficarei grata em ouvir. - Resmunguei enquanto retirava os braços da morena do meu pescoço e dava a última garfada em meu macarrão.

— Relaxa aí, estressadinha. Sabe quem vai ser a nova capitã das Queens? Exatamente, a branquela dos olhos verdes aí."

Deixei o choro sair enquanto era bombardeada com a lembrança. Animar era minha paixão, aquela equipe era minha paixão. Sair daquilo era acabar com quem sou; tirar minha essência e me deixar sem minha zona de conforto. Era assustador.

Me virei com o uniforme ainda em mãos, limpando as lágrimas com o antebraço e me sentando na cadeira à frente do notebook. Normani agora me olhava com uma expressão de compaixão e dor no rosto.

— Amiga, eu sei o quão difícil vai ser essa mudança para você. - Ela iniciou com cautela, a voz tomando um tom ameno e lento. Normani era a única que conseguia chegar perto de imaginar o que eu sentia. Seu posto de "Melhor amiga do mundo todo até a Terra explodir em 3896", que eu tive a brilhante ideia de dar a ela no segundo ano do fundamental, dava a ela o poder de me conhecer por dentro. - Porém, você ainda pode animar em Stanford. Quando você me disse que iria para lá, a primeira coisa que me veio à cabeça foi "Que vagabunda, ela vai para a instituição que ganhou o nacional da gente nos últimos 3 anos seguidos?", mas é exatamente isso que você pode ter, Lauren. Você é uma animadora incrível, pode conseguir um teste e se tornar parte da maior equipe de torcida do país. Sei o quanto significa isso para você, e vou sentir muito, muito, muito a sua falta; mas no final, eu quero muito que você seja feliz, mesmo tendo que vencer você e seu bando de "gatinhas mimadas" no nacional daqui dois meses e oito dias.

Deixei o choro me levar mais uma vez com as palavras de minha melhor amiga, e, mesmo estando a vendo apenas pela tela do notebook, conseguia ver seus olhos brilhando com lágrimas também. Ela estava se despedindo de mim, já havia aceitado a minha partida, mesmo que nem eu houvesse.

Eu desejava estar rindo nesse momento. Sabe como é, cômico para não parecer trágico.

— Você acha isso mesmo? - Perguntei ainda emocionada com a situação.

— Claro que sim! Você é brilhante, amiga. - Mani sorriu de um jeito amoroso, mudando brevemente sua expressão para entediada quando se aproximou vagamente de seu celular, provavelmente lendo alguma coisa. - Preciso desligar. Minha mãe quer que eu leve minha irmã até a aula de ballet hoje, algum problema com o carro na oficina em Trenton ou algo assim, não sei distinguir a definição dos emojis que ela mandou depois de "Leve Ashlee ao ballet. Carro oficina quebrou. Trenton".

— É, nós sabemos que sua mãe não sabe usar o teclado do celular, Mani. Vou terminar de encaixotar as coisas e descer para comer. - Eu brincava com a barra do cropped de uniforme agora, claramente demonstrando minha ansiedade. - Falo com você depois, eu te amo.

— Te aviso quando eu chegar, amo você.

E então, ela desligou a chamada de vídeo. Suspirei fundo me deixando relaxar um pouco na cadeira confortável. Aquela conversa havia me tirado de órbita, principalmente ver o tom de voz de Normani, que geralmente é irônico e brincalhão, se transformar em ameno e doloroso.

Eu odiava despedidas.

✯♕

Não fiz muita coisa nos dois dias seguintes além de encaixotar e guardar; encaixotar e prender com fita adesiva; encaixotar e chorar. Guardar os troféus de "Campeãs do campeonato regional" e "Melhor líder de torcida em dança" foi o que mais me doeu. Pensei e repensei na conversa de Normani dois dias atrás sobre tentar entrar na equipe de torcida da Stanford, as temidas CashCats.

Sério, essas garotas eram um pé no saco nos campeonatos! Ganharam 3 nacionais seguidos com média 9.4 dos juízes em, pasmem, todas as apresentações! Quem consegue uma média tão alta em tudo o que faz? Não dá para entender. Eram a perfeição, só isso explicava a quantidade de troféus que a instituição deve ter em seu currículo.

Me lembro de sempre sair do ginásio quando elas iam se apresentar, ou, quando tinha uma faísca de sentimento que poderíamos ganhar dessa vez, ficava assistindo a apresentação nas últimas cadeiras da plateia, distante o suficiente para não ter que lidar com a raiva que se apossaria do meu corpo quando visse os rostos das garotas que tiravam de mim e da minha equipe a chance de ganhar um nacional, sempre ficando triste e ciente de que, sim, iríamos perder de novo para as insuportáveis, riquinhas e mimadas da Stanford.

A Stanford era uma instituição do mais alto padrão do Estados Unidos, conhecida mundialmente pelos alunos formados nos maiores níveis de ensino e emprego no país. Fala sério! Quem em sã consciência abriria uma instituição de ensino em que metade do campus era para o ensino médio e básico, e na outra metade era para uma das universidades mais renomadas do país?! Dali só saiam médicos, engenheiros, advogados e tudo do bom e do melhor.

Todavia, era extremamente cara, e foi exatamente esse o motivo do meu primeiro espanto com a notícia de mudança repentina dos meus pais. O segundo espanto foi obviamente a distância que a Califórnia ficava: literalmente do outro lado do país.

O plano era pegar um voo até Kansas e esperar o próximo voo até São Francisco. Além disso, pegaríamos um carro até Palo Alto onde finalmente iríamos nos instalar. Tudo isso iria ficar caro, obviamente, por mais que eu nunca tivesse tido problemas com dinheiro na minha vida, mas Stanford? Aquilo ali era para um tipo específico de gente, chegava a ser assustador. Não me surpreenderia se eu encontrasse alguém da realeza naquele lugar, mas acabei sorrindo de lado com o pensamento de eu e alguma garota egocêntrica rolando nos gramados do campus enquanto tentávamos nos matar.

Simplesmente hilário na minha cabeça, mesmo sabendo que nenhuma delas faria aquilo já que provavelmente amassaria o uniforme delas ou algo assim.

Chaaaatas, fodidamente chatas.

Me dirigi até a cozinha após ficar cansada o suficiente de encaixotar e guardar, pegando uma maçã na geladeira e dando uma mordida com vontade. O relógio em formato de abelha que ganhei aos 9 anos de idade, o qual ficava na parede oposta à geladeira, marcava 11:37 p.m, o que significava que papai provavelmente estaria no caminho de volta do trabalho.

Fiz o retorno e, quando me preparei para subir a escada que levava aos quartos, senti um vento bater em mim me fazendo arrepiar com a brisa leve. Caminhei até a porta que dava acesso à varanda e vi que estava entreaberta; a luz do lado de fora ainda estava acesa - mania que minha mãe desenvolveu para mostrar que ela esperava o papai voltar do trabalho todas as noites -.

Passei pela porta entreaberta e me sentei na cadeira de madeira pintada de branco que continha ali. Me deixei soltar um longo suspiro olhando a linda vista que eu tinha do jardim da frente. A grande árvore do lado esquerdo da cerca de ferro ainda tinha consigo a pequena casa de madeira que papai e eu construímos quando completei 7 anos. Naquela época, ser escoteira era o que eu mais desejava, e ter uma casa na árvore era uma forma, em minha cabeça, de me aproximar com a natureza.

Sorri com a lembrança dando outra grande mordida na maçã em minhas mãos. Queria ter tido mais tempo naquela pequena casa, não iria vê-la de novo nem tão cedo.

Muito provavelmente nunca mais.

Comecei a relembrar das memórias que faziam daquela casa ser meu lar; do porquê eu amava respirar o ar puro de Princeton; das brincadeiras que eu e mamãe fazíamos quando a ajudava plantar no jardim da frente. Tudo ali me remetia a conforto. Porém, da mesma forma repentina que as lembranças apareceram, foram embora.

Forcei minha cabeça a tentar entender a mudança brusca de meus pais e o porquê de terem escolhido simplesmente Stanford. Lembro-me de mamãe ter falado sobre algo como bolsa de estudos de 50% ou algo assim, mas a forte mágoa de receber a notícia enevoava, naquele momento, qualquer pensamento que explicava o porquê de eu estar indo para lá.

Eu estava chateada, completamente chateada. Queria xingar até o vento se fosse possível, mas sabia que de nada adiantaria fazer isso.

O barulho familiar do motor do carro de papai me trouxe de volta à realidade. Ouvi o portão da garagem subir lentamente até abrir, dando passagem para o carro estacionar e sumir da minha visão. Mesmo morando aqui desde os 4 anos, eu nunca soube como meus pais conseguiam estacionar um Mitsubishi Lancer dentro daquela garagem que, na minha opinião, era minúscula.

Acompanhei com o olhar o caminho que papai percorria até onde eu estava. A gravata afrouxada em seu pescoço, as mangas levantadas até o cotovelo devido ao calor do verão em Nova Jersey, o rosto carregando em si a expressão de exaustão. Todavia, quando me viu, vi seus olhos se iluminarem brevemente enquanto abria um sorriso quase imperceptível.

— O que faz acordada a essa hora, querida? - Ele disse enquanto se sentava na cadeira ao meu lado, deixando sua maleta no chão ao lado da mesinha que separava nós dois.

— Estava terminando de tirar meus pôsteres das paredes e guardá-los, mas senti fome e vim até aqui. - Eu disse tirando os olhos dele e voltando a encarar a árvore a poucos metros de mim.

O céu acima de nós estava repleto de estrelas, deixando um espaço para a lua crescente que brilhava numa intensidade que somente ela era capaz de brilhar. Uma noite linda, provavelmente para abafar o dia terrível que eu teria que aguentar quando acordasse.

— Sei o quão chateada e possivelmente irritada está conosco, querida. - Ele começou de uma forma calma, tomando cuidado com as palavras que usava. - Sei o quanto essa equipe e essa escola significam para você, mas tente nos entender. É uma oportunidade incrível para nós, até mesmo para você. A nova sede da empresa ficará a dois quarteirões de onde moraremos e a sua nova escola é uma das mais concorridas do país. Stanford é um sonho a ser conquistado, e você poderá fazer novos amigos lá...

Eu não o olhava, mas pela visão periférica conseguia ver o meio sorriso hesitante com minha possível resposta. Meu lado racional sabia que ele estava apenas tentando ter uma condição de vida melhor e me dar um futuro que talvez a Princeton não me ofereceria, porém, meu lado emocional sofria com a perda dos meus amigos e de toda a vida social que eu escalei muito para conseguir manter. Eu estava dividida, mesmo sabendo que também era inútil essa divisão.

— Eu entendo suas circunstâncias, pai, só não gosto delas. Sei que a Stanford é uma chance de ouro, mas eu ainda tenho a Princeton no meu coração. - Praguejei mentalmente com o fato da maçã ter acabado, pois era exatamente ela que eu usaria de distração para não chorar na frente do papai. - Deixarei minha vida para trás, você entende? Só conseguirei falar com os meus amigos pela internet e sabe-se lá como são os alunos daquela escola. Eu tenho medo de perder tudo, e por fim, também me perder naquele lugar.

Por um lado, era bom estar conseguindo dizer o que eu realmente sentia sobre a mudança que iríamos fazer na manhã seguinte, e, de algum jeito, um certo alívio me abraçou naquele momento. Voltei o olhar para o homem sentado ao meu lado e vi a expressão de pena em seu rosto. Eu sabia que ele se sentia mal por mim e pelo sacrifício que eu estava fazendo por eles. Mamãe também havia tentado conversar comigo na noite anterior, mas suas tentativas foram por água a baixo quando encontrou a porta do meu quarto trancada.

— Eu vou fazer de tudo para que se sinta em casa o mais rápido possível lá, ok? Você sabe que pode contar comigo para qualquer coisa, da mais fácil até a impossível. Quero vê-la feliz, meu amor. - Seus olhos se abaixaram brevemente para seus dedos que batucavam de leve no descanso de braço.

Tive que novamente tirar os olhos dele, o peso da culpa por estar chateada com eles veio como um soco no estômago. Mantive meu olhar na árvore grande do quintal, suas folhas bem verdes estavam escuras pela falta de luminosidade. Eu odiava ter que dividir aquele momento com ele, ele sabia que eu estava mal.

— Lembro-me de quando construímos aquela casa. Você estava tão animada com a ideia de poder dormir longe de nós, falava e falava sobre o acampamento de escoteiros e o que queria aprender lá. - Ele começou, dando uma pausa entre uma fala ou outra para tossir. Pela visão periférica consegui ver que ele observava a árvore junto a mim. - Eu sentia que poderia te dar o mundo se quisesse, mas naquele momento você iria preferir a casa na árvore. Engraçado, não? - Ele riu brevemente.

— Significava muito para mim aquela casa. - Eu dei um meio sorriso nostálgico lembrando de mais alguns momentos naquele pequeno lugar.

— Sei disso, e me culpo todas as noites por não ter dormido lá com você quando me pedia. Não quero ter que errar duas vezes com você, Lauren, não quero te perder. - Sua voz embargou completamente, eu sentia que ele poderia chorar a qualquer momento, mas também sabia que não iria. Não na minha frente. - Espero te ajudar a lidar com a nova vida que desejar ter a partir de amanhã, e se ainda quiser ser escoteira, irei te apoiar incondicionalmente.

Avaliei por alguns segundos minhas opções. Em primeira vista, fugir para as montanhas escocesas com o Jeep da mamãe era o Plano A, mas obviamente seria um fracasso. O Plano B consistia em fingir um sequestro na saída da Small World Coffee e me refugiar na casa de Normani, mas claramente me encontrariam na semana seguinte. Finalmente, o Plano C era congruente a situação em que eu me encontrava, e também era simplório: Eu aceitava minha realidade, concedia aos meus pais uma tentativa de adaptação e pegaria um voo exaustivo na manhã seguinte.

Infelizmente, eu me contentaria com o Plano C, por ora.

— Vou tentar me adaptar, pai, eu prometo. - Eu disse me levantando da cadeira. - Vou tentar dormir um pouco, ok? Vê se faz o mesmo, temos muito o que fazer amanhã.

— É muito bom ouvir isso, filha, e obrigada por ser tão compreensiva. Descanse um pouco, amanhã será cheio. - Ele disse também se levantando e me dando um abraço apertado, seguido de um beijo na testa, pegando sua maleta e entrando pela porta de vidro que dava acesso a cozinha.

Respirei um pouco mais do ar livre do lado de fora, observando as estrelas e escutando os grilos gritando ao longe. Me preparei mentalmente para a longa viagem que iria encarar no dia seguinte e no quanto aquilo mudaria minha vida e, pela primeira vez no dia, pensei o mais positivo possível sobre a cidade californiana que me aguardava no dia seguinte.

Tinha mesmo que ser em Palo Alto? Eu gosto tanto da estética de São Francisco.

✯♕

A viagem até Topeka foi um tanto quanto tranquila, mesmo que o voo tenha atrasado exatas uma hora e treze minutos, muito diferente do voo de Topeka até São Francisco. Primeiramente: não vão para a Califórnia no meio do ano, o calor é infernal. Meu cérebro começou a falhar enquanto eu tentava pensar e não consegui entender a forma como eu estava sentindo calor dentro de um avião com ar condicionado no 15. Porra, eu sentia que o meu corpo iria derreter quando fomos avisados que estávamos sobrevoando finalmente o tão requisitado "Estado Dourado".

Belo estado, hm? Pronto para matar alguém com aquela sensação térmica do fundo do inferno. Uau, que beleza!

A sensação de desconforto climático aumentou quando pousamos em São Francisco e esperamos o carro que nos levaria até Palo Alto. Não demorou muito até uma Mercedes Benz na cor preta parar bem em frente ao aeroporto. Eu estava tão cansada que sentia que iria desmaiar de calor, sono, tédio e qualquer coisa que matasse rápido. Acabei descobrindo que o homem que nos levaria até Palo Alto se chamava John e, pela conversa animada que ele meu pai mantinham, acredito que são amigos há bons anos.

Por mais que eu amasse o papai, a última coisa que eu queria naquele momento era escutar uma conversa sobre algum time de basquete que eles gostavam muito. A única coisa que eu gostaria de fazer era deitar em uma Queen Size, comer Cheetos sabor queijo e tomar uma Coca-Cola gelada. Ao invés disso, eu teria que aguentar mais 30 minutos de uma viagem que já durava mais de 17 horas.

Meu Deus, eu preferia continuar perdendo mais 30 nacionais para aquela equipe ridícula do que isso.

Eu estava cochilando com a cabeça grudada no vidro quando senti o carro parar em algum lugar. Quando abri os olhos, não acreditei que finalmente tínhamos chegado. Abri a porta do carro com rapidez para esticar minha coluna e pernas, sentindo tudo latejar de dor. Se tivesse uma apresentação para acontecer agora, eu pediria arrego pela primeira vez na vida. A Srt. Carter com certeza estaria decepcionada, mas que culpa eu tenho? Bancos de carro são desconfortáveis.

Demorei a notar a casa em que paramos, mas quando notei, franzi o cenho para a frente da mesma. Estávamos em uma espécie de condomínio com várias árvores espalhadas pela rua. Parecia... vivo demais. Me lembrava o ar de Nova Jersey de alguma forma, o que era estranho, já que Palo Alto é bem mais urbanizado do que "vivo".

A frente da casa era bonita, típica casa americana com varanda e gramado na frente. Me remetia vagamente a casa onde morávamos, porém, era definitivamente maior. As paredes eram de um tom vinho escuro e as batentes das janelas, portas e o telhado era branco. O gramado era bem cuidado e tinha uma cerca baixa de madeira circundando a frente da casa, juntamente de uma pequena bandeira do Estados Unidos fincada na grama perto da calçada.

Aparentemente todas as casas daqui devem ter isso, e meu Deus, para que tanto patriotismo? Estávamos dentro de algum filme de propaganda do governo Trump? Eca, definitivamente eca.

Mas o que realmente me chamou atenção foi o balanço amarrado com corda no galho da árvore que tinha ali, provavelmente do filho ou filha do casal que morava aqui anteriormente. Sair de uma casa na árvore para um balanço? Que avanço gigantesco na minha vida, não?

Que desgraça total.

Fiquei olhando a entrada da casa por mais algum tempo escutando meus pais e John carregarem as caixas com mantimentos necessários que couberam no carro. Só percebi a quantidade de tempo que fiquei analisando a entrada da casa igual uma louca psicopata quando mamãe se encostou no meu ombro dando um longo e chamativo suspiro.

— Gostou do visual? - Ela disse colocando as duas mãos na cintura e encarando a casa assim como eu.

— É, é bonita. Acho que deve ser diferente do resto da cidade. Você sabe, mansões de reis e rainhas e políticos corruptos. - Eu retruquei fazendo mamãe soltar um riso nasal e balançar negativamente a cabeça.

— Não se preocupe, já já esse lugar vai ser seu preferido. Iremos fazer dessa casa nosso lar, assim como fizemos em Nova Jersey. - Ela disse pegando uma das caixas com uma identificação escrito "Cozinha e banheiro" na parte superior e seguiu o caminho que papai e John fizeram até a porta principal.

— É, claro. - Falei sozinha enquanto revirava os olhos com tédio e a seguia.

Tentei novamente pensar de forma positiva por um momento e analisei minhas opções: não havia nenhuma. Ótimo, que merda de cérebro que não funciona. Calor infernal, eu te odeio. Eu começaria na Stanford na manhã seguinte, então, já que nem pensar eu conseguia, a única opção viável no momento era tomar um banho e dormir, mesmo sendo seis da tarde.

Eu queria dormir até entrar em coma e acordar trinta anos depois dizendo "Oh meu Deus, eu dormi até entrar em coma por 30 anos?!".

Quando deitei em minha nova cama (que por sinal realmente era uma Queen Size), em meu novo quarto que parecia branco demais para o meu gosto, dediquei meus últimos momentos acordada para mentalizar o que aquele lugar que me aguardava na manhã seguinte tinha de tão especial.

Stanford não poderia ser tão ruim assim, poderia?

✯♕

Na manhã seguinte, acordei levemente atrasada com o som alto e igualmente chato do alarme do meu celular, que por sinal já havia tocado quatro vezes anteriormente. Se acordar foi difícil, escolher uma roupa estava ainda pior. Eu não conseguia escolher entre a calça jeans skinny com alguns rasgos no joelho e a calça cargo de cor verde-musgo; muito menos entre o cropped cinza e a regata preta de alça fina. Nenhuma roupa parecia adequada para aquele lugar, e isso definitivamente estava me tirando do sério.

Por fim, acabei escolhendo o jeans com regata. Fiz meu caminho até a cozinha dando um "bom dia, papis" de forma rápida para o homem que lia algo em seu celular na mesa da cozinha. Não consegui distinguir se ele havia respondido com "bom dia" ou com "carne bovina", mas preferi ficar com a primeira opção. Nem sequer tive tempo de comer algo pois, de acordo com meu pai, eu estava 20 minutos atrasada, e por esse motivo ele praticamente me expulsou de casa após me entregar o endereço da Stanford para colocar no Google Maps e chegar naquele lugar de uma vez por todas.

Demorei cerca de 15 minutos andando e cruzando algumas ruas erradas até que cheguei. Meu queixo caiu instantaneamente com a visão ampla da instituição tão de perto.

O campus era enorme e se dividia entre dois grandes edifícios que se estendiam por alguns metros de largura, ambos em um tom de marfim, típica cor de pedra que você veria em uma construção grega ou algo assim. Uma fachada enorme na parte superior da entrada de ambos edifícios dizia "High", do lado esquerdo do campus, e a outra "College", do lado contrário, obviamente apontando qual parte da instituição era para determinada área de ensino. Do lado da fachada, ainda na parte superior, se estendia até metade da altura do edifício do lado esquerdo uma espécie de pano verde escuro com a frase "GO CASHCATS OR GO HOME" em letras douradas. No edifício da direita, outro pano verde se estendia até a metade da altura, porém dessa vez com a frase "LIKE A KING OF FOREST", também em dourado.

Uma enorme fonte de pedra, com uma réplica exata da escultura do "Le Penseur", estava localizada na frente da escada que dava acesso a escola, dando um charme ao que geralmente chamaríamos de "rotatória". Fincada na grama, em frente a calçada que dava acesso a rua da qual eu vim, haviam duas grandes bandeiras: uma do Estados Unidos e outra verde escuro com um leão dentro de um brasão dourado que provavelmente era da instituição.

Tudo ali era ostensivo; tudo ali cheirava a dinheiro e poder.

Comecei a fazer meu caminho analisando os alunos que se instalavam naquele local. Alguns sentados na grama conversando, outros apressados para a aula, outros mais ao longe encostados nas grandes colunas de pedra que se ascendiam até o acabamento do que deveria ser o teto dos edifícios. A única coisa que eu sabia era que estava cheio, bastante cheio. Caminhei lentamente no caminho de pedras que separava um gramado do outro e ganhei alguns olhares curiosos enquanto passava.

"Está olhando o que? Eu estou cafona ou algo assim?" Meu subconsciente gritou em ironia.

Chegando mais perto da construção, percebi tardiamente algo que chegou a me chocar por alguns instantes. Descobri o porquê parecia tão familiar o edifício à minha frente.

Eram completamente inspirados no Templo da Deusa Athena, na Grécia. Eram como dois Parthenon bem à minha frente.

Depois de andar completamente perplexa por um minuto ou dois (que mais pareceram horas), cheguei até a entrada da High, me apressando ao subir as escadas que iam em direção a grande porta de madeira. Ouvi alguns cochichos animados sobre um tal de "Topázio" vinda de um grupo de garotas encostadas na parede ao lado da porta principal, anotando mentalmente a necessidade de descobrir que porra era Topázio.

Adentrei facilmente o lugar e, assim como o lado de fora, o lado de dentro era igualmente (ou até superior) chique. Uma escada que se dividia em duas até o segundo andar, da mesma pedra das paredes, estava um pouco ao longe, dando espaço para um pátio de tamanho médio na entrada. Vários alunos andavam para lá e para cá nas diversas entradas que o lugar tinha. Eu ponderei as direções em que poderia seguir: à esquerda para um corredor, à direita para um corredor, ao meio da escada ou as duas direções em que a escada se seguia.

Claramente não importava para onde eu iria, eu iria parar no lugar errado. Nas minhas contas, agora já se somava 4 x 0 para a Stanford. Que beleza.

O susto que levei quando uma mão pousou em meu braço, depois do passo que eu enfim havia tomado coragem de dar com a escolha do lado esquerdo para o corredor, me fez virar rapidamente para trás. Uma garota loira de estatura mediana e sorriso brincalhão me encarava com as sobrancelhas levemente franzidas.

— Está perdida? - Ela disse tirando a mão de mim e puxando a alça da mochila vermelha que carregava consigo.

— Ahm...é, quase isso.

— Você é nova aqui?

Não, claro que não, eu estou sempre aqui nesse lugar insuportável, de clima insuportável, com pessoas insuportáveis o tempo todo, por isso estou perdida. Que porra de pergunta é essa?

— Sou sim, preciso de ajuda para achar... - Dei uma pequena pausa para olhar o papel dos horários que trazia em meu bolso. - ...a aula de geografia espacial?!

Franzi o cenho totalmente confusa. Que merda era geografia espacial? Eu não quero ser astronauta.

— Ah sim, é na sala do Sr. Jackson, estou indo para o mesmo caminho que o seu, minha sala fica ao lado. Eu te acompanho até lá. - Ela disse dando um sorriso gentil e tomando a iniciativa de andar primeiro que eu, fazendo com que eu a seguisse.

Por incrível que pareça, o lado esquerdo para o corredor estava realmente correto, e seguimos por ele andando calmamente, o que me fez marcar um ponto mentalmente. Estava 4 x 1 agora, Stanford, eu já te alcanço.

— Então, qual seu nome? - Ela me perguntou de repente.

— Lauren, e o seu?

— Heather, mas a maioria me chama de Heat. - Ela fez uma pausa antes de continuar, saindo do corredor que descobri ser dos armários. - Ainda não fez amigos aqui?

— Não, é o meu primeiro dia e você é literalmente a única pessoa que falou comigo ainda.

— Você fala como se não conhecesse o jeito que funciona aqui. - Ela riu brevemente enquanto virava a esquerda em um novo corredor, dessa vez com portas em sua maioria.

Eu novamente franzi o cenho com confusão estampada em meu rosto. Como assim "o jeito que funciona aqui"? Essa garota é maluca ou o que? Como eu iria saber como funciona aqui sendo que eu acabei de chegar, caralho? Chega a ser impossível uma coisa dessas.

— Hm, eu sou nova aqui, então não faço ideia de como funcionam as coisas. - Eu disse dando de ombros.

Heather parou de andar de forma repentina e se colocou à minha frente, me encarando com uma expressão de dívida gigantesca.

— Não sabe como funciona realmente? Nunca viu Os 6 níveis de Stanford? - Ela dizia com um choque na voz que eu não sabia identificar se era brincadeira ou não. Que diabos eram 6 níveis?

— Ahm... não? Realmente não faço nem ideia. - Eu disse ainda encarando a loira.

Da mesma forma repentina que a expressão de choque e descrença se instalou em seu rosto, foi embora para dar espaço ao sorriso travesso que se alargava de canto a canto. Por algum motivo, eu sentia que o que ela queria que eu soubesse era algo tão importante quanto a Stanford em si, o que me fazia ficar incomodada. Ela voltou a andar depois de soltar um riso nasal, parando poucos passos depois na frente de uma porta de madeira.

— Essa é a sua sala, o Sr. Jackson só dá aula aqui, então já conhece sua sala de geografia espacial. - Ela apontou para a porta a poucos passos de mim. - Você parece uma pessoa legal, Lauren, eu adoraria conversar mais com você no almoço e te explicar mais coisas. - O sorriso travesso voltou ao seu rosto com sua fala, o que me fez sorrir também.

— Claro, eu adoraria. Mas o que você estava dizendo sobre níveis ou algo assim? - Perguntei quando coloquei a mão na maçaneta prestes a girá-la.

— Vamos ver se você sobrevive até o almoço primeiro. - Ela respondeu piscando um dos olhos e entrando na sala ao lado, sem mais nem menos.

Demorei alguns segundos para girar a maçaneta da porta da sala de geografia espacial enquanto refazia em minha mente o que tinha acabado de acontecer.

Ah, que ótimo, agora nem até o almoço eu consigo chegar. 5 x 1 para você, Stanford, parabéns.

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