𝑳𝒊𝒛𝒛𝒊𝒆
24 de Julho
"Só podia ser brincadeira", meu celular estava tocando, só de olhar pra janela e ver que o sol estava baixo, sabia que não deveria ser nem 10 horas. Ontem tinha tido uma festa e todos em Outer Banks sabiam que o dia seguinte a uma festa ninguém acordava antes do meio dia. Pego o celular e vejo o nome do Rafe no visor e isso faz meu coração gelar, se tinha alguém que respeitava a regra de acordar tarde era o Rafe, ele nunca me ligaria a essa hora se não tivesse com algum problema
-Oi Rafe
-Oi gatinha
Gelo assim que ouço a voz do outro lado da linha
-Barry, o que ta fazendo com o celular o Rafe?
-Você já sabe gatinha...seu amiguinho está aqui na minha casa desmaiado no meu sofá, eu ate deixaria ele aqui mas preciso sair
-Estou indo, tenta acordar ele por favor
-Sabe que eu faço tudo que você pede gatinha
Levanto da cama bufando de raiva, não acredito que o Rafe estava na casa do Barry e com certeza tinha ficado completamente chapado na noite anterior. Faço minhas higienes matinais, coloco as primeiras roupas que vejo no armário por estar com presa
Em 20 minutos estava na frente da casa imunda do Barry, odiava estar naquele lugar, odiava o motivo de estar naquele lugar, teria que aturar o deboche do Barry e precisar reviver momentos antigos, odiava ver o Rafe chapado
Respiro fundo e tomo coragem pra entrar na casa, assim que bato na porta o Barry atende com um sorrisinho debochando na cara
-Oi gatinha, pode entrar, se sinta a vontade
Entro na casa, o lugar estava uma completa zona e tinha um cheiro péssimo, uma mistura de comida vencida, maconha e cerveja. Estava respirando devagar, não queria inalar muito daquele cheiro e nem ficar aqui muito tempo
-Cade ele?
-Aqui gatinha
Andamos até a sala e ele aponta pro sofá, o Rafe estavas sentado completamente jogado, os olhos fechados, a roupa amassada e os cabelos bagunçados. Pelo estado que ele estava sabia o quanto tinha extrapolado na noite passada, suspiro pesado
-O que ele usou noite passada? -olho pro Barry
-Bebeu pra caralho, cheirou muito e ainda fumou um pouco de maconha, traduzindo, ele tirou o atraso desses últimos meses
Reviro os olhos, aquele filho da puta estava se divertindo com isso, ele adorava ver o Rafe totalmente derrotado e entregue a esse mundo. Me segurei ao máximo pra não socar a cara dele, a final de contas, a culpa não era dele, o Rafe veio andando sozinha ate aqui
-E tem mais uma coisa, ele tava tão louco que disse que iria pagar pra todo mundo, então preciso da minha grana, são $300 dólares
Respiro fundo passando a mão no rosto, olho pro Rafe e depois pro Barry concordando com a cabeça
-Tudo bem, agora me ajuda a levar ele pro carro
Barry concorda com a cabeça. Vamos até o sofá e fazemos o Rafe se apoiar na gente, ele estava fedendo a cerveja barata e maconha. Com ajuda do Barry não foi muito difícil levar o Cameron até o carro, ajeito ele no banco passo o cinto e fecho a porta me virando pro Barry. Pego o dinheiro na carteira e dou pra ele
-Sempre bom fazer negócios com você gatinha, ate a próxima
-Espero que não tenha próxima vez
Falo séria e ando até o banco do motorista, ligo o carro e saio o mais rápido possível daquele lugar.
O caminho todo até minha casa foi um completo silêncio, com o movimento do carro o Rafe já tinha acordado um pouco, mas continuava quieto e praticamente imóvel, imagino que sejam os efeitos da noite passada. Assim que chegamos em frente a casa, imploro pra que meu avô esteja no escritório bem ocupado e não me veja chegando com o Rafe.
-Chegamos, consegue andar? -falo séria olhando pra ele
-Acho que sim -ele fala baixo e abre a porta do carro
Saio do carro também, vejo ele apoiado no carro, tudo deveria estar girando, minha vontade era deixar ele cair de cara no chão, mas ainda não era o momento de brigar com ele. Ando até o Cameron e faço ele passar um braço por cima do meu ombro, ele não apoia todo o seu peso em mim, mas me deixa ajudar ele a entrar na casa e subir até o meu quarto. Agradeço mentalmente pela Mary estar ocupada na cozinha e meu avô no escritório, deixando o caminho totalmente livre
-Precisa tomar banho, vou pegar um remédio e suas roupas
Ele só concorda com a cabeça e vai em direção ao banheiro. Pego as roupas dele no closet e os remédios, deixando tudo em cima da cama. 15 minutos depois vejo a porta do banheiro abrir e o Cameron sair do com a toalha enrolada na cintura, ele pega as roupas em cima da cama e volta pro banheiro. Assim que ele sai novamente, toma os remédios e se joga na cama deitando do meu lado
Estava brava demais pra olhar para ele, então foco na tela do celular, ouço ele suspirar do meu lado
-Sei que esta brava, mas deixa pra brigar comigo mais tarde, estou acabado
Rafe vira de lado e não demora muito pra voltar a dormir
Algumas horas depois, estava sentada na minha cama lendo um livro, Rafe continua dormindo. Eu já tinha levantando e tomado café da, também tomei um banho, parecia que aquele cheiro horrível tinha impregnado em mim.
Vejo o Rafe se mexer do meu lado, ele coça os olhos e se senta passando a mão no rosto
-Vai escovar os dentes, precisamos conversar
Ele não responde nada, so levanta e vai até o banheiro, voltando minutos depois. Ele fica em pé se apoiando na parede, eu também levanto e olho séria pra ele
-Espero que tenha noção do que fez ontem
-Eu sei, mas foi só um deslize
-Um deslize? -aumento meu tom de voz- Rafe, você gastou $300 dólares em drogas, tem noção de que é muito dinheiro pra gastar em algo que te faz mal? Não, você não tem noção, porque quando se trata disso você fica cego
-Sei que passei dos limites, eu te devolvo o dinheiro depois -ele me olha, não parecia nenhum pouco preocupado com o que tinha acontecido
-Que se foda o dinheiro, me preocupo com você -percebo que estou quase gritando e abaixo o tom de voz- Você pode até estar gagando pra isso, mas eu me importo, você é meu melhor amigo e quase morreu a 10 meses atrás ou você se esqueceu? Porque eu me lembro muito bem, me lembro de surtar com a possibilidade de você morrer, tudo por causa dessa merda que você insiste em cheirar, eu deveria ter te proibido de usar isso
-Eu sei de tudo isso e estava bem, já disse, foi um deslize, eu já estava meio bêbado e me deixei levar, me desculpe ok? Será que podemos terminar com essa conversa
-Não, não podemos...não foi um deslize Rafe, quando se tem um vício você precisa parar, não adianta ficar usando só em festas e achar que está sob controle, porque você sempre vai ter uma recaída mais forte -dou um passo pra frente em direção a ele- Você precisa admitir que esta viciado e me deixar ajudar
Rafe olho pra baixo e passa a lingua pelos lábios balançando a cabeça negativamente, ele volta a olhar pra mim, o azul dos seus olhos estavam escuros, ele estava furioso, tinha tocado num ponto delicado
-Não estou viciado, já cansei desse seu discurso, sinto muito te dizer isso, mas você está errado e eu não preciso da sua ajuda
Ele desencosta da parede e anda até a porta, me coloco na frente dele, não deixaria ele sair assim daqui
-Não precisa da minha ajuda? Sem mim quem iria pagar as suas dívidas? Quem iria ir buscar você de madrugada nos piores lugares possíveis porque você esta completamente chapado? Quem estaria ao seu lado quando você discute com seu pai? Você precisa muito da minha ajuda, e sabe porque? PORQUE VOCÊ ESTA VICIADO, essa é verdade que nem eu queria admitir, mas se dá última vez tivesse percebido isso, talvez não tivéssemos aqui agora...você não consegue parar de usar Rafe, não é mais pra fugir das brigas com seu pai, virou algo do seu dia a dia, algo normal, mas não é, e você precisa admitir isso pra si mesmo
Falo tudo isso olhando pros olhos deles, tentando buscar o lado mais racional dele. Mas o que encontro é alguém furioso, ele morde o lábio e seguro meus braços com força me pressionando contra a porta. Ele ri como se debochasse de tudo que eu falei, aquilo me assustou e ele estava apertando meus braços
-Bem hipócrita você né? Fala como se eu nunca tivesse feito nada por você...quem ficou com você em todos os dias de tempestade? Quem cuidou de todos os seus machucados quando você mesma se mutila? Quem deixa você chorar deitada no colo? EU -ele grita apertando mais ainda meus braços- VOCÊ É TÃO FODIDA QUANTO EU, TÃO PROBLEMÁTICA QUANTO EU, ENTÃO NÃO BANQUE A SUPERIOR E VENHA ME DAR LIÇÃO DE MORAL OU ME CHAMAR DE VICIADO, VOCÊ NÃO TEM ESSE DIREITO
Não queria chorar, não queria demonstrar fraqueza na frente dele, precisava me manter firme, ele não iria gritar assim comigo e ainda me ver chorando, não daria essa vitória pra ele
-EU TENHO SIM ESSE DIREITO -solto meus braços das mãos deles, eles estavam doloridos- EU TE AJUDEI MUITO MAIS DO QUE VOCÊ ME AJUDOU, PORQUE EU TENHO MATURIDADE E ASSUMO MEUS PROBLEMAS E TENTO MELHORAR, DIFERENTE DE VOCÊ QUE PARECE ADORAR SER O PROBLEMÁTICO, ASSIM PODE FAZER SEU PAPEL DE VÍTIMA AVONTADE
Ele ri de novo e passa a mão pelo rosto. Ele se aproxima de mim colocando as duas mãos de cada lado da minha cabeça, apoiando na porta e me deixando encurralada
-Vitima? Esse papel é seu, você que chora pelos lados lamentando que a mamãe esta longe e não te da valor...você falou que tenta melhorar, mas que eu me lembre a semanas atrás você estava sentada nessa cama com as mãos machucadas, percebi seu grande controle...ENTÃO NÃO ME VENHA COM ESSAS MERDAS DE DISCURSOS, NÃO É MELHOR QUE EU -ele se afasta de mim- Siga seu próprio conselho e aceite que você não é a garotinha perfeita que banca pra todos, você é problemática, impulsiva, manipuladora e tão fodida da cabeça quanto eu
Não consigo mais segurar, por mais que queira me manter firme, tudo aquilo era demais pra mim, sinto as lágrimas escorrem pelo meu rosto sem parar
-SAI DAQUI...VAI EMBORA, ME CANSEI DE VOCÊ E DESSA MERDA TODA -abro a porta- VAI EMBORA AGORA
-Depois que eu sair, cuidado com as mãozinhas -ele diz passando por mim e debochando
Bato a porta com força assim que ele sai, chorava sem parar, como ele podia ter falado tudo aquilo, depois de tudo, eu tentei ajudar ele e era isso que ganhava. Ele pegou em todos os pontos fracos, sabia que iria me machucar e mesmo assim fez. Nós já tinham os brigado outras vezes, mas nada como hoje, sempre eram briguinhas bobas que não duravam nem dois minutos da gente se ignorando, mas agora, agora ele tinha pegado pesado demais
Estava com raiva dele e com raiva de mim por ter deixado tudo chegar a esse ponto. Sentia como se fosse explodir, o Rafe era minha família, meu melhor amigo, porto seguro e agora tudo parecia acabado, mesmo estando com raiva sentia medo desse ser o fim, de depois dessa briga a gente não se resolver mais. O medo de perde ele era quase tão grande quanto a raiva que eu estava sentido, queria socar o espelho e sentir a dor dos cacos cortando minha mão, mas não daria esse gostinho pra ele, não faria do deboche dele uma realidade.
Ando de um lado pro outro do quarto tentando me acalmar, minha respiração estava desregulada e minhas mãos tremendo, precisava fazer algo e a ideia mais maluca passa pela minha cabeça. Eu tinha aprendido a gostar de surf e era minha última solução pra me sentir melhor
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Capítulo longo e problemático, explorando os outros lados do Rafe e dessa amizade