𝑹𝒂𝒇𝒆
Algumas horas antes, no barco
Estava em uma das cabines com o meu pai, era bom ver ele de novo. Ontem pela manhã Rose me contou a verdade, sobre meu pai ter fingido a própria morte e que iriamos fugir, ir pra uma ilha particular e recomeçar tendo uma nova vida, e isso era tudo que eu mais precisava.
Estavamos conversando sobre o ouro e como tudo seria administrado, quando um dos homens que estavam trabalhando no barco bateu na porta e já foi abrindo.
-Desculpem...mas vamos atrasar a partida, ouvimos tiros no cas e estamos investigando quem pode ter sido -o homem fala e sai
-Isso é coisa dos pogues -falo travando o maxilar
-Como eles saberiam? -meu pai fala
-Sarah! Disse pra Rose que o melhor era deixar ela aqui, mas ela não me escutou e agora aqueles pogues estão aqui
-Nunca iria deixar sua irmã, ela é minha filha, nunca deixaria ou viraria as costas pra ela, mesmo com as escolhas erradas delas
Reviro os olhos. Não pude me conter em pensar na noite em que ele me deixou na casa do Barry, ele me expulsou e me virou as costas sem nem pensar duas vezes. Balanço a cabeça, aquilo foi antes de tudo, agora era diferente, ele me via como um filho de verdade agora, me amava.
-Rafe! Esta me ouvindo?
-Oi?
-Disse que isso pode ser a Elizabeth, Rose me contou que ouviu você falando com ela...você sempre foi tão manipulado por essa garota, pode ter contado algo, era isso que estava pensando? -meu pai fala
-Que? Não! Só liguei pra dizer tchau, mas ela está indo embora, não desconfiaria e eu nunca falaria do seu plano pra ela, eu estou do seu lado pai
-Dizer tchau Rafe? Meu Deus -ele da um riso seco- A garota não é burra Rafe...aposto que estava drogado quando ligou, sei que voltou aos velhos hábitos -meu pai fala
-Eu tava mal pela sua morte, mas eu não estava drogado e nem falei nada pra ela, impossível ela ter descoberto. Porque não pode ser uma armação da Sarah? Wheezie pode ter ouvido algo e contou pra Sarah, ou até mesmo a Sarah ouviu algo, ela ainda ia em casa e pode ter ouvido a Rose...por que eu preciso ser culpado?
-Sem drama Rafe...só falei o que eu sei, sei o quanto essa garota te manipula e o quão cabeça fraca você é, não seria difícil acreditar que você falou demais
-MAS EU NÃO FALEI...Eu sou o único que continuou do seu lado, que te apoio pai, porque continua achando defeitos em mim? O que eu preciso fazer pro senhor confiar em mim, na minha palavra?
-Garantias Rafe...sempre que se trata dela não posso confiar em você 100%, mas me garanta que é impossível ela ter descoberto nosso plano, que ela não teve contato com você além daquela ligação ou foi na nossa casa, nada do tipo
"Droga!". Não podia garantir isso, Lizzie tinha ido até minha casa no dia que me ajudou a voltar da casa do Barry, ela poderia ter ouvido ou visto algo, mas isso seria muito azar.
-Pelo seu silêncio você não pode me garantir...por isso não confio em você Rafe, você ainda tem distrações além da família
-Foi só alguns minutos...ela me ajudou a voltar pra casa e depois foi embora, mas era muito cedo, não tem como pai -vejo ele balançando a cabeça negativamente- Se eu soubesse desde o começo sobre seu plano, eu não teria saído de casa e ela nunca teria ido lá
-Então a culpa é minha? Você passa a noite fora se drogando porque é um fraco que não sabe lidar com o luto e eu sou o culpado? -ele se aproxima de mim- Você não merecia saber do meu plano, não merecia minha confiança e suas atitudes só mostram que ainda não merece, que continua o mesmo muleque de antes
-O MULEQUE TE SALVOU...SE NÃO FOSSE EU NÃO EXISTIRIA OURO PRA VOCÊ, EU SALVEI NOSSA FAMÍLIA -grito nervoso me aproximando dele
Ele me da um tapa na cara e me segura pelo colarinho da camisa
-SALVOU? VOCÊ SÓ FODE TUDO RAFE...Desde de sempre, você foi o único que durante a gravidez sua mãe ficou mal e precisou de repouso, é o único que sempre me deu trabalho no colégio, o único que tem de tudo e desperdiça em drogas...Você me tirou a mulher da minha vida, então não ache que você me salvou, sua divida comigo é eterna Rafe -Ele fala apertando meu rosto
Só olho pra ele sentindo meus olhos marejarem, eu tinha feito de tudo por ele, tentei sempre ser o melhor filho possível e nós últimos meses fui contra todas as leis e pensamentos racionais que eu tinha por causa dele, pra ele se sentir orgulhoso e no final é assim que ele se sente sobre mim.
-Eu vou ver como estão as coisas la fora e você não sai daqui -ele fala me largando e saindo
Dei um grito de raiva e soquei a parede. Olhei para porta, peguei a arma na gaveta e sai, não iria ficar preso lá dentro como um garotinho de castigo, iria mostrar pra ele que era capaz de resolver as coisas, iria salvar a pele dele mais uma vez. Estava seguindo o caminho pelo corredor quando vi ele enforcando a Lizzie, não consegui nem pensar direito e so dei um soco na cara dele.
Vejo a Lizzie se curvar tossinto e passo as mãos nas costas dela
-Você ta bem?
-Sim -ela fala ainda meio sem voz
-O que você ta fazendo Rafe? -meu pai fala ainda no chão
-Não podia deixar você matar ela pai
Por mais que eu e a Lizzie estivéssemos afastados, nunca me perdoaria se algo acontecesse com ela por minha culpa, sabia que toda essa raiva do meu pai por ela tinha a ver comigo, porque ele achava que ela era uma fraqueza minha, algo que me tirava do foco da família. Sei que defender ela dele só provava que ele estava certo, mas eu já tinha errado tanto com a Lizzie, não poderia deixar ela se machucar de novo, além do mais, por anos ela foi minha família, devia isso à ela.
-E depois fica se fazendo de vítima...trai sua família e ainda quer que eu confie em você -meu pai fala
-Não trai minha família, mas não posso te deixar machucar ela
-Você é um vergonha, uma perda de tempo -meu pai se levanta apoiando na parede- Errei com você, você é uma vergonha...mas vou te dar mais uma chance de ficar do meu lado
Olho pra Lizzie garantindo que ela estava bem, depois olho pro meu pai e dou um passo na direção dele, sinto a mão da Lizzie na minha, olho pra ela.
-Não vai com ele...olha como ele fala com você, você me disse que se pudesse faria diferente, você pode agora -ela me olha nos olhos- Você não precisa dele, vem comigo por favor -ela segura firme minha mão
Ouço o riso irônico do meu pai no fundo
-Não fica com medo Rafe, a gente vai dar um jeito, juntos como sempre foi -Lizzie fala inda me olhando
Era um olhar familiar, um olhar que eu não via a muito tempo, o jeito que ela me olhava antes de tudo isso acontecer, o jeito como ela me olhava quando eu tava me sentindo péssimo e ela aparecia pra me fazer sentir melhor. Um filme rápido de todas as vezes que a Lizzie me ajudou passou na minha cabeça, ela já me salvou de tantas formas, sempre afastando os demônios da minha cabeça, sempre me fazendo rir, me dando motivação pra continuar vivendo, não conseguia e nem queria dar as costas pra ela
-Juntos, não importa o que aconteça ou quanto tempo passe? -falo olhando pros olhos dela
-Juntos, não importa o que aconteça ou quanto tempo passe -ela sorri levemente
-Essa é sua decisão, ir embora? Virar as costas pra família? -viro pro meu pai
-Sinto muito pai -falo olhando triste pra ele
-Eu também sinto -ele fala
Vejo ele puxar a arma da cintura e apontar na minha direção, ouço o barulho do disparo e fecho os olhos esperando a dor do tiro me invadir, mas nada acontece, abro os olhos e vejo a Lizzie na minha frente.
-Lizzieee!!!
Vejo ela caindo no chão, nesse momento minha visão fica turva e sinto meu sangue ferver. Pego a arma da minha cintura e disparo duas vezes contra o meu pai, naquele momento eu só queria que ele sentisse dor, que ele morresse e pagasse com vida pelo que tinha acabado de fazer.
Largo a arma e me ajoelho do lado da Lizzie, ela estava usando uma blusa cinza que agora estava totalmente ensopada com sangue, aquilo parecia estar muito ruim, olho pro rosto dela chorando, "Se concentra Rafe, salva ela". Olhei de novo pro ferimento e pressionei o local.
-Você...você vai ficar bem
-Você mente mal -Lizzie fala e faz uma cara de dor
-Não menti, não vou deixar você morrer -falo e pego meu celular com uma das mãos- Droga! -minha mão estava suja de sangue, não conseguia mexer no celular
Logo em seguida o pogue chega, claro que me culpava, mas a Lizzie não queria a gente brigando e não queria que ela falasse muito, só iria fazer ela piorar, então fiquei calado e continuei pressionando o ferimento. Mas a Lizzie não ficou queita, ela começou a falar como não se arrependia de nada e como me amava e amava o JJ, eu não queria ouvir nada daquilo, não queria assimilar aquilo com um adeus, uma despedida.
-Eu amo vocês dois, vocês são partes de mim, de quem eu sou...quero que me prometam que vão ficar bem, que nunca vão esquecer os homens incríveis que vocês são e que o mundo está sob os pés de vocês...me prometam -Lizzie fala
-Não...você vai ficar bem, então não vou prometer nada -falo
Me negava a prometer algo, não precisava prometer nada, ela iria ficar bem.
-Rafe...por favor -Lizzie fala com dificuldade
Olho pros olhos dela, como poderia prometer pra ela que ficaria bem, eu não ficaria, só de imaginar um mundo onde ela estaria morta meu peito doía, não podia perder ela, não dessa forma. Mas via no olhar dela como ela precisava que eu prometesse, como se aquilo fosse dar paz à ela.
-Eu prometo -falo
Depois disso ela sorrio e fechou os olhos fazendo uma cara de dor, mas depois a feição dela relaxou e a mão dela que segurava a minha escorregou. Ela tinha morrido...a Lizzie tinha morrido, aqui, jogada no chão de um barco sujo baleada pelo pai, baleada com um tiro que era pra mim.
Senti uma dor enorme no peito, era como se uma parte de mim tivesse morrido junto com ela naquele momento, me afasto do corpo dela em completo choque, JJ mesmo desesperado e tremendo, estava tentando reanimar ela, mas eu não conseguia nem me mexer.
Em pouco tempo os paramédicos chegaram e levaram ela e o meu pai, eu só consegui me mexer quando uma mulher se aproximou perguntando se eu estava ferido. Depois disso ainda tive que ficar esperando um pequeno interrogatório sobre o que tinha acontecido naquele barco, mas falei o menos possível, nem conseguia pensar direito, minha cabeça estava na Lizzie, os paramédicos conseguiram trazer ela de volta, mas tinha medo dela não resistir.
Depois de quase meia hora, fui liberado junto com os Pogues, ignorei eles totalmente e fui até o meu carro, devo ter pego várias multas por velocidade mais cheguei no hospital. JJ estava na sala de espera, pela cara dele não tinham noticias muito animadoras sobre a Lizzie. Os pogues chegam logo depois, me sento afastado deles mas consigo ouvir a conversa, realmente ainda não tinham noticias da Lizzie ainda.
Já tinha passado uma hora, a cada minuto que passava eu ficava mais nervoso, minhas mãos suavam e minhas pernas tremiam. Vejo pelo canto do olho a Sarah sentando no meu lado.
-A enfermeira acabou de avisar que o papai não resistiu, ele morreu Rafe
Não sabia como reagir aquilo, já tinha chorado e surtado por uma morte dele, agora eu simplesmente nao sentia nada, não sabia se era porque minha cabeça só conseguia pensar na Lizzie ou porque eu tinha parado de me importar no momento em que ele puxou o gatilho. Então só fico em silêncio
-Você que atirou nele né? -So faço que "sim" com a cabeça- Nós perdemos ele duas vezes em menos de um mês, mas dessa vez não doeu tanto...estranho porque agora é verdade, não tem mais volta -Sarah fala com a voz de choro
-Talvez seja porque só agora sabemos o monstro que ele era, não perdemos um pai, ele tinha deixado de ser isso a muito tempo, nós só não percebiamos -falo encarando o chão
-Nunca pensei que ouviria você falando assim dele, nunca pensei que tudo isso iria acontecer -ela fala
-Aquele tiro era pra mim Sarah, quando ele viu que eu não iria mais seguir ele cegamente ele simplesmente iria me tirar do caminho, como se eu não fosse nada -olho pra ela- Um pai não faz isso
Vejo a Sarah suspirar
-É...eu já não conhecia mais ele, meu pai tinha morrido a muito tempo e descobrir essa última armação dele doeu, porque eu sofri pela morte dele e era tudo fingimento...me pergunto quando ele virou aquele homem -lágrimas escorrem do rosto dela
-Não pensa nisso Sarah, só vai causar sofrimento -olho pra frente de novo
Fico em silêncio por um tempo e depois olho pra ela
-Me perdoa...eu falei do nosso pai, mas fiz o mesmo com você, atirei em você pra te tirar do nosso caminho, mesmo você sendo minha irmã mais nova
-É, você atirou e eu quase morri, tenho a cicatriz pra lembrar Rafe...não posso te perdoar agora, mas diferente da última vez que você me pediu perdão, agora eu vejo verdade nesse pedido, talvez com o tempo eu consiga
-Já é alguma coisa -falo simples e encaro o corredor que dá pras salas de cirurgia
-Ela vai ficar bem, ela é forte -Sarah fala
-Espero que você esteja certa
Mais algumas horas passaram, até a medica chegar.
-Quem é o responsável pela paciente Petrova? -a mulher fala
-Eu...sou o avô dela, Peter Petrova
Me levanto e ando agé perto da mulher.
-Eu sou a enfermeira O'Conell, a cirurgia da Srtª. Prova foi complicada, ela perdeu muito sangue a bala estaba alojada entre as costelas, muito perto do pulmão, além dela estar muito instável...por esse motivo tivemos que induzir ela em coma, assim à estabilizando e dessa forma terminamos a cirurgia...ela está na UTI no momento
-Coma...mas quando ela vai acordar? -JJ fala
-Não sabemos...pode ser amanhã, daqui uma semana, um mês ou um ano...nós fizemos nosso melhor, tudo que podíamos, agora só depende dela, ela precisa ser forte pra voltar -a enfermeira fala
-Eu vou chamar um médico da minha confiança, quero realmente garantir que vocês fizeram de tudo pela minha neta -Sr. Petrova fala
-Como quiser senhor -a mulher fala
-Podemos ver ela? -JJ pergunta
-Podem...mas só cinco minutos e um de cada vez...ela ta no quarto 214, 4° andar-a enfermeira fala e sai
Encaro o chão em silêncio. "Coma, a Lizzie estava em coma". Não queria ser pessimista, mas sabia que ela estar em coma não era um bom sinal, ela estar em coma era só um atraso ao inevitável, ela iria morrer. Era uma forma de iludir a família com falsas esperanças de que um dia ela vai abrir os olhos e voltar a vida como era antes, mas isso só acontecia em filmes, na vida real ela iria morrer, nós iríamos ficar olhando ela numa cama por meses ou anos, até o dia que finalmente estaríamos pronto pra dizer adeus então as maquinas seriam desligadas e ela morreria.
Todas essas horas de espera tinham sido em vão, ela não ficaria bem, eu tinha perdido minha melhor amiga. Sinto aquele aperto no peito de novo, não ficaria aqui pra ver ela deitada numa cama de hospital. Saiu em direção ao estacionamento, estava desesperado pra sair daquele lugar, minhas mãos suavam e tremiam, minha respiração tava acelerada, eu entrei no carro mas nem conseguia ligar ele de tão nervoso que eu estava.
-HAAAAA!! -grito e soco o volante
Apoio minha cabeça nele chorando. E aquela maltida voz voltou
"Você sabe que a culpa é sua ne? Era pra ser você em coma...Se você não fosse um viciado de merda, Lizzie junca teria a sua casa, ela nunca saberia do plano...ela estaria bem e seu pai vivo. Como é saber que você matou alguém que por tentos anos você idolatrou?"
-CALA A BOCA -coloco a mão nos ouvidos e fechos os olhos com força
"Não adianta, você sabe que eu estou certo. Lizzie vai morrer por sua culpa, assim como sua mãe morreu...você é um assassino e uma parte sua sabe disso, e gosta"
-MENTIRA! CHEGA...PARA POR FAVOR...Eu não aguento mais, não aguento...para...por favor -minha voz vai falhando
A voz na minha cabeça se cala e eu fico ali, chorando dentro do carro
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Oi pessoal.
Capítulos tensos e tristes, sei que teve umas repetições de diálogos, mas fiz isso pra mostrar como cada um se sentiu na hora, logo que eram cenas importantes.
Daqui pra frente talvez algumas vezes vou usar um narrador, pois quero trabalhar o sentimento e visão de vários personagens e pra não precisar ficar fazendo mil capítulos repetidos vou tentar fazer com um narrador. Mas primeiro vou ver se dar certo
Se preparem que os próximos capitulos são de dor e sofrimento, porque todo fim precisa de um drama
P.s: eu não entendo nada de medicina, então nada aqui é 100% certo, coloquei coisas que já ouvi e outras da imaginação só pra dar enredo a historia
Espero que tenham gostado, votem e comentem, adoro ver a interação de vocês e saber o que estão achando da história, personagens e até teorias.
Beijinhos e até o próximos capítulos 😘