Para Onde Vão os Corações Apa...

By CeciAmaral

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Para Onde Vão os Corações Apaixonados é uma antologia de contos de romance que reúne histórias que te farão s... More

Sobre o livro
Apresentação de Personagens
Seoulmate, parte um
Seoulmate, parte dois
Nas Ondas do Havaí, parte um
Nas Ondas do Havaí, parte dois
Por um Acaso, parte um
Por um Acaso, parte dois
Under the Spotlight, parte um
Under the Spotlight, parte dois
Uma Faísca do Destino, parte um
Uma Faísca do Destino, parte dois
Romance na Transilvânia, parte um
Romance na Transilvânia, parte dois
Prato Especial: Uma Dança Eterna, parte um
As Cores do Amor, parte um
As Cores do Amor, parte dois

Prato Especial: Uma Dança Eterna, parte dois

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By CeciAmaral

POR Jiih_Celly

Levanto ás seis horas depois de tentar dormir mais, o que me trouxe leves cochilos, que facilmente eram interrompidos. Mas o costume de acordar às quatro e meia da madrugada já estava impregnado na minha rotina, devido o horário de funcionamento do restaurante.

Para dar um tempo antes do desayuno, fiz exercícios durante trinta minutos no pequeno quarto, aproveitei para falar com minha família e depois me distraí um pouco nas redes sociais.

Ontem, o Lorenzo deixou meu jantar na recepção e tenho que dizer que o sanduíche estava uma verdadeira delícia. Apesar da aparência simples e completamente normal, os sabores contidos ali, eram particulares e surpreendentes. O segredo de todo aquele avalanche de sabor estava no molho vermelho que combinado a maciez do pão caseiro com as bordas crocantes e a carne em um ponto perfeito, poderia ser viciante, pois deixava um gostinho de "quero mais" na boca. A junção da salada composta por tomate, cebola, alface, rúcula e cenoura ralada ajudava a separar os sabores, complementando divinamente.

Uma escolha excelente de Lorenzo. Me presentear — uma vez que não precisei pagar — com uma refeição daquele nível. Não digo de forma preconceituosa ao local, mas eu não esperava algo tão maravilhoso. Eu preciso conhecer o chefe e perguntar a quantidade de hortelã e pimenta colocada no molho. Aliás, preciso conhecer o restaurante e seus outros itens do cardápio!

Às seis horas e meia, deixei o quarto, vestindo um vestido azul de tecido bem leve. Ele é amarrado no pescoço como um biquíni e aberto nas costas, marcando a minha cintura fina onde começa sua saia. Coloquei um short de malha por baixo, caso fosse levada à praia. Só não coloquei o biquíni porque eu ficaria constrangida com a presença do Lorenzo que me acompanharia. Lógico que buscarei uma intimidade, uma vez que vai me ajudar. Completando o look, estou usando uma sandália de dedos confortável. Na recepção fui indicada a ir até um espaço reservado para o desayuno ali no térreo, seguindo uma porta que sequer notei ontem. O espaço era como um quintal. O chão tinha uma grama bem verdinha e cortada. Era facilmente visto o sistema de irrigação. Ali tinha cinco mesas brancas, redondas e pequenas um pouco afastadas uma das outras, cercadas por quatro cadeiras cada uma. Acho que o local por ser pequeno, planejava justamente uma boa e respeitosa convivência entre os seus hóspedes, apesar de somente haver eu naquele horário. Uma única parte daquela área era coberta: onde ficavam os alimentos, dispostos numa mesa retangular de madeira.

Era rotineiro eu comer medialunas no desayuno. Elas são uma espécie de croissant, doces e sem recheio que junto a um bom café cortado (com pouco leche). Mas, logicamente só pude desfrutar do café, pois pude regular a quantidade de leche e açúcar, deixando o intenso sabor e aroma do café. Com opções de tipos variados de bolos, frutas e pães, optei por um pão francês recheado com presunto, quatro pequenas torradas e uma tangerina para depois.

Vou até a recepção, um tempo depois de passear pela Pousada, conhecendo-a e não encontrar o Lorenzo. Eu entendo que ainda são oito horas, mas não tive um sinal dele. Vejo Luciano, que parecia ser bem próximo a ele ontem e me aproximo.

— Bien día, Luciano! — cumprimento.

— Olá, senhorita! Bom dia. Em que posso lhe ser útil? — pergunta de forma gentil.

— Pode me dizer sobre o Lorenzo? — pergunto e suas sobrancelhas franzem em questionamento.

— O que quer saber? — muda a voz para um tom desconfiado.

— Quero saber onde posso encontrá-lo. Ele já chegou?

— O Lore não trabalha hoje. — fiz e eu travo — O plantão dele é de segunda a quinta. — completa a informação e eu me preocupo se acaso fui tapeada.

Sendo o caso esse cara vai se ver comigo! Ainda terei duas semanas por aqui, uma hora o encontrarei.

Agradeço e me despeço de Luciano que está com cara de quem investigará as razões das minhas perguntas com o amigo e vou até o meu quarto, ligando de vídeo-chamada para minha hermana Vitória e contando desapontada o que houve.

— Ele não marcou o horário, Florência? — ela questiona com a voz rouca de sono. Seu rosto amassado está colado no travesseiro evidenciam a preguiça dessa garota.

— Sim. Mas, e se...

— Espere então, ué. O cara deve ter seus paranauês para resolver também, mulher! — fala se espreguiçando na cama.

— Não tinha parado para pensar nisso. — digo pensativa.

— Você nunca pensa nas coisas simples. — fala e se senta.

— Valeu pelo tapa em mi cara. — desdenho, brincando com ela.

— De nada. Hermana mía, relaxe! Curta os momentos da viagem. Você quis ir sozinha para isso, não é mesmo?

— Sim.

— Então. Observe e siga a vibe de tranquilidade. Aposto que tem muito para se encantar por aí. Pelo menos agora que você está viva. Precisam atualizar o Google. Fala com o prefeito que é minha sugestão.

— Queria a sua plenitude. — digo a fazendo sorrir.

— Roubei toda na genética da família. — diz e rimos. Conversamos mais um tempo sobre outras coisas e a faço levantar da cama, falo com minha tia (mãe dela), quando Vitória passa se arrastando pela casa.

Após me despedi delas, busco meu caderno vermelho e, analisando a paisagem da janela do quarto, começo a desenhar para passar o tempo.

Bem distraída na minha vibe Picassa, não noto o horário até que batem em minha porta. Estranho e abro uma fresta da porta. Luciano com algo nas mãos. Abro a porta e antes que pergunte algo, ele se antecipa.

— Desculpe o incômodo, senhorita. — o interrompo.

— Pode me chamar de María, Luciano. — digo.

— Ah, obrigado. — fica sem graça — Bem, pediram para entregar esta quentinha para você almoçar. — franzo as sobrancelhas — O Lorenzo quem mandou. — conta e eu não escondo minha surpresa. — Não veio, mas mandou entregarem. — explica — Bem que podia mandar algo para o amigão aqui também, mas me esqueceu. — acrescenta resmungando para si mesmo, pensando alto e eu rio — Desculpa.

— Que nada! Obrigada por me trazer, Lu. — suas bochechas coram — Posso chamá-lo assim?

— Ô, pode sim. Contanto que o meu chefe não presencie. — brinca e rimos. Ele se despede e eu entro curiosa com o que me mandaram desta vez.

Xinxim de bofe! Uauuu. Louquinha para acabar com este rango.


Chego na Pousada pontualmente às treze horas e guardo a bicicleta nos fundos. Quem eu encontro de funcionário e hospedes vou cumprimentando.

Ao entrar, vou na recepção. Lá, Luciano me encara com um sorriso provocador no rosto.

— O que faz aqui, heim, Cachinhos de chocolate?

— Serei o guia de María Florência.

— Lore, Lore. Já vai sair com ela?! Você é rápido, heim. — provoca

— E você é encalhado! Cuidado com a inveja. — abuso e ele ri.

— Vá logo chamá-la. Me deixe na minha bad.

— Trouxe para você. — o entrego uma quentinha e seus olhos parecem brilhar.

— Obrigado, meu Deus!

Quando a bela morena abriu a porta do quarto, sorriu ao me ver. Desci e fiquei esperando-a na frente da Pousada.

Ah, Papai do Céu tava inspirado quando a fez, heim!

— Então, você não trabalha às sextas por aqui. — ouço sua voz, sorrio para ela e a indico o caminho para andarmos.

— Procurou informações sobre mim, Florzinha? — provoco-a.

— Sobre o meu guia! — exclama.

— Vou fingir que acredito. Gostou do almoço?

— Entramos num ponto importante. Preciso conhecer o chefe, o restaurante! — diz

— É incrível, não é mesmo?

— Sí, sí. Los alimentos están bien preparados. ¡Fueron perfectos!

— Alegro que te haya gustado. — respondo-a espanhol.

— Oh, sí.

Bom, por aqui iremos chegar a praça da cidade que imagino que viu ontem.

— Eu vi.

— Mas, vou levá-la à praia primeiro. Já memoriza o caminho, heim.

— Ok.

— Assim, você pode ir conhecendo a cidade na boa.

— Certo!

— Olha. Sobre ontem — passo a mão pelo meu cabelo — você tinha razão sobre a curva fechada. Ainda mais que eu tenho miopia. Poderia acontecer algo grave.

— Eu sabia que iria se desculpar em algum momento! — brincou, me fazendo rir.

— Não fica achando que estava certa, heim.

— Vamos deixar esse episódio para lá.


Em dez minutos, chegamos à praia. Não é tão longe da Pousada. Demoramos, pois fui indicando as direções, explicando a cidade para a Florzinha.

Com os pés descalços, ela anda na areia, se aproximando da água. Notei que é observadora e deve ter memória figurativa. Só um chute. Ela analisa tudo minuciosamente.

Seu semblante é tranquilo. Ela aproveita a brisa para fechar os olhos. Seu cabelo solto e o vestido dançam com o vento. Me presenteando com a cena da bela morena que se entregou ao momento de relaxar. Ela é linda!

Iai, Lore! — escuto e aceno para um grupo de adolescentes que me cumprimentam de longe.

Cofoi?! Vão arriscar? As ondas estão baixas, vei. — comento com os surfistas.

— Notamos. Iremos esperar. — outro diz.

— Tomem cuidado. — digo.

— Valeu aí, Lore. — o mais baixo diz.

Noto que os gritos tiraram a Florzinha do seu transe. Ela está sentada na areia. Aproximo-me e sento ao seu lado.

— Eres muy famoso! — fala.

— Só um pouco. A minha beleza não me deixa passar despercebido. — brinco e ela ri.

— Que convencido! Acho que sua mãe que lhe iludiu com isto.

— O espelho que me convenceu. — dou uma piscadela para ela que ri. Me jogo, deitado na areia.

— Por que escolheu vir para São Genésio? — pergunto.

— Já sentiu vontade de fugir? — aceno confirmando. — Então. Foi isso. — suspira pesadamente.

— Devo chamar a polícia, fugitiva? — brinco.

— Oh, não faça isso! Juro que a assassina aqui não vai matá-lo. — faz uma cara suspeita, entrando na brincadeira.

— Quase fez isso no esbarrão. — rimos. — Brincadeiras à parte, se não quiser contar o motivo, tudo bem!

— Eu quero contar. Fará um ano em dezembro que perdi meu pai. Queria me conectar com o povo que ele pertencia um pouco mais. Sinto falta dele.

— Entendo. Sinto em te dizer que essa falta nunca será preenchida. — ela me encara triste — Não esquecemos quem conhecemos. Ainda mais pessoas que nos marcam. Pessoas importantes. Mas, a dor vai passar. — tento lhe confortar.

— Você... também, já...? — fica sem jeito de perguntar.

— Minha mãe. Dona Lorena faleceu há três anos.

— É inconveniente perguntar sobre? — nego com a cabeça e sento ao seu lado novamente — Como ela morreu?

— Câncer. — seu rosto se fecha em dor — Durante o tratamento, ela não resistiu. — suspiro — O que mais me chocou foi que não parecia que a vida dela estava por um fio. Ela simplesmente vivia. Até que um dia, meio que se despediu de mim e dormiu. — viajo um pouco, lembrando.

— Você tinha que idade? — pergunta e eu fungo um pouco, tentando não derramar uma lágrima que teima em querer descer.

— Dezoito anos. Foi quando eu até tentei procurar aqueles lugares isolados dos filmes, onde o protagonista fica sozinho e desconta suas frustrações e confusões para encontrar a solução, no meu caso, queria encontrar meu chão. Mas, não se pode fugir dos próprios sentimentos, ao menos não para sempre, sentir, talvez seja o resumo de viver.

— Meus pêsames. — ela limpa uma das mãos no vestido e passa as costas da mesma por minha bochecha, onde escorre a lágrima atrevida. — Opa! Tentei não te sujar, pero não deu muito certo. — diz envergonhada — Acho que tem razão. É uma bela filosofia. — sorri.

— Obrigado. Olha. Vou fazer o possível para que se divirta por aqui, ok? — sua resposta é um abraço inesperado, mas, confortável e único.

A semana que se seguiu foi bastante agradável e única. Todos os dias, eu fazia uma caminhada até a praia. Às vezes tomava um sol ou um banho de mar, mas ficava dependente do clima tropical do Brasil. Outras vezes ficava apenas desenhando em meu caderno, sentada na areia, aproveitando a brisa.

O Lore se tornou um parceiro. Já podia chamar o bom "guia" de meu amigo. Vira e mexe, ele fazia uma graça, uma brincadeira. Ele era único. Me contou sobre o curso que faz na faculdade e me encaixou em sua rotina. Nos dias de semana, após seu horário de trabalho, me levava para conhecer algo da cidade. Nas sextas pela manhã, ele dava aula em um pequeno estúdio para crianças e adolescentes, gratuitamente. No sábado, ele surfava cedo e depois ficava ajudando no restaurante do tio, a quem me fascinava pelos pratos enviados. O Lorenzo não me levou lá ainda, e mesmo eu podendo conseguir informações sobre a localização do lugar, prefiro esperar o bonito.

Conversar com ele era fácil. Dono de um sorriso cativante e uma alegria sem limites, o super carinhoso talvez também fosse um tanto perigoso — não sei se para mim ou minha sanidade. Ou os dois?

Hermana mía, você se apaixonou por ele? — Vitória pergunta na chamada de vídeo.

— Acho que não. — digo.

— Tem certeza?

— Admito que ele é atraente. Satisfeita?

— Por hora.

"— Se deixe viver, meu amigo! — Kai aconselhou através do telefone. Costumávamos pegar umas ondas juntos. Ele era talentoso e eu buscava apenas socializar. Ajudei-o numa "fuga" da cidade. Um marco que o fez se libertar de muita coisa.

— Valeu , cara!agradeci — Apareça por aqui. Depois que arranjou a sua sereia difícil te tirar da bolha de encanto de do seu romance, hein. — abusei e ele riu."

Após conversar um pouco com ele, pensei um pouco. Hoje uma festa iria rolar e estava sem ideias de como convidar a Florzinha.

A bagunça dos jovens seria a noite. Durante a tarde, rolaria um sambarzinho lá no restaurante. Onde enfim vou poder levar a Morena. Esperei uma atividade assim.

Mandei a mensagem:

Florzinha, se arruma! Vamos num sambão e depois direto para uma festa.

Ela respondeu:

Opa! Estava ansiando que algo diferente acontecesse. Me dê trinta minutos.

Eu disse:

Vou estar lhe aguardando.

Tomei um banho e coloquei um macaquinho preto curtinho que modelava bem meu corpo. As alças eram trancadas e havia um decote nos seios que o deixava um pouco sensual. Calcei um tênis branco e deixando o cabelo solto, passei um batom vermelho que duraria até a noite. Isso se eu não tirasse comendo ou deixando que alguém tirasse.

Animada deixei o quarto, cumprimentando algumas pessoas a quem o Lore me apresentou. Tanto hóspedes quanto funcionários.

O sambarzinho seria interessante. A Vitória ia "morrer" de inveja. Ela ama.

E o melhor, enfim conheceria o tal restaurante.

Junto a Lorenzo e Luciano entro no local. Se já o admirei pela comida, a estrutura física me surpreendeu. Um designer rústico, simples e aconchegante. Eles aproveitaram bem o espaço.

Lorenzo segura minha mão e me guia até um senhor que estava de costas. Mas, quando este vira, pressentindo uma aproximação, vejo um segundo Lorenzo à minha frente. Faltando apenas o cabelo e os olhos diferenciados.

— Você é a cara de seu papá! — digo sem conseguir conter. Eles riem.

— Meu sobrinho escolheu a minha genética para ficar bonitão igual a mim, querida. Seja bem vinda! — ele disse.

— Ops! — digo pelo erro.

— Ele é como um pai para mim. O melhor do mundo, né, Paizão?

— Vai amolar outro, rapaz. Bora! Vá logo para o palco que aqui já está enchendo. — diz e eu franzo as sobrancelhas para Lore tentando entender — Luciano, — chama e percebo sua presença perto de nós. Desde quando, não sei — faça companhia a moça, por favor.

— Batatas fritas como pagamento?

— Claro, meu filho. Espero que aproveite, querida. — diz sorrindo e se afasta para atender às mesas. Me viro para Lore que sorri.

— Você que vai tocar? — ele se inclina até minha orelha.

— Existem dotes meus que você ainda não conhece, Florzinha. — fala, fazendo com que alguns dos meus pelos se arrepiarem e vai até o pequeno palco com uma banda de jovens e coroas como se não tivesse falado nada demais.

Eu e o Luci ficamos aproveitando o churrasco — prato do dia. Ainda conheci a esposa de Seu Lázaro, Dona Sarah.

Passo apenas um pequeno tempo só ouvindo o som. Depois tiro o Luciano para dançar e vamos brincando. Ele é outro com quem fiz amizade. Sua gentileza é um charme.

A voz grave de Lorenzo deixa claro o sorriso de alegria em seu rosto. Às vezes pego-o me olhando e ficamos nesse clima de atração. Ele sabe ser charmoso.

"Ela é tão linda, ela é tão linda

E se ficar comigo

A vida fica mais bonita, mãe"

Os clientes cantavam juntos — eu também, claro. Quem resiste a Atitude 67?!

Soaram algumas músicas do Harmonia do Samba, da Banda Os Travessos. Mudou do Samba para o Pagode no por do sol com:

"Tá vendo aquela lua que brilha lá no céu?

Se você me pedir, eu vou buscar só pra te dar

Se bem que o brilho dela nem se compara ao seu.

Deixa eu te dar um beijo, vou mostrar o tempo que perdeu"

A paixão era sentida pela voz do Lore e eu acho que foi neste momento que notei o quanto estava envolvida com menino do esbarrão.

Pela danceteria voava a fumaça de gelo seco e mesmo estando escuro, com apenas luzes negras neons iluminando, eu conseguia vê-la no bar, com seu sorriso simples doado a todos que a cumprimentavam. Ela era fácil de enturmar, alguns colegas da faculdade já a conheciam. Luciano tinha sumido depois de me zoar, dizendo que eu havia sido enfeitiçado por ela. Ele não estava errado e muito menos enganado, estava me sentindo como na música Gamei do ExaltaSamba:

"Gamei, no corpo bronzeado"

Mas eu queria ganhar "um beijo assanhado"

Queria dançar "de rostinho colado"

Olhar de perto seu "bumbum arrebitado"

E sentir o "perfume importado"

Realmente, gamei.

Fui até ela que bebia seu coquetel pelo canudo de papel — sustentabilidade tá em dia aqui em São Genésio. Ela sorriu com minha aproximação. Sentei na banqueta ao seu lado e puxei seu copo para mim e bebi do seu canudo. Se aquela morena era afetada por mim do mesmo jeito que ela fazia comigo, eu não sabia. Mas, tentar era o mínimo.

Suguei o canudo diante de seus olhos, observando seus olhos expelirem surpresa e o seu lábio inferior pender para baixo, deixando-a ainda mais sensual. Fechei os olhos ao sentir o sabor intenso da maçã e o aspecto aveludado da bebida.

— É Calvados! — disse, me fazendo abrir os olhos.

— Sabe que é afrodisíaco, né? — perguntei entregando o copo com o pouco que sobrou.

— Talvez seja por isso que estou bebendo. — disse e terminou a bebida. O rosto satisfeito enquanto absorvia o sabor.

— Eu quero mais. — falei.

— Pode pedir... — me levantei e inclinei o rosto para frente até juntar nossas testas. Notei a irregularidade de sua respiração. Era interessante saber que estávamos na mesma situação. Sorri, encarei seus lábios de onde eu queria sentir a bebida e depois seus lindos olhos cinzentos.

— Posso? — perguntei. Seu aceno foi frenético e engraçado.

Beijei a morena.

A música eletrônica ao fundo me fazia perceber tudo ao mesmo tempo: o toque firme de suas mãos, uma tocando meu rosto, enquanto a outra em minha nuca, puxava um pouco os meus cabelos, sentia suas unhas alí, fazendo círculos que enviavam arrepios pelo meu corpo; a entrega dela ao momento, nosso momento; a dança entre nossas línguas; o encaixe dos nossos lábios...

Talvez devesse pesquisar se é imediato os efeitos da bebida.

Não sei quanto tempo durou nosso primeiro beijo. Mas, naquela noite, ela seria só minha!

Ao me afastar, respiramos acelerado e trocamos sorrisos. Me endireitei em pé e estendi minha mão para ela, indicando a pista de dança.

A música 2:50-remix começou a soar e pelo seu sorriso, ela conhecia.

Seu corpo se movimentou com propriedade no ritmo reggaeton. Sua cintura, seu quadril... ela sabia o que fazer. Enfim, alguém que conseguia falar o mesmo idioma que eu, usando o corpo.

Por um momento me lembrei da minha amiga cacheada, a Bruninha. A baixinha desengonçada se atrapalhava com as marcações rítmicas e me arrancava o ar de tanto que eu gargalhava.

Desculpa, Bruninha, mas esse espetáculo aqui é divino!

" Yo vine pa' estar contigo, bailar contigo

Eu vim pra ficar contigo, dançar contigo

Quedate to'a la noche pegadito conmigo

Fique a noite toda agarradinho comigo

Pa' que suene una canción más lenta

Que toque uma canção mais lenta

Que dure más de dos con cincuenta

Que dure mais do que dois minutos e cinquenta "

Rapidamente, eu e a Florzinha, encontramos o ritmo, a cadência e a coreografia, onde nós dois falávamos e ao mesmo tempo, ouvíamos.

Àquela noite só estava começando!

Está amanhecendo. A noite não acabou ao sairmos da Danceteria. Trouxe a Morena para o meu apartamento. Havíamos bebido, mas não estávamos embriagados.

Dançamos aqui também, mas, uma das danças foi excepcionalmente maravilhosa. E por isso estávamos entrelaçados em baixo do cobertor.

A morena mexia comigo. Provei a mim mesmo que era além de uma atração. Eu estava apaixonado pelo seu jeito e sua história. Ela era única!

Porém, pensar que a teria por apenas mais uma semana, me feria.

Eu já lhe mostrei toda a cidade. Os último itens foram o restaurante e a danceteria. Não imaginava que a mostraria o meu humilde apartamento.

A frase de mamãe soava em minha mente:

""Aproveite a vida com atenção aos presentes que o destino colocar em seu caminho, querido. Viva cada dia como se fosse o último. Tenha escolhas equilibradas que não sacrifiquem seus sonhos, dons e paixões".

Aproveitar, aproveitar.

Pensar nisso era tão cansativo que preferi tentar dormir.

Ao lado dela, eu não tinha dúvidas. Tinha medo de como "isso" iria acabar. Mas, por enquanto, admiro a espaçosa morena totalmente à vontade em minha cama, nua por debaixo do meu edredom com o rosto sereno e os cabelos soltos embolados no travesseiro e algumas mechas em seu rosto... era lindo!

Despertei em meu horário rotineiro cedo demais. Uma dor de cabeça chata me acompanhou. Mas, ao encarar a minha frente dois olhos castanhos também preguiçosos, eu sorri.

— Bom dia, Florzinha! — falou com a voz rouca de sono.

— Vai ficar me chamando assim, mesmo? — fiz um biquinho e ele estendeu a mão e acariciando minha bochecha falou:

— Você chegou em novembro - primavera na minha vida. É um apelido ideal! — me fez sorrir.

— Vou aceitar porque ficou fofo.

— Depois de ontem, você sabe bem que o adjetivo fofo não tem nada a ver comigo. — deu um sorriso sacana.

— Acho que terei de repetir a dose para lembrar... — abusei

— Mas, quanto atrevimento! — disse. Um instante estava ao meu lado, no outro em cima de mim, apoiando seu corpo em suas mãos. — Vou ter que prendê-la aqui na cama mais um pouquinho, então.

— Não será sacrifício algum relembrar.

— O que está cozinhando? O cheiro está divino — Lore pergunta. Estou fazendo algo para almoçarmos em sua cozinha. Devo dizer que estava com saudades de estar em ativa. O espaço é pequeno, mas bem organizado. Uma meia parede nos separa, pois estou na parte do balcão.

— Depois que Papá morreu, quis temperar mais as coisas. Sua tia me indicou alguns e tinha em sua dispensa.

— Em sua vida também, não é? — sorri para ele e acenei com a cabeça — Usando muitos temperos nela?

Encontré um bem interessante... — digo me aproximando dele, ainda separados pelo balcão.

— É mesmo? Qual? — respondendo o flerte, ele se inclina, deixando nossos rostos bem próximos.

— Pimenta. — digo e levanto o objeto em questão até perto de seu rosto. Seus olhos crispam pela pegadinha e eu rio, colocando o elemento na tábua de corte. E seguro seu rosto com as duas mãos — Te defino, com certeza, como pimenta.

— Eu ardo? — pergunta, tentando conter o sorriso sacana.

— Você esquenta mi corpo. — digo e o beijo rapidamente. Me afasto para terminar o preparo do almoço.

— É mancada, você fala essas coisas e se afasta. — ouço, sentindo suas mãos em minha cintura.

— Eu não vou atrasar ainda mais a comida ou deixá-la queimar.

— Desliga. — beija um lado do meu pescoço — Desliga — beija o outro lado. Sinto a combustão em meu corpo. — Depois comemos.

— Não sei você, mas tengo fome!

— E eu tenho fome de você! — me vira para ele e beija meu queixo.

— Sua presa deve estar cheia para después usted alimentarse. — o empurro sentindo fraqueza nas pernas.

— Irei poder te devorar? — o sorriso sacana se arma em seu rosto.

— La caça deve ser justa. — digo

— Para o lado da cadeia alimentar.

— Na natureza, depende da sua sorte!

— Depois de acordar com você, tenho certeza que minha sorte mudou. — me ataca em um beijo e eu retribuo.

Hoje é quinta feira. No sábado a minha Florzinha voará com o vento, partirá com um pedaço do meu coração. Dramático, eu sei. Mas pensar sobre isso, está me deixando inconstante.

Nos dias que se seguiram na semana, o Lorenzo aqui não desgrudou da morena. Estou como a música de Sandy e Junior:

" Nem estou dormindo mais

Já não saio com os amigos (ao menos, não mais frequente e quando ia a levava) "

Sentirei falta da paz que encontrei no seu sorriso

" Qualquer coisa entre nós (estavamos namorando, a verdade era essa)

Vem crescendo pouco a pouco e já não nos deixa sós

Isso vai nos deixar loucos (eu já estava)

Se é amor... sei lá! (Será que era?) "

Não demos o título pois sabíamos que tinha o tempo de duração como empecilho, mas, era isso que estávamos sendo.

Eu conheci por ligação de vídeo os avós, a mãe e a Vitória, prima da minha morena. Isso. Minha Morena! E não gosto de me gabar, mas todos me amaram, viu?! Os inimigos piram!

Vira e mexe, minha Morena estava em meu apartamento e como tive provas da faculdade, muitas vezes, ela ia se divertir, passeando sozinha pela cidade ou aparecia no restaurante Fonseca's para ajudar meus tios. Porém, ela não me enganava. Eu sabia que estava memorizando os temperos e as receitas. A pequena não tinha nada de inocente.

Estávamos ali, no restaurante e o sol já estava se pondo. Hoje o karaokê estava aberto e a mesma banda do último samba fazia um som de fundo agradável e às vezes os clientes ou até a galera de fofoqueiros da cidade pediam uma música.

Vejo minha gata na porta da cozinha em um papo concentrado com meu tio. E vou até lá.

— Então, você partirá no sábado, querida? — Seu Lázaro me perguntou.

— Sim. — suspiro pensativa.

— Já conversaram como vocês irão ficar? — pergunta.

— Eu tentei falar com seu sobrinho, mas ele é cabeça dura! — digo com um pouco de raiva e o tio da peça que é aquele cara ri. Apenas ri. Eu já não sabia o que fazer. O Lorenzo estava ficando meio aéreo, pensativo e até meio frio comigo.

— Olha, querida. Meu pequeno que não é mais tão pequeno assim, passou por muita coisa. Muitas perdas.

— Ele me contou. — falo e ele arregala os olhos em surpresa por um tempo e depois sorri.

— Ele realmente te ama, então querida! — diz me deixando acanhada.

— Não fala assim, tio Lázaro.

— Meu menino demorou para contar a nós tudo o que o machucou, o que viveu. Com ajuda psicológica conseguimos vencer o passado. — dava para sentir a emoção em sua voz, mas o senhor se fez de durão — A música, a dança e agora, você, colaborando para a liberdade completa do meu menino.

— O senhor vai me fazer chorar.

— Eu não sei como vocês vão ficar, mas conversem. Fale a língua dele. Se resolvam. O destino se encarregará do resto. Se aventurem no sentimento. Mas, eu a agradeço por tudo o que fez.

— E eu agradeço aos Céus por sua existência. O senhor é o pai do homem que eu amo e por cuidar dele merece vê-lo feliz. Eu farei o possível para isso. — é Brasil. Me fizeste amar. Seu Lázaro me abraça com carinho e eu retribuo. Ao nos afastarmos ele diz:

— Silêncio que o curioso está vindo. — rimos.

— Então, sempre vinho na receita? — falo a primeira coisa que me veio à cabeça.

— Sim, faz a liga ser melhor entre os outros ingredientes,mas antes de adicionar, espere o arroz fritar...

— O que vocês estão falando de mim, heim? — o ex-assunto fala, enlaçando minha cintura e beijando minha cabeça.

— Colocar o vinho em você seria uma boa ideia. — digo e o tio Lázaro se engasga com a própria saliva — Estávamos falando de Risotto. — o meu dançarino boia um pouco no assunto.

Vejo a banda e uma ideia passa pela minha cabeça, peço licença e sei que os dois homens Fonsecas me acompanham com o olhar. Peço uma música ao Roberto — rapaz do Pandeiro e enquanto ele fala a música para o restante do grupo, volto até o Lore e estendo uma mão para ele que levanta uma das sobrancelhas. Mas, seu tio empurra-o para mim e eu sorrio agradecida, puxando meu amado para o salão.

— Virou meu tio contra mim, que absurdo, Florzinha. — resmunga mas posso apostar com qualquer um que quer sorrir.

Então a música soa e eu o prendo a mim. Como o ser inteligente que é, eu sei que analisa a letra e a interpreta com nosso caso.

Outros casais começam a dançar também, mas eu foco nesse momento nosso.

Ele me aperta mais assim, enquanto dançamos coladinho no ritmo da música do Vitinho com a participação de Ferrugem. E é no refrão que eu não deixo os meus olhos desviarem do seu:

" Deixa eu tocar seu coração

Não nos cabe essa desilusão

É tão ruim saber, que vou passar

A minha vida inteira sem você

Se não fosse hora de te amar, o destino iria me evitar

Mas ele quis assim, me trouxe pra você

E disse que você nasceu pra mim "

A canção reinicia e eu não posso evitar que algumas lágrimas escorram pelo meu rosto. E eu escondi em seu peito, sentindo o seu coração bater forte. Eu não sei se aguentarei um tempo longe, quando ele foi meu porto seguro. Ele não me fez esquecer os problemas, me ensinou a enfrentá-los. Ouvir de seu tio que também o toquei foi inesperado. Achava que só eu tinha ganhado a vontade de voar. Mas, até nisso, fomos parceiros.

Quando a música terminou, ele me afastou para olhar em meu rosto, limpou minhas bochechas molhadas com seus dedos, tocando-me delicadamente. Segurou meu rosto e beijou minha testa.

— Vamos dançar tango amanhã? — perguntou.

Analiso meu reflexo no espelho de tia Sarah. Não imaginava que usaria novamente este vestido vermelho, mas por algum motivo o trouxe nessa viagem e o meu salto, também, ao menos. A Sarah me ajudou com a maquiagem e o cabelo e desceu para ajeitar algo. Mais do que nunca, eu parecia uma argentina.

Desci as escadas que ligavam ao restaurante e antes que terminasse avistei o meu amado. Seu olhar brilhava para mim. Só para mim.

— Está ainda mais linda, Florzinha!

— Este terno até caiu bem em você. — provoco-o, fazendo ele abrir o sorriso mais galante do mundo. Eu amo as covinhas dele.

— Diz isso só para não dar na cara que se apaixonou ainda mais.

— Vai sonhando, querido.


A canção La Cumparsita com a voz e letra de Carlos Gardel soa, envolvendo nós dois. No tango, a mulher é guiada pelo homem, dando um significado de entrega. O homem tem a responsabilidade de com cuidado, conduzir em avanços, recuos e idas para os lados. Os dois corpos devem estar ligados em drama, em sentimentos. O casal deve caminhar e girar em sintonia e sincronia.

Eu e Lorenzo, nem ensaiamos. Só queremos dançar. A complexidade do Tango é justamente a valorização de sentimentos e isso nós tínhamos de sobra.

Para mim, o mais tocante, era dançar com meu amado a música preferida do meu pai.

Em contrapartida, era perfeito sentir o corpo dele colado ao meu, buscando a mim. Talvez fosse a nossa última música.

Depois de uma dança marcante, trouxe a minha Morena ao meu apartamento e aproveitamos juntos o resto da noite: filme, pipoca e uns bons amassos. A mala dela já estava pronta na pousada, apesar da Florzinha ter ficado bastante tempo por aqui, ela já havia pago a estadia...

Eu não queria dormir, queria admirá-la o pouco tempo que tinha, mas, com seu cafuné, caí no sono de madrugada. Mesmo tenso, a minha garota me fez relaxar.

***

— Então é aqui que termina? — disse para o nada.

— Não precisamos terminar. — ela disse. Não achei que estivesse acordada.

— Mas, como ficaremos? Nunca me imaginei num relacionamento a distância.

— Nós podemos tentar... — sugere, me virando para si e se assustando ao me ver chorando.

— Desculpa. Eu não consigo, Flor. — ela limpou algumas lágrimas, me deu um último beijo e se foi.

Eu não era ninguém para segurá-la quando prezava tanto por liberdade.

***

— Sabia que o encontraria aqui. — ouvi a voz de tio Lázaro.

— Oi, tio.

Eu estava sentado em frente a lápide onde mamãe foi enterrada, pensando no que não queria pensar.

— Você sabe do que quero falar. — começou e sentou-se ao meu lado.

— Vá em frente.

— Meu filho, aquela garota o fez voar em aventura! O brilho que vi em seu olhar esses dias... sabe quando os vi?

— Quando? — questiono.

— Ao descobrir a música e a dança, meu filho. Tem noção de quanto tempo tem?

— Nem um pouco.

— Sua mãe iria querer que ficassem juntos. — ele disse.

— Não posso fazê-la sacrificar tudo o que tem para vim morar aqui.

— Não há nada que o prenda aqui, meu filho.

— Mas, e o senhor? A tia?

— Querido, nós desejamos que você seja livre. Que voe! Sempre soube que devia prepará-lo para sair do país. E o fiz. Este é o seu destino. Ela é o seu destino.

Abraço meu tio fortemente, aceitando seu conselho. E nos afastarmos por ouvir um chamado.

— Ufa, está tudo bem! — tia Sarah fala.

— Mulher, te falei para esperar. — meu tio diz, enquanto levantamos.

— Vocês demoraram, fiquei preocupada. — ela se aproxima de mim e me bate no ombro direito.

— Aí, tia! — reclamo.

— Isso é por sumir sem avisar! Eu já sou velha demais para esses sustos, Lorenzo. — reclama.

— Desculpa, tia. — a puxo para um abraço que ela retribui.

— Nós já resolvemos, querida. — meu tio fala e ela se afasta um pouco para me olhar.

— O que vai fazer, meu filho? — pergunta.

— Eu vou até minha Florzinha.

— Vai esperar a formatura para fazer isso, não é? — questiona com um toque de ordem ao fundo.

— Claro, tia! Me formo, comemoramos e então irei.

— Pronto, meu filho. — beija minhas bochechas. — Ela é uma boa garota. Você tem nossa benção. Mas, por favor, case-se!

— Se ela aceitar, tia.

— Ah, ela vai. — me puxou para outro abraço.

— Obrigado por serem meus pais!

Faz três semanas que voltei para Buenos Aires. A Vitória veio semana passada para cá, no início para saber sobre a viagem, mas ficou para me animar.

Estou fazendo as mesmas coisas, mas vivendo. Apesar de triste pelo término, eu tento viver bem, aproveitando os dias como Lorenzo me animou a fazer. Papá também gostaria de me ver assim: buscando ser feliz.

E a verdade é que eu estava bem comigo mesma. Eu amei cada segundo da minha aventura.

Descobri que Vitória e Luciano andam conversando. Ou melhor dizendo, se flertando. Eles tem até planos de se encontrarem no Carnaval do ano que vem. Uns fofos. Torço. Super shipoo!

Soube pelo Lu, que o meu amado havia se formado. E fiquei tão feliz que entrei em contato com tio Lázaro e tia Sarah — os dois haviam me acompanhado até a rodoviária e trocamos telefone. Sempre que possível nos falamos.

***

Era dia 08 de dezembro, feriado aqui em Buenos Aires e eu estava deitada em meu quarto, lendo um livro da Julia Quinn, quando a maluca da Vitória entra gritando e me manda descer. Saiu me puxando sem dizer nada e eu estava por fora da situação. Mamá e minha avó me olhavam com expressões meio chorosas, meio sorrindo, ao contrário de meu abuelo que se mantinha sério.

Quando a minha hermana abriu a porta de casa, vi Luciano e o cumprimentei, meu coração deu algumas batidas mais aceleradas quando comecei a analisar a reação de todos. Encarei os dois pombinhos envergonhados por estarem na presença um do outro, até que o Lu apontou para uma figura um pouco distante.

Vi um pouco afastado, a figura que eu jamais esqueceria e andei para me aproximar dele. Seus cabelos pareciam ter crescido, os cachinhos estavam ainda mais lindos. Suas mãos demostravam nervoso por ajeitar o óculos e o sorriso tentando se conter. Meu amado estava mais bronzeado e o sol ao fundo, começando a se pôr, o iluminava ainda mais.

Ao chegar bem perto, esperei tentando conter a emoção em meu o rosto.

— De verdade, eu não sei o que falar. — disse. Estava com saudade de ouvir sua voz — Mas, novamente, te peço desculpas, Florzinha. — ele me chamou novamente assim. Eu vou derreter.

— O que veio fazer aqui?

— Vim pedir que volte a fazer minha vida mais feliz. — foi direto.

— Pensei que não se imaginava em um relacionamento à distância. — resmunguei.

— É por isso que trouxe isso. — apontou para as três malas que eu não havia notado. Então a ficha começou a cair. — Ei, calma, Florzinha.

— Meu Deus do Céu! — exclamou e me belisco para ter certeza de que não é um sonho doido.

— Florzinha, deixa eu terminar de falar, ok? — sacudo a cabeça confirmando — Bem, eu quero que seja minha eterna parceira de dança e na vida. — diz e se afasta antes de se ajoelhar na famosa posição e tira do bolso frontal da calça jeans, uma pequena caixinha vermelha e abre-a. Um anel dourado com uma flor vermelha bem desenhada no centro.

— Isso é sério mesmo? — ele sorri e acena confirmando.

— María Florência, você aceita se casar comigo?

— Sim, sim, sim. Para sempre sim! — escuto sua risada e ele se levanta, coloca o anel em meu dedo e beija minha mão. Viro para trás e encontro minha família curiosa como telespectadores. Aceno e indico a mão do anel e eles gritam comemorando. Viro novamente para o meu Lorenzo e pulo nele, que sem esperar vai ao chão. Gargalhamos pelo susto e logo eu o abraço com toda minha força.

— Eu te amo, Florzinha!

— Eu também te amo, meu dançarino!

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