Caleb me deixou em frente de casa. E praticamente entrei na ponta do pé para que Mierra não me visse com o vizinho.
Ela lia uma revista sentada no sofá e quando me viu abrindo a porta, sorriu.
- Oi, Mi. Só vou tomar banho, trocar de roupa e vamos para o shopping.
- Está tudo bem? - indagou ela.
- Uhum. Estou otima.
Claro que eu não diria sobre a perseguição e o capotamento de um carro naquele dia que era pra ter sido uma manhã calma de corrida.
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- Sua mãe queria mesmo que você se casasse com aquele senhor? - Mierra ria enquanto estacionava o carro no pátio do shopping.
- Nem me fale! Ela acha que eu estou interessada em velhos ricos!!!
- Olha, só sei de uma coisa: é capaz de você beija-lo e os lábios dele sairem na sua boca. O velho tá mais morto do que vivo, Sam.
Eu ri.
- Já decidiu a qual loja vamos?- indaguei tirando o cinto.
- Sim. Dei uma olhada na internet antes. Você vai amar. Eles vendem vestidos quase que exclusivos e a preços incríveis.
Descemos do carro e após alguns passos ouvimos chamarem por Mierra em meio ao estacionamento. O som da voz ecoava.
- Marcos, já voltou da capital? - Mierra perdia o sorriso ao ver seu ex-marido de perto.
- Voltei sim - ele olhava para um papel que tinha em mãos. - Você pediu uma medida restritiva para eu não me aproximar de você? - Marcos segurava o papel que balançava no ar. Estava zangado.
- É para o seu bem, Marcos. Você precisa aceitar nosso término!
E de novo lá estava eu entre os dois. Só que não dava para fugir.
- Não, não! Você está equivocada, Mierra. E sendo injusta também. Eu não ligo para essa medida de restrição. - O ex-marido dela rasgou os papéis - vamos conversar - seu tom era de exigência.
- Não posso. Estou ocupada. E tudo o que tinha para falar eu falei. Agora preciso ir.
Marcos apertou o passo e nos alcançou. E antes que pudesse tocar Mierra ela puxou algo de sua bota de cano alto e apontou na direção do ex-marido.
- Se afaste ou eu atiro! - ordenou ela sem vacilar.
O quê? Mierra também sabia atirar?
- Espera. Não faça besteira!!- Marcos tinha as mãos para o alto, mantendo cautela. Engolia em seco ao se afastar.
- Bom, se você continuar tão perto eu atirarei em legítima defesa. Você precisa ficar a duzentos metros de distância - Mierra segurava a arma com muita naturalidade e firmeza.
- Você nao teria coragem de atirar, Mierra! - Marcos gritava.
- Bom, eu tenho um imenso carinho por você. Só me preocupo no quanto ficarei triste em ter que escolher um vestido preto para o seu funeral, Marcos. Agora se afaste.
Ela parecia estar falando muito sério, tanto que Marcos recuou dois passos.
- Ok, ok! Eu vou , Mierra. Mas você sabe que ainda me ama e que eu amo você. Uma hora a gente se acerta.
Eu achei por um instante que o ex-marido dela fosse chorar ali na nossa frente.
Marcos foi se afastando e perdeu-se em meio ao mundaréu de carros estacionados. Mierra baixou a arma extremamente ansiosa e apreensiva.
- Gente, quando que a minha vida virou um dilema policial? - eu disse para mim mesma em voz alta.
De repente todo mundo atirava , menos eu. As paranóias só cresciam. Mierra tinha uma arma. Caleb sabia atirar. Coisas acontecendo.
Queria minha vidinha pacata de interior de volta!
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