Aviões de Papel |•HyunChangLix

By Tha_yoon

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Completa |•|HyunChangLix|•|+18 O que acontece quando um grupo de jovens se torna uma ameaça improvável a um... More

Avisos
🛫 Prólogo 🛬
Capítulo 1 - Meus amigos sujos ✈
✈ Capitulo 2 - As mentiras que os contei
Capitulo 3 - Do que eles sabiam✈
✈ Capítulo 4 - O que conheciam
Capítulo 5 - De todas as coisas que eu já ouvi ✈
✈ Capítulo 6 - O silêncio doeu mais
Capítulo 7 - Quando decidimos falar ✈
✈ Capítulo 8 - O que urgiu, foram raios
Capítulo 9 - Porque somos tempestade ✈
✈ Capítulo 10 - Somos baderna
Capítulo 12 - É a melhor forma de cair

Capítulo 11 - Somos Aviões de Papel ✈

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By Tha_yoon

ATENÇÃO:

Personagens, ações, profissões e eventos nessa fic são FICTÍCIAS e criadas apenas para entretenimento. Não tendo intenção de estimular ou promover qualquer comportamento narrado.

AVISO

Esse capítulo pode conter assuntos sensíveis como menção ao suicídio. Se você é sensível ao assunto, peço que interrompa a leitura. 

Esse capítulo também contém a semente da discórdia e informalidade, precisamos de mais pessoas para se juntar à organização então sinta-se bem vindo. 

Não era como se não sentisse minhas pernas vacilarem a cada cinco segundos. Eu sabia que seria seguido. Com as ruas vazias e as atenções sobre nós, com certeza um pontinho em movimento no meio da madrugada chamaria olhares atentos, e seguindo a linha qualquer um que estivesse os procurando se daria por um grande sortudo ao me encontrar.


Claro, isso não me preocupava porque a adrenalina berrava mais alto do que meu medo. Me guiava mais firmemente do que a apreensão que tomava minhas pernas bambas. Eu estava inclinado a acabar com a raça de qualquer ser vivo que se enfiasse em meu caminho - e isso incluía mesmo Taehyun, Minho hyung ou Changbin, como também incluía Hyunjin. Estava no meu ápice, não enxergava um palmo à minha frente mesmo com os olhos bem abertos, queria que meus passos afundassem o chão sob meus pés e não entendi o porquê naquele momento. Só queria que soubessem de algo, que meus passos frágeis fossem firmes e explosivos o suficiente para lançar um aviso a Baran - queria que soubesse que eu estava chegando.

Não existe sensação mais sublime do que a que se arrasta da experiência do ódio cego. 

O mundo continua brilhando à sua frente, o chão ainda é esmagado sob seus passos, mas é tudo turvo e inconstante demais para se ter como realidade. É como ser embalado pelo torpor da metade de um cigarro, quando a brasa não está distante demais, mas também está próxima o bastante para levar todas as toxinas para o cérebro. O sentimento leve, mas que mantém os seus passos pesados. 

Me pergunto se é isso o que Hyunjin sente a todo momento. Se é isso o que Changbin sentiu quando soube da morte de sua irmã. Se é isso que Yoongi sente a cada compassar dos pulmões em seu peito, e se é isso o que guia todas as ações imediatistas de Taehyun. 

Me pergunto se era isso o que eu deveria ter sentido depois de tantas perdas, mas me neguei para manter firme minha bolha protetora e perfeitamente saudável de auto intimidação. Aquela que eu aprendi a criar para me proteger, e me manter na mesmice confortável dos meus dias dolorosos sem atrapalhar mais ninguém. De que adianta guardar o ódio, e a raiva, e o luto, e escondê-los do mundo por medo de perturbá-lo, mas cultivá-lo dentro da amargura de dias sem fim - arrastados - por tempo suficiente para se tornar a dor mais excruciante possível? É a pior das torturas: se manter calado. 

Tomado pela cegueira do ódio, é mais fácil me tornar um bom falante. Eu não tenho medo do barulho, eu quero que todos me ouçam - quero que todos me vejam, não importa quem. 

Assim, descuidado, foi como eu tomei as ruas de Auten depois de deixar o celular de Jisung sobre a mezinha ao lado da porta do apartamento aconchegante de Junkyu. Onde eu encontrei a chave da porta com o chaveiro de um cãozinho robô, aparentemente jogada às pressas por Yoongi no desespero que envolvia Chan hyung. 

A cena que se desenrolava era desoladora. Olhos caídos, cotovelos sobre os joelhos, cabeças pendidas, lábios repuxados, mandíbulas marcadas... Tensão para todos os lados. Os olhos desesperados de Jeongin, eu julgaria eles como o prego afiado que estourou de vez minha bolha confortável já enfraquecida. 

Hyunjin levou Changbin para a cozinha, me devendo o sorriso breve sobre seus ombros. Eu não o pude corresponder, porque nunca conseguiria mentir para ele mesmo em nosso diálogo silencioso. Eu não seria capaz de oferecê-lo conforto, quando eu mesmo estava prestes a explodir. 

Dentre os olhares furtivos que me alcançavam de tempos em tempos na fração breve de segundos em que me mantive de pé, ali mesmo próximo à mesa, os de Taehyun também me viram. Eu os pude ver brevemente, e eles brilharam para mim tanto quanto os de Hyunjin costumavam fazer. 

Foi quando eu entendi que ele soube. Ele sabia exatamente o que eu iria fazer, e por isso se virou para a janela de maneira quase exagerada, alerta. 

- O que foi?! - Assustada, Minnie perguntou com pressa. - O que é?

Alertas e amedrontados, como todos estavam, a porção de olhares se virou de vez para a janela semiaberta. 

- O que é aquilo? - O questionamento referente ao grande nada do lado de fora foi suficiente para garantir a atenção geral em tudo o que não era minha direção. 

Foi tempo suficiente. 

Alcancei em um impulso a chave sobre a mesa, sai pela porta da frente e a tranquei silenciosamente, deixando a chave no primeiro degrau das escadas enquanto ouvia as batidas frenéticas no andar de cima - a familiaridade fazendo minha cabeça girar. 

Quando prestes a deixar o prédio, o peso de uma arma deixada ao lado da bicicleta que eu, Hyun e Binnie pegamos como carona mais cedo, me fez paralisar. Era a arma de Taehyun, que estava na garagem em frente à porta descuidadamente entreaberta. 

Eu nunca usei uma arma. Também nunca tinha me permitido deixar de vez minha zona de conforto. 

Minah sempre me disse que "O tempo passa, as coisas mudam", mas eu nunca me permiti observar isso atentamente. Nunca acreditei que "o tempo passa, e a dor diminui", porque a falta que sinto de todos os que perdi continua tão enorme quanto um dia após partirem. Nunca fui adepto do "a dor se torna saudade", porque eu não sei em que altura do caminho eu me perdi, então não posso sentir falta de quem eu era, mas tudo continua doendo como o inferno. 

Dói saber como tudo é injusto, e como tudo se vai sem motivo, e como todos se machucam sem merecer metade da dor resultante. Dói saber que vivo nesse maldito mundo, e eu quero executá-lo agora. 

A força do ódio que me deixa cego, que guia meus passos, também é a mesma que me faz continuar caminhando - pisando pesado - mesmo depois de ouvir meu nome se arrastar dos pulmões de um completo desconhecido. 

Eu não paro de caminhar, mesmo quando o nome que sai por seus lábios passa a acompanhar ameaças. 

Eu não paro mesmo quando sua mão toma meu punho entre os dedos, então eu os arranco. 

Quando o cano gelado - do que agora reconheço ser uma arma - aponta para a parte de trás da minha cabeça, vencendo meus fios de cabelo desgrenhados e arrepiados, na sensação familiar que pinica minha pele. Nem isso me faz parar. 

Eu me movo, porque quero que se foda. 

Eu quero que tudo acabe aqui e agora, eu quero sumir, quero que alguém me apague, mas não seria justo pedir por isso. Eu mesmo planejo apagar tudo de errado que eu vejo. 

Cansei de me esconder na minha bolha confortável. Cansei de aceitar tudo, assistindo meus hyungs dando voz, e se movendo, por tudo o que acreditam enquanto eu apenas os observo e admiro. Cansei de ficar parado, por isso eu apenas me permito correr a mão para a arma que guardei em minha cintura. 

É quase instintivo como meus dedos trabalham para aramar o gatilho, ao mesmo tempo em que meus pés me giram para ficar frente a frente com os olhos pequenos e preguiçosos de Seonghwa. Minha mão livre corre no espaço entre nós, e eu seguro a arma apontada para mim entre os dedos apenas para mantê-la mirada para o espaço entre minhas sobrancelhas. 

- Puxa essa merda. - Eu digo. - Puxa essa merda, e a gente acaba aqui e agora. Então todo mundo vai saber do seu envolvimento com a merda da barata, e tudo o que ele planeja fazer com toda a sujeira que varreu pra baixo do tapete. 

Os olhos de Seonghwa continuam inexpressivos. Estão úmidos. 

Ele usa uma roupa escura, uma gola alta cobrindo boa parte de seu pescoço, um capuz de estampa militar jogado desleixadamente nas costas. A arma que ambos seguramos treme no espaço frio entre nós, não sei se vem da minha ou da sua parte. 

- Tá esperando o quê?! - Eu grito. Minha saliva se empossa em seu rosto. - Puxa essa merda de gatilho e me mata agora! De qualquer forma, você e o maldito do Baram serão expostos! Todos os meus amigos estão aqui, se mova com cuidado. - Eu sorrio. - Todos eles sabem pra onde eu pretendo ir, todos me conhecem o bastante para saber o que eu pretendo fazer, mas todos também sabem do perigo que eu tô correndo por sair sozinho com os homens de Baran à solta por aí. Além de termos motivos, agora mais que nunca, para queremos terminar isso de uma vez por todas. - Os gritos de Chan hyung, os que ouvi mais cedo, frustrado enquanto esperava por notícias na sala do apartamento de Junkyu, ecoam infinitas vezes em minha mente vazia. - Nós temos provas, estamos mais perto que nunca de acabar de vez com tudo o que Baran construiu, além de saberem que você também tá envolvido. - Eu puxo a arma para mais perto, até sentir o cano contra minha testa. - Eu te desafio a puxar! Me mata agora!

Eu ouço o som do gatilho. Mas é repetitivo. 

Ele já tinha armado antes, então agora o desarmou?

A arama entre nós para de tremer. 

- Okay. - É o que a voz calma diz, apesar do meu acesso de raiva de antes. 

Seonghwa abaixa a arma, a arranca de meus dedos. Ele parece cansado. 

- Aviões de Papel, não é? - Ele ergue as sobrancelhas. - Espero mesmo que sejam mais do que o nome faz parecer. 

Sua arma é deixada pacificamente no chão entre nossos pés. As mãos, com apenas as pontas dos dedos para fora do par de luvas cinza de lã, abertas em sinal de rendição. Minha arma continua apontada para sua orelha esquerda. 

- Não tenho muito a perder. Mas não me faça arrepender. - Ele completa. 

Cerro meus dentes. Me nego mesmo a piscar, porque não quero perdê-lo de vista. 

- Nós estamos indo para outro lugar. - Eu mudo de direção depois de pegar a arma no chão, me coloco atrás de seus passos, o guiando com o cano da arma colado à sua coluna. 

Seonghwa pigarrea. Uma risada curta dando a ar da graça, saltando de sua garganta antes de tropeçar à frente uma vez. 

- Pensei que gostaria de esperar pelos seus amigos. - Comenta. 

Eu uno minhas sobrancelhas. 

- Meu amigos? - Pergunto. - Os viu? Conseguiram sair do prédio?

- De que prédios estamos falando? - O questionamento sincero me faz suspirar aliviado. 

Então ele não sabe onde os outros estão. Deve ter me encontrado no meio do caminho. 

- Estou falando dos caras que estão nos seguindo há duas quadras. 

- É esse o motivo para se render? Pensou que estaria em desvantagem? Só pra saber, se for por esse motivo então não vai adiantar tanto. - Dou de ombros, mas meus olhos estão atentos à nossa volta. - Eu não faço ideia de que amigos meus você tá falando. 

Os passos de Seonghwa congelam. 

- Como assim? - Ele pergunta. 

- Eu tranquei metade dos meus amigos num prédio, e a outra metade está há quase meia cidade de distância. 

Seonghwa engole em seco. 

- Quem são, então, os dois caras que estão te seguindo?

Eu olho em volta. Um beco estreito - mais um dentre os tantos em Auten - praticamente chama meu nome. 

Não preciso dizer muito depois de arrastar Seonghwa para cá. Ele se estica com as costas contra a parede. Os braços junto do corpo e os pulmões se movendo visivelmente. Seus olhos alcançam a rua antes de os meus fazerem o mesmo. Eu estou a um suspiro de distância de sua altura, que supera alguns centímetros da minha - a arma apontada para seu peito é canhota, porque não acho que ele vai arriscar sair para o desconhecido ou nos entregar quando parece tão desesperado quanto eu mesmo estou. Os dedos de minha mão direita estão firmes na arma de Seonghwa, que enfiei na cintura. 

- Você já atirou, antes? - Ele pergunta.

O ar de seus pulmões rebatendo em meu rosto cheira a hortelã. 

- O que é interessante nisso? - Devolvo outro questionamento. 

- Entenda, amigo. Não é tão simples fazer isso, e você parece uma criança segurando um cata-vento. - Ele suspira. - Rápido, me dá minha arma. 

Eu me afasto. 

- Como é? - Afundo a arma em minha mão esquerda em seu estômago. 

- Sério, você tá tremendo que nem gelatina! - Ele anuncia em um grito sussurrado. - Eu não vou fugir, me dá minha arma. - Ele estende as mãos. - Eu vou me certificar de tirar a gente daqui, então você se certifica de fazer o que a Aviões de Papel quer fazer. - Parece honesto. 

Parece tão honesto, que chega a ser tentador. 

- Por que me ajudaria? - Pergunto, tão honesto quanto. 

- Acredite em mim. Baram tem, como seu amigo disse mais cedo, seus "varredores". Mas nenhum deles tem "carteira assinada", entende? - Ele ergue as sobrancelhas. - Ninguém segue Baram por vontade própria. Sempre envolve merda demais, então só não dá pra negar. 

No meio tempo, sua mão voa para minha cintura. Segura a arma presa em minha calça. Meus dedos cobrem os seus, apertando-os. 

- Confia em mim, Lix. - Ele pede. O brilho em seus olhos chama o brilho nos meus. - Eu tô da sua porcaria de lado. 

O lado da grama menos verde. O lado do jardim morto. A merda do lado dos que são usados como degraus para Kim Baram escalar até o topo. 

Há o som de mais um gatilho sendo armado. Eu não penso muito. Minha arma, agora está em minha mão direita, e a de Seonghwa está firme em seu punho. 

Silêncio. 

Além, o toque abafado da chamada no viva-voz que não se completa - mais uma vez. 

Não adiantaria, de qualquer maneira. Mas era o melhor que Minho hyung pôde pensar. 

- Caralho! - Ele finalmente perde a paciência. 

O celular, antes entre seus dedos, vai de encontro à parede. 

Preocupado, Yoongi hyung vira seus olhos em direção a Channie hyung. Ele continua dormindo, imperturbado. 

- Pega leve, pirralho. - Ele diz. 

Minho hyung se encolhe contra o sofá, as mãos firmes puxando os cabelos da nuca. O suspiro que escala sua garganta é trêmulo e hesitante, é quase um soluço.

- Merda, Felix... - Ele pragueja pela dezena de vez que Changbin desistiu de contar. 

Hyunjin tem os olhos fixos na janela enquanto puxa as mangas do casaco oferecido anteriormente por Yoongi, é o que Binnie nota antes de voltar sua atenção para o olhar pacífico de Taehyun. 

Quando Jisung emerge da cozinha, o copo de água quase firme nas mãos trêmulas que o oferecem a Minnie - abraçada a Jeongin enquanto dividem o tapete da sala - , é que ele suspira e se levanta do lado de Minho, caminhando até aquele amigo. 

Yeonjun barra seus passos. A carranca tão determinada quanto a do próprio Binnie o encarando de volta. 

- Volta. - O tom é  de uma ordem. A cabeça acenando para que ele retorne seus passos. 

Changbin ergue o queixo. Olha por sobre seu ombro. 

Se Yeonjun não vai deixá-lo passar, então ele pode perguntar mesmo de onde está. 

- Por que parece tão calmo? - E ele o faz. 

Taehyun, no entanto, não age diferente de como faria se tivesse ouvido um mosquito. Simplesmente não se move. 

- Hyung! - Changbin grita, agora. 

Os olhos de Hyunjin se voltam para a confusão. 

Yeonjun empurra pouco o peito de Binnie, o lançando dois passos para trás porque suas pernas estão trêmulas como seus olhos. 

- O que você sabe, Taehyun?! - Binnie continua gritando. 

- Changbin... - O tom de Yoongi é de aviso, mas também de um pedido. - Se controle. 

- Ele sabe de alguma coisa. - Changbin aponta através de Yeonjun. - Hyung, ele sabe de alguma coisa! Ele sabe!

- Do que ele sabe, Binnie? - Minnie pergunta. A voz arranhando seu caminho para fora. 

- Ele sabe onde o Felix tá!

- Todo mundo sabe. - Soobin interrompe. Afasta Yeonjun com uma mão gentil em seu ombro, o tirando do caminho. 

Mas também segura Changbin quando ele avança seus passos rumo a Taehyun, outra vez. 

- Ele deixou ele ir! - Changbin berra. - Ele sabia!

Hyunjin franze o cenho, ainda assim não diz nada. Continua escorado na parede ao lado da porta, de onde não se moveu desde que se descobriu trancado. 

- A escolha é dele, porra. - Taehyun responde, contido. A raiva pulsa em seus olhos, porém. - Não acha?

- Você sabe o que tá esperando eles lá fora, e mesmo assim deixou ele ir!

- Eu não impeço ninguém! - Agora, Taehyun também grita. Aponta para a porta. - Não pedi para que me impedissem quando eu precisei agir, mas fizeram mesmo assim! Quem pensavam que eram pra me fazer arrepender pelo resto da minha vida por não ter ido atrás de Baram naquele dia?!

Hyunjin finalmente se move para fora do caminho. 

- Você não tinha nada, na época. - Yoongi responde, friamente. - Não ia permitir que mais um de nós encontrasse a morte no caminho em tão pouco tempo. 

- Eu tinha minha raiva, hyung! Tinha meu luto, e tinha minha arma! Que eles tentassem qualquer coisa, não conseguiriam me pegar de forma nenhuma! Ou eu garantiria que cada um deles tivesse uma bala enfiada no cérebro antes de me matar!

- Você era uma criança. Nada mais. - Yoongi acrescenta. Dá espaço para que Hyunjin entre no quarto. 

- Eles são dobraduras de papel. - Taehyun cruza os braços. - A diferença é que têm tudo o que eu não tinha, além do ódio. - Ergue as sobrancelhas. - Eu não me arrependo. 

- Ele tá sozinho! - Changbin ainda grita. - Ele não tem nada! A não ser a chance certa de morrer com uma bala enterrada no peito!

Os olhos de Taehyun são determinados quando perfuram os seus. A resposta vem tão baixa que Changbin quase não pode ouvir além das batidas frenéticas de seu coração. 

- Não é escolha sua. A vida dele não é sua, tire suas mãos dela. 

Então ali está. O coração desacelerado tão repentinamente que parece balanças no espaço vazio do peito que surge quando o músculo perde tamanho. 

Changbin dá mais dois passos para trás. Sente como se tivesse sido atingido por um soco. Porque Taehyun tinha razão. O fato de ele me amar, e eu amá-lo tanto quanto, não fazia de minha vida sua. 

Ele mesmo se lembra de ter pensado seriamente em seguir Taehyun, assim que encontraram o corpo sem vida de Junkyu naquele apartamento. Somente não o fazendo, ou participando da confusão que se iniciou, por suas pernas não obedecerem aos seus comandos. 

- Hyun... - O resmungar baixinho veio do quarto. 

Yoongi se agitou à porta, se moveu até estar ajoelhado ao lado da cama de Chan hyung. 

O rosto pálido se virou para Yoongi de imediato, segundo firme sua mão enquanto os olhos alertas - mesmo que cansados - percorriam um lado ao outro do quarto. 

- Sim, sim. O hyung tá aqui, Channie. - Yoongi afasta, mais uma vez, os fios grudados pelo suor na testa de meu hyung. - O que aconteceu? Tá doendo muito?

Channie engole a saliva acumulada na boca. Aperta os olhos e respira fundo. 

- Hyunj...

É tudo o que consegue dizer antes de tossir uma poça de sangue. 

Yoongi se apressa em erguê-lo para que possa se sentar. Tem um pano - um dos que usaram antes - em mãos, e apara o que Chan hyung vomita enquanto afasta o cabelo de seu rosto, apoiando sua testa com a palma de uma das mãos. É sangue escuro, morto. 

- Céus... - Minho treme na porta. As mãos inquietas ao lado do corpo. Jisung se escondendo em suas costas quando nota o sangue. 

- Tá certo. - Yoongi os tenta acalmar. - Isso é bom, ele tá só dando um jeito no sangue que ficou obstruído pela bala. 

- Não significa que não devemos encontrar um hospital. - Soobin comenta. 

- Tá certo, também. - Yoongi suspira e morde os lábios quando Chan geme, a cabeça pesada e cansada caindo em seu ombro. - Tudo bem, Channie... Você vai ficar bem. 

- Hyung. - Chan chama. Os olhos fechados. O silêncio se instala para ouvir o que vem à seguir. - Hyunjin. 

Assim que escuta o nome baixinho, Changbin lança seu olhar rumo à porta. O lugar antes ocupado, agora vazio. 

- Hyunjin. - Mais um pulsar perdido e ecoante em seu peito. - Hyunjin!

Yoongi sente o ar fresco soprar seu rosto. Chan hyung, ainda tendo seu ombro como travesseiro, respira fundo parecendo aliviado. Jeongin nota a janela sobre a cama, e ela está aberta para mostrar um par de corrimões. 

- Uma escada de emergência. - É o que ele diz, baixinho. 

Minnie olha na mesma direção, somente assim desviando o olha preocupado e embargado da postura desleixada e exausta de Chan hyung. 

- Meu Deus, Hyunjin! - Ela exclama. 

Não precisa de muito além disso. 

No momento seguinte, Minho hyung sobe no colchão, deixa um beijo rápido no topo da cabeça de Chan hyung, e salta pela janela rumo às escadas. Jisung, como de costume, fiel aos seus passos. 

Changbin parece suspenso no tempo. Não sabe o que fazer até que encontra os olhos de seu Tae hyung, e eles apontam rumo à janela também. 

Quando ele pisa no colchão, no entanto, se desequilibra pelos dedos que se enroscam em seu tornozelo.

- Hyung. - É um pedido. 

Quando ele olha para Yoongi, é ele quem parece suspenso. 

- Hyung, me deixa ir. - Ele pede. 

- Changbin, eu-

- Me deixa ir. Por favor, Suga hyung! - É desespero. 

Yoongi fecha os olhos com força. Solta seu tornozelo. Chan hyung o parece abraçar. 

- Cuidado, por favor. - Yoongi é quem pede, agora. 

Quando Changbin já deixou o quarto, ele sussurra para que apenas ele e meu hyung possam ouvir:

- Porque você é tudo o que me sobrou de tudo o que ela foi, e eu não sei o que sou capaz de fazer se te perder também. 

Na sala, Soobin suspira. 

- Ótimo! - Yeonjun revira os olhos, esfrega o rosto até que esteja vermelho. - Você. - Aponta para Taehyun. - É melhor garantir que qualquer um que se aproxime deles exploda, entendeu biribinha?

Com um sorriso largo, de orelha a orelha, Taehyun apenas segue o caminho que já tinha começado antes mesmo de aquele hyung falar. Sobe no colchão e se segura no batente da janela antes de comentar:

- Me conhece tão bem...

Em seguida, ele também se foi. 

- O que faremos? - Jeongin, agarrado aos braços de Minnie, pergunta exasperado. 

Minnie não sabe responder. 

Ela não sabe, porque pela primeira vez se sente incapaz por estar tão sozinha. 

É quando uma série de batidas abafadas vem do outro lado da porta. 

"Toc-toc-toc".

São batidas na porta, mas parecem explosões.

Kai se encolhe no sofá, as pernas de Beomgyu perdem as forças e ele se desequilibra mesmo que esteja parado no mesmo lugar. O rosto pálido e os olhos atentos de Jaelin se viram em direção à porta da frente.

Na cozinha, Maya larga a caneca fumegante sobre a mesa e se levanta em um rompante. Em silêncio, captura o olhar dos mais novos e gesticula para que a sigam para o quarto de Dal, de onde a dona da casa surge com os dedos firmes em volta do que Jaelin reconhece como uma arma. Ela se pergunta, enquanto se esconde com os outros, pelo quê Dal e os outros já devem ter passado para recorrer a coisas como essas.

Com Beomgyu agarrado a seu braço, ela continua se espreitando pouco para fora do quarto, seguindo com os olhos para além do corredor, onde pode ver precariamente quando Dal se esconde contra a parede e leva uma das mãos à maçaneta. Antes que Dal possa perguntar algo, a voz ruidosa invade através da porta trancada a ponto de fazer com que a estrutura estremeça - E Dal pensa que sejam apenas suas pernas.


- Abra a porta! - É o que irrompe, impaciente, seguido de mais batidas secas que parecem ecoar.

Kai se esgueira do quarto. 

- Quem é?! - Ele pergunta, mas Jaelin o repreende. 

Kai, que nunca se importou tanto com repreensões, porém, apenas rola os olhos e dá de ombros. Ele aperta os passos para fora do corredor, e se solta dos punhos de Jaelin quando ela o segura. 

Uma peste. 

- Quem tá aí?! - Ele pergunta, outra vez. 

Dal, colada à porta, intercepta seu caminho até a fechadura com um dos braços. O outro está fiel à postura, apontando o cano da arma para cima pouco ao lado de seu rosto. Kai nega os lábios abertos e os olhos trêmulos daquela amiga como se dissesse que, com uma certeza que Dal mal podia ver, tudo estava bem. 

- Kai? - A resposta é, na verdade, outra pergunta. 

Kai perde uma respiração. 

- Dal. - Um tanto menos emocionado do que a voz que chama do outro lado, ele chama a nova amiga. - Abre a porta. - Os braços estão relaxadamente abandonados ao lado do corpo ereto. 

- Do que tá falando, moleque? - Ela quase cospe. 

- Confia em mim. - Kai assente, pisca demoradamente e trás as mãos até a cintura para apoiá-las. - Abre a porta. 

- Kai-

Jaelin estava prontas para repreender, quando finalmente consigo alcançar os outros e retomar o ar em meus pulmões. Do outro lado da porta, sou eu quem chamo:

- Dal, abre a porta!

Dal encara Jaelin ao longe, e a menina assente em confirmação. 

É assim que Dal abre a porta. 

Quando Kai encontra aquele par de olhos, ele quer se derreter. Mas é breve, porque assim que Seonghwa dá um passo para dentro todos se alertam. Pela vez em que meu novo amigo não pode mais contar nesse dia, uma arma está apontada para seu rosto e ele ergue as mãos em sinal de rendição, revirando os olhos. 

Dal observa assustada quando eu tomo o cano de sua arma com os dedos e a abaixo. 

- De onde você arrancou essa coragem, garoto ridículo? - Ela me repreende. - O quê tá fazendo do lado dele? - Os olhos viajam de meus dedos em sua arma para Seonghwa, depois para a figura alta que guarda nossas costas. - Quem é o velho?

- Kai. - O nome se repete no mesmo tom anterior. 

- Velho Bang. - Kai cumprimenta, o tom amargurado como é costume sempre que entona o nome do pai. 

- Você tá aqui. - O tom de senhor Bang é irritado. É o zumbido de um pavio, uma dinamite prestes a explodir. - Como-

- Ninguém me arrastou. - Kai o interrompe. - Não ouse culpa Hyunjin ou os outros, eu vim com meus próprios pés, não fui sequestrado. 

Senhor Bang seca o canto dos olhos com a parte de trás das mãos. 

Ele respira fundo e rui aqui, em nossa frente. 

Ele desmorona como eu desmorono, como você desmorona, como Hyunjin e Changbin desmoronaram em meus braços uma vez. Ele é um ser humano, quem diria? Ele se quebra, e eu posso ver todas as suas falhas. 

- Chan. - Ele diz, e não precisa de mais para que todos nós entendamos. 

Não tivemos tempo de discutir algo além dos motivos para ele não matar Seonghwa no caminho até aqui. Eu deviria saber que isso sufocava seu peito, e talvez fosse um dos motivos para seu olhar tão perdido durante toda a corrida que compartilhamos. 

- Channie e Hyunjin. - Ele diz. 

Kai nega. Seus olhos estão marejados quando ele olha em minha direção. 

Afim de tranquiliza-lo, eu apenas tenho a chance de assentir antes que ele volte a falar.

- Isso importa pro senhor? - É o que ele pergunta. 

Kai também está ruindo. 

Duas novas tempestades se encontram, parece inédito. 

Senhor Bang engole o que pareciam ser uma porção de palavras, que ele conseguiu barrar antes de irromper os lábios secos e pálidos. 

Ele abraça o próprio dorso. 

Os olhos que encaram Hueningkai estão trincados. As lágrimas parece a água transbordando uma represa que tentou não se romper por muito tempo. 

- Não é claro? - Ele devolve mais uma pergunta. 

- Não parece. - Agora, Kai responde com firmeza. 

Senhor Bang ri, exasperado. 

- Ela tinha mesmo razão. Ela sempre soube o que dizia. 

- Ela quem? - Curioso, Gyu pergunta alto demais. Quando se nota alvo dos olhares, se encolhe mais atrás de Jaelin. 

- Senhora Bang. - Eu respondo. 

A forma como ele fala do passado... Eu a reconheço. 

- Eu nunca servi, e nunca serviria para criar uma criança gentil. - Ele ri mais um pouco. - Apenas pestes intrometidas, exatamente como eu. - Assente em aprovação. - A coragem e a audácia são mesmo de família, no fim das contas. 

Uma lágrima solitária corre o rosto de Kai, e ele se apressa mais que nunca para se livrar dela. Ele jurou, nunca choraria em frente àquele homem, outra vez. 

- Eu não tô entendendo é nada. - Gyu se manifesta, mais uma vez. 

Jaelin o empurra para dentro do quarto e fecha a porta. 

- Meu jeito não é tão caloroso quanto o dela, não é mesmo? - Ele tenta sorrir. - Mas eu nunca quis o mal de nenhum de vocês.

- As vezes em que nos ergue o punho-

- Eu nunca o desci, não é? - Senhor Bang interrompe o filho mais novo. - Eu nunca os feri fisicamente. Mas é difícil não machucar ninguém quando você mesmo tá quebrado. - Ele engole. - Eu não sei falar como ela, ou agir como ela, ou ser metade do que ela foi. Eu não tenho a ousadia de tentar, sequer. Mas quando eu vi na TV... Channie... E-eu... Eu-

- Eu precisei tanto de você... - Kai engole um soluço. 

- Eu sei, mas eu precisava dela, e não sabia como me erguer outra vez. - Senhor Bang admite. - Eu realmente sinto muito, Kai. 

Kai funga. Seca mais uma lágrima. Pigarrea. 

- O que você veio fazer aqui? - Pergunta. -Pedir desculpas? Pedido recebido, está em processamento. O senhor já pode ir embora. Vai receber uma notificação assim que houver uma resposta. 

Eu e Seonghwa seguramos uma risada. Dal nos acompanhando. 

- Eu ouvi pouco da conversa do Lix com esse cara, na rua. - Senhor Bang, desconcertado, diz. - Mas creio que tenham algo substancial quanto à sujeira de Baran. - Ele olha em volta. 

Dal olha para mim, primeiro. Depois, assente em confirmação. 

- Bom. - É o que ele diz. - Eu creio que também tenho. Passei um tempo procurando por tudo o que Lisa tinha escondido, e finalmente encontrei a senha de acesso a uma porção de arquivos. 

- Bem. - Agora, eu sorrio. Minha arma furtada está firme em meu punho, outra vez. - Parece que temos mais do que nunca, agora. - De fato, nós temos. Mas eu preciso disso. Eu preciso de algo à mais. Eu não vou mais conter minhas erupções solares. - Agora. - A arma está contra a testa de Seonghwa, outra vez. 

Pobre Seonghwa...

- Se explica. - Aceno para os outros. - Explica tudo. Conta tudo, sobre todo o tempo em que passou grudado aos pés de Hyunjin. O seguindo de um lado para o outro. O ameaçando. 

Senhor Bang o encara, agora. Tão irado quanto eu.

Seonghwa une as sobrancelhas. 

- Perdão. Acho que você não entendeu. 

- O que eu não entendi?! - Eu grito. O Empurro contra a parede quando Dal dá dois passos para o lado, abrindo espaço. A arma colada em sua têmpora. - Fala!

Seonghwa fecha os olhos. Respira fundo, e é trêmulo. Quando reúne força, ele me olha nos olhos e eu não os desvio. 

- Eu tava tentando proteger seu garoto. - Diz. 

Eu vacilo um pouco, mas o empurro outra vez. 

- Continua. 

- Felix. - Kai me chama. Ele parece ter entendido. 

Bom, eu não entendi. 

- Fala agora! - Grito outra vez. 

- Acha que ele ainda estaria vivo se fosse qualquer outro? Se outra pessoa tivesse tantas chances quanto eu tive, porra?! Eu nunca quis matar o Hyun, eu tentei cuidar-

- Cuidar? - Eu rio. - Cuidar?! VOCÊ O SEGUIU, E O MACHUCARIA SE NÃO FOSSE YOONGI E OS OUTROS! E pensar... - Engulo em seco. - Pensar que te conheci há tanto tempo. - Oh, sim. Eu o conhecia. 

O conheci em um dos últimos anos do colégio, um ano antes que ele saísse para o mundo como um bom veterano. 

- Só nos falamos uma vez. - Ele diz, tem uma pitada de diversão. - Bêbado como um gambá! Você em contou tudo, perdido daquela ali em uma das festas do Jackson. - Ele aponta para Jaelin. - Eu sempre dou mesmos sorte de encontrar pessoas fora de si... Me contou como estava mentindo para si mesmo, e como sentia que seu Deus nunca te perdoaria por se enganar por tanto tempo, mas como também o condenaria por ser tão errado. - Ele franze o cenho. É pena. - Eu te ouvi por quase uma hora, e então te ajudei a procurar por Jaelin, mas não antes de te ouvir contar sobre tudo o que sentia por Hyunjin. 

Olho por sobre meu ombro. Jaelin me entrega um sorriso resignado. 

- Eu sinto muito. - Digo, e espero que ela possa me ouvir. 

- Quando Baran procurou meu pai, porque é claro que ele procuraria por ele sendo um dos principais acionistas do conglomerado comercial em Mency. Quando o ouvi falar sobre os jovens que "planejam estragar meus planos" e a foto de Hyunjin estava envolvida, a primeira coisa em que pensei foi me envolver. 

- Por que? - Pergunto. 

Por que?

- Porque eu tenho arrependimentos demais. - Ele parece pensar nisso. - E queria te dar uma chance de não cometer os mesmos erros. Juro que fui na pura esperança de que você acordasse de uma vez. - Ele admite. - Eu o segui, sim! Mas evitei que o pior acontecesse. Na noite em que o encontrei na festa do Jackson, eu o ajudei como eu pude na volta para casa. Quando ele foi apanhado em um beco, completamente sozinho, eu não pude fazer muito. - Dá de ombros. - Minha família também estava em jogo, e eu pensava nela o suficiente para não querer que o pior acontecesse na época. 

- E agora? - Senhor Bang é quem pergunta, mas a curiosidade é geral. 

- Eu quero que eles queimem junto com a barata. - Ele diz entre dentes. - Há pouco tempo descobri como meu pai é à favor de tudo o que Baran quer. - Ele acaricia a marca que carrega na lateral do pescoço. - Eu não espero o mínimo para ele, além de tudo o que Baran merece. 

- O que é isso? - Eu pergunto. - O que ele fez?

- Foi uma repreensão. - Ele deixa com que sua mão caia. - Eu fiquei perdido, admito. Tive que me mover de alguma maneira que o convencesse de que estava tudo certo e que eu ainda era leal. É o que o medo do abandono faz às pessoas. Então, admito, eu orquestrei esse musical inteiro. - Assente, mas encara o chão agora. - Eu encurralei Hyunjin na estrada, e eu ia pegá-lo, mas o deixaria ir com alguns avisos. 

- Nos amedrontou até a morte. - Digo. - Viu o que você fez com todos nós?! Vê o que aconteceu ao meu hyung?! - O empurro mais uma vez. 

Seonghwa fecha os olhos. 

- Felix! - Dal me chama. 

Eu respiro fundo. 

- As coisas saíram do controle. 

- Você esteve no controle, em algum momento?

- Eu nunca quis ferir ninguém.

- Mas feriu. - É Kai quem diz. 

- Eu não posso apagar isso. - Seonghwa nega com um gesto. - Mas eu posso compensar. 

Eu uno mais minhas sobrancelhas. Estou pronto para perguntá-lo como pretende fazê-lo, quando a notificação ensurdecedora do celular de Jaelin chama todos os nossos olhares. 

Para a tela, seus olhos dobram de tamanho. 

- Essa não... - Ela diz baixinho, e depois me encara como se tivesse medo de que eu visse o mesmo. 

- O quê é? - Eu pergunto. 

A arma em meu punho firme completamente esquecida, mesmo assim Seonghwa não se move para algo além de pegar seu celular no bolso, que também parece ter vibrado. Dal, alerta pela sua movimentação e as possibilidades, aponta sua arma na direção do rosto novo também. 

- Parado! - Ela diz. Mas Seonghwa apenas desbloqueia o aparelho para observar, não se movendo demais. 

- Felix. - É ele quem me chama, enquanto meus olhos ainda estão questionando Jaelin silenciosamente. - Felix, tem que ver isso. 

- O quê tá acontecendo? - Beomgyu, impotente, surra a porta fechada do quarto onde está trancado. 

Eu me aproximo de Seonghwa. O celular aberto no aplicativo familiar, e que me causa arrepios. 

Meu estômago dá uma volta inteira quando a imagem na tela de um dos usuários começa a se mover. Eu nunca vi aquelas paredes, mas posso imaginar a casca que a abraçam, elas têm a mesma cor. Eu não consigo ver um rosto, mas conheço mesmo a respiração por trás da câmera - ela é instável, mas é constante e determinada como tudo o que eu não queria ouvir agora. 

Porque se Hyunjin está determinado, então Hyunjin não vai parar mesmo que eu o alcance. Mesmo assim meus pés coçam, estão quase dormentes, mas prontos para iniciar a próxima corrida. 

- O que ele tá fazendo? - Eu esfrego minha testa quando a primeira pergunta aparece na tela. 

"Quem é você?"

A resposta de Hyunjin faz minha pele se arrepiar. 

Eu esperava seu nome, no tom enérgico e irado condizente. O que veio, no entanto, foi uma risada curta e quase sufocada, depois a frase simples:

- Eu? Eu sou um Avião de Papel. 

Senhor Bang morde a boca por dentro. Suspira fundo, frustrado. Ele encara Seonghwa e Dal assim que ergue os olhos:

- Eu acho melhor terem algo realmente bom. Porque as circunstâncias estão nos apressando, parecem ter se cansado de esperar pela promessa de uma revolta. Queremos ela agora

Kai engole em seco, mas assente em concordância. 

- Tudo bem. - Dal diz. Aperta firme o que tem pendurado no pescoço. - Vamos entregar o que querem. 

- Puta que pariu a revolução! - Changbin praticamente grita. Chuta a grade do portão que reclama o próprio peso e balança decadente. 

Taehyun o repreende com o olhar, mas o sorriso grande vem logo depois. Ele olha para cima, para a cerca de arame coberta por um casaco, com admiração. 

- Esse cara é inédito. - Comenta. - Sabe escolher bem, Binnie. - Assente em aprovação. - Se eu sou a biribinha dos hyungs, seus garotos são dinamites. 

- Cala a boca, Tae hyung. - Changbin tem que se agachar, largar os braços nos joelhos e desfazer os fios de sua nuca. - Merda, Hyun...

Minho e Jisung param apenas agora, ofegantes ao lado dos outros dois. 

Jisung não demora a apontar para o topo dos portões:

- Câmeras. - O peito agitado dita o aviso. 

Changbin suspira, esfrega o rosto furiosamente com as duas mãos. 

- O que fazemos, agora? - Minho pergunta, tão frustrado quanto o outro. 

- Entramos? - Taehyun ergue as sobrancelhas, como fosse óbvio. - Vamos atrás dele, claro. 

Jisung franze o cenho. Aponta para as câmeras, mais uma vez. 

- Ah! Isso aí? - Taehyun para um pouco para pensar. - Muito bem lembrado. 

Por sorte, os suportes não apontam para eles ou para cima do portão. As lentes estão apontadas para o lado de dentro, concentradas no limite interno, então não tiveram chance de os ver até agora. Changbin espera muito que não tenham alcançado Hyunjin, também. 

É quando o celular de Changbin vibra, e ele o toma em mãos por costume de atender à aquela notificação personalizada, que ele entende. 

- Merda, merda, MERDA! - Vem em uma sequência quase desesperada de ar que deixa sua garganta. 

Taehyun vê aquilo e morde os lábios. 

"Eu sou um Avião de Papel", foi o que Hyunjin disse. Ele pensa um pouco nisso enquanto se aproxima de um monte de entulho largado ao lado do portão decadente e torto. 

Minho não entende o que ele pega naquele monte de lixo, mas parece animá-lo - apesar de o rosto estar completamente contorcido em concentração. 

- Tá. - Ele nega, apenas para balançar o cérebro que sente suspenso em uma grande bolha oca dentro da cabeça. - Temos que dar um jeito de entrar. 

- Podemos pular? - Jisung aponta para cima, para como parece ter sido a forma como Hyunjin entrou. 

- Devemos comentar que Hyunjin é bem mais alto que a gente? - Minho aponta como sugestão. - Acha que consegue?

Jisung está pronto para abrir a boca com uma resposta desafiadora, quando Taehyun pula no portão e se agarra às grades para escalar até estar próximo de uma das câmeras. 

Lá em cima, ele tosse algumas vezes e pragueja. Changbin se levanta para observar. 

- Bem que Yoongi hyung diz. - Taehyun dá dois tapinhas no peito, os dedos cuidados para embalar o que quer que tenha entre eles. - Não se deve fazer estripulias enquanto masca chiclete, é coisa que mata. 

Dito isso como um aviso sério demais, ele tira um pedaço minúsculo da goma que segura entre os dentes e usa para colar a ponta da dobradura indefesa - de tão pequena - de um avião de papel, que da forma como está posicionado ante a câmera parece estar voando para dentro da lente. Depois, faz o mesmo com a câmera do outro lado. 

- Que merda você tá fazendo? - Changbin pergunta, irritado. 

- Apoiando seu menino? - Taehyun dá de ombros. - Um dos, é o que digo. - Ele se corrige. 

- Não viemos apoiá-lo! Viemos resgatá-lo! - Changbin quase grita, outra vez. 

Taehyun gesticula como se suas palavras fossem insetos voadores incômodos. 

- Tá. Tá bom. - Ele escala o portão, usa a ponte frágil e fina que é o casaco que Hyunjin deixou para trás, e pula do lado de dentro. - Até aprece que vai ter coragem de arrancar ele daqui se ele não quiser vir. 

Tahyun já está seguindo para dentro quando Minho e Jisung parecem despertar do torpor para segui-lo sem questionamentos. 

Changbin suspira. 

- Mas que caralho eu fiz pra merecer isso? 

Mas também está escalando o portão. 

É a parte de trás do galpão extenso que serve como garagem dos cargueiros da marca Springs. 

- Acha que é sorte? - Jisung pergunta baixinho, quando passam por um posto de vigia vazio. - Tudo parece tão calmo... Acha que, mesmo sem planejar, Hyunjin pegou justo o horário da troca de turnos?

Minho nega uma porção de pensamentos. Ele olha para o celular de Changbin, seguro entre seus dedos, que continua transmitindo o que Hyunjin vê do lado de dentro. Seu plano era encontrá-lo pelas imagens, mas todas as paredes internas parecem a mesma. 

- Eu não sei. - Reponde à pergunta de Jisung e agarra seu punho, antes de escorrer seus dedos por sua palma e entrelaçá-los. - Aqui não costuma ser mais vigiado? - Ele pergunta a Taehyun ou Changbin, a qualquer um dos dois. - Parece bem mais tranquilo do que a filial em Mency, que é de longe bem menor. 

Taehyun nega. Changbin suspira. 

- Tem algo muito errado por aqui. - Taehyun comenta. - Acho que seria melhor nos apressar para pegar seu amigo, e sair fora enquanto parece menos caótico que o costumeiro. - Ele continua caminhando com a mão firme na arma na cintura. - Escondam os rostos e apertem seus passos. 

- O que o Hyun espera com isso? - Jisung pergunta. - Não conhecemos nada desse lugar, todo o corredor parece exatamente o mesmo. - Diz quando dobram mais uma esquina no interior da construção. - Corre o risco de ficarmos perdidos, como ele pretende achar a área de carga?

"Muito bem visto", Changbin pensa. 

É claro que Hyunjin estaria em busca da área de carga. Se abrisse uma trouxa suspeita e desse sorte em suas deduções, mostraria ao público cada vez mais abrangente da Aviões de Papel em primeira mão, e diretamente, o que Kim Baran esconde por trás de seus investimentos. Seria o momento perfeito, depois do acidente na praça da matriz em Mency e com a associação ao nome deixado na fonte, todos os pensamentos apontariam para os dois buracos na fuça empinada de Baran e dariam reconhecimento ao tal grupo recém surgido "Aviões de Papel". 

A única coisa que preocupava Changbin, porém, era a forma como Hyunjin lidaria com isso depois. Porque, depois do discurso de Yoongi na garagem, Bang Chan parecia inclinado a provar as façanhas de Baran recorrendo a formas legais de encontrar provas e informações. O que estavam fazendo agora, no entanto, seria facilmente dado como - além de mais uma porção de infrações - invasão de propriedade privada. 

O movimento de Taehyun tirando o celular do bolso e discando um dos primeiros contatos na sua vasta lista chama os olhares atentos. 

- Quê tá fazendo? - Changbin sussurra, mas mesmo seu sussurro ecoa pelos corredores. 

Taehyun faz um gesto de desdém com a mão livre, depois trás o indicador até tê-lo colado aos lábios ao pedir por silêncio. 

- Alô! Hyung? - Ele fala baixinho. - Já estão vindo?

A voz do outro lado, porém, é tão impaciente e exasperada que, mesmo não estando no viva voz, supera a tentativa deles de não fazer tanto barulho. 

- Estamos, porra! Estamos todos indo. Entendeu bem?! TODOS! Isso inclui o Channie, que não me deu ouvidos assim que viu Minah na porta e decidiu que era culpa dele Felix ter sumido pelas ruas! 

- Chan hyung?! - Jisung exclama alto demais, meio segundo depois as mãos de Minho tampam sua boca. 

Taehyun tampa o celular para abafar o som da linha, olha para os lados com preocupação. Mas nada acontece. 

- Onde vocês estão? Encontraram Hyunjin? Ele achou o Felix? O Felix tá com vocês? Os dois estão? - Yoongi continua o interrogatório do outro lado. 

- Hyung. - Taehyun volta a chamar, os olhos grande ainda correndo de um lado para o outro do corredor. - Se estão vindo, é melhor se apressar. 

- O quê? Onde estão? Estamos indo para a casa da Dal, um tal senhor Bang ligou para um tal Namjoon e disse que o Felix está lá! Pensamos que todos estariam lá. É pra todo mundo estar lá, Taehyun!

- Isso não tá bem sobre meu controle, Suga hyung. - Taehyun diz sem muita paciência. - Hyunjin invadiu a Springs. 

- ELE O QUÊ?!

- Hyung... Por favor. Estamos tentando não fazer barulho...

- E VOCÊS FORAM ATRÁS, ENTÃO?! TAEHYUN!

- NÃO FOI MINHA CULPA! - Agora foi um grito. 

A altura estourando o silêncio custoso, faz os tímpanos de Minho vibrarem e zumbirem. Jisung tampa as orelhas e se encolhe um pouco, devendo um olhar repreendedor para Taehyun. 

- Não significa que eu não apoie. - Taehyun continua. Ele não se preocupa em sussurrar mais. - Eles varrem a sujeira pra baixo do tapete depois de fazerem tudo isso e eu tenho que agir como fosse feito de porcelana? Eu não sou polido, eu quero que se fodam no quinto dos infernos! Eu não me importo se não me limparem depois, eu não quero saber! Quero que esse filho da puta seja pego, é tudo o que importa. E não se preocupe, hyung. Eu falo por mim, não por eles. Se precisar tomar a culpa, eu tomo sozinho o nome de Aviões de Papel, os carrego nas costas e me entrego se for preciso. 

- Taehyun... - Changbin chama. - Não estávamos tentando não fazer barulho?

- Esquece isso, cara. - Taehyun gesticula com desdém, outra vez. - Não vai adiantar. É por isso que seria bom se Yoongi hyung, encarecidamente, chegasse bem rapidinho. 

- O que quer dizer?

- Eles não estão nos caçando desde que entramos. - Taehyun diz, calmo. Mas suspira antes de continuar. - O que significa que estão nos esperando sair. 

- O que você faz aqui?! - Kai grita antes mesmo de alcançá-lo. 

Chan hyung está extremamente pálido e parece confuso, mas mil vezes mais desperto. 

- Kai! Ele não escuta a gente... - Jeongin choraminga. 

- Chega! - Meu hyung grita. Em um momento de fraqueza nas pernas, usa a grade como apoio para se manter de pé. A mão firme abaixo das costelas. - É aqui, onde estão? - Ele aponta para o galpão. 

Yoongi assente, se apressa junto de Minnie para segurar meu hyung e afastá-lo do portão. Quando ele se move, apenas, é que posso ver os olhos assustados tão familiares me encarando. 

Jaelin me empurra, e tropeço meus passos tortos até mais á frente, onde ela pode me enchergar melhor. 

Em qualquer ocasião, Minah estaria tateando cada palmo do meu rosto, e alisando meus braços como se seu mundo pudesse ruir caso encontrasse algum arranhão. Agora, no entanto, na ocasião atual, ela está paralisada. 

As sardas no seu rosto não escondem o quanto suas bochechas estão vermelhas, exatamente como a base e a pontinha de seu nariz. As marcas escuras e pesadas abaixo de seus olhos me fazem ter certeza de que ela esteve chorando por muito tempo. 

Primeiro, eu recuo. Porque se ela não veio correndo preocupada até mim, então não posso imaginar qual será sua reação. 

O que eu faria se fosse alguém que eu amava?

Se fosse ela a sumir de casa, e me contar uma porção de mentiras, e aparecesse em um tiroteio na TV no dia seguinte, eu berraria aos quatro cantos o quão irresponsável ela é? A impediria de assistir seus programas favoritos, ou negaria seu direito de ir e vir além do portão de casa? A chamaria de suja, e a compararia a todas as pestes que são meus amigos tão sujos quanto?

Eu penso que estaria aflito e frustrado. Preocupado e exausto, como fiquei quando Hyunjin ainda estava desaparecido. Penso que me odiaria por não ser confiável o suficiente para que me pudesse dizer a verdade. Me sentiria horrível e impotente, e a odiaria agora. Mas estaria tão orgulhoso por saber que ela não se conforma... De alguma forma, brilharia em satisfação por saber que ela estaria bem - mesmo que por um tris, talvez por muita sorte - e se movesse conforme tudo o que acredita. 

Eu pensaria que a ensinei bem. 

Eu nunca seria capaz de sentir tanto de uma só vez. Nunca seria capaz de administrar tanto sentimento assim. Mas ela é uma mãe, e elas parecem ser criadas para isso. 

Ela vem, e me abraça. Eu não preciso me mover. Eu apenas preciso aceitar, porque ela é tudo o que eu tenho, e eu senti tanto medo, e tudo parece tão calmo dentro do seu aperto... Eu me sinto bem, mas também não posso deixar de pensar em como Chan hyung se sente sobre isso. 

Será difícil ver chegar o dia em que senhor Bang e seus filhos aprenderão a trocar uma dúzia de palavras sem se desentender ou esconder por trás de mentiras, revoltas, ou memórias dolorosas? Na verdade, eu acho que as memórias dolorosas é o que os deviam levar a um consenso, porque todos compartilham as mesmas. Perdas são um inferno, te fazem passar por uma fração dele com certeza, mas é o que te faz dar valor a o que você ainda não perdeu. 

Eu só aprendi isso agora. 

- Mamãe. - Eu digo, baixinho. 

Um ponto de fogo passa ao nosso lado, desviando por pouco de nossos ombros. O homem de paletó cinza segue para longe, olhando fixamente para a tela do celular. 

- Esse é-

- Namjoon. - Ela me responde. - Nós vamos ter que dar um jeito nisso tudo. 

- O que quer dizer? - Uno minhas sobrancelhas. 

Quando vejo o galpão, quando ela se afasta, pareço acordar de um transe. 

- Hyunjin e Binnie estão lá dentro. 

- Binnie? - Ela pergunta. 

- Longa história. - Dou de ombros. - Como a senhora chegou aqui?

- Longa história. - Ela copia meu gesto. - Para depois. Agora, precisamos urgentemente pensar em um jeito de resolver isso. 

- Precisamos tirar o Hyun de lá. - Chan hyung fala. Ele usa Kai e Minnie como apoio para se manter precariamente de pé. 

- "Precisamos"? - Yoongi ri. Ele encara as câmeras acima dos portões. - Como você pretende entrar assim, capenga?

- Se eu não entrar, eles não entram. - Chan hyung diz, outra vez. Sua voz firme como há algum tempo atrás, tão firme quanto a de seu pai. 

Yoongi hyung para. Ele suspira, as mãos firmes na cintura. Ao longe, Soobin e Yeonjun trocam um olhar divertido, Beomgyu rindo baixinho apenas por assistir ao lado de Jaeylin é curioso:

- O que foi? - Pergunta. 

- Esse tom aí. - Yeonjun aponta. - Eu escuto ele todo dia. 

Yoongi se vira, sorridente. As gengivas à mostra são adoráveis, e ele não pareceria tão ardiloso como se mostrou nas últimas horas, ou tão quebrado quanto da primeira vez em que nos vimos, se não fossem as marcas fixas de um coração partido - visíveis por todos os lados de seu corpo. 

- Eu entendo o motivo para te seguirem. - É o que o Suga hyung diz, antes de pular de uma vez nas grades e escalar o portão. 

Do lado de dentro, ele pousa quase graciosamente, sem fazer tanto barulho quanto levanta uma porção burburinhos de grilos que parecem se esconder no amontoado de grama ao lado do portão trêmulo. Dali, ele olha para as câmeras outra vez, nega com um gesto enquanto sorri. 

- Porra, Taehyun. Tem que deixar seu recado, não é? - Yoongi se refere às dobraduras de papel nas câmeras. - Maldito simbolista. 

Ele caminha tranquilamente, mas com cuidado. Mede seus passos quando segue para o outro extremo do muro. Ali, o galpão deixa de tampara a visão para o outro lado da avenida, o que significa que estará completamente exposto.

O seguimos do lado de fora, acompanhando seus passos com cuidado. Beomgyu quase grita quando ouve rosnados baixinhos, mas tampa a própria boca o quanto antes, se encolhendo mais atrás de Jaeylin. 

- Cães. - Ele anuncia e aponta para lugar nenhum, como se não tivéssemos ouvido a mesma coisa. 

- Estão presos. - Yoongi diz antes de caminhar tranquilamente até o portãozinho exposto ao fim do muro de grades. Ele o empurra e as dobradiças gritam, então Chan hyung pode entrar apoiado nos ombros dos outros dois. Suga hyung suspira profundamente quando o fecha, deixando Yeonjun e Soobin para fora com a promessa de um aceno que quase parece uma despedida. - É o seguinte. - Ele diz. - Estamos entrando em uma emboscada. - Informa com calma e decepção, mas completamente resignado. - Espero que aquele cara saiba mesmo o que tá fazendo com a Dal. - Ele ergue as sobrancelhas em nossa direção. 

Chan hyung fica alerta. Teria mais gente, e ele se esqueceu de como contar?

- De que cara estamos falando? - Ele pergunta. 

Kai o encara com um sorriso singelo antes de responder:

- Papai veio nos buscar pra ir pra casa, hyung. 

Bang Chan quase sorri, como eu posso sentir que fiz ao abraçar Minah. 

"Onde você está?", é a próxima pergunta programada da live. 

Hyunjin ri baixinho. 

- Essa é a matriz de sua majestosa Springs. - Apresenta e se curva. Pensa seriamente se seria bom que o público também o visse. - Sua, claro, porque você deve mantê-la com uma boa porcentagem dos seus impostos. Ela entrega o quanto você espera?

A porção de comentários continua subindo, escalando o visor como uma porção de formigas agitadas. 

"O que está acontecendo?".

"Quando isso começou?".

"É Aviões de Papel? O nome do usuário é novo?! Porque eu nunca o vi antes?"

"São aqueles que estiveram em Mency? Os que passaram na TV?!"

"Somos Aviões de Combate!"

"#Aviõesdepapel", é o que preenche metade da tela quando Hyunjin sorri satisfeito. 

Ele vai acabar com aquilo. 

Ele sente que pode ferir Baran gravemente, só precisa encontrar o lugar certo, o momento certo ele tem seguro entre seus dedos e com 50% de bateria - o celular de Chan hyung.

"Que horas são?", é a próxima pergunta. 

- Hora de esmagar uma barata? Seria engraçado dizer isso. 

Os comentários respondem que sim. Estão todos atentos. 

Tagarela como é, Hyunjin repassa os fatos enquanto caminha. Fala outra vez sobre tudo o que os eleitores de Baran chamam de "conspiração do partido contrário", explica suas linhas e se expõe como um eleitor consciente em uma piada - os comentários bombam em gargalhadas e concordâncias. 

- Claro, eu sou só sujeira. - Hyunjin diz. - Somos só sujeira, todo nós, e seremos varridos pra baixo do tapete. Eu estou ciente disso, de toda forma. 

"O que significa estar ciente disso?", um dos comentários pergunta. 

Hyunjin se sente discursando em um auditório. Sua voz ecoante contribuindo para a sensação quando ele vê a luz acesa em uma porta ao fim do corredor extenso, a parede que segue rente a seus passos se torna - a certa altura - uma janela grande e extensa de vidro temperado. Do outro lado, se abre um salão espaçoso e de pé direito altíssimo, uma porção de estruturas metálicas enfileiradas suportando pacotes e mais pacotes de massa. 

Sem mais corredores, o que enxerga como o holofote de seu auditório lotado parece a porta de entrada para o galpão de armazenamento. 

Ele suspeita tanto daquela porta ser a única aberta dentre todas as que viu pelo caminho.

- Significa que eu sei que, quando eu sair daqui, eu vou ser varrido para baixo do tapete. - Ele para. Concerta sua postura, porque a câmera ao fim do corredor o faz entender que não adianta se esconder, de qualquer forma. Se vão saber, então é melhor que saibam de cada detalhe. 

Hyunjin aciona a câmera frontal e acena para seu público. 

- Eu vou ser varrido, como o alguém sujo que invadiu a matriz de uma empresa importante. Mas não me importa tanto, porque vocês já terão visto e-

Ele é interrompido há cinco passos da porta. 

Taehyun toma o celular de seu punho e acena para a câmera. 

- Ah! Que deprimente. - Diz com um sorriso verdadeiro. Covinhas se afundando ligeiramente em suas bochechas. - Olá! Vejam só que ignorância, ele tentando tomar toda a atenção... Ei, Hyunjin! - Ele grita. Uma mão na cintura como se repreendesse um animalzinho. - Por que você é assim? Todo mundo sabe que Aviões de Papel não pode ser uma pessoa só. - Ele sorri para a câmera outra vez.

Qualquer um assistindo, pensaria que Taehyun estava conferindo sua imagem, mas estava aproveitando a visão da câmera para enxergar além do janelão de vidro enquanto Changbin segura firme a blusa de Hyunjin e o arrasta para a direção contrária. 

Como se sussurrar fosse essencial, outra vez, Taehyun diz baixinho para todos os espectadores:

- Querem conhecer seu candidato? Então vejam isso. - Então segue Changbin pelo corredor. 

- O que é isso?! - Hyunjin estapeia as mãos de Changbin. - Me solta, Dwaekki! Eu vim fazer algo, não vou sair de mãos vazias! O que estão fazendo?!

- JÁ NÃO FEZ O BASTANTE?! - O grito de Changbin é estridente. 

Hyunjin se assusta, paralisa quando os passos de Changbin também param. A mão de punho firme em sua blusa suaviza, os olhos irados de Changbin o encaram com mágoa implícita. 

- Fez o bastante. - Ele diz, mas o tom é resignado. - Eu pedi para confiar em mim, Hyun. Mas eu também preciso confiar em você! Poxa, você não pensa?! Olha pra onde nos arrastou, Hyunjin!

- Eu vim sozinho! Não pedi para que mais ninguém viesse!

- É claro que nós viríamos, porra! Você não tá sozinho! Você nunca esteve, mas se esquece de olhar pros lados. Eu sei que ela faz falta, mas não existiu só a senhora Bang na sua vida! Nós ainda estamos aqui, e nós te amamos pra caralho, porra!

- Eu sei disso! É por medo de ele me tomar o que ainda me resta que eu vim! Eu tenho que acabar de uma vez com isso ou-

É quando Binnie o puxa para perto, e tem que ficar na ponta dos pés para pressionar seus lábios uma, duas e três vezes.

- Já fez o bastante. - Ele repete. - Nós não vamos sair daqui, na mais próxima das hipóteses. Mas é o bastante que todos vejam do que ele é capaz. - Ele gesticula para o celular nas mãos de Taehyun quando ele passa.  

- Gente, não é hora pra DR. - O aviso é deixado para trás, para os dois. - Vamos logo.

- Me desculpa. - Hyunjin pede. 

Changbin nega. Usa a palma para acolher seu rosto. Hyunjin segue o contato como um íman.

- Você fez mais do que o necessário. Não vamos dar só uma porção de pó, vamos dar uma caçada inteira. 

Foi apenas o tempo de dizer, e o grito os mandando ficar parados veio da porta aberta. Um militar, segurando firme o revolver com as duas mãos, mirou e atirou no segundo seguinte. Changbin puxando Hyunjin para longe, outra vez, fazendo com que a bala se afundasse na parede atrás de onde estavam. 

- Merda! - Taehyun grita enquanto gesticula para Jisung e Minho ao final do corredor. 

Estão todos correndo, agora. 

São os passos que nós ouvimos  ao virar mais um dos corredores. 

Taehyun pode falar pouco, mas nenhum dos outros teria cabeça o suficiente para guardar o caminho de volta pelo labirinto de corredores. 

- Felix! - Changbin não se importa em gritar. 

Eu o acolho em meu abraço quando ele me beija. 

Talvez seja sua grande mania. Um tique nervoso? Beijar em momentos como esse?

Eu saio o puxando pelo braço, Hyunjin sendo arrastado por ele também. Talvez meus nervos não permitam que eu corresponda a esse gosto, em específico. Mas Hyunjin pode compensar por mim, não pode? Nunca existe um momento ruim para ele, sempre beijando. 

Eu não noto de imediato, mas enquanto ajuda Chan hyung a correr para fora, minha mãe me encara confusa pelo cantinho dos olhos. 

Talvez seja uma premonição de problemas. Mas eu quero tanto sair daqui pra resolver cada um deles...

- Tudo bem. - Yoongi, que guiava nossa corrida junto de Taehyun, para e se agacha contra uma parede próxima à entrada. - Todo mundo se abaixa. Channie, consegue se abaixar?

Chan hyung resmunga, faz uma careta, mas se abaixa também. A falta de paciência e a posição favorável o fazendo arrastar um pouco para longe das mãos trêmulas de Minnie, quase caindo em cima de Jeongin, quando chuta Hyunjin sem piedade. 

Há uma reclamação exagerada da parte de Hyun, como de costume. E, apesar da situação, é o que ergue uma risada de cada um de nós. 

- Peste! - Chan chuta, outra vez. Os dentes cerrados pela dor que não tem tanto lugar em meio à diversão em seu tom. - Que merda você tava pensando?!

Hyunjin ainda ri. Mas tritura a mão de Changbin em seu aperto quando sente os olhos marejarem. 

- Eu senti tanto medo de te perder. - Diz, honesto. - Me fez pensar que não queria perder mais nada, nem ninguém, então não deixaria Baran me tomar o que ainda tenho. - Ele funga, a voz embargada escondida por trás do sorriso vacilante. - Me desculpa. 

- Eu vou bater tanto em todos vocês quando a gente voltar pra casa... - Minah diz. 

Mais rápido do que poderia, Beomgyu levanta a mão acima da cabeça e anuncia sua defesa:

- Eu não tenho anda à ver com isso! Eu fui arrastado, claro!

O som de algo cortando o ar faz com que Taehyun se apresse em abaixar sua mão de uma vez, a puxando para baixo quando a bala acertou a parede há milímetros de distância. 

Taehyun usa um moletom rosa bebê. Por que Beomgyu repara nisso agora? Ele decide que o tom fica muito bem naquele novo amigo. 

- Isso não vai ser positivo de jeito nenhum. - Comento. 

Nós temos que sair daqui. 

Taehyun solta o punho de Beomgyu e atira de volta na direção de onde o ataque veio. A bala ricocheteia na parede. A luz é cegante, o som ensurdecedor da forma como ecoa. 

- Hyung. - É Beomgyu quem chama por Yoongi. - A gente já pode sair?

Os rosnados do outro lado da porta, que Yoongi deixa apenas semiaberta, respondem ao seu questionamento. 

- Ótimo. - Chan hyung suspira, seca o suor da própria testa e engole em seco. 

A graça, definitivamente, nos deixou. 

- Vão nos prender como bons arruaceiros. Não fizemos nada de bom. 

- Somos só jovens. - Jaelyn aponta. - Isso não é abuso de força?

- Não invente nada a seu favor. Não têm nada a seu favor, agora. - Yoongi rosna, os olhos apertados no que parece ser a tentativa de buscar uma saída. - Onde vocês se meteram... ONDE ESTÃO AQUELES DOIS?! - Ele perde a paciência. 

É exatamente quando a porção de estalos vem do lado de fora. Parecem tiros, mas são fogos de artifício. Os cães se afastaram da porta. 

- Yoongi! - A voz de Yeonjun vem do lado de fora. - Não tem movimento nenhum na delegacia, mas tem um carro enorme vindo pra cá.

- Um carro quadrado. - Eu sussurro baixinho. 

- Porra... - Hyunjin pragueja. 

Changbin e Yoongi se olham. É um coro quando largam no ar ao mesmo tempo:

- Puta que pariu a revolução...

- Tudo bem, tudo bem...- Yoongi respira fundo. 

- Yoongi! - Soobin o apressa. Aponta um dos fogos para o cachorro que rosna em sua direção. 

- Tá bem! - Yoongi grita de volta. 

Ele olha para Changbin, e é como se seu olhar se expandisse em direção a todos nós. 

- Confiam em mim? 

Não tem duvida quanto à resposta. 

- Minha vida. - É o que eu digo. 

Há um coro de concordâncias. 


SIM!

Esse é o penúltimo cap de AP...

Vejo vocês no último! Obrigada pela oportunidade de mostrar todo o rolê da minha cabeça perturbada.


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