Stay With Me - Cartas Esqueci...

By Mai-Santos

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Durante um casamento, Miranda, editora de uma revista em Paris, tem uma discussão com seu namorado e acaba en... More

1 - Azuis frios
2 - Castanhos quentes
3 - Escuro fumegante
4 - Gota transparente
5 - Delírios rubros
6 - Azul avelã
7 - Boca rosada
8 - Sob o céu escuro
9 - Véu branco
10 - Luz vermelha
11 - Branca por fora, rosada por dentro
12 - Cristais brilhantes
13 - Envelope azul
14 - Seda preta
15 - Flor do campo rosa
16 - Botão de rosa
17 - Tons de ouro e rosa
18 - Aura flavescente
19 - Rastros vermelhos
20 - Proeminência avermelhada
21 - Memórias cinzas
22 - Lábio avermelhado
23 - Macia e branquinha
25 - Noite escura
26 - Nada além da espera escura
27 - Devaneios com vinho tinto
28 - Subconsciente obscuro
29 - Traço rosa intenso
30 - Barriga pálida
31 - Lembranças rubras
32 - Despedida preto no branco
33 - Reflexo avermelhado
34 - Choque entre castanho e azul
35 - Lágrimas no rosto vermelho
36 - Rosas dele e dela
37 - Lábios carmesim
38 - Bandeira branca
39 - Ouro sobre azul
40 - Um azul e outro branco
41 - Mamilos cor de coral
42 - Pequeno anjo prateado
43 - A luz da calmaria
44 - Vestido grego branco
45 - Brilhante solitário
46 - Azul da prússia lhe cai bem
47 - Manhã alaranjada

24 - Rosas vermelhas

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By Mai-Santos

"Com carinho, Miranda."

ℍavia uma luz branca intensa a sua frente, um brilho tão forte que ela não conseguia distinguir muitas formas. Andrea olhou para baixo e viu que seus pés estavam na borda de um precipício. Deu dois passos para trás e ouviu a voz de Miranda, ao longe, chamando-a.

Virou somente a cabeça na direção da voz e se deparou com um campo florido, repleto de margaridas, podia sentir o cheiro das flores, podia sentir até mesmo um aroma de mel. Miranda estava lá, no centro do campo com um vestido branco, um sorriso no rosto e chamando por ela.

Havia tanta luz, tudo estava tão claro, que seus olhos ardiam e ela tinha que fazer um esforço para mantê-los abertos. E então, a imagem de Miranda começou a parecer distorcida, apertada em uma calça justa e uma jaqueta de esportes.

"O que está fazendo?" Perguntou Andrea, tentando abrir os olhos.

"Oh, querida, você acordou. Estou indo ao pilates. Você quer ir?" Sentou perto da jovem, afastando o cabelo dela do rosto.

"Que horas são?"

"Agora são cinco e vinte."

"Está louca, mulher, pilates à noite? Nem pensar." Bocejou, esfregando os olhos.

"Tudo bem." Miranda riu, antes de beijar carinhosamente sua bochecha. "Volte a dormir, princesa."

"Princesa." Andrea cantarolou sorridente, já adormecendo.

Algumas horas se passaram e quando ela abriu os olhos novamente, viu as panturrilhas firmes de Miranda desfilando contraídas de um lado para o outro no quarto, embora em sua mente parecia que ela só havia piscado os olhos e a mulher havia aparecido com scarpins, saia tulipa, e blusa social de manga longa.

Esticando os membros do corpo, deu uma longa olhada no entorno dos lençóis destroçados. Miranda estava tirando a filmadora do tripé quando notou o olhar dela, oferecendo um caloroso e incandescente sorriso.

"Bom dia, querida. Você dormiu bem?"

"Uhn-hum."

"Vejo que ainda tem sono, não vou ficar surpresa porque é você." Depois de uma piscadela, ela saiu do quarto levando consigo o equipamento de filmagem.

Tentando escapar da luz incômoda que adentrava pela fresta das cortinas, Andrea escondeu o rosto sob as cobertas, e quando estava quase capturada pelo sono novamente, Miranda retornou e removeu o tecido de sua face, sentando perto dela na cama. 

"Eu gostaria de poder ficar, mas preciso ir trabalhar. Vou deixar um aviso para a arrumadeira não entrar no quarto, assim ela não incomoda você. Fique à vontade, certo?" Disse ela, enquanto sua mão macia e carinhosa tocava a bochecha marcada pelo travesseiro.

A jovem assentiu, maneando a cabeça com olhos tristes. Miranda colocou um beijo casto e demorado nos lábios dela, cuidadosamente para não borrar seu batom, e depositou outro em sua fronte, deixando uma marca cereja na pele dela.

"Volte a dormir, querida."

"Tenha um bom dia de trabalho, Mira."

°°☉°°

Fechando a pasta que estava em suas mãos, Miranda pegou uma nova e abriu sobre a mesa, conferindo as fotos que continha dentro dela. Seus olhos vagaram por cada milímetro e, por fim, seus lábios franziram e se inclinaram. Pegou o telefone em um movimento rápido e discou uma chamada interna.

"Oui?"

"Claude, você tem as fotos da campanha de São Valentim com você?" 

"Só um minutinho."

Ouvindo do outro lado da linha sons de papéis mexendo e gavetas se abrindo, Miranda rolou os olhos e tamborilou as unhas na superfície maciça da mesa.

"Aqui está! Oh, eu acho que vejo o que você vê."

"Bom, se você está vendo um acidente ambulante, estamos olhando para a mesma coisa. Quem supervisionou esse atentado?"

"Achei que tivesse sido você."

"Verdade? E você acha que estaríamos tendo essa conversa se fosse eu?"

"Então, se não fui eu, nem você, só nos resta Lucía, ouvi dizer que nosso antigo fotógrafo havia se demitido e ela contratou um novo."

"Então ela encontrou alguém que quer fazer as pessoas se matarem no dia do amor. Demita-o, eu resolvo com Lucía. Remarque uma nova sessão no estúdio quatro, reserve todo o material e as modelos novamente."

Sem esperar uma resposta, Miranda desligou o telefone, fez algumas anotações e partiu para a próxima pasta.

Sentiu-se um pouco melancólica ao imaginar que Andrea provavelmente já tinha saído de sua casa. Não sabia quando a veria novamente, talvez conseguiria escapar para almoçar durante a semana. Poderia visitá-la no hotel se não tivesse prometido a si mesma nunca pisar os pés naquele lugar há anos.

Seu curto momento de distração foi lançado para longe quando uma pilha de pastas foi depositada em sua mesa por Celine, a secretária de Lucía, mais pálida e magra do que o normal.

"O que é isso?" Indagou Miranda.

"Não sei, Lucía só pediu para entregar."

Miranda apertou os olhos para a figura desconfortável a sua frente e conferiu as etiquetas das pastas, puxando somente uma no centro robusto e empurrando a pilha de volta para a jovem.

"Diga a Lucía que estou ocupada demais com o meu próprio trabalho, isso não é responsabilidade do Departamento de Arte. Ela tem que delegar isso para os departamentos correspondentes."

"É para dizer dessa forma?"

Assentiu, com um rolar de olhos impacientes. Então a jovem pegou de volta a pilha pesada em seus braços e saiu tropeçando da sala.

Após revisar todo o trabalho dos funcionários de seu departamento, os quais ela era responsável, Miranda encaminhou suas anotações para que as correções cabíveis fossem feitas. E só então foi resolver o maior dos problemas da revista - a chefe.

Ela passou como um vulto pela antessala, e antes que Celine pudesse abrir a boca para impedi-la, já estava dentro da sala de Lucía.

"Miranda! Eu realmente ia falar com você." A mulher direcionou a mão para a cadeira, balançando levianamente como um convite para sentar.

"Eu preciso de sua assinatura para refazer as fotografias da campanha de São Valentim, aquelas estão inutilizáveis." Miranda disparou a falar, colocando um formulário sobre a mesa e permanecendo em pé, ignorando o convite indireto para sentar. "Vamos utilizar o estúdio quatro, Claude vai ficar responsável, já confirmei com ele."

"Claro."

"E gostaria que você me consultasse quando mudar alguma coisa dentro do meu departamento, você sabe, cortesia profissional. É mais barato se eu não tiver que refazer seu trabalho."

"Tivemos problemas com o fotógrafo, tentei ligar para você no sábado para resolver, mas não consegui. Fiz o que pude para cumprir o cronograma."

"Não foi suficiente, pelo que notei."

Lucía deslizou a caneta sobre o papel e fechou a pasta, mantendo-a na mesa sob suas mãos, apenas para que Miranda ficasse por mais tempo. Elas trocaram um olhar fixo e silencioso por alguns segundos, até uma delas se pronunciar.

"Eu mandei algumas coisas para você mais cedo e você se recusou a verificar." Disse Lucía.

"Eu também disse que não é minha responsabilidade."

"Sim, mas você sempre me ajuda em todos os departamentos, sempre foi meu braço direito. Não entendo essa revolta de repente."

"Revolta? Não há nenhuma revolta, Lucía. Você me confiou a responsabilidade de um departamento, e nunca falhei com meu trabalho. Ajudei você desde o seu primeiro dia por ter uma certa… gratidão. Mas acho que está na hora de você andar com as próprias pernas. Você é a chefe, não eu, delegue funções, cobre dos outros departamentos, faça seu trabalho. Afinal, eu não estarei aqui para sempre, certo?" Finalizou com um largo sorriso predador.

"Por que está falando isso?"

"Não sei, por quê?" Miranda enrugou a testa e levou a mão ao peito, encenando estar confusa.

Lucía piscou atordoada. O que fez Miranda duvidar se ela havia se dado conta de que ela estava totalmente ciente dos planos de mandá-la para longe.

"Que seja" Lucía sacudiu o assunto momentâneamente. "Eu não estava aqui na sexta. Mas eu li a ata da reunião e soube das suas observações que me impossibilitaram de contratar a equipe que eu estava treinando. Eu espero que isso não seja um ataque pessoal."

"Eu não tenho nada contra você." Bufou em total desprezo. "Dei a minha opinião profissional, penso no melhor para a revista. Preciso do formulário para usar o estúdio." Ela puxou a pasta com um movimento lépido e leve, e caminhou na direção da porta, mas parou no meio da sala e disse olhando por cima do ombro: "Vou precisar substituir o fotógrafo."

Já na antessala, Miranda encostou seu lado na mesa de Celine e pegou o telefone dela, discando um número que ela tinha na memória. A jovem piscou observando a mulher com uma certa admiração e um fundo de medo.

"Estou preocupada com você, Celine." Disse Miranda, levando o telefone ao rosto.

"Eu também." Respondeu a jovem, distraidamente. "Quero dizer, por quê?"

"Alô? James, querido! Como você está? É claro que eu preciso de alguma coisa, por que outro motivo eu ligaria? Eu preciso de um fotógrafo com urgência, você conhece algum disponível na capital?" Puxando o bloco de notas e a caneta de Celine, Miranda começou a anotar. "Okay, obrigada, querido, preciso voltar ao trabalho." Ela empurrou o bloco de volta para a jovem e disse sem pausas. "Você vai ligar para esse número e marcar uma reunião urgente com o RH, diga que é indicação de Hamilton. Essa sessão precisa ser feita até amanhã com Claude, combine os detalhes com ele. Quero as fotografias na minha sala na quarta. Isso é tudo."

Finalizou, saindo rapidamente da antessala, batendo opressivamente seus saltos no piso frio e polido.

°°☉°°

Era uma noite como tantas outras. Miranda chegaria no conforto de sua casa quente, silenciosa e solitária, faria um café fumegante, espalharia as pastas na mesa de centro, e trabalharia em seu sofá aconchegante vestindo um robe leve.

Girou a chave na fechadura e abriu a porta da casa, ligou a luz do corredor e fez seu ritual de chegada. Até que algo incomum chamou sua atenção, a iluminação da TV se movimentando em uma dança de luzes e sombras nas paredes da casa.

Com uma ruga na testa, Miranda cruzou lentamente a sala, somente para encontrar Andrea encolhida no sofá, enrolada em uma coberta, apenas seu rosto para fora.

"Oh, você está aqui!" Exclamou surpresa.

"Oi." A jovem abriu um sorriso nervoso e sentou rapidamente. Miranda viu, então, que ela vestia um de seus pijamas. "Eu acordei tarde e coloquei um filme, depois acabei colocando outro, então resolvi esperar você chegar. Achei que não haveria problemas já que você disse que eu poderia ficar à vontade. Você me acha uma enxerida?"

"Não, não." Disse Miranda, sentando ao lado dela com seriedade. "Apenas acho que avançamos dois anos em nosso casamento. Você fez o jantar?"

"Uh, não."

"Perdeu a oportunidade de avançar mais um ano."

Elas se olharam por alguns segundos antes de rirem com diversão e trocarem um longo e saudoso beijo de olá, onde Miranda tinha seus dedos pressionando as bochechas macias de Andrea, as mãos em concha em seu pescoço. E Andrea pressionava a cintura de Miranda, puxando-a para mais perto. Elas não evitaram as risadas sem fôlego quando finalmente separaram os lábios para voltar a respirar.

"Estou feliz que esteja aqui." Seus ombros relaxaram pela primeira vez depois do longo e cansativo dia. "Eu vou ter que trabalhar ainda, resolver algumas coisas no escritório…"

"Eu prometo me comportar, ficar quietinha e silenciosa, ou posso voltar ao hotel se você quiser, não quero atrapalhar."

"Não, você pode ficar, sei que vai se comportar. Mas primeiro vou pedir o jantar e tomar um banho."

"Eu posso fazer o jantar, vocês gostam de sopa de cebola aqui?"

"É claro que sim. Um mês vivendo aqui e você não aprendeu nada sobre os franceses?" Bufou revirando os olhos e beijou novamente os lábios dela antes de levantar. "Vou me banhar, preciso relaxar em uma banheira quente por uns minutos, é tradição."

"Uh, Mira?" Andrea a chamou, fazendo com que ela parasse no meio da sala. "Onde você guardou a filmadora com a fita de vídeo de ontem a noite mesmo?"

"Que fita? Eu não sei do que você está falando." Franziu o cenho, em uma falsa expressão de confusão.

"Mira, Mira. Não se finja de doente para ser visitada. Onde você escondeu a fita?"

"Você está sonhando, não tenho conhecimento de fita nenhuma, Andrea."

Andrea riu mordendo o canto do lábio, incrédula com tamanho cinismo, então ela levantou do sofá e lançou um sorriso ameaçador.

"Se você não me disser onde está, eu vou pegar você!" Deu dois passos para frente, enquanto Miranda deu dois para trás.

"Não se atreva! Fique onde está, Andrea!"

"Onde está, Mira?" Deu mais alguns passos lentos, circulando o sofá.

"Fique onde está!"

"Eu vou te pegar!" Declarou, já correndo em posição de ataque na direção de Miranda.

"Não, Andrea! Estou falando para parar!" Colocando os braços na frente do corpo para se defender, disparou pelo corredor a rir, sendo perseguida pela jovem.

°°☉°°

"Este é um lindo sábado de inverno, o sol briga com as nuvens para aparecer e nos presenteia com essas lindas cores. Diga 'olá', Mira."

"Está errado, essa é a fita do campo." Disse a jovem, apertando o botão de pausar do videocassete, ao ouvir sua voz na TV.

"Está certo, é que foi tudo gravado na mesma fita, é só você acelerar um pouco e pular toda essa parte."

"Ah! Okay. Acelerando… acelerando… Aqui!"

"Acho que está gravando… Sim com certeza está gravando."

Andrea voltou para o sofá, deitando-se com a cabeça repousada no colo de Miranda, gostava dessa posição, pois sabia que Miranda sempre acariciaria seu cabelo, e ela imediatamente o fez.

"Olha só, somos nós!" Disse a jovem, empolgada com sua imagem na TV.

Já não era mais domingo, e sim o início da segunda. Elas estavam deitadas sobre a cama, espontâneas, brincando como sempre, vestidas em robes de seda que acariciavam a pele.

Miranda tinha uns dos joelhos flexionados e brincava distraidamente com a bainha do robe, Andrea pegou sua mão e começou a comparar o tamanho das mãos delas, em seguida, uniu seus dedos e entrelaçou.

Nesse momento, no sofá, Miranda pigarreou e Andrea olhou para cima. Seus orbes se encontraram e elas não sabem por quanto tempo ficaram se olhando, mas quando olharam para a TV novamente estavam aos beijos na cama.

"Você está tão cheirosa, Mira." Andrea desceu ligeiramente um lado do roupão de seda, expondo o ombro de Miranda. Tocou suavemente a ponta de seu nariz no pescoço dela, o suficiente para fazer arrepios espalhar por seu corpo. "Vou te contar um segredo."

"Temos mesmo que assistir isso?" Miranda bufou, parecendo irritada e corada. "Foi literalmente ontem, nós lembramos de tudo."

"Conta."

"Sim, mas eu quero ver como é a performance de fora, você sabe."

"Você tem um cheiro único que eu sinto o tempo inteiro e normalmente me deixa calma. Mas quando você está excitada, é totalmente diferente, e me deixa acesa e agitada. E quando você goza, é um outro aroma, que me atinge de imediato, e eu fico entorpecida. Eu adoro todos os seus cheiros."

"Isso é um segredo?"

"É só algo que nunca contei." Encolheu os ombros.

A conversa parou por instantes, voltando aos beijos ardentes e toques por toda parte. Até que Miranda montou no colo de Andrea e removeu o cinto de seu próprio robe, deixando escapar vislumbres do seu corpo. Voltou a beijar os lábios carnudos e inchados, movendo o quadril sobre o membro dela e provocando seu seio com a mão.

"Hum, Miranda, que delícia!"

"Certo, eu não quero mais ver isso!" Miranda levantou rapidamente do sofá, quase derrubando Andrea no chão, e ejetou a fita do aparelho.

"O quê?! Mas estava ficando bom! Logo agora que você estava prestes a..."

"Não, não! Eu não quero ouvir! Estou cansada, preciso dormir para ter energia para o trabalho amanhã. Vamos para a cama." Ajustando o robe em seu corpo, com a postura perfeitamente ereta e confiante, direcionou-se para fora da sala.

"Aposto que você estava ficando excitada." Provocou, sorrindo maliciosamente enquanto a seguia. "Ficou molhadinha, não ficou?"

"Pare com isso, Andrea, não estou com paciência."

"Ah, você ficou! Ficou molhada, dolorida e pulsando. Está louca para fazer sexo, mas sabe que não podemos, no máximo umas brincadeirinhas. Mas eu não vou ficar provocando você, nem beliscar sua cintura, você pode ficar violenta e até jogar coisas em mim."

"Eu não faria algo assim, não é da minha natureza."

"Depois do seu ataque de ontem, eu não duvido."

"Você pode esquecer isso, por favor?" Miranda lançou um olhar congelante que arrepiou todo o corpo de Andrea. "Eu não gosto de agressão, mas posso muito bem trancar você para fora do quarto."

"Oh! Isso seria bem rude. Você não faria isso, faria?" Seu sorriso convencido morreu quando Miranda parou sobre a soleira de seu quarto e ficou de frente para ela, encarando-a com olhos azuis bravos e cortantes. "Desculpe por provocar você, por favor, não quero dormir sozinha."

Miranda apertou os olhos para ela antes de sorrir sem esconder seu regozijo e abrir espaço para que ela passasse.

"Criança boba!"

"Você me enganou direitinho."

Sobre cobertores macios e aquecidos, elas se aconchegaram na cama e nos corpos uma da outra, praticamente afundando no mar de lençóis e almofadas com o aroma agradável que Andrea conhecia tão bem.

"Por que você disse que não podemos fazer sexo?" Perguntou Miranda, como se tivesse sido atingida de repente.

"Usamos a última camisinha ontem, mas sei que podemos fazer outras milhares de coisas com as mãos, a boca, os pés..."

"Não acabou, minha gaveta tem várias. Como assim os pés?!"

"Eu sei, mas eu não uso aquela marca, não cabe muito bem."

"Não cabe muito bem." Repetiu, fazendo uma voz mais fina. "Certo, não precisa exagerar. Eu aposto que consigo colocar no meu pé."

"Eu acredito que você consiga, mas você teria que esticar, e camisinhas não foram feitas para serem esticadas, precisam ficar confortáveis. Eu poderia até usar, mas me sentiria apertada, não seria tão prazeroso e poderia rasgar, então teríamos um presentinho em nove meses. É o que você quer? Um presentinho?"

"Não." Revirou os olhos, odiando ser vencida pela argumentação.

"Estou achando que você quer um presentinho meu. Você quer adiantar o nascimento do Jack. Melhor esperar uns três anos. Não, em três anos eu ainda vou estar pobre. Melhor esperar que eu tenha uns trinta anos…"

"Alerta monólogo." Dando as costas para Andrea, respirou fundo e fechou os olhos para dormir.

"... mas então será você quem estará velha."

"Hey! Não estarei velha coisa nenhuma! Feche a boca, Andrea, depois os olhos e vá dormir. Que coisa!"

"Mira?" Depois de um único minuto de silêncio, Andrea a chamou.

"Oi, criança."

"Eu sei que combinamos de aproveitar cada momento, mas… eu tentei falar com você quando você acordou outro dia, parece que eu nunca encontro momentos bons para falar sobre isso, enfim... não deixo de pensar em como vamos fazer quando eu tiver que ir. Você sabe, como vamos fazer quando for a hora de nos despedirmos?"

"Eu não quero me despedir."

"Eu sei. Eu também não, mas… semana que vem é inevitável. Eu posso simplesmente ir embora para não ter que dizer adeus ou…"

"Você fica aqui no fim de semana como tem ficado. Durante a semana aproveitamos cada tempo livre que eu tiver do trabalho, na quinta eu vou te levar ao aeroporto. E mesmo que doa, quero ver você partir, porque quero aproveitar até o último segundo com você. O que você acha disso?"

Miranda rolou para trás, abraçando a cintura de Andrea e tomando sua boca em um beijo apaixonadamente intenso. As respirações profundas e o farfalhar dos lençóis era o único som do quarto, antes que elas separassem seus lábios, acalmassem seus corpos e ficassem apenas olhando uma para outra, o brilho de cada íris refletida no olhar da outra.

"Posso te fazer uma pergunta?" Andrea disse baixo, enquanto os dedos de Miranda passeavam carinhosamente pela raiz de seu cabelo. "Você tem passado tanto tempo comigo, isso quer dizer que você e aquele homem não estão mais juntos?"

O corpo de Miranda retesou instantaneamente, as maçãs de seu rosto ganharam um tom corado e os olhos cresceram em um constrangimento quase palpável. Andrea ficou tão assustada com a tensão de Miranda, que arrependeu-se imediatamente de ter feito tal pergunta.

"Desculpe-me se fui invasiva, boa noite, Mira." A jovem virou-se de costas, apertando os olhos com força.

Não faria diferença alguma saber, pensou Andrea, iria embora em breve, não é como se Miranda e ela pudessem ter um futuro. Então por que ela estava ficando tão nervosa com o fim iminente? Por que aquela pergunta simplesmente escapou de sua boca?

Ela sequer percebeu que mordia o punho até sentir, segundos depois, os braços de Miranda a envolver e aquela respiração morna tão satisfatória e calmante tocar suas costas.

"Ainda estou com David, mas é muito complicado. Sei como isso deve soar, mas… o que tenho feito com ele não foi correto e sei que ele não merece isso, pretendo fazer a coisa certa. Não gostaria de arrastar você para o meio disso, muito menos acho correto falar sobre ele com você. Quando eu resolver toda essa situação, eu prometo que vamos conversar com calma, principalmente sobre nós duas. Tudo bem?"

"Entendo. De qualquer forma, desculpe por perguntar, sei que sua vida não me diz respeito." Andrea disse tristemente, fechando os olhos para dormir. Miranda também não comentou mais nada, apenas suspirou amargamente e esperou que o sono desse fim àquela noite.

°°☉°°

A questão da rotina é que quando você é arrastado para dentro dela, você não percebe imediatamente. Somente quando lidamos com a surpresa daquilo que falta, do que está diferente ou indisponível, é que percebemos o quão confortável estávamos com algo.

Então, quando Miranda chegou em casa naquela terça-feira, era só mais um dia de trabalho que chegava ao fim. Mas ela tinha quase certeza de que encontraria Andrea na sala, tal como no dia anterior.

Acontece que a TV estava desligada e a sala submersa em total escuridão. Olhou em seu estúdio, e também não a encontrou, por fim, verificou em seu quarto.

Foi então que ela teve que lidar com o fato de que estava com a casa totalmente vazia novamente. Ela e o conforto de sua casa silenciosa. Apenas o doce cheiro de Andrea para lembrá-la dos intensos momentos compartilhados.

"Deveria ter ficado, criança!" Penteou o cabelo com os dedos, prendendo em um coque no topo da cabeça enquanto caminhava para o closet. "De alguma forma eu me importo muito com isso." Soprou o ar com força e começou a se despir. "E também falo sozinha quando você não está. Criança mal criada! Deixou-me ensandecida."

Na frente do espelho, apenas de lingerie, Miranda riu de si mesma, achando-se ridícula naquele momento, olhou seu reflexo corado e a marca vermelha no seio deixada por Andrea dois dias atrás. Até podia mentir para a outra e dizer que não gostava, mas para si mesma era impossível. Só não queria tornar aquilo um hábito.

O toque do telefone soou distante e ela saiu a passos rápidos, apenas de calcinha e sutiã, vestindo um robe no caminho. Atendeu rapidamente, na ansiosa esperança de que fosse Andrea.

"Alô?" A voz jovem, doce e calorosa fez seus ombros relaxarem.

"Oi."

"Acertei o horário! Legal! Como foi o trabalho?"

"O de sempre, minha chefe é enfadonha e só sabe embromar, isso significa mais trabalho para mim. Ainda bem que gosto do que faço."

Deitando no sofá, Miranda cruzou os tornozelos e fechou o robe com a mão livre.

"Eu sinto muito."

"Tudo bem, eu tenho meus próprios planos, isso não vai durar muito tempo. E você? O que tem feito?"

"Nada demais. Eu tinha umas coisas para resolver sobre minha viagem de volta, nada muito divertido."

"Sabe que poderia ter ficado, certo?"

"Já te incomodei demais e precisava das minhas próprias roupas, embora as suas cheirem muito melhor."

"Você não incomoda, mesmo quando se esforça para me irritar, pode ficar o quanto quiser, pode até trazer suas coisas se preferir."

"Uh, sério? Quero dizer, melhor não, vou fazer muita bagunça na sua casa. Você não tem ideia de como meu quarto fica."

"Vê como eu preciso te educar?" Elas riram juntas e ficaram alguns segundos em silêncio. "Andrea, você não está  chateada comigo ou algo semelhante, certo? Quando você vai voltar?"

"Não… não estou chateada, Mira. Achei que talvez você estivesse… Bom, não importa. Acho que sexta posso voltar a dormir aí, o que acha? Você disse que seria minha no fim de semana, lembra?"

"Claro, eu cumpro minhas promessas. Talvez eu tenha um compromisso sexta à noite, eu posso te ligar se terminar cedo, mas ainda tenho meu fim de semana reservado para você."

"Tudo bem. Almoço amanhã?"

"Amanhã só tenho vinte minutos, vou ter uma reunião às doze e meia. Que tal jantar?"

"Jantar está ótimo, Mira."

"Combinado, você escolhe o lugar e me aguarda na recepção!"

"Quanta responsabilidade em minhas mãos."

°°☉°°

No fim das contas, elas se viram todos os dias naquela semana. Jantaram na quarta e almoçaram na quinta. Na sexta-feira, Andrea até tentou ligar para Miranda como normalmente fazia no início de todas as noites, mas desta vez, deparou-se com um bip constante do telefone.

Ao cair da noite, Miranda calçou seus louboutins pretos e vestiu uma blusa de renda branca por dentro da saia lápis escura. O cabelo foi repartido de lado e preso na altura da nuca, com mechas mais curtas escapando do elástico.

O toque da campainha chamou sua atenção e o estranho incômodo no seu estômago ganhou força. Engoliu em seco, antes de respirar fundo e erguer a cabeça, vestindo sua armadura de batalha.

Saiu do quarto e caminhou a passos confiantes pelo corredor. Ao abrir a porta, ela viu um grande e volumoso buquê de rosas vermelhas. Tão robusto, que escondia a pessoa atrás dele.

"Estava quase achando que chegaria atrasado." Arqueou uma sobrancelha e inclinou os lábios franzidos quando as mãos desceram ligeiramente o buquê e revelaram quem estava por trás. "Olá, David."

°°°°°°°°

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