Never Be The Same - Valu

By amandiiiinhaaa

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Você acredita no amor? Segundo os gregos, o amor é um sentimento dos seres imperfeitos, visto que o amor deve... More

Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capitulo 3
Capitulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Epílogo

Capítulo 8

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By amandiiiinhaaa

Olá!
Este capítulo será o início da montagem de um complexo quebra-cabeça. 
Neste, vamos colocar cada peça em seu lugar e começar a entender cada ação e escolha.
Boa Leitura!

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Luiza POV

Chegamos na casa de Igor e Duda em silêncio, apesar de notar os olhos de Valentina vermelhos de raiva, enquanto bufava a cada segundo. Estava apavorada, depois do incidente de anos atrás na rua do restaurante onde soube de minha gravidez, nunca mais havia visto Valentina possessa e raivosa como hoje. Enquanto caminhávamos para dentro da residência, notei que seu pescoço estava com algumas marcas vermelhas, resultados do aperto provocado por meu marido durante toda discussão ocorrida na casa de meus pais. Marido...não sei se este adjetivo ainda estava atrelado com aquele homem. Em nenhum momento que esteve na casa de meus pais, ele não se preocupou em manter a educação com seus sogros, não perguntou sobre nosso filho e mostrava-se extremamente interessado em encarar Valentina, enquanto tratava minha pessoa como um simples objeto para seus desejos. Apesar de odiar qualquer demonstração de agressão física, confesso que gostei da sensação de defesa quando minha melhor amiga se posicionou neste cenário caótico, senti-me protegida e amada por alguns instantes.

O fato da jovem mulher se colocar em uma situação de proteção e defesa em meu nome, não me surpreende, vários momentos de nossa infância e adolescência eram retratados com ações solidárias e gestos de conforto. Lembro-me de um episódio quando tínhamos 12 anos de idade, durante uma festa organizada por sócios de nossos pais, um grupo de crianças mimadas de mesma idade estavam implicando com minha presença e fazendo algumas brincadeiras taxativas e inconvenientes, Valentina, no auge de seu espírito justiceiro, bateu boca com as crianças e transformou aquele episódio em um dos dias mais divertidos e engraçados de minha infância. Por atos como este, sempre imaginei que a carreira de minha amiga realmente era no Direito, conseguia visualizar sua presença em tribunais e casos ganhos, pareciam feitos um para o outro. Hoje, associando esta personalidade com sua atual profissão, vejo que cometi um erro, está na fotografia todo resultado da sensibilidade existente em seu coração.

Quando entrei na sala principal, encontrei Valentina já sentada de forma largada no sofá, com a cabeça deitada no encosto de olhos fechados e puxando o ar com força para seus pulmões. Se realmente nada mudou, tinha certeza que ela estava extremamente irritada e pensativa. Esse comportamento me preocupa. Caminhei até a cozinha e preparei um pano com gelo e me sentei ao seu lado no sofá, observando seu pescoço avermelhado pós aperto agressivo daquele homem. Movida por todo cuidado existente em meu corpo, aproximei lentamente minha mão esquerda com a trouxa de pano contendo gelo na pele de seu pescoço. Notei que seu corpo tremeu levemente após o contato da superfície gelada do tecido, mas seus olhos permaneciam fechados e sua respiração parecia se regularizar.

Encarei seu belo rosto, cada traço e expressão, como se buscasse memorizar toda textura e simetria de sua pele. Apesar do tempo de convivência perdido durante estes anos, todos os sinais de meu corpo e sensações ainda eram os mesmos, espantava-me com toda esta eletricidade e magnetismo entre nós. Olhando para sua face, me arrependo de inúmeras decisões e caminhos que escolhi, jornadas que resultaram em ações como esta que se sucedeu na casa de meus pais e amarras que me enfraqueceram e machucaram minha honra e alma. Por que não fui forte? Deixei minhas fraquezas e angústias dominarem meu consciente, não consegui lutar e correr atrás de minhas vontades, anseios e sentimentos, acreditei em palavras e motivada pelo ódio me afundei na escuridão e péssimas escolhas. Algum dia, me perdoaria? Ela perdoaria?

- Por que está chorando? – Sua voz aveludada ecoou em meio ao silêncio da sala, sentindo sua mão esquerda segurando a minha repousada ao seu lado. – Mesmo com os olhos fechados, consigo sentir você e... uma de suas lágrimas tocou minha pele e com toda certeza não corresponde a sensação de felicidade. – Seus olhos verdes, agora abertos, encaravam meu rosto com uma postura série penetrante.

- Me desculpa... – Minha voz já estava embargada e segurava o choro que parecia querer romper de meu peito. – Outra vez, por minha culpa, você se machucou em uma briga direta para me defender...mesmo que não mereça todo este esforço. Queria de alguma forma reparar todo este estresse que provoco em sua vida. – Senti minha mão sendo retirada de seu pescoço e seu corpo ajustou-se na postura adequada para conversarmos.

- Não precisa pedir desculpas. Você se lembra da promessa que fizemos na nossa casinha da árvore? Sempre protegeríamos uma à outra, apesar de todas as adversidades e "inimigos" em nosso caminho. – Mencionou a frase que sempre me dizia quando criança. - Me surpreende não ter compreendido, após tantos anos, que protegerei todos aqueles que amo com a minha vida e obviamente, essa filosofia de vida inclui você, Luiza. Agora... – A expressão antes suave e protetora de Valentina desapareceu e suas expressões tomaram uma nova forma, calma e incisiva, deixando-me arrepiada com toda aura de seu corpo. – Quero saber a verdade, Luiza...por que se casou com esse cara? Duvido que este rompante de fúria visto hoje foi momentâneo, provavelmente estas ações são frequentes e violentas, por esta razão, preciso saber do por que se prender neste casamento? – Meu corpo vibrou com suas palavras. – Seja qual for sua resposta, talvez este seja o momento para se salvar. Me diz, por favor?!

Precisava reviver memórias, monstros, escolhas e criar coragem para compartilhar esta história com ela, esclarecer pontas soltas nesta colcha de retalhos furada, suja e pesada. Esta, talvez seja a oportunidade que sempre pedi aos céus durantes estes anos, uma salvação aliada de um novo começo. No exato momento em que preparava minhas palavras, um pequeno ser de cabelos dourados vestindo apenas uma sunga infantil vermelha, entrou saltitante na casa e quando nos viu, correu em direção ao sofá e meus braços. Observando e sentindo meu filho em meus braços, protegido de todas as mentiras do mundo, parece depositar em meu corpo e consciência uma dose de coragem e esperança. Esperança em vê-lo sorrindo e feliz por toda minha vida.

- Você demorou, mamãe. – Reclamou meu pequeno com um bico fofo nos lábios. – Nosso almoço está pronto! Tia Duda pediu para esperar você, mas estou com fome, o bichinho em minha barriga já está roncando. – Diante de sua fofura, só consegui encher seu rosto de beijos, arrancando alguns risos.

- Desculpa, meu amor... Valentina precisava conversar com seu avô e juntas, atrasamos um pouco para voltar, mas, vejo que está se divertindo na piscina.

- Sim! Tio Igor e tia Duda estão arrumando a mesa e, Aninha e eu, estamos brincando um pouquinho. – Respondeu risonho, simulado a pequena quantidade com as pontas dos dedos. Fofo. – Tia Valentina, conhece o vovô? – Questionou espantado com a informação, encarando a mulher ao seu lado no sofá.

- Tia Valentina? Que intimidade é essa, Leonardo? – Questionei com as mãos na cintura em tom curioso, mas, motivada por brincadeira.

- Como a Aninha chama ela de "tia", achei que ela gostaria de ser minha também. – O pequeno me abraçou envergonhado, encarando Valentina com receio sem deixar o ar de sapeca. – Posso te chamar de "tia"?

Valentina aproximou seu rosto do pequeno, que abraçou ainda mais meu tronco, levando o dedinho indicador até a boca e mantendo o ar de sapeca brincalhão. Quando menos esperava, Valentina começou a beijar seu pescoço lhe causando cócegas e provocando altas risadas. Risadas que atraíram um público também sorridente para sala de estar. A jovem mulher, retirou Léo de meus braços e permaneceu com ele em seu colo, fazendo com que a tensão se dissipasse de ambas e neutralizasse toda tensão e temperatura em fúria.

- Agora que as princesas chegaram, vamos almoçar? – Perguntou e convidou Duda, segurando a mão de sua filha ao lado do marido. Notei que os olhos do rapaz correram para irmã, que sinalizou um "não" com um movimento de cabeça. – Seu irmão disse que adorava sorvete de chocolate, então, providenciamos este mimo, senhorita Valentina.

- Amo sorvete de chocolate! – Os olhos verdes brilharam com esta informação e ela se levantou com meu filho nos braços, pronta para um novo ataque. – Então criançada, vamos almoçar, depois aproveitar o sorvete e piscina, beleza? – As crianças ficaram eufóricas com essas palavras. – Ótimo! – Ela colocou meu filho no chão e caminhou devagar até o corredor rumo ao espaçoso quintal da residência. – Só que... – Aí vem coisa. – Quem chegar por último é a mulher do padre!

Valentina saiu correndo visando seu destino, acompanhada das duas crianças presentes, provocando sorrisos de nós, adultos aparentemente. Apesar de toda esta brincadeira e seu espírito infantil, ela não irá se esquecer do pedido que me fez e eu, usaria deste tempo de descontração com as crianças para preparar meu corpo para a pior conversa que irá suceder entre nós.

Decidi esquecer deste assunto durante nosso almoço, enquanto desfrutava do maravilhoso banquete oferecido pelo casal de amigos, observando Valentina sentada entre ambas as crianças almoçando e conversando com eles, ajudando ambos no corte de suas carnes, era curioso o tanto de assunto que tinham entre eles. Em um determinado momento, após a finalização do almoço, os três seguiram para debaixo de uma robusta árvore, deitando no gramado e aproveitando de sua sombra, parece que descansariam até estarem autorizados para o divertimento na piscina. Igor recebeu uma ligação e pediu licença para atende-la, deixando apenas Duda e eu, sentadas em frente a mesa curtindo esta calmaria silenciosa e com prazo de validade. Um copo com suco gelado foi colocado em minha frente e senti seu corpo se aproximar, realmente, hoje seria um dia marcado para esclarecimentos.

- O que ocorreu na casa de seus pais? – Duda permanecia encarando as crianças em meio ao tom de leveza de sua voz, algo que agradeci internamente, não queria presenciar um novo olhar curioso e inquisidor. – Meu marido notou que a irmã não estava bem e tive a mesma sensação quando olhei para você.

- John apareceu na casa de meus pais e orquestrou o maior show de arrogância, machismo e prepotência. – Após esta fala, minha amiga direcionou seu olhar para o meu rosto e segurou uma de minhas mãos. – Queria me levar para casa de qualquer maneira, como se meu corpo fosse um objeto que pertencesse aos seus plenos poderes e propriedades, não se importou em perguntar sobre o filho... travou uma batalha silenciosa com Valentina até alcançar o limite físico do ser humano.

- Você está querendo dizer...

- Sim...com o objetivo de me defender das palavras ordinárias e ofensivas, Valentina brigou com ele no gramado da casa de meus pais. Outra vez, ficou na linha de frente para me proteger...proteger minha família. – Observei a jovem mulher gargalhando de algo com as crianças, todos ainda deitados sob a sombra da árvore e alheios ao diálogo entre nós. – Quando estávamos na sala, procurava auxiliar Valentina com as marcas que as mãos de John deixaram em seu pescoço.

- Esse cara sempre será um imbecil! Espero que minha cunhada tenha deixado um estrago em seu horrível rosto... sei que não são pensamentos e desejos corretos, mas essa atitude seria muita bem recebida por todos. – Junto de Valentina, na lista de desafetos do meu marido constava também o nome de Eduarda. Segundo ele, minha amiga era responsável por continuar alimentando este amor de adolescência e inspirar minhas ideias sobre o divórcio, ou seja, o sentimento de aversão era mútuo.

- Acredite, ela fez...os seguranças do meu pai precisaram interferir, antes que houvessem piores agravantes. – Ela comemorou comedida e feliz por este fato. – Agora, Valentina deseja saber os motivos que me levaram a casar com este homem e tenho medo que me julgue por todas estas escolhas. – Duda era a única pessoa que tinha conhecimento de toda minha história com John, algo que escondi no mais profundo do meu interior, sabia o quanto esse assunto era delicado e como envolvia inocentes neste cenário sombrio e cabuloso.

- Luiza... – Iniciou minha amiga com um suspiro audível que deixava suas narinas, como se fosse de cansaço e consternação. – Lembra quando me confidenciou sua história com John? Como dizia que solicitava todas as noites para uma estrela cadente, uma possível cura, alento e um final feliz? Esta é a hora que sempre imaginávamos. Nunca contaria aos seus pais e irmãs de espontânea vontade o que ocorreu... contou para mim este relato, porque o desconhecido parece seguro em alguns momentos, mas... quem é a melhor ouvinte indicada do que, aquela que realmente possui seu coração em mãos? Faça as pazes com seu passado, se liberte de todas as mágoas e amarras, viva o amor que guardou durante todos estes anos. Seja feliz, minha amiga!

Por vários anos, escondi de todos o que realmente vivi com John, com medo da rejeição, julgamentos e ameaças, implorando aos céus que alguém compreendesse minha história e acolhesse meu corpo e alma junto aos seus. Apesar de toda extrema confiança em minha família, algo me dizia que precisava ser outra pessoa para me ajudar, salvar minha alma dos demônios e mostrar a luz, a qual, caminharia com meu filho. Hoje, olhando a mulher de olhos verdes com meu filho nos braços, seu rosto iluminado com um sorriso caloroso enfeitando os lábios, aliados as batidas do meu coração, realmente, era ela minha salvação. Meu eterno anjo de olhos verdes. Meu universo particular de esperança.


Valentina POV

- Por que o céu é azul? – Questionou minha sobrinha deitada ao lado do meu braço direito, encarando este imenso céu com curiosidade e encanto.

- Porque todas as nuvens são de algodão e a cor azul, deixa todas parecerem mais fofinhas e brilhantes, permitindo que todos possam acompanhar os vários desenhos e formatos feitos por cada uma delas. – A inocência de uma criança é algo puro e singelo, neste momento, não apresentaria explicações científicas complicadas, apenas curtiria essa paz tão almejada vista e sentida através dos olhos de uma criança.

- A grama... por que é verde? – Perguntou o loirinho agarrando um pouco do gramado e deixando que seus vestígios fossem levados com o vento.

- Porque o mundo é imenso... muitas vezes a grama e terra, servem de casa e proteção para outros animais, um terreno importante que brota vida e beleza. – Encarei o menino deitado do outro lado de meu corpo, vislumbrando sua boquinha aberta em formato de "O" e ele me encarava com intensa devoção. – Respondida as perguntas dos meus meninos?

Ambos acenaram positivamente com a cabeça em sincronia, provocando uma risadinha baixa de meus lábios, olhar para os dois era reviver memórias de meu passado quando me divertia com meu irmão em nossa casa junto de nossos pais. Uma sensação nostálgica que acalma e aquece meu coração. Léo sentou-se ainda posicionado ao meu lado e me encarou ainda em surpresa e devoção, segurou minha mão e iniciou uma brincadeira silenciosa com meus dedos e anéis. Parecia que, assim como a mãe, ele tinha uma mania quando desejava falar algo, esta, uma suposição pessoal.

- Você é muito inteligente, tia! Parece que sabe tudo desse mundo! – Exclamou com o tom de voz em êxtase. – Poderia me ensinar ver o mundo como você vê? – Essa frase tão simples, mas extremamente profunda, mexeu com todas as minhas estruturas. Como um menino precioso como este, pode ser filho daquele crápula enganador? Um pai que poderia ser o espelho para essa criança, mas infelizmente seu ódio e prepotência deixava essa dádiva de lado. Talvez nossa conexão foi instantânea porque Léo e eu não possuímos excelentes exemplos paternos.

- Vou fazer melhor, pequeno. Ensinarei você e a Aninha, enxergarem sozinhos o quanto a vida é maravilhosa, como a família e as verdadeiras amizades são importantes para construirmos nossos valores como pessoas de bem. – Me sentei no gramado como ele, puxei seu corpinho para o meu colo e fiz o mesmo com minha sobrinha, deixando cada um em uma perna e juntos, observávamos toda paisagem e o canto dos passarinhos. – Quando decidi tirar fotos pelo mundo, queria guardar cada momento especial comigo para sempre, para que nunca esquecesse de cada sentimento e das pessoas que passaram na minha vida. Se vocês quiserem, podemos construir algo só nosso...conforme crescemos, vamos compartilhando tudo aquilo que nos faz feliz, que tal?

- Sim!

Os dois se atiraram em meus braços e caímos sorrindo mais uma vez naquele fofo gramado. Ficar próxima destas crianças, fazia com que minha cabeça e pensamentos deixassem as várias indagações que realizei junto de Luiza na sala de estar. Precisava entender o que havia se passado na vida dela em minha ausência e porque se submeteu em um casamento fracassado e repleto de problemáticas. Iria até o final para entender esta história. Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvia a voz de Duda e Luiza, chamando as crianças para buscarem suas taças com sorvete, atrás destas, meu irmão se aproximava com sua taça e entregando outra em minhas mãos.

- Papai, me ligou. – Disse enquanto sentava-se ao meu lado. – Convidou minha família para um jantar, mencionou que estava com saudade da neta e, precisava conversar sobre algo relacionado a empresa.

- O que respondeu?

- Falei que conversaria com Eduarda, reforcei que minha esposa estava com um importante trabalho e precisava de todo tempo para se dedicar ao projeto. Retornarei sua ligação e lhe direi minha resposta. – Levantei-me com calma do gramado e estendi a mão para que meu irmão acompanhasse meu movimento, algo prontamente atendido. Encarei seus olhos cor de mel, mesmo tom dos olhos de nossa mãe e apoiei minha mão em seu ombro como suporte e apoio.

- Acredito que deva jantar com nossos pais. – Sua expressão emanava pura surpresa e indagação, sei que não seria esta a resposta ou comentário que esperava. – Não faça esta cara de paspalho, como quando lhe confidenciava alguma travessura. Deve comparecer com sua família na casa de nossos pais, não pode impedir a presença de Aninha junto aos avós, seria cruel isso acontecer por estar acobertando minha volta. Além disso, você precisa estar ciente de tudo o que acontece na empresa, Igor. Conhecendo nosso pai, sei que deve ser algo relevante.

- Você me surpreende. A Valentina que convivi antes da viagem, era totalmente inerte e indiferente sobre os negócios da família, dizia que aquele lugar sugava nossas almas e criava sanguessugas loucos por poder. – A minha mente adolescente era criativa e imaginária. – Por que sinto que esconde muito mais do que diz, minha irmã? Grande exemplo é a situação de tensão que me deparei com você e Luiza, assim que chegaram da casa dos Castelli.

- Não se preocupe, irmãozinho... o que aconteceu na casa dos Castelli, tenho certeza que sua esposa irá atualizá-lo, Luiza já deve ter lhe contado. Precisa apenas saber que estou bem e não ocorreu nada demais. Agora, sobre os assuntos da empresa, fiquei interessada por esta intervenção do nosso avô, fique tranquilo. – Chamei meu irmão com um sinal realizado com a cabeça, direcionando para o caminho rumo a casa. – Vamos! Precisamos descansar um pouco, antes do seu jantar. Apenas um pedido...gostaria de permanecer durante este tempo em sua casa. Quero conversar com Luiza.

- Ok... – Suspirou resignado. – Vou seguir seu conselho e minha família irá se encontrar com nossos pais, também fiquei curioso sobre o assunto, aproveite a casa e se entenda de uma vez com Luiza.

Meu irmão finalizou a conversa com um sorriso maroto nos lábios e adentramos a cozinha de sua casa. Me desculpei com as crianças por não as acompanhar na piscina e subi para o quarto de minha sobrinha, aproveitando para tomar um relaxante banho e descansar para minha conversa com Luiza. Questões do passado precisavam ser resolvidas e não deixaria que o tempo nos atrapalhasse novamente.


Luiza POV

Era noite. Igor, Eduarda e Aninha haviam saído há algum tempo para seu compromisso na casa dos Sartori, apenas Léo, Valentina e eu, permanecemos na casa. O casal mencionou que a italiana sugeriu o cumprimento do encontro com o casal mais velho, que alegava estar com saudades da neta e realmente, as crianças não devem se envolver em qualquer conflito. Aproveitei que estávamos sozinhos e decidi pedir uma pizza para o jantar, agraciando um tempo livre para banhar meu menino e curtir o tempinho que tínhamos juntos para brincarmos com vários jogos. Enquanto montávamos um quebra-cabeça na mesinha de centro da sala de estar, o som da campainha soou e recebi uma imensa pizza marguerita acompanhada de uma garrafa de refrigerante, caminhei até a ilha central da cozinha e deixei os recebidos em cima da superfície de mármore.

- Meu filho? – Chamei por Léo que organizava a pilha de peças do quebra-cabeça. – Vá até o quarto da Aninha e chame a tia Valentina para jantar, por favor?

- Ok, mamãe!

Escutei seus passinhos na escada e comecei a organizar os pratos, copos e talheres nesta mesma ilha central. Busquei também alguns guardanapos, pois sabia que Léo iria se lambuzar de molho e era provável que deixasse cair sob seu pijama. Quando terminei de arrumar os últimos detalhes, observei Valentina chegar até a cozinha, também de pijama como nós, com meu filho pendurado em suas costas sorrindo de algo, o qual, não imaginava.

- Pizza! – Comemorou minha amiga. – Minha boca já está salivando com essa imagem e cheiro.

- Sei que não é uma legítima pizza italiana, mas acredito que esteja saborosa. – Valentina ocupou um dos bancos ali posicionados e aconchegou Léo em seu colo, sentado em uma de suas pernas. – Valentina...pode deixá-lo em um dos bancos, nesta posição ele irá atrapalhar seu jantar.

- Fica tranquila, Lu. O pequeno não irá me atrapalhar em nada, não se preocupe. – Meu menino acenava em minha direção positivamente todo brincalhão, então, como voto vencido, decidi servi-los e me aconchegar em um dos lugares desocupados, precisamente no banco em frente ao da mulher de olhos verdes. – Estava me esquecendo de algo. – Valentina pegou um dos guardanapos e colocou em seu pescoço, como se fosse uma espécie de babador e fez o mesmo com Léo, era engraçado. – Agora sim, carinha... podemos comer e tomar cuidado para não sujarmos nossos pijamas. Preparado? Como diz?

- Atacar!

Após o comando do pequeno começamos a saborear esta pizza cheirosa e deliciosa. Entre uma conversa e outra, soltava algumas risadas da imagem das duas crianças com as bochechas cobertas de molho, Léo perguntava algumas coisas para Valentina sobre sua máquina fotográfica, algo que havia tomado sua atenção desde do primeiro contato visual e ela, respondia cada pergunta com toda paciência deste mundo. Permanecemos em nosso mundinho por algum tempo, consegui registrar esses rostinhos fofos de molho em uma foto registrada em meu aparelho celular. Organizamos toda cozinha e continuamos a montagem do nosso quebra-cabeça, agora com uma nova ajuda.

- O pequeno dormiu. – Sussurrou Valentina, enquanto acariciava os cabelos dourados espalhados em seu colo. – Quer que o leve até a cama?

- Coloque-o no sofá, por favor? Ele ainda está em uma fase de sono bem leve, qualquer movimento pode acordá-lo.

Valentina ajeitou o sofá com algumas almofadas para deixá-lo mais confortável e na sequência, repouso o corpo de Leonardo com cuidado sob o estofado. Aproximou seu rosto e deixou um beijo demorado em sua bochecha rosada, desejando uma boa noite de sono.

- Ele realmente gostou de você. Nunca vi meu filho tão encantado e deslumbrado por alguém como vejo com você, parece ter conquistado verdadeiramente seu coração.

- Seu filho é muito especial, Lu. Olhando para ele, vários momentos de nossa infância surgem em minhas memórias e na sua essência, encontro aquela Luiza curiosa, meiga e doce, mas que no fundo tem uma força fenomenal. Léo é puro, carinhoso e amoroso, qualidades que sonhei para o meu filho, entre tantas outras, com ele sinto meu peito mais leve e a vontade de ser feliz. – Seu rosto se virou em minha direção e manteve seu olhar em mim. – Por ser tão especial como a mãe, me pergunto o por que daquele homem não se preocupar com ele? Me pergunto o por que de permanecer nesse casamento? – Valentina se levantou e caminhou até estar parada em frente ao meu corpo. – O que aconteceu, Lu? O que este homem já fez para você?

Olhei para o menino de quatro anos que ressonava deitado no sofá enquanto embarcava para o mundo dos sonhos, em seguida, meu olhar se manteve compenetrado na mulher diante de mim, aflita e temorosa, ao mesmo tempo, determinada e séria. Minhas dores e feridas seriam expostas mais uma vez e tentava lembrar a mim, que estava preparada para me libertar destas amarras.

"– Lu...ninguém irá te machucar enquanto estiver ao meu lado. Irei protegê-la de todas as crianças maldosas e monstros perigosos...seu coração vai estar seguro comigo. Confia em mim?"

Acreditando nesta antiga promessa feita por ela durante nossa infância, naquele fatídico episódio com o grupo mesquinho de crianças, confiaria minhas forças aos seus braços, alma e coração.

- Olhando para Léo, fico pensando em como descreveria para ele, meu relacionamento com seu pai. Como explicar que seu pai me agrediu fisicamente e verbalmente durante anos? Explicar as inúmeras vezes que o encontrei bêbado pela casa totalmente transtornado, quando meu bebê tinha meses de vida? Dizer que seu pai se vangloriou de todas as inúmeras pancadas desferidas no corpo de minha melhor amiga, esta, conhecida como o verdadeiro amor da minha vida?

- Luiza...

- Como dizer ao meu filho que não me recordo da noite em que foi concebido? – Engulo seco e permito que verde e castanho se encontrem em um mar de tristeza e confusão. – Explicar ao meu verdadeiro amor que... movida por tristeza, medo, raiva e fraqueza, abusei do proibido e permiti que meu corpo fosse tratado como um objeto e lixo? Fui fraca e hoje, pago por ter construído minha própria armadilha. Espero que após nossa conversa, você consiga me perdoar.

Não havia volta. Valentina conheceria uma antiga Luiza, a qual, não me orgulho. Medo era o sentimento, o que ganharia após essa noite, era uma incógnita. 

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Espero que tenha gostado!
Busquei colocar camadas em cada personagem neste capítulo, como disse no início, um quebra-cabeça foi apresentado, agora, qual será o seu resultado final?
Comentem e deixem um feedback!!
Isso é muito importante!!

Obg e até o próximo!

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