dinner

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POV S/N

Por mais que meu cansaço me permitisse dormir até tarde, acordo cedo com minha mãe ligando uma música alta o suficiente para ser ouvida na casa inteira. Coisa de mãe, eu acho.

Dormi feito pedra e acordei ainda abraçada no travesseiro. Checo meu celular e havia uma única mensagem da Hailee.

"Tenho uma boa notícia, me liga quando puder. Te amo"

Sorrio e fico curiosa com a notícia, no fundo é bom ter um refúgio de todos esses problemas com o meu pai e os meninos.

Ao levantar, vou ao banheiro, tomo banho e reflito em o que posso fazer para ajudar meus irmãos. Meu pai nunca será uma pessoa fácil de se lidar e minha mãe é a única que parece não enxergar isso. Desde sempre essas idas e voltas, abandonos e retornos como se nada tivesse acontecido.

Me lembro da primeira vez que o vi, já com 6 anos. Minha mãe começou o dia me preparando e dizendo que tinha alguém importante para me apresentar, mas ele era a pessoa que eu menos imaginava conhecer. Acredito que se fosse a Xuxa que eu tivesse conhecido naquela noite, eu ficaria menos surpresa, isso que eu era a maior fã.

Ele me trouxe uma caixa de chocolates e um ursinho de pelúcia, me abraçou e fez todas as promessas que qualquer homem faria naquela situação, o único porém, é que elas nunca foram cumpridas. "Prometo nunca mais te deixar sozinha", "de agora em diante seremos eu e você", "não vejo a hora de ver suas apresentações de dia dos pais na escola"... Poderia listar todas as mentiras que ele me contou nesse dia, tudo da boca pra fora.

No primeiro ano do retorno dele, realmente parecia ter virado um bom pai. Até que, realmente chegou a data da tão esperada primeira apresentação de dia dos pais em que eu teria um pai presente. Resultado: Ele não apareceu. Lembro como se fosse ontem da sensação de o procurar na plateia e ver apenas a minha mãe e meu tio. Sua volta aconteceu alguns meses depois, com as mesmas promessas de sempre.

Desde então, minha visão sobre ele mudou. Nunca o chamei de pai, sempre pelo nome. Nunca acreditei novamente em suas mentiras e muito menos o dei a chance de tentar construir uma nova relação. Sei que posso ter errado também em ter me fechado, mas ele teve essas chances com os meus irmãos e poderia ter feito diferente, mas não o fez.

Não entendo como minha mãe aguenta os sumiços repentinos, a falta de carinho, consideração ou ao menos sinceridade. Ela sempre me disse que ele não tem a mentalidade de pai, que é uma responsabilidade muito grande para ser assumida por ele. Mas então por que ele sempre volta e vira tudo de cabeça pra baixo?

Em uma das vezes ficamos 8 anos sem saber seu paradeiro. E adivinha? Ele voltou novamente e encheu a cabeça da minha mãe com todas as merdas dele.

Como me fechei pra tudo que o envolvia e tinha o meu tio como figura paterna, a presença dele nunca foi algo importante pra mim. Bom, com a exceção da apresentação em que ele sumiu.

Já para os meninos, todas suas ações são mais complicadas. Minha mãe já foi chamada diversas vezes na escola por conta de comportamentos que refletiam o que eles viam em casa. Xingamentos, má educação, ausência... Hoje eles já são mais tranquilos quanto a isso, mas ainda ficam muito sentidos quando alguma coisa acontece.

Meu tio costumava dizer que minha mãe não queria que seus filhos crescessem sem pai, e por isso aceitava tudo, e talvez se um dia ela enxergasse que às vezes não ter, é melhor que ter um assim, sua visão mudaria.

Claro que não vou envolver algo judicial para fazer com que eles venham morar comigo, isso acabaria com a minha mãe. Mas considerando que ela sabe o quanto essa relação faz mal para eles e o quanto ela os quer bem, acredito que uma conversa resolva a situação, e é isso que pretendo fazer.

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⏰ Última atualização: Dec 17, 2023 ⏰

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