Para Onde Vão os Corações Apa...

By CeciAmaral

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Para Onde Vão os Corações Apaixonados é uma antologia de contos de romance que reúne histórias que te farão s... More

Sobre o livro
Apresentação de Personagens
Seoulmate, parte um
Seoulmate, parte dois
Nas Ondas do Havaí, parte um
Nas Ondas do Havaí, parte dois
Por um Acaso, parte um
Por um Acaso, parte dois
Under the Spotlight, parte um
Uma Faísca do Destino, parte um
Uma Faísca do Destino, parte dois
Romance na Transilvânia, parte um
Romance na Transilvânia, parte dois
Prato Especial: Uma Dança Eterna, parte um
Prato Especial: Uma Dança Eterna, parte dois
As Cores do Amor, parte um
As Cores do Amor, parte dois

Under the Spotlight, parte dois

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By CeciAmaral

Por vuvy37

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8:44, Sábado, 11 de Setembro

Paola


As pessoas nunca notaram muito a Paola, mas ela notava cada um deles. Quando ela acordava e pegava o ônibus para ir a escola, ela percebia cada uma das pessoas andando pela rua. Era sua forma mais simples de evitar tudo o resto. Observar a camisa que aquele senhorzinho usava, ou quantas listras haviam na saia daquela moça.

Além de observar as pessoas, a garota carioca tinha outro grande hobbie, a música.

Andava pelas ruas com a guitarra nas costas, depois da escola teria que correr para a aula que realmente lhe importava.

Toda sua vida, ela economizou cada moeda para algum dia chegar na cidade das selvas de concreto.

Meu hábito de observar as pessoas não havia parado depois de me mudar para New York. Então, naquele dia, as frases "Show me heart break a thousand times. I don't care to be or be caught without sweet misery by my side" ressoavam nos meus ouvidos, eu olhava as pessoas que saiam e entravam da padaria. Até que um rosto que sua memória havia gravado em detalhes apareceu na sua frente.

Era o ex-babacão da pobre coitada que morava com ela.

Se eu desse um soco nele aqui e agora quantas leis eu estaria quebrando?

"Você!" Ele se virou rapidamente procurando a voz da Paola, até que seus olhos encontraram seu cabelo azul e expressão explosiva "É, você mesmo cara-que-não-sei-o-nome, vem aqui."

"Desculpe, senhorita, acho que você se confundiu, e meu nome é Caelum."

"Não me importo com seu nome, agora mesmo só me importo com um, Asterin, conhece?"

Paola estava pronta para jogar um tabefe bem bonito na cara do garoto, mas depois que o reconhecimento passasse pela cara do rapaz, ela viu outro sentimento estampado, tristeza ou arrependimento. Paola tinha que admitir, além da sua cara de durona, seu passado como uma garota tímida e emotiva ousava aparecer de vez em quando. A parte "mole" que ela odiava. E ela sabia, que o brilho em seus olhos ao ouvir o nome da amiga não era uma coisa que você pudesse fingir.

"Conhece o Tom 's na 2880? Venha comigo." ela ainda não confiava nele, então não ia se dar o trabalho de ser educada. Além do mais, imaginava que seu corpo todo funcionava por um neurônio, então não precisava ser muito persuasiva.

"Espera! Mas quem você é. Eu nem te conheço."

"Vai vir ou não?" Ele ia falar que sim.

"Tudo bem, eu vou."

Eu disse, um neurônio.

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"Bom, nós andamos o caminho todo até aqui e você ainda se recusa a dizer quem você é e o que quer, e eu estou ocupado hoje, poderia finalmente falar comigo?" Ele disse quando finalmente chegamos à lanchonete e nos sentamos em uma mesa ao lado da janela.

"Calma aí, garanhão, não ache que eu vou deixar fácil para você." Eu estava adorando tirar ele do sério. "Lembra que quem quer saber algo que eu sei é você, então eu farei as regras do jogo."

Isso não era totalmente verdade, ela queria saber quem ele era. Ai meu Deus Paola. Você diz que não se importa com a pirralha, mas quando ela não está por perto você tenta ajudar a vida amorosa dela. Sei que a Asterin o ama, e que ela não vai melhorar até resolver esse trauma, então eu irei fundo atrás desse cara (de uma forma legal, claro) e sucumbirei ele (sem ameaças) a desembuchar suas reais intenções.

Se esse cara passar no teste e dar uma boa explicação do porque ele agiu como agiu, e mostrar que tem boa índole, ele pode passar por mim e ir até o seu objetivo final, a sua protegida e querida colega de quarto.

O que esse garoto não sabe é que, todas as vezes que eu apliquei esse teste, poucos foram dignos de passar por mim. Eu sou como um boss do jogo, aquele dragão horroroso pelo qual você tem que lutar contra para conseguir a bela princesa. Não me importo de ser a vilã ou de assustar eles. Na verdade, é melhor quando sentem medo.

"Você quer saber sobre a Aster, e eu entendo isso, mas eu também quero saber sobre você. Então proponho um pequeno jogo."

"Como assim jogo, achei que ia me ajudar."

"Não sem ganhar algo em troca. Eu quero saber se você merece o meu esforço.

"Isso não me parece adequado de se falar quando você acaba de conhecer alguém." o jeito com que ele me chamava de chata me divertia.

"Eu não sei se te verei de novo garanhão, então é melhor você escutar." agora começamos "A cada pergunta que eu faça você ganha outra pergunta que você pode fazer para mim. Sobre qualquer coisa. Até mesmo sobre minhas amizades."

"Tudo bem, eu aceito." agora você está falando a minha língua.

Uma bem light para começar.

"Por que você terminou com ela?"

"Acho que isso não te convém, isso é algo que nós dois devemos resolver. Eu não vou contar isso para uma estranha."

Sua cara se retorcia de raiva enquanto franzia o cenho; eu tinha tocado na tecla muito cedo mas não ia sair daqui sem saber a informação pela qual eu tinha vindo.

"É você quem quer algo de mim, então não se faz o revoltadinho e pode abrir a boca. Nós fizemos um trato."

Ele suspirou cansado, eu tinha quase certeza que ele queria sair correndo daí.

"Eu vou dizer, mas só porque sei que se você é amiga da Aster, você não vai sair daqui até saber."

É verdade.

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10:50, Sábado, 11 de Setembro

Paola

É claro que era isso. Eu desconfiava que era um motivo idiota, e não imaginava que o garoto na minha frente tivesse muita inteligência emocional mas isso...Saber que namoros fofos de high school sweethearts acabavam por coisas simples que comunicação poderia arrumar era o motivo pelo qual eu desejava que a terapia fosse de graça para todo mundo. Mas claro que eu não contaria isso para a Aster, o menino merece pelo menos uma chance de se explicar né? Não me olha assim, eu tenho coração mole.

"Bem, eu disse o que você queria, agora é a minha vez de perguntar."

"Claro, um trato é um trato"

"Por onde começar." ele pensou por um momento, depois um pensamento chegou a ele, percebi pela mudança de expressão, que se tornou tímida e com as bochechas avermelhadas- "A Aster, digo, Asterin ela...Ela fala muito de mim?"

Eles tinham feito um acordo, mas contar o estado da amiga em seu estado mais frágil. Mas eu não devo mentir para este homem que também se expôs aqui na minha frente mostrando suas maiores inseguranças.

Antes que eu pudesse controlar o que eu ia dizer as palavras fugiram da minha boca e eu me ouvi dizendo:

"Taylor Swift."

"Que?"

"O repertório musical dela ultimamente se resume a músicas de término de namoro, o outro dia eu escutei ela gritando Last Kiss" eu me sentia como uma traidora.

Ele sorriu, um sorriso infantil, como o de uma criança que tinha ganhado um doce na visita ao shopping com a mãe, enquanto olhava a vitrine de brinquedos.

"Não consigo acreditar que você sorri com o sofrimento da minha amiga." digo enquanto reviro os olhos, e eu que pensei em dar uma ajuda a ele.

Seu rosto ficou mais vermelho e a timidez fez com que as palavras costumassem sair. Eu sei que um momento atrás eu estava brava porque ele sorriu ao saber que a Aster ainda tinha saudades dele, mas ver ele todo atrapalhado me faz rir quase automaticamente. Ele que me processe.

"Desculpe, não foi isso que eu quis dizer, sério"- Caelum finalmente disse- "Não me leve a mal é que são tantas memórias... A Aster amava escutar a Taylor era até um pouco engraçado. Eu me perguntava se ela já tinha amado alguém antes de mim ou se tinha sofrido por amor porque, sempre que ela cantava, eu podia sentir a emoção vindo da alma dela. Como se o tempo congelasse naquele momento com ela e suas sinfonias, a cabeça no meu ombro e um lápis na minha mão. Eu sentia que aquelas letras ela dedicava pra mim e queria, com todas minhas forças, que aquilo que tínhamos durasse para sempre.

Enquanto ele falava seu rosto oscilava entre um doce sorriso e uma careta afetada pela dor de ter perdido a única pessoa que já amou e com a dúvida de que talvez nunca a pudesse ter de volta.

"Mas acabou."

"Acabou mesmo."- ele solta uma risada triste.

"Ainda bem que você me tem para ajudar."

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8:32, Sábado, 18 de Setembro

Asterin

Acordo com o Sol batendo na cara e aquela sensação de calor no corpo graças a aquelas cobertas de lã que ganhei de presente. Foi uma semana complicada e longa. Gostaria de poder ficar de preguiça o dia todo, assistir uma série, ver um filme, que sonho. Mas eu sabia que a Paola não concordaria em nada com aquela ideia e me tiraria da cama de todos os jeitos possíveis, até com balde de água, se precisasse.

Como sempre, me levanto e vou correndo para cozinha e a Paola estava lá.

Tomamos o café enquanto conversávamos, ela não planejava passar o dia aqui, o que é natural dela, que normalmente passeava por parques para tocar ou procurar inspiração. Isso significava que eu passaria o dia todo sozinha, o que me ajudaria a terminar de fazer tudo o que eu queria, mas eu desejava ter alguma coisa para fazer naquele final de semana.

Quando ela estava se preparando para sair a campainha tocou e eu atendi, pensando que seria algum amigo da Paola que ia acompanhar ela. Eu não poderia estar mais errada.

Ao abrir a porta só faltava que eu gritasse. Eu não conseguia acreditar que ele estava ali. Como ele conseguiu chegar até lá? A minha mandíbula caiu tanto que eu senti que deveria pegar ela do chão.

"O que você faz aqui?"

"Eu convidei ele."- a Paola diz aparecendo com um sapato sim e com o outro par ainda no quarto.

"Mas você está saindo, porque ele está aqui na minha frente?"

"Se vocês quiserem que eu vá, eu volto outra hora."- Cae fala esperando que com seu sumiço o conflito seja resolvido.

"Sim!"

"Não!"

Eu e a Paola falamos ao mesmo tempo então ela me dá um olhar ameaçador, sinalizando que eu a siga para o closet que nossos quartos compartilham e eu a sigo.

"Asterin!"- ela diz me chamando a atenção - "Você está sendo imatura, deve resolver isso com ele, ter uma conversa normal. Não fuja dos seus problemas, eu estou fazendo isso por você e preciso que você colabore."

"Você acha que eu não quero me livrar desse sentimento no peito? Não acha que eu desejaria ser corajosa e descolada como você, confiante. Mas eu não consigo. Eu não sou assim. Não estou pronta para falar com ele e quero que ele simplesmente saia da minha vida. Sabe porque? Porque eu ainda o amo."- as lágrimas em meus olhos enquanto eu dizia a feia verdade - "Eu ainda o amo."

"É por isso mesmo que precisa falar com ele"- ela coloca a mão no meu ombro - "Ele também se sente assim e quer esclarecer as coisas."

Mas espera...Como ela sabe.

"Ah, tudo bem, mas vai ter volta."- Finalmente aceito a minha derrota, não acho que ela vá me deixar em paz até que eu não concorde com o que quer que ela tenha planejado.

Voltamos para a sala, meus olhos meio marejados de emoções recentes, então eu o vi. Estou dizendo ver de verdade, não por uma mirada rápida para que ele não percebesse que eu me importava. Ele mudou consideravelmente nesse tempo, mais esguio e forte, mas o cabelo castanho bagunçado continuava com o mesmo corte longo.

Mesmo não sendo tímida pelos anos de aula de teatro, ainda assim senti as bochechas queimarem um pouco e o coração errar as batidas, me recompondo quando consegui. Em sua mão havia um buquê de flores, crisântemos, minhas favoritas. Um sorriso amarelo estampado no rosto e olhos profundos em dúvida.

Paola me empurrou até ele, pedindo que eu fosse educada. Aquilo estava ridículo, parecia que ela era minha mão pedindo que eu fosse gentil e não mordesse os amiguinhos da pré-escola.

"Bem, agora que já resolvemos esse problema é melhor eu ir indo."

Paola não ouse, não resolvemos esse assunto ainda e irei mordiscar esse menino feito queijo.

Antes que eu pudesse expressar meus pensamentos, Paola se foi, me deixando com ele naquele lugar apertado sozinhos, esperando por quem falaria primeiro, que não seria eu no caso, foi ele que veio aqui, que se digne a falar.

"Eu pensei que, como você estava aqui a poucos meses e estava ocupada com os estudos, talvez não tivesse a oportunidade de visitar a cidade ou ter um descanso, então talvez eu pudesse fazer um tour para você. Se puder. E se quiser ir comigo também, a escolha é sua, não quero interromper."

Ele falou enquanto encarava os sapatos, e não pude deixar de evitar de me lembrar de como ele era assim desde a escola, a fala delicada, o jeito em que ele, mesmo sendo uns bons centímetros mais alto que eu, me lembrava de um coelhinho.

Seria eu fraca se me deixasse levar pelos olhos tristes em formato de semi lua? Ou os cabelos como mel escorregadio? Dizem que o orgulho é um pecado, mas e se ele te proteger de um vexame, ou se te impedir de ser machucada novamente pelo seu amor de colegial.

Vamos lá Asterin, você é uma atriz, você se joga, mostra a cara e se arrisca mesmo que não ganhe!

Então tomei a decisão mais louca que já imaginei em tomar desde a minha chegada em New York.

Peguei aquele buquê de flores, arrumei o cabelo curto jogando ele de lado, coloquei sapatos e um sobretudo e, por fim, segurando a mão do Cae eu disse firme, mantendo uma expressão determinada.

"Para onde vamos hoje?"

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9:03, Sábado, 18 de Setembro

Caelum

I had all and then most of you

Some and now none of you

Take me back to the night we met

I don't know what I'm supposed to do

Haunted by the ghost of you

Take me back to the night we me

-The Night We Met, Lord Huron

Eu lembro que ainda no ensino médio eu escrevia poemas. Não era poeta ou algo assim, brincava com as palavras somente para impressionar a Aster, que sempre ficava em êxtase ao receber um (outro conselho do meu primo). Brincar com as palavras juntando-as com os sentimentos de uma primeira paixão era uma rotina, uma promessa.

Colocava em lugares que ela talvez não imaginaria, ou não perceberia, que estava aí por um tempo. Esboços de desenhos, dentro de canetas ou mesmo bombons. Depois do nosso fatídico termino sempre me perguntei se ela ainda achava cartinhas melosas e bilhetinhos escritos à mão na correria do intervalo. Ela ainda teria alguns guardados?

Afastei o pensamento idiota rapidamente, eu tinha um plano e deveria executar ele com perfeição. Eu sabia o que a Aster gostava e o que não, seus desejos e sonhos mais profundos. E mesmo não tendo passado o resto da minha vida do seu lado, como prometi, passei uma considerável quantidade de tempo do seu lado somente admirando a menina dos cabelos bagunçados e sorrisos de lado.

The green eyes

Yeah, the spotlight

Shines upon you

And how could

Anybody deny you?

I came here with a load

And it feels so much lighter now I've met you

And honey, you should know

That I could never go on without you

-Green eyes, Coldplay

O primeiro lugar da minha lista não era o mais emocionante, concordo, mas eu sabia que os olhos da Asterin brilhavam quando ela via uma antiquaria, ou um objeto que tivesse uma história pra contar, como ela gostava de dizer. Levando tudo isso em consideração, o nosso ponto não poderia ser mais óbvio que o Metropolitan Museum of Art, também conhecido como o Met. Fundado em 1870 era um dos museus mais famosos do país contendo mais de 2 milhões de peças de artes, uma quantidade exorbitantemente enorme de gênios tinham deixado seus trabalhos expostos naquele mesmo prédio.

Por um momento minha confiança vacilou, tantos anos haviam se passado, e se ela não gostasse? E se risse da cara dele pela sugestão ridícula?

Mas quando ela percebeu a direção que estavam se dirigindo e sua cara mudou de espanto para felicidade como a de uma criança que recebe o presente que desejou o ano todo, seus pensamentos se dispersaram e ele só conseguiu prestar atenção em como seus pés davam uns pulinhos pela calçada em direção ao museu como se fosse atraída até ele.

Mesmo já tendo visitado, não conseguiu não se surpreender com a grandiosidade arquitetônica, que tinha um toque barroco. Era simplesmente deslumbrante.

"Eu gostaria muito de visitar a seção de Monet." Aster disse enquanto andávamos, o que me pegou de surpresa, já que andamos todo o caminho em silêncio até aqui.

"Não sabia que gostava."

"Minha obsessão com o impressionismo não é de hoje, só que não tenho o suficiente conhecimento para opinar, não gostaria de parecer boba na sua frente, já que você é um nerd da história da arte e da arquitetura."

"Você nunca pareceria boba na minha frente, você dava um show nas aulas de biologia, mesmo sempre reclamando que odiava a matéria, o que não era nada justo com o resto de nós, pobres mortais, que não nasceram com o incrível dote de entender Mitose e Meiose." Eu disse, me lembrando de sempre invejar como ela conseguia decifrar os conteúdos como alguma espécie de idioma antigo.

Em resposta, ela riu.

Eu não escutava essa risada em tanto tempo que meu coração deu um salto e tropeçou.

"Ok, já entendemos, cada um tem seus talentos e eu sou admirável." Mesmo ela estando brincando, aquilo não deixava de ser verdade.

Depois da resposta da Asterin, nenhum de nós sabia o que falar, então arrisquei.

"Eu sei que você sempre desejou chegar até aqui mas, como? Não que eu duvide da sua capacidade de alcançar algo, muito pelo contrário eu só...Queria saber."

Quando ela me encarava daquele jeito eu não conseguia pensar direito, quase hipnotizado pela sua figura, o que me impedia de falar e eu me sentia novamente feito aquele menino inseguro e tímido que a Aster conheceu primeiro. Mas eu não era mais assim, ela me ajudou tanto e eu quero mostrar a ela quem eu me tornei. Alguém muito melhor que aquele perdedor, alguém muito melhor para ela.

"Trabalho não foi o que faltou, tive que correr atrás, mostrar meu valor e talento para a Academia, lutar contra pilhas de documentos e passar por um longo processo de burocracia. Mas tudo valeu a pena." ela termina apresentando um sorriso no final.

"Estou feliz que tenha conseguido, era seu sonho, e conseguimos nos reencontrar." Somente depois de falar percebi meu erro. Ela ainda não estava certa se queria me reencontrar, aceitou hesitantemente essa saída somente porque a Paola pediu e porque queria se livrar de mim o mais rápido possível. Mesmo assim, pensei por um momento ter visto sua cara vermelha e depois morder o lábio antes de virar a cara para uma estatueta do seu lado. Ela mordia o lábio quando pensava em algo fortemente, será que estava questionando se deveria concordar? Para muitos pode não significar nada, mas para mim significava, era uma melhora, mesmo que pequena.

Depois disso um pensamento voltou a minha mente, eu deveria contar para ela hoje, sem falta, porque eu terminei com ela, ela merece isso para pelo menos descansar em mim e eu preciso contar a ela. Mas aquele não era o lugar, então devemos continuar como o planejado.

O próximo lugar na lista era o mais evidente, Broadway e o Distrito do Teatro. Eu sabia que ela adoraria, era lógico, e provavelmente seria a primeira ou segunda vez que visitava, já que os estudos devem ter mantido ela ocupada. O único problema é que eu sabia que ela estaria tão distraída com a magia do lugar e assistiria a peça de forma religiosa, o que não me daria tempo para conversar com ela, mas tudo bem, poderíamos recuperar tudo mais a frente.

Aster tremia sentada no seu lugar ansiosa para o show começar, as pernas balançando e utilizando os dedos como batuques. Ela estava tão nervosa e eu não sabia o que fazer para acalmar ela. Lentamente levei minha mão até a dela, encostando a palma da minha mão com as costas das dela, que inicialmente não notou, mas quando percebeu olhou surpresa de lado, mas não retirou sua mão durante a apresentação.

Um lugar que não poderia faltar seria dar uma caminhada ao redor do Central Park, e dar uma parada para um lanche.

"Passei pela frente algumas vezes, mas nunca consegui admirar o quão bonito era, em meio ao cais e os prédios sem fim de New York essa reserva natural era um Oásis."

"É verdade, lá em São Genésio não poderia ser mais diferente, havia cinco vezes mais árvores do que habitantes."

"As vezes sinto saudades de tudo aquilo, da falta de lojas, de não ter aonde ir para sair com os amigos além da praça."

Eu também sentia saudades de outras coisas.

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Asterin

Encontramos uma barraquinha de pizza por ali, sempre ouvi falar das incríveis pizzas de New York, e também baratas, sendo um pedaço de pizza, um dólar.

"Vamos lá, parece deliciosa." Eu disse já me aproximando.

Fiz meu pedido e no momento de pagar pelo lanche a mão de Caelum afastou a minha da carteira, me olhando com aqueles olhos suaves.

"Se estiver tudo bem para você, eu pago, afinal fui eu quem te convidou."

Fiquei feliz que não teria que gastar minhas economias, mesmo sendo barato eu continuava sendo uma estudante que trabalhava meio período para se sustentar, meu bolso não conseguiria arcar com um custo desses.

"O cavalheirismo não morreu, pelo menos não em New York."

Ele percebeu rápido a citação.

"O espaço entre nós." ele deu uma pausa "O filme que assistimos no nosso primeiro encontro" terminou de falar sorrindo, como se a memória daqueles dias ainda alegra ele. Eu voltaria a sentir uma felicidade daquelas?

Os nervos do primeiro encontro, mãos suadas, pipoca e caramelo no dente. Às vezes eu sentia saudades de ser uma adolescente, de ver tudo pela primeira vez, as coisas novas e excitantes e não saber direito que rumo sua vida tomará, só quer viver e ser feliz, aproveitar seu tempo e amigos. Pode parecer estranho já que em alguns lugares eu ainda seria considerada uma adolescente, mas já não é mais o mesmo.

Eu tenho sonhos e irei atrás deles, mas preciso de um salário para executá-los, para poder ter um teto em cima da cabeça e comida na mesa. Já nada mais é novo e o que me resta é a monotonia da vida adulta. Sinto que estou desperdiçando minha vida e ainda não alcancei nada. Seria assim para sempre? E se esse garoto, somente com sua companhia conseguisse me fazer lembrar de como era amar e ser amada?

Antes de conseguir dar uma resposta para os meus pensamentos, porque o Caelum começou a falar, e o assunto era uma coisa que eu estava desesperada para saber e que atiçava minha curiosidade desde 2018.

"Eu imagino que um dos motivos pelos quais decidiu vir é para saber porque nós terminamos" somente dele mencionar aquilo, as memórias que me assombraram daqueles tempos confusos caíram, tão barulhentas quanto quando você vai pegar alguma coisa em uma prateleira mas no processo acaba derrubando algo e depois tudo o que estava lá cai junto.

Eu tinha que ser sincera com ele, mesmo que com isso ele soubesse de quanto aquilo a afetava, ela queria finalmente desvendar o enigma Caelum.

"Sim"

"Você sabe que meu pai não é uma pessoa totalmente anônima."

Oh não, não de novo.

"Como pessoa pública ele e sua família são observados, e tem sempre um tipo de comportamento que é esperado da nossa parte, e os tablóides adoravam falar sobre o filho adolescente dele, esperando pacientemente ele pirar para poder comentar sobre a minha rebelião."

Eu não sabia disso.

"Então decidimos que a melhor coisa para fazer era se eu me mudasse para São Genésio com meu tio e com o meu primo. Uma cidade de poucos habitantes, tudo o que acontecia continuava lá, isso se acontecesse alguma coisa. Não ficava tão longe assim de SP, onde meu pai morava.

Então, com os meus 16 anos eu fui morar longe dos meus pais, em uma cidade que eu não conhecia ninguém e não tinha muito a oferecer para me entreter." Era verdade, um dos passeios mais emocionantes que aquela cidade tinha era a Igreja. "Mas quando eu comecei a te conhecer de verdade, e a todas aquelas pessoas maravilhosas, todo meu mundo mudou e de repente nunca mais quis ir embora, mas eu iria embora com você até o fim do mundo para ver você cumprir seus sonhos."

Não sabia como responder a aquilo, ele realmente me amava? Não eram só desculpas para ele se fazer de bonzinho?

"Tudo estava indo ótimo, mas depois daquele incidente eu comecei a me perguntar se era isso mesmo que você gostaria para sua vida."

"Você não tinha esse direito."

"Eu sei, eu sinto muito, eu errei. A perseguição que você sofreu lá, mesmo que diferente, me lembrou muito do que eu mesmo sofria, e do que eu tive que abandonar para fugir de tudo aquilo. Então talvez se eu te abandonasse também eu queria te livrar de toda a atenção indesejada que não ficasse no seu trabalho ou na pessoa incrível que você é." Eu conseguia sentir a ardência de algumas lágrimas tentando sair, eu não posso, não agora. Ele pegou minhas mãos e juntou com as suas.

"Você estava louco, deveria ter me dito deveria..." A respiração oscilando. "Não deveria ter me abandonado, deveria ter ficado comigo e me contado, eu poderia ter te ajudado, poderíamos resolver isso juntos."

"Eu sei, eu me arrependo disso todos os dias, pensando no que poderia ter sido. Ter você perto novamente, poder te segurar desse jeito. Eu não fiz por mal, não levei seu julgamento em consideração mas eu não queria te ver igual aquela vez, triste e fingindo que não se importava. Eu queria você feliz, mesmo que para alcançar aquela felicidade eu tivesse que sair do quadro. Você talvez não saiba, mas quando eu sentia muito sua falta eu te procurava nas redes sociais para ver se tudo estava indo bem, já que somente com isso tudo parecia valer a pena, já que talvez você não estivesse tão feliz assim se eu tivesse sido egoísta e não tivesse terminado tudo. Eu me convenci disso. Então, eu acompanhei sua vida em fotos, em vez de te acompanhar no trajeto para a escola todos os dias. Eu nunca fui embora totalmente, não consegui."

Eu não conseguia acreditar, mesmo depois de todo esse tempo, assim como eu, ele nunca esqueceu. Mesmo tentando impedir, acabei me emocionando, e o aperto de mãos se transformou em um abraço.

O tempo passou lentamente, ambos em silêncio, e mesmo com o parque cheio o único que eu conseguia escutar era o batimento dos nossos corações na mesma velocidade. Depois de um tempo saí do aperto e voltei a minha posição inicial naquele banquinho na praça, envergonhada de alguém ter visto, e perguntei algo que me incomodava faz algum tempo.

"Aquela garota que estava com você naquele dia que nos encontramos na lanchonete...Quem era ela?"

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4:58, Sábado, 18 de Setembro

Caelum

Isso realmente era algo complicado de responder. É claro que eu sabia que a Asterin perguntaria, ela é esperta e se lembra dos detalhes, mas eu não sabia que seria logo agora.

"Ela é a minha noiva."

O queixo da Asterin caiu até o chão, quase tive que pegar e segurar. Olhos trêmulos e cenho franzido, eu deveria ter explicado melhor.

"Como assim noiva Caelum Cliff?" Mesmo com aparência doce e inofensiva quando ela queria, conseguia fazer os pelos no meu braço eriçar e a minha espinha estremecer feito terremoto, esse efeito só por mencionar meu nome.

"É uma espécie de casamento arranjado, mas é só um noivado, devemos fazer aparições públicas e sair juntos para dar o que falar sem ter que me envolver em polémicas e ao mesmo tempo fazendo marketing de graça para ambas empresas, a Cliff e a Heatherton, da qual ela é herdeira. Eu não queria estar nesse tipo de situação, quero ter o mínimo a ver com meu pai e nunca quis que a Eloise também fosse um peão deles, mas era uma das condições do meu pai para eu poder vir para New York e estudar Arquitetura."

Nem eu nem a Eloise queríamos isso, mas ela também precisava aceitar isso se quisesse herdar a empresa do pai, nada era mais importante para ela.

"Que horrível, como um pai pode fazer isso com o próprio filho, os Heatherton não estão muito melhor, utilizar os relacionamentos da filha para se autopromover?"

"Eu sempre invejei isso em você."

"Que?" A cara engraçada dela de confusão, que me lembrava uma criança perdida estava aí. É um pouco fofo.

Sorrio enquanto observo as pessoas conversando ao meu redor e crianças correndo aos montes no meio da tarde,

"Seus pais sempre te deixaram livre para fazer o que quisesse, amar quem quisesse, correr atrás de seus sonhos, e ainda te davam toda a ajuda possível, como deveria ser. Enquanto eu era criado em um quadrado pequeno que limitava minhas possibilidades, você tinha todo um campo em que plantava flores, se tornando essa pessoa incrível hoje."

"Você também é incrível, sabia?"

Quando me virei para olhar em sua direção perdi toda a linha de raciocínio que eu havia construído. O sol iluminava seu rosto sorridente, enquanto o vento brincava com o cabelo curto avermelhado, que brilhava como nunca, mesmo estando no meio do Outono a visão aqueceu meu coração. As mãos tremendo de vergonha enquanto tentava falar.

"Não me orgulho de nenhuma das decisões que tomei até agora."

"Não precisa se orgulhar, mas precisa reconhecer que elas te tornaram quem você é hoje, alguém digno de admiração."

"Em que filme viu essa frase?"

"Sabe muito bem que não vou lembrar, talvez foi algum daqueles filósofos, mas nunca me interessei muito por Ciências Sociais na escola."

Rimos e conversamos um pouco mais, nos preparando para o próximo, e último, destino da nossa tour.

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7:45, Sábado, 18 de Setembro

Asterin

O Empire State, mas é claro! E no melhor horário possível, o sol estava quase se pondo, já que estamos no inverno, mas não havia nenhum rastro de chuva ou escuridão no céu.

O famoso prédio de Sintonia do Amor e grandes outras figuras da cultura pop como a música Empire State of Mind, que sinceramente, é um estilo de vida.

Mesmo sendo um simples arranha céu como qualquer outro, e que seus 443 metros de altura já foram superados pelo One World Trade Center, mas sua magia vai muito além da altura ou luzes é uma das representações mais famosas de New York, me sinto envergonhada por não ter visitado antes.

"Caelum eu te adoro mais do que a re-gravação do álbum Fearless na Taylor 's Version."

"Não entendi uma palavra mas acredito que era um elogio."

"Fiquei longe por tanto tempo que já esqueceu o significado das minhas referências a Taylor Swift? Wow, você realmente precisa passar mais tempo comigo."

Eu realmente estava pensando em desculpar o Cae, desde que ele seja sincero, não consigo confiar nele ou amar como amava quando ainda tinha 16 anos, mas sinto falta dele e de sua companhia. Não machucaria ter mais um amigo, quanto mais melhor.

É, somos amigos visitando lugares bonitos em New York, é isso.

"Então sairemos juntos mais vezes?" Os olhos de Cae ganharam um brilho novo de animação pela proposta de se encontrar mais vezes comigo, o que me lembrou daqueles esquilos que tínhamos avistado recentemente no parque. O pensamento do Cae ser parecido com um esquilo me fez rir, já que a cor do cabelo é similar aos pelos do roedor e também tem umas bochechas gordinhas que me davam vontade de apertar.

"Uma moeda pelos seus pensamentos." Caelum me chama de volta à terra, ou melhor, ao Empire State.

"Wow realmente está afiado nas referências a filmes. Eu estava pensando em você."

"Qual é a necessidade de fantasiar com uma pessoa que está na sua frente?" Eram vezes como essa que sua inocência me fazia rir.

"Não podemos controlar as ações das pessoas ou saber como vão agir, mas pelo menos em pensamento posso imaginar o que fazer em um cenário diferente."

"Como você gostaria que eu me comportasse nesse cenário?" Caelum diz se inclinando para ficar mais próximo do meu rosto. "Gostaria que a segurasse dessa forma?" Enquanto fala sua mão lentamente se aproxima da minha cintura me puxando para um abraço tímido, como se perguntasse se poderia fazer algo que estava além de um limite mas que queria experimentar. "Em seus pensamentos eu olho fundo em seus olhos e te conto o quanto esperei este momento?"

Depois daquilo, a distância, que já era pouca, desapareceu. No lugar, lábios macios e quentes se encontraram com os meus e por um milésimo de segundo esqueci tudo, pensando somente em mim e o garoto à minha frente.

Somente por um segundo.

Aquilo não era certo.

Mesmo que fosse para manter as aparências, ele tinha uma noiva. Também tinha uma família que agradar, e que não se contentaria com uma atrizinha da roça. Eu não posso ser molenga e cair na conversa do meu coração, eu tenho um trabalho e uma carreira a construir, um relacionamento com o Caelum poderia trazer consequências aos meus planos. Não é consciente, não posso.

Me separo do aperto do Caelum, provavelmente deixando o garoto confuso, enquanto me viro para outro lado, evitando o seu olhar.

"Aster? Está tudo bem?"

"Sim sim, eu só preciso sair daqui."

Foi tudo um erro, eu estava emocionada enquanto entrei no clima mágico do arranha céu e aquela vista linda de New York no fundo. Tudo aquilo me confundiu, não tem nada mesmo.

Corri dali me aproximando do elevador apertando os botões freneticamente.

"Não entendo, você sempre quis visitar aqui, porque está fugindo justo agora?"

"Eu não estou fugindo, eu vi o que eu queria ver, agora quero ir para a casa."

Maldito elevador, porque não funciona logo?

"Eu não sou tão burro, sei que você está brava com algo. Você...Não gostou?"

Ele já tinha me alcançado e estava segurando minha mão suavemente tentando descobrir o que tinha acabado de acontecer.

Foi aí que um barulho soou à nossa frente.

O elevador tinha chegado.

"Me deixa ir."

Entrei rapidamente no elevador e fechei as portas no mesmo segundo, deixando um Caelum desconcertado atrás.

Mas agora tudo estava bem, ele cumpriu o que queria para se livrar do peso em sua consciência, eu havia me encontrado com ele mais uma vez e estávamos resolvidos, agora eu poderia continuar vivendo minha vida e seguir para a frente esquecendo todos aqueles acontecimentos, sem ressentimentos.

Algo não parecia certo, esse peso no peito, as palmas suadas, não deveria me sentir assim.

Como ele estaria se sentindo?

┕━━━━╗ ✹ ╔━━━━┙

12:35, Quarta-Feira, 22 de Setembro

Asterin

Quando acordei na segunda foi como se toda a minha fuga da realidade com o Caelum não tivesse sido mais do que um sonho, mas ainda se sentia real. O que só piorava tudo.

Se fosse um sonho eu poderia pelo menos ignorar tudo aquilo.

De qualquer forma a minha vida continuou, ignorando os acontecimentos anteriores, estudar, praticar, almoçar, estudar, praticar, descansar. O que realmente não me deu muito tempo para pensar em algo além do Teatro, o que se diferencia muito da escola, quanto todos esperavam que teatro estivesse no fim da lista de prioridades.

Hoje a minha rotina não mudou e eu estava cansada da monotonia, então para sair do loop infinito fugi um pouco para o parque na vizinhança, atividade que sempre me trazia felicidade, observar a cidade desde aquele ponto era lindo, como uma pintura pitoresca que te faz duvidar se não é obra de Dali, de tão surreal.

Ao meu lado havia uma senhora enrugadinha em seu canto, tremendo de frio. Sua expressão era triste e nostálgica, mas com um sorriso simples estampado no rosto, como se estivesse lembrando de tempos melhores. Me senti mal por ela, chegar a essa idade sem companhia e esperar solitariamente o tempo te levar, sem alguém do lado para te dar calor. Em sua mão ela segurava um pedaço de papel, não, não era um pedaço de papel, era uma foto, bem antiga. Não era minha intenção encarar mas não consegui resistir, estava bem embaixo do meu alcance.

Estava danificada e meio amassada, mas as figuras ali se destacavam claramente. Um jovem rapaz e uma garota no que parece ser um restaurante, nenhum deles olhava para a câmera, muito ocupados com os olhares compartilhados e sorrisos tímidos. A cena era linda, um amor de se invejar.

A senhora notou como eu olhava para a foto em sua mão e em vez de ficar brava por eu ter dado uma espiada em seus objetos pessoais, ela sorriu.

"É uma bela foto, não é?" Ela perguntou com sua voz doce e calma.

"Muito bela, você é a garota? É muito linda." Eu não sabia onde esconder minha cara de vergonha, então tentei elogiar ela para que ela não se irritasse, mas não deixava de ser verdade, ambos eram muito bonitos.

"Sim, e o rapaz elegante ao meu lado foi o meu primeiro amor, assim que cheguei na America."

"Se ele foi seu primeiro amor significa que não estão mais juntos então...Oh desculpa! Não era minha intenção me intrometer." Parabéns Asterin, poderia ser mais mal educada? E ainda por cima com uma estranha no parque.

"Está tudo bem, está velha não tem com quem comentar isso mesmo, então uma pequena conversa não seria um problema, e você poderia me fazer companhia. Meu nome é Anasthasia."

"Se não incomodar." Eu adorava escutar histórias, e pessoas como a Anasthasia eram todo um livro.

"No 53 eu tomei um grande passo que mudaria toda minha vida, me mudei da minha terra natal, abandonando os confortos oferecidos pela minha família para ter uma nova vida. Me mudando para a barulhenta cidade de New York, atrás de me tornar um dos grandes nomes da cidade, mas eu realmente não tinha um plano, então com poucos meses aqui não conseguia pagar a hipoteca. Curiosamente, Bill era o filho dos donos do imóvel, e de toda uma cadeia deles."

Acho que já vi esse filme antes, e não gostei do final.

"Uma bobinha do campo e o filho queridinho de uma família influente, diferentes, mas eu podia jurar que ficaríamos juntos até o final e seria questão de tempo até que ele me pedisse em casamento. Até a minha mãe adoecer. Eu já vinha recebendo notícias que minha mãe estava muito fraca, então fiquei preocupada, ela era meu mundo, não poderia abandoná-la. Houve outras coisas que destruíram nosso relacionamento, os meus sogros me odiavam, mesmo que não falassem para não parecerem "indelicados" eu sabia que eles prefeririam ter escolhido uma noiva a ele por dedo, como foi com eles, então sempre tentaram mostrar ao Bill meu lado ruim, como naquele filme da moça bonita...Qual é o nome mesmo? Ah sim, A Sogra! Com a Jennifer Lopez, não é? Ou era Aniston? Bom, voltando a história, eu desisti do Bill, o larguei depois da nossa última noite, depois de dizer que o amaria até a Lua e Saturno, eu o deixei e o único que sobrou de mim foi uma carta de desculpas e os presentes que ele me entregou enquanto me cortejava. E nunca mais voltei a vê-lo. Minha mãe viveu mais cinco anos comigo ao seu lado, nesse período eu já estava passando da data de validade para uma mulher casada, então eu deveria aceitar o primeiro a aparecer, ela não era bonito e era uns anos mais velho, também era considerado infertil e era contra a adoção, o que acabou com os meus sonhos de criar uma família. O tempo passou, e o último que escutei do meu amor foi que se casou e teve filhos, continuando a prosperar." Anasthasia fechou os olhos, tentando impedir a passagem das lágrimas, mas ela continuava sorrindo, porque as memórias a faziam sorrir? Ela tinha sofrido tantos anos e ele se casou, isso não faria o sentimento de afeição desaparecer?

Não importa o quanto tentamos fechar os olhos, criar barreiras, nos afastar, deixar o tempo passar, o sentimento não pode ser jogado para o lado.

"Que história triste Anasthasia, o amor é uma maldição."

"Acredito que não entendeu." Ela deu uma risadinha. "O amor só é uma maldição quando não é retribuído, quando alguém te ama da mesma forma que você o ama é uma benção, e mesmo com os problemas que se apresentam no caminho, os únicos que podemos estragar tudo somos nós mesmos."

"Como eu poderia fazer as coisas darem certo quando tudo parece errado?" Anasthasia balança a cabeça discordando.

"Houveram coisas que dificultavam nossa relação, mas se eu não tivesse desistido pela pressão dos pais dele, se tivéssemos continuado nos comunicando, se fizéssemos visitas de tempos em tempos talvez hoje eu não me arrependeria de tantas coisas que perdi por não ter tido coragem o suficiente para comunicar o que sentia."

O sermão da Anasthasia foi como um soco no estômago, a verdade era essa, eu era uma covarde que não era sincera nem com ela mesma, quem dirá com os outros. Eu não quero ser vulnerável, ficar a mercê dos meus sentimentos e depois ter todas as minhas esperanças destruídas, mas se eu seguisse o caminho que a Anasthasia tomou eu me arrependeria de experiências que nunca cheguei a ter.

Esse era o sinal que eu precisava, esse conselho da Anasthasia me fez mudar totalmente minha perspectiva, como se tivéssemos trocado de postos, eu devia tanto a ela.

Não segurando mais a emoção, dei um abraço apertado na velhinha fofa sentada ao meu lado que parecia confusa com a situação e por eu estar abraçando ela como se fosse um parente que não via há anos.

"Muito obrigada Anasthasia! Seu conselho foi de muita ajuda e agora sei o que fazer. Espero te ver de novo para poder retribuir o favor!"

Aster, você mora em uma cidade com mais de 8 milhões de habitantes, é mais fácil achar uma pepita de ouro do que encontrar o mesmo estranho 2 vezes.

Mas mesmo assim eu achei o Caelum.

"De nada?" Agora ela parecia ainda mais confusa, eu estava me sentindo mal pela pobre mulher que tinha me ajudado sem saber da minha situação e sem esperar nada em troca.

Entreguei a ela o meu cachecol, já que ela não tinha camadas de roupa o suficiente para o clima, era o mínimo que eu poderia fazer, afinal minha mãe criou uma pessoa educada. Eu não passaria frio, já que a corrida até esse lugar me esquentaria completamente.

┕━━━━╗ ✹ ╔━━━━┙

1:28, Quarta-Feira, 22 de Setembro

Asterin

O prédio que eu procurava não era muito longe dali, já que se encontrava no mesmo bairro. Por isso pensei em economizar e ir até lá correndo mesmo. Péssima ideia. Mesmo que a distância fosse pequena eu não era muito atlética, o que resultou disso foi nada mais e nada menos do que eu parecendo que tinha saído de um banho, ou que tivesse esquecido meu guarda chuva em meio a uma tempestade.

Ao chegar lá eu não soube mais o que fazer, a adrenalina do momento tinha movido meus pés, mas seria o suficiente como para passar medo e vergonha?

Eu estava no prédio onde o Caelum morava, enquanto saímos ele me disse e combinamos de nos visitar de vez em quando como "amigos", e aqui estava eu, pensando em como revelaria a ele os meus sentimentos.

Enquanto me questionava como raios o porteiro me deixaria entrar uma garota saiu do prédio, talvez eu poderia pedir um favor a ela se fosse uma moradora ou visitante, já que estariam familiares com ela.

Antes que eu pudesse ao menos me dirigir até ela, a garota acenou e começou a andar em minha direção. Talvez eu a conhecia de algum lugar mas não conseguia lembrar, onde será que ela me viu?

"Você é a namorada do Caelum, não é?"

QUÊ?

"Não é assim que eu descreveria, mas vim aqui para me resolver com ele. Mas, de onde você me conhece?"

"Ah desculpa por isso, me chamo Eloise, a ex-noiva do Caelum."

Okey, eu não esperava achar ela aqui, e ex?

"Como assim, ex?"

A garota com certeza era uma beleza e tanto, olhos delicados e cabelos loiros encaracolados, tendo uma presença quase angelical. Eu nunca deixaria alguém assim virar minha ex.

"Eu reavaliei a situação e decidi que não valia a pena, eu estava lutando por um negócio que não era meu e sacrificando a minha chance de me casar com meu verdadeiro amor. Estou indo a Paris, onde começarei um novo império, sem a ajuda de ninguém."

"Gostaria de ter sua coragem, você é alguém admirável Eloise."

"Obrigada, imagino que você deve ser uma pessoa incrível, esse homem ficou obcecado por você por anos. Espero que consiga o que quer, vem comigo, eu te levo."

Entramos e nos dirigimos até o apartamento número 34, o apartamento do Cae. Eloise toca a campainha e poucos segundos depois ele abre a porta, é, ele, o Caelum.

"Eloise, por que voltou? Esqueceu al..."

Seus olhos me encontram atrás de Eloise e a surpresa o faz ficar em silêncio. A atmosfera estava tão pesada que ninguém sabia o que dizer.

"Ahh, acho melhor eu ir indo, espero ter ajudado." Eloise sumiu pelo corredor, deixando suas últimas palavras flutuando na densidade pesada daquele ar.

"Acho que eu deveria começar a falar primeiro e me desculpar por ter sumido sem notificar nada aquele dia."

"Não precisa se desculpar, se não gostou está tudo bem, eu entendo. Sei que o que fiz no passado é errado e não espero que você esqueça com um encontro." Às vezes o Cae me lembrava a mim mesma pelas suas conclusões precipitadas, eu odiava aquilo.

"Você entendeu errado, eu amei o beijo, eu amo você, o problema foi que eu via tantos obstáculos na nossa frente e estava cegada, pensando em tudo o ruim que poderia acontecer e tudo que eu tinha a perder. Esqueci que isso também fazia parte do amor. Além do mais, para que serve um coração se não para ser quebrado?"

"Repete, por favor."

"O que exatamente, eu falo bastante."

"Onde você disse que me amava."

Ah, então era isso que você queria escutar malandro.

"Eu te amo, Caelum."

"Eu te amo Asterin!"

Ele me apertou em um abraço de urso de uma forma emocionada e eu levei meus lábios até os seus que rapidamente despertavam ao chamado. Não era o nosso primeiro beijo fofo, ou algo mais nostálgico, mas mesmo assim eu senti que lembraria dele para sempre, queimado em minha memória.

E naquele apartamento, em Morningside Heights, eu me lembrei de como era estar apaixonada.

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