Thanks, Kal

Av Alelubets

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*CONCLUÍDA* Amber, executiva do Vale do Silício, deixa o paraíso da tecnologia na Califórnia para abrir seu c... Mer

Capítulo 1 - Good vibes
Capítulo 2 - Brincando com fogo
Capítulo 3 - Amigos?
Capítulo 4 - Pleasure delayer
Capítulo 5 - Homem de aço
Capítulo 6 - Knights of Honor
Capítulo 7 - Bendito sorvete
Capítulo 8 - Such a tease (18+)
Capítulo 9 - Tantas perguntas...
Capítulo 10 - Diante do espelho (18+)
Capítulo 11 - Como uma rainha
Capítulo 12 - Feito com carinho
Capítulo 13 - Tiramisù (18+)
Capítulo 14 - Outro nível
Capítulo 15 - Damas primeiro (18+)
Capítulo 16 - The one
Capítulo 17 - Press tour
Capítulo 18 - Algo novo (18+)
Capítulo 19 - Nosso lugar
Capítulo 20 - Red carpet
Capítulo 21 - Ficção x realidade
Capítulo 22 - Precisamos conversar
Capítulo 23 - Coração Gelado
Capítulo 24 - Paris (+18)
Capítulo 25 - Compromissos
Capítulo 26 - Meu calcanhar de Aquiles
Capítulo 27 - Surpresa!
Capítulo 28 - Mykonos (parte 1)
Capítulo 29 - Mykonos (parte 2)
Capítulo 30 - Café, trabalho e Jimmy Kimmel
Capítulo 31 - #tbt
Capítulo 32 - Contra o tempo
Capítulo 33 - Seguindo em frente
Capítulo 34 - Café, pizza e rock'n'roll
Capítulo 35 - Quem é esse cara?
Capítulo 37 - Ele me beijou
Capítulo 38 - Assumindo riscos
Capítulo 39 - O que nós somos agora?
Capítulo 40 - This is us
Capítulo 41 - Perigosamente melhor
Capítulo 42 - Vinho, fogo e Al Green
Capítulo 43 - Fish and chips
Capítulo 44 - Segunda temporada
Depoimentos TK

Capítulo 36 - Se beber, não beije

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Av Alelubets

Amber

Eu sabia que aquela cara de poucos amigos tinha a ver com a visita de Gabriel. Ao vê-lo saindo, Henry me olhou como se esperasse uma explicação, um motivo razoável para ter um desconhecido saindo da minha casa. Mesmo prevendo qual seria sua fala, resolvi agir como se não tivesse entendido.

- Vamos entrar? - perguntei, com um sorriso modesto e forçado.

- Obrigado. - respondeu, sério, passando por mim.

- Não sabia que você viria. Quer beber alguma coisa? - perguntei, na tentativa de desfazer aquele clima. Aquela cerimônia era estranha com alguém que era íntimo.

- Acho que deveria ter avisado que vinha.

Fiquei intrigada pelo tom ácido de seu comentário.

- Henry, o que você está tentando dizer?

Seu olhar me penetrava, porém, me mantive firme e o encarei sem sentir obrigação de me explicar.

- Eu quis fazer uma surpresa e acabei sendo surpreendido. - ele comentou e apontou para o lado de fora da casa.

- Toda essa ironia é sobre Gabriel? Henry, ele veio me trazer um material para testar. Vamos disponibilizar uma linha especial de cafés na loja e ele trouxe...

Henry não pareceu estar sendo convencido, se recostando no sofá, enquanto eu falava.

Parei, respirei fundo e prossegui.

- Gabriel é meu funcionário e estava aqui fazendo uma gentileza.

- Eu imagino o quanto ele pode ser gentil. - disse, com sarcasmo.

- Ser ciumento e debochado não combina com você, Henry. Está tirando conclusões e parece não querer me ouvir. - disse, irritada.

Ele riu e com isso fez minha cabeça ferver de raiva.

- Não é isso que você faz? Não importa o quanto eu tente explicar, você sempre prefere acreditar no que não é verdade.

Ele rebateu de forma tão serena e calculada que me pegou desprevenida. Aquilo doeu. Como se ele tivesse planejado há muito tempo dizer aquilo e finalmente estava tendo a oportunidade.

Olhei pela janela, evitando contato visual, na tentativa de engolir o nó que me apertava a garganta.

Eu não podia ser tão molenga!

Respirei fundo novamente, o som do ar entrando e saindo era audível. Pressionei os lábios, porque não queria brigar de novo, mas precisei quebrar o silêncio desconfortável que pesava naquela sala.

- Fui procurá-la no café ontem e não a encontrei. Sabe quem encontrei? Esse Gabriel, o seu funcionário, falando ao telefone com alguém. Elogiando você e dizendo o quanto foi bom te conhecer, que está disposto a tentar. Tentar o quê, Amber? Estou perdendo alguma coisa?

O relato me pegou de surpresa, diferente do que ele parecia pensar. Nunca olhei para Gabriel daquela forma e imaginei que, se fosse verdade, ele poderia ter confundido minha amizade.

- Ele disse isso? Mas... Deve ser algum mal entendido, ele não... - falei.

- Eu sei o que eu ouvi, Ambs. - Henry me interrompeu, com voz calma e segura. - Ele mencionou uma coisa. Vocês fizeram uma viagem juntos e você quer me dizer que não houve nada? - indagou, com olhar de decepção.

- Fomos a um seminário, sim, mas... - desisti de argumentar. - É nisso que você quer acreditar? Olha, eu estava disposta a pedir desculpas, dizer que senti sua falta, que poderíamos ficar bem, mas parece que você veio sem intenção de reconciliação. Eu não sei qual o seu objetivo em ter vindo aqui, Henry. - ele franziu as sobrancelhas. Aparentemente, com remorso pelo que presumiu.

- Quando eu disse que sentia sua falta, você disse que poderíamos conversar pessoalmente, lembra? Eu estava com saudades, mas desde que cheguei aqui, Amber, só tenho me surpreendido com o quanto você curtiu esse tempo que ficamos separados.

- Henry, por favor!

- É melhor eu ir agora. Não acho que vamos chegar a um entendimento. - Ele apoiou as mãos nos joelhos e se levantou.

- Parece que não. - concluí.

O ruído entre nós era enorme. Henry não pareceu, em nenhum momento, estar disposto a dar trégua na discussão desde que ela começou Estava magoado e eu também, pelas mesmas circunstâncias. Não conseguimos ouvir a verdade que o outro falava. Acreditamos mais nas impressões e relatos de outras pessoas do que na nossa palavra. Ele questionou e eu tentei explicar, ainda atônita com a informação sobre Gabriel que acabara de ouvir, mas minha resposta não lhe pareceu honesta o bastante.

Então, Henry acabou indo embora da mesma forma que chegou, acreditando no envolvimento entre Gabriel e eu. O fato dele ter desistido de conversar me deixou furiosa.

Havia a questão de não querer perder minha privacidade, sim. Ficar com Henry implicaria em uma constante e indesejada exposição, porém, pensando com cuidado, nada grave tinha acontecido concretamente até aquele momento. Era só nosso "achismo" misturado com orgulho, no fim das contas. Eu não queria dar o braço a torcer e agora vejo que cometemos o mesmo erro: ficamos cegos de ciúmes e não ouvimos o outro.

Ele estava se comportando da mesma forma que eu e isso me levou a refletir. É o que eu faço, não é? Foi o que Henry disse.

Lembrando de todos os questionamentos que me fiz na volta da viagem com Gabriel, cheguei à conclusão de que estávamos a ponto de nos separar por bobagem. Não éramos tão diferentes. Talvez, se começássemos a confiar de verdade um no outro...

Na manhã seguinte, acordei disposta a amadurecer meus pensamentos e ter uma conversa honesta, que só teria chance de dar certo, depois que ele esfriasse a cabeça. Aquela cara de durão não me enganava. Ele também estava triste.

Aproveitaria aqueles dias de recesso com Henry na cidade para tentar vê-lo novamente. Naquela noite, não seria possível, pois havíamos marcado a confraternização de fim de ano com a equipe da Royal Cups em um pub no centro. Diana, eu, Lucca, Gabriel e nossas colaboradoras marcamos uma noite de música ao vivo e cerveja para encerrar o ano.

Na cafeteria, evitei interagir com Gabriel o dia todo, pois fiquei constrangida com a ideia dele ter se interessado por mim, como Henry relatou. Apesar de ser um cara bonitão e inteligente, olhar de uma forma diferente para Gabriel só complicaria a minha vida. Estava satisfeita apenas com sua amizade.

Trocamos algumas palavras quando ele já estava de saída, dizendo que chegaria um pouco atrasado no encontro da equipe, mas não deixaria de ir.

- Que loucura essa situação! - murmurei já sozinha no meu escritório.

***

Eu e Diana chegamos ao Victoria um pouco depois do horário combinado, pois liberamos os funcionários do turno da tarde e nos responsabilizamos pelo fechamento das duas lojas. Começava a escurecer e o bar estava movimentado com a final de rugby sendo transmitida na tevê. Senti o coração dar um pulo e meu corpo congelar como em um desenho animado, no minuto em que coloquei os pés no local. Henry estava lá com amigos e a confraternização para mim, a partir daquele instante, ficaria comprometida com minha apreensão. O bar era conhecido na cidade por ter música ao vivo à noite, mas também era a escolha de muitos, a qualquer hora do dia, quando fazia exibição de jogos importantes nos telões, principalmente rugby e futebol, abastecendo os torcedores com bastante cerveja.

- Ele está aqui! Não acredito. - resmunguei.

- O que? Ele quem, Amber? - Diana perguntou, olhando para as mesas.

Henry estava sentado no salão à esquerda, que era dividido por um corredor e uma escada que levava ao mezanino. Parte de nossa equipe já tinha chegado e estava em outro ambiente, à direita, onde rolava música ao vivo. Toda sexta-feira, o Victoria tinha shows de bandas de rock clássico e Diana, que era frequentadora assídua com Max, sugeriu o local para nosso encontro.

- Ah, entendi. Ele está olhando para cá. - forçou um sorriso enquanto falava e acenou para Henry, mas me recusei a olhar em sua direção.

- Não vou falar com ele agora, principalmente com tanta gente em volta. - eu disse.

- Você não pode apenas olhar? - ela perguntou.

- Não. Venha, eles estão ali.

Conduzi Diana e acenei para o pessoal na nossa mesa: Lucca com seu namorado Nathan e as meninas. Gabriel, conforme havia avisado, estava um pouco atrasado e era o último do grupo que faltava chegar. A banda fazia os últimos ajustes nos instrumentos e no som para começar o show. Eu poderia ter pedido para trocar de lugar e evitar contato visual com Henry a noite toda, mas aceitei sentar em uma das cadeiras disponíveis, tendo visão parcial de sua mesa no outro salão.

Debruçado sobre a mesa e com os dedos tensos entrelaçados, Henry explodiu lamentando uma jogada ruim do seu time e, em seguida, me pegou olhando para ele como um cervo desconfiado atrás das moitinhas. É, foi assim que me senti. Mas queria parecer uma leoa desdenhando a presença dele. Que droga!

Henry não sorriu. Pelo contrário, sua euforia se dissolveu ao cruzarmos o olhar e ele se aquietou, voltando a prestar atenção ao jogo.

- Você não quis cumprimentá-lo. Ok! Mas vai passar a noite murcha deste jeito? - Diana provocou, observando meu comportamento.

Depois de pedir uma cerveja, me permiti descontrair e por alguns instantes, até esqueci que meu namorado me ignorava solenemente do outro lado. Nathan é um cara muito divertido e foi o meu principal entretenimento, antes da música começar.

A banda deu início ao show e nos convidou para chegar mais perto do palco. O ambiente não era tão espaçoso, fazendo com que fosse uma apresentação super intimista. Pegamos nossos pints e atendemos ao pedido do vocalista. A música escolhida para abrir a noite foi uma das minhas preferidas, You give love a bad name, do Bon Jovi.

Olhei de relance para a mesa de Henry quando saí da pista, na intenção de pedir mais uma cerveja e reparei que o jogo já havia terminado. O salão era uma verdadeira balbúrdia pós-jogo, com homens falando alto e bebendo.

Senti um toque gelado e, por reflexo, tentei evitar o contato até saber de quem vinha.

- Gabriel! - seus dedos compridos ainda repousavam no meu ombro.

- Oi! Te assustei, né? Desculpa. - ele disse.

- Não. Só não vi você chegar.

De repente, me deparei com Henry nos observando com uma cara péssima. Mesmo de longe, pude perceber que respirou fundo. Cheguei a achar que ele sairia da mesa e viria tirar satisfação.

- Onde está todo mundo? A mesa está vazia. - ele perguntou, olhando por cima do grupo de pessoas na pequena pista.

- Estão todos ali na frente do palco. Você bebe alguma coisa? - perguntei, tentando disfarçar meu nervosismo com o aparente descontentamento de Henry ao vê-lo chegar.

- Com certeza. Quer que eu peça para você também? - Gabriel perguntou.

- Por favor. Cerveja! - gritei enquanto ele ia ao balcão.

Talvez depois de beber, eu conseguiria romper o bloqueio para me aproximar de Henry, com seus amigos em volta. Não seria possível ter uma conversa com tranquilidade no meio daquela música alta, mas eu não ignorei nem por um minuto sua presença ali, até quando não estava olhando. Ele não estava tão chateado a ponto de ir embora sem falar comigo, não é?

Fui boba por pensar que ele relevaria a presença de Gabriel comigo ali - e com toda a nossa equipe de trabalho.

Os segundos seguintes de desconforto parecem ter passado em câmera lenta. Em um terrível timing, Gabriel retornou do bar, me entregando um dos copos de cerveja que tinha na mão e Henry estava prestes a passar pelo corredor para ir embora com seu grupo. Eu e Gabriel percebemos claramente sua expressão brava. Foi como se eu tivesse esquecido de respirar. Meu coração batia disparado e eu sentia vontade de chorar.

Que merda! Se Henry tinha uma pulga atrás da orelha com Gabriel, agora devia ter certeza de que algo tinha acontecido durante a viagem e eu era uma mentirosa.

- Vamos para a pista? - Gabriel convidou, ignorando o clima tenso. Foi discreto e não disse nada sobre Henry.

Tratei de me recompor e colocar um sorriso no rosto. Não queria fazer drama em nossa festa e deixei para lamentar o ocorrido mais tarde, no meu travesseiro.

Abrimos caminho em meio às pessoas na pista, retomando meu lugar próximo à Diana. Gabriel cumprimentou a todos e eu puxei minha amiga pelo braço para cochichar em seu ouvido.

- Henry acabou de ir embora. - eu disse.

- Vocês não se falaram? - ela gritou ao som de outra música que era cantada pela maioria a plenos pulmões.

- Não! Depois eu te conto.

Bebemos, dançamos e nos divertimos bastante naquela noite. Foi bom poder reunir nossa equipe de turnos e lojas diferentes, que normalmente não interagiam no dia a dia.

Diana precisou ir para casa mais cedo, seguida pelas meninas, restando apenas Lucca, Nathan, Gabriel e eu até a última música, Won't Get Fooled Again, do The Who. Estávamos levemente bêbados e cantando empolgadíssimos uns para os outros. Assim, pedimos a última cerveja quando a equipe do bar começava a se preparar para fechar e a banda já guardava os instrumentos.

- Acho que deveríamos ir embora, galera. Vamos pedir a conta. - disse Nathan.

- Daqui a pouco começam a apagar as luzes com a gente aqui dentro. - falou Lucca.

- Vamos! Meus pés estão queimando nesse salto. - concordei, dando o último gole na minha bebida.

- Ainda me admira o tempo que você conseguiu passar horas de pé e dançando em cima disso. Fique descalça, mulher. Não vamos contar para ninguém. - Nathan brincou.

- Não, já estamos indo. Eu aguento mais um pouco. - respondi.

Lucca abraçou Nathan no nosso caminho até a porta.

- Eles são tão fofos juntos. - comentei com Gabriel, quando estávamos dois passos atrás deles.

- Eles são ótimos. Fizeram a noite ficar mais divertida. Que bom que você ficou até o final! - Gabriel disse.

- É... precisava distrair um pouco. Não tem ninguém me esperando em casa mesmo. - falei, encolhendo os ombros e com as mãos enfiadas no bolso.

- Amigos, - Lucca olhou para trás quando seu táxi encostou próximo a calçada. - obrigado pela noite. Se cuidem!

- Valeu, gente. Boa noite! - Gabriel acenou, enquanto eles entravam no carro.

Nathan e eu também nos despedimos e acabei ficando sozinha com Gabriel do lado de fora do bar, aguardando um táxi para mim. Como todos nós planejamos beber um pouco mais naquela noite, ninguém foi dirigindo.

- Então... - Gabriel disse.

Resisti em olhar para ele porque a noite já tinha me proporcionado muitos altos e baixos de emoções. Lembrar que poderia ter algum interesse por mim, 2h da manhã, no meio da rua, depois de beber não me parecia uma boa ideia, mesmo que eu quisesse confirmar o que Henry disse.

- Como você está? Parecia preocupada boa parte da noite. - ele continuou.

- Hmm, estou bem. Quero dizer, não é tão simples. - respondi, reticente. - Mas nos divertimos muito no final. É disso que quero lembrar.

- Notei o mal estar naquele dia que saí de sua casa e hoje de novo com... aquele cara. Não sei, é seu ex-namorado, imagino.

- Essa é a questão. Eu não sei bem o que nós somos neste momento.

- Desculpe, Amber, mas eu percebo que você passa o dia se esforçando pra ficar bem, pra sorrir. Não a conheci antes, mas parece que tem algo mais te entristecendo. - contou suas impressões.

- Não sei, Gabriel. Tem horas que penso que eu mesma sou a responsável por inventar problemas. Estou cansada... tão cansada de tentar me adaptar.

Não sei porque comecei a desabafar com Gabriel. Se ele sentisse algo por mim, seria a pior pessoa para compartilhar questões da minha vida pessoal. Tinha me preservado até então, mas aparentemente, o teor alcoólico contribuía para que eu ficasse falante.

- Ele faz você sentir como se você tivesse culpa? - Gabriel perguntou, me levando a lembrar de Henry me dizendo "é isso que você faz", antes de ir embora.

- Não quero mais falar sobre isso. - pedi, segurando a vontade de chorar e fui traída por minha voz trêmula.

- Certo. - Gabriel me olhou, compreensivo.

- Me deixa mais triste. - maldita cerveja!

Eu pedi para não falar, mas continuei mostrando vulnerabilidade. Sei o que você está pensando agora, querida leitora. Mas quem nunca foi inconsequente em uma noite de bebedeira brigada com o ex?

- Amber...

Gabriel se aproximou, desencostando da parede. Meus olhos ardiam como se eu estivesse olhando para o sol do meio dia, tentando me manter firme. Não vou mentir, achei-o especialmente bonito naquela hora e quis saber o que pensava sobre mim só para me alimentar o ego, porém, nem precisei perguntar.

- Eu me importo com você. - ele disse.

Olhei para Gabriel, esforçando-me para parecer surpresa e confusa. Era como se ele tivesse falado em outro idioma e eu não pudesse ter certeza do que aquilo significava. Nossa amizade era tão recente para que ele se apaixonasse! Eu queria que fosse mais claro.

Mas para quê, Amber, se você não podia fazer nada para atender às expectativas?

- Desculpe. Eu realmente me importo. Sei que pode ser inapropriado e fora de hora, nós trabalhamos juntos e... - ele prosseguiu e eu o interrompi.

- O que você está tentando me dizer, Gabriel? - eu ri do seu rodeio com as palavras.

Meus pés estavam me matando àquela altura e não aguentava mais ficar parada sobre as sandálias, compensando o peso do corpo de um lado para o outro a cada minuto. Na possibilidade de ter confundido minha agitação com a aproximação, ele chegou perto e ergueu um pouco meu rosto.

- Isso.

Não é possível que isso esteja prestes a aconte--

Não tinha sentido o perfume de Gabriel até o momento em que seus lábios estavam pressionados nos meus. Eu não tive reação, não evitei e não busquei mais. Só fiquei ali, permitindo que acontecesse. Senti que era errado, mas era como se eu tivesse em um sonho ou um universo paralelo, onde nada daquilo estava acontecendo de verdade.

Enquanto eu julgava a moral de tudo isso, ainda estava com minha boca tocando a dele e com os braços relaxados ao longo do corpo. Não o toquei nem abracei, na intenção de me desvencilhar sem fazer alarde. Contudo, Gabriel aproveitou aquele curto intervalo para investir mais um beijo. Dessa vez, saboreando meu lábio inferior entre os seus e acariciando meu rosto com o polegar. Minha língua quase dormente buscou um contato maior e Gabriel se aprofundou no beijo. Pai amado, ele fazia aquilo tão bem, que meu corpo formigou de forma indevida.

Eu sei, eu sei! Era pra eu sair correndo dali.

Por fim, quando ele me ofereceu um abraço, apesar de considerar um erro, - e tudo aquilo não era? - aceitei.

Fiquei ali em silêncio, de olhos fechados, com o coração a mil e o corpo dele oferecendo afeto e calor ao meu. Percebi como eu estava sendo egoísta e carente. Eu quis descontar a raiva por ter sido ignorada por Henry a noite toda na pessoa errada. Eu não tinha o direito de magoar Gabriel. Não podia deixá-lo pensando que teria chance comigo ou que aquele beijo poderia se repetir.

Graças ao bom Deus, o táxi finalmente chegou. Eu não poderia ficar nem mais um minuto ali, tamanho o constrangimento.

- Me desculpe. Isso não deveria ter acontecido: o beijo, nós dois. - eu disse, antes de entrar no carro.

Fortsett å les

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