Pov Hailee
Assim que cheguei em casa fui direto tomar um banho, com a família da S/n indo visitá-la não quis arriscar demorar. Com o fim das gravações em Dickinson consigo ter um tempo livre na parte da manhã, mas em compensação ando chegando cada vez mais tarde em casa.
Minha mãe está em casa, quando cheguei vi o carro dela estacionado na garagem, meu pai pelas manhãs vai com Griffin na oficina e só volta de tarde, agora é uma ótima oportunidade para conversar com ela.
- Mãe?- Sinto um frio na barriga quando escuto sua voz soar atrás da porta, por um momento tenho vontade de dar meia volta, mas respiro fundo e entro no quarto.
Vejo a porta da varanda aberta e sigo até lá, minha mãe está sentada em uma das cadeiras com um livro em mãos, me sento ao seus lado e olho a vista que o andar alto me proporciona, sinto o olhar avaliativo dela em mim, eu por outro lado tento tomar coragem o suficiente para falar.
- O que você tem? - Em um ato de nervosismo pressiono minhas unhas contra a palma da minha mão, sinto uma leve ardência no local - Hailee?
-Tem haver com a S/n - Já é um começo eu conseguir falar o nome dela, minha mãe não pronuncia mais nenhuma palavra e eu me viro apenas para conferir se ela ainda está me ouvindo, e quando olho em seus olhos não consigo mais desviar - Ela não é só uma amiga mãe, eu e ela...
- Estão juntas ? - Concordo, seu olhar vai para a paisagem e vejo um pequeno sorriso se formar em seus lábios, parte da minha preocupação se desfaz quando vejo isso - Estava na cara... Sua cara no dia do carro e suas dormidas fora de casa.
- Não está brava ? - Ela me olha confusa - Por saber que estou com uma mulher?
- Por que eu ficaria brava? Tudo o que uma mãe quer é ver a felicidade dos filhos - Ela passa a mão nos meus cabelos - E você está feliz, isso é tudo o que importa para mim.
- A senhora não sabe o quanto estou feliz em te contar isso- Um peso saiu das minhas costas por ter compartilhado com ela - Mas por favor mãe, não fale nada para o meu pai.
- Não irei, fique tranquila - Me sinto uma criança de cinco anos quando ela me puxa para sentar em seu colo e começa a fazer carinho nos meus cabelos - Isso ficará apenas entre eu, você e o Griffin porque sei que ele sabe.
- Sim, ele sabe - Dou risada - Ele foi o primeiro a saber.
- E quando eu vou poder conversar com ela ? - Me lembro do que falei com S/n de madrugada, a ideia de fazer em sua casa não era ruim, mas o problema no momento era que sua família estava lá.
- Ela tinha me dado a ideia de fazer um jantar na casa dela, mas os pais dela chegaram hoje cedo do Brasil - Minha mãe parece pensar na minha resposta e me faz lembrar de algo que iria acontecer nesta semana.
- Seu pai vai viajar a negócios na quinta e só volta na terça - Ela me olha - Convide a S/n para jantar conosco no sábado à noite se ela não estiver muito ocupada.
- Vou falar com ela - Me sinto bem mais leve com tudo isso {...}
Quando por fim o último corta do dia soou no set consegui notar a felicidade de todos os integrantes da equipe, já se passava das 22h da noite e o dia havia sido cheio para todos.
- Enfim livre - Escuto Jeremy falar com Florence que veio fazer uma das suas cenas noturnas.
Pego minhas coisas e vou para meu trailer tirar a roupa e a maquiagem, escuto passos atrás de mim e quando me viro dou de cara com Florence que também estava indo para o Trailer dela, não conversamos desde que recebi aquela mensagem.
Meu celular apita indicando uma notificação nova, S/n me mandou uma foto com os irmãos andando no meio da rua, pelo que percebi é a rua da sua casa, ela parece estar bem contente por estar passando esse tempo com eles.
O seu comentário diante da foto me fez rir: Uma coisa não podemos negar, irmão mais velho sofre demais! Acredita que em menos de 15 minutos esses dois já foram cantados por um monte de meninas, não gostei nem um pouco disso.
- Esse sorrisinho é de quem está ferrado - Olho para a loira parada alguns metros na minha frente - Sorriso de gente apaixonada.
- Talvez eu esteja - Melhor não dar muita brecha para ela tentar ousadia pro meu lado.
- É um cara de sorte então - Ela dá um sorriso e eu retribuo, melhor não falar nada - Tem notícias da S/n ? Naquele dia na casa da Vera ela não estava muito bem.
- Ela está bem, foi apenas um dia ruim para ela - Florence concorda e eu acabo tomando coragem e deixando minha curiosidade falar mais alto - Vocês se conhecem de onde?
- Fomos amigas por um tempo, mas algumas coisas aconteceram e decidimos por fim na amizade - Pela sua cara ela não parece nada feliz em lembrar da situação seja lá qual fosse.
- O que houve entre vocês? - S/n nunca me falou, pelo pouco que disse deu para perceber que ela tinha um pouco de mágoa com a Florence e Florence parece ter com ela também.
- Tivemos uma briga - Me encosto na porta do trailer enquanto escuto a história - Ela acreditou nas fofocas que rolavam.
- Que tipo de fofocas ? - Ela ajeita a jaqueta por conta do vento e olha para os lados.
- Acho que foi alguém da equipe dela que inventou algo sobre mim e ela acreditou, não sei o que falaram, mas pelo modo que ela estava com raiva foi algo bem ruim - Ela dá de ombros - Nos afastamos depois disso.
- Entendi- Flo não parece estar mentindo, eu conheço a S/n e sei como ela pode ser meio esquentada, mas isso só ocorre quando quebram a confiança dela. Eu só sei um lado da história e não posso julgar um livro pela capa, o que devem ter falado para ela é com certeza algo ruim e bem pesado para ela ter agido assim com a Florence.
- Eu não sei se ela já tinha te falado algo - Nego indicando que eu não sabia da história - Só não comente nada com ela Hailee, por favor.
- Não vou - Com um breve boa noite vejo a figura loira sumir da minha vista me deixando ali sozinha. Meus pensamentos são traiçoeiros e minha intuição diz que tem muito mais coisa nessa história toda. Não que a Florence esteja mentindo, acredito que ela disse a verdade, mas quero ouvir a versão da própria S/n para tirar minhas conclusões definitivas.
Pov S/n
- Fala a verdade - Eu e Miguel resolvemos ir no playground que tem perto de casa, Lucas já estava cansado e não quis mais nos acompanhar. Ando de braços dados com meu irmão em um ritmo lento, a rua está calma e sem movimento de carros e pelo horário não havia ninguém além de nós ali - Aconteceu algo entre você e o pai ?
- Aconteceu - Ele diz sem receio, caminhamos até o parquinho e nos sentamos cada um em um balanço - Ele tentou ir pra cima do Lucas, ele tinha quebrado algo, acho que foi a porcaria da caneca de cerveja. Só sei que quando vi começamos a discutir e ele veio pra cima, as coisas saíram do controle já que passei uma semana com o olho roxo.
- Eu não acredito nisso - Miguel apenas confirma e continua o relato, e eu me recuso a acreditar que a situação chegou nesse ponto.
- A mãe não queria que você soubesse, ela fez a gente prometer que não íamos contar nada - Ele começa a se balançar de forma descontraída - A ideia de virmos para Los Angeles foi minha, eu e o Lucas queríamos passar um tempo com você e ficar longe dele.
- Mas algo deu errado nos seus planos, já que ele está aqui. - Passo a mão no rosto tentando de alguma forma aliviar minha frustração, minha mãe ainda vem falar que ele é uma nova pessoa, uma nova pessoa o caramba.
- Ela achou que era uma boa oportunidade para uma reconciliação familiar - Devia ter imaginado, uma viagem em família para amenizar o clima pesado e fingir que nada aconteceu, a família perfeita e feliz - Cheguei no meu limite com essa merda toda.
- Você quer ficar aqui, comigo ?- Os olhos dele receberam um brilho que eu há muito tempo não presenciava, era um brilho de esperança, sei que é uma decisão apressada. Mas sinto que preciso ajudar de alguma forma, pelo seu relato deu para notar que ele começou a ter muita raiva acumulada, e isso me preocupa, é muito fácil alguém fazer besteira quando explode - Quem sabe não convenço a mãe a deixar você e o Lucas em Los Angeles.
- Eu ia adorar S/n, mas duvido que ele vai deixar ela fazer isso - Olhei bem séria para ele que parece se assustar momentaneamente.
- Ele abandonou ela com 3 filhos pequenos, foi embora e voltou depois de anos querendo criticar nossa criação, ele não tem direito nenhum em decidir se vocês ficam ou vão - Respiro fundo e olho para os brinquedos vazios, parece um parque fantasma e eu e Miguel fazemos os papéis de alma penada - Você me conhece e sabe que não vou aceitar as decisões dele.
- Espero que você convença ela - Ele espalha areia sob os pés fazendo uns desenhos aleatórios no chão - E que ela pelo menos escute você.
- Eu sei que não vai ser fácil - Nunca foi para falar a verdade, é raro um filho ter a razão sobre algo - Mas vou ver o que faço para ela me ouvir {...}
Quando entramos em casa estava tudo em completo silêncio e o que iluminava o recinto era o abajur, cenas do dia anterior vieram na minha mente, só de lembrar o que eu e Hailee fizemos no sofá sinto um arrepio percorrer meu corpo. Considero esse sofá mágico, já que nossas melhores noites sempre acontecem quando estamos nele.
Miguel e eu vamos até a cozinha para comermos algo antes de dormirmos, minha mãe deixou preparado dois sanduíches naturais, pegamos nossos pratos e nos sentamos na mesa para comer, decidimos não acender as luzes para não incomodar quem estava dormindo. Não demoramos muito já que os dois tiveram um dia longo e bem cansativo, descobri hoje em um intervalo das gravações que vamos precisar estender alguns dias de trabalho para retoques finais, não me surpreendeu já que fizemos o mesmo na quarta temporada.
Quando deitei na cama o peso do dia longo me fez afundar no colchão, o travesseiro do meu lado estava com o perfume da Hailee na fronha, a última coisa que fiz antes de capotar foi me agarrar a ele e imaginar que ela estava ali comigo.