Fazem dois meses que minha irmã está desaparecida, fazem quase dois meses que estou vivendo no Castelo, e faz mais de um mês que me apaixonei perdidamente por Joseph Miland.
Perder minha irmã de novo está sendo mais doloroso do que imaginei. Nas primeiras semanas meu mundo estava sem estrutura e foi então que esbarrei com Joseph na entrada da biblioteca, se não fosse por suas mãos rápidas eu teria caído ali mesmo.
"- Parece te salvei. - diz o homem com os olhos azuis mais profundos que já vi em minha vida. Me afasto de suas mãos e passo as minhas pela saia do vestido preto que estou usando em um ato de puro nervosismo.
- Obrigada senhor...?
- Joseph... - seus olhos encaram os meus. - Joseph Miland. - Ah, então é ele o irmão do Jackson. Não me lembrava de seus traços do dia da Eleição, mas ele é um do qual o rosto não esquecerei.
- Sou Helena Schaefer, Alteza. - me abaixo para fazer uma reverência mas sua mão evolve a minha me impedindo de terminar.
- Não precisa fazer isso, Helena. - ele olha para nossas mãos e um adorável tom rosado toma conta de suas bochechas, mas logo em seguida ele me solta rapidamente. - Eu preciso ir, nos vemos em breve. - antes que eu diga algo ele curva a cabeça e sai."
Desde desse dia seus olhos ficaram aparecendo em meus pensamentos. Nós nos víamos em todas as refeições, mas eu tinha vergonha de ir até ele e parecia que era um sentimento mútuo. E foi assim durante dias e mais dias, até que ele tomou a iniciativa de me convidar para dar uma volta no jardim.
Foi extremamente agradável, cheio de risadas, cantadas nas entre linhas, piadas e bochechas rosadas, na maioria das vezes eram as minhas. Com o decorrer dos dias nossos passeios se tornaram um compromisso diário e pontualmente marcado para as duas e meia da tarde. Nos dias chuvosos caminhávamos dentro do castelo, mas em quase todas as vezes íamos assistir algum filme na sala de cinema.
Sem que eu me desse conta meu coração se entregou ao dele, e pude ver em seus olhos e gestos que o dele também era meu. E foi em um de nossos encontros que tivemos certeza de que estávamos loucamente apaixonados um pelo outro.
" - Me sinto eu mesmo estando perto de você Helena, sinto como se tudo pudesse entrar no eixo com apenas um sorriso seu. - disse brincando com uma mexa de meu cabelo alaranjado. Estamos no seu jardim, no qual ele me trouxe em nosso sexto encontro. Estou sentada na grama com as costas apoiadas no tronco de uma árvore, os joelhos separados e com ele deitado entre minhas pernas de costas para mim. - Você é a calmaria em meio aos meus tormentos.
- Já você, Joseph, é a agitação em meio a calmaria. - passo os dedos por seus cabelos macios. - Você me fez descobrir que... - suspiro com um pequeno sorriso. - o amor realmente existe.
- Durante toda a minha vida acreditei firmemente que amor não existia, mas desde aquele dia em que nos esbarramos na biblioteca minhas crenças foram questionadas. - ele se afasta e se vira para mim. - Helena você me ensinou o que é amar, e eu me sinto orgulho em dizer que eu amo você. - ele pega minha mão e beija a palma dela.
- Eu amo você Joseph. - ele se aproxima e deixa um demorado beijo em meus lábios, e então me abraça, mas sinto algo estranho nisso. Não é um abraço como os anteriores e sim como se fosse uma despedida, como se me dissesse um adeus em silêncio, aperto mais meus braços ao seu redor."
Desde aquele dia meus pensamentos e batidas de coração se tornaram dele, cada risada e suspiros foram dedicados a ele. O homem que me abraçou quando chorei por minha irmã e me garantiu de que ela estava bem e ficaria assim até o dia que retornará para nós. O homem que me ama como sou e que o amo como ele é.
Joseph me contou sobre seu relacionamento com Allice, não fui capaz de sentir ciúmes nem nada. Conheço minha irmã e sei que se ela escolheu por Jackson significa que seu amor é totalmente dele e não há razões para que seus antigos sentimentos por Joseph venham a perturbar os meus atuais sentimentos por ele.
Confio e acredito quando ele diz que ficou no passado, e que seus sentimentos por mim é algo que nunca sentiu antes. Joseph teve uma vida, assim como eu tem um passado. Desde que isso não interfira em nosso futuro não há razões lógicas para se tornarem motivos de brigas entre a gente. Sem segredos, foi nosso acordo. Então estamos a par de tudo um sobre o outro.
"- Vem quero te dar uma coisa. - diz sorrindo e me puxando pela mão me fazendo correr junto com ele.
- Nessa velocidade eu vou acabar caindo! - rio enquanto me esforço para acompanhar seu ritmo.
- Estamos quase chegando. - subimos algumas escadas e viramos alguns corredores, até paramos em frente a porta do seu quarto. - Espere aqui preciso pegar algo antes. - confirmo com a cabeça e paro ao lado de sua porta.
Prefiro esperar sempre aqui fora quando precisamos vir até ser quarto, decidi que não quero ter relações antes do casamento, e esse foi o maior problema em meu relacionamento anterior. Tive medo de que Joseph fosse pensar da mesma forma que meu antigo parceiro, mas para minha surpresa ele aceitou e entendeu me dizendo que uma relação não é feita a base de sexo, e sim de amor, compreensão e confiança. Então me assegurou de que será como eu achar melhor e quando eu achar melhor.
- Prontinho, agora meu doce anjo, preciso vendar você. - ele me mostra um pano preto e se posiciona atrás de mim.
- Mas como eu vou caminhar sem cair? - pergunto ajeitando o cabelo para ser mais fácil para ele prender o tecido.
- Você não vai. - em questão de segundos ele me tira do chão me pegando em seus braços. - Eu caminharei por você.
- Ah... - o movimento me assusta, mas logo passo um braço por seu ombro e deixo a outra mão repousando em seu peito. - Aonde iremos?
- Em alguns minutos você verá. - em pouco tempo ele para de caminhar e me coloca sobre meus próprios pés. - Não tire a venda ainda.
Ouço uma porta ser aberta e logo sou guiada para dentro, sinto suas mãos em meu cabelos soltando a faixa preta, revelando um cômodo ao qual nunca estive. Cheio de tintas, telas e pincéis. No centro a um quadro, meu e dele. Um pintura do dia em que nós declaramos nosso amor. Estou sentada na grama apoiando o queixo em uma das mãos e Joseph deitado em minhas pernas brincando com meu cabelo. É tão realista que parece uma visão do passado.
- Ual... - me aproximo da tela, minhas feições e as dele são genuínas.
- Você gostou? - o olho e vejo que aperta as mãos em um ato nervoso. - Não sou o melhor artista mas eu quis registrar um dos momentos mais importantes para mim...
- Eu amei. - silêncio ele com um delicado beijo. - Na verdade você é o melhor artista que eu já vi. - analiso o quadro mais de perto, passando os dedos pela tinta já seca.
- Eu já lhe disse o quanto és bela, Helena? - sorrio ao lembrar das centenas de vezes que o ouvi me elogiar. - Seu nome é mais que perfeito para você, "reluzente". - Seus braços se prendem e ele me abraça por trás, deixando um beijo em minha bochecha.
- Você já disse sim, mas eu não me importo de ouvir novamente. - me viro para ele olhando em seus olhos azuis.
- Eu amo seus cabelos que parecem uma cachoeira de fogo, amo seus olhos que me lembram a natureza e sua liberdade, amo sua boca vermelha e os beijos que ela possui são meu paraíso particular. - sua mão se encaixa na lateral do meu rosto. - Amo a incerteza de olhar em seus olhos e não saber se estou prestes a me perder ou se irei me encontrar.
- Já eu amo o fato de seu olhar me dar a certeza de que não importa o que eu esteja passando, minha solução está em algum canto de seus olhos azuis. - ele acaricia meu rosto com o polegar."
Joseph é a agitação que eu precisava no meio da minha calmaria e rotina. Ele me dá a dúvida de como será o dia de amanhã, do que iremos fazer. Estranhamente eu me sinto protegida em seus braços, sinto que se o mundo desabasse, ali em meio ao seu calor eu ficaria completamente salva. Pendurei seu quadro em frente a minha cama, para vê-lo sempre que acordar.
" - Eu gosto deste lugar. - comento sentindo a areia fofa sob meus pés. Joseph me convidou para vir a praia com ele, assistimos o por do Sol e agora estamos caminhando com a brisa soprando em nossos corpos.
- Me trás paz. - tiro um fio de cabelo dos lábios, depois entrelaço nossas mãos, sentindo o mesmo arrepio percorrer meu corpo toda vez que nossas peles se encostam mesmo que seja por milésimos de segundos. - Preciso conversar com você, Helena. - ele para de caminhar e eu fico de frente para ele.
- Pode dizer. - vejo sua respiração se tornar mais profunda.
- Eu fiz... coisas, no passado. Não me orgulho mais delas, mas mesmo assim eu as fiz. - ele olha pra o mar antes de continuar. - Em breve você vai descobrir exatamente o que é, mas preciso que saiba de uma coisa.
- O que você está tentando dizer Joseph?
- Apesar de tudo o que eu fiz e terei que fazer para por um fim nisso, eu te amo Helena. - suas mãos se deslocam para meu rosto. - E por causa desse amor não posso ser egoísta com você. - encosta sua testa na minha, estou sem entender o que ele diz mas sinto que há angustia em sua voz.
- Vai ficar tudo bem. - solto meus sapatos na areia e coloco minhas mãos sobre as suas.
- Espero que sim, realmente espero que sim."
Depois daquele dia vi Joseph com menos frequência, mas sempre que estávamos juntos ele parecia em guerra com seus próprios pensamentos. Nossa relação não mudou, apenas foi se fortalecendo cada dia mais, até que ele veio se despedir.
" - Eu vim te dar tchau. - disse parado em frente a mim, na porta de meu quarto temporário.
- O que? - checo as horas no relógio de parede e já se passa das uma da madrugada.
- Estou saindo em uma viagem para resolver alguns assuntos importantes. - ele coloca as mãos nos bolsos e eu aberto mais o roupão de seda vermelha. - Não sei quando voltarei, mas serei o mais rápido que eu puder.
- Para onde você vai? Talvez eu possa ir com você. - não quero ficar longe dele por sabe se lá quanto tempo.
- Para um lugar bem longe, eu adoraria ter sua companhia mas infelizmente dessa vez preciso ir sozinho. - ele se aproxima e pega minha mão. - Helena me escute, eu preciso te dizer algo.
- Melhor você entrar... - digo olhando para um guarda que parece bem interessado em nossa conversa. Ele entra e eu fecho a porta.
- Eu quero que seja minha esposa. - o que!?
- O que? - isso... ele... estou sendo pedida em casamento!?
- Depois que eu voltar da viagem, quero que seja minha esposa. - ele retira do bolso uma caixinha preta de veludo e a abre revelando um fino e delicado anel de noivado com pequenos diamantes brancos ao lado de um diamante vermelho. - Você aceita se casar comigo?
- Meu Deus é claro que sim! - vejo seu sorriso iluminado pela fraca luz da lua que entra pela sacada aberta. Ele coloca o anel em meu anelar e o beija, logo em seguida me abraça me fazendo rodopiar e dar risada.
- Eu te amo Helena Schaefer. - diz me colocando no chão mas sem me soltar.
- Eu te amo Joseph Miland. - passo meus braços por seu pescoço e ele se inclina para me beijar, lento, quente, e apaixonante."
Hoje faz dois dias que eu descobri sua liderança no grupo terrorista dos Lobos. E tudo o que consigo sentir é medo. Medo do que vai acontecer com ele, com minha irmã, com o futuro que planejamos. Naquele mesmo dia Jackson saiu em uma viagem de urgência com o General e algumas equipes de soldados.
Quando chegaram lá perceberam que o lugar estava vazio, e não havia nenhum sinal de que Joseph tivesse sequer passado por lá. Parece que foi apenas uma estratégia para que pudesse ganhar tempo e se afastar sem que fosse notado, um ótimo plano. Deixou o Castelo vulnerável para fazer um ataque se quiser, mas até agora nada aconteceu. Talvez ele queria algo mais discreto e fatal, como eliminar a raiz de seus problemas, os atuais Reis e seu herdeiro, para então restar apenas ele como escolha.
Mesmo com tudo isso não sou capaz de enterrar e sufocar meu amor por ele, nosso quadro é a lembrança de que o que vivemos foi real. Nossa curta, porém profunda história foi real.
Começo a me lembrar de nossas "primeiras vezes", a primeira vez que ele provou uma coxinha de frango e detestou o fato de ser gordurosa, ou a primeira vez que dançou comigo na chuva. Nosso primeiro beijo, e o nosso último. Uma batida na porta me desperta dos devaneios e eu vou até ela.
- Uma carta para a senhorita. - um rapaz vestido todo de cinza escuro me entrega um envelope preto e sai apressado sem me dar tempo de perguntar nada. Olho para o papel e fecho a porta, sento na cama e rasgo o lacre.
"Oi meu amor, como você está?
Já estou com saudades, mas minha volta está perto. Espero conseguir resolver tudo dentro de uma semana. Acredito que já saiba minha verdadeira identidade, meus olheiros informaram que meu irmão esteve na antiga cachoeira.
Me perdoe por tê-la enganado. Mas eu não podia por você em risco, te deixar no "escuro" em relação a isso foi o mais seguro a se fazer. Poderiam te acusar de trabalhar comigo e isso seria o fim para qualquer objetivo e sonho que você tem. Espero que um dia possa me perdoar.
Eu adoraria lhe dar alguma certeza de qualquer coisa, mas nem a de que eu voltarei para você com vida posso lhe dar agora. A única coisa que posso dizer com toda certeza é que estou procurando formas de concertar meus erros Helena, quero achar a solução desse problema para que possamos viver felizes em um castelo com vista para o mar e com um jardim de tulipas coloridas que tanto lhe agrada.
Sempre que sentir minha falta vá até nosso jardim secreto e se lembre de nossos momentos juntos, exatamente como eu faço a cada cinco minutos.
Você me mudou Helena, sem perceber e aos poucos fui me transformando em alguém melhor. Alguém que quer ser melhor, por você. Não me sinto bom o suficiente para você fazendo o que faço, sendo quem sou. Em você achei a minha redenção, em você achei a minha salvação. Me senti amado e pude então ver o mundo com clareza.
Sabia que dizem que mares com águas verdes são mais rasos? Acho que isso só se aplica para as águas mesmo, pois meu me afoguei nas profundezas de seus olhos verdes, e quero me afogar neles a cada dia mais. Mas para isso preciso me livrar de todo o meu passado, preciso me reconciliar com nosso presente e futuro, preciso ser bom o suficiente para ter o direito de estar sob seu olhar novamente.
Quanto a sua irmã, fique tranquila eu a deixarei livre para que possam tê-la de volta. Saiba que enquanto ela esteve comigo não fora machucada, a tratei como uma hóspede, mas chegou o fim de sua estadia. Ela voltará para você assim como eu pretendo fazer um dia, seja nessa vida ou em outra.
Você foi meu primeiro amor, e garanto a você que será o único. Espero que encontre uma forma de me perdoar, te amo com todo o meu coração.
Eternamente seu, Joseph Miland."
Termino a leitura com lágrimas nos olhos. Aos poucos elas começam a rolar sem parar, preciso do abraço dele para me acalmar. Preciso disso tanto quanto respirar, preciso dele para continuar vivendo. Prendo o papel contra o peito, e encaro o nosso quadro com uma angustia que ameaça tomar conta de todo o meu ser.
Não sabe se voltará com vida? Isso não deveria nem ser uma dúvida, ele precisa voltar vivo. Preciso resolver essa situação, não posso deixar nas mãos do destino o meu próprio futuro. Dobro a carta e a guardo no envelope tratando de guarda-la em um lugar seguro, é o meu bem precioso agora. Seco o rosto e saio correndo a procura de Jackson.
Posso soar como uma louca egoísta, cega por essa paixão que estou sentindo. Mas de alguma forma eu tenho certeza de que Joseph e eu fomos destinados um ao outro. Talvez eu esteja dando mais razão ao meu lado emotivo agora, mas sei que se não fizer isso vou me arrepender seriamente no futuro. E tenho total certeza de que minha irmã irá me entender, da mesma forma que ela ama Jackson, eu amo Joseph.
Eu irei achar uma forma de te ajudar, de nos ajudar.
Eu irei encontrar você Joseph. Eu preciso encontrar você.
Oiiii duas vezes em um dia?
Um capítulo totalmente narrado por nossa Heleninha... O que acharam?
Então Joseph merece redenção ou não?
Beijos! Até o Próximo Capitulo!
Não esqueçam da Estrelinha!
Sindy B.