Aviões de Papel |•HyunChangLix

By Tha_yoon

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Completa |•|HyunChangLix|•|+18 O que acontece quando um grupo de jovens se torna uma ameaça improvável a um... More

Avisos
🛫 Prólogo 🛬
Capítulo 1 - Meus amigos sujos ✈
✈ Capitulo 2 - As mentiras que os contei
Capitulo 3 - Do que eles sabiam✈
✈ Capítulo 4 - O que conheciam
Capítulo 5 - De todas as coisas que eu já ouvi ✈
✈ Capítulo 6 - O silêncio doeu mais
Capítulo 7 - Quando decidimos falar ✈
Capítulo 9 - Porque somos tempestade ✈
✈ Capítulo 10 - Somos baderna
Capítulo 11 - Somos Aviões de Papel ✈
Capítulo 12 - É a melhor forma de cair

✈ Capítulo 8 - O que urgiu, foram raios

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By Tha_yoon

ATENÇÃO:

Personagens, ações, profissões e eventos nessa fic são FICTÍCIAS e criadas apenas para entretenimento. Não tendo intenção de estimular ou promover qualquer comportamento narrado.

O que Yoongi disse pareceu derrubar de vez os ânimos que se ergueram durante toda a narrativa de nossos dias passados.

Os rostos se movem apenas para mastigar, enquanto continuamos no mesmo circulo no centro da "garagem", engolindo com dificuldade fatias e mais fatias de pizza sem mastigar direito, porque a fome nos assola tanto quanto o desespero nos fazia há tão pouco.

Hyunjin também come, com os olhos - tão sérios quanto os de todos nós - indecisos entre o lanche e algo mais ao lado. Os olhos de Changbin fazem exatamente o mesmo.

O olhar furtivo dos dois, não tem nada de "furtivo", e isso me diverte. Talvez em combinação ao alívio de finalmente reencontrar Hyunjin - minimamente bem -, e conseguir também confortar meu estômago agitado e inquieto por não conseguir comer mais cedo, eu sorrio para a falta de jeito deles.

Porque, se parar um pouco para observar atentamente, é quase tão lindo quanto é vergonhoso. Changbin tem os olhos grandinhos agora, apesar de serem um tanto estreitos, e eles parecem se abrir ainda mais todas as vezes em que pega Hyunjin olhando em sua direção, pouco antes de os dois desviarem o olhar ao mesmo tempo.

- O que, Yongbok? - Chan hyung me pega sorrindo. Curioso, ele olha para a mesma direção que me nota observar. - A-ah... - Ele, no entanto, não sorri como eu faço. - Hyunjin. Sua pizza é de quê?

- De calabresa, hyung. - Tão confuso quanto eu mesmo, ou talvez quanto qualquer um de nós, uma vez que a pergunta surgiu do grande nada, Hyunjin franze a testa ao responder. Os lábios formam um bico grande, por ainda estar mastigando quando o faz. - Que nem o seu, olha aí. - Aponta com os olhos e um gesto de cabeça.

- Ele não come de outro sabor. - Eu e Changbin respondemos ao mesmo tempo.

A sala parece ficar em completo silêncio, mesmo que a música que Yeonjun colocou nas caixas grandes de som ainda se erga entre as paredes frias da garagem continue tocando.

De repente, a quietude parece mais pesada que o normal, e eu não sei diferir se é por ser encarado por uma porção de olhos preocupados dos meus amigos sujos, se é por ver os olhos dos amigos de Changbin encará-lo da mesma forma, ou se o peso inteiro vem do que obstrui minhas artérias como parece fazer - também - à minha garganta.

Tudo o que eu respiro - o pouco que eu respiro - tem cheiro de veneno. Sinto arrastar pela minha pele, escorregadio e derrapante. Me repreendo quando descubro que é exatamente como eu descreveria "ciúmes".

Consigo entender, então, um pouco da preocupação de Chan hyung que o trouxe a fazer o questionamento inesperado.

Preferiria que não tivesse entendido, e os olhares de antes tivessem continuado em segredo entre os dois envolvidos - e eu.

- Que refeição maravilhosa pra cacete. - Yeonjun entrega em tom entediado. Ele se levanta, mais uma vez enquanto todos nós permanecemos sentados, e anuncia com a mesma animação: - Vou tomar banho primeiro e começar a me aprontar. As coisas lá fora já estão ficando agitadas.

- "Coisas lá fora". - Changbin pergunta, encarando à finco seu hyung enxerido. - O que tá começando a ficar agitado lá fora, hyung?

- Verdade! Você tá aqui não é, Binnie? - Yeonjun parece um pouco menos entediado.

- Esqueceu que eu tô aqui? - Changbin ergue as sobrancelhas como quem questiona a importância de sua existência, Hyunjin ri disso baixinho.

O peso incômodo perde intensidade em mim.

- Não! Idiota! - Yeonjun toma caminho de volta até nós para empurrá-lo pelos ombros. Instintivamente, Hyunjin ergue o braço que não segura a fatia de pizza, apenas para servi-lo de apoio caso venha a perder o equilíbrio.

Changbin não nega o gesto, mesmo que em nada perca o equilíbrio. Ele agarra com força o punho de Hyunjin, que parece respirar fundo pelo ato, ao que continua a agir normalmente enquanto devolve a Yeonjun:

- Idiota é sua mãe, avestruz! - Changbin puxa a perna de Yeonjun, encaixando os dedos por trás de seu joelho. Yeonjun usa seus ombros como apoio, outra vez, e em menos de alguns segundos os dois estão quase correndo em torno de todos nós que continuamos sentados.

- Não foi isso que eu quis dizer! É que eu tentei convencer Suga hyung a te chamar para o evento hoje, mas ele se negou uma porção de vezes. - Enquanto corre, Yeonjun tenta explicar entre lufadas de ar. - Isso, no entanto, é sua cara. Não tinha possibilidade, na minha opinião, de fazer parte sem ter você por perto... - Ele para de correr, por fim. Changbin se choca contra suas costas, então Yeonjun se vira devagar. Cuidado exalando de todos os seus poros, como de todos os seus atos e movimentos de seus olhos. - É algo que eu não me imagino fazendo sem você ou Junkyu por perto.

Changbin engole em seco. Hyunjin parece pronto para se levantar e ir até ele, mas para quando o vê morder os lábios e tentar sorrir.

Essa atitude, me parece um reflexo disforme de um passado não tão distante. O cuidado de Hyunjin para com Dwaekki, é o mesmo que aprendi assistindo Jaelin agindo comigo após a morte dos que eu tinha como família, e o mesmo que eu usei com Hyunjin quando o conheci e descobri sobre a senhora Bang naquela fonte em Mency.

Era um cuidado terno e macio, palpável e desesperado.

Ver que Changbin tentava encontrar uma maneira de sorrir após o que quer que tenha acontecido à sua irmã, arranca o resto do incômodo que me insiste em pesar os ombros. O sorriso orgulhoso de Hyunjin, aniquila de vez a sensação ruim.

- Parece que, por mais que meu hyung malvado não tenha concordado em me buscar, o destino parece achar o mesmo que você, Junnie hyung. - Changbin entrega um olhar brincalhão a Suga, que desvia os olhos para piscar uma porção de vezes e engolir a saliva acumulada na boca. Changbin sorri mais um pouco, de verdade dessa vez. - Mas que "grande evento" é esse? - Pergunta.

Todos os nossos olhos apontam para Yeonjun, esperando por sua explicação. Estamos quase empolgados, apenas pela forma como o hyung enxerido de Changbin sorri grande ao nos notar tão atentos.

- Ficamos sabendo sobre o grande ato de seus amigos em Mency, mesmo que não soubéssemos tanto dos detalhes. A explosão que ergueu parte dos protestos na cidade foi o bastante para vermos, apesar de as notícias sobre serem um tanto encobertas. - Yeonjun ergue as sobrancelhas. - Eu não sei o motivo ao certo para o movimento da, agora um pouquinho mais conhecida, "Aviões de Papel" despertar o desejo há muito adormecido de meu Yoongi hyung.

- O que quer dizer? - Chan hyung morde mais um pedaço de sua fatia, estreitando as sobrancelhas.

- Yoongi organizou mais uma "grande caminhada". - Soobin entrega sem muitos rodeios. A forma como fala, faz parecer que Yoongi tinha um grande costume de organizar tais eventos. - Se a cidade vizinha se rebelou contra Baran, e impactaram tanto a ponto de as notícias poucas alcançarem Auten, imagine bem o que um movimento vindo da cidade onde o próprio Kim Barata nasceu pode fazer à sua reputação.

- "Kim Barata"? - Jeongin ri baixinho, cobrindo a boca com a palma.

Ao seu lado, Seungmin ri também.

É quase lei, ao menos sorrir quando Jeongin está minimamente alegre. Quem quer que o fizesse sorrir, logo ele quem vimos chorar tantas vezes e por tanto tempo - e que julgamos não merecer passar por coisas demais -, teria nossa aprovação.

Mas, mesmo ante o sorriso grande de Jeongin, Jisung e Hyunjin estão quietos demais. E a mesma preocupação que Minho usa para encarar Sungie hyung, Changbin usa para encarar Hyunjin.

Eu sei o motivo. Por isso sou eu a perguntar:

- Você disse "cidade onde ele nasceu"?

- Bom... Sim...(?) - Soobin da de ombros. - A sede da Springs, sua querida empresa de massas, é bem aqui. Acho que chegamos lá com... uns vinte minutos de caminhada em direção à praça? - Ele procura a opinião de um dos outros.

- Do outro lado da avenida comercial. - Taehyun assente. - O quarteirão é deles. É bem grande.

Então é por isso...

Por isso as embalagens esmagadas contra o asfalto da rodovia pareceram tão familiares. São embalagens dos produtos da Springs, os caminhões cargueiros que se envolveram no acidente o qual Taehyun citou mais cedo enquanto vínhamos para a garagem devem ser da companhia.

O punho de Jisung se fecha com força. Minho hyung se apressa para segurá-lo firme entre os dedos.

Estamos perto demais.

Hyunjin também cerra os dentes, e esperamos algum tipo de reação parecida vinda de Chan hyung, mas não acontece.

Depois de Jisung, Chan hyung é o único entre nós que tem tantas razões para querer se vingar - ou, ao menos, nutrir alguma porção de raiva por Kim Baran - sem que seja algo discutível. Eu, em seu lugar, não teria o mínimo de controle que ele sempre tem quando o assunto Baran está à mesa, pronto para entrar em jogo.

Mesmo agora, sinto meus nervos pulsarem e é terrível. Eu quero atravessar até "do outro lado da avenida comercial", e jogar tudo o que pertence a Baran no chão. Eu quero explodir aquele lugar com meus gritos, fazê-lo ceder com a força dos meus punhos - nem que os precise quebrar no processo.

Eu quero abrir o buraco infernal por onde desejo, com todas as minhas forças, que Baran caia de ponta cabeça. E quero presenciar meu feito invejável, desde o momento vergonhoso em que seu maldito candidato deixe a postura ereta coberta de falsa perfeição para tropeçar nos próprios pés - na própria sujeira encoberta -, até o momento em que não passe de um pontinho minúsculo à distância mergulhando em um poço de fogo. Eu iria até o inferno junto dele, apenas para assistir ao show, e ficaria se fosse preciso porque não acho que me arrependeria em alguma altura.

Mas não Chan hyung.

Oh, não. Chan hyung tem tantos princípios quanto eu não procuro cultivar.

Eu costumava o enxergar como uma boa pessoa. Do tipo que não tem nada, mas é grata e feliz mesmo assim. Isso me irritava às vezes.

Eu costumava pensar assim, até o dia em que o vi tão desesperado pelo desaparecimento de Hyunjin.

No fim, a única conclusão a que posso chegar é que Chan hyung, diferente do resto de nós, não se move por puro capricho e intensão de alcançar algum tipo de justiça ou vingança. Chan hyung é movido por carinho, e isso me parece tão meloso quanto seus abraços forçados com Minnie.

Eu queria poder aprender a ser assim.

Diante a reação dos outros dois, meu hyung sorri grande e largo. Ele se levanta de onde está, caminha calmamente até estar ao lado de Hyunjin, e encaixa sua cabeça entre seus joelhos depois de dar a volta para chegar às suas costas. Ele brincou daquela forma, acariciando os cabelos de Hyun depois.

- Então, acho melhor nos prepararmos. - Diz. - Nós vamos com eles, não vamos?

Os olhos de Jeongin brilham. Ele segura os pés enquanto dobra o dorso para frente, a cabeça jogada pra trás de forma a afastar os fios de cabelo que atrapalham sua visão. Um feixe de luz passa por entre Soobin e Yoongi, que também se levantam também, e ilumina o sorriso enorme que ele abre.

Jeongin, de repente, é um ponto intenso de luz. Chama todos os olhos do lugar, e o sorriso refeltido nos rostos de todo mundo não é novidade nenhuma.

- Nós podemos ir, hyung? - Ele pergunta o que todos nós queremos saber.

É quase uma necessidade, ter como dada uma decisão de Chan hyung para seguirmos em frente.

- Como vai funcionar? - Quando pergunta, o olhar de Bang Chan quase muda de temperatura. Se torna duro, sério e quase amedrontador como o do senhor Bang.

Yoongi mordeu os lábios secos, um filete de sangue se desprendendo de uma fissura e quase escorrendo - se os dentes pequenos não capturassem para manchar o branquinho de vermelho.

Ele explicou o caminho. Se reuniriam na praça, mas não ficariam por lá. Sairiam caminhando pelas ruas ao início da noite, ergueriam bandeiras, gritariam as mesmas ofensas que sempre eram obrigados a ouvir. Foi o motivo do movimento, no entanto, o que nos fez resolver que iriamos de qualquer forma - mesmo que o céu desabasse na chuva prometida do lado de fora.

Baran era o foco, sim. Mas o motivo era seu último discurso -vazado, relacionado à comunidade LGBTQIAP+, há menos de um mês e meio. Algum funcionário corajoso teve a ideia de esconder o celular no bolso frontal enquanto fazia algo no escritório do velho Baran, a conversa breve que seu candidato com qualquer um do outro lado da linha.

Eu mesmo ouvi o áudio compartilhado em algum fórum na internet. Baran ria, parecia estar em uma ligação. Ouvia atentamente, e de bom humor, o que quer que o diziam do outro lado da linha. Posso mesmo imaginar o sorriso grande e detestável pintando seu rosto quando respondeu sem muito pensar:

- Isso é fácil. Apenas tire-os da linha de frente. Sabe como é, mesmo que os consideremos minoria, esse povo tem força. Mas apenas precisamos manter as aparências. Devemos encontrar o equilíbrio perfeito entre essa diferença, e as pessoas normais como nós dois. Mas é tudo uma questão de estratégia, entende? Os ofereça empregos e cargos importantes, mas dentro dos escritórios e longe das vistas. Os reserve qualquer cargo operacional em que não precisem interagir diretamente com o público, os mantenha longe das vistas e está tudo certo. Não vejo problema em um gay ser um grande líder administrativo da Springs, por exemplo, desde que tenha à sua disposição um ajudante competente que o possa substituir nas reuniões, então não precisará deixar seu escritório para nada. De qualquer forma, será visto como uma boa oportunidade confortável, e um trabalho árduo e justo em busca do respeito à diversidade. Essas pessoas não como nós, entende? São frias, egoístas e mesquinhas. Não podem simplesmente entender que não somos obrigados a aceitá-los, deviam respeitar isso e se portar.

Claro que não foi a primeira vez que a comunidade recebia esse tipo de comentário. Mas vindo do seu candidato perfeito?

Poucos eram os que não enxergavam as verdadeiras facetas de Baran nesse meio, mas depois do comentário infeliz seu candidato perdeu os poucos eleitores que tinham entre eles.

Como disse há um tempo, o foco de Jisung e Hyunjin - talvez também o de nosso hyung, mesmo que não diretamente - era acabar com Kim Baran como ele acabou com tudo o que tinham. O foco de Jeongin e Minnie, no entanto, estava ligado mais diretamente à comunidade e sua causa. Era o motivo para estarem na Aviões de Papel, e o que todos os seus planos envolviam quando escolhidos como arquitetos de nosso próximo movimento.

Ainda me lembro da última vez, quando Minnie foi escolhida pelo maior número de um D-20 que lançamos para escolher nosso próximo passo.

Ela sempre foi mais incisiva que Jeongin, mesmo que preferisse usar mais atos do que envolver discursos intensos - ao contrário de Minho e Jisung, que sempre amaram a desordem a ponto de se juntarem a ela; ou mesmo de mim, que sempre amei ver uma multidão se movendo desde que pudesse continuar assistindo na surdina. Minnie sempre foi adepto do silêncio culposo - aquele tipo de sentimento que se pode causar sem muito esforço, quando os próprios culpados conseguem enxergar seu erro sem precisar mais do que alguma pista mínima.

Ela tinha acabado de entrar na faculdade, sempre parecia animada quando nos reuníamos - como tinha se tornado raro acontecer à partir do momento em que todos nos formamos, e nos vimos na grande obrigação de ser mais responsáveis. Ela sempre sorria, falava sobre as novas amizades, e ouvíamos atentamente - claro, porque era raro ouví-la falar tanto naquela época, por mais que agora pareça se sentir muito mais confortável junto de nós como costumava ser apenas na presença do hyung.

Mas teve um dia, pouco antes de tirar o máximo em nosso jogo de azar - daquela vez na oficina de um dos amigos de Minho - e nos levar facilmente em seu planejamento, ela não sorriu quando chegou em casa. Na verdade, mesmo Hyunjin - que na ocasião me tentava roubar um pedaço de torta de limão por já ter acabado com a sua, em uma luta persistente e intensa no sofá da casa dos Lee - parou o que fazia para prestar toda sua atenção na forma como os olhos de Minnie pareciam fundo e mais intensos que o de costume.

Aquela aura irritada, quieta, quase explosiva... Nunca procuramos ver Minnie com raiva sem um bom motivo, porque era extremamente assustador.

Ao ser escolhida pelo dado, ela nos contou sobre um amigo na faculdade. Um garoto que gostou do batom que ela usava um dia, então pediu para experimentar a cor.

- Ele era de outra faculdade, o prédio ao lado do meu. - Ela disse. - Quando saí para comprar um café naquela noite, o peguei correndo entre os prédios, como se procurasse qualquer canto para se esconder. Um bando de idiotas o seguia, como se fosse muito divertido acuá-lo. - Quando contou, a voz saiu entre dentes.

- Minnie... - Chan hyung a conhecia tão bem, que soube o que viria a seguir mesmo antes que ela terminasse.

- O que você fez, noona? - Quase assustado, Jeongin perguntou.

- Eu os acuei também. - Ela assentiu, como fosse óbvio.

- Sozinha? - Jisung ergueu as sobrancelhas, as bochechas se inflando com o bico que seus lábios formaram.

- E eu, alguma vez, me impedi por estar sozinha?

Os olhos de Chan hyung brilharam, quase tanto como o sorriso enorme que tomou seus lábios. Era puro orgulho, do tipo que não se pode expressar com palavras.

- Eu retoquei minha maquiagem e os segui para uma lanchonete fora do campus, do outro lado da avenida. - Ela negou. - Não entendo como ainda existem pessoas que acreditam tão firmemente que palavras não podem machucar. Palavras não são nada, se não tomarem importância para quem as ouve. Mas podem tomar proporções gigantescas, para aqueles que se permitem ser inundados de tanto amor e empatia a ponto de não saber negar importância para alguém. - Parecia prestes a cuspir no chão, como pudesse mentalizar o rosto de um dos garotos do tal "bando" esperando por sua saliva bem ali. Como se ele não merecesse isso sequer. - Eram meras ofensas, e o meu conhecido tentava ignorar de todas as formas enquanto comia sozinho. Não estava acompanhado, porque não parecia o tipo de lugar que seus amigos conhecem ou que mesmo ele costumava frequentar. Na verdade, parecia como se a lanchonete fosse o primeiro lugar em que ele entrou para tentar se desvencilhar dos malditos paspalhos. Ele estava de costas, e quem o visse virado para os quadros da parede como estava não poderia ver como as mãos trêmulas se esforçavam tanto para desfazer do batom vermelho enquanto empunhavam força descomunal em um guardanapo.

Minho hyung socou a mesa.

- Babacas. - Vociferou. Ninguém se opôs.

- Eles continuaram rindo. - Minnie continuou. - Continuaram apontando e cochichando entre si como se não soubessem que ele podia ouvir. Foi a cena que eu vi assim que entrei. - Ela ergueu as sobrancelhas. - Então pedi uma limonada.

- Você não gosta de limonada. - Eu comentei.

Chan hyung deixou escapar uma risadinha, mudando o peso de uma perna para a outra ao abraçar Minnie pelas costas e pousar o queixo em seu ombro.

- Pedi um copo bem grande, Yongbok. - Ela detalhou. - Foi bem caro, era um ponto bem movimentado perto do campus apesar de nunca ter experimentado comer nada por lá.

- Conta. - Chan hyung a apressou. - Conta o que você fez. - O orgulho em sua voz não disfarçava metade da animação.

- Eu passei por eles com meu copo bem cheio. Me afastei com ele completamente vazio. - Não pensei ser possível Chan hyung sorrir mais do que já fazia, mas aconteceu. - Eram cerca de quatro, os idiotas que estavam juntos na mesa. Dois deles se molharam mais do que os outros. Ninguém acreditou quando eu disse que tinha tropeçado, mas a maioria dos clientes também não parecia acreditar que eles estavam ali só pra comer. - Deu de ombros. - Eu me sentei com o garoto, o paguei uma refeição com o que ainda me restava para o lanche daquela noite. Não ofi muita coisa, era realmente caro.

- Então são eles, o seu ponto? - Jisung perguntou.

- O que vamos fazer? - Minho o recebeu em seu colo, massageando sua cintura como fosse necessidade. - Vamos fazer um balde de limonada e esperar que passem pelo portão do campus? Podemos cobrí-los com farinha depois, Hyunjin, então você é Yongbok não vão precisar brigar por tortas de limão, vamos ter bastante pra todo mundo.

Jisung e Hyunjin riram.

- Não acho que é a cara dela. - Porém, foi o que Hyun disse. - Minnie não é do tipo que gosta de fazer estardalhaço.

- Ela jogou um copo gigante de limonada em um bando de idiotas, no meio de uma lanchonete. - Minho hyung franziu a testa. - Me diga que não gostaria da minha opção.

- Aquela ocasião pediu urgência. Se fizermos assim, vai ser visto como retaliação. - Minnie negou.

- Mas não é o que vamos fazer? - Jisung perguntou.

- Não quero retalhar ninguém, quero ensinar uma lição.

O sorriso de Bang Chan ainda triplicou aquele tamanho, tão assustadoramente que eu e Jeongin não pudemos fazer muito além de forçar um sorriso quando recebemos os olhinhos quase fechados em nossa direção.

Nós seguimos o grupo de idiotas em um sábado, em um de meus intervalos no estande. Talvez pudesse ser considerado sorte ter apenas um shopping na cidade, consequentemente o único ponto de encontro em comum entre a maioria de pessoas com a nossa idade em um bom dia quente próximo ao fim de ano.

As provas semestrais se aproximavam, precedendo os preparativos para as festas de fim de ano - dali há pouco mais de dois meses. Estavam felizes demais, com o que parecia ser o resultado dos testes que tinham recebido, para notar que os seguíamos fielmente. Nos sentamos em uma mesa próxima quando fizeram o mesmo na praça de alimentação, Hyunjin tinha os olhos grudados no celular, digitando algo incessantemente enquanto a expressão séria o tomava de todas as formas - desde o rosto carrancudo e o bico repuxando os lábios, até a postura tensa.

- Qual é o problema? - Perguntei baixinho ao seu lado, agradecendo brevemente quando Jisung me passou o batom e o espelho pequeno. - Aconteceu alguma coisa com seu amigo? - Gesticulei para o celular em suas mãos.

- Dwaekki tá bem. - Ele respondeu. - É só que... - Engoliu em seco.

- "É só que..."? - Pedi para que continuasse. - Ele fez alguma coisa errada?

- Não. - Mas ele hesitou antes de responder, mordeu os lábios e abaixou os olhos enquanto negava com um gesto. - Tá tudo bem. Esquece.

O celular foi deixado sobre a mesa, quase desdenhosamente. Foi o tempo que levei para terminar de me maquiar, e entregá-lo o batom vermelho junto do espelho.

- Droga! - Mas ele se frustrou rápido demais.

Nas duas breves tentativas, a cor de um vermelho escuro e quase morto - tão marcante em contraste à sua pele, pálida demais - riscou boa parte do que não eram seus lábios. Não pude deixar de rir da forma como ficou irritado por isso, e estendi minhas mãos,

- Vem aqui. - Segurei sua mão, posicionando melhor o espelho.

- O que tá fazendo?

- Me deixa fazer isso por você. - Pedi. - Assim pode ver melhor, e ter certeza de que não vou desenhar um pinto na sua bochecha. - Ergui minhas sobrancelhas, o tomando o batom vermelho e puxando pelo queixo. - Vira pra cá.

Ele sorriu um pouco.

- Eu saberia se estivesse desenhando um pinto na minha bochecha, mesmo sem o espelho. Não acha?

- Fica calado. - Reclamei. - Não tem como eu fazer isso sem alcançar o mesmo nível de frustração que o seu de agora há pouco, se continuar falando.

- Eu te incomodo? - Perguntou, tentando manter os lábios o mais imóveis possível. - Eu falar, te incomoda?

Respirei fundo, sorrindo satisfeito assim que terminei, o entregando o batom outra vez para que ele pudesse passar para Chan hyung ao seu lado.

- Na verdade, me incomoda você não falar mais. - Respondi sua pergunta anterior depois de um tempo de silêncio.

- Você quer que eu fale mais? - Ele riu, incrédulo.

- Não desse jeito. Acredite, você é insuportável. - Respondi, atento ao grupo de amigos na mesa ao lado, e ao olhar quase furioso de Maya enquanto passava por entre o corredor de mesas um pouco distantes de onde estávamos. - Será que ela me viu? Se me viu, então vai ficar irritada.

- Então quer que eu "fale mais", do tipo a senhora Maya? - Perguntou. - Quer que eu te conte o que sei sobre os outros? Isso é fofoca.

- A senhora Maya não fala dos outros, ela quase não fala sobre nada. - Neguei. - E fofoca é uma coisa que você também já faz.

- Então o que quer que eu fale?

- Tipo...- Suspirei, cruzando os braços. - O que você pensa?

Ele me encarava. Seus olhos se apertaram em confusão, mas davam a impressão de não focar meu rosto inteiro.

- Como assim? - Perguntou, mais baixinho do que já falávamos.

De fato, ele parecia muito focado. Talvez focado demais para entender o que eu queria fizer.

- O que tá pensando. - Tentei ser mais claro. - Quero que me diga o que você pensa. Quando estiver sentindo algo que te incomoda. - Apontei para o celular sobre a mesa. - Quando algo te deixar irritado. Eu quero que me conte o que acontece pra te tirar do normal. - Suspirei. - Às vezes, quero que me conte sobre esse peso estranho que toma os seus olhos e te faz ficar tão distante. Ou sobre o que você sente sempre que Baran se torna assunto em nossa mesa, e seus punhos se fecham por instinto. Eu quero que você me conte o que você sente, e confie o bastante em mim para contar qualquer coisa, e não ter a desculpa de ter que carregar tudo sozinho sempre.

Ele pareceu afetado por um momento. O breve momento em que seu foco se perdeu, e eu soube que sua visão tinha ficado distorcida demais para realmente enxergar o que quer que estivesse encarando em meu rosto. Mas não durou muito, apenas quinze segundos - talvez -, para que voltasse a sorrir largo do jeito falso como eu vinha aprendendo a odiar.

- Ouviu o que você disse? - Negou em um gesto de cabeça. - Eu não acredito que teve coragem de dizer isso, Lix.

- Eu não men-

- Eu te conto tudo sempre e-

- Você costumava me contar tudo. - O interrompi com a concordância parcial. - Costumava me contar tudo sempre. - Era a nossa verdade desde o dia em que realmente nos falamos naquela fonte na praça. - Mas eu não sei o que vem te fazendo se afastar, ultimamente. - Nessa última, no entanto, não cabia meio termo de verdade.

Eu sabia sim, o motivo para Hyunjin estar se afastando. E isso (eu saber) doía tanto quanto o fato de que estava tudo dando certo quanto a tudo. Foi a primeira vez que doeu tanto, saber que algo estava dando certo.

- E-eu... - Ele tropeçou nas palavras. - Não sei o que deveria fazer.

- Sobre estar se afastando?

- Sobre você me dizer que tá incomodado com isso. Aqui e agora. Mas parecer não se importar muito quando estamos fora da bolha que criamos pra nós dois.

- Do que tá falando? - Eu sabia do que ele estava falando.

- Vamos, Lix... Você sabe que eu sou do tipo de pessoal grudenta. Não largo ninguém a quem me apego, a não ser que esse alguém me dê sinais de que não se sente confortável com meu grude.

Naquela época, ele já "morava" no meu quarto. Tinha uma cópia da chave da porta. Espalhara seus lápis de desenho e suas folhas de papel por toda a minha escrivaninha. Mas nunca estava em casa quando eu estava, a não ser à noite. Oh, não... à noite ele ainda me abraçava durante o sono inquieto, pedindo sem palavras pelo abrigo e segurança os quais eu nunca fui forte o bastante para negar.

- Eu tenho certeza de que já te pedi desculpas por aquela noite. - A simples menção ao assunto me fez apetar os olhos. Descruzei meus braços, para empurrar os punhos contra minhas pernas. O encarei, pedindo sem palavras para que falasse mais baixo, ou mesmo parasse de falar. - Eu te pedi desculpas muitas vezes. - Ele realmente o tinha feito, mesmo que a culpa nunca tivesse sido sua. E talvez por isso eu sequer conseguia ouvir seus pedidos, de fato. - Mas você continuou em silêncio em todas elas. Nunca disse nada sobre, nem tocou no assunto.

- Não precisamos falar sobre isso, Hyunjin.

Ele concordou com um gesto. Seus olhos vacilaram, deixando meu rosto depois de tanto tempo.

Mas sem eles mirados em minha direção, sem seu brilho me iluminando, eu me senti nu.

- Hyunjin. - Chamei.

Ele negou.

- Tem razão. - Disse. - Você me entende agora? "Não precisamos falar disso", então passamos a não falar mais sobre suas lembranças do vovô Lee e sua comida salgada, ou da sua raiva infundada por todos os tons existentes de vermelho, ou sobre como se sente culpado por não saber cozinhar direito para fazer uma maldita marmita pra senhora Lee. - Ele suspirou. Quando seus olhos me encontraram, outra vez, não brilhavam como de costume. Apenas refratavam, e refletiam, as luzes fluorescentes da praça. - Você tá se afastando, eu tô só te correspondendo.

Doeu.

Machucou de verdade.

Me fez questionar todos os motivos que tive, para nos levar até onde nós estávamos naquele momento. Só para concluir que nunca passou do singular, e nem em imaginação conseguiria fazer de meu único motivo um plural.

Eu tinha medo.

Eu tenho medo.

Eu tenho medo de ser visto, e de ser criticado, e ser motivo de comentários sussurrados, como fizemos naquele diz com os garotos da mesa ao lado.

Como planejado por Seungmin, nós falamos de suas roupas, e de suas notas, e mesmo de sua reputação em uma parte do campus onde a maioria de nós nunca tinha pisado antes. "Sussurramos" para que pudessem ouvir, uma porção de ofensas desnecessárias, e aproveitamos meu contato com os funcionários para nos impor como "pessoas de casa" que bem podiam estar confortáveis onde estávamos, tão diferente de como os fizemos se sentirem.

Completamente desconfortáveis, sabendo claramente que eram o alvo de nossos comentários mesquinhos, eles finalmente se levantaram para sair e olharam em nossa direção. Foi quando voltamos a conversar normalmente, como se os comentários sempre tivessem como alvo um ao outro na nossa roda de amigos, e eles estivessem ouvindo demais. Não olhamos em sua direção - como eu não fiz a Hyunjin pelo resto do tempo que levamos para concluir aquele plano -, mas soubemos que olharam para a nossa quando seus passos se tornaram mais lentos, talvez por ver o batom vermelho que todos nós usávamos - o mesmo que aquele garoto que seguiram até a lanchonete também usava.

Fazê-los se sentirem anormais, como fizemos. Os deixar tão desconfortáveis, como fizemos. Podia não parecer retaliação quando visto pelo lado externo, onde todos enxergaram apenas um grupo de amigos se divertindo entre si enquanto outro grupo entendeu as coisas de uma forma errada. Mas para nós, de dentro, da Aviões de Papel, que fizemos parte do plano e o escutamos atentamente antes de executar, era claro como era isso: apenas retaliação.

"Tudo o que vai, volta". Minho disse à uma altura da caminhada de volta para a casa de Jisung, onde uma mesa farta nos esperava para o jantar. Mas o fato de ser ele, falando naquele tom, apenas me confirmou de que foi - mesmo sem o uso de palavras ou ações diretas - uma vingança.

Era sempre isso no final, não era?

Mesmo que não fosse bem uma "retaliação", sempre seria sobre "vingança". Porque todos dizem procurar por "justiça", mas se ela não existe como o significado da palavra em si, então pode ser substituída pela de valor semântico mais próximo. Não é?

- Vai ter uma festa do Jackson - Foi o que ele me disse, mais tarde naquele dia, depois que terminou de ajudar Chan e Minho hyungs a lavar as louças como agradecimento à vovó Han pelo jantar.

- Hmm.

- Eu acho que vou.

- Você sempre vai.

- Sempre são boas. - Sorriu. - Ele me disse algo estranho.

- Quem? - O encarei, confuso. Era a primeira vez que trocávamos palavras desde a discussão de mais cedo. - O Jackson? - Franzi o cenho. - Ele vive chapado, mesmo.

Ele riu, e me senti leve.

Era sempre assim, sempre que discutíamos.

Não conseguíamos deixar as coisas pesadas por tanto tempo. Nunca.

- Idiota. - Me empurrou pelo braço, se sentando ao meu lado no banquinho de concreto grudado à parede na calçada. O pequeno toldo sendo a única coisa a impedir a chuva fininha de nos alcançar, mas as poças de água na rua eram amedrontadoras todas as vezes em que um carro passava por nós. - Dwaekki me disse algo estranho, e eu não sei como reagir.

Respirei fundo.

- Bom... - Engoli em seco. - Faça o que fizer, apenas não fique em silêncio. Pode se mover como desejar. O afaste, ou o acolha. Escolha sua. Só não o deixe perdido.

Ele assentiu devagar. Mordeu os lábios.

Pela primeira vez, a barreira de desconforto que criamos em nossa bolha mais cedo retornou com intensidade total em menos de poucos minutos.

- É como um dos conselhos sorridentes de vovó Han, não acha? - Me lembrei da senhora de cabelos grisalhos sorrindo abertamente na mesa de jantar, contando histórias do passado enquanto procurava por bons conselhos para entregar como moral. - "Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço", foi o que ela disse.

- Hyunjin, podemos apenas não falar sobre isso?

- Podemos. - Ele respondeu rápido demais. - Mas me deixa te pedir uma coisa, Yongbok?

Engoli em seco.

- Hmm. - Murmurei.

- Não me peça para não me afastar, se quer continuar nesse caminho. - O tom era de um pedido desesperado. - Não me faça perguntas pessoais, e não me peça para conversar com você, porque eu não sei fazer isso.

- "Isso", o que?

- Eu não sei apagar o que aconteceu, e não sei fingir que tá tudo bem como você quer que eu faça. Se não vai me perdoar, então não tenta fazer parecer que a gente nunca cruzou a linha antes.

- A gente não "cruzou a linha". - Neguei. - Não aconteceu nada, Hyunjin.

- Se eu não tivesse me afastado naquela noite. Se eu não tivesse te pedido para parar, não aconteceria nada?

- E-eu... Não quero falar sobre isso. Eu tava bêbado.

- Tudo bem, Yongbok. Tudo okay. - Ele assentiu, se levantando. O ambiente pareceu mais frio, mesmo mais gélido do que quando ele não estava ao meu lado mais cedo. - Mas não tenta se convencer de que é se afastar o que você quer. E não me culpa por estar distante, se sabe bem disso. Se tá tentando fazer isso pra se sentir menos culpado, saiba que isso me machuca pra caralho. Me machuca muito, ouvir você me culpar, só pra te fazer sentir menos mal. - Ele secou a lágrima grossa que escorreu por sua bochecha. Um pingo gelado de chuva caiu na pele exposta de meu braço. - Eu não ligo, se quiser me afastar. Só não se ache no direito de me quebrar mais do que eu já sou.

- Hyunjin, eu-

- Eu tô indo pra casa.

- Me espera! Eu vou com você, vou só-

- Eu tô indo pra casa, Yongbok. - Ele gritou.

Chan hyung parou na porta. Sequer vimos que ele saía.

- Eu vou dormir com meus irmãos. - Hyun continuou.

- Você odeia aquele lugar. - O relembrei. - Saia da chuva, tá ficando forte!

- Chan hyung... - O tom choroso era uma súplica. - Me leva pra casa? Eu posso dormir com você, hoje?

Nada me machucou como a forma como ele me tratou no dia seguinte. Mesmo vê-lo chorar, naquela noite, sabendo que eu era a causa de suas lágrimas, não doeu tanto quanto vê-lo me tratar como se nada o tivesse chateado, no dia seguinte.

Todas as suas ações, e todos os seus passos, me diziam claramente que faziam seu máximo para não perder aquilo: seu lugar seguro no meu quarto, minha amizade.

Por fim, me esforcei para fazer com que tudo parecesse normal outra vez. Retomamos as rédeas de nossa amizade intensa, completamente rodeada da mais pura falsidade.

É o mesmo sentimento conflitante, até os dias de hoje. Como viver na divisa frágil entre o "me sinto tão seguro aqui" e o "me perdoe por te quebrar a cada segundo".

Eu me sinto extremamente grato por ainda tê-lo ao meu lado, mas completamente culpado por tudo o que o fiz. Quero mantê-lo por perto e protegê-lo, mas não suporto mais ouví-lo quebrar um pouco mais em todas as vezes que nos aproximamos.

É um alívio que, na presença de Changbin, no entanto, não pareça um problema para Hyunjin estar por perto. É Dwaekki, quem culpo por não termos nos estranhado - ou mesmo nos afastado repentinamente - depois do alívio do reencontro e do cochilo tranquilo. O que vinha acontecendo ultimamente, apesar de nossos momentos mais carinhosos que mais pareciam guiados pelo instinto.

É Dwaekki, quem eu culpo por mantê-lo completo mesmo que eu - o causador de seu aperto - esteja por perto.

Por isso sorrio como um idiota, agora? Debruçado sobre o peitoril de uma das janelas altas e largas do andar superior da garagem, um um Luck Strike de menta firme entre os dedos, enquanto penso em como Hyunjin evitava o olhar de Changbin mais cedo.

- Sozinho, outra vez, Yongbok? - Por isso quase morro quando sua voz me alcança, tão de repente. - Pensei que já tínhamos dado um jeito nisso.

- Meu gosto pela solidão nunca mudou. - Digo. - Você que passou a me arrastar para os lugares.

- Você nunca gostou de ficar sozinho. - Ele nega. Me pede um cigarro. - Se lembrou de trazer seu "suicídio fracionado", mas não trouxe cuecas? - Perguntou, se lembrando de meu desespero mais cedo, quando me deparei com a vergonhosa coleção de peças furadas que enfiei na mochila sem conferir antes.

- Cuecas são importantes?

- Não pra quem sempre consegue um "sim" para tudo o que me pede. - Nega, tragando depois de acender. A fumaça sai por suas narinas quando continua: - Eu não sei te negar, mesmo as roupas de baixo. - Parece desaprovar a própria conclusão.

- Isso é um problema?

Ele suspira.

- O que aconteceu? - Pergunta, por fim. - Por que motivo trouxe uma porção de cuecas furadas?

- Alguém desapareceu, entende? Era uma urgência.

- Eu sou tão importante?

- Mais do que minhas cuecas.

Ele ri, mais uma vez.

- Mas você não é o bebê da "senhora organizadinha"? - O tom zombeteiro se vai tão antes quanto surgiu. - Quero dizer... Jaelin não arruma suas malas sempre?

Trago mais forte o cigarro entre meus dedos. Ergo minha cabeça e espero que a fumaça saia por minhas narinas. Impaciente demais para esperar que faça seu caminho por inteiro, chego a soprá-la entre os lábios, para cima a ponto de poder ver o desenho meio azulado que faz ante o céu do fim de tarde.

- Eu e Jaelin não somos mais nada. - Digo. - Não somos mais importantes.

Ele assente.

- Eu sinto muito.

- Por favor, não sinta.

- Foi minha culpa?

- Não foi sua culpa. Foi culpa minha.

- O que você fez?

- Eu não a amava mais.

- Por quê?

- E-eu...

Penso em dizer que isso não é importante. Mas estaria mentindo enormemente.

- Hyujin. - Chamo, por fim.

Ele não olha em minha direção quando murmura:

- Hmm.

- Eu não a amava mais.

Espero ser o suficiente para que entendesse o resto.

Mesmo que seja um tanto egoísta demais, esperar que ele entenda o resto por si mesmo.

Depois do dia em que discutimos, na noite em que Chan hyung passou por mim na porta sem sequer dever um mínimo olhar para atender aos seus pedidos para irem embora, não falamos mais sobre o incidente infeliz sobre as luzes de neon em uma das festas do Jackson para a qual ele me arrastou. Nunca mais tocamos no assunto, porque a forma como ele agiu no dia seguinte era como se a discussão - e os gritos, e a culpa por tê-lo feito chorar - não tivessem, ou sequer precisassem existir.

É como se o acontecimento não precisasse existir. Passara a ser um "não-acontecimeto".

Não me machucou por um tempo. Afinal, fui mesmo eu quem pediu para que Jaelin fosse mais presente depois disso. Fui eu quem pedi para que ela ficasse mais grudada quando próximo dos meninos, e fui eu quem a carreguei para mais reuniões do que já costumava fazer. Fui eu quem a usei como desculpa para afastar Hyunjin. Fui eu quem a usei para machucá-lo tanto, pensando apenas em nos manter em nossos lugares.

Devíamos nos manter em nosso lugar seguro. Devíamos manter nossa amizade invejável.

Não era o bastante, mas era como devia ser.

É engraçado pensar isso agora, quando me encontro no ponto mais claro da prova de que eu - definitivamente - estou cansado de tudo "como deve ser".

Cheguei até aqui, ao lado da Aviões de Papel, porque meu pavio não é tão curto quanto o de Jisung ou Minho. Eu não tenho um pavio, porque sou a própria explosão. Só nunca tinha aprendido antes que posso me permitir explodir, se isso me faz bem. Só nunca tinha aprendido antes que, manter tudo guardado para mim mesmo e me esforçar tanto para manter as coisas no lugar, da forma como não poderia me fazer mais infeliz, poderia fazer tão mal a tantas pessoas à minha volta.

Se é certo explodir, então esse é o momento.

- Você não a amava mais. - Como resposta ao que eu disse, é tudo o que ele diz.

Hyunjin ainda está vestido nas roupas emprestadas de Soobin, que caem pelo seu corpo como um lençol - de tão grandes. O tom azul real da camisa se camufla com o céu, meio escuro e meio avermelhado pelas nuvens pesadas que se arrastam do horizonte. A calça branca, listrada de azul alice, faz suas pernas parecerem mais longas do que realmente são. Era para me parecer cansado, ou minimamente acabado. Mas mesmo as marcas escuras abaixo de seus olhos vermelhos, ou os arranhões poucos - quase imperceptíveis - nos antebraços, expostos pelo movimento que leva o cigarro aos seus lábios outra vez, o fazem parecer menos perfeito em todos os sentidos.

Estar ao seu lado outra vez, depois do tempo que tomou de férias e o susto que passamos desde a última madrugada, me faz sentir ainda mais leve do que o usual. A sensação de compartilhar, de tão perto, o mesmo ar que ele traga para seus pulmões como faz a um de meus cigarros, é quase tão reconfortante a ponto de ter a certeza de que faria qualquer coisa para que nunca mais tenhamos que ficar distantes por tanto tempo. Me sinto, como de costume, envolto pelo ar rarefeito que vem dos pulmões de Hyunjin, e é o bastante para me manter de pé mesmo estando tão quebrado.

- Hyunjin. - Chamo outra vez.

Ele se vira, agora. Caminha para o outro lado do corredor e apoia as costas no peitoril que serve como proteção, sobre o qual ainda me curva para fingir encarar o andar de baixo.

- Sim, Yongbok. - A resposta em junto de um suspiro profundo.

- Por que continua com isso?

- Do que estamos falando?

- Da nossa "amizade invejável". - Eu suspiro, dessa vez. Me viro de costas para a janela e lanço o cigarro para o andar de baixo sem pensar muito, e há uma reclamação audível de alguém que claramente foi atingido pelo meu ataque impensado, mas eu não ligo. - Por que continuamos com isso?

- Não era o que você queria? - Ele pergunta, honesto. - Pensei que era isso, o que quis dizer naquela noite. - Ele está tentando sorrir. É tão ridículo quanto ele tenta sorrir. É tão ridículo como quero desaparecer sempre que vejo o quão empenhado ele se faz em tentar me confortar, e confirmar que tudo está bem, quando apenas se machuca sempre que se força a ficar por perto. - Mas nós não precisamos falar disso, Lix. É só continuar, tá tudo be-

- Você tem todo o direito, e eu te dei todos os motivos pra ir embora. Pra reivindicar o direito de não me ver mais, nunca mais... Por que ainda continua com isso, se eu te machuco tanto?

- Por que tá pensando nisso agora? - Ele muda o peso de uma perna para a outra, desconfortável. O cigarro vai ao chão, e ele se apoia no corrimão com os cotovelos enquanto o pisoteia. - Acabamos de nos encontrar, eu não poderia estar mais feliz e aliviado! Não tá feliz em me ver?

- Claro que sim. - O encaro, com urgência. Apenas para que tenha certeza de que digo a verdade.

- Então por que trazer isso agora? - Eu desvio meus olhos de novo, porque os dele me pedem a verdade outra vez.

E eu quero dizer a verdade, mais que nunca. Estou realmente cansado de como as coisas têm sido. Mas, aprendendo que posso explodir quando precisar, também aprendi que o grande motivo para me permitir seria poupar o incômodo das pessoas que estão à minha volta. Eu me permitiria expor o que sinto, me permitiria ser feliz, se elas pudessem ser felizes também.

Não sei se dizê-lo a verdade que me pede agora o faria feliz.

- Hyunjin. - Chamo outra vez, mas seus olhos não me abandonaram em momento algum.

- Qual a necessidade de dizer meu nome tantas vezes, Yongbok? - Ele ri baixinho, e tem o tom ruidoso disfarçado de desespero. - Eu tô aqui.

- Tenho medo de que suma, outra vez. Então me responda em todas as vezes em que te chamar. - Fecho os olhos, e os sinto inundando sem um bom motivo.

Quando os abro outra vez, preciso morder meus lábios para controlar o que não quero que molhe meu rosto. É nesse momento que vejo Changbin passar por Yeonjun e Soobin, saindo do cômodo que nos foi apresentado como o banheiro pequeno e apertado da garagem.

Ele veste vermelho. Está completamente vestido em vermelho. Desde a blusa de mangas cumpridas, até a calça de moletom em um tom bordô quase morto. Noto que combinaria, perfeitamente, com a cor do batom bordô de Minnie.

O que me incomoda em toda a imagem, no entanto, não é o tom da cor que em nada me agrada. Mas sim o fato de não me desagradar em porção alguma, quando é Changbin a usá-lo.

- Hyunjin. - Chamo, mais uma vez.

Posso ver de relance, o momento em que ele engole a própria saliva antes de me responder:

- Sim, Lix. Tô aqui. Não vou a lugar algum.

- No que tá pensando agora?

Eu me viro em sua direção, o chamo sem palavras para que olhe para onde também estou olhando.

Ele faz, e não demora a encontrar o mesmo pontinho vermelho que eu encarava há pouco.

Agora sim, eu me arrisco a encarar seu rosto.

Não me surpreendo ao ver o sorriso honesto, em que seus lábios se abrem mesmo de forma hesitante.

O comentário vem impensado, natural e honesto. Responde à minha pergunta da mesma forma.

- Ele não fica bem, vestido de vermelho?

É raro. Mas já se pegou no exato momento, no meio do caminho de uma mudança um tanto brusca, em que tudo o que você tinha como certo deixa de existir?

Todas as suas garantias, deixam de ser garantias. Passam a ser lembranças recentes de algo confortável, que costumava te fazer sentir seguro.

Depois de anos, eu sinto que estou sozinho de vez.

Não tenho mais o conforto da relação que cultivava junto de Jaelin, mesmo que não me trouxesse expectativas para o futuro - como não parecia trazer mesmo a ela. Não tenho mais a animação para voltar para casa, e para encontrar os passos de todos me esperando pelos corredores inquietos e abarrotados de gente. Não tenho mais o ódio costumeiro por vermelho em todas as suas variações...

Não tenho mais o que costumava ter como certeza. Sinto como se eu, "o quem" eu costumava ser, tivesse me abandonado.

Depois de anos, eu sinto que estou sozinho de vez.

Preso a tudo o que costumava me pertencer por uma linha frágil e fina demais, pronta para se partir à mínima ação de uma brisa mais intensa. É isso o que eu deixo acontecer, por fim. Eu deixo que ela se parta, e eu deixo que tudo parta, e eu me deixo quebrar outra vez ao sair do casulo quente e protetor do ar rarefeito que envolve Hyunjin.

Porque eu não poderia dá-lo motivos para sorrir tão honestamente outra vez, como Changbin faz apenas por se vestir em vermelho. Não é justo tê-lo machucado tanto, e mantê-lo por perto apenas para me sentir confortável.

- Porque não é justo. - Ele diz, de repente, me olhando outra vez.

Só então me apresso para secar o que queria evitar, mas escorre por minhas bochechas.

Porque tirar minhas conclusões, é como me despedir de Hyunjin. E o que ele diz a seguir só me faz ter certeza da decisão que, até agora, não passava de uma possibilidade dolorosa demais.

- Eu continuei com isso porque não seria justo com você, não acha? Eu continuei com nossa "amizade invejável", porque seria cruel demais me arrancar de você. Já perdeu gente demais, Yongbok, não sabia o que aconteceria se me perdesse também. Afinal, eu tenho muito medo de te perder, também. - Ele me pedia um comentário honesto, outra vez. - Seria cruel demais, arrancar você de mim. Nada aconteceu para que isso tivesse que acontecer, não é? Sempre fomos bons como amigos.

Não quero que ele fique por perto por obrigação. Não quero ser um dever. Não quero ser um trunfo.

- Sempre fomos bons como amigos. - Eu repito, porque preciso me convencer disso. Porque preciso me convencer disso, para convencê-lo do mesmo. - Sempre fomos bons, como amigos.

Ele assente, e vejo seus olhos flutuarem para o andar de baixo outra vez. Ele ainda está voando, mas eu estou caindo.

Avião de papel, que voou alto demais...

- Ele fica lindo, vestido de vermelho. - Concordo com seu comentário anterior. Porque preciso conduzi-lo.

Precisamos nos manter em nossos papeis, ao fim das contas. Não acha?

Se Hyunjin não for sozinho, então posso ajudá-lo a ir. É o mínimo que posso fazer.

- Eu vou tomar meu banho. - Digo, e recebo um sorriso hesitante como resposta.

Talvez por ter finalmente visto os sinais recentes em meus olhos, o sorriso não se move mesmo quando ele pergunta baixinho:

- Andou chorando, Yongbok?

Eu também me esforço para sorrir. Eu odeio a sensação que aperta meu peito agora.

É isso o que ele sente, sempre que se força a sorrir para mim?

Me perdoe, Hyunjin.

- Não é importante. - Sai em uma lufada de ar, tão rápido quanto um suspiro, porque se pensar demais em minhas próprias palavras creio que possam não ser suficientes para convencer alguém além de mim. - Estou feliz por te encontrar bem, Hyun.

O sorriso ainda está congelado.

Permanece imóvel, mesmo quando me viro para deixar o corredor. Mesmo quando vejo Changbin terminando de subir as escadas, e mesmo quando olho para meus próprios pés para que não precise olhar para os olhos dele, os quais sinto pairando sobre mim antes de chamarem o sorriso grande ao encontrarem Hyunjin escorado no corrimão.

Avião de Papel que voou alto demais...

Me sinto um avião de papel, que voou alto demais. Me sinto em queda livre quando passo por Chan hyung ao fim da escada, e quando ignoro os chamados de Minnie - mesmo quando posso ouvir os seus passos apressados me seguindo -, e quando Minho hyung chama por mim de todas as formas possíveis.

Eu quero que o tempo pare, apenas por poucas horas. Horas o suficiente para que eu consiga entender o agora, porque ele veio rápido demais e está muito diferente do "há um dia atrás".

Nunca lidei bem com mudanças.

Agora, sinto meu estomago gelado como durante nossas fugas, mais de um jeito menos emocionante. Minhas mãos estão suadas quando fecho a porta do cubículo que é o banheiro com força, a ponto de os produtos no peitoril da janelinha pequena caírem no chão.

Eu preciso de ar, mas o ar parece ter ficado do lado de fora - ao lado de Hyunjin. Preciso respirar, mas não sei se consigo agora. Eu preciso de tempo, mas ele nunca parece inclinado a estar lá por mim.

Eu preciso-

- Yongbok. - A voz baixinha me chama do outro lado. E, talvez por ser a única mais contida, eu a ouço.

Eu noto que me deixei cair sentado no chão, com as costas apoiadas contra a velha porta de madeira, em um tom enjoativo de azul alice. Noto que tampei meus ouvidos, mas não me lembro de tê-lo feito.

- Sungie. - Eu o chamo baixinho.

Não posso ver ele agora, mas posso sentir que está ali. Do outro lado da barreira que é a maldita porta velha. Quase sinto o calor de sua palma, vencendo a interrupção que é a madeira embolorada, para aquecer minhas costas.

- Sim, sou eu. - Ele me responde.

- Jisung hyung... E-eu...

- Eu sei. - Ele diz. - Eu sei, Lix. Não se preocupa, tá?

Eu acredito nele.

Porque, dentre todos nós, Jisung é quem foi quebrado por motivos mais parecidos aos que me trouxeram até aqui.

- Eu não consigo respirar... - Digo, apertando o que posso segurar do tecido da camisa que cheira a Changbin.

Eu quero atirá-la para longe. E me sinto horrível por isso.

- Você quer me deixar entrar?

- Não quero que me veja assim.

- Então eu não vou nem imaginar. - Ele ri baixinho. - Só fecha os olhos, tá bem?

Eu fecho meus olhos.

- Tá doendo, e não vai passar. - Ele diz.

Eu cerro meus dentes.

Isso não me conforta, mas ele sabe que não preciso de nada que me conforte agora.

Jisung sabe que eu preciso aceitar. E aceitar dói como o inferno.

Aceitar a realidade, a verdade, a verdadeira face das coisas. Aceitar, no geral, machuca para um caralho.

- Mas vai doer menos. Só vai demorar um pouco.

Ouço um ruido, de quando ele parece se sentar do outro lado.

- Vai demorar pra caralho, na real. Mas eu vou estar aqui por você.

- Hyung... - É um soluço. - Por que eu tenho que ser assim?

Ele não me responde.

Nem poderia responder isso por mim.

- Sabe... Tem uma música na minha cabeça, agora. - Disse. - Got to say, hmmm, hmmm, hmmm... - Ouço tão baixinho quanto sua voz era anteriormente. - I spilled the ink across the page trying to spell your name; So i fold it up and i flick it out; Paper aeroplane...

É o ritmo da música que me move, e o refrão repetitivo que me acalma. É o que me guia para o chuveiro, mesmo que as roupas ainda estejam em meu corpo, e o que me serve de trilha sonora para o banho rápido - porque a água é fria como chuva.

Quando saio, enrolado em nada mais do que uma velha toalha qualquer que deixaram pendurada na maçaneta do lado de fora, Jisung ainda está ali.

Assim que me vê, Minho hyung deixa de abraçar suas pernas e se levanta do chão onde estavam sentados juntos. Me oferece um sorriso pequeno antes de sair, depois de ajudar Jisung a se levantar.

Eu não digo nada, e nem meu hyung. Ele apenas abre os braços, e eu me enterro em seu abraço como uma criança. Mas, ainda assim, posso ver o que menos desejo no momento.

Sobre o ombro de Jisung, escorado na parede do outro lado da garagem, além do tapete onde nos sentamos para dividir a refeição mais cedo, com Changbin fiel a sua presença, Hyunjin está de braços cruzados e o olhar preocupado vacilante no rosto.

Seus olhos ainda me pedem honestidade, e por isso me sinto tão nu.

Eu nunca fui tão honesto em minha vida.

E machuca pra caralho, porque eu sei que não posso fazer nada a respeito.

Eu não posso dizer que o amo agora, porque não seria justo.

Eu não posso explodir agora, porque o atingiria com todos os meus destroços.

Pode me machucar o quanto for necessário, desde que não o perturbe.

No fim, tenho uma certeza outra vez.

Eu não passo de um Avião de Papel que voou alto demais. E é hora de cair.

Quando Jaelin desce do carro, ela não sabe ao certo o que dizer.

As ruas abarrotadas não dão espaço para a passagem do carro, e as bandeiras erguidas dificultam ainda mais as suas tentativas de se localizar.

Beomgyu está indeciso entre o celular em mãos e os arredores.

- Não consigo ver nada. Não sei se é o lugar certo.

Ao seu lado, Kai estala a língua no céu da boca ao bater a porta do velho carro de Maya com força o bastante para receber um olhar irritado da senhora, que é a última a descer.

- Cuidado, por favor? - Ela pergunta, mal-humorada. - Têm certeza de que seguimos as coordenadas certas?

- Fizemos exatamente o caminho de Jisung disse. - Kai assente. - Temos que estar no lugar certo.

- Mas que evento é esse? - Beomgyu une as sobrancelhas. - Ei, Jaelin! - De repente, ele se anima. - Será a parada?

- Parada? - Jaelin franze o cenho. - Que parada?

- Parada gay, poxa! Olha só quantas cores! Caralho, que demais!

- Nunca foi em uma? - Maya pergunta, rindo um pouco, como quem já esteve em tal evento antes.

- Você já? - Jaelin está realmente curiosa.

- Alô! - Mas o grito de Kai ao lado alerta a todos. - Jeongin, tá me ouvindo? - Ele pressiona o celular contra o ouvido com mais força, como se isso pudesse garantir que Jeongin não desligasse a chamada. - Nós estamos em uma cidadezinha perto da rodovia, mas não sabemos se é o lugar certo. Jisung falou rápido demais, ninguém se preocupou em anotar e-

- Vocês realmente estão aqui. - A voz próxima chamou os olhares em sua direção.

Jaelin paralisou, ao lado de uma Maya cujo sorriso apenas aumentou de tamanho ainda mais.

- Uau! - Kai esqueceu o celular de vez, o largando de qualquer jeito no bolso frontal da calça.

Beomgyu apenas não podia discordar da exclamação do outro. Não quando aquela imagem de Jeongin se mostrou à sua frente.

- Vieram nos procurar? 

Céus... Eu devia falar que acabei de escrever o capítulo nove agorinha e estou no pique total?

Aviões de Papel é uma fic curtinha, estamos quase no final, mas meus nervos...


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