Se afaste. Uma parte de mim diz.
O beije, retribua. A outra sussurrava.
Meu coração era fúria e tempestade em meu peito, um milhão de sentimentos martelando dentro de mim.
Eu estava perdida, eu o queria comigo e o queria longe de mim. Não estava pronta para mostrar meu lado feio, obscuro, a ninguém, nem a ele.
Bryan não entenderia, como poderia entender? Sua vida tão perfeita e maravilhosa. Ele não precisava, não queria uma garota defeituosa.
E eu sabia disso. E então, me afastei.
Me solto de seu agarre a minha cintura e viro de costas para ele.
– Por favor, saia – Peço baixo, ainda sem encará-lo. Não conseguiria olhar em seus olhos.
Seus passos que antes vinham em minha direção agora se afastavam para fora do quarto. Fechei a porta com força. Me sento encostada na porta e abraço meus joelhos apoiando meu queixo entre eles e choro.
Choro por ser fraca demais para lidar com meus sentimentos, choro por gostar de alguém que não posso ter, choro por todo o ódio e mágoa que se instala dentro de mim. Choro pelas lembranças da garota doce e feliz que um dia fui.
– Millie? – Batidas na porta soam juntamente a voz sempre calma de Angel? – Posso entrar?
Levanto do chão puxando uma caixinha de lenços e limpando meu rosto rapidamente. Forço um sorriso e abro a porta.
– Oi! – Digo a puxando para um abraço. – Achei que demorariam mais alguns dias para voltarem.
O olhar avaliador que me lançava causava pontadas no fundo do meu coração, ela me conhecia tão bem. Angel fechou a porta e me levou até a cama.
– O que está acontecendo com você? – Perguntou preocupada. – Faz muito tempo que não te vejo assim
– Estou cansada, – Confesso. – de todo dia ter que fingir estar bem e feliz. Não estou bem e a vergonha de admitir isso está acabando comigo.
– Você não precisa fingir nada, Millie – Tenta dizer, mas balanço a cabeça negando.
– Sim, eu preciso sim. Preciso fingir para não ter que ver essa expressão nos olhos de vocês. A pena e a tristeza de terem que conviver com uma pessoa tão quebrada por dentro – Sussurro deixando as lágrimas caírem livremente. – Então coloco a máscara da felicidade no rosto, compro roupas caras e me visto de garota fútil, porque prefiro que me vejam assim, do que a verdade.
Eu sou vazia, essa maldita doença acabou comigo, não consigo mais sentir prazer em comer, em me vestir com roupas novas ou com todas as joias que tenho a minha disposição. E por mais que tentem me ajudar, vocês não podem, sou a única que pode resolver isso. Jamais seriam capazes de entender tudo o que eu sinto, porque nem mesmo eu entendo.
Angel me abraça apertado me deixando chorar em seus ombros.
– Estou com você, para toda a eternidade
– Eu sei – Sorri assentindo. – Obrigada.
– O que está acontecendo entre você e Bryan? – Pergunta depois de alguns minutos, sem conseguir esconder o tom de voz curioso.
– Não sei – Admito. – Tudo aconteceu tão rápido, acho que posso estar começando a gostar dele.
Conto a ela tudo o que aconteceu na noite antes de eu voltar para casa.
– O vi saindo daqui bem rápido, vocês brigaram?
Agradeço por ela estar tentando me distrair, Angel sempre quer ajudar todo mundo com tudo. Isso faz dela a melhor prima/amiga que eu poderia ter.
– Eu disse a ele sobre meus sentimentos – Conto, me sento na cama me encostando na cabeceira.
– Disse é? – Ela me encara como se soubesse que isso não é tudo.
– Tá legal, eu disse do meu jeito que eu gosto dele, mas que também odeio isso. Talvez eu tenha demostrado minha vontade de ir para cama com ele e o meu desejo de ficar o mais longe possível dele.
Angel me encarou com um sorrisinho.
– Você está apaixonada
– Não – Nego rapidamente. – Não estou.
– O que mais aconteceu?
Bufo, deixando claro que esse assunto não me agrada.
– Ele me beijou, eu me afastei e o mandei embora – Explico. – Deve ser por isso que ele saiu bravinho.
***
Bryan
Foi um erro ter vindo até aqui.
Tudo o que consegui foram palavras confusas e uma dispensa vinda dela. Além dos olhares nada discretos de ameaça que os pais dela me lançavam, como se soubessem de tudo o que já aconteceu entre Emy e eu.
Para falar a verdade, nem sei o que vim fazer aqui. Não quero nada com essa garota, o que Emilly poderia me dar eu não vá conseguir com qualquer outra garota por aí? Nada.
Entrei naquele avião e voei até aqui porque estava com raiva. Pela primeira vez na minha vida tentei ser minimamente agradável e sai para comprar um café da manhã decente depois de uma noite. E o que encontro? Ela com as malas em um táxi, prontinha para ir embora sem ao menos se despedir. Andei pra cacete até o café favorito dela em Londres.
Vim até aqui sem nenhum objetivo específico, só queria ver a cara dela quando me visse. Queria confrontá-la e perguntar qual era o maldito problema, mas assim que a vi fiquei sem ação, tudo o que se passava na minha cabeça era que Millie me queria, eu vi naquela noite e vi hoje no quarto dela. E o que mais me assustou é que por um momento, mesmo que mínimo, eu também a quis.
A raposinha se enveredou em minha mente.
♥♥♥