OLÍVIA POTTER [5]

By _autorah_

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▻ Depois de um verão tenso, marcado pela cicatrizes do retorno de Lord Voldemort, Olívia Lílian Potter se pre... More

OLÍVIA POTTER E A ORDEM DA FÊNIX
𝙻𝙸𝚅𝚁𝙾 𝙲𝙸𝙽𝙲𝙾
𝙿𝙰𝚁𝚃𝙴 𝚄𝙼
1 - O retorno à Rua Crowford
2 - A mansão no condado de Kent
3 - As piores lembranças nunca dormem
4 - Um perfeito dia para visitas
5 - A viagem de vassoura
6 - A Ordem da Fênix
7 - O primeiro jantar no largo
8 - Joshua Richard Burnier
9 - A ovelha branca da família Black
10 - "Beijinhos."
11 - Calada da Noite
12 - O Bicho-Papão
13 - Pseudo... o quê?
14 - Entre xingamentos e ofensas
15 - Como quando eu era criança
16 - Um dia normal e um dia ruim dá no mesmo
17 - "Não devo contar mentiras"
18 - E o jogo virou
19 - Um conto de duas abóboras
20 - Quirrell foi um professor incrível
21 - Aquele em que Olívia não tem culpa
22 - E, em algum momento, tudo há de desabar
23 - Lista de idiotas a menos (ou quase) de Hogwarts
24 - O início de algo grande
25 - O decreto da Alta Inquisidora
26 - Armada de Dumbledore
27 - Declínio
28 - O cemitério de Little Hangleton
𝙿𝙰𝚁𝚃𝙴 𝙳𝙾𝙸𝚂
29 - Um jogo desastroso
30 - A historinha de Hagrid
31 - "Eu vou perder a aposta"
32 - Gritos, beijos e suco de uva
33 - Largo doce largo
34 - Os lírios de Natal
35 - Fuga Noturna
36 - "Eu quero respostas"
37 - Menor de idade, tá... e daí?
38 - O Salão Comunal da Corvinal
39 - Antes tarde do que nunca
40 - Expecto Patronum
42 - Uma fuga à moda Weasley
43 - O choro do elfo doméstico
44 - N.O.M.s
45 - A primeira missão da AD
46 - Departamento de Mistérios
47 - A voz do Equilíbrio
48 - O Véu da Morte
49 - A segurança vem antes da garantia de felicidade
50 - O que estava faltando
OLÍVIA POTTER [6]

41 - Fogos, explosões e memórias

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By _autorah_

━━━━━━ 41/50 ━━━━━━

Eu não sairia com você nem que tivesse de escolher entre você e a lula-gigante.

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Alguns meses antes –
Salão Comunal da Sonserina

— Como se fôssemos querer gastar o tempo livre que nem temos participando de umas reunião sobre um monte de coisa que já sabemos. — Erik Mavior resmungou, adentrando o dormitório masculino do sexto ano.

Andrew Gardner, atrás dele, fechou a porta e não falou nada.

— Sério, que menina estranha. — Erik comentou, jogando-o em sua cama. — Ela chega do nada como se já nos conhecesse e...

— Ela parecia saber do que estava falando. — Andrew disse seriamente, tirando os sapatos.

— E daí? Não somos obrigados a fazer nada para ela...

— Ela não nos obrigou a nada, Erik, ela só perguntou se queríamos fazer parte de um grupo de Defesa Contra as Artes das Trevas. — Andrew se irritou um pouco, mas Erik não percebeu de imediato.

— Bom, não queremos. — Erik riu. — Eles que se metam em problemas se quiserem, nós não.

Andrew não falou nada enquanto tirava a capa e a dobrava, em silêncio. Erik olhou para ele.

— Por que você está tão quieto? — O ruivo indagou.

Andrew deu de ombros, com a cara fechada.

Erik franziu as sobrancelhas, olhando para ele com atenção. Será que...

— Você queria ter aceitado?

— Não sei. — Andrew respondeu em voz baixa.

— Não sabe?

— Sei lá, Erik, eu só não sei. — Andrew alteou a voz, claramente chateado. Erik se alarmou. Estava chateado por causa dele? — Talvez quisesse. Ou talvez eu só quisesse fazer alguma coisa além de ficar fingindo que eu não vejo o que as coisas que Umbridge faz ou o que elas significam. Talvez eu só queira sair de cima da droga do muro.

— De cima do muro? Do que diabos você está falando?

— O que Fudge está falando é bobagem e você sabe disso. — Andrew começou. — A Umbridge aqui na escola não é para elevar o nível de ensino coisa nenhuma, é para ficar de olho em Dumbledore. Em nós. Eu detesto isso, detesto ela.

— Eu também. — Erik concordou, colocando-se de pé. — É por isso que a gente fica no nosso canto sem chamar atenção e sem fazer nenhuma estupidez que mereça uma detenção, e também é exatamente por isso que a gente não se mete com gente que nem os Potter que só se ferram todo ano.

— Resumo: a gente não faz nada. — Andrew disse, sem humor.

— E nem se ferra, para mim está ótimo.

— Mas para mim não está! — Andrew disse. — Talvez todo mundo devesse fazer alguma coisa, incluindo nós dois, mesmo que não ganhemos nada com isso, mesmo que seja só para ajudar, porque é o certo.

Erik piscou algumas vezes, atônito, encarando-o fixamente.

Andrew começou a remexer no malão, as bochechas rosadas de irritação.

— Por que você não aceitou? — Erik perguntou, mais gentilmente agora. — Participar. Quer dizer, você gosta de Defesa Contra as Artes das Trevas.

— Não iria sem você.

Erik deixou um silêncio breve se formar enquanto o encarava. Que irônico. Andrew tinha rejeitado participar daquilo por causa dele, mas, exatamente pelo mesmo motivo, Erik teria voltado atrás em sua resposta sem hesitar.

— E eu não quero fazer parte do grupinho de ninguém, eu só... quero fazer alguma coisa. — Andrew se sentou na cama, parecendo frustrado.

Erik levantou e sentou-se ao seu lado, olhando para ele ao perguntar:

— Tá. Qual a sua ideia?

— Hum... na verdade eu não tenho uma. — Andrew abriu um sorriso amarelo.

— Não tem uma?! — Erik assumiu um semblante incrédulo. — E todo esse discursinho lufano foi para quê?

Andrew deu uma cotovelada nele, fazendo-o rir.

— Ainda precisamos pensar nessa parte. — Ele parecia mais animado agora, o que deixou Erik terrivelmente aliviado. — Mas... você está comigo, não está?

— Você sabe que sim. — Erik conteve o impulso de tocar a mão dele, que estava bem do lado da sua, e engoliu em seco, sentindo seu coração acelerar consideravelmente, o que não era lá uma reação muito incomum, principalmente nos últimos meses. — Para o que der e vier, mesmo que esse "der e vier" seja você arrumando meios desnecessários de ferrar com a nossa cara.

Andrew sorriu e Erik, por dentro, também.

𖨡

— É a última chance que eu vou dar para a senhorita, Srta. Parker. — Dolores Umbridge tamborilava as unhas contra a mesa. — Quero a verdade.

Audrey encarava as próprias mãos.

— Eu já disse a verdade. Não sei de nenhuma reunião secreta.

Umbridge segurou o queixo da garota com a mão esquerda, forçando-a a olhar bem fundo em seus olhos.

— Você tem certeza disso, minha querida?

Audrey não ousou mexer um músculo.

— Tenho.

— Hem, hem.

Umbridge soltou-a, em seguida deu as costas, cruzando as mãos na frente do corpo, então caminhou lentamente até sua cadeira, sentando-se.

— Mas eu não, Srta. Parker. — E continuou: — Uma aluna que, de fato, é leal ao Ministério e a Cornélio veio até a minha sala mais cedo, me alertar. Não foi muito difícil relacionar isso aos seus dois amigos insubordinados, eu só precisava... — A mulher se inclinou sobre a mesa, sorrindo. — ... de uma confirmação. E eu terei uma. Daqui a pouco.

Audrey cerrou os punhos.

— Se já sabia, por que me chamou aqui?

— Porque eu queria entender onde exatamente está a sua lealdade. — A mulher sussurrou suavemente, os olhos azuis cintilando. — E saber que existem jovens bruxos e bruxas como você, minha querida, me deixa extremamente desapontada. E, no fundo, você concorda comigo.

Audrey engoliu em seco.

— No fundo... você sabe... que merece ser punida...

Dez minutos depois, exibindo um sorrisinho satisfeito no rosto, a Profª Umbridge saiu da sala e trancou a fechadura com um feitiço silencioso.

— Onde está o Sr. Malfoy?

Ela abriu e fechou a porta tão rápido que não deu nem a Andrew Gardner nem a Erik Mavior a chance de enxergar a garota do lado de dentro.

— Ele foi ao banheiro, Profª Umbridge. — Andrew respondeu obedientemente.

A mulher bufou.

— Okay, vou encontrá-lo no caminho. O que tenho para vocês é simples: quero que vocês vigiem essa entrada enquanto eu vou resolver um problema. Não deixem absolutamente ninguém entrar ou sair. Entenderam?

— Sim, Profª Umbridge. — Os dois confirmaram.

— Ótimo. — Ela balançou a cabeça, dando aquele sorriso meigo que dava uma vontade absurda de socá-la. E saiu, a passos curtos.

Tanto Erik quanto Andrew se mantiveram eretos, um de cada lado da porta, sem mover um músculo sequer. Mas, no momento em que a professora dobrou o corredor e seus passos pararam de ecoar, os dois se voltaram para a porta imediatamente.

— Alohomora. — Erik murmurou, apontando a carinha para a fechadura. Ela continuou trancada. Ele bufou, impaciente.

— Oi? — Andrew tentou chamar.

Sem resposta.

— Audrey? — Andrew bateu na porta. — Você tá aí?

— Umbridge deve ter apagado ela. — Erik disse, batendo na porta.

— Mas a ouvimos gritar quase agora pouco. — Andrew bateu na porta mais vezes, e Erik continuou a tentar todos os feitiços de tranca que conhecia, mais de uma vez.

Nenhum dos feitiços funcionou. Nem Audrey respondeu. 

Então a alternativa era explodir a porta e estragar o disfarce que eles estavam construindo havia meses ou, o mais inteligente: roubar as chaves do Filch.

— Eu vou. Vai ser rápido. — Erik disse, afastando. — Continua tentando falar com ela.

— Toma cuidado! — Andrew disse, mas o outro já tinha dobrado o corredor. Ele inspirou fundo, nervoso. — Audrey? Pode me dizer se você está bem? Não precisa nem falar, pode... derrubar alguma coisa no chão, eu vou ouvir. Que tal?

Ele encostou a orelha à porta, prendendo a respiração para escutar melhor.

Silêncio.

— Sonorus captus. — Andrew lembrou do feitiço, pressionando a ponta da varinha contra a madeira da porta.

E foi como se estivesse usando um fone de ouvido. Todos os sons pareciam amplificados, direcionados para a sua audição, e conseguia ouvir claramente a respiração descompassada de alguém, e o que pareceu ser uma folha sendo virada.

Ele não era burro. Sabia exatamente o que andava acontecendo com os alunos quando ia prestar detenções com a Umbridge. Todos saíam de lá com as mãos mutiladas com palavras que, em menos de uma horas, se transformavam apenas em uma cicatriz feia. Mas, se fosse isso que estava acontecendo com Audrey, Umbridge não a teria deixado sozinha. E a grifinória teria respondido pelo menos uma vez.

Os minutos pareciam se arrastar mais lentamente que o usual.

Andrew ficou alerta ao ouvir o som de passos e, de imediato, ficou ereto ao lado da porta, em posição. Para o caso de ser Umbridge. Mas a pessoa que se aproximou não era Umbridge, muito menos Erik.

— Ah, oi. — Andrew cumprimentou, relaxando um pouco a postura. — Você é o Josh, não é? Eu sou o Andrew.

Andrew costumava ter a impressão de que o amigo corvino de Olívia era mais o bem-humorado, mas, naquele momento, o garoto alternava o olhar entre ele e a porta com uma determinação muito pouco aberta a humor, aparentemente. Josh pareceu esperar que ele o impedisse, mas, quando viu que isso não aconteceria, se adiantou em direção à porta.

— Não dá para abrir. — Andrew avisou. — Não com os feitiços que eu tentei, pelo menos.

— Audrey! — Josh chamou, esmurrando a porta. Ninguém respondeu.

— Já tentei isso. — Disse com paciência. — Talvez...

— O que foi que a Umbridge fez com ela?! — Josh se voltou para ele, com raiva. — Hein?

— Eu não sei. — Andrew disse honestamente. — Eu estava tentando abrir antes de você chegar.

O garoto olhou-o com raiva por alguns instantes, então, se afastou um pouco e apontou a varinha para a fechadura.

— Se eu fosse você, me afastava. — Avisou.

— Ow, ow, ow. — Andrew se colocou entre ele e a porta. — Não pode explodir.

— Faz o favor de sair da frente?

— É sério. — Andrew falou. — Estamos querendo não criar motivos para a Umbridge não ter motivos para desconfiar da gente. Explodir a porta e ter que inventar uma história depois pra te encobrir... pode estragar tudo, entendeu?

— Sai. Da. Frente. — Josh mandou entredentes, sem retroceder.

— Josh...

— O que está acontecendo? — A voz de Erik fez Josh se virar, e baixar a varinha quando avistou o molho de chaves em uma das mãos dele.

— Finalmente. — Andrew suspirou.

— Tive que apagar ele para conseguir. — Erik passou reto por Josh e foi até a porta, com o corvino em seu encalço. — Ah, e chutei a Madame Nora por uma janela. Espero que o lance de cair em pé seja mentira.

Andrew revirou os olhos enquanto que ele testava agora a segunda chave do molho. Quando esta também não funcionou, Josh puxou as chaves da sua mão e empurrou-o para o lado, testando a seguinte com as mãos tremendo. Os outros dois se entreolharam, mas não falaram nada.

A quinta chave era a correta. Josh foi o primeiro a entrar quando a porta abriu.

Audrey não estava desacordada. Estava bem desperta, na verdade. Os olhos azuis marejados se encontravam vidrados no pergaminho a sua frente, que era simplesmente o emaranhado de frases mais confusas que Josh já tinha visto. As linhas estavam tortas e as letras estavam por cima umas das outras, como se a garota tivesse escrito com tanto desespero que dispensou o trabalho de dar espaços.

— Audrey? — Ele chamou, sentindo a garganta fechar ao ver o sangue dela se acumulando sobre a mesa e manchando as bordas do pergaminho. A marca em sua mão não estava cicatrizando. Ela escrevia tão rápido que não dava tempo. — Umbridge não está mais aqui, pode parar de escrever.

Ela não respondeu. Lágrimas escorriam pelo seu rosto, e uma ruga de dor estava no meio da sua testa, mas seus dedos continuaram pressionando a pena com força, arranhando o pergaminho.

— O que ela tá fazendo? — Erik murmurou em voz baixa sem entender. Andrew a encarava, espantado.

Josh estendeu a mão para tirar a pena dela, mas Audrey virou as costas para ele levou o pergaminho consigo, apoiando-o em suas pernas para continuar escrevendo.

O pergaminho tinha virado uma confusão de tinta, sangue e lágrimas àquela altura.

— Audrey! — Josh rodeou a mesa. — Você está se machucando! Para de escrever!

Eu tenho que continuar escrevendo. — Ela murmurou, parecendo falar mais consigo mesma do que com qualquer pessoa naquela sala. — Eu tenho que continuar escrevendo.. tenho que continuar escrevendo... tenho que continuar escrevendo... tenho que continuar escrevendo...

Audrey não reagiu quando Josh estalou os dedos na frente do rosto dela. Então, sem querer prolongar mais aquilo, o garoto puxou a pena da mão dela.

Audrey ergueu o rosto vermelho para ele, os olhos saltados.

— Acabou, okay? — Ele disse, estendendo a mão para ela. — Vem, você precisa ir para a enfermaria antes que acabe...

— O que você fez? — Ela perguntou com a voz falhada, seguindo a pena com os olhos quando Josh a afastou do seu alcance.

— Como assim?

Audrey se levantou num pulo e tentou puxar a pena das mãos dele.

— O que você está fazendo?

— Me devolve! — Ela pediu com o olhar vidrado, mas ausente, parecia simplesmente... fora do ar. Josh franziu a testa quando ela avançou sobre ele mais uma vez, com uma força que ela não fazia a menor ideia de onde ela havia tirado. — Eu preciso continuar escrevendo! EU PRECISO CONTINUAR ESCREVENDO!

— Isso está machucando você, não pode continuar... Audrey! — Ele exclamou quando ela arranhou seu rosto tentando alcançar a pena que ele levantou acima da cabeça.

— Eu preciso continuar... ME DEVOLVE, EU PRECISO CONTINUAR! ELA QUER QUE EU CONTINUE! — As lágrimas continuavam a sair enquanto ela gritava com desespero e se jogava contra ele, tentando puxar a pena. — Por favor, POR FAVOR, EU PRECISO... EU PRECISO...

Josh largou a pena no chão e segurou-a quando a garota fez menção de se abaixar para pegar.

— NÃO! ME SOLTA, EU PRECISO... EU PRECISO CONTINUAR ESCREVENDO!

— Audrey, acorda! Umbridge não está aqui! Você não precisa continuar escrevendo! — Ele cruzou os braços dela contra o peito, tentando entender de onde Audrey tirara tanta força enquanto ela se debatia com violência. — Audrey!

— ME SOLTA! ME SOLTA! EU PRECISO CONTINUAR! EU AINDA NÃO ACABEI! — Sua voz começou a ficar rouca por causa dos gritos. — POR FAVOR! ME DEIXA ACABAR, POR FAVOR, EU IMPLORO, ME DEIXA ACABAR! ELA PEDIU PARA EU ACABAR, ELA...

Audrey parou de gritar e de se debater subitamente.

Sua cabeça pendeu para a frente e Josh sustentou-a pela cintura até se ajoelhar para apoiá-la no chão, mantendo os braços ao redor dos ombros dela. Então o corvino ergueu um olhar irritado para Erik Mavior, que tinha apagado-a. O sonserina meramente cruzou os braços e assoprou a ponta da varinha teatralmente antes de dizer:

— De nada.

𖨡

— Então, deixa eu ver se eu entendi. — Josh, sentado na cadeira ao lado do leito hospitalar de Audrey (ainda desacordada), encarava Olívia. — Você, para variar, mentiu para a gente sobre não ter conseguido ninguém da Sonserina para a AD?

— Isso não foi mentira, eu realmente não consegui. — Olívia contou. — Andrew e Erik disseram "não" quando Marcel e eu fomos falar com eles. Disseram que estavam muito ocupados com a preparação para os N.I.E.M.s para terem tempo de aprender um bando de feitiços que eles já devem saber. E eu não consegui convencer os dois quando falei do Patrono.

— E conseguiu convencê-los a espionarem a Umbridge? — Hermione estava desacreditada.

— Eu não pedi para eles espionarem a Umbridge. — Ela explicou. — Isso foi ideia deles. Os dois são mestiços, ela não iria ter nenhum preconceito idiota ou ressalva em confiar nos dois se eles se mostrassem leais, e foi o que fizeram. Erik não queria participar, mas o Andrew o convenceu, ele deve ter gostado de mim ou algo assim. E eu saberia se não fossem confiáveis.

— Aham. — Rony desdenhou.

Olívia revirou os olhos.

— Tem certeza, não tem? — Harry perguntou? No leito ao lado dele estavam sentados Rony e Hermione, que, cansada, tinha apoiado a cabeça no ombro do ruivo. Rony, surpreendentemente, não pareceu se importar nem um pouco.

— Tenho. — Ela confirmou, tranquila. — Então aí estão, encontrei meu pessoal decente da Sonserina.

— Decente? — Marcel cerrou os olhos para ela, indignado. — Você chamou a Astoria Greengrass.

— E daí? — Olívia deu de ombros.

Ele piscou, olhando para ela como quem acha a resposta óbvia.

— Assim... como eu falo sem ser insensível? — Josh ponderou, jogando uma bolinha de papel uma mão para outra. — Ah sim, ela é horrível.

Olívia levantou uma sobrancelha.

— Isso foi você tentando não ser insensível?

— Eu derrubei um livrinho que ela estava segurando uma vez, na biblioteca. Daí eu peguei e entreguei de volta para ela. E ela me xingou. — Josh gesticulou com as mãos, indignado. — De um nome muito feio que eu não vou repetir.

— Ela está em processo de desconstrução. — Olívia defendeu-a.

— E isso não é nem o começo. — Marcel apoiou Josh. — Ela não gosta de você. Nem do Harry. Nem de Dumbledore. Nem da causa de vocês. Ela é mais uma filhinha sangue-puro alienada que se acha superior a todo mundo, como logo você achou uma boa ideia incluir ela nisso tudo?

— É, e você deu a localização da Sala Precisa para ela! — Rony se juntou ao protesto.

— Ei, eu não dei a localização para ela. Eu disse que, se ela quisesse se juntar a AD, poderia pedir a um elfo para levá-la até lá, porque, quando perguntei se ela queria entrar, ela disse que não, mas... sei lá, pareceu mais que ela não podia do que não queria.

— E você disse isso... sem nenhuma razão? — Hermione quis saber.

— Eu ouvi uma conversa dela com a Daphne um dia na biblioteca. Aparentemente, os pais da Astoria estavam pegando no pé dela e ela precisava de alguma coisa que a fizesse ganhar pontos com eles, então eu sugeri o mesmo que o Andrew e o Erik fizeram. Que ela usasse tudo o que ela sabe para se destacar nas aulas da cara-de-sapa, puxar o saco dela e se tornar alguém que a Umbridge vê com bons olhos, etcétera. Os pais dela são do tipo que apoiam o Ministério, então... ela meio que virou a filha preferida depois disso. Em troca, eu só disse que queria que ela me contasse se descobrisse algo suspeito.

— Por isso ela nos avisou ontem. — A Granger concluiu.

— Na verdade, eu fiquei meio surpresa por ela ter feito aquilo. — Olívia admitiu. — Não achei que ela fosse se importar se fôssemos pegos ou não.

— Ela só deve ter avisado por ter sentido que devia algo a você, Olívia, não quer dizer que ela se importe. — Marcel fez questão de destacar.

— Por que você tá tão irritante hoje? — Olívia perguntou a ele, que manteve a expressão entediada no rosto e deu de ombros.

— Ei. — Josh se inclinou sobre a cama de Audrey quando a loira começou a se remexer e acordar aos poucos. — Bom dia.

— Bom... dia. — Ela abriu o olho de cada vez e abriu um sorriso sonolento para Josh, até notar as outras pessoas presentes ali com estranhamento. — Por que vocês estão todos aqui?

— Você não lembra o que aconteceu ontem? — Rony perguntou, cauteloso.

— Ontem? Eu... — Os olhos dela então se arregalaram ao focar na mão enfaixada. — Ah meu Deus!

— Vai curar. — Olívia garantiu, aproximando-se dela. — Mas talvez deixe cicatriz.

Audrey permaneceu perplexa por algum tempo, calada, como se tentando se situar.

— A Umbridge descobriu sobre a AD! — Ela exclamou, alarmada. — Alguém avisou ela, alguém nos entregou!

— Nós sabemos. — Hermione deu um sorriso gentil à amiga.

— Sabem?

— Um monte de coisa aconteceu ontem. — Harry disse, deixando-a mais confusa.

— Vamos por partes. O que aconteceu com você ontem? — Marcel perguntou, fazendo-a olhar para ele. — Por que foi à sala da Umbridge?

Audrey levou apenas um minuto para contar tudo. Quando terminou, os seis estavam com olhares de puro nojo e revolta.

— Por que você não falou? — Olívia perguntou, irritada, mas não com a amiga.

— Quê? 

— Sobre a AD. — Olívia disse, sentindo-se seriamente culpada. — Que droga, Audrey, você devia ter falado.

— Não devia não. — Audrey discordou, veemente.

— Era melhor do que ela usar Imperius em você. — Olívia se sentou na ponta da cama do outro lado dela, dando-lhe um abraço lateral.

Audrey retribuiu ao abraço, e então seu olhar se fixou no rosto de Josh, que deu um leve sorriso para ela.

— Ai, caramba. — Ela exclamou ao notar o corte na bochecha dele. — Me desculpa. Desculpa, eu não quis...

— Relaxa. — Josh pegou sua outra mão e beijou-a rapidamente. Então acrescentou, fazendo gracinha: — Mas, por favor, sem mais violência, ou eu vou ter que repensar esse relacionamento.

— Vou repensar esse relacionamento na sua cara. — Ela disse, fazendo Harry, Rony e Hermione rirem. Olívia e Marcel, que já estavam acostumados, apenas reviraram os olhos. — Ei, agora que eu parei para pensar, como você sabia que eu estava na sala da Umbridge?

— Hum? — Josh piscou.

— Verdade, como você sabia? — Hermione quis saber, curiosa.

Josh hesitou. Olívia olhou para ele, desconfiada, e a desconfiança aumentou e muito quando Josh olhou rapidamente para ela antes de desviar e dizer:

— Foi sorte. — Sacudiu os ombros. — Era um dos únicos lugares onde eu não tinha olhado.

"Por que você está mentindo?"

"Você não precisa saber de tudo."

— Acho melhor te atualizarmos: a AD acabou. — Josh foi logo dizendo a Audrey.

— O quê?! — A loira arregalou os olhos.

— Fomos dedurados para a Umbridge. — Rony falou.

— FOMOS?!

— Dumbledore foi embora. — Harry contou.

— COMO É?!

— E ainda nem te contaram a melhor parte. — Hermione acrescentou com uma careta.

E todos olharam ao mesmo tempo para o aviso pregado na parede da enfermaria.

POR ORDEM DO MINISTÉRIO DA MAGIA
Dolores Joana Umbridge (Alta Inquisidora) substituiu Alvo Dumbledore na diretoria da Escola de
Magia e Bruxaria de Hogwarts.
A ordem acima está de acordo com o Decreto Educacional Número Vinte e Oito

Assinado: Cornélio Oswaldo Fudge, ministro da Magia

Avisos como esse foram afixados por toda a escola da noite para o dia, mas não explicavam como é que todas as pessoas que ali viviam pareciam saber que Dumbledore dominara dois aurores, a Alta Inquisidora, o ministro da Magia e seu assistente júnior para fugir. Por onde quer que Olívia andasse no castelo, o único tema das conversas era a fuga de Dumbledore e, embora alguns detalhes tivessem sido alterados nas repetições (Olívia ouviu uma segundanista garantir a outra que Fudge estaria agora acamado no St. Mungus com uma abóbora no lugar da cabeça), era surpreendente como o restante da informação era
exata. Todos sabiam, por exemplo, que Olívia, Harry e Marieta eram os estudantes que haviam presenciado a
cena na sala de Dumbledore e, como agora Marieta se achava na ala hospitalar, os dois primeiros se viram assediados com pedidos para contar a história em primeira mão.

— Dumbledore não vai demorar a voltar. — Disse Ernesto Macmillan, confiante, ao sair da aula de Herbologia, depois de ouvir com atenção a história. Olívia teve que admitir há algum tempo que o lufano era de fato menos detestável do que ela pensava, e agora eles todos se davam bem. — Eles não puderam mantê-lo afastado no nosso segundo ano e também não vão poder agora. O Frei Gorducho me disse... — E aqui ele baixou a voz conspirativamente, obrigando os cinco a se inclinarem para ouvir. — ... que aquela Umbridge tentou voltar à sala de Dumbledore na noite passada depois de terem vasculhado o castelo e a
propriedade à procura dele. Não conseguiu passar pela gárgula. A sala do diretor se lacrou para impedir sua entrada. — Riu Ernesto. — Pelo que contam, ela teve um bom acesso de raiva.

— Ah, tenho certeza de que ela realmente se imaginou sentada lá em cima na sala do diretor. — Disse Hermione maldosamente, quando subiam a escada para o Saguão de Entrada. — Reinando sobre todos os professores, aquela velha burra, presunçosa e ávida de poder que é...

— Você realmente quer terminar essa frase, Granger?

Olívia revirou os olhos.

Draco saíra de trás de uma porta, seguido por Crabbe e Goyle, o rosto pálido tomado por uma expressão muito séria. Olívia estranhou.

Se era para zombar deles, era de se esperar que ele estivesse sorrindo, se divertindo, mas... assim como quando Umbridge concedeu a ele cinquenta pontos no dia anterior, Draco parecia simplesmente... neutro. Ela procurou algum traço de malícia em seu olhar, mas mesmo aquilo parecia... simplesmente frio. Apagado.

— Receio que vou ter de cortar alguns pontos da Grifinória e da Lufa-Lufa. — Falou do seu jeito arrastado, como sempre.

— Como é? — Olívia questionou.

— Só os professores podem tirar pontos das Casas, Malfoy. — Replicou Ernesto.

— Bom, na verdade monitores não podem tirar pontos uns dos outros. — Retrucou Draco, movendo preguiçosamente o olhar para ele. Crabbe e Goyle deram risadinhas. — Mas os membros da Brigada Inquisitorial...

— Os o quê? — Perguntou Hermione com rispidez.

— Brigada Inquisitorial, Granger. — Disse Draco, apontando para um minúsculo "I" no peito, logo abaixo do distintivo de monitor. — Um grupo seleto de estudantes que apoia o Ministério da Magia, escolhidos a dedo pela Profª Umbridge. Em todo o caso, os membros da Brigada Inquisitorial têm o poder de tirar pontos... — Rony bufou de desgosto nessa hora. — ... então, Granger, vou tirar de você cinco por ter sido grosseira com a nossa nova diretora. Da Potter e do Macmillan, cinco de cada por me contradizerem. E cinco porque não gosto de você, Potter. Weasley, a sua camisa está para fora, por isso vou ter de tirar mais cinco. Ah, é, me esqueci, e você é uma sangue-ruim, Granger, então menos cinco por isso também.

Rony puxou a varinha, mas Hermione afastou-a, sussurrando:

— Não!

— Muito sensato, Granger. — Murmurou o Malfoy. — Nova diretora, novos tempos... agora comporte-se, Potter Pirado... Rei Banana...

Draco se virou para sair primeiro como se estivesse com pressa e, atrás dele, dando boas gargalhadas, Crabbe e Goyle foram também.

— Ele estava blefando. — Comentou Ernesto estarrecido. — Não pode ter o direito de descontar pontos... isso seria ridículo... subverteria completamente o sistema monitório.

Mas Olívia, Harry, Audrey, Rony e Hermione tinham se virado automaticamente para as gigantescas ampulhetas, dispostas em nichos na parede às costas deles, que registravam o número de pontos das Casas. Naquela
manhã, Grifinória, Lufa-Lufa e Corvinal estavam disputando a liderança quase empatadas. Enquanto olhavam, subiram algumas pedrinhas, reduzindo seu total nas bolhas inferiores. De fato, a única que parecia inalterada era a ampulheta cheia de esmeraldas da Sonserina.

— Já reparou? — Perguntou a voz de Fred. Ele e Jorge tinham acabado de descer a escadaria de mármore e se reuniram aos seis diante das ampulhetas.

— Malfoy acabou de nos descontar uns cinquenta pontos. — Disse Harry, furioso; enquanto observavam, viram mais pedrinhas subirem na ampulheta da Grifinória.

— Trinta. — Olívia corrigiu. — Você não tinha aula de matemática na escola trouxa não?

Jorge deu uma risada antes de contar:

— O Montague tentou nos prejudicar durante o intervalo.

— Como assim "tentou"? — Perguntou Rony na mesma hora.

— Ele não chegou a enunciar todas as palavras. — Disse Fred. — Nós o empurramos de cabeça no Armário Sumidouro do primeiro andar.

Hermione pareceu muito chocada.

— Mas vocês vão se meter numa confusão horrível!

— Não até o Montague reaparecer, e isso pode levar semanas, não sei aonde o mandamos. — Disse Fred, descontraído. — Em todo o caso... decidimos que não vamos mais ligar se nos metemos ou não em confusão.

— E algum dia vocês ligaram? — Indagou Hermione.

— Mas é claro. — Protestou Jorge. —Nunca fomos expulsos, não é?

— Sempre soubemos onde parar. — Acrescentou Fred.

— Às vezes ultrapassávamos um dedinho. — Disse Jorge.

— Mas sempre paramos em tempo de evitar um caos total. — Completou Fred.

— Mas e agora? — Perguntou Rony hesitante.

—Bom, agora... — Começou Jorge.

— ... com a partida de Dumbledore. — Continuou Fred.

— ... concluímos que um certo caos... — Disse Jorge.

— É exatamente o que a nossa querida diretora merece. — Concluiu Fred.

— Pois não deviam! — Sussurrou Hermione. — Realmente não deviam! Ela adoraria ter uma razão para expulsar vocês!

— Acho que esse é exatamente o ponto. — Olívia disse a ela, inclinando a cabeça para o lado.

— E é. — Disse Fred, sorrindo para ela. — Não fazemos mais questão de ficar. Sairíamos agora se não estivéssemos decididos a fazer alguma coisa por Dumbledore primeiro. Então, assim sendo... — Ele consultou o relógio. — ... a fase um está prestes a começar. Eu iria para o Salão Principal almoçar, se fosse vocês, para os professores verem que não têm nada a ver com a coisa.

— Eu adoraria ter algo a ver, me avisem se precisarem de ajuda. — Olívia piscou para os dois, continuando a subir os degraus.

— Não, não avisem ela! — Hermione exclamou. — O que é que vocês estão aprontando, hein?

— Vocês verão. — Respondeu Jorge. — Agora, vão andando.

Fred e Jorge desapareceram na massa crescente de alunos que descia a escadaria para almoçar. Com o ar muito desconcertado, Ernesto murmurou alguma coisa sobre terminar um dever de Transfiguração, e saiu apressado.

— Acho que devíamos sair daqui, sabe. — Disse Audrey descontraidamente. — Só por precaução...

— É, vamos. — Concordou Rony, e os cinco se dirigiram às portas do Salão Principal, mas Olívia mal avistara o céu do dia, com nuvens brancas sopradas pelo vento, quando alguém lhe bateu no ombro e, ao se virar, ela deparou com Filch, o zelador. Harry também tinha se virado.

— A diretora quer ver vocês dois. — Disse malicioso.

— Não fui eu. — Disse Harry quase que imediatamente. Olívia fechou a cara para ele.

As bochechas caídas de Filch sacudiram de riso inarticulado.

— Consciência pesada, eh?! — Exclamou asmático. — Venham comigo.

Audrey, Rony e Hermione os observavam com preocupação. Harry apenas deu de ombros e puxou a garota pelos ombros para acompanhar Filch de volta ao Saguão de Entrada, na direção contrária à maré de estudantes esfomeados. O zelador parecia estar de excelente humor; cantarolava desafinado em voz baixa enquanto subiam a
escadaria de mármore. Quando chegaram ao primeiro andar, disse:

— As coisas estão mudando por aqui.

— Já reparei. — Respondeu seu irmão com frieza.

— Veja... faz anos que digo a Dumbledore que ele é muito frouxo com vocês. — Disse Filch, com uma risadinha maldosa. — Suas ferinhas nojentas, vocês nunca soltariam Bombas de Bosta se soubessem que eu tinha poder para arrancar o couro de vocês a chicotadas, não é mesmo? Ninguém teria pensado em jogar Frisbees-dentados nos corredores se eu pudesse pendurar vocês pelos tornozelos na minha sala, não é? Mas, quando chegar o Decreto Educacional Número Vinte e Nove, vou poder fazer tudo isso... e ela pediu ao ministro para assinar uma ordem expulsando o Pirraça... ah, as coisas vão ser diferentes aqui com ela na diretoria...

— Eu não me iludiria tanto. — Olívia disse com seriedade, ganhando um olhar desdenhoso do zelador. — É burrice sua achar que Dumbledore não vai voltar, e mais ainda achar que vai mandar o Pirraça embora.

— Vocês não sabem de nada, não... não... — Filch deu uma risada que mais parecia uma tosse seca. — As coisas vão mudar por aqui...

Quando Olívia se lembrava da quantidade de passagens secretas que Filch conhecia (perdendo apenas para Fred e Jorge) a ideia de Umbridge tê-lo ao seu lado era realmente perturbadora.

— Chegamos. — Disse ele, olhando de esguelha para os dois enquanto batia três vezes na porta da Profª Umbridge antes de abri-la. — Os garotos Potter estão aqui para vê-la, Madame.

A sala de Umbridge não mudara, exceto por um grande bloco de madeira na escrivaninha em que dizeres dourados informavam: DIRETORA. E também
pela Firebolt de Harry e as Cleansweeps de Fred e Jorge que, que estavam presas por correntes e cadeados a um grosso gancho de ferro na parede atrás dela.
Umbridge se encontrava sentada à escrivaninha, escrevendo diligentemente em um pergaminho cor-de-rosa, mas ergueu a cabeça e abriu um sorriso ao vê-los entrar.

— Muito obrigada, Argo. — Disse ela com meiguice.

— Nem por isso, Madame, nem por isso. — Respondeu ele, curvando-se até onde seu reumatismo permitia, e saindo de costas.

— Sentem-se. — Disse Umbridge secamente, apontando uma cadeira.

Olívia e Harry obedeceram, e ela continuou a escrever mais algum tempo até que Umbridge disse "Muito bem", pousando a pena e fazendo uma cara de sapo prestes a engolir uma mosca particularmente suculenta. "Que é que vocês gostariam de beber?"

Olívia mirou-a, desconfiada.

— Quê?! — Exclamou Harry, certo de que não ouvira direito.

— Beber, Sr. Potter. — Disse ela, abrindo mais o sorriso, então olhou para Olívia: — E você, Srta. Potter? Chá? Café? Suco de abóbora?

À medida que oferecia cada bebida, fazia um breve aceno com a varinha e um copo cheio aparecia sobre a escrivaninha.

— Nada. — Olívia respondeu secamente.

— Nem eu, muito obrigado.

— Eu gostaria que vocês bebessem alguma coisa comigo. — Disse ela, sua voz assumindo um tom perigosamente meigo. — Escolham uma.

— Como vamos saber que você não envenenou a bebida? — Olívia resmungou baixo demais para ser ouvida com exatidão.

— Como disse, querida?

— Ela não disse nada. — Harry falou antes que Olívia o fizesse, dando um chute na perna da irmã por debaixo da mesa. — Vamos querer chá, obrigado.

Ela se levantou e fez uma grande cena para acrescentar o leite, de costas para os dois. Depois, apressou-se a lhe levar as bebida, sorrindo de maneira sinistramente meiga.

— Pronto! — Exclamou, entregando-as aos dois.

— Bebam antes que esfrie, sim? Bom, Sr. e Srta. Potter... achei que devíamos ter uma conversinha, depois dos acontecimentos angustiantes de ontem à noite.

Olívia manteve a xícara na borda da mesa à sua frente, intocada. Então encarou a professora. Harry ficou calado. Umbridge se acomodou na cadeira e aguardou. Passado um longo momento de silêncio, falou alegremente:

— Vocês não estão bebendo?

Olívia virou a xícara na boca, fingiu engolir e então pousou a porcelana na mesa novamente. Umbridge balançou a cabeça em aprovação, e encarou Harry, que ainda não tinha tomado um gole.

— Que foi? Você quer açúcar?

— Não. — E Harry fingiu engolir também.

O sorriso de Umbridge se ampliou.

— Muito bem. — Sussurrou. — Muito bom. Então agora... — Ela se curvou um pouco para a frente. — Onde está Alvo Dumbledore?

Olívia quase riu. Francamente, Umbridge não era nada sutil.

— Não fazemos a menor ideia. — Respondeu Harry prontamente.

— Não, é? — Umbridge encarou Olívia.

— Não, Profª Umbridge.

— Bebam mais, bebam. — Incentivou ela ainda sorrindo. — Agora, meus queridos, não vamos fazer joguinhos infantis. Sei que vocês sabem aonde ele foi. Os senhores e Dumbledore sempre estiveram metidos nisso juntos desde o começo. Reflitam sobre a sua posição...

— Dumbledore queria formar uma organização secreta. Ajudamos. O plano deu errado. Nós não tivemos uma conversinha sobre os lugares que o diretor mais gosta de se esconder, sabe. — Olívia contou, objetiva.

Umbridge suspirou, parecendo muito descontente. A garota "bebeu" mais um pouco do chá.

— Muito bem. — Disse a professora. — Neste caso... queiram ter a bondade de me dizer o paradeiro de Sirius Black.

Olívia quase engasgou. A mão de de Harry que segurava a xícara tremeu tanto que a fez vibrar no pires.

— Não sei. — Os dois responderam ao mesmo tempo, não muito convincentemente. Droga.

— Sr. e Srta. Potter. — Disse Umbridge. — Deixe-me lembrar-lhes de que fui eu que quase agarrei o criminoso Black na lareira da Grifinória em outubro. Sei perfeitamente bem que era com vocês dois que ele estava se encontrando, e se eu tivesse a menor prova disso nenhum dos dois estaria à solta hoje, juro. Vou repetir... onde está Sirius Black?

— Não faço ideia. — Disse Harry em voz alta. — Não tenho a menor pista.

— Nem eu. — A garota pousou a xícara sobre a mesa novamente depois de outro "gole".

Umbridge alternou o olhar entre os dois por alguns segundos, a cara de sapo mais inflada e irritada a cada instante. Então a mulher se levantou.

— Muito bem, desta vez vou aceitar a palavra de vocês, mas estejam avisados: o poder do Ministério está comigo. Todos os canais de comunicação que entram na escola ou saem dela estão sendo monitorados. Um controlador da Rede de Flu está vigiando cada lareira de Hogwarts, exceto a minha, é claro.

Olívia piscou, repassando a última frase mentalmente algumas vezes.

— Minha Brigada Inquisitorial está abrindo e lendo toda a correspondência que entra no castelo e dele sai por via coruja. E o Sr. Filch está observando todas as passagens secretas de entrada e saída para o castelo. Se eu encontrar um fiapo de evidência...

BUUM!

O próprio piso da sala sacudiu. Umbridge escorregou para um lado e se agarrou à escrivaninha para não cair, fazendo cara de espanto.

— Que foi...?

Ela ficou olhando a porta. Harry pegou a xícara dele e a de Olívia e esvaziou as duas no vaso de flores secas mais próximo. Olívia se levantou, ouvindo gente correndo e gritando vários andares abaixo.

— Voltem para o seu almoço. — Ordenou Umbridge, empunhando a varinha e saindo apressada da sala. Os dois se entreolharam, deram a Umbridge alguns segundos de dianteira e, então, correram atrás dela para ver a origem de todo aquele estardalhaço.

Não foi difícil saber o que estava acontecendo. Um andar abaixo, reinava um pandemônio. Alguém aparentemente tocara fogo em uma enorme caixa de fogos mágicos. Dragões formados inteiramente por faíscas verdes e douradas voavam para cima e para baixo nos corredores, produzindo explosões e labaredas pelo caminho; rodas rosa-choque de mais de um metro de diâmetro zumbiam letalmente pelo ar como discos voadores; foguetes com longas caudas de estrelas de prata cintilantes ricocheteavam pelas paredes; centelhas escreviam palavrões no ar sem ninguém acionálas; rojões explodiam como minas para todo lado que Olívia olhava e, em vez de se queimarem e
desaparecerem de vista ou pararem crepitando, quanto mais ele olhava essas maravilhas pirotécnicas mais elas pareciam aumentar em energia e ímpeto.

— Caramba! — Olívia exclamou, a boca escancarada num sorriso. Harry, que ela encontrou um pouco mais à frente, também sorria. — Dar aquele dinheiro para eles foi o melhor investimento da sua vida!

Filch e Umbridge estavam parados no meio da escada, parecendo pregados no chão. Enquanto eles assistiam, uma das rodas maiores pareceu decidir que precisava de mais espaço para manobrar: saiu rodando em direção a Umbridge e Filch com um ruído sinistro. Os dois berraram de susto e se abaixaram, e a roda voou direto pela janela às costas deles e atravessou os terrenos da escola. Entrementes, vários dragões e um grande morcego roxo que fumegava agourentamente aproveitaram a porta aberta no fim do corredor e escaparam para o segundo andar.

— Depressa, Filch, depressa! — Gritou Umbridge. — Eles vão se espalhar pela escola toda se não fizermos alguma coisa: Estupefaça!

Um jorro de luz vermelha projetou-se da ponta de sua varinha e bateu em um dos foguetes. Em vez de se imobilizar no ar, o artefato explodiu com tal força que fez um furo no retrato de uma bruxa piegas no meio de um relvado; ela fugiu bem a tempo, e reapareceu segundos depois no quadro vizinho, onde dois bruxos que jogavam cartas se levantaram rapidamente e abriram espaço para acomodá-la.

— Não os estupore, Filch! — Bradou Umbridge furiosa, como se ele fosse o responsável pelo feitiço.

— Pode deixar, diretora! — Chiou Filch, que, sendo um aborto, não poderia ter estuporado os fogos nem tampouco os engolido. Ele correu para um armário próximo, tirou uma vassoura e começou a bater nos fogos que voavam; em poucos segundos a vassoura estava em chamas.

Olívia deu um tapinha no braço de Harry para chamar sua atenção e acenou com a cabeça para a tapeçaria mais à frente no corredor, atrás da qual eles sabiam haver uma porta. Ao entrar, deram de cara com Fred e Jorge que estavam ali escondidos, ouvindo os gritos de Umbridge e Filch, sacudindo de riso reprimido.

— E com vocês, Gemialidades Weasley e sua capacidade única de fazer Hogwarts um lugar épico. — Olívia anunciou dramaticamente.

Fred e Jorge fizeram meias referências, tirando chapéus imaginários das cabeças.

— Impressionante. — Cochichou Harry sorrindo. — Impressionante... vocês levariam o Dr. Filibusteiro à falência, podem crer...

— Falou. — Sussurrou Jorge, enxugando as lágrimas de riso do rosto. — Ah, espero que ela experimente agora fazê-los desaparecer... eles se multiplicam por dez todas as vezes que alguém tenta.

Harry saiu alguns minutos depois, mas Olívia permaneceu com os gêmeos Weasley, e os três tiveram uma verdadeira crise de riso com direito a lágrimas quando saíram de trás da tapeçaria e viram o alto da cabeça de Umbridge chamuscado pelos fogos mágicos, e Filch abanando com as duas mãos para tentar apagar.

— Já usou o presentinho que a gente te deu? — Jorge questionou.

— Vou usar depois. Eu e Josh temos planos. — Ela estendeu as duas mãos, e os dois bateram. — Uma pena que ela não vai estar dentro, mas, enfim, ela ainda vai ter que lidar com as surpresas de vocês mesmo.

— Com certeza. — Ambos piscaram para a Potter.

— Não acredito que vão embora, aliás. — Olívia reclamou. — Hogwarts não é Hogwarts sem vocês, isso daqui vai ficar um saco.

— A gente sabe, mas é aquela coisa: — Fred cotovelou-a de leve. — Temos muitos planos para colocar em prática.

— Vocês vão conseguir. — Olívia disse aos dois. — E vão me deixar ser sócia.

— Vamos? — Jorge gargalhou, como se a possibilidade fosse um absurdo.

— Depende, Potter, o que você tem a nos oferecer? — Fred perguntou com um sorriso maldoso no rosto, levantando uma das sobrancelhas para ela.

— Dinheiro. — Ela sorriu. — E uma parceria com alguém incrível, vulgo eu.

— Bom, Fred, não sei se é suficiente, e você?

— Também não sei se é suficiente, Jorge. — Fred disse. — Onde está a prova do seu comprometimento, Potter? Somos homens de negócios.

Olívia gargalhou alto.

— Querem o quê, um pedido de casamento?

Os três adentraram o salão principal.

— Um casamento triplo? — Fred e Jorge exclamaram ao mesmo tempo, animados.

— Bom, eu aceito se vocês me deixarem ser sócia.

— Ei, estamos em maioria. — Jorge destacou.

— Tecnicamente, você é que tem que pedir a nossa a mão. — Fred explicou.

— Esqueçam, plebeus. — Ela se sentou de frente para seus amigos na mesa da Grifinória.

— Então nada de sociedade para você. — Eles se sentaram um de cada lado dela.

— Sobre o que vocês estão falando? — Rony perguntou, encarando os três com curiosidade.

— Não é da sua conta... — Fred retrucou para ele.

— ... seu patife curioso. — Jorge completou.

Olívia riu.

— Tá bom. — Disse displicentemente, fazendo os gêmeos olharem para ela. Olívia tossiu e disse: — Vocês aceitam terem um casamento a três para que, assim, definamos a nossa sociedade?

Harry, Audrey, Josh, Rony e Hermione os encararam sem entender nada.

— Aceitamos. — Fred fingia limpar lágrimas enquanto que Jorge piscava freneticamente os olhos para Olívia, fingindo-se apaixonado.

— Então, pelos poderes investidos a mim, eu declaro nós três casados, e a nossa sociedade existirá até que a morte nos separe.

E, para selar, os dois deram um beijo escalado em cada bochecha dela.

— O que foi isso? — Harry perguntou, encarando-os sem achar graça.

— Estamos casados. — Olívia explicou displicentemente.

— É, estamos, qual o problema, cunhado? — Fred fez questão de provocar.

Harry segurou a faca com um pouco mais de força, olhando para os dois com uma cara muito feia e, por um segundo, Olívia pôde jurar que ele diria que tinha se arrependido de dar o prêmio aos gêmeos.

— A propósito, ninguém disse "pode beijar a noiva". — Olívia observou. — É a parte mais legal do casamento.

— Verdade! — Os gêmeos exclamaram juntos.

— Nem pensem! — Harry disse, fazendo todos eles caírem na risada. — Do que vocês estão rindo?

Os fogos continuaram a queimar e a se espalhar pela escola toda durante a tarde. Embora causassem muitos estragos, particularmente os rojões, os outros professores não pareceram se importar muito com isso.

— Ai, ai! — Exclamou a Profª McGonagall ironicamente, quando um dos dragões entrou voando em sua sala, emitindo fortes ruídos e soltando chamas. — Srta. Brown, se importa de procurar a diretora para informá-la que temos um dragão errante em nossa sala?

O resultado de tudo isso foi que a Profª Umbridge passou sua primeira tarde como diretora correndo pela escola para atender aos chamados dos professores, que não pareciam capazes de livrar suas salas dos fogos sem a sua ajuda. Quando a última sineta tocou e todos iam voltando à Torre da Grifinória com
suas mochilas, Olívia viu, com imensa satisfação, uma Umbridge desarrumada e suja de fuligem saindo com passos vacilantes e o rosto suado da sala do Prof. Flitwick, provavelmente indo em direção à própria sala.

— Muito obrigado, professora! — Disse Flitwick na sua vozinha esganiçada. — Eu poderia ter me livrado dos fogos, é claro, mas não estava muito seguro se teria autoridade para tanto.

Sorrindo, ele fechou a porta da sala na cara da Umbridge, que parecia prestes a rosnar. Na hora do jantar, toda a conversa cessou quando o som muito alto de uma explosão ecoou por todo o castelo, fazendo as paredes e o chão do Salão Principal vibrarem. Josh ergueu a mão. Olívia bateu. Os dois sorriram.

— O que foi isso? — Marcel perguntou.

Umbridge compareceu ao jantar minutos depois, com parte do cabelo chamuscando e as roupas cor-de-rosa imundas com cinzas e poeira.

— Foram vocês? — Audrey riu. A mão dela ainda estava enfaixada.

— O objetivo inicial era explodir a cara dela, mas como isso aparentemente não é permitido. — Josh suspirou.

— De nada, a propósito. — Olívia piscou para a amiga.

Fred e Jorge foram heróis naquela noite na sala comunal da Grifinória. Até Hermione se esforçou para atravessar a aglomeração de colegas excitados e dar parabéns aos gêmeos.

— Foram fogos maravilhosos. — Disse com admiração.

— Ei, tira o olhos dos meus maridos barra sócios. — Olívia, a uns três metros de distância, berrou.

— Só temos olhos para você. — Fred e Jorge garantiram.

Olívia voltou à comemoração, satisfeita.

— E obrigado, Hermione. — Agradeceu Jorge, ao mesmo tempo surpreso e contente. — Fogos Espontâneos Weasley. O único problema é que gastamos todo o nosso estoque; agora vamos ter de recomeçar do zero.

— Mas valeu a pena. — Disse Fred, que anotava os pedidos dos colegas aos berros. — Se quiser acrescentar o seu nome à lista de espera, Hermione, custa cinco galeões uma caixa de Fogos Básicos e vinte uma Deflagração de Luxo...

Hermione voltou à mesa em que Harry, Audrey e Rony estavam sentados, contemplando as mochilas como se
esperassem que os deveres de casa fossem saltar de dentro delas e começar a se fazer sozinhos. Olívia logo se sentou com eles, cansada.

— Ah, por que não tiramos a noite de folga? — Perguntou Hermione Granger, animada, quando um rojão Weasley de cauda prateada coriscou pela janela. — Afinal, as férias da Páscoa começam na sexta-feira, e teremos muito tempo então.

Quê?

— Você está se sentindo bem? — Perguntou Rony, encarando a amiga sem acreditar no que ouvia.

— Por falar nisso... — Continuou Hermione alegremente. — ... sabem... acho que estou me sentindo um pouquinho... rebelde.

Olívia começou a rir.

— BEM VINDA AO CLUBE! — Ergueu os braços para cima.

No dia seguinte, Olívia poupou Harry de ter que responder se havia praticado Oclumência alguma vez na última semana. A resposta era óbvia. Ela só esperava que Snape ao menos fizesse um esforço para diminuir o período de tempo que passava depreciando o garoto e aumentasse o em que lhe ensinava algo de útil. Olívia passou boa parte da tarde na biblioteca, tentando achar respostas para todas as perguntas de revisão que os professores fizeram durante as aulas e acrescentando mais uma série de possibilidades à lista, além das anotações adjacentes que transformavam suas folhas de pergaminho numa verdadeira bagunça. Mas a melhor coisa da semana veio a acontecer na sexta-feira.

BOATOS EM HOGWARTS: A VERDADEIRA FACE DE DOLORES UMBRIDGE, SUBSECRETÁRIA SÊNIOR DO MINISTRO DA MAGIA.

— Ah meu Deus, o que foi que você fez? — Hermione perguntou, abrindo a revista de O Pasquim.

— O que eu disse que ia fazer se ela machucasse alguém por minha causa. — Olívia disse, indiferente. — Não engulo essa conversinha de que ela chamou a Audrey só porque queria ensinar alguma lição a ela. Ela queria descontar em mim e no Harry, e achou um jeito bem baixo de fazer isso. Eu queria ter falado mais coisa sobre a carreira dela no Ministério, mas não queria polemizar tanto assim, pode acabar mal para o pai da Luna.

— Como que você conseguiu publicar isso? — Hermione baixou a voz quando um garoto do sétimo ano passou atrás do sofá onde elas estavam sentadas, no salão comunal.

— Eu procurei quem eu sabia que tinha conseguido uma detenção este ano, escrevi os depoimentos de quem quis dar, revisei usando todos os meus talentos gramaticais, pedi para a Luna escrever uma carta para o pai dela explicando tudo e depois pedi para o Andrew Gardner enviar. —— Ela explicou. — Ele e o Erik são da Brigada agora, então as correspondências deles não são verificadas. E voilá.

E ali estava, uma página inteira de depoimentos sem identificação (apenas Casa e série de ensino) de pessoas diferentes que não tinham muita coisa em comum além do fato de terem sofrido mas mãos da Umbridge. E O Pasquim podia não ter tanto alcance quanto o Profeta Diário, mas Olívia sabia que algo daquela magnitude, verdadeiro ou não, acabaria se espalhando. E, durante o fim de semana, foi o que aconteceu. O decreto educacional proibindo a leitura à revista prevalecia, mas era a mesma coisa que nada. E Umbridge, que fora obrigada a adotar uma postura mais doce e inofensiva que de costume, obviamente não parecia muito satisfeita com a situação.

Bom, Olívia estava.

Principalmente depois de ter saído no Profeta Diário que Fudge estava se coçando para conter os boatos. Ele provavelmente teria muito dor de cabeça dali em diante para lidar com cartas de responsáveis de alunos de Hogwarts, querendo explicações e fazendo ameaças.

E, bom, Umbridge não poderia culpar Olívia, afinal, como ela mandaria algo daquele calibre para alguém de fora de Hogwarts se todas as correspondências eram verificadas?

— Ela está quase arrancando os próprios cabelos. — Andrew Gardner contou a ela no fim da tarde da segunda-feira. Ele, Erik e Olívia estavam sentados nos fundos da Biblioteca quase vazia. — Uma pena que a gente não pode rir.

— Obrigada de novo por ter feito isso. — Olívia disse a ele.

— Agradeça com algo melhor que palavras. — Erik sugeriu, ríspido como sempre. — De preferência, dinheiro.

— Ha ha ha. — Ela deu uma risada falsa. — Hilário, Erik. Admitam, vai, eu e minha abordagem inicial fizemos do ano de vocês muito mais...

— Estressante? — Erik completou, interrompendo-a. — Com certeza.

— Eu ia dizer empolgante.

— Não, nada de empolgação, só estresse mesmo.

— Por que você anda com ele? — Olívia perguntou para Andrew, que estava contendo a risada. — Sério, as opções na Sonserina estavam limitadas ou você não achou mesmo ninguém melhor?

Erik a observava com atenção.

— Você se acha engraçada?

— Não exatamente. — Olívia sorriu. — Por quê? Você me acha engraçada, Erikzinho?

— Te acho irritante. E não me chame mais assim.

— Vou deixar vocês discutindo, já volto. — Andrew se levantou rindo e foi rapidamente até uma prateleira da seção de Alquimia, o que a fez se lembrar quase imediatamente de Draco. Ele costumava gostar de Alquimia. Andrew fez uma careta e começou a passar os dedos pelas lombadas dos livros, procurando algum em específico.

Olívia logo encarou Erik, que o tinha seguido o outro com o olhar e agora o encarava intensamente, um sorriso suave pairando em seu rosto.

— Quando você pretende contar para ele? — Ela perguntou. O garoto não desviou o olhar de Andrew quando respondeu:

— Não é da sua conta.

A garota teve a audácia de rir.

— Tudo bem. Sinceramente? Não sei como ele ainda não percebeu. — Ela falou, também encarando Andrew agora. — Você passa metade do tempo olhando para ele com cara de idiota.

Erik não podia discordar. Francamente, às vezes ele achava que Andrew estava se fingindo de burro.

— Bom, tenho que ir. — Olívia falou, levantando-se. — Prometi estudar com um amigo meu. Mas estou torcendo por vocês.

— Não preciso da sua torcida. — Erik replicou, displicente. Olívia girou os olhos para o teto, se afastando. — Mas obrigado.

— De nada. — Ela deu uma piscadela para ele à distância, cumprimentou Andrew rapidamente e saiu da biblioteca, tirando a mochila das costas para verificar se pegara o livro de História da Magia.

— Olívia! — Ela ouviu a voz de Harry e pulou de susto. — Preciso falar com você!

Olívia olhou para ele, preocupada. Harry estava pálido e ofegante.

— O que aconteceu?

— Vem... vem comigo.

Seu irmão estava andando tão rápido que foi difícil acompanhar. Ele não falou nada durante o período que demoraram para subir as escadas até o sétimo andar. Os dois passaram direto por Audrey, Rony e Hermione ao entrarem no salão comunal, e Harry só pareceu relaxar quando fechou a porta do dormitório dos meninos, depois de pedir a Neville que saísse por alguns minutos.

— O que foi? — Perguntou ela, jogando a mochila numa das camas e fazendo mesmo em seguida. — Você teve alguma visão com Voldemort?

— Snape não vai mais me dar aulas. — Harry contou.

— O quê?! — Olívia exclamou, resignada. Ah não, aquilo era péssimo! Simplesmente péssimo! — Espera... O QUÊ? Como não vai mais te dar aulas? Você ainda não tem a mínima condição de impedir que Voldemort entre na sua cabeça, não era esse o objetivo disso tudo? Como que... — Então Olívia parou, observando a expressão culpada no rosto de Harry quando ele sentou na ponta da cama de frente para a que ela estava. — Harry, o que você fez?

— Sabe a Penseira que ele sempre deixa no fundo da sala? — Harry perguntou com a voz sombrimente baixa.

— Sei. — Olívia respondeu, uma interrogação imensa expressa em seu rosto.

Harry não falou mais nada depois disso. Olívia sentiu uma vontade enorme de acertar a mochila na cabeça dele, porque entendeu que Harry devia ter visto o que tinha dentro da Penseira, e isso explicava Snape tê-lo expulsado, mas... mas tinha alguma coisa errada, algo no rosto de seu irmão dizia que ele estava realmente perturbado.

— E o que você viu?

— Acho melhor você ver por conta própria, porque não sei se consigo contar. — Ele falou em voz baixa, erguendo a cabeça para olhar para ela logo em seguida. — Vai.

Olívia hesitou por alguns segundos, mas então fechou os olhos, penetrou a mente de Harry sem problemas e, alguns instantes depois, achou exatamente a memória que estava procurando.

Harry começou a cair por uma escuridão fria, rodopiando vertiginosamente e então... Encontrou-se parado no meio do Salão Principal, mas as mesas das quatro Casas haviam desaparecido. Em seu lugar, havia mais de cem mesinhas, todas dispostas da mesma maneira, e a cada uma delas se sentava um estudante, de cabeça baixa, escrevendo em um rolo de pergaminho. O único som era o arranhar das penas e o rumorejar ocasional de alguém ajeitando o pergaminho. Era visivelmente uma cena de exame.

O sol entrava pelas janelas altas e incidia sobre as cabeças inclinadas, refletindo tons castanhos, acobreados e dourados na luz ambiente. Harry olhou atentamente a toda volta. Snape devia estar por ali em algum lugar... era a lembrança dele, afinal...

E lá estava ele, a uma mesa bem atrás de Harry. O garoto se admirou. Snape adolescente tinha um ar pálido e estiolado, como uma planta mantida no escuro. Seus cabelos eram moles e oleosos e pendiam sobre a mesa, seu nariz aquilino a menos de cinco centímetros do pergaminho enquanto ele escrevia. Harry se deslocou para as costas de Snape e leu o cabeçalho da prova: DEFESA CONTRA AS ARTES DAS TREVAS - NÍVEL ORDINÁRIO EM MAGIA. Portanto Snape devia ter uns quinze ou dezesseis anos, aproximadamente a idade de Harry. Sua mão voava sobre o pergaminho; já escrevera pelo menos mais trinta centímetros do que os vizinhos mais
próximos, e sua caligrafia era minúscula e apertada.

Mais cinco minutos!

A voz sobressaltou Harry. Virando-se, ele viu o cocuruto do Prof. Flitwick movendo-se entre as mesas a uma pequena distância. O professor passava agora por um garoto com cabelos negros e despenteados... muito despenteados...

Harry se movia tão depressa que, se fosse sólido, teria atirado as mesas pelo ar. Em vez disso, parecia deslizar, como em sonho, atravessar dois corredores e entrar em um terceiro. A nuca do garoto de cabelos negros se aproximou cada vez mais... e ele ia se endireitando agora, descansando a pena, puxando o rolo de pergaminho para perto para poder ler o que escrevera... Harry parou diante da carteira e contemplou o seu pai com quinze anos. A excitação explodiu no fundo do seu estômago: era como se estivesse olhando para si mesmo, mas
com erros intencionais. Os olhos de Tiago eram castanho-esverdeados, seu nariz era mais comprido do que o de Harry e não havia cicatriz em sua testa, mas ambos tinham o mesmo rosto magro, a mesma boca, as mesmas sobrancelhas; os cabelos de Tiago levantavam atrás exatamente como os do filho, suas mãos poderiam ser as dele e Harry não saberia a diferença; quando o pai se levantasse, os dois teriam quase a mesma altura.

Tiago deu um enorme bocejo e arrepiou os cabelos, deixando-os mais despenteados do que antes. Então, olhando para o Profº Flitwick, virou-se e sorriu para outro menino sentado quatro mesas atrás. Com um novo choque de excitação, Harry viu Sirius erguer o polegar para Tiago. Sirius sentava-se descontraído na cadeira, inclinando-a sobre as pernas traseiras. Era muito bonito; seus cabelos negros
caíam sobre os olhos com uma espécie de elegância displicente que nem Tiago nem Harry jamais poderiam ter tido, e uma garota sentada atrás dele o mirava esperançosa, embora ele não parecesse ter notado. E duas mesas para o lado – o estômago de Harry se virou gostosamente – encontrava-se Remo Lupin. Parecia muito pálido e doente (a lua cheia estaria se aproximando?), e absorto no exame: ao reler suas respostas, coçara o queixo com a ponta da pena, franzindo ligeiramente a testa. Isto significava que Rabicho devia estar por ali também... e, sem erro, Harry localizou-o em segundos: um garoto franzino, os cabelos cor de pelo de rato e um nariz arrebitado. Rabicho parecia ansioso: roía as unhas, olhava fixamente para a prova, arranhando o chão com os dedos dos pés. De vez em quando espiava esperançoso para a prova do vizinho. Harry observou Rabicho por um momento, depois o próprio pai, que agora brincava com um pedacinho de pergaminho. Desenhara um pomo e agora acrescentava as letras "L.E.". O que significariam?

— Descansem as penas, por favor! — Esganiçou-se o Prof. Flitwick. — Você também, Stebbins! Por favor, continuem sentados enquanto recolho os pergaminhos. Accio!

Mais de cem rolos de pergaminho voaram para os braços estendidos do Profº Flitwick, derrubando-o para trás. Várias pessoas riram. Uns dois estudantes nas primeiras mesas se levantaram, seguraram o professor pelos cotovelos e o levantaram.

— Obrigado... obrigado. — Ofegou ele. — Muito bem, todos podem sair!

Harry olhou para o pai, que riscou depressa as letras que estava desenhando, levantou-se de um salto e enfiou a pena e as perguntas do exame na mochila, atirou-a sobre as costas, e ficou parado esperando Sirius. Harry olhou para os lados e viu de relance, a uma pequena distância, Snape, que caminhava entre as mesas em direção à porta para o Saguão de Entrada, ainda absorto no próprio exame. De ombros curvos mas angulosos, andava de um jeito retorcido, que lembrava uma aranha, e seus cabelos oleosos sacudiam pelo rosto. Uma turma de garotas separou Snape de Tiago, Sirius e Lupin e, plantando-se entre elas, Harry conseguiu ficar de olho em Snape enquanto apurava os ouvidos para captar as vozes de Tiago e seus
amigos.

— Você gostou da décima pergunta, Aluado? — Perguntou Sirius quando saíram no saguão.

— Adorei. — Respondeu Lupin imediatamente. "Cite cinco sinais que identifiquem um lobisomem." Uma
excelente pergunta.

— Você acha que conseguiu citar todos os sinais? — Perguntou Tiago, caçoando com fingida preocupação.

— Acho que sim. — Respondeu Lupin, sério, quando se reuniram aos alunos aglomerados às portas de entrada para chegar ao jardim ensolarado. — Primeiro: ele está sentado na minha cadeira. Dois: ele está usando minhas roupas. Três: o nome dele é Remo Lupin.

Rabicho foi o único que não riu.

— Eu citei a forma do focinho, as pupilas dos olhos e o rabo peludo, mas não consegui pensar em mais nada...

— Como pode ser tão obtuso, Rabicho?! — Exclamou Tiago, impaciente. — Você anda com um lobisomem uma vez por mês...

— Fale baixo. — Implorou Lupin.

Harry tornou a olhar para trás ansioso. Snape continuava próximo, ainda absorto nas perguntas do exame – mas esta era a lembrança de Snape, e Harry tinha certeza de que se Snape decidisse sair andando em outra direção quando chegasse lá fora, ele, Harry, não poderia continuar a seguir o pai. Para seu profundo alívio, porém, quando Tiago e os três amigos começaram a descer os gramados na direção do lago, Snape os seguiu, ainda verificando as questões da prova e aparentemente sem ideia fixa aonde ia. Mantendo-se um pouco à frente, Harry conseguia vigiar Tiago e os outros.

— Bom, achei que o exame foi moleza. — Ouviu Sirius comentar. — Vai ser uma surpresa se eu não tirar no mínimo um "Excepcional".

— Eu também. — Disse Tiago. Enfiou a mão no bolso e tirou um pomo de ouro que se debatia.

— Onde você conseguiu isso?

Afanei. — Disse Tiago, displicente. E começou a brincar com o pomo, deixando-o voar uns trinta centímetros e recapturando-o em seguida; seus reflexos eram excelentes. Rabicho o observava assombrado.

Os amigos pararam à sombra da mesmíssima faia à beira do lago, onde Harry, Olívia, Audrey, Rony e Hermione
haviam passado um domingo terminando os deveres, e se atiraram na grama. Harry tornou a espiar por cima do ombro e viu, para sua alegria, que Snape se acomodara na grama à sombra densa de um grupo de arbustos. Estava profundamente absorto em seu exame como antes, o que deixou Harry livre para se sentar na grama entre a faia e os arbustos, e observar os quatro sob a árvore. O sol ofuscava na superfície
lisa do lago, à margem do qual o grupo de garotas risonhas que acabara de deixar o Salão Principal se sentara, sem sapatos nem meias, refrescando os pés na água. Lupin apanhara um livro e estava lendo. Sirius passava os olhos pelos estudantes que andavam pelo gramado, parecendo um tanto arrogante e entediado, mas ainda assim bonitão.

Tiago continuava a brincar com o pomo, deixando-o voar cada vez mais longe, quase fugir, mas sempre recapturando-o no último segundo. Rabicho o observava boquiaberto. Todas as vezes que Tiago fazia uma captura particularmente
difícil, Rabicho exclamava e aplaudia. Passados cinco minutos de repetições desta cena, Harry se perguntou por que o pai não mandava Rabicho se controlar, mas Tiago parecia estar gostando da atenção. Harry reparou que o pai tinha o hábito de assanhar os cabelos, como se quisesse impedi-los de ficar muito arrumados, e que também não parava de olhar para as garotas junto à água.

— Quer guardar isso? — Disse Sirius finalmente, quando Tiago fez uma boa captura e Rabicho deixou escapar um viva. — Antes que Rabicho molhe as calças de excitação?

Rabicho corou ligeiramente, mas Tiago riu.

— Se estou incomodando. — Retrucou e guardou o pomo no bolso. Harry teve a nítida impressão de que Sirius era o único para quem Tiago teria parado de se exibir.

— Estou chateado. Gostaria que já fosse lua cheia.

— Você gostaria. — Disse Lupin, sombrio, por trás do livro que lia. — Ainda temos Transfiguração, se está chateado poderia me testar. Pegue aqui... — E estendeu o livro.

Mas Sirius deu uma risada abafada.

— Não preciso olhar para essas bobagens, já sei tudo.

— Isso vai animar você um pouco, Almofadinhas. — Comentou Tiago em voz baixa. — Olhem quem é que...

Sirius virou a cabeça. Ficou muito quieto, como um cão que farejou um coelho.

— Excelente. — Disse baixinho. — Ranhoso.

Harry se virou para ver o que Sirius estava olhando. Snape estava novamente em pé, e guardava as perguntas do exame na mochila. Quando deixou a sombra dos arbustos e começou a atravessar o gramado, Sirius e Tiago se levantaram. Lupin e Rabicho continuaram sentados: Lupin lendo o livro, embora seus olhos não estivessem se movendo e uma ligeira ruga tivesse aparecido entre suas sobrancelhas; Rabicho olhava de Sirius e Tiago para Snape, com uma expressão de ávido antegozo no rosto.

— Tudo certo, Ranhoso? — Falou Tiago em voz alta.

Snape reagiu tão rápido que parecia estar esperando um ataque: deixou cair a mochila, meteu a mão dentro das vestes e sua varinha já estava metade para fora quando Tiago gritou:

— Expelliarmus!

A varinha de Snape voou quase quatro metros de altura e caiu com um pequeno baque no gramado às suas costas. Sirius soltou uma gargalhada.

— Impedimenta! — Disse, apontando a varinha para Snape, que foi atirado no chão ao mergulhar para recuperar a varinha caída.

Os estudantes ao redor se viraram para assistir. Alguns haviam se levantado e foram se aproximando. Outros pareciam apreensivos, ainda outros, divertidos.
Snape estava no chão, ofegante. Tiago e Sirius avançaram empunhando as varinhas, Tiago, ao mesmo tempo espiando por cima do ombro as garotas à beira do lago. Rabicho se levantara assistindo à cena avidamente, contornando Lupin para ter uma perspectiva melhor.

— Como foi o exame, Ranhoso? — Perguntou Tiago.

— Eu vi, o nariz dele estava quase encostando no pergaminho. — Disse Sirius maldosamente. — Vai ter manchas enormes de gordura no exame todo, não vão poder ler nem uma palavra.

Várias pessoas que acompanhavam a cena riram; Snape era claramente impopular. Rabicho soltava risadinhas agudas. Snape tentava se erguer, mas a azaração ainda o imobilizava; ele lutava como se estivesse amarrado por cordas invisíveis.

— Espere... para ver. — Arquejava, encarando Tiago com uma expressão de mais pura aversão. — Espere... para ver!

— Espere para ver o quê? — Retrucou Sirius calmamente. — Que é que você vai fazer, Ranhoso, limpar o seu nariz em nós?

Snape despejou um jorro de palavrões e azarações, mas com a varinha a três metros de distância nada aconteceu.

— Lave sua boca. — Disse Tiago friamente. — Limpar!

Bolhas de sabão cor-de-rosa escorreram da boca de Snape na hora; a espuma cobriu seus lábios, fazendo-o engasgar, sufocar...

— Deixem ele em PAZ!

Tiago e Sirius se viraram. Tiago levou a mão livre imediatamente aos cabelos.
Era uma das garotas à beira do lago. Tinha cabelos espessos e ruivos que lhe caíam pelos ombros e olhos amendoados sensacionalmente verdes – os olhos de Harry. A mãe de Harry. Harry ficou espantado em atestar o que todos tanto diziam: Olívia era idêntica a sua mãe. O rosto, a boca, o nariz, as sobrancelhas, os olhos. A cor de cabelo, claro, era diferente, e ele também tinha a impressão de que sua mãe era mais pálida que a irmã.

— Tudo bem, Evans? — Disse Tiago, e o seu tom de voz se tornou imediatamente agradável, mais grave e mais maduro.

— Deixem ele em paz. — Repetiu Lílian. Ela olhava para Tiago com todos os sinais de intenso desprezo. — Que foi que ele te fez?

— Bom. — Explicou Tiago, parecendo pesar a pergunta. — É mais pelo fato de existir, se você me entende...

Muitos estudantes que os rodeavam riram, Sirius e Rabicho inclusive, mas Lupin, ainda aparentemente absorto em seu livro, não riu, nem Lílian tampouco.

— Você se acha engraçado. — Disse ela com frieza. — Mas você não passa de um cafajeste, tirano e arrogante, Potter. Deixe ele em paz.

— Deixo se você quiser sair comigo, Evans. — Respondeu Tiago depressa. — Anda... sai comigo e eu nunca mais encostarei uma varinha no Ranhoso.

Às costas dele, a Azaração de Impedimento ia perdendo efeito. Snape estava começando a se arrastar pouco a pouco em direção à sua varinha caída, cuspindo espuma enquanto se deslocava.

— Eu não sairia com você nem que tivesse de escolher entre você e a lula-gigante. — Replicou Lílian.

— Mau jeito, Pontas. — Disse Sirius, animado, e se voltou para Snape. — OI!

Mas tarde demais; Snape tinha apontado a varinha diretamente para Tiago; houve um lampejo e um corte apareceu em sua face, salpicando suas vestes de sangue. Ele girou: um segundo lampejo depois,
Snape estava pendurado no ar de cabeça para baixo, as vestes pelo avesso revelando pernas muito magras e brancas e cuecas encardidas. Muita gente na pequena aglomeração aplaudiu: Sirius, Tiago e Rabicho davam gargalhadas. Lílian, cuja expressão se alterara por um instante como se fosse sorrir, disse:

— Ponha ele no chão!

— Perfeitamente. — E Tiago acenou com a varinha para o alto; Snape caiu embolado no chão. Desvencilhou-se das vestes e se levantou depressa, com a varinha na mão, mas Sirius disse: "Petrificus Totalus", e Snape emborcou outra vez, duro como uma tábua.

— DEIXE ELE EM PAZ! — Berrou Lílian. Puxara a própria varinha agora. Tiago e Sirius a olharam preocupados.

— Ah, Evans, não me obrigue a azarar você. — Pediu Tiago, sério.

— Então desfaça o feitiço nele!

Tiago suspirou profundamente, então se virou para Snape e murmurou um contrafeitiço.

— Pronto. — Disse, enquanto Snape procurava se levantar. — Você tem sorte de que Evans esteja aqui, Ranhoso...

— Não preciso da ajuda de uma sangue-ruim imunda como ela!

Lílian pestanejou. O semblante de raiva em seu rosto era o mesmo que já vira no de Olívia dezenas de vezes.

— Ótimo. — A garota ruiva respondeu calmamente. — No futuro, não vou me incomodar. E eu lavaria as cuecas se fosse você, Ranhoso.

— Peça desculpa a Evans! — Berrou Tiago para Snape, apontando-lhe a varinha ameaçadoramente.

— Não quero que você o obrigue a se desculpar. — Gritou Lílian, voltando-se contra Tiago. — Você é tão ruim quanto ele.

— Quê? Eu NUNCA chamaria você de... você sabe o quê!

Lílian riu.

Despenteando os cabelos só porque acha que é legal parecer que acabou de desmontar da vassoura, se exibindo com esse pomo idiota, andando pelos corredores e azarando qualquer um que o aborreça só porque é capaz... até surpreende que a sua vassoura consiga sair do chão com o peso dessa cabeça cheia de titica. Você me dá NÁUSEAS.

E, virando as costas, ela se afastou depressa.

— Evans! — Gritou Tiago. — Ei, EVANS!

Mas Lílian não olhou para trás.

— Qual é o problema dela? — Perguntou Tiago, tentando, mas não conseguindo fazer parecer que fosse apenas uma pergunta sem real importância para ele.

— Lendo nas entrelinhas, eu diria que ela acha você metido, cara. — Disse Sirius

— Certo. — Respondeu Tiago, que parecia furioso agora. — Certo...

Houve outro lampejo, e Snape, mais uma vez, ficou pendurado no ar de cabeça para baixo.

— Quem quer ver eu tirar as cuecas do Ranhoso?

A memória acabou aí, porque Snape logo apareceu e puxou Harry da Panseira.

Olívia abriu os olhos.

Seu coração estava muito acelerado.

Ela tinha acabado de ver tudo aquilo, sabia que tinha, mas... não parecia real, nada daquilo...

Nenhum dos dois falou nada por vários segundos. Um minuto. Dois. Três. Olívia se levantou da cama e começou a andar em círculos pelo quarto, profundamente perturbada. Harry permaneceu em silêncio.

— Alguma vez na sua vida, alguém tinha te falado que... — Olívia parou de falar, enojada, irritada, culminando de raiva. Mas ela não sabia exatamente de quem. De seu pai, por ser um idiota? De todos os outros, que sempre disseram para ela e para Harry que Tiago Potter era um homem admirável? Dela própria, por ter defendido tantas vezes a imagem de seu pai, por acreditar veementemente que ele merecia isso? Por Merlim, ela se sentia tão enganada e tão...  confusa. — ... que o papai era...

— Que o papai era um babaca? — Harry completou com a voz rouca. — Já. Snape.

━━━━━━━ ⟡ ━━━━━━━

Oie 💕 Tudo bem com vc?

Espero que tenha gostado do capítulo de hoje 💜

A gente se vê no próximo 🥰

Não esquece de deixar sua ⭐ e seu 💭

Fica com Deus aí 💙

Um beijão para quem quiser 💋

✨Fui✨

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