– Minhas filhas... – Do brilho prateado surgiu uma mulher de beleza etérea, com longos cabelos também prateados como a própria luz da lua, olhos de um azul intenso como o céu noturno e pele tão clara como a lua cheia no céu.
– Finalmente nos encontramos de novo. – Do brilho alaranjado surgiu um homem alto e forte com cabelos ruivos da cor do fogo, olhos amarelos como o próprio sol e pele morena como a própria terra.
– Quem são vocês? – Yaten falou um pouco alto demais e colocou a garota atrás de si.
– Eu sou Tsuki, a Deusa da lua. – A mulher respondeu com um sorriso gentil.
– E eu sou Taiyo, o Deus do sol! – O homem respondeu lançando ao rapaz um olhar de poucos amigos.
– Deuses?! – Akira engasgou ao dizer isso e começou a tossir.
– Akira? Está tudo bem? – Emi deu uma risadinha nervosa e alguns tapinhas nas costas dele.
– E o que vocês fizeram? Foram vocês que pararam a luta? – Yaten perguntou confuso.
– São... Os nossos pais? – Lene passou na frente de Yaten e olhou para os dois sentindo uma mistura de sentimentos e emoções.
– Nossos pais? – Emi tomou a frente também e parou ao lado da irmã.
– Gostaríamos muito de contar a história de vocês em detalhes e passar mais tempo com vocês, mas não podemos. – Taiyo suspirou e gesticulou mostrando a luta parada no tempo. – Não agora.
– São nossas filhas e por isso precisam nos ajudar a deter Shanti. – Tsuki explicou com um olhar triste e distante. – Ou ela irá destruir todo o planeta.
– O quê?! E como nós vamos fazer isso? – Emi perguntou indignada, sentindo uma mistura de raiva, desespero e tristeza.
– Nós não temos mais as pedras! Não temos mais poderes! – Lene explicou sentindo o coração bater descompassado com o desespero.
– Sabemos disso. – Tsuki comentou calmamente. – E é por isso que despertaremos os seus poderes de verdade e tornaremos os rapazes seus parceiros nesta batalha.
– Poderes de verdade? Quer dizer que os poderes da pedra eram só enfeite? – Akira perguntou e recebeu um soco leve da Emi em resposta.
– Os poderes das pedras foram criados e armazenados ali como forma de proteção para nossas filhas, que foram mandadas para a Terra para viver em meio aos humanos. – Taiyo explicou pacientemente, embora continuasse a lançar olhares estranhos aos dois rapazes.
– A energia dentro das pedras é forte e a lenda sobre os desejos é verdadeira, mas todo esse poder é apenas uma fagulha do que vocês realmente possuem. – Tsuki fez um gesto abrindo os braços devagar e as duas jovens foram erguidas suavemente no ar.
– Ei! O que estão fazendo? LENE! – Yaten pulou, tentando segurá-la, mas foi impedido pelo Akira.
– Calma, Yaten. São os pais delas. – Ele explicou assentindo de leve para Taiyo. – Não vão machucá-las.
– Muito pelo contrário, meu jovem. Vamos ajudá-las a proteger a Terra... – Taiyo se aproximou deles e estreitou os olhos. – E vocês ajudarão a proteger as nossas filhas.
Com isso, Taiyo bateu palmas duas vezes e os rapazes também foram erguidos no ar. Enquanto Lene e Emi eram envoltas pela luz prateada dos poderes da mãe, Akira e Yaten eram envoltos pela luz dourada dos poderes do Deus do Sol.
– Vocês aceitam o seu destino? – Tsuki e Taiyo perguntaram em uníssono.
– Sim. – Os quatro jovens responderam depois de se entreolharem.
Eles sabiam que era a coisa certa a fazer. Não havia como fugir do que estavam destinados a ser. Quando a luz finalmente se dissipou, Yaten e Akira estavam trajando armaduras brilhantes e seguravam uma espada e um escudo cada. A armadura de Yaten era dourada e possuía o símbolo do Deus do Sol, já a armadura de Akira era prateada e possuía o símbolo da Deusa da Lua.
– Vocês agora são os Guerreiros da Luz, protetores das filhas do Sol e da Lua. – Taiyo anunciou e fez um cumprimento formal com um pequeno sorriso. – Não me façam me arrepender de ter escolhido vocês.
– Sim, Senhor! – Akira assentiu rapidamente e ergueu a espada prateada no ar.
– Não vamos decepcioná-lo. – Yaten bateu com a espada dourada no escudo e sorriu confiante.
Enquanto isso, Emi e Lene também estavam passando por uma transformação. Suas roupas foram transformadas para combinar com seus guerreiros e o selo que bloqueava seus poderes de verdade foi quebrado. Por serem parcialmente humanas por conta da maldição, tornaram-se semideusas. Lene possuía grande parte dos poderes derivados do pai, e Emi possuía os poderes derivados da mãe.
– Minhas filhas, vocês estão prontas para dar um fim a esse mal que assola a Terra? – Tsuki perguntou observando suas filhas com orgulho.
– Sim. – Emi assentiu depois de respirar fundo e sorriu para a deusa.
– Acho que sim. – Lene concordou e mordeu o lábio inferior, esperando nervosamente pelo que aconteceria a seguir.
– Então, eu lhes desejo sorte. – A deusa bateu palmas e soprou na direção deles.
A batalha toda voltou ao normal e ninguém pareceu reparar o que havia acontecido. Shanti estava prestes a atacar o rei Yuki e Lene correu para defendê-lo com seus novos poderes. As chamas queimaram as sombras da estrela banida, que berrou de raiva e tornou a atacar os outros. Entretanto, Emi estava pronta para ela e usou seus poderes para proteger os homens que lutavam ao lado de Yuki.
Fogo e gelo se espalhavam pelo salão do castelo, as sombras lutavam insistentemente e Akira e Yaten usavam suas habilidades e suas novas armas para defender aqueles que lutavam ao seu lado. Shanti possuía um exército de sombras e os guerreiros de Yuki não conseguiam derrotá-los com armas normais.
Assim, Emi usou seus poderes para recriar as armas de Yaten e Akira, e Lene energizou-as com o calor do fogo para que fossem capazes de extinguir o exército das sombras. Shin e Anon apareceram para ajudar e enquanto Shin usava seus poderes, Anon lutava ao lado de Nagi. Kaori e Kenji também conseguiram se livrar de sua prisão no quarto e participaram da luta ajudando os empregados do castelo a fugir para um lugar seguro.
– Não! Isso não pode estar acontecendo! Eu tenho que vencer! Eu previ a minha vitória! – Shanti gritava desesperada ao notar seu exército sendo derrotado.
– Aparentemente você acreditou numa falsa visão! – Emi falou aparecendo bem ao lado dela e dando-lhe um soco na cara, o que deixou a estrela zonza.
– Sua imunda! Como pode um ser tão insignificante...! – Mas o ataque de Shanti foi interrompido quando Akira a atingiu com seu escudo, lançado como um disco na direção dela.
– Não ouse falar assim da minha namorada! – O rapaz gritou correndo para ficar ao lado de Emi.
– Akira! – Emi deu um empurrão de leve nele, mas sorriu ao ouvi-lo gritar isso para todo mundo ouvir.
– Acabou, Shanti! Você perdeu! – Lene apareceu logo atrás dela, com Yaten ao seu lado.
– Não! Eu não posso ter perdido! NÃO! – Shanti negou com a cabeça e lançou uma explosão de energia sombria, que jogou todos para trás.
Os que lutavam mais à frente do salão caíram de costas, arremessados para longe junto dos poucos soldados de sombras que ainda restavam. Os quatro jovens foram arremessados contra as paredes do salão, pois não esperavam por um golpe como esse.
– Ah! – Emi gritou quando suas costas bateram contra a parede. – Sua estrela filha da...!
– Eu não acredito nisso! Como ela pode continuar em pé? – Akira resmungou ajudando Emi a levantar.
– VOCÊS NÃO VÃO ME DERROTAR! – Shanti gargalhou e reuniu toda a energia que lhe restava para fazer crescer duas asas que permitiriam sua fuga.
A estrela alçou voo e fugiu para os céus pelos buracos feitos no teto do grande salão. Ela planejava fugir agora para conseguir se recuperar e então planejar outra vingança, mas seus planos não deram muito certo. Lene e Emi a seguiram, usando o mesmo truque, com a magia formando asas.
Os guerreiros de sombras sumiram todos de uma vez quando a estrela fugiu do salão, então Emi e Lene deixaram Yaten e Akira cuidando das coisas lá embaixo e seguiram atrás de Shanti para que pudessem acabar com ela de uma vez por todas.
– Emi, ali! – Lene gritou e apontou uma forma escura voando entre as nuvens. – Rápido!
– Certo! Ela não vai escapar dessa vez! – Emi assentiu e as duas irmãs conseguiram cercar a estrela banida outra vez. – Dessa vez você não vai conseguir fugir, Shanti!
– Ah, não? É o que veremos! – A estrela respondeu pronta para atacar Emi, mas Lene lançou um raio de luz solar pelas costas dela, atingindo-a em cheio. – AAH!
– EMI, AGORA! – Lene mantinha os braços esticados na direção da estrela, que se contorcia e tentava resistir.
– Isso é por todo o mal que você fez! – Emi esticou os braços e usou seu próprio raio de luz lunar para atacar Shanti, que não resistiu aos ataques intensos de luz e explodiu, causando uma chuva de poeira estelar.
Essa poeira estelar, para os humanos, parecia uma chuva de neve prateada e brilhante. Muitas crianças na vila saíram de suas casas para olhar e aqueles que ainda estavam no castelo saíram para os jardins, que pouco a pouco se tornaram brilhantes como se fadas tivessem jogado pó mágico ali.
Emi e Lene respiravam ofegantes pelo gasto de energia, mas sorriram uma para a outra e se abraçaram forte antes de voltar ao chão, onde todos os outros as esperavam. Foram recebidas com gritos de alegria e abraços apertados, até mesmo o Nagi, o Anon e o Shin correram até elas e abraçaram-nas com força, emocionados.
– Eu sabia que tinha algo de especial em vocês. – Shin comentou com seu habitual tom preguiçoso e sonolento.
– Eu nunca duvidei de que fossem especiais! – Nagi respondeu cruzando os braços e fazendo um bico.
Anon se manteve em silêncio, mas no instante em que Yaten e Akira finalmente alcançaram as duas, Taiyo e Tsuki tornaram a parar o tempo para falar com suas filhas. E, dessa vez, Yaten e Akira foram deixados de fora. Os deuses parabenizaram suas filhas por seu trabalho duro e por terem finalmente derrotado Shanti, mas as duas estavam preocupadas com outra coisa.
– Por que Akira e Yaten foram congelados no tempo também dessa vez? – Emi questionou franzindo o cenho e observando os rapazes.
– Porque vocês duas precisam tomar uma decisão importante e eles não podem atrapalhar. – Taiyo respondeu com sua voz poderosa como um trovão.
– E qual decisão seria essa? – Lene perguntou cruzando os braços e encarando os pais.
– Agora que sabem sobre seus poderes e de quem são filhas de fato, precisam decidir se voltarão para casa ou se continuarão na Terra entre os humanos. – Tsuki explicou com calma, mesmo que seu coração se apertasse com a possibilidade de ter que dizer adeus outra vez.
– E... Caso a gente queira ficar... Vamos nos esquecer de vocês? – Emi perguntou com cautela.
– Não. – Tsuki respondeu com um sorriso gentil. – Mas seus poderes de verdade serão selados outra vez.
– E sem as pedras... Não teremos mais poderes? – Lene questionou só para ter certeza.
– Exatamente. – Taiyo assentiu e se aproximou das filhas. – Mas, caso decidam voltar a viver conosco, terão todos os seus poderes e muito mais!
– E quanto ao Akira e ao Yaten? E aos nossos amigos na Terra? – Emi perguntou dando um passo para trás.
– Eles irão se esquecer de vocês. Não se lembrarão de nada. – O Deus do Sol respondeu, dando de ombros.
Emi e Lene se entreolharam e, com essa simples troca de olhares, tomaram uma decisão. Por mais que gostassem de saber quem eram seus pais e por mais que gostassem de usar seus poderes para proteger as pessoas, não queriam abandonar todos que fizeram parte de suas vidas como humanas. Elas não queriam que eles se esquecessem delas e tampouco queriam ficar longe dos rapazes por quem se apaixonaram.
– Sabemos que é uma decisão difícil... – Taiyo comentou e abraçou as duas.
– Vocês precisam escutar o seu coração. – Tsuki sussurrou e juntou-se ao abraço.
Ficaram alguns segundos assim, aproveitando aquele breve momento em família. As duas já haviam escutado seus corações e já haviam decidido segui-los, por mais que soubessem que essa decisão entristeceria os deuses, seus pais. Ainda assim, sentiam que era a coisa certa a fazer.
– Vamos ficar na Terra. – Emi respondeu pelas duas.
– Abrimos mão de nossos poderes. – Lene completou enxugando uma lágrima que escorria pela bochecha.
– Que assim seja. – Taiyo assentiu e estalou os dedos.
– Sempre olharemos por vocês lá de cima. – Tsuki falou com ternura e estalou os dedos também, desaparecendo junto com o outro.
...
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