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*Samantha*
Conrado já nos dava as costas quando um grito desesperado saiu pela minha garganta. Um barulho estrondoso, como uma explosão fez tudo vibrar e acreditei que era o fim. Porém, continuávamos ali, vivos e o cronômetro ainda emitia os "bips".
Uma fumaça tomava o ar e permitia ver pouco, porém, vinha da porta da frente do chalé, como se uma das bombas tivesse explodido ali. Conrado também tinha uma expressão confusa, não entendendo o que havia acontecido.
Ele olhou para o um dos caras que fazia sua segurança, sinalizando para que fosse até a porta verificar o que acontecera. Ao mesmo tempo Conrado apanhou uma pistola que tinha presa na cintura, em postura de defesa, pronto para atacar.
Acompanhei o rapaz com o fuzil caminhando até a porta, receoso. Segundos depois um estampido agudo surgiu novamente e meus olhos apenas viram sangue espirrando para todo lado. O rapaz caiu ao chão com um tiro bem no meio da testa. Os olhos ainda abertos.
E quando a fumaça que encobria a porta fora se dissipando, a silhueta de uma mulher surgiu. Cerrei os olhos para enxerga-la Melhor e levou alguns segundos até eu acreditar no que via.
Cassandra tinha uma espingarda empunhada em direção a Conrado e havia sido ela provavelmente que acertara em cheio a testa daquele segurança.
Confesso que nunca fiquei tão contente em ver Cassandra como naquele momento. Ela deu mais dois passos se aproximando e atrás dela surgiam mais outras duas silhuetas que logo foram ganhando forma. A de uma garota de altura mediana e esguia, cabelos curtos pretos e a de um homem — que na verdade era muito familiar. Quero dizer, idêntico a Conrado. Mas de olhos azuis.
— Samantha!!!! — Dizia o homem familiar olhando com desespero para mim.
Aquele provavelmente era o mesmo que eu via em meus sonhos, o "Conrado de olhos azuis". Ou melhor dizendo : o tão falado Caleb. A forma com que me olhou, a emoção transmitida fez surgir em mim uma sensação agradável, apesar de ainda não lembrar propriamente das coisas que diziam sobre mim e Caleb — a respeito do nosso envolvimento.
Porém eu sorri, sorri de alegria, e fui tomada por um sentimento de saudade inexplicável. Era a certeza que tive, a de que mesmo não tendo memórias, a minha alma e a de Caleb estavam Conectadas de alguma maneira.
— Aonde pensa que vai irmãozinho?— Conrado apontou o revólver em minha direção.
— Solte ela, Conrado! E ficará tudo bem com você! — Decretou Caleb parando no meio do caminho.
Cassandra ainda mantinha a espingarda apontada, firme e forte.
— Acho que chegou o fim da linha, Conrado. — Disse a empregada.
Ao lado dela estava a moça que não me era estranha. Ela também me olhava com preocupação e provavelmente nos conhecíamos. Seria a tal Mierra?
— Nem ouse se aproximar. Nemhum dos
Dois... ou eu estouro o miolo delas... Das duas... Tanto da sua namoradinha, Caleb, quanto os de Rebecca!
Logo outros três seguranças desceram do andar superior correndo escada abaixo . Eles se juntaram ao último que restara e fizeram uma barreira a frente de Conrado, feito um escudo. Eles apontavam com os fuzis em direção a Caleb, Cassandra e Mierra.
— Acho melhor você soltá-las! — Mierra tinha uma prepotência familiar na voz.
— E quem é você? An? — Conrado desdenhava olhando Mierra de cima abaixo.
— Bom, quer saber quem eu sou? — Mierra sorriu em resposta ao sarcasmo de Conrado... — Bom, deixa eu apresentar uns amigos e depois eu te falo quem eu sou.
E antes que ela pudesse terminar, estilhaços da janela do outro lado da sala voaram
Pelos ares. Alguém havia atirado contra o chalé, o que distraiu tanto Conrado quanto seus seguranças. Foi o suficiente para que Caleb tomasse atitude.
Ele logo desferiu dois tiros contra os seguranças mas não os acertou — estes correram para as laterais procurando abrigo — e em respostas os homens dispararam duas rajadas de tiros. Tanto Caleb quanto Cassandra se jogaram no chão. Porém eu Não via mais Mierra.
Em seguida, alguns homens armados entraram e logo percebi que eram deles que Mierra falou quando confrontava Conrado.
Imaginei que Conrado reagiria ao que Caleb fizera atirando contra mim e Rebecca. Porém a arma que ele segurava voou até próximo ao meu pé. Ergui os olhos do chão e avistei Mierra travando uma luta corporal contra Conrado. Ela era menor que ele mas parecia muito bem treinada, pois até mesmo conseguiu desarma-lo.
Mais próximo a porta, Caleb estava atracado com um dos homens que atiravam com fuzil. Eles giravam segurando-se pelos braços, tentando derrubar um ao outro. Grunhiam pela força tamanha que faziam.
Um dos capangas mirou com o fuzil em direção a Caleb para abatê-lo e ajudar ao comparsa que estava levando a pior.
— Não!! — Eu disse desesperada.
E o som agudo de mais um tiro sobreveio. Porém, nada acontecera A Caleb. Pelo contrário, o homem que iria abatê-lo caiu ao chão com um tiro no tórax. Cassandra estava com sua espingarda empunhada, com fumaça saindo do cano da arma. O disparo dela
Havia sido certeiro e salvara Caleb.
Em nossa frente Mierra e Conrado continuavam na disputa, desferindo socos e pontapés, tentando cada um acertar seu alvo. Conrado era fisicamente mais forte e Mierra precisava ser esperta e desvencilhar-se dos golpes, aqueles mais problemáticos que ele desferia. Mas não conseguiu evitar o soco que ele acertou em
cheio sua mandíbula e a fez cair no chão.
Conrado então correu até a arma que estava próxima aos meus pés, praticamente engatinhando. E ao estender a mão para apanhar a pistola, Rebecca levantou-se da cadeira e jogou-se sobre o ex-marido, usando todo o peso de seu corpo. Ela havia Se soltado sabe-se lá como. Eu ainda permanecia presa, para variar.
Rebecca conseguiu deter Conrado por alguns instantes mas não era fisicamente forte o suficiente para impedi-lo por muito tempo.
Outros dois homens da segurança de
Conrado surgiram e eu desejava saber quantos
Mais deles precisariam ser abatidos.
— Deixa eu soltar você! — Cassandra aproximou-se de mim: pendurava a espingarda no tronco e começou a desatar a fita grudenta que me prendia a cadeira.
— Cassandra, eu nunca imaginei que a encontraria aqui... Nos ajudando contra Conrado— Dizia a ela.
— Não se preocupe, querida. Eu sou esquisita mesmo — E foi a primeira vez que a vi sorrir. — Mas não sou uma má pessoa. A propósito, o Caleb de verdade é um excelente rapaz. O discurso apaixonado dele terminou por me convencer a vir aqui...
— Jura? — Olhei para Caleb.
— Sim, menina. Ele gosta muito de você. Está apaixonado. Facilmente se vê isso nos olhos dele... E olha que não me engano. Mas agora deixe eu soltar você. Quanto mais pessoas do nosso lado ajudando, melhor será!
Ela finalmente me soltou e quando me ergo — sentindo uma dor imensa na coluna pelo tempo que fiquei sentada — um caos estava armado dentro do Chalé.
Coisas voando, Disparos — que automaticamente me fizeram agachar — e pessoas atracadas umas as outras, como em uma luta livre. As vezes eu nem sabia quem estava a favor e quem estava contra.
Caleb permanecia caído no chão e um dos homens tentava sufocá-lo com o cano da arma, a apertando contra seu pescoço. Caleb seria morto, pois parecia não conseguir sair debaixo de seu inimigo.
Ele começava a ser sufocado. As veias de sua testa dilatadas e o rosto todo avermelhado me diziam isso.
Olhei para o chão e a pistola que caíra das mãos de Conrado ainda estava lá. Eu não sabia se já havia atirado alguma vez, mas deveria tentar. Não permitiria que Caleb fosse morto. Menos ainda após ouvir as palavras de Cassandra sobre Caleb.
Com o revólver em mãos eu puxei o gatilho e efetuei o disparo. Isso fez minhas mãos tremerem e eu fechar os olhos rapidamente. Mas logo os abri.
A bala percorreu um caminho rápido e pegou em cheio o ombro do oponente de Caleb que caiu para o lado. Caleb o empurrou e ergueu-se olhando para mim. Ele sorriu e assentiu. Parecia orgulhoso por me ver com as duas mãos empunhadas com a pistola.
Cassandra ainda abatera mais um dos homens de Conrado com sua espingarda. Mierra, no canto da sala, parecia incansável, e deu uma rasteira em outro oponente, o derrubando no chão, com certa graciosidade até.
O cronômetro sobre a mesa permanecia no mesmo lugar apesar do caos . Faltava dois minutos para que a explosão acontecesse. Precisaríamos sair dali o mais depressa.
Nosso lado ganhava. Quando o último segurança foi abatido, restou apenas Conrado.
— Vocês acham mesmo que vão sair vivos dessa? Eu vou acionar a WWP e alegar que X—RENT atentou contra um dos agentes. Será uma guerra entre agências... Não vão se safar... principalmente você, irmãozinho! — Conrado ofegava enquanto limpava um resquício de sangue no canto da boca.
— Não, Conrado. Todo o mal que fez terminará hoje ! — Disse Cassandra.
Ao dizer isso ela prendeu a parte de uma algema ao pulso de Conrado. A outra parte estava presa ao pulso dela, mantendo Cassandra presa a Conrado.
— O que está fazendo, Cassandra? —Conrado tentava se desvencilhar olhando para as algemas presa ao pulso.
— Estou dando o fim que você merece, querido!
Conrado olhou para o cronômetro e passou a se desesperar. Faltava pouco mais de um minuto para tudo explodir.
— Precisamos sair daqui. — Rebecca correu para a porta — A casa está cheia de explosivos. Vamos!!!
Acompanhamos o chamado de Rebecca e antes de sair olhei para Conrado. Estava desesperado tentando se soltar ao mesmo tempo que procurava correr para a porta. Porém Cassandra agia como um peso morto, o Impedindo de andar o suficiente para que escapasse. Ela era sua âncora para o fim.
Eu não era capaz de sentir pena por Conrado, mas meu coração estava apertado por Cassandra. Ela estava nos salvando. Não seria justo com ela.
— Não podemos deixar Cassandra! — Disse a Rebecca.
— Não, não há tempo. Vão. — A empregada disse — Não sou uma inocente. Cometi muitos pecados. Acho que mereço esse fim. Vou redimir meus erros dessa maneira... Vão, agora! Eu ficarei bem.
— Cassandra, vamos sair. Eu pago o valor que quiser! — Implorava Conrado — Ofereço um valor que não precisará mais trabalhar pelo resto da vida.
Mas a mulher não se moveu. Apenas acenou para que saíssemos o mais depressa.
— Alguém me ajude!!! Não quero morrer! — Chorava Conrado. Havia caído na própria armadilha. Que ironia do destino!
Assenti para Cassandra uma última vez e ela sorriu. Depois acompanhei o restante em direção a saída.
Quando todos partimos para fora, um estrondo apavorante fez cada célula do meu corpo vibrar. O calor que se seguiu foi acompanhado de uma onda de pressão, deslocando o ar em expansão.
Apenas senti meu corpo voar pelos ares com o tal deslocamento de ar e cair para longe do chalé.
Bati com a cabeça em uma árvore e perdi a consciência subitamente.