/Jungkook/
Caminhei por toda a extensão daquele lugar vendo as flores tão coloridas distorcendo do ambiente triste. O sol brilhava fortemente parecendo zombar de mim. Aquele lugar tinha sido a minha casa durante os dois últimos anos e eu não podia dizer que sentia falta da minha vida antiga.
Até por que eu não sentia.
Nada fazia sentido.
Eu carregava dentro de mim uma angustia que não tinha fim. Não tinha mais esperanças e meus lábios não sabiam mais o que era um sorriso pelo simples fato de eu não querer mais sorrir.
Eu merecia isso, de fato.
Afinal a culpa era toda minha.
Suspirei chegando ao meu destino de todos os dias. Eu vestia uma roupa completamente preta, nada muito diferente do meu normal e em minha mão havia apenas um girassol. Era a sua flor favorita.
Eu ouvia diariamente as notícias sobre as pessoas que um dia já foram meus amigos e era sempre a mesma coisa. Não havia nada de novo naqueles últimos anos. A não ser o fato de que eu não via ou falava com os meninos do grupo e nem com as meninas do Blackpink durante esses dois anos.
O motivo? Bem, não havia mais o que falar com nenhum deles, embora eu soubesse que cada um estivesse sentindo da sua maneira. Tudo tinha mudado tão de repente que chegava a fazer sentido aquela maldita frase.
"Você só dá valor aos momentos que passou com alguém quando esse alguém já não está mais aqui"
E foi exatamente o que aconteceu com eles, com elas e comigo.
Desde o dia em que perdemos Lisa e Yumi.
"Nós não conseguimos salvá-las – a frase da médica ecoou na minha cabeça em uma lembrança amarga daquele dia – Fizemos de tudo, mas houve morte cerebral da mãe e o feto estava morto antes de retirarmos".
Naquele momento, depois de ouvir aquela frase, eu senti algo que nunca havia sentido na vida. Um sentimento que me corroía como se eu tivesse acabado de beber algum tipo de ácido fazendo-me morrer por dentro. Eu sentia meu corpo queimar, minha cabeça doer, meus olhos inundarem e meu coração se esfarelar dentro do peito.
Perdi as duas pessoas mais importantes da minha vida em uma única noite.
A noite que deveria ser uma das mais felizes das nossas vida.
Assim que recebemos a notícia da morte de Lisa e de Yumi – que nunca chegamos a conhecer – eu só pude ter uma única reação. Tive um acesso de raiva. Gritei, chorei, quase agredi um médico, mas nada daquilo resolveria ou traria a minha família de volta.
E a culpa era toda minha.
Enquanto a Rosé acabou desmaiando com a notícia, Jennie, Jisoo e Jimin tentavam acudi-la, chorando também.
Para mim, parecia que tudo estava em câmera lenta. Eu conseguia ver um filme na minha cabeça de todos os momentos que vivi com ela. Os bons, como a nossa primeira vez, nosso primeiro beijo, primeiro encontro, shows um do outro que acompanhávamos, o dia em que pedi Lisa em casamento e é claro, o dia em que ela me contou que estava grávida da nossa pequena Yumi.
Yumi.
Eu nem tive a oportunidade conhecer a minha bonequinha.
Tinha montado um quarto digno de uma princesa para recebê-la com todo o meu amor, mas esse momento foi roubado de mim. Tinha acompanhado Lisa em todas as consultas para garantir que elas estivessem bem e mesmo assim, nada tinha sido suficiente.
E a culpa era toda minha.
Os momentos ruins também passavam na minha cabeça. Como quando Lisa terminou comigo, nossas discussões, quando eu pensei que ela e o Hoseok estavam tendo algo e quando eu vi o Jackson e ela chegando no hotel.
Eu tinha ciúmes. Não negava isso a ninguém, mas eu podia ter me controlado, afinal naquele momento nós não estávamos juntos. Eu podia ter evitado todas as brigas, podia ter evitado as palavras ruins que disse a ela, mas preferi deixar o ciúme tomar conta de mim e agora eu não tinha mais Lisa comigo.
Eu sentia falta daqueles momentos, sentia falta de tê-la ali comigo.
Depois daquele dia, os pais de Lisa ficaram completamente desolados, afinal ela era filha única. Quando abracei a mãe dela, senti meu coração se quebrar. Era muita dor para eles suportarem sozinhos e mesmo que houvesse muita gente ali compartilhando da mesma dor, parecia que aquele sentimento só ia aumentando.
Lisa e Yumi se foram.
Meses depois, muita coisa mudou, não só nas nossas vidas, mas como no kpop inteiro. No dia seguinte ao baile, os canais de mídia noticiavam a tragédia que o baile tinha sido.
Em todo lugar que eu ia haviam centenas de jornais, tevês e rádios falando sobre o assunto e tudo só piorou quando dias depois um dos jornais noticiou a morte de um blink.
Um suicídio.
Assim que vi aquela reportagem, achei que nada me magoaria ou me entristeceria mais que saber o quanto os blinks estavam sofrendo com a perda da Lisa.
Parecia um evento em cadeia. Um efeito dominó, onde o meu mundo ruía a cada notícia do que acontecia com alguns fãs ao redor do mundo. E o hate também não parava. Haviam armys e blinks fazendo mutirões dizendo que tudo aquilo era culpa minha ou que agora eu poderia ficar livre dela.
Saber daquilo, ouvir aquilo só me fazia sucumbir mais a tristeza até por que eles tinham razão.
A culpa era minha mesmo.
As vendas do BLACKPINK dispararam e todas as músicas do grupo foram para o topo e se manteram firmes por meses. A YG – mesmo não tendo mais o grupo dentro da empresa – estava lucrando bastante pelo fato de deterem todos os direitos de imagem e de todas as músicas. Eles enchiam o bolso de dinheiro e nem ao menos expressaram suas condolências para o que tinha acontecido com a Lisa e a Yumi.
Já Jennie, Jisoo e Rosé tomaram uma decisão que mudaria completamente o rumo de suas vidas e carreiras.
Elas resolveram fazer um show importante e todos estavam contando com a presença delas – achando que por algum motivo haveria um comeback –, mas não houve show. Elas simplesmente subiram no palco e anunciaram.
Me lembro até hoje das palavras da Jennie.
"Como todos vocês sabem, a nossa maknae não está mais entre nós – Jennie suspirou juntando forças de não sei aonde voltando a falar – Sei que muitos de vocês estão esperando um show, mas não vai acontecer e o motivo é bem simples – ela suspirou outra vez com a voz embargada – Não somos o Blackpink sem a Lisa, portanto apenas viemos aqui anunciar que estamos dando disband oficialmente. Não iremos para outra empresa e muito menos seguiremos no meio musical – A voz dela falhou um pouco e Jennie olhou para cima contendo as lágrimas – Nós sentimos muito, blinks e agradecemos todo o apoio e todo o tempo que dedicaram a gente, mas a partir de hoje, o Blackpink não existe mais – Jennie abaixou a cabeça chorando, abraçou Rosé e Jisoo e saíram do palco"
Além disso, as meninas resolveram terminar com os meninos também e hoje eles não se falam mais.
Todos estavam sofrendo, mas seria difícil superar tudo o que aconteceu.
Eu anunciei a minha saída do BTS e sumi no mapa procurando trabalhar em qualquer outra coisa que não fosse música. Não fiz questão de olhar a internet e saber a opinião de ninguém até por que nada daquilo me faria mudar de ideia. Eu não sabia o que cada um dos meninos estava fazendo hoje, não depois de dois anos sem falar com eles. Sabia de algumas notícias soltas pelo simples fato dos meus pais que avisavam quando saiam notícias.
O kpop inteiro também mudou. Muitos casais se separaram, mas outros seguiram firmes e por incrível que pareça os fãs começaram a aceitar já que a perda da Lisa fez todos ficarem sensíveis.
Bando de hipócritas.
Bambam e Sorn continuavam juntos por um tempo, mas depois que o Got7 deu disband ele largou a carreira definitivamente e voltou para Tailândia.
Não tive notícias da Sorn, mas esperava que ela estivesse bem, já que o próprio Bambam não estava. Fiquei sabendo pela mãe da Lisa que ainda mantinha contato comigo que ele tinha entrado em depressão.
Em algum dos meus momentos em que peguei um jornal para ler, vi uma notícia de que ele tinha sido internado por ter abusado do álcool. Fiquei triste por isso e finalmente entendi que ele se sentia como eu.
Ele de certa forma se culpava por não ter conseguido ajudar a Lisa.
E quanto a mim? O que estou fazendo agora?
Bem, eu passava os meus dias ali, naquele cemitério. Fizesse frio, fizesse sol, chovesse e até se nevasse. Lisa era a minha única companhia. Na verdade, o túmulo dela era quem me acompanhava.
Queria ter feito mais por ela.
Ter amado mais, cuidado mais e ter acreditado mais. Deixei toda a minha raiva por ela ter terminado comigo ultrapassar todos os limites e não percebi que o que ela tinha feito era por minha causa. Apenas para me proteger.
Queria ter mais tempo.
Para poder dizer a ela que eu a amaria de qualquer jeito, de qualquer modo e apesar de qualquer circunstância.
Devia ter lutado por ela.
Pois ela tinha lutado por mim com todas as suas forças. Lisa tinha sido uma guerreira indomável e eu havia sido um cavaleiro covarde que não teve a capacidade de lutar por ela, de estar ao lado dela e de protegê-la de todos que queriam seu mal.
E hoje eu só podia fazer uma coisa.
Só o que me restava era ficar sentado ao lado da lápide da minha Lis e esperar a minha vez chegar.
E eu torcia com todo o meu coração para que a minha vez chegasse logo. E assim eu pudesse me juntar a ela e finalmente ser feliz novamente.
Do lado de quem eu amo e sempre amarei por toda a minha vida.