Camila
Em abril, as chuvas da primavera paralisaram Chicago por dois dias, mantendo-nos dentro de casa.
Lauren ficou assistindo à TV. Eu estava deitada no sofá com meus pés no colo dela, lendo um livro.
- Você quer ir ao cinema? - perguntou ela, desligando a televisão.
- Claro. O que você quer ver?
- Não sei. Vamos entrar no cinema e escolher algum filme.
Coloquei o casaco e saímos do apartamento, enfrentando a chuva forte enquanto Lauren segurava um guarda-chuva acima de nossas cabeças. Ela pegou minha mão. Eu a apertei e sorri quando ela a apertou de volta.
Lauren queria ver Sin City. Estávamos na fila para comprar pipoca quando alguém deu um tapinha nas costas dela.
Viramo-nos. Uma garota baixa com um boné estava parada perto de uma outra garota baixinha usando um casaco de capuz rosa, o cabelo preso em um rabo de cavalo. Lauren sorriu.
- E aí, Brooke? Tudo bem?
- Procurando alguma coisa para fazer até a chuva parar.
- Nem me fale. Esta é Camila - apresentou Lauren, colocando um braço por cima dos meus ombros.
- Oi - cumprimentou Brooke. - Esta é a minha namorada, Beth.
- Prazer em conhecê-las - falei.
- Sempre esqueço que você está por aqui - disse Lauren.
- Vou ficar presa no ciclo básico da faculdade para sempre se não melhorar minhas notas.
- Vamos sair um dia desses - convidou Lauren.
- Meus pais vão sair da cidade no mês que vem. Vou dar uma festa. Vocês podiam ir.
Brooke sorriu para mim, e tive a sensação de que o convite era sincero.
- É, isso seria legal.
Dei uma espiada em Beth enquanto Lauren e Brooke conversavam. Ela estava me encarando, boquiaberta. Para ela, eu provavelmente parecia uma anciã.
Seu rosto sem rugas e a pele rosada eram radiantes. Ela não tinha ideia, como eu também não tinha quando estava com vinte anos, de como a pele jovem é bonita. Não era sempre que eu usava o boné de Lauren e meus óculos escuros na ilha e pensei nos anos em que o sol me havia castigado.
Meu pesadelo era acordar em uma manhã e descobrir que meu rosto havia se transformado em couro enquanto eu dormia. Eu passava mais tempo do que admitia tentando reverter os danos que o sol da ilha havia infligido à minha pele e abarrotei a bancada do banheiro com todas os hidratantes e cremes que o dermatologista havia recomendado. Minha pele parecia saudável, mas não havia comparação entre uma pessoa com vinte anos e outra com trinta e três. Lauren me achava linda, ela me dissera. Mas e daqui a cinco anos? Dez?
Entramos no cinema e nos acomodamos. Lauren colocou a pipoca entre as pernas e descansou a mão na minha coxa. Eu não conseguia me concentrar. Imagens de Lauren e eu bebendo cerveja de barril em copos de plástico na sala de estar de Brooke enquanto todos me olhavam estupefatos enchiam meus pensamentos.
Lauren fizera um grande trabalho se adaptando aos meus amigos. Ela havia suportado o comportamento detestável de Spence, além do fato de tomar vinho, que na verdade nem queria tomar. Usar vestidos não era algo de que ela gostasse, mas fez assim mesmo. Conversou normalmente com Rob e Dinah e pareceu fazer isso sem esforço.
Era mais fácil parecer mais velha se você quisesse, usando boas roupas e imitando o comportamento de pessoas mais velhas. Se eu tentasse me adaptar aos amigos de vinte e poucos anos de Lauren me vestindo e agindo como eles, eu ficaria ridícula.
A chuva havia passado quando saímos do cinema. Seguimos a multidão e começamos a andar.
Parei na calçada.
- O que houve? - perguntou Lauren.
- Não vou ser assim para sempre.
- O que você quer dizer?
- Sou treze anos mais velha do que você e estou ficando mais velha a cada dia. Não vou ter sempre essa aparência.
Lauren colocou os braços em volta da minha cintura e me puxou para perto.
- Eu sei, Camila. Mas, se você acha que eu só me importo com a sua aparência, você não me conhece tão bem quanto achei que conhecesse.
* * *
Caminhei sozinha pelo corredor do supermercado Trader Joe's carregando uma cestinha cheia de tudo o que meu olho pudesse ver, o que até então tinham sido duas garrafas de cabernet, massa orgânica, um vidro de molho marinara, alface romana, cenoura e pimentões para uma salada.
Lauren estava cortando o cabelo. Geralmente comprávamos comida juntas, em parte porque ela insistia em pagar e em parte porque ainda ficávamos intimidadas por supermercados. Na primeira vez em que fizemos compras, depois de eu me mudar para o apartamento, ficamos paradas no meio do mercado, encarando toda aquela comida.
Entrei em outro corredor, peguei uma cerveja para Lauren e depois encontrei os ingredientes para fazer uma torta de chocolate para ela. Eu estava tentando decidir que tipo de pão servir com o jantar quando senti um puxão no meu jeans.
Uma garotinha de cerca de quatro anos estava parada do meu lado, com enormes lágrimas silenciosas correndo pelo rosto.
- Você é uma mamãe? - perguntou ela.
Eu me agachei até meus olhos ficarem na altura dos dela.
- Bem, não. Onde está a sua mamãe?
Ela segurava firme um cobertor rosa surrado.
- Não sei. Não consigo encontrar, e minha mamãe disse que, se um dia eu me perdesse, que era para encontrar outra mamãe, e ela ia me ajudar.
- Não se preocupe. Posso ajudar assim mesmo. Qual é o seu nome?
- Claire.
- Tudo bem, Claire - tranquilizei-a. - Vamos pedir para alguém fazer um anúncio no altofalante, para que sua mamãe saiba que você está bem.
Ela olhou para mim com lágrimas nadando nos grandes olhos castanhos e deslizou a mãozinha para a minha.
Estávamos andando em direção à frente da loja quando uma mulher virou a esquina correndo e gritando o nome de Claire. Ela segurava uma cestinha. Um bebê dormia em um canguru preso a seu corpo.
- Claire! Ai, meu Deus, encontrei você!
A mulher correu na nossa direção, deixou a cesta cair e puxou Claire desajeitadamente para o colo, tentando não empurrar o bebê. O medo no seu rosto se dissolveu quando ela apertou Claire.
- Obrigada por achar minha filha - disse ela. - Soltei a mão dela por um minuto para pegar uma coisa e, quando olhei para baixo, ela não estava mais lá. Estou tão cansada por causa do bebê que não consigo me mover muito rápido no momento.
Ela tinha mais ou a menos a minha idade, e realmente parecia cansada, com círculos descorados em volta dos olhos. Peguei a cesta dela.
- Você já acabou? Posso carregar isto para você?
- Obrigada. Realmente agradeço. Preciso de mais que duas mãos agora. Você sabe como é.
Na verdade, eu não sabia.
Andamos até o caixa e esvaziamos nossas cestas.
- Você mora por aqui? - perguntou ela.
- Moro.
- Tem filhos?
- Não. Ainda não.
- Obrigada por me ajudar.
- De nada. - Eu me abaixei. - Tchau, Claire.
- Tchau.
Quando cheguei em casa, guardei as compras, me sentei no sofá e chorei.
Aparti de agora todos os capítulos vão ter metas de vinte comentários.
"Mas pq isso?" Cada capítulo tem em média 150 visualizações em UM DIA, mas só UMA pessoa comenta ???????? Isso me desmotiva demais, dá vontade de apagar a fic e me fazer de Katia.
Eu não abandono a fic, tô sempre atualizando e não tenho nenhum retorno. 🤡🤡
Sem 20 cometários COERENTES, sem capítulos.