Stay With Me - Cartas Esqueci...

By Mai-Santos

138K 12.3K 8.1K

Durante um casamento, Miranda, editora de uma revista em Paris, tem uma discussão com seu namorado e acaba en... More

1 - Azuis frios
2 - Castanhos quentes
3 - Escuro fumegante
4 - Gota transparente
5 - Delírios rubros
6 - Azul avelã
7 - Boca rosada
8 - Sob o céu escuro
9 - Véu branco
10 - Luz vermelha
11 - Branca por fora, rosada por dentro
12 - Cristais brilhantes
13 - Envelope azul
14 - Seda preta
15 - Flor do campo rosa
16 - Botão de rosa
17 - Tons de ouro e rosa
18 - Aura flavescente
19 - Rastros vermelhos
20 - Proeminência avermelhada
21 - Memórias cinzas
22 - Lábio avermelhado
23 - Macia e branquinha
24 - Rosas vermelhas
25 - Noite escura
26 - Nada além da espera escura
27 - Devaneios com vinho tinto
28 - Subconsciente obscuro
29 - Traço rosa intenso
30 - Barriga pálida
31 - Lembranças rubras
32 - Despedida preto no branco
33 - Reflexo avermelhado
35 - Lágrimas no rosto vermelho
36 - Rosas dele e dela
37 - Lábios carmesim
38 - Bandeira branca
39 - Ouro sobre azul
40 - Um azul e outro branco
41 - Mamilos cor de coral
42 - Pequeno anjo prateado
43 - A luz da calmaria
44 - Vestido grego branco
45 - Brilhante solitário
46 - Azul da prússia lhe cai bem
47 - Manhã alaranjada

34 - Choque entre castanho e azul

1.9K 229 228
By Mai-Santos

"Sim, fui embora em uma tentativa falha de nos proteger da dor. Sim, escolhi acabar com nossa história antes que tudo esmorecesse e só restasse de nós a mágoa. Sim, eu pensei que estava fazendo a coisa certa."

𝔻elphine tinha perto de quarenta anos e aparentava exatamente essa idade. Havia em seu rosto a beleza angelical de uma mulher madura e polida. O canto de seus olhos apresentavam linhas que se intensificavam quando um sorriso levantava as maçãs de seu rosto. Os lábios pequenos e cheios pareciam ter sido desenhados pelo mais talentoso artista e, naquele momento, eram castigados pelos dentes ansiosos.

Estava sentada no grande sofá da sala de estar, sem conseguir dizer uma palavra enquanto Miranda passeava de um lado para outro, dizendo nervosamente:

"Por que toda vez que sigo em frente ela tem que perturbar isso de alguma forma? Eu já havia aceitado o fim, então descobri que estava grávida. Eu já estava conformada com seu abandono e estava bem com a ideia de ter meu filho sozinha, então o currículo dela aparece magicamente em minha mesa. Não compreendo, não consigo entender o que ela quer depois de tanto tempo."

"Eu acho que..."

"Essa não é uma maneira muito sutil de tentar contato, é muito descaramento pedir-me emprego depois de me deixar grávida." Interrompeu exaltada. "Isso tem que ter algum significado, não é?"

Miranda olhou esperançosamente para Delphine e parou de andar por um momento.

"Primeiramente, sente-se um pouco." Disse à Miranda, esperando ela dar a volta na mesa de centro e acomodar-se ao seu lado. "Mira, vou ser sincera porque eu te amo. Acho que está sendo neurótica, não acredito que ela saiba que você trabalha lá, não pode ser proposital."

"Eu saí em pelo menos dois jornais somente na última semana, ela tem que saber." O rosto dela ficou ainda mais tenso.

"É claro que não, sem falar que sequer sabemos quando ela deixou esse currículo lá, pode ter sido há meses atrás, quando você nem sonhava em ir para o Elias-Clark."

Miranda desviou o olhar, franzindo os lábios pensativamente.

"Mira, você está deixando a emoção falar mais alto. Você não é assim, você é guiada pela razão, tenta trazer ela de volta para conseguir pensar claramente."

Miranda a encarou, mas nada disse. Entretanto, sua expressão dizia muito, a face afogueada de raiva e o olhar sério e congelado.

"Eu sei o que você está pensando, não faça isso." Delphine tocou a mão dela delicadamente, fitando-a com preocupação. "Você está grávida, não precisa dessa tensão na sua vida. Tem um número de contato no currículo, certo?"

Miranda assentiu com a cabeça.

"Ligue para ela e convide-a para jantar..." Foi interrompida pelo riso sarcástico de Miranda. "Tudo bem, então convide-a para um almoço, impessoal e objetivo. Vocês precisam conversar, entenderem-se e encerrar esse ciclo."

Ela continuou em silêncio, com um estranho olhar amargo.

"Mira, prometa para mim que não vai contratar essa mulher com interesses perversos."

"Tudo bem, eu não vou fazer isso." Disse ela, com a voz suave e baixa. "Vou pensar com clareza."

"Diga que não está me enganando."

Movendo-se calmamente, Miranda pegou o currículo na mesa de centro e o rasgou em pedaços sem pensar duas vezes.

"Não quero quaisquer contato com essa mulher, nunca mais."

°°°°°☉°°°°°

Fora Lilly quem atendera a ligação do RH naquelas primeiras horas de sábado. No momento seguinte em que desligou o telefone, invadiu o quarto de Andrea com tanto ímpeto, que sequer lembrou-se de bater na porta.

"Andy, acorde!" O grito de Lilly a fez despertar em sobressalto.

Andrea usava roupa fresca para dormir e estava agarrada em um panda de pelúcia. Apoiando-se nos cotovelos, encarou-a com o olhar aturdido.

"Que diabos, Lilly!"

"Diga-me que está bem acordada para essa notícia!" Exclamou ela, pulando de excitação enquanto abria as janelas.

"Impossível não estar."

"Não temos tempo para reclamações e mau humor, acabei de receber uma ligação do Elias-Clark e você foi contratada!"

"O quê!?"

"Você tem um emprego, Andy! Não vai mais precisar voltar para Ohio. Isso não é incrível?"

"Meu Deus!" Exclamou Andrea, num sussurro emocionado. "O que eu faço agora?" Sentou-se na cama tentando absorver a notícia.

"Você começa na segunda-feira, então precisa se preparar." Disse Lilly, sentando-se ao lado dela.

Andrea a encarou por alguns segundos, ainda atordoada.

"Eu preciso de roupas decentes, quase tudo está em Ohio." Disse ela, levantando e caminhando euforicamente pelo pequeno espaço do quarto. "Preciso fazer o caminho até o prédio para não me atrasar em meu primeiro dia. Tenho que encontrar uma solução para esse cabelo lastimável. Preciso fazer tanta coisa."

"Calma. Resolveremos tudo até amanhã, e então iremos comemorar."

"Não disseram nada sobre uma entrevista ou algo parecido?" Ela franziu o cenho com desconfiança. "Simplesmente me contrataram sem nenhuma conversa? Informaram algo sobre o cargo?"

"Não, mas você disse que aceitaria qualquer coisa a essa altura, não é? Precisa começar de algum lugar, e esse é o seu grande começo, Andy." Um leve sorriso apareceu no rosto de Andrea. "O que foi que eu disse?" Continuou Lilly. "Não falei que as coisas começariam a dar certo? Você só tem que agarrar essa oportunidade."

"Ah, eu irei agarrá-la com muita força."

"Exatamente quando você estava prestes a ir embora." Lilly levantou-se e segurou-lhe os ombros com um sorriso. "Parece que o destino está te dando um empurrãozinho para o caminho certo."

°°☉°°

Andrea estava parada na calçada, diante do imponente prédio do Elias-Clark. Observou por um momento o fluxo de pessoas entrando e saindo pelas portas de vidro para depois entrar.

Atravessou o hall de entrada e parou diante do balcão da recepção. Antes que dissesse qualquer coisa, um rapaz olhou-a com as sobrancelhas arqueadas e disse:

"Identificação, por favor."

"Eu recebi uma ligação sobre uma vaga, mas não sei exatamente para onde ir." Disse ela, entregando-lhe o documento.

"O Departamento Pessoal fica no segundo piso."

"Obrigada." Ela ofereceu um tímido sorriso ao rapaz sério.

Pegou de volta seu documento e caminhou em direção ao grupo elevadores. Por sorte, havia um elevador disponível no andar. Pressionou o botão para o segundo piso, mas o elevador não se moveu, tampouco as portas se fecharam. Ela pressionou mais uma vez, mas nada aconteceu.

Uma mulher de sorriso gentil apareceu em frente a porta e disse:

"Você deve ser nova aqui, esse elevador é reservado, só funciona se você tiver uma chave de acesso."

"Não deveria haver uma placa ou algo assim?" Andrea revirou os olhos, sorrindo cortesmente.

"Mas tem." A mulher ergueu o dedo indicador.

Andrea deixou o interior do elevador e olhou para cima, onde se via uma placa dourada que dizia "Reservado".

"Eu sou uma tonta."

"Não se preocupe, acontece todo o tempo."

A porta do elevador ao lado se abriu e assim que a massividade de pessoas saíram, ambas o ocuparam. Analisando seu reflexo no espelho, Andrea ajustou a lapela de seu paletó e arrumou a postura.

Naquele mesmo instante, quinze andares acima, Emily falava ao telefone enquanto escrevia em seu bloco de anotações. Nigel saiu da sala de Miranda e depositou um maço de papéis sobre a mesa da assistente. Assim que ela desligou o telefone, ele informou:

"Miranda quer que você faça cinco cópias disso para a reunião das dez."

"Santo Cristo! Ela quer que eu recupere as anotações da Wang, o telefone não para de tocar e eu não posso sair e deixá-lo, agora mais isso." Protestou Emily, sussurrando para não ser ouvida pela chefe. "Nem sei por onde começar. Eu sou apenas uma!"

"Ela não iria contratar uma outra assistente?"

"Ela aparentemente está atrasada. Ainda fui informada de que terei que treiná-la, é tudo o que preciso nesse momento, mais um problema para lidar."

"Tudo que você faz é lamentar? Jesus, criatura!" Exclamou Nigel. "Tome um Valium e não deixe Miranda ver você assim."

Com esse comentário, ele deixou a antessala.

Poucos minutos depois, Emily viu uma jovem de cabelos castanhos e ondulados, vestindo um paletó escuro e com aparência um pouco perdida, adentrar a antessala.

"E você, quem é?" Perguntou a ruiva.

"Oh, olá! Você deve ser a Emily. O setor de pessoal me enviou para o cargo de assistente."

"Então você deve ser a Andrea." Emily cruzou os braços e encarou-a duramente. "Está atrasada."

"Eu tive que passar no primeiro andar para assinar o contrato. Pensei que meu turno começava às oito horas da manhã."

"Oito significa sete aqui, precisa chegar antes dela e preparar todo o seu dia de trabalho. Não importa mais, vá logo falar com ela porque eu tenho um monte de coisas para você fazer."

"Tudo bem, alguma dica?"

Emily revirou os olhos e deixou de dar atenção para ela. Andrea franziu o cenho pela indelicadeza e encaminhou-se para a sala de Miranda.

Até então, tudo o que ela podia ver era uma cabeleira branca acinzentada, brilhando pela forte luz que atravessava as janelas longas, e panturrilhas arredondadas sob a mesa de vidro. Limpou o suor das mãos na calça e pigarreou para atrair a atenção da mulher.

"Olá, o meu nome é Andrea Sachs e eu fui designada para ser sua assistente." Sorriu reunindo toda a sua graça e simpatia.

A cadeira girou lentamente e Miranda se revelou para ela. Seus olhares se encontraram como um choque de temperatura, azuis frios e indiferentes com os castanhos quentes e assustados.

Andrea sentiu o ar entre elas ficar mais denso e preenchido de algo que ela nunca havia sentido antes na presença de Miranda. Uma vertigem nasceu dentro dela e com a voz vacilante tentou dizer:

"Miranda!? Oh, meu Deus, você... você está aqui. Que coincidência. Como... como você está?"

Miranda permaneceu em silêncio com uma expressão inexorável em seu rosto.

"Certo, você está brava, eu sei. Sinto muito pela forma como tudo terminou. Eu quis ligar, acredite, eu quis muito, mas eu..."

"Onde está meu café?" Miranda a interrompeu com uma voz estranhamente suave e sombria.

"Como?"

"Você chegou atrasada e não trouxe o meu café." Completou ela, desviando a atenção para o jornal em suas mãos.

Com uma ruga entre as sobrancelhas, Andrea ficou paralisada por alguns segundos, mas depois conseguiu voltar a falar.

"Eu vou providenciar agora mesmo." Disse a jovem, girando em seu próprio eixo e saindo rapidamente da sala.

"Ela quer café." Pronunciou diante de Emily, com a voz atravessada pela aflição.

"Tem uma cafeteria do outro lado da rua, use o cartão da Runway. Não demore, preciso ir na sala de impressão e você tomará conta do telefone."

O tempo que ela gastou descendo pelo elevador, atravessando a rua e alcançando a cafeteria não fora suficiente para absorver o que estava acontecendo. Em dias normais, todo aquele ruído da cidade a deixaria irritada, mas nesse dia, Andrea ouvia apenas seus pensamentos viajando rapidamente por sua mente.

"Você está bem?" Perguntou a atendente da cafeteria, com o copo de café estendido na direção dela.

"Como? Oh, sim. Claro!" Andrea despertou de seus devaneios e pegou o copo. "Obrigada." Sorriu gentilmente e encaminhou-se para o prédio.

Miranda massageava as têmporas com a ponta dos dedos quando avistou Andrea entrando na antessala. Corrigiu rapidamente a postura e tornou inexpressiva a sua face.

O copo de café foi colocado delicadamente sobre a mesa por uma mão trêmula. Sem direcionar o olhar para a jovem, ela o pegou e levou aos lábios.

Estremeceu no mesmo instante em que o café férvido tocou sua língua. Não conseguia se lembrar da última vez que experimentara essa explosão de prazer cafeinado.

"Qual é o seu problema?" Disse Miranda, empurrando o copo na direção da outra. "Você me quer morta?"

"De maneira alguma."

"Preciso dizer que meu café é descafeinado?"

"Eu... eu sinto muito. Eu não sabia."

"Pergunto-me se você sabe fazer alguma coisa." Disse ela, com a voz séria, fitando-a intensamente com os olhos gélidos.

Andrea manteve os olhos conectados aos dela por um momento. Pela primeira vez, Miranda não conseguiu lê-los.

"Como eu disse, sinto muito. Vou corrigir meu erro." Disse a jovem, pegando de volta o copo e saindo da sala em seguida.

Miranda levou a mão ao ventre e respirou profundamente, uma vez e depois outra, na tentativa de aliviar a tensão de seu corpo. Sentia um nó preso na garganta que não descia de maneira alguma.

Não muito longe dali, Andrea estava mais uma vez diante da mesma atendente da cafeteria. A mulher de pele acobreada e cabelo anelado lhe sorriu complacentemente enquanto entregava o copo.

"Você é assistente nova da Miranda, não é?"

"Como você sabe?"

"Dois cafés em menos de dez minutos, o pedido por descafeinado, o olhar desesperado, a ansiedade para ser logo atendida. Basta somar tudo isso."

Andrea sorriu timidamente e baixou os olhos, como se estivesse embaraçada.

"Culpada!"

A mulher tirou um papel do bloco de notas e começou a escrever enquanto dizia:

"Você é mais simpática do que a ruiva, então eu vou te dar o telefone da loja, assim, quando precisar de café, você liga e pede para falar comigo. Posso deixar seu pedido pronto enquanto estiver a caminho. O que acha?"

"Isso seria de grande ajuda. Obrigada..." Andrea parou por um momento e leu o nome no papel. "Rebecca. Eu tenho que ir agora."

Ela sorriu e saiu rapidamente do estabelecimento.

Ao retornar para a sala de Miranda, Andrea deixou novamente o copo na frente dela e esperou ansiosamente.

Sem parar por momento algum de analisar os esboços espalhados sobre a mesa, Miranda levou a mão instintivamente ao copo e provou o café, agora correto.

Na ausência de qualquer comentário, Andrea se pronunciou:

"Miranda, será que podemos conversar por um instante?" Disse ela, com uma voz doce e gentil.

Miranda levantou o rosto para fitá-la, passeando os olhos pelo corpo de Andrea, de baixo para cima. Havia em seus lábios rosados um leve e quase imperceptível sorriso dissimulado e seu olhar estava iluminado por um brilho ardil.

"Que isso que está vestindo?" Pronunciou suavemente.

"É o meu paletó." Andrea olhou para as próprias vestes procurando qualquer indício de erro.

"Parece uma assistente de advogado. Esse lugar parece um escritório de advocacia para você?" Perguntou Miranda, com a voz perigosamente suave.

"Acredito que não."

"Deve se vestir de acordo com o ambiente que trabalha. Não quero mais ver você com essa roupa, desapareça da minha frente." Sacudiu uma mão leviana para que a outra saísse.

Sem dizer uma palavra, Andrea virou-se para sair. Parou diante da mesa de Emily e perguntou:

"O que há para fazer na sala de impressão?"

"Miranda precisa de cinco cópias desse arquivo para uma reunião."

"Eu posso fazer isso."

°°☉°°

Os papéis escorregavam pela bandeja de impressão enquanto a copiadora trabalhava ruidosamente.

Andrea sentia-se esgotada e vazia. Havia uma ponta de mal-estar em seu estômago e um gosto amargo preenchia sua boca.

Ela pensou que algum problema deveria haver consigo. Seus instintos de autodefesa deveriam alertá-la para que fosse embora imediatamente, mas algo a prendia lá.

Tinha conhecimento das intenções de Miranda ao contratá-la, ainda assim, permanecia lá. Não era a primeira vez que ela permitia deliberadamente ser machucada por alguém por quem alimentava sentimentos.

A máquina encerrou a impressão. Ela arrumou os arquivos em pastas com grampos e deixou a sala.

Ao passar pela porta, esbarrou acidentalmente em um corpo alto e as pastas caíram no chão. Ela rapidamente se pôs de joelhos e começou a recolhê-las.

"Desculpe, eu não o vi." Disse ela.

"Eu quem devo me desculpar, estava desatento. Você está bem?"

Ao ouvir a voz do homem, Andrea levantou o rosto e o viu se colocar de joelhos para ajudá-la.

"Sim, obrigada." Sorriu por cortesia.

"Onde está o seu crachá, jovem?" Perguntou ele, ajudando-a a se levantar.

"Eu ainda não o recebi, acabei de chegar."

"E por que está tão apreensiva?"

Andrea teve uma súbita vontade de chorar, mas não o fez.

"Minha chefe odeia minhas roupas e, a não ser que eu trabalhe de lingerie, não há nada que eu possa fazer sobre isso."

"Se eu puder adivinhar, sua chefe é Miranda?" Ele sorriu, divertidamente, e Andrea assentiu, movimentando a cabeça. "Sei que ela pode ser difícil, mas não é pessoal."

Era definitivamente pessoal, Andrea pensou, mas não falou.

"Acredito que você ainda não esteve no andar de cima. Venha comigo."

Ele encaminhou-se para o elevador reservado e Andrea ficou para trás. Hesitou um instante, mas logo apertou as pastas contra o peito e seguiu o homem.

Depois de as portas do elevador se abrirem no piso acima, eles saíram. Andrea viu-se diante de uma grande sala com expositores de sapatos, bolsas, roupas e acessórios. Todo o andar era um closet completo, com provadores e espelhos de parede inteira.

Andrea deu alguns passos lentos, olhando em volta para tudo com os olhos bem crescidos e a boca aberta.

A moça na mesa da recepção sorriu ao ver o homem que a acompanhava. Ele meneou gentilmente a cabeça para ela e seguiu com Andrea entre os corredores de roupas.

"Parece um shopping." Comentou atônita.

"Isso é um exagero." Ele riu, puxando um vestido azul prussiano pelo cabide e colocando na frente dela. "Este combina com seus sapatos."

"Você acha que ela vai gostar?"

"Eu acredito que ela não vai reclamar. Isso já é um grande avanço tratando-se de Miranda."

Eles sorriram. Andrea analisou seu reflexo no espelho por um momento.

"Você saberia dizer qual o problema do meu paletó?"

"Bem, eu não sou exatamente um especialista da moda. Não há nada de errado em usar um paletó, mas se tratando de uma editoria de moda, é importante ter um estilo que reflita sua personalidade. Miranda não se importa se você usa alta costura ou não, contanto que você tenha originalidade." Ele sacudiu o vestido no cabide e perguntou: "Você vai experimentar?"

"E eu posso simplesmente levar? Não vou ter problemas com isso?"

"Se for da temporada anterior, ninguém irá notar. Mas você terá que devolver depois, é apenas um empréstimo."

"Entendo." Baixou os olhos para a pilha de pastas em seus braços, sem saber direito o que fazer com aquilo.

"Isso é para a reunião, eu suponho." Disse ele. "Posso levar para você."

"Eu não quero incomodá-lo ainda mais."

"Não há incômodo algum. Eu vou para a sala de conferência de qualquer maneira."

"Muito obrigada."

Ele pegou as pastas de suas mãos e piscou para ela antes de deixar o closet. Andrea olhou para o vestido e entrou no primeiro provador que encontrou.

°°☉°°

"Onde diabos você estava?" Emily levantou assim que Andrea entrou na antessala.

"Miranda queria que eu trocasse de roupas." Abriu os braços com um olhar de obviedade.

"Eu não quero saber disso." Disse a ruiva, com uma veia pulsando em sua testa. "O que você fez com os arquivos? Miranda acabou de ir para a reunião e se os arquivos não estiverem lá, ela comerá nosso fígado cru."

"Você é muito tensa. Os arquivos já estão na sala de conferência, um homem gentil levou para mim."

"Que homem?" Seus olhos azuis duplicaram de tamanho.

"Eu esqueci de perguntar seu nome. Mas ele me mostrou o closet e deixou que eu pegasse esse vestido emprestado." Sorriu confiantemente.

Emily fechou os olhos e respirou fundo, pressionando o osso nasal com os dedos.

"Deixe-me ver se eu entendi corretamente." Começou ela, com a voz calma. "Você seguiu um desconhecido até o closet e confiou a ele os arquivos confidenciais de Miranda?"

"Sim." O sorriso de Andrea se desfez, transfigurando sua expressão em receio.

"Oh, meu Deus! Eu sou jovem demais para morrer." Emily agitou as mãos nervosamente, andando de um lado a outro.

"Eu não achei que seria um problema. Ele disse que estaria na reunião e tinha a chave do elevador reservado, achei que fosse algum membro da gestão."

"Andrea, como exatamente esse homem era?"

"Estatura alta, com uns quarenta anos, cabelo escuro, ondulado e penteado para trás, muito elegante e educado."

"Deus, James te levou para o closet?" Aproximou-se rapidamente de Andrea, com um brilho no olhar. "Que filha da mãe sortuda!"

"Então devo supor que não estou com problemas."

"Não. Ele é a pessoa de maior confiança de Miranda aqui dentro, mas não seja ingênua assim de novo, nem todo mundo aqui é aliado e ela é bastante rigorosa quanto à segurança de informações."

"Tudo bem."

"O que ele disse para você?"

Andrea vira pela primeira vez um sorriso enfeitando o rosto de Emily, fora também a primeira vez que a ruiva mostrou algum remoto interesse por ela.

"Nada de relevante."

Revirando os olhos, Emily voltou para sua mesa com uma expressão entediada.

"Seu computador chegará somente amanhã, enquanto eu faço o trabalho difícil, atenda as ligações e anote os recados."

"Tudo bem. Que horas Miranda volta?"

A ruiva revirou os olhos e bufou impacientemente. Andrea continuava surpresa com o modo grosseiro da outra.

Poucos minutos se passaram até o telefone tocar e ela atender sua primeira ligação.

"Escritório de Miranda Priestly, em que posso ajudar?... Olá Sr. Tomlinson, ela não pode atender agora, gostaria de deixar algum recado?... Tudo bem, tenha um bom dia." Depois de registrar a ligação na agenda, levantou o olhar para Emily. "Era o advogado dela."

"Ele não é só advogado dela." Disse a ruiva, com um ar de especialista no assunto.

"Como assim?"

"É o namorado também."

"O quê?!"

"Qual o motivo da surpresa?"

Andrea sentiu o coração bater desenfreadamente no peito, pesado como chumbo. Não se preocupou em explicar-se, talvez Emily jamais pudesse compreender. Talvez nem mesmo ela compreendesse, nunca acreditou ter qualquer espécie de chance, de qualquer maneira.

Não falou mais nada, apenas desceu o olhar para a anotação que havia acabado de pôr na agenda.

Ligação do Sr. Tomlinson: Tenho novidades. Almoço amanhã?

°°☉°°

Quando Andrea entrou em seu apartamento já passava das oito horas. Ficou encostada atrás da porta com o rosto sério e os olhos cansados. Lilly estava deitada no sofá vendo TV e logo levantou a cabeça para olhá-la.

"Olá, estranha. Como foi o primeiro dia? E por que está vestida assim?"

"Minha chefe odiou as minhas roupas." Respondeu Andrea, com a voz monótona.

Lilly sentou-se imediatamente com uma expressão confusa. Com passos pesados, Andrea caminhou até o sofá e sentou-se ao lado dela.

"Miranda é a minha chefe."

"Quem é essa?"

"É a mulher com quem me envolvi na França. O nome dela é Miranda e, por alguma obra louca do destino, foi ela quem me contratou para ser sua assistente."

Lilly a olhou com espanto. Não soube o que dizer por um longo momento.

"Andy, isso é loucura! Quase não posso acreditar."

"Sim, eu ainda não sei se acredito também." Disse Andrea, sentindo os olhos molhados. "Parece que estou sonhando. Um daqueles sonhos estranhos de aviso, alertando que devo entrar em contato com ela. Exceto que não é um sonho, e a realidade é que perdi a minha chance de fazer isso depois de todo esse tempo. Agora não há nada que eu possa fazer porque ela já me odeia."

Lilly aproximou-se então dela, passando o braço em torno de suas costas. Andrea repousou o
rosto no seu ombro e aconchegou-se no abraço.

"O que ela disse?"

"Não disse muito." Andrea suspirou. "Eu tentei conversar, mas ela está com muita raiva, deu-me ordens e tratou-me como se nunca tivesse me conhecido. Eu quis falar com ela de novo, mas depois de uma reunião ela desapareceu o resto do dia."

"Você estava tão empolgada com esse emprego. Eu sinto muito que não tenha dado certo."

"Ainda é cedo para dizer."

"Como assim?" Peguntou Lilly, afastando-se para olhar a amiga.

"Eu vou voltar lá amanhã, vou fazê-la me escutar."

Lilly olhou-a por um momento em silêncio, estudando a expressão de profunda angústia nos olhos de Andrea.

"Você ainda tem sentimentos por ela, não é?" Perguntou, cuidadosamente.

"Nunca deixei de ter. Eu fui tão tola, não sei o que é isso que acontece comigo, não sei o que pensar ou o que sentir. Não sei por que sou tão confusa."

"Vai tentar reconquistá-la?"

"Não acho que isso seja possível. Primeiro, porque todo esse ódio que senti emanando dela só me diz que qualquer sentimento que ela já teve por mim esmoreceu. Segundo, ela está com alguém, e se ela está feliz, não vejo motivos para perturbá-la de novo."

"Posso estar enganada, mas se ela está dedicando tanto ódio para você, talvez no fundo ainda goste de você. Minha mãe sempre diz que o ódio pode ser amor velado."

"Isso não faz nenhum sentido." Ela sorriu pela primeira vez naquela noite.

"Ela acabou de se mudar, esse relacionamento deve ser recente, não deve significar muito ainda. Você me julgaria um ser humano horrível se te incentivasse a tentar mesmo ela estando com alguém?"

Andrea corou embaraçada. Nunca teve coragem de revelar para ninguém as circunstâncias em que conheceu Miranda.

"Lilly, há muitas coisas que não te contei sobre Miranda e eu. Sinto um certo dever de não revelar certos detalhes que exponham a intimidade dela, além de estar envergonhada pelas coisas que fiz. Não quero repetir meus erros."

"Eu não vou perguntar."

Tornou a abraçar a amiga e apertá-la firmemente em seus braços.

°°°°☉°°°°

Usando uma calça justa esportiva, camisa de manga longa com um zíper na frente e tênis de cano baixo, Miranda caminhava displicentemente pelo parque da Madison Square.

Sentou-se em um banco perto da fonte e levou a garrafa de água aos lábios. Estava pouco ofegante, mas as sombras das árvores e a leve brisa chacoalhando os galhos deram-lhe um pouco da paz que ela precisava.

Delphine chegou logo em seguida e sentou-se ao lado dela, com a respiração tensa e o rosto avermelhado pela corrida recente.

"Está atrasada." Murmurou Miranda.

"Eu vi quando você chegou, e sei que acabou de sentar aqui."

"Isso não faz de você menos atrasada."

"Como foi a caminhada?"

"Como todas as outras. Sabe que prefiro correr, mas não posso." Miranda a analisou por um instante, com a fronte franzida, e perguntou: "O que você estava comendo?"

"Como pode saber que eu estava comendo algo?" Questionou com um tom de espanto.

"Seu cheiro. Parece que comeu uma daquelas coisas que nos roubam um ano de vida."

"Não vou dizer. Você vai me julgar."

"Diga-me, Delph!" Ordenou com firmeza.

"Oh, agora eu vejo claramente, você não quer me importunar, quer saber o que comi porque está com vontade de comer também." Sorriu com diversão e continuou: "Vai por mim, você não vai querer que eu diga."

"Não tenho o dia inteiro, Delphine." Revirou os olhos impacientemente.

"Tudo bem. Um hambúrguer enorme que comprei em uma barraca no caminho do parque."

"Jesus, Delphine. Às seis da manhã?"

"Eu só tenho uma vida, vou aproveitá-la comendo tudo o que quero para não morrer lamentando."

"Bem, eu também prefiro fazer o que desejo do que arrepender-me depois por não ter feito. Pelo menos terei as respostas que busco, mesmo que não me agradem." Disse Miranda, com um ar de falsa inocência.

"Por que você está com essa cara de quem aprontou?"

"Eu a vi ontem." Revelou com a voz baixa. "Foi seu primeiro dia de trabalho."

"Você me deu a sua palavra!"

"Eu prometi que não a contrataria por motivos perversos, e tudo o que eu fiz foi ajudar uma jovem desempregada com um currículo terrível. Minhas intenções foram as melhores."

"Ah, eu acredito sim! E o fogo é molhado."

"A propósito, você estava certa. Ela não fazia ideia que trabalharia para mim, sua surpresa quando me viu era clara."

"Vocês conversaram?"

"Ela balbuciou algumas coisas, mas não tive paciência para ouvir. Desculpas não fazem qualquer diferença para mim. Ela mal conseguia olhar em meus olhos, muito menos para o meu ventre. Continuou trabalhando como se nada tivesse acontecido." Disse Miranda, com a voz fria e ríspida.

"Mira, você sabe que tem que demiti-la, não é?"

"Demiti-la?" Miranda a olhou como se ela fosse louca. "Você me ama, Delph?"

"Você sabe que sim."

"Não sente nem um pouco de raiva pelo que ela fez com sua amiga?'

"É claro que eu sinto, Mira. Mas continuar com isso não é saudável para você."

"Eu estou muito furiosa, Delph!" Exclamou ela, com o rosto vermelho e irritado. "Eu não costumo odiar ninguém, apenas não suporto a maioria das pessoas, mas o que sinto por Andrea é profundo e total desprezo. Abandonar meu filho é imperdoável, preciso puni-la de alguma forma por isso."

"Nada que eu disser vai te fazer mudar de ideia, não é?"

"Não." Meneou a cabeça com determinação. "Vou fazê-la sentir dor como eu senti, até que ela desista e vá embora. Não deve demorar muito, já que ela é uma covarde, e eu sei atingir exatamente onde machuca."

"Eu só espero que você não se arrependa." Disse Delphine, com a preocupação refletida em seu rosto.

°°°°°°°°

O negócio tá ficando tenso!
Não deixem de me dar seu feedback e suas teorias. Estou ansiosa para lê-las.

Se gosta dessa história, não esqueça de votar, ajuda muito e me incentiva.

Para quem solicitou entrar no grupo e não recebeu o link, envie-me uma mensagem porque meu chat tá com problemas e nem toda mensagem que envio realmente chega.

Infinitos beijos da Mai e tenham uma linda semana.

Continue Reading

You'll Also Like

120K 3K 23
Você e sua mãe tinham acabado de se mudar para a casa do seu padrasto e foi então que você descobriu que teria um meio-irmão, você só não esperava sa...
183K 10.6K 80
𝑬𝒍𝒂 𝒑𝒓𝒊𝒏𝒄𝒆𝒔𝒂 𝒆 𝒆𝒖 𝒇𝒂𝒗𝒆𝒍𝒂𝒅𝒐, 𝑨 𝒄𝒂𝒓𝒂 𝒅𝒐 𝒍𝒖𝒙𝒐 𝒆 𝒆𝒖 𝒂 𝒄𝒂𝒓𝒂 𝒅𝒐 𝒆𝒏𝒒𝒖𝒂𝒏𝒅𝒓𝒐...
803K 48.8K 47
Atenção! Obra em processo de revisão! +16| 𝕽𝖔𝖈𝖎𝖓𝖍𝖆 - 𝕽𝖎𝖔 𝕯𝖊 𝕵𝖆𝖓𝖊𝖎𝖗𝖔 Mel é uma menina que mora sozinha, sem família e sem amigos, m...
66.7K 6K 30
Quando Gabigol está em uma má fase, tanto na vida profissional como na vida pessoal e amorosa. E no meio ao caos, ele cria sentimentos pela babá da f...