Entre Livros e Morangos • Pjm...

By sanggukfairy

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⌈Concluída! ִ ִ ִ⌋ Park Jimin estava a procura de um emprego, algo que pagasse bem e que fosse de meio perío... More

Cast +Avisos [📷]
Trailer 🎞
Playlist𝅘𝅥𝅮
(0) Prologo
(1) As Ultimas Linhas, Jimin❢
(2) Cabelo de sol ❂
(3) Hyung Bonito🗣️
(4) Borboleta na bochecha e tortinhas de morango🦋
( 5 )Docinhos no mercado 🍬🏤
(6) Descobertas e filmes para assitir 📽
( 7 ) Pizzas e romance gay 🍕 👨‍❤‍💋‍👨
Especial de 40K - JK
(9) Abraços
( 10 ) Aproximações : Pt1
( 11 ) Aproximações: Pt2
(12) Cativado.
(13) Apelidos e um anel💍
(14) Sentimentos confusos
(15) Aceitando Sentimetos ♡
(16) Confusões quase resolvidas - JK
(17) Viagem e um novo passo 🚙
(18) Confie e sinta ♡
(19) O passado que assusta.
(20) Finalmente livre
Especial de 100K + Ano novo 🎇
(21) Talvez
( 22 ) bobinho apaixonado 💞
(23) Brega, cafona, boiola
(24) Namoradinhos oficialmente namorados 💍👬
(25) Revelações e bitoquinhas íntimas 👨‍❤‍💋‍👨‼️
(26) Uma mãe, varias histórias 👩🏻‍🍼‼️
(27) Novas descobertas e declarações 🤯💌❤️‍🩹
( 28 ) Comemorações e conversas importentes 🥳🎂
(29) Era bom...
( 30 ) Mudanças e "O QUE?!" 🤯
( 31 ) De volta ao passado em um futuro proximo👻
( 32 ) Delegacias e Coisas inesperadas
( 33 ) Situações (in)desejadas 😳😰
( 34 ) Contra o Tempo 🕰
(35) O fim da liberdade ⏳
(36) Promessas e amor íntimo🤞🏻❤️‍🩹
(37) Surpresas e momentos bons🖌💝
( 38 ) Brincadeira no gelo e dia do fim❄🚫
( 39 ) Lembranças a noite de uma tal noite💭🎇
( 40 ) Fadas e Borboletas 🧚‍♂️🦋
( 00 ) - Epílogo: fadas e Aurora boreal 🧚‍♂️🌌
Agradecimentos e avisos! 🧚‍♂️❤️‍🩹
Bonus : Um dia qualquer

( 8 )Ligações 📞

11K 1.1K 1.5K
By sanggukfairy

Oi😿

Atualização da repostagem: oh lapada de capítulo, o antigo tinha 12K de palavras, depois que fui adicionando algumas coisinhas, ficou com 14K 🥺

Voto+Comentário= Autor feliz 😁

Boa leitura! 🌱

J I M I N

Cansado. Eu estava completamente cansado.

Tudo anda normal, a rotina normal. Mas eu estou um pouco cansado da nova "vida" que tenho. Acordar todos os dias às seis da manhã não é uma coisa muito fácil para mim, além do sono ruim que tenho toda noite e pela insônia que me incomoda quase todas as vezes que eu fico até de madrugada fazendo algum trabalho da faculdade.

É, eu realmente havia me esquecido de como a vida de um estudante é puxada. Mas isso não é muita coisa comparada a vida de um médico igual Junghyun, pai de Jungkook.

Junghyun chegou às três da tarde na quinta passada, completamente cansado e sonolento. Ele havia saído no outro dia de manhã, seu plantão havia se estendido porque ele estava cobrindo o horário de um de seus colegas de trabalho, mas por incrível que pareça, ele sorriu feliz quando Jungkook o abraçou, não demonstrando qualquer cansaço quando levantou o filho minimamente do chão. Jungkook é grande, possivelmente pesado também. Mas ele não se importou. E eu fiquei ainda mais encantado por aquela família quando vi Jungkook dar boas-vindas para o papai dele. É fofo.

Segunda foi tudo normal, segui minha rotina normal, sabe? Acordar cedo, estudar, buscar Jungkook em sua escola colorida, trabalhar, ajudar Jungkook em suas atividades e fazer coisas aleatórias no fim do dia.

Tipo ontem, ele praticamente me obrigou a posar para mais um de seus desenhos. Foi meio engraçado até. Meu nariz ficava coçando toda hora. E sabe... Jungkook feliz é engraçado, mas ele bravinho é mais engraçado ainda, ele ficava fazendo aquele biquinho fofo emburrado toda vez que eu levantava a mão e tocava meu nariz.

No fim, eu não consegui ver o desenho, ele disse que seria minha punição por ser tão teimoso e ficar me mexendo toda hora.

Quartas-feiras são meus dias favoritos na semana. É o dia do docinho da frutinha vermelha — Mesmo que seja o dia em que eu não vou de ônibus para a Universidade já que preciso deixar dinheiro pra comprar o tal docinho.

Mas quer saber? Andar a pé por poucos metros não é nada perto do sorrisão que Jungkook me recebe sempre que chego em sua escola. É revigorante. Eu gosto do sorriso dele, é bem melhor do que ver ele chorando ou triste. Sou um homem de coração mole, sensível, eu diria.

— Hyung! — É Jungkook quem diz, já do lado de fora da escola. Abraçando sua mochila e sorrindo, hoje ele estava animado. É bom ouvir sua voz animada também.

— Bom dia, Jungkook! — Cumprimento, olhando para frente e vendo a moça que sempre fica vendo os alunos irem embora. Se eu não me engano, Dahyun é seu nome.

— B-Bom-dia! Tenho u…uma surpresa pro hyung. — Ele diz baixinho, me fazendo olhar rapidamente para seu rosto e o encarar um pouco confuso. Não era todo dia que Jungkook tinha uma surpresa para mim.

— Uma surpresa? Hum... — O olhei desconfiado, mesmo que ele não me olhasse de volta. — Que surpresa?

— Hyung trás surpresa toda... Toda q-quarta, não é? — Começou a explicar. — Fiz surpresa também.

— Mas... Jungkook…— Sorri, negando fraquinho com a cabeça.

— "M-mas Jungkook" Na-nada! — Também balançou a cabeça, negando meu protesto com um sorrisinho pequeno.

— Certo. — Suspirei rendido e cruzei os braços — Me diga qual é a surpresa então?

— Hum-Hum. — Negou com a cabeça, o encarei fingindo desapontamento.

— Por favor, Jungkook! Não me deixe curioso. — Dramatizei, colocando a mão no peito e o ouvindo rir baixinho.

— Hyung birrento! — Ele apontou batendo palmas, o olhei confuso, mas então percebi o que estava fazendo.

— Vai, Jungkook... — Insisti, entrando no seu joguinho. — Diz pra mim o que é a surpresa?

— Hum-Hum — Negou novamente. Prendi o riso que queria sair porque isso era incrivelmente divertido.

— Não vai mesmo contar? — Perguntei, formando um biquinho falso na boca — Tudo bem, não te dou o docinho da frutinha vermelha então.

Rapidamente seu olhar caiu sobre mim, por meros dois segundos, e então voltou a balançar o corpo. Eu sabia que aquilo era algo muito forte pra ele, afinal, é sua torta favorita.

— Hyung m-malvado! — Murmurou abaixando a cabeça. —  Eu..e-eu diz. — Sorri vitorioso, começando a andar e ser seguido por ele.

— Então diga, qual é essa surpresa que o principezinho preparou para esse pobre camponês? — Brinquei e dei risada de sua expressão, era engraçado ver ele tentando entender as coisas às vezes.

— Sou princi... Principezinho? — Perguntou erguendo as duas sobrancelhas. — Como o p-pequeno príncipe?

— Jungkook! — Eu ri alto, tentando não chamar muito a atenção de algumas pessoas que passavam por onde andávamos, mesmo que seja difícil. — Sim, sim! — Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego. — Você é o pequeno príncipe.

— Mas... O hyung que é pequen-nininho — Parei de rir no mesmo momento em que ele falou isso, me virando para ele e cruzando os braços.

— Eu não sou pequeno. Você é maior que eu quanto? Três centímetros? — Semicerrei os olhos em sua direção, vendo a forma que ele tentava, inutilmente, prender a risadinha que saia sem sua permissão — Ya! Jungkook, não ria! — Mesmo que falando isso, eu não me segurei e também sorri.

Muito engraçado da parte dele ficar fazendo piadinhas.

— Quer ouvir música? — Decidi mudar de assunto, vendo ele assentir e me esperar desenrolar meu fone de ouvido.

—O hyung vai f-ficar grande! — Falou pouco tempo depois, parando de repente e me deixando confuso. — H-hyung…

— O que aconteceu? — Perguntei me aproximando mais, já que tinha dado alguns passinhos a sua frente. — Jungkook?

Já tinha deixado o fone embolado completamente de lado. Ele não me respondeu, apenas soltou um dos braços de sua mochila e apontou para frente. Olhei para o tal lugar e percebi ser minha Universidade.

— Ali? — Apontei para o mesmo lugar, vendo Jungkook concordar e suspirar. — É aqui que eu estudo, sabia?

— H-hyung estuda com... Ele? — Arqueei uma sobrancelha ao ouvir aquilo, mas entendi que ele falava justamente de uma pessoa em específico. Entendi quando olhei diretamente para onde seu dedo estava apontando.

— Seong-Hyeon... — Sussurrei e respirei fundo. Não acredito que Jungkook o reconheceu. Faz tanto tempo que aquele incidente no mercado aconteceu, poxa vida, que porcaria.

Tenho vontade de acabar  com aquela cara insuportavelmente bonita sempre que o vejo e minha vontade aumentou ainda mais só de

— Você lembra dele? — Perguntei receoso, era óbvio que ele lembrava. Ele não pararia no meio da calçada só por ver um cara bonito, sem educação, mas bonito.

— Lembra... — Sua voz saiu baixa, tão baixa que eu quase não ouvi.

Eu prefiro vê-lo sorrir e falar animadamente. Saber que aquele desgraçado ainda faz efeito em si, me faz queimar de raiva! 

— Eu não estudo com ele, Jungkook. — Respondi a pergunta que ele tinha feito, voltando a olhar para o tal Hyeon e suspirar. — Apenas estudamos na mesma universidade. Esquece ele, tá bem?

Com um sorrisinho pequeno nos lábios, Jungkook concordou, e para minha surpresa e total vontade de gritar, ergueu sua mão em minha direção.

Ele ergueu sua mão na minha frente.

Ele. Ergueu. A. Mão. Na. Minha. Frente!

Ele estendeu a mão!

— V-você quer... Quer que eu segure sua mão? — Perguntei nervoso. Eu não estava esperando por isso. Não mesmo.

Ele nunca havia demonstrado que gostaria de ser tocado por mim. Eu sabia que ele não gostava muito que ficassem lhe tocando, já que no primeiro dia que comecei a trabalhar na livraria, senhor Jung-hee havia me dito. Então… se ele quer pegar minha mão, significa que eu havia conquistado um pouco de sua confiança?

Ele quer pegar na minha mão!

— P-papai pega m-minha mão de quando…Quando.Jungkookie  tem m-medo. — Foi o que me respondeu, olhando para a própria mão. Diante da sua resposta, a única coisa que fiz foi levantar minha mão e segurar a sua. Estávamos de mãos dadas.

De. Mãos. Dadas!

Ele confiava em mim. Ele queria segurar minha mão porque estava com medo e… sentia que eu poderia o proteger?

Estávamos de mãos dadas.

Não sei quantas vezes eu pisquei os olhos e analisava nossas mãos juntas, mas foram quase meio minuto assim. Eu estava desacreditado. Respirei fundo e um sorriso involuntário cresceu no meu rosto, olhando para o de Jungkook e vendo seu olhar perdido em algum lugar dessa cidade gigante.

Pode ser que isso não tenha significado algum para ele? Com certeza, já que ele aparentemente não está sentindo a mesma euforia que eu.

Mas, porra! Pra quem não conseguia nem falar com ele direito por alguns dias, segurar a mão dele é um passo e tanto! Sinto que nossa amizade está cada vez mais próxima de ser completa e totalmente oficializada e eu poderia dizer que sou o primeiro amigo de Jungkook!

Era…era bom. Sua mão era quentinha e muito boa de se segurar. Um pouco maior que a minha, e mesmo que eu não entendesse direito, também me dava um sentimento de segurança.

— V-você… — Engoli a saliva com força, tentando me controlar e então voltar a falar. — Você se sente bem segurando minha mão? — Perguntei ansioso e até mesmo meio… Assustado? Eu tinha medo de deixá-lo desconfortável com qualquer coisinha que fizesse.

E se eu estivesse apertando demais sua mão? Eu estava nervoso.

Ele nunca tinha feito aquilo. E eu estava em um mini surto, sem entender o porquê disso. Nós nunca tínhamos tocado assim. Apenas aquela vez que ele tocou meu pulso quando assistimos aos Vingadores e aconteceu aquele "incidente". Mas…eu não sei explicar.

— Sente. — Assegurou então, focando seus olhos em nossas mãos unidas — S-sente muito bem.

Esse seria o momento perfeito para me explodir de tanta euforia, talvez vomitar arco-íris ou me desmanchar em flores. — Isso seria algo estranho, mas acho que Jungkook gostaria já que ele ama flores e arco-íris.

— Então vamos para sua casa. — Com calma, comecei a puxar sua mão e, juntos, começamos a andar lado a lado. De mãos dadas.

Eu não tinha nem me dado conta que estava arrastando meu fone na calçada. Eu realmente estava quase que flutuando, sem explicação alguma.

Quando passamos em frente a Universidade, do outro lado da calçada, Jungkook apertou minha mão com um pouco mais de força. Eu tive vontade de voltar para trás e socar a cara daquele garoto... Eu sentia que Jungkook tinha medo dele, e não vou deixar um babaquinha daqueles colocar medo em alguém incrível como Jungkook.
Mesmo que a violência não seja o jeito certo de resolver as coisas.

— Sabe... — Comecei a falar tentando não mostrar minha tensão, recebendo um “hum” em resposta. — Você ainda não me disse qual é a tal surpresa que fez pra mim...

— Fez o hyung.

— Me fez? — Virei meu rosto para encarar o seu. —Um desenho?

—Sim! — Balançou a cabeça.

— O de ontem que você não me deixou ver? — Ele sorriu ainda mais quando eu disse isso, ele sabia que eu tinha ficado curioso para ver o resultado de toda aquela demora.

Quase duas horas sentado na mesma posição e sem poder mover um único dedinho não é uma coisa muito fácil. Minha bunda doeu de tanto ficar sentado naquele banquinho duro, nem no sofá ele me deixou sentar.

Jungkook é malvado quando quer ser.

— O hyung deso... Desmobedeceu eu. — Deu de ombros.

Eu tive que ser muito forte para não rir daquele seu pequeno erro, mas foi muito difícil. Ele era adorável sem nem perceber.

— Desobedeceu, Jungkook. — O corrigi, rindo baixinho quando uma expressão inconformada surgiu em seu rosto. — E eu não te desobedeci em nada, meu nariz que ficava coçando.

— N-narizinho tei... Teimoso — ri de sua fala, negando com a cabeça e me assustando quando meu celular começou a vibrar no bolso da calça.

— Espera um segundinho. — Com minha mão livre peguei o celular e suspirei ao ver o nome de Sohui brilhando na tela.

Droga, justo quando eu to em um momento sem estresse algum, ela aparece.

Oppa! — Ele praticamente gritou quando percebeu que eu havia atendido. — Tudo bem?

— Tudo bem, Sohui… — Respondi olhando para Jungkook, sorrindo quando ele virou o rosto para o outro lado, disfarçando inutilmente que estava tentando escutar a conversa.

Que bom! Eu queria falar algo para você, mas não te encontrei na faculdade. — Ouvi quando ela soltou um suspiro, mordi o lábio inferior esperando que ela continuasse a falar. — É sobre nosso encontro na sexta... — Arregalei os olhos tentando lembrar quando tínhamos marcado um encontro nesta sexta, eu bebi essa semana e não lembro? Não. Eu só trabalhei!

— Sohui…

Nós podemos ir ao parque! Você ama essas coisas românticas. — Ela me ignorou completamente.

—Sohui, eu não posso sair nesta sexta. — Disse por fim, tentando manter a calma.

Como assim? Já faz muito tempo, Oppa! Deixamos marcado desde aquele dia que o chato do Taehyung nos interrompeu no campus da Universidade.

Agora eu entendi… Taehyung tem razão, essa garota é meio louca.

— Vamos fazer assim, amanhã eu tenho um tempinho antes de uma palestra que vai ter.—Respirei fundo, voltando a falar. — Tem um tempo que eu quero te explicar um negócio, então a gente resolve tudo logo.

Olha o pé na bunda chegando!

Brincadeiras a parte, eu não aguento mais essa perseguição desconfortável.

Amanhã? Tudo bem! — Dou um suspiro aliviado ao ouvi-la concordar. —Mas, Oppa…

— Até amanhã! — Encerro a ligação antes que ela volte a falar.

— Q-quem era, hyung? — Jungkook perguntou assim que coloquei o celular de volta em meu bolso. Sorri, me virando para ele.

Uma louca neurótica.

— Uma amiga da faculdade. — Ele murmurou algo que não ouvi, mas sorri, puxando-o pela mão e voltando a andar.

— Hyung? — Jungkook me chama. — Quente...

—Está com calor? — Pergunto preocupado, crispando os lábios quando ele confirma. —Já estamos chegando, daqui a pouco você vai se refrescar na sua banheirinha — Com cuidado, puxei sua mão novamente e começamos a andar.

É. Ele tem uma banheira no banheiro do quarto. Sabe, aquela coisa de rico.

Uma bem grande, parece até uma piscina. Junghyun não poupa dinheiro quando o assunto é mimar Jungkook.

Quando chegamos, seu avô estava nos esperando como sempre, mas surpreendentemente, o pai de Jungkook também estava lá.

Aquele cara me dá uns calafrios meio estranhos na espinha. A presença dele é completamente intimidante.

— Papai! — Jungkook disse animado, extremamente feliz. Passando por mim, soltando nossas mãos e correndo para abraçar o pai. — V-você está aqui!

— Estou, meu bem. — Junghyun sorriu, o abraçando ainda mais forte. — Como foram seus estudos hoje, meu filho? E Jimin? Foi um bom acompanhante para você?

O quê?

— Sim, papai! O-o Hyung sempre é.

Ok. Não vou surtar.

Não agora, preciso manter a pose.

— Entrem, entrem! — Jung-hee, avô de Jungkook, puxou nós três para dentro da livraria. Tinha alguns clientes lá dentro.

Ué, normalmente não tem clientes nesse horário! Será que me atrasei?

— Ah… Hum, boa tarde! — Eu disse, tímido na presença do pai de Jungkook. Ainda não tinha muita intimidade com o homem, e ele me intimidava mesmo sem saber. E nem eu sei o motivo.

— Boa tarde, Jimin-ah!

Esse foi Jung-hee a me cumprimentar. Olhei pra Junghyun, que me cumprimentou com um sorriso, enquanto acompanhava um Jungkook animado até o andar de cima.

— Ele veio almoçar conosco hoje. Faz tempo que não tem uma refeição ao nosso lado. — Meu chefe disse, eu sabia que ele estava falando dele e de Jungkook. Mas eu me senti incluído naquele "nosso lado".

— Isso é bom…

— Demais! — Ele soltou animado. — Amo ver a relação do meu filho com Jungkook, isso me faz perceber que o criei bem, mesmo distante. E ver o homem bom que Jungkook está se tornando, me faz pensar que Junghyun seguiu meus passos. Um ótimo pai!

Ele sente orgulho de seu filho, e é tão lindo de ver. Afinal, o Jeon é um grande médico! E ainda um filho e pai maravilhoso.

Se eu fosse o Jimin de uns anos atrás, eu sentiria tristeza ao pensar que meu pai nunca sentirá orgulho de mim, além de dizer que sou uma decepção. Mas eu não ligo mais, não mais. Espero não ligar mais.

Quero dar orgulho a minha mãe, mesmo que não diga a profissão que ela tanto espera que eu siga. Vou ser um ótimo psicólogo e ajudar pessoas.  Ela sim merece o orgulho que eu tenho para dar, ela sim merece minha dedicação e meu esforço.

— Jimin-ssi? — Junghee me cutucou. — Está tudo bem? Ficou quieto do nada…

— Estou! — Sorri, procurando por meu avental. Digo, uniforme. — Coisas da faculdade sabe, mas não se preocupe, é bobagem.

— Pode falar comigo sempre que precisar, ok? É muito bom conversar com jovens de mente aberta como você! E ajudar jovens como você também. — Como assim "como eu?" LGBT? Eu bem que quis perguntar, mas não passou de uma vontade incompleta.

Às vezes eu acho que ele sabe sobre minha sexualidade, mesmo que eu nunca tenha dito nada sobre minha vida pessoal. Ele tem cara de quem sabe demais.

Após isso, nós continuamos nossa conversa sobre Jungkook e Junghyun, e eu fiquei cada vez mais feliz em saber um tiquinho sobre aquela família. Mas, em certo momento antes do almoço ficar pronto, meu celular vibrou no bolso.

— Mais que... — Soltei o ar com força, pagando o celular e o atendendo. — Sohui eu já disse que a gente se fala amanhã, tá bom? Estou trabalhando e…

Jimin? — Arqueei uma sobrancelha.

Aquela não era a voz de Sohui.

Jimin? — E voltou a repetir meu nome, só então eu pude reconhecer aquela voz.

Puta merda!

— Hyung! Meu Deus! — Sorri aliviado. — Eu te liguei um trilhão de vezes!

Eu vi! —Ouvi sua risada rouquinha. — Estava muito ocupado esses dias, desculpe!

— Não, não. Está tudo bem! — Olhei para Jungkook e sorri, arregalando os olhos e lembrando que ele também estava ali.

Sim, depois do banho ele desceu junto ao pai, só que o Jeon mais velho foi fazer nosso almoço — Amo sua comida, devo ressaltar  — E Jungkook ficou aqui comigo na livraria, me ajudando a organizar alguns livros.

— Hyung, espera só um pouquinho aí? Eu tô meio ocupado agora...

Certo. — Concordou e sorri em resposta. —Te ligo daqui cinco minutos.

Antes que eu pudesse responder, a ligação foi encerrada. Me virei para Jungkook e suspirei, ele estava todo suadinho e vermelho.

— Você está bem? — Perguntei, chamando sua atenção.

— S-sim! Só com… calor, hyung. A m-mudança de tempo deixa eu assim, n-não se preocupe! — Sorri, eu gostava de ouvi-lo falar, não era tão frequente ouvir sua voz assim, com muitas palavras. E confesso, eu realmente gosto de ouvi-lo falar muito.

— Quer que eu aumente o ar-condicionado?

— P-por favor.

Sorri para si, aumentando um pouquinho o grau do ar-condicionado e voltando para terminar de organizar os livros, minha cabeça voltou a latejar e, porra, isso é uma dor insuportável de ruim.

— Porcaria de dor de cabeça. — Balancei a cabeça um pouco, tentando amenizar aquela dorzinha chata.

Meu celular voltou a tocar, sorri e corri a minha mesa de trabalho — Era assim que eu chamava a mesinha de recepção.— Pegando-o e atendendo com rapidez.

— Juro que fiquei preocupado com você. E passou mais de cinco minutos. — Antes que ele pudesse falar qualquer outra coisa, eu disse antes —'Tô a quatro dias te ligando, hyung!

Eu estava ocupado, Jiminie. — Ouvi um suspiro seu. — Não tive tempo para nada nesses últimos dias, dá um descontinho pro Hobi-hyung vai...

— Pelo amor... — Soltei uma risada— Certo, Hoseok, mas eu preciso falar com você rapidinho. — Olhei para o lado e vi Jungkook, ainda muito concentrado nos livros e sorri, pretendendo deixá-lo sozinho um pouco.

Eu não podia falar de Jungkook na frente do Jungkook, antes de falar com ele eu preciso falar com seu pai. 

Como você está, pirralho? Não fala comigo a mais de quatro meses! — Sorri negando com a cabeça, mesmo que ele não fosse ver. — Aposto que me ligou porque precisa de alguma coisa.

Acertou tão fácil quanto eu respondendo “pizza” quando perguntam qual minha comida favorita.

Ok, isso foi muito aleatório, mas não é mentira.

— Tô te devendo alguma coisa então. — Sorri andando até o banheiro do andar de baixo, me "escondendo"— Estou precisando de seus conhecimentos.

Hum... Não entendi.

— Você 'tá trabalhando, hyung? — Fui direto ao ponto, não querendo mais enrolar.

Estou sim. — Prendi a respiração quando ouvi sua resposta. — Estou ensinando uma garotinha com deficiência auditiva como se comunicar em Libras ¹.

Sorri orgulhoso por Hoseok, ele é um professor incrível. Se formou nos Estados Unidos há dois anos e voltou para a Coreia esse mês. Ele sempre foi apaixonado em ajudar as pessoas. Ainda mais as especiais. Eu devo usar esse termo? Ainda não sei, preciso aprender mais sobre esse universo tão…Extenso e especial.

Eu não confio em ninguém melhor que ele para ajudar Jungkook.

— Isso é maravilhoso, hyung, você é incrível.

Para de bajulação. — Mesmo que fosse uma repreensão, eu sabia que ele estava sorrindo. — Agora me diga, em que eu posso ser útil?

— Eu estou trabalhando, Hoseok...— Comecei a explicar, me assustando quando ele começou a bater Palmas.

Isso sim é incrível! — Gritou do outro lado da ligação, animado. — Que orgulho da minha criança!

— Hyung! — Foi impossível não sorrir diante daquilo, Hoseok estava incrivelmente animado a todo momento.

E você trabalha com o que? — Ele perguntou depois de alguns segundos recuperando a sua respiração.

—Eu… Sou meio que um faz tudo na livraria de um senhorzinho perto de casa. Mas meu trabalho principal é ser atendente da sua livraria! — Sorri, mordendo os lábios. — Mas eu… Sou amigo de seu neto, passo um tempinho ajudando o garoto, eu meio que ajudo ele às vezes.

Acho que essa não é a palavra certa, mas foi a que me veio à cabeça no momento.

Jimin babá! — Hoseok soltou outra risadinha baixa. — Nunca imaginei você cuidando de uma criança.

— Não é uma criança!  E eu não sou na na dele! — Dessa vez, foi eu quem sorri. — É um garoto de dezoito anos.

Eita. — Ele parou de rir no mesmo instante. — No que necessariamente eu seria útil, Jiminie?

— Vou explicar tudinho para você, fica calado tá bom? Mas será rápido, tô no horário de expediente. — Me sentei na privada.

Hum, tudo bem! —Deu uma pequena pausa. — Sou todo ouvido, senhor trabalhador.

— Ele é um garoto autista. — Falei, segurando a risada com força quando Hoseok engasgou com algo e começou a tossir alto.

Jimin, porra. — Soltei mais uma risada quando ele xingou, raramente ele falava palavrões. — Você... Cuidando de alguém neuroatípico... Nossa, eu nunca imaginei isso.

— Eu sei que é meio que uma surpresa para você, já que a menos de um ano eu era um maluquinho bêbado em alguma boate. — Sorri da minha própria fala. — Mas eu só o acompanho da escola até em casa, e ajudo em algumas atividades escolares. Fora isso, é seu avô e seu pai quem cuidam dele. Eu não cuido dele.

Eu não tive boas influências na minha adolescência, então era o típico adolescente que saia de casa, bebia, e voltava altas horas da noite. Hoseok e Taehyung me ajudaram muito nessa época, meu terapeuta também foi um grande amigo.

Yoongi também, mas ele era o amigo que me dava sermão e tapas na cabeça.

Pirado no álcool você era. — Mesmo surpreso, Hoseok não perdeu tempo em fazer suas piadinhas — Eu acho que já entendi o porquê da sua ligação, mas vou esperar você me contar tudo porque sou curioso.

Soltou mais uma risadinha e eu concordei com a cabeça, mesmo que ele não estivesse ali.

— Jungkook é um garoto inteligente. — Chamei sua atenção. — Mas sua… dificuldade não é isso, ele gagueja bastante e tem algumas dificuldades em pronunciar palavras… complexas, entende? — Comecei a explicar, esperando que ele entendesse.

Jungkook é o nome do garoto, sim?

—Isso, é um menino bem esperto. — Sorri.— Ele gosta bastante de ler e essas coisas, mas acho que a escola não tem… Estrutura? Acho que é essa a palavra. Enfim, a escola não tem profissionais que foquem somente naquela dificuldade que o aluno tem, entende? E eu acho que seria muito legal um professor particular para focar exatamente no que Jungkook precisa… Aperfeiçoar!

Suponho que você queira que eu seja o professor, não é?

Hoseok sempre foi inteligente e atento com algumas coisas, é admirável. Mesmo com apenas 28 anos já conquistou tantas coisas, ele é um cara exemplar.

— Sim! Hyung, eu não consigo pensar em ninguém melhor que você para isso. — Sussurrei e fechei os olhos. —Além de que você é um grande amigo meu, Senhor Jeon ficaria mais tranquilo com isso.

Senhor Jeon é quem...?

— O pai de Jungkook, filho do meu chefe. Se você aceitar, eu posso tentar dar um jeito de você falar com ele para resolver tudo, questão de pagamento e essas coisas burocráticas. —Respondi rápido, ouvindo passos vindo até a porta do banheiro. — Sei que não é da minha conta se intrometer nisso, mas promete pensar no assunto, hyung?

É óbvio que sim, Jiminie! — Sorri ao ouvir sua resposta. — Eu nunca negaria um pedido desses. Só preciso ver na minha agenda o dia da semana que estou livre e, se o responsável me contratar, serei grato em ajudar na evolução linguística do rapaz.

Que vocabulário perfeito, minha nossa!

— Obrigado, Hyung! — Me levantei, quase pulando de alegria — Amanhã mesmo Junghyun vai falar com você!

Era mentira? Sim. Mas é uma mentirinha legal, já que nem eu mesmo tinha ideia de como falar com Junghyun sobre isso.

Eu espero que ele aceite.  É bom para Jungkook.

— Hyung? — Jungkook chamou do outro lado da porta, me assustando. — E-está bem?

— Uh? O que? — Me levantei, tirando o celular do ouvido. — Jungkook?

Está tudo bem, Jiminie? — Hoseok falou do outro lado da linha, possivelmente confuso.

— S-sim, hyung! É o Jungk-kook. — Jungkook disse, sorri. — Está…  Tudo bem?

— Ah, sim! Eu... Eu… Só um minuto! — Sorri meio desesperado, mordendo o lábio inferior em nervosismo. Será que ele ouviu algo? — Hyung, a gente se fala depois, tá? — Sussurro para Hoseok.

Certo, Jimi…— Antes que ele pudesse terminar de falar, eu encerrei a ligação. Correndo para abrir a porta do banheiro e falar com Jungkook.

— Oh. Oi, hyung! — Ele disse assim que abri a porta. — P-papai chamou o hyung pa-para comer. — Ele sorriu para mim, segurando em minha mão e me puxando para a cozinha.

Segurando. Minha. Mão.

Eu ainda preciso me acostumar com isso. Seu toque era tranquilo, mas eu estava agitado. Eu não sabia que alguém me tocando deixaria meu coração tão agitado. 

— M-mão do hyung molhada. — Ele disse, quando estávamos chegando no nosso destino.

— A-ah, é que eu lavei quando saí do banheiro, sabe? Higiene em primeiro lugar.

Eu não lavei as mãos. Eu só estou nervoso.

Eu estava suando. Eu realmente estava suando com menos de quinze segundos de toque.

[📚🧚🏻‍♂️🍓]

Nós almoçamos, uma comida deliciosa que Junghyun havia preparado. E então, voltei ao meu trabalho, atendendo pessoas diferentes e gentis. Agradeço por nunca ter atendido nenhuma pessoa sem educação, já me ocorreu algumas vezes enquanto trabalhava em bicos por aí, mas nenhuma vez aqui nesta livraria. É como se a tranquilidade acompanhasse cada pessoa que entrasse por aquela porta.

— Jiminie Oppa!! — Meus olhos se arregalaram.

Certo, eu devo ter falado cedo demais.

— S-sohui? O que faz aquí?

O que ela está fazendo aqui?!

— Isso não é uma livraria? Vim comprar um livro, seu bobinho. — Ela me abraçou, agarrando meu pescoço e beijando minha bochecha. — E você, oppa?

Ok, isso é muito desconcertante. Toda essa aproximação excessiva dela me deixa incomodado. Muito incomodado.

— E-Eu… Eu também! — A afastei, caminhando até a mesa da recepção.

Eu estava com o uniforme do trabalho? Sim. Menti descaradamente? Sim.

Ela é meio burrinha, espero que não tenha notado.

— Sério? Nossa, que harmonia essa nossa! — Ela me seguiu. Me abraçando por trás.

Alguém me tira daqui, por favor.

— Está tudo bem aí, Jimin-ah? — Jung-Hee gritou da cozinha, mordi o lábio inferior. Que ele não venha aqui.

— Está sim, senhor!

— Oh, você conhece o chefe daqui? — Sohui perguntou, me soltei dela novamente. Dando voltar na minha mesa e deixando uma distância boa entre nós dois.

— B-bem, sim! Somos amigos, estou ajudando ele com algumas coisas da livraria. Por isso estou com o uniforme. — Apontei para mim mesmo, para o avental com o slogan da livraria, na verdade.

— Oh, Jiminie oppa sempre tão prestativo! — Ela sorriu, se aproximando de mim novamente.

Qual a dificuldade de manter distância entre nós dois, meu Deus?

— Você quer comprar que tipo de livro?

— O que? — Franzi as sobrancelhas com sua reação.

— O livro, Sohui. Você disse que iria comprar um livro…

— Ah, verdade! — A encarei confuso. — Mas bem, acho que vou deixar para outra ocasião. Fiquei sem vontade de ler agora, achei uma coisa mais interessante. — Ela sorriu, me encarando de um jeito estranho. — Você está livre na sexta, Jiminie Oppa?

Não vou me estressar… Não vou me estressar!

Vai se foder!

— Sohui, eu já disse que a gente vai conversar sobre isso na faculdade, ok? Antes das aulas, tudo bem?

— Mas, Oppa… Por que não pode ser agora? — Ela se aproximou de mim novamente, enroscando seus braços em meu pescoço e nos deixando em uma posição desconfortável.

Eu fiquei imóvel, sem saber o que dizer. Isso é tão… Desconfortável, que eu não consigo agir direito, pelo menos para mim era desconfortável. Tão desconfortável que eu sentia vontade de vomitar.

— Hyung!

A voz de um anjo soou nos meus ouvidos, me tirando daquela confusão que estava. Obrigado, Jungkook!

Ele veio descendo as escadas, animado. Mas parou assim que viu eu e Sohui, na posição em que estávamos. Senti meu coração bater mais forte, com um desespero que eu nem entendi o porquê de existir.

— Jungkook! — Eu sorri, me afastando de Sohui. Dando a volta na mesa e me aproximando dele. — Está tudo bem?

— S-sim… É que Jungkook queria mostrar algo e-e...

Ele foi interrompido.

— Você conhece esse menino, Oppa? — Sohui perguntou, se aproximando de Jungkook.

Eu preciso conversar urgentemente com ela sobre um tratamento psicológico, pelo amor de Deus!

— Sohui, não se aproxime assim de pessoas que você não conhece. — Segurei em seu pulso, impedindo ela de se aproximar ainda mais de Jungkook.

— Mas Oppa…

— Qual livro você vai querer levar? — A interrompi, minha voz ainda mais ríspida do que eu imaginava.

— Mudei de ideia, Oppa! Já estou indo, a gente se fala amanhã! — Sohui disse, se afastando e indo até a porta de entrada, saindo da livraria. Finalmente.

— Está tudo bem? — Perguntei a Jungkook novamente, mordendo o lábio inferior.

— Sim! — Ele sorriu — Pode... P-posso segurar sua mão de novo?

Eu não sei porque, mas sempre que ele faz isso, meu coração falta se desmanchar no peito. É tão… Fofo.

Depois que ficamos de mãos dadas pela primeira vez, é como se um imã tivesse nascido na minha mão e na dele, já que não consigo ficar afastado por nem um segundo quando ele chega perto.

E, aparentemente, ele também não.

— Claro que sim, Jungkook. — Sorri, estendendo minha mão em sua direção e sorrindo ainda mais quando sua palma cobriu a minha completamente. A diferença de tamanho era notável.

Mas não foi somente seu pedido que me surpreendeu. Jungkook começou a me puxar para cima, subindo as escadas comigo junto. Ainda não era o horário da minha pequena "folga" e muito menos o horário de ajudá-lo em suas atividades. Então o que aconteceu?

Eu até perguntaria, mas quando eu abri minha boca para falar algo, ele me puxou para dentro de seu quarto e sentamos em sua cama. Ele me soltou e saiu, voltando com as mãos atrás de seu corpo, escondendo algo. Me levantei, andando em sua direção.

—O que você tá escondendo aí? — Perguntei curioso, andando mais alguns passinhos até ficar próximo o suficiente — É o que eu 'tô pensando? — Sussurrei como se fosse um segredo.

— O q-que o hyung pensa? —Ele me imitou, sussurrando com a voz calma.

—É meu desenho?

— Hum... — Com um semblante pensativo, ele sentou na cama. Com uma das mãos para trás, segurando o que eu pensava ser meu desenho — H-hyung sabido.

Dei uma risada fraquinha e me sentei ao seu lado, estendendo minha mão na frente de Jungkook, esperando meu prêmio.

Quando o papel foi colocado em minha mão, meu sorriso cresceu involuntariamente. Esse era o segundo desenho que recebia dele, o segundo que levaria para casa. E como sempre, era lindo.

Modéstia à parte, claro, até porque sou eu desenhado ali, é que está lindo mesmo. Não tinha cor, era todo grafitado com preto e alguns traços brancos, sorri novamente ao ver asas saindo de minhas costas e um brinco de flor em minha orelha.

Ele me desenhou em forma de fadinha!

— Wow... — Olhei para Jungkook, vendo seu corpo movendo para frente e para trás e suas mãos entre as pernas. — Isso aqui ficou muito lindo!

— G-gosta mesmo? — Parecendo inseguro ou nervoso, ele perguntou hesitante. Sorri e balancei a cabeça um bocado de vezes, mostrando que sim, eu tinha mesmo gostado do desenho.

—Ficou mais bonito que o Jimin original, Jungkook...

Eu não conseguia parar de olhar para meu desenho, os olhos mais escurinhos sobre as pálpebras como se fossem sombras esfumadas, o brinco de flor brilhando e minhas asas quase invisíveis... Era realmente bonito. Ele me fez de uma maneira tão bonita que fiquei encantado.

Eu me senti uma fadinha de verdade, foi até meio constrangedor.

—Você é incrível... — Soltei sem perceber, mordendo o lábio tentando conter mais um sorriso teimoso. — Eu tenho até uma florzinha na orelha! — Soltei mais uma risada e olhei para Jungkook agora.

Ele continuava com um sorrisinho envergonhado no rosto, até suas bochechas estavam com uma coloração mais intensa. Minha evolução com Jungkook estava cada vez melhor e eu pude ter certeza disso hoje.

Ele até me olhou, depois olhou para o desenho e sorriu mais uma vez, escondendo o rosto entre as mãos.

— Eu vou até emoldurar isso daqui, colocar na sala e fazer uma exposição. — Me levantei com papel nas mãos, olhando para ele. — Todo mundo merece ver.

— Hyung...— Jungkook colocou as mãos, quase cobertas pelas mangas do moletom que vestia, em frente a boca, escondendo seu sorriso — Hyung bobo!

—Jungkook engraçadinho. — Resmunguei, sorrindo logo depois quando ele fez uma expressão emburradinha. — Eu amei o desenho, Jungkook. Obrigado, de verdade.

Suas bochechas ficaram rosadas novamente. Mordi o lábio inferior contendo mais um sorriso. Eu também estava sentindo minhas bochechas esquentarem.

Nós descemos juntos, como ainda era meu expediente, ainda tinha que ficar lá embaixo caso algum cliente aparecesse. Como não aconteceu, falei para Jungkook que iria preparar um lanche para nós dois.

Estávamos sozinhos, senhor Jeon disse que sairia para resolver alguma coisa que não havia nos dito.

Esse velhinho anda saindo demais, tenho pra mim que ele arrumou alguma senhorinha nessa vizinhança e está lá se engraçando pra cima dela enquanto eu me mato de trabalhar!

Ok, dramas a parte, é bom que ele esteja se divertindo, ele tem trabalhado muito ultimamente.

— Jungkookie gor-gordinho... — Sentando em uma das cadeiras ao redor da mesa, ele falou baixo, com uma tonalidade diferente na voz. Ele parecia… triste.

Mais que porra foi que eu acabei de ouvir?!

Me virei para ele, o olhando de cima a baixo, encarando seu rosto e logo abandonei o pão que estava segurando. Andei até a mesa e me sentei em sua frente.

— Quem te disse isso? — Perguntei calmo, mesmo que me sentisse incomodado com aquilo.

Poderia ser uma brincadeira, mas ele não tinha aquele mesmo sorriso de poucos minutos atrás, mexia com as mãos e também abaixou a cabeça. E Jungkook não costuma fazer brincadeiras com seu peso.

Eu sabia que não era brincadeira.

— Se não quiser me dizer quem foi, não tem problema. — Sorri, mesmo que ele não tivesse olhando para mim. — E sabe de uma coisa... — Umedeci os lábios, pensando no que iria dizer. Precisava ser cuidadoso com as coisas que falaria — Ser "gordinho" não é uma coisa ruim, quem usou isso para te deixar triste é muito… Ruim, isso. É uma pessoa ruim, muito ruim.

Sim, eu iria falar um palavrão. Mas não na frente dele.

— Não importa se alguém é "gordinho". — Fiz aspas com os dedos, ele me olhou por poucos segundos, mas voltou a abaixar a cabeça. — Se o tom da pele é diferente, se tem sardas, manchas na pele ou qualquer outra coisa que as pessoas julgam ser feio. — Talvez ele não entendesse o que eu falava, mas eu sabia que Jungkook prestava atenção em tudo. — Sabe porque não importa tudo isso?

—Hum-hum — Negou.

— Porque o que realmente importa é o que você é por dentro. — Confuso, ele finalmente me olhou. — Não adianta nada ser uma pessoa bonita por fora e ter um coração ruim, tratar mal as pessoas e usar assuntos delicados para deixar elas tristes. — Sorri para ele, colocando uma de minha mão sobre as suas entrelaçadas e inquietas sobre a mesa.

O medo dele afastar minha mão da sua era grande, mas a única coisa que ele fez foi levantar um tantinho o canto direito da boca; um sorrisinho curto, olhando para qualquer outra coisa.

— Pessoas ruins existem aos montes nesse mundo, Jungkook. — Murmurei, sabendo que o mundo seria cruel com ele, por ser alguém mais especial que as outras pessoas. — Você é especial, não digo isso só por ser autista, está bem? — Ele concordou, sorrindo de um jeitinho que me fez rir também. Seu sorriso era realmente contagiante. — Não se esqueça, você é lindo por fora, é por dentro, de lado, de costas, invertido.— Ele riu, negando e me olhando brevemente, e então desviou o olhar novamente. —  Não importa o que pessoas ruins digam sobre você. Existem pessoas que te amam demais e aceita seus “defeitos” como perfeições menos construídas. Você é bonito de qualquer maneira, magro, gordo, por fora e por dentro.

Não sei de onde saiu tanta inspiração para fazer essa “palestra”, mas o bom é que o fez sorrir. Ele abriu um sorriso emocionado, bonito e, o mais importante, não estava mais triste.

— P-por fora e por dentro? — Perguntou, mordendo o lábio inferior. — Os dois?

— E você é os dois. —Voltei a falar. — Bonito por fora e por dentro, um bom garoto. — Mesmo nervoso, eu disse com sinceridade. — Então, não dê ouvidos para o que as outras pessoas dizem, coma o quanto quiser.

— Tudo? — Ele perguntou, parecendo emocionado com tudo que eu disse.

O que aconteceu com esse garoto, meu Deus? Agora ele me parecia tão… Vulnerável.

— Sim, tudinho. — Soltei suas mãos e me levantei. — Coisas saudáveis, nada de muita besteira, lembra? — Seu sorriso diminuiu um pouco quando eu falei isso.

—Vou comer t-tudinho sim! — Mais calmo, ele bateu palmas e ajeitou sua postura na cadeira, esperando pela sua comida.

— Isso mesmo senhor pequeno príncipe. — Brinquei novamente, tirando um pouco da comida que tinha feito e colocando em um prato para ele. — Então trate de comer toda sua comida e seja um garoto forte.

— Ji...Jimin hyung é forte? — Arregalei minimamente os olhos, colocando seu pratinho de plástico na mesa e sorrindo pequeno.

Foi a primeira vez que ele me chamou pelo nome. Sim, por algum motivo eu sei que essa é a primeira vez que ele diz meu nome.

Não “O hyung” ou “ Hyung” mas sim, “ Jimin hyung” pode parecer bobo, mas eu notei.

— Fortão! — Respondi. — Sabe porquê? — Ele negou, balançando a cabeça enquanto colocava na boca um pedacinho do seu sanduíche — Porque eu como muito, tipo, muito mesmo. Como pra cara- — Pigarreio, me corrigindo. — Como muito para ter muitos nutrientes.

Ele não comeu tudo, mas comeu bem mais do que costuma comer quando faço lanches para nós dois quando estamos sozinhos. A bagunça que ele fazia para comer já era normal para mim, gostava de ver e até limpar tudo que ele sujava. Mas o melhor de tudo foi ver ele mais tranquilo e menos hesitante em colocar uma colher de comida na boca.

[🧚🏻‍♂️📚🍓]

— D-dificil, hyung! — Jungkook resmungou pela milésima vez naquele fim de tarde.

Estávamos fazendo seu dever de casa, ciências não era sua matéria favorita e eu pude perceber isso a um tempo atrás. Células exatas eram difíceis até para mim, por isso sou de humanas.

— Vamos fazer assim.— Comecei a falar, me levantando do sofá e colocando meu notebook ali, sentando ao seu lado no chão. — Você responde todas as que conseguir e…— Apontei para a folha, onde já tinham algumas questões respondidas, poucas delas foram respondidas por ajuda minha. — Amanhã você mostra para o professor Kim as que não conseguiu responder e pede ajuda, tudo bem?

— Aham! — Mais decidido, ele voltou a responder sua tarefa.

Sorri para ele e voltei para onde estava, terminando de fazer o meu trabalho de faculdade. Estávamos sozinhos ainda, senhor Jeon disse que voltaria às nove da noite é que era para eu esperá-lo, para não deixar Jungkook sozinho.

Faculdade é difícil, pensar que ainda faltam mais quatro anos para concluí-la já me dá cansaço. Mas pensar que um dia serei um psicólogo com diploma e bacharelado, é melhor ainda.

Olhei para Jungkook mais uma vez e então lembrei de uma conversa que tive com Jung-hee hoje enquanto Jungkook e seu pai estavam no andar de cima da casa.

—Sabe... — Chamei a atenção de Jungkook — Hoje eu estava falando com seu avô e…

Ele me olhou por poucos segundos e voltou sua atenção para a folha de papel, mas eu sabia que ele estava me ouvindo.

— E ele me contou um segredo. — Falei mais baixo, como se estivesse mesmo falando algo secreto.

— S-segredo? — Colocando o lápis no caderno, ele voltou toda sua atenção para mim. Sorri.

Eu fingia estar desinteressado no assunto, digitando no notebook sem olhar para Jungkook. Talvez se eu não fizesse psicologia, poderia fazer dramaturgia.

— Ele me contou algo sobre você. — Me sentei, colocando o notebook de lado.

— S-Sobre Jungkookie? — Tombou a cabeça para o lado, curioso.

Meu coração deu uma batida diferente. Preciso rever aquilo de estar com algum problema de coração.

— Ele me disse algo muito importante. — Sorri de sua expressão curiosa e, quem sabe, brava por seu avô o expor. — Ele me disse que você tem uma bicicleta...

Como se um botão de aviso fosse ativado dentro de sua cabecinha, Jungkook voltou a me olhar e dessa vez; com os olhos arregalados e uma expressão assustada no rosto.

Certo. Eu não esperava essa reação.

—Disse? —Largou completamente seu dever de casa, parecia meio… Assustado? Não, talvez entusiasmado demais.

—Disse sim. — Afirmei. — Porque você não me contou?

Eu sabia o porquê dele não ter me contado, mas queria que ele me contasse, então, pausei a música que tocava. Ele prefere responder seu dever de casa com música, e eu não sou nem doido de negar algo assim.

Mas agora, nesse exato momento, eu preciso entender mais uma de suas inúmeras inseguranças.

— P-porque... — Jungkook começou a dizer, mas sua voz falhou no meio do caminho.

— Jungkook, pode dizer o porquê. Se quiser, tudo bem? — Voltei a me sentar no chão, na sua frente, incentivando ele a continuar sua fala.— Conversar às vezes é bom.

— Hyung, é q-que... — Soltei uma risada fraca, olhando para seu caderno.

— Da mesma forma que eu te ajudo a fazer todas as suas atividades de casa. — Peguei seu caderno, colocando em meu colo. — Eu posso ajudar você a andar de bicicleta também.

Observei quando Jungkook piscou os olhos um bocado de vezes, talvez tentando entender o que eu tinha falado ou o que eu estava falando. Até ele sorrir.

— O h-hyung não... Não ter- tem vergonha?

Eu, sincera e definitivamente, tive vontade de socar quem o fez ter esse pensamento.

— Vergonha de quê? — Coloquei o caderno na mesinha à nossa frente. Encarando seu rosto despreocupado.  Eu também já sabia do que ele falava. Seu avô me explicou que eu precisava saber.

— De... D-de… — Ele parou mais uma vez, fazendo uma caretinha engraçada e virando o rosto para o lado.

— Pode falar. Somos amigos, lembra? — Ele balançou a cabeça, concordando. — Isso, e amigos podem confiar uns nos outros, lembre-se disso também. — Jungkook respirou fundo, talvez tentando controlar todas as suas emoções ou até mesmo tentando controlar sua fala, procurando as palavras certas.

— O... O h-hyung não tem ver... Vergonha de ficar comigo? — Perguntou, me senti completamente confuso e até mesmo surpreso com sua pergunta.

Eu já imaginava que ele pensava algo assim, mas ouvi-lo dizer com todas as letras, me deixou meio… Sei lá, são emoções um pouquinho desconhecidas.

Jungkook ainda é um livro com muitas páginas em branco para mim, eu tenho vontade de ler todas e desvendar cada coisinha que passa em sua cabeça, tentar entender o que ele pensa ou o que passou para ter esses pensamentos.

Medo ou rejeição à comida, falta de utilização de fala... E agora essa pergunta. Que tipo de ser humano faz algo assim, com alguém como ele? Jungkook é tão ingênuo e ao mesmo tempo tão astucioso, não a nada que passe despercebido por seus olhos, mesmo que ele não os foque em algo em específico.

Apesar de tudo, ele sabe de muita coisa que pode fazê-lo ter pensamentos ruins comtra si mesmo, como perceber o incômodo de certas pessoas ao estar junto de pessoas como ela, e também o preconceito que corre solto por aí. Pessoas como ele, sentem tão intensamente quanto não sentem nada, e também, podem sofrer intensamente.

Nós, seres humanos em geral, já levamos nossos traumas e acontecimentos ruins por toda a nossa existência, bem no fundo da cabeça. Imagina alguém como ele que, querendo ou não, a cabeça funciona de uma maneira um pouquinho fora do usual e, quando algo de ruim acontece, armazenam com mais intensidade aquela ocasião?

Saber que alguém lhe fez mal, me deixa muito irritado.

Penso que alguém muito ruim já ficou com Jungkook, cuidou ou foi pago para cuidar e não cumpriu essa tarefa muito bem. Sua mãe com certeza trabalhava com alguma coisa, Junghyun não é muito presente em casa, senhor Jung-hee me disse que mal via o menino antes de vir para Seul. Isso não vai sair da minha cabeça até eu descobrir quem deixou Jungkook tão inseguro assim.

— Quem teria vergonha de andar de bicicleta com você? — Sorri, tentando parecer tranquilo. — Pois sabia que eu vou ficar muito feliz quando for te levar pra andar de bicicleta por aí.

— P-por aí? — Juntou as sobrancelhas, olhando para suas mãos que se moviam.

— Mas é claro, o quintal da sua casa é muito pequeno. — Apontei para fora. — Ou você quer ficar aqui?

— Não.

— Que tal... — Comecei a pensar em algo que ele fosse gostar, um lugar que deixasse Jungkook confortável, sem muito barulho ou pessoas. — Que tal andar de bicicleta no parque Yeouido² amanhã?

— A-amanhã? — Ele perguntou um tantinho animado. — Hyung... J-jungkook, eu... E-eu não-

— Não sabe pedalar? E o que isso tem haver? — O interrompi, dando de ombros logo depois. — Eu te empurro, ué.

O sorriso que ele abriu, iluminou aquela tarde meio escura.

— Sério? — Ele me olhou mais uma vez, talvez fosse a segunda vez no dia que nossos olhos se encontravam, mas os seus brilhavam tanto que chegavam a parecer estrelas em um universo inteiro. — Não... N-não atrapalha?

Jungkook parecia estar emocionado. Eu quis abraçá-lo, minha nossa, como eu quis.

— Claro que não atrapalha, seu bobo. — Meio incerto, levei minha mão até seu cabelo, balançando os fios grandes que já estavam chegando em seus olhos. Ele apenas deu um sorrisinho, balançando a cabeça e depois pegando seu caderno na mesinha.

— Jungkookie v-vai sair. — Ele cantarolou baixinho, pegando o lápis e começando a responder suas atividades— Vai sair pro p-parque. — Dei uma risada curta e balancei a cabeça concordando com ele, dando play na música mais uma vez e sorri ao ver qual era. "Fire on Fire" de Sam Smith. Gosto dessa música, me indentifico ás vezes.

"And look in my eyes
Olhe nos meus olhos"

Como se entendesse o que dizia na música, Jungkook tirou sua atenção do caderno e me olhou, ainda sorrindo, me encarando diretamente nos olhos.

Ele me olhou, pela terceira vez naquela tarde, diretamente nós olhos.

"You are perfection
Você é perfeição. "

Como de costume, nossos olhares não duraram mais que dois segundos, mas foi o suficiente para me fazer sentir algo… diferente.

"My only direction
Minha única direção."

Suspirei, pegando meu notebook e terminando o que ainda tinha que fazer.

Direção...  Eu ainda não tinha uma. Não tenho uma certeza definida para meu futuro. Mas, neste momento, fazer companhia para Jungkook e voltar para casa no final da noite, são as únicas certezas que eu tenho agora.

E trabalhar na livraria do senhor Jung-hee, é claro.

—Hyung? — Jungkook chamou um tempo depois, quando já estava tocando outra música de sua playlist e eu já tinha terminado minhas atividades.

— Hum? —O olhei, rindo fraquinho ao ver o caderno na frente de seu rosto. —Pra ver se tá certo?

— S-sim! — Estendeu o caderno em minha direção. — Fez tudinho.

Peguei e olhei todas as questões respondidas, pelo pouco que eu sei sobre números, estavam todas corretas. Ele conseguiu responder sete das dez questões de Ciências Exatas em menos de uma hora sentado ali, sem muita explicação ou ajuda minha. Jungkook fez tudo sozinho.

— 'Ta certinho! — Entreguei o caderno de volta para ele, tirando meu notebook das pernas e me sentando no sofá — Quantas não conseguiu responder?

Ele levantou a mão, me mostrando três dedos.

— Viu só? Você conseguiu responder sete das dez que tinha! — Falei orgulhoso, me levantando do sofá e sentando no chão mais uma vez.

— É m-muito? —Perguntou, pegando sua mochila no chão e começando a colocar suas coisas lá dentro.

— É muito! Você fez tudo praticamente sozinho. — Ajudei Jungkook a organizar tudo, e então, lembrei de algo que tinha trago para ele. Esperei ele terminar de arrumar tudo para pegar o negócio na minha mochila, em cima  do sofá.

— Jungkook! — Chamei por ele, já me levantando. Peguei meu notebook, colocando ele na bolsa.

— Sim? — Ele veio rapidamente, se sentando ao meu lado e olhando para algum lugar, as mãos entrelaçadas em seu colo e uma das pernas balançando de um lado para o outro.

— Você lembra daquele filme que a gente viu? — Peguei minha mochila, colocando ela no colo e abrindo.

— O-os... Vinga... V-vingadores? — Olhou curioso para mim, especificamente para minha mochila, tentando entender o que eu estava fazendo.

— Não, não. Aquele outro. — Procurei pelo livro que tinha colocado ali.

— T-tinker bell?

Não tenho nada a comentar sobre isso, é só um dos filmes favoritos de Jungkook e ele praticamente me obrigou a assistir as fadinhas. — O "obrigou" é porque por algum motivo eu não consigo dizer "não" a ele.

Eu também gosto do filme, confesso.

— Não, não. — Sorri, ele provavelmente não lembraria do filme já que assistimos muitos nesses três meses que ficamos juntos. Muitos não, seis se eu não me engano. Mas, então lembrei de uma cena que provavelmente ele lembraria.

—Aquele que o garoto toca no outro com a boca. — Falei e Jungkook me olhou ao se lembrar do filme. Seria muito mais fácil eu falar que era o filme que seu professor tinha indicado, mas não seria divertido se eu fosse tão direto.

— C-com amor, Simon? — Olhando para o lado, ele perguntou.

— Isso mesmo! —Sorri quando finalmente achei o livro dentro daquele buraco negro que era minha mochila. — E sabe de uma coisa que te prometi a algum tempo atrás? Então, tá aqui. —Tirei o livro, abrindo o sorriso mais ainda quando ele arregalou os olhos já naturalmente grandes.

— Hyung! — Como se tivesse visto a coisa mais linda do mundo, Jungkook se aproximou mais de mim, e com cuidado, pegou o livro da minha mão, olhando para ele.

— Eu tinha esquecido de trazer antes. — O encarei, vendo seus olhos brilharem. — Gostou?

— É... D-de Jungkook? — Me olhou de um jeito engraçado, com um olhar pidão de cachorrinho abandonado na mudança.

— Claro que não. — Peguei o livro de sua mão, com muito cuidado para não o assustar. — Eu trouxe pra gente ler junto — Sorri, vendo o biquinho crescer em sua boca — Ele foi caro, quando eu tiver dinheiro, compro um para você.

Ironicamente estamos dentro da livraria de seu avô.

— Hyung... — Desmanchando o bico emburrado, Jungkook olhou para baixo. — N-não! — Negou balançando a cabeça para os lados.

— Ah, qual é?— Ri de sua ação, tentando o tranquilizar. — Eu posso... Te dar como presente, o que acha?

— Presente?

— É! — Afirmei — Quando é seu aniversário? — Ele ficou calado por alguns segundos, até levantou a mão a altura do rosto e contou nos dedos para lembrar a data certa. Eu fiquei apenas observando, tentando ficar sério mesmo que um sorriso insistisse em aparecer.

— Se... Setembro. — Ele disse depois de um tempo, me fazendo sorrir ainda mais. — Dia um.

— Ok! — Coloquei o livro no sofá. — Dia primeiro de setembro você vai ter seu livrinho.

— Fa-falta muito?

—Só quatro meses, pouquinho. —Tentei falar de uma maneira que passasse a entender que sim, faltava pouco tempo, mesmo que ainda faltasse algum tempo para seu aniversário. Isso significa que eu tenho tempo para pensar em algo especial para dar para ele quando o dia chegar.

— Quer começar a ler ele comigo agora? —Peguei o livro mais uma vez, balançando entre nós dois.

Com um sorriso pequeno, Jungkook olhou para mim, para o livro em minhas mãos, e depois para algum lugar da sala.

E então respondeu: — Sim, hyung!

[📚🧚🏻‍♂️🍓]

—Jungkook! —Gritei do andar de baixo, esperando ele descer.

Já eram quase nove da noite e ele precisava comer, normalmente ele diz que não tem fome e costuma dormir sem colocar qualquer outra coisa na boca.

Mas hoje, ele pediu, falou que sentia fome e queria comer alguma coisa antes de continuar nossa leitura.

Seu avô ainda não tinha chegado. Então estávamos sozinhos ainda, Jung-hee disse que estava com Junghyun no hospital e que voltaria junto com ele, já que não teria plantão para o médico e que sairia daqui a pouco.

Eram 19:23 da noite quando ele me mandou a mensagem. Agora, já são 20:45 horas, esse “daqui a pouco” ta demorando pra cacete.

Mas não tem problema, Jungkook é de longe uma das melhores companhias que existe nesse mundo.

Jungkook queria comer algo. Eu estava feliz, tipo, muito feliz. Ele nunca pediu para comer antes, apenas comia no horário que seu avô chama. — Além de pedir o docinho da frutinha vermelha, ele faz questão de lembrar que precisa comer ela todas as quartas-feiras. 

—A comida vai esfriar se não vier logo. — Me sentei em um dos degraus da escada, esperando por ele. Eu estava começando a ficar preocupado, ele não costuma demorar tanto assim para tomar banho e se trocar.

—Jungkook…— Soltei o ar aliviado quando escutei seus passos descendo as escadas, me levantando com os braços cruzados. — Ainda bem, que demora, hein?

— P-prendeu. — Ele disse quando já estava próximo.

— O que prendeu?

— Braços, p-prendeu eles no... Monetom. — Mordi o lábio inferior tentando conter uma risada quando entendi o que ele tinha falado.

— Moletom, Jungkook. — Corrigi, vendo ele dar de ombros e empinar o nariz. — Seu pijama é bonito. — Elogiei. Eu sabia que ele não gostava de ser corrigido, então um elogio pudesse amenizar a situação.

Ele balançou a cabeça, concordando.

—O que acha de uma sobremesa também? — Ele parou no mesmo momento, virando para mim e piscando os olhos algumas vezes. — Gosta de bolo?

— Aham!  — Andei até ele em passos lentos, passando em sua frente e caminhando até a cozinha.

—Eu estava olhando em um dos livrinhos que comprei um dia desses. — Comecei, esperando que ele chegasse e logo ele apareceu na cozinha— Tava pensando em tentar uma receita nova, quer ser minha cobaia?

— C-co...Cobaia? — Perguntou confuso, sentado em uma das cadeiras ao redor da mesa.

— Quer ser o primeiro a experimentar? — Simplifiquei a frase, colocando um pouco de comida para ele comer. Como tinha sobrado comida do almoço, eu aproveitei e esquentei para nos dois. O bolo seria uma boa sobremesa.

— Bolo de chocolate — Voltei a falar, entregando seu prato e vendo ele começar a comer.

— Eu gostar. —Ele falou com as bochechas infladas por conta da comida que tinha na boca, poderia sim ser uma cena um pouco nojenta, mas com ele fazendo ficou incrivelmente fofa.

Jungkook é… Fofo. Eu sei que digo muito isso, mas ele realmente é um garoto fofo.

—Eu sei. — Sorri. — Me diz um doce que você não goste? — Provoquei um pouco, sorrindo de sua expressão indignada.

— Doce de m-milho. — Respondeu.

Eu tive que protestar.

— Doce de milho é um dos únicos doces que eu como. Já comeu o bolinho? Nossa, é uma delicia! — Olhei para ele. Jungkook continuava a comer de forma tranquila, vez ou outra batendo a colher sem querer em seu prato, ele pareceu não ter reação alguma para o que eu disse, até ouvir sua voz.

— Hyung... Tem gosto ruim. — Como se não fosse nada, ainda falou isso.— M-milho é ruim.

Ele gosta de mostarda, odeia banana e tomate e ainda come pizza de brócolis e ainda quer comentar sobre gostos ruins?! Qual é?!

— O que? — Lhe encarei com as sobrancelhas franzidas— Milho é uma delícia, Jungkook! — Neguei com a cabeça, indignado. — O mingau é bom, o doce, milho assado...

— A-assado? — Dessa vez ele quem pareceu indignado, largando a colher no prato. — D-deve ser ho... Horrível!

— Eu não vou discutir com você. — Dei de ombros, não me importando muito com a risadinha que ele deu. — Mas o doce é bom sim.

Comemos em silêncio como sempre, terminei primeiro que Jungkook e fui ver se tinha todos os ingredientes que precisava para fazer o meu primeiro bolo de chocolate. Pelo que a receita dizia, levaria menos de meia hora para preparar e aproximadamente meia hora para assar também. Voltar um pouquinho mais tarde para casa não faz mal.

— Jungkook! — O chamei, negando com a cabeça e sorrindo quando vi boa parte de seu rosto sujo, tirando a colher da boca.

— Hum?

— Você... — Comecei batendo os ovos com um batedor. Fiz tudo manualmente, já que o barulho da batedeira poderia incomodar seus ouvidos. —...Tem celular? — Decidi fazer uma pergunta que queria fazer há algum tempo. Eu sabia que ele tinha. Mas nunca tive a oportunidade de pedir seu número. Faltava coragem.

— P-porque, hyung? — Enfiou mais uma colherada de comida na boca, derramando um pouco do Bibimbap pelas bordas do prato.

— É que a gente podia conversar pelo celular, às vezes…— Olhei para ele, vendo suas sobrancelhas juntas e a expressão confusa no rosto,  até parar de mastigar ele parou.

Peguei a forma que já tinha espalhado a manteiga nela, aquele processo que eu esqueci o nome. No livro de receita diz que ajuda para o bolo sair mais fácil, sem ficar rachado e essas coisas.

— Pelo c-celular?

— Sim. Como você faz como seu pai e avô, sabe? — Peguei a massa já pronta, 'tava bonita demais, nem parecia que foi eu quem tinha feito. — Por mensagem ou ligações, tipo... Você lembra de quando atendeu o celular do seu pai e falou comigo?

— Sim! — Deu uma risadinha. — A voz do hyung era e-engraçada.

— A sua também ficou! — Apontei, sorrindo também.

— P-parecia... Um rosbo — Jungkook falou voltando a mastigar, me olhando sem entender do porquê da minha risada alta. Ás vezes eu não consigo segurar, é tão bonito o jeito que se esforça para acertar as palavras que chega a ser engraçado.

— É só me dar seu número. — Falei, recuperando o fôlego.

— T-trinta e oito. — Respondeu com tranquilidade, me arrancando mais uma risada.

Eu nunca paro de rir quando estou com ele. É impossível não sorrir quando ele faz algo assim.

— Não o número dos seus sapatos! — Neguei com a cabeça. — O seu número de celular, assim a gente pode se falar quando quiser.

— Falar com o hyung t-todo dia? — Ele perguntou, abandonando a colher sobre o prato. — Até final de s-semana?

— Não precisa ser todo dia…  —Coloquei o bolo no forno, sorrindo quando me virei para ele — sempre que quiser falar comigo, vou estar lá para ouvir. — Ele ficou quieto por algum tempo, olhando para os lados, pensando.

— Espera hyung! — E então abriu um sorriso, levantando da cadeira e saindo da cozinha.

Eu fiquei alguns segundos tentando entender o que ele iria fazer, então só desisti de pensar e comecei a lavar tudo que tinha sujado. Quando acabei, comecei a me preocupar com a demora de Jungkook, mas decidi deixar de lado já que ele poderia estar no banheiro.

Me sentei em um dos banquinhos do balcão e suspirei cansado, não eram nem dez da noite e meus olhos já pesavam de sono. O dia foi tranquilo, Jungkook estava calmo, tinha feito todas as minhas atividades da faculdade e até fiz um bolo, hoje foi um bom dia. Só faltava esperar Jung-hee e seu filho chegar e então voltarei para casa e tirar uma boa noite de sono.

Isso é, se meus pesadelos não voltarem a ser frequentes. Que, infelizmente, é o que aparenta estar acontecendo.

Me assustei com o barulho do meu celular tocando, indo até a sala e o pegando no sofá. Sorri quando vi o nome de Taehyung brilhando na tela.

— Oi, Tae! —Atendi, me sentando no sofá. — Quer que eu leve o que dessa vez?

Credo, que mal humor é esse? — Perguntou se fazendo de sonso, mas eu sei que ele tinha ligado para pedir alguma coisa.

— Você nunca liga, quando quer conversar, só manda mensagem. — Soltei uma risada quando ele resmungou baixo — Ou vai pedir alguma coisa, ou vai avisar.

É... — Disse meio incerto. — Porcaria de melhor amigo que me conhece bem. — Resmungou.

— Desembucha! — Insisti. — Preciso desligar logo.

Me sinto abandonado!  — Fez drama. — Queria meu melhor amigo de volta, oh! que tristezaaaaa! — Prolongou as palavras. Balancei a cabeça e soltei uma risada.

Ele é tão dramático que me assusto às vezes.

— Cadê Yoongi? — Perguntei, Taehyung parou de fazer seus barulhinhos dramáticos então me respondeu.

Está no banho — disse  tranquilo, enquanto eu só comecei a tossir por ter engasgado com minha saliva.

— Então é isso! — Falei depois dee recuperar — Você só ligou pra falar que Yoongi vai dormir ai, acertei?

Era sempre isso, quando eu arrumava algum trabalho para fazer, seja garçom ou qualquer outra coisa que rendesse dinheiro e acabava chegando tarde em casa. Taehyung sempre ligava todo carente só para dizer que Yoongi dormiria lá, isso já vem acontecendo há quase dois anos.

No dia do aniversário de Yoongi eu quase não consegui dormir. Eles passaram a noite toda ouvindo música perto do meu quarto e rindo sobre algo! Claro, eu participei um pouco, mas depois fui tomar meu banho e ir dormir. Se eles me deixassem, seria legal, mas não foi bem o que aconteceu.

De vez em quando eu penso que não foi lá a melhor ideia do mundo quando decidi dividir um apartamento pequeno com meu melhor amigo quê, alguns anos depois, arrumou um namorado que praticamente mora lá também.

Jimin me conhece tão bem, ai, ai. — Disse tranquilo —Vai chegar que horas hoje? Já está tarde hein, tarde mesmo.

— Porque quer saber? — Perguntei desconfiado.

Hum... Para saber até que horas podemos fazer barulho e não atrapalhar seu precioso sono!  — Respondeu descaradamente. — Meu hyung é muito trabalhador, tem que ter um sono tranquilo!

— Seu…  — Interrompi a mim mesmo, lembrando que Jungkook ainda estava acordado — Seu sem vergonha. Vai passar a noite toda vendo a bunda murcha de Yoongi? — Perguntei baixo.

Não só vendo, mas comendo também. — Respondeu, me fazendo revirar os olhos e fazer uma careta — Bem que você queira passar a noite toda vendo a bunda de alguém, né não? —Me provocou, sabendo da seca que eu estava.

Filho da puta descarado!

— Que se foda. — Sorri, negando com a cabeça. — Eu não sei que horas eu chego. —Respondi à pergunta que ele tinha feito anteriormente — Talvez as onze, só estou esperando meu chefe chegar para eu poder ir.

Beleza! — Respondeu rapidamente, me deixando confuso com sua movimentação. — Até amanhã, Jimin-ah! — E desligou.

— Sem noção. — Sorri sozinho, me encostando no sofá e soltando o ar devagar.

Juntei as sobrancelhas e olhei a hora em meu celular, já estava passando do horário de Jungkook dormir, ele também não tinha descido depois que sumiu. Fiquei preocupado.

— Jungkook? — Chamei subindo para o andar de cima, soltando o ar aliviado quando ele apareceu no alto das escadas. — Que demora, fiquei preocupado.

— P-perdão, hyung! — Pediu envergonhado. — Não achava o... Celular — Deu de ombros, parando quando já estava perto de mim, estendendo o celular em minha direção.

— Tudo bem! — Segurei o aparelho, indo para a livraria e sendo seguido por ele, sentamos em uma das mesinhas que tinha por ali. O local era sempre aconchegante, mesmo à noite.

Desbloqueei a tela do seu celular — Que não tinha senha alguma — E sorri ao ver o wallpaper de Jungkook, era uma foto dele, de seu pai e do avô, os três sorrindo.

Eu os admirava. Eram, sem sombra de dúvidas, a família mais bonita e unida que já vi.

— Como quer que eu me adicione?

— Hã? — Franziu as sobrancelhas, balançando a perna.

— Como quer que fique meu nome? — Perguntei mais uma vez.

Ele fechou os olhos, cruzando as pernas em "posição de índio" e ficou alguns segundos pensando, até sorrir fraco e abrir os olhos.

H-hyung fadinha.

Talvez eu tenha parado de respirar. Uma sensação estranha no peito que eu identifiquei ser infarto, cheguei a gritar internamente para Junghyun chegar mais cedo e me salvar de uma profunda e dolorosa morte, causada pela doçura em excesso do próprio filho.

Isso não se faz, Jungkook!

— C-certo. — Foi o que eu disse, pegando meu celular e procurando meu número. Eu sou péssimo para decorar números, ainda mais o meu próprio.

Eu não entendia porque estava tremendo como se tivesse levando um choque, mas precisei apagar o número inicial umas três vezes só por errar e colocar outro. Era uma mistura engraçada de sentimentos.

— Pronto! — Entreguei o celular para ele — Sempre que quiser falar comigo, é só me chamar.

— Hyung fadinha! — Repetiu, olhando para a tela do celular, que tinha a luz reduzida. Colocando a mão na frente da boca, escondendo seu sorriso.

— Engraçadinho. — Fingi não sentir nada diante daquela situação, me levantando e esperando ele fazer o mesmo — Vamos ver se o bolo tá pronto.

Eu estava me saindo bem nesse negócio de cozinhar, sinceramente, eu gosto. Gosto de cozinhar porque desestressa em algumas situações, isso virou uma coisa que eu gosto de fazer — Às vezes eu fico testando receitas em casa nos finais de semana, pensando que terei momentos longos a sós com Jungkook e fazendo comidas para ele comer, assim como estamos tendo agora.

É um hábito estranho para quem acabou de se tornar amigo? Provavelmente, mas não me importo.

Ouvir músicas, ler, cozinhar, estudar. São coisas que, agora, eu sempre faço tranquilamente, depois que comecei a trabalhar aqui, minha vida ficou cada vez melhor.

— Olha! — Sorri para Jungkook e coloquei o bolo no balcão. — Ficou ótimo!

— Cheiro bom! — Ele falou com os olhos fechados, respirando fundo, sentindo o cheiro achocolatado.

Eu não comeria aquilo, Junghyun se daria bem com meu bolo gostoso. Já que Jung-hee  provavelmente  tem diabetes ( é errado da minha  parte dizer que um senhor de idade tem diabetes? Por que, se for, peço desculpas desde já) e creio que ele não comeria, e bem... Jungkook não pode comer muito doce, mas uma fatiazinha não o faria mal.

Certo, se Yoongi ver isso, eu estou eventualmente morto.

— Hyung, dá? — Perguntou apontando para o bolo, pedindo um pedaço.

— Não sei se…— Parei de falar quando ouvi um barulho vindo da sala. Era a porta se abrindo. Arregalei os olhos e corri da cozinha, eu sou meio cagão confesso, achei que fosse algum ladrão ou coisa do tipo, mas era só Junghyun com Jung-hee.

Junghyun com Jung-hee?!

Junghyun com Jung-Hee!! E tem a porra de um bolo na cozinha com Jungkook faminto e pedindo por ele?! Eu estou MORTO!

— J-Junghyun?! — Falei quando o vi fechando a porta. Eu só consegui focar no pai de Jungkook.

Ok, talvez eu tenha dito alto demais.

O bolo! Se ele souber que eu iria dar uma fatia daquele bolo para Jungkook antes dele dormir, arranca minha cabeça com seus bisturis. Na verdade, ele arrancaria minha cabeça com suas agulhas.

Eu estou morto.

— Boa noite, Jimin! — Ele sorriu quando me viu.

— Papai! Vovô! —Antes que eu pudesse responder, Jungkook apareceu na sala correndo até seu pai e seu avô, os abraçando. Eu fiquei observando os três.

Cheguei a pensar em como seria se meu pai fosse como Junghyun, digo, carinhoso da mesma forma que ele é com Jungkook. Talvez eu não teria saído de casa e muito menos estaria morando com meu melhor amigo nem conheceria Jungkook, seu pai e seu avô.

Ok, essas últimas partes me deixaram bem pensativo. Eu amo morar com Taehyung, mesmo que ele faça algumas coisas estranhas junto de Yoongi? Sim, mas eu amo morar com ele mesmo assim.

E bem… Conhecer os Jeons está sendo uma das melhores experiências que eu já tive na vida, não ter conhecido eles seria quase que a pior coisa que poderia me acontecer.

Sinceramente? Eu não me importo mais com isso, sequer tenho vontade de falar com aquele homem, e como ele diz, pedir desculpa por toda a "confusão" que eu fiz. Idiota. Tenho pessoas legais ao meu redor.

— Boa noite, Jungkookie! — Meu chefe falou segundos depois que Jungkook o abraçou, sorri pequeno diante daquela cena.

— B-boa noite, Vovô!— Ouvi um suspiro vindo dos dois, segurei uma risada. — Papai chegou cedo!

— As coisas estavam tranquilas no hospital. —Respondeu, franzindo o nariz e fazendo uma caretinha engraçada. — Que cheiro é esse?

Porcaria...

É agora que eu apago tudo o que eu falei até aqui e, depois da humilhação que Junghyun vai me fazer passar, sair por aquela porta e nunca mais voltar.

Tchau, senhor Jung-hee, você foi o melhor chefe que já tive!

— Bolo! —Jungkook fez a graça de responder. — Hyung q-que fez.

Tchau, livraria, foi muito bom trabalhar aqui!

— Fez bolo, Jimin? — Me olhou, sorri forçado e balancei a cabeça concordando. — Jimin...

— E-eu fiz para vocês comerem no café da manhã. — Falei rápido, olhando para Jungkook e arregalando os olhos quando percebi que ele falaria mais alguma coisa. Porém ele também me olhou, e quando percebeu meu desespero — Eu acho. —, se calou.

Tchau, Jungkook, você foi o…

— Sério? — Junghyun perguntou mais tranquilo. — Eu agradeço, bolo de chocolate é um dos meus favoritos.

Espera aí, o quê?!  Eu fiz esse drama por nada?!

Ok, apague todos os “Tchaus” que dei até agora. Não tem despedida nenhuma! O pai de Jungkook adora bolo de chocolate!

 Suspirei aliviado, colocando a mão no peito.

— Não sabia que você cozinhava tão bem, Jimin-ah! — Jung-hee disse, indo até a cozinha. Nem eu. — Que cheiro delicioso!

— Obrigado por ficar com Jungkook até agora e por fazer o bolo de chocolate, Jimin. — Junghyun disse, abraçando Jungkook pelos ombros. Sorri.

Meu Deus do céu, eu quase tive um piripaque causado por um médico. Quero dizer, pelo meu medo do médico.

Porque eu tenho medo desse cara mesmo?

— Como sabe que é de chocolate? — Decidi mudar de assunto, vendo Junghyun tirar seu jaleco branco e pendurar nos ombros. Que homem lindo. Jungkook tem a quem puxar.

A genética dessa família é insuportável de tão boa. Se Junghyun tivesse outro filho, daria super certo de serem dois modelos internacionais famosos e bem sucedidos.

Ok, viajei legal agora.

Jungkook pode ser modelo internacional famoso e bem sucedido sozinho também. Bonito desse jeito e ainda… Quero dizer, porque eu to falando disso?!

— Esse cheirinho é inconfundível. — O médico pai de filhos bonitos disse, sorri concordando, mesmo não gostando de bolo.

Eu preciso parar de enfatizar o fato de que Jungkook é bonito.

— O hyung... Fez bolo. — Jungkook falou indo até a cozinha, seu pai soltou uma risada fraca e o seguiu, assim como eu.

— Você não deveria estar dormindo, filho?

— Jungkook e hy-yung ia ler, papai. — Respondeu, sentado nos banquinhos do balcão, Junghyun sorriu e acariciou os cabelos de Jungkook, bagunçando eles.

— Não quero que você fique com o sono desregulado. — Beijou a cabeça do filho. — Vá dormir, amanhã você e Jimin podem ler quantas livros você quiser. Não é, Jimin?

Limites Junghyun, por favor...

— Claro! — Sorri para os dois, colocando o bolo já desenformado na geladeira.

Jungkook ficou uns minutinhos sem responder, apenas aproveitando a presença do pai. Mas logo concordou com a cabeça e levantou do banquinho que estava sentado, beijando a bochecha do pai e sorrindo para ele.

— V-vou dormir. — Jungkook avisou, sorrindo para mim. — Boa noite, Hyung! Boa noite, papai! B-boa noite, vovô! — Ele se curvou, eu fiquei até mesmo sem palavras para o quão agitado e animado ele ficava na presença de sua família.

— Boa noite, filho.

— Boa noite, Goo! — Respondeu, Jung-hee.

— Durma bem! — Acenei para ele.

Uma sensação gostosinha se apossou do meu peito, era tão bom estar no meio daquelas pessoas.

Depois que Jungkook saiu, Junghyun e Jung-hee ficaram em silêncio, olhando para alguma coisa e sorrindo de uma forma boba. Fiquei confuso, mas tratei de organizar minhas coisas e ir para casa.

— Vou acompanhar Jungkook,  até amanhã Jimin-ah! — Meu chefe sorriu, se despedindo de mim. Mas  Junghyun quando me dirigi a saída.

— Ele está tão bem. — Junghyun disse depois de um tempo. — Até um beijo na bochecha ele me deu...

— O quê? — Perguntei me sentando à sua frente, tentando entender o que ele falava.

— Jungkook. Raramente ele me beija. — Soltou um suspiro curto.

Ok, isso foi estranho.

— Oh... — Foi tudo que eu soube dizer, abaixando a cabeça e tomando coragem para falar com ele sobre algo que já até havia me esquecido.

— Hoje, quando YoonJoong falou que eu não teria turno hoje, tudo que eu consegui pensar foi em passar mais um tempo com ele. — Abaixei a cabeça, ouvindo tudo que ele falava. — Mas uma cirurgia apareceu e eu tive que demorar mais um tempo lá.

— Entendo...

Não entendo porra nenhuma, mas é bom fingir que sim.

—Você acha que sou um pai ausente? — Perguntou do nada, me deixando nervoso já que eu não saberia como responder aquela pergunta. Eu nunca falei com Junghyun assim. Estava nervoso. — Eu sinto que deveria estar mais presente em sua vida... Acho que estou perdendo algo, sabe?

Eu queria saber o que deu nele para começar a desabafar assim do nada. Mas eu não o julgo, às vezes ficamos sobrecarregados demais e precisamos conversar com alguém que queria nos ouvir.

Eu quero o ouvir. Estou estudando para isso e eu quero isso, afinal.  Será bom para me aproximar dele, já que nunca falei tanto com esse cara como estou falando agora.

— Você é o pai mais dedicado que já conheci. — Olhei para seu rosto, vendo a expressão de culpa ser suavizada. — Junghyun, mesmo sendo um médico tão bom no que faz, você tira tempo para ficar com seu filho. Jungkook com certeza sente sua falta de vez em quando, mas entende que você é uma pessoa importante e que salva vidas, ele tem orgulho de ter um pai tão incrível e... Carinhoso como você. — Sorri, tocando minimamente seu ombro.

— Oh… Minha nossa, obrigado! —Tocou meu ombro também. — Muito obrigado! — Sorriu, me deixando calmo.

Eu estava melancólico, meio triste até. Não suportava ver alguém tão incrível como Junghyun se martirizando, é inaceitável. Porém, eu precisava falar de uma coisa com ele e não podia mais demorar.

— Junghyun... — Chamei sua atenção, vendo um sorriso pequeno crescer na boca do meu chefe. — Eu preciso falar com você, é algo que eu tenho pensado a um tempo e...

— Pode falar. — Me interrompeu.

Certo, Jimin, não seja um frango.

— Jungkook melhorou bastante desde que vocês se mudaram para cá, como você mesmo me disse. — Comecei ignorando complementar meu nervosismo. — Eu estava pensando, como era Jungkook em sua antiga escola? Ele tinha amigos? Talvez sinta falta deles e…

Ok, eu tava jogando verde pra colher maduro, já que sabia que Jungkook nunca foi a uma escola ou coisa do tipo.

— Jungkook nunca pisou em uma escola depois que foi diagnosticado como autista. — Eu já sabia disso, mas me fiz de sonso para tentar entender o porquê dele ter sido privado de uma vida social. Então Junghyun voltou a falar: — Seohyun era professora em Busan. Com muita luta conseguimos a autorização do governo para que Jungkook estudasse em casa todos os conteúdos que eram passados na escola. Um amigo nosso é um policial formado em pedagogia também, então ele ajudava Seohyun, ia sempre lá para casa para ajudar minha esposa no aprendizado de Jungkookie, fora eles dois, Jungkook nunca teve amigos, colegas de classe ou professores diferentes.

Que coisa de gente estranha.

Junghyun não é estranho, mas a mãe de Jungkook é definitivamente uma estranha.

— Ele sempre ficava em casa? — Depois de um tempo absorvendo aquela informação, eu perguntei desacreditado.

— Não sempre, eu levava ele para o hospital sempre, também tinha suas sessões no psicólogo e eu gostava de levar ele para passear na praça perto da nossa casa. — Sorriu, provavelmente lembrando daquela época. — Ele sempre gostou de andar de bicicleta. Ele sempre foi… Sozinho, sabe? Eu fui um pai ausente na sua infância. Por isso estou tentando mudar isso agora.

Uma coisa que me deixou intrigado foi o fato de Junghyun nunca citar sua esposa em todas essas coisas que ele falou, além dela ser mãe e professora de Jungkook, eles não se divertiam juntos? Eu queria perguntar, mas tinha algo mais importante para ser falado.

Além de que não é da minha conta toda essa história. A mulher morreu, nem tem como perguntar pra ela também.

— Eu vou ser direto. — Lambi meus lábios, olhando para Junghyun e falando: — Nunca pensou em contratar um professor particular para Jungkook?

— Está falando de tirar Jungkook da escola? — Neguei com a cabeça rapidamente. — Olha aqui, Jimin…

—Não, não é isso! — Sorri, tentando ficar tranquilo. — Deixar Jungkook na escola é muito importante para ele aprender a socializar um pouco, acostumar com a presença de muitas pessoas, mas... Um professor só para ele, que esteja focado em ajudar ele a desenvolver todas as coisas que ainda tem para ser desenvolvidas...

— Acho que entendo o que você quer dizer com isso. — Me olhou, ele tinha uma expressão séria no rosto agora.

Que medo do caralho.

Esse cara tem puros 1,90cm de altura e de muita intimidação.

— Jungkook aprende rápido, ele conseguiu responder sete de dez questões bastante difíceis sem muita explicação. — Tentei o convencer. — Eu tenho alguém muito confiável para indicar.

Ok. Está indo tudo bem. Melhor do que eu imaginei.

— Hum... Eu não sei, Jimin...— Coçou a nunca, meio incerto.

— Ele é um grande amigo meu, é um profissional muito qualificado! — Voltei a insistir. — E também ele é habituado a esse tipo de coisa, ele estudou para isso.

— Como assim?

— Ele estudou para esse tipo de coisa, sabe? Pais que não sabem como ajudar seus filhos a aprenderem coisas que a escola não ensina. — Eu espero que essa frase não tenha soado tão ruim para Junghyun quanto foi para mim. Mas a cara que ele  fez foi muito estranha, então acho que ficou meio esquisita para ele também.

Eu sou muito burro, não é possível que não consigo falar uma coisa coerente nessa vida.

— Ele ajuda pessoas neurodivergentes, Junghyun... Na realidade, ele é um fonoaudiólogo, mas também é especializado em libras e tudo mais. Ele… Ele pode ajudar Jungkook a ser ainda mais comunicativo do que ele está sendo.

Ele mordeu o lábio inferior, olhando para algum lugar e então balançando a cabeça, concordando comigo.

— Ele é seu amigo?

—Sim! — Confirmei com convicção.

— Então fale para ele me encontrar amanhã no hospital. No horário da tarde. — E sorriu para mim. Por fora, eu apenas concordei e sorri para ele. Mas por dentro faltei pular de alegria, gritat e surtar.

Que felicidade! Não sou tão burro como pensei, afinal.

— Quando meu pai falou que precisava de ajuda aqui na livraria, eu hesitei por pensar na segurança de Jungkook. Por medo de quem quer que fosse que meu pai contrataria fizesse mal ao meu filho — Ele começou a dizer do nada, me deixando apreensivo. — Quando ele disse que contrataria alguém tão novo como você para trabalhar, fiquei ainda mais desconfiado, os jovens de hoje em dia são muito difíceis de se confiar, Jimin. Mas agora vejo que meu pai estava certo em contratar você. Obrigado por cuidar de Jungkook e ajudar tanto meu pai. — Ele se aproximou de mim, me deixando confuso. — Obrigado por ser um bom amigo para Jungkookie também.

Ele me abraçou. Junghyun me abraçou. Ok, eu não esperava por isso. Mas eu o retribui, mesmo que estivesse sem muita reação naquele momento. Eu o retribui e o agradeci por me aceitar ali também.

Aquela sensação se apossou do meu peito novamente, era a sensação que eu sempre tinha quando chegava na livraria. Mas, dentro do abraço de Junghyun, se intensificou um pouquinho, era como algo… Não sei dizer.

[📚🧚🏻‍♂️🍓]


— Boa noite, senhor Choi! — Falei ao porteiro do prédio, que sorriu e me cumprimentou também.

Estava finalmente em casa.

— Boa noite casal! —Falei assim que passei pela porta da entrada de casa, dando uma risada alta quando eu vejo Taehyung e Yoongi caídos no chão de sala, próximo ao sofá.

— Puta que pariu, Jimin. — Yoongi resmunga já saindo do colo de meu melhor amigo, passando as mãos pelo rosto vermelho. — Você poderia chegar mais tarde?

—É! —Taehyung quem grita, procurando pela sua camisa em algum lugar da pequena sala — Empata foda.

— Não estrague o meu bom humor porque eu estou radiante! E não estraguem a minha boa noite de sono também. — Digo, caminhando até eles e me sentando no sofá. — Eu espero, né? Já que Yoongi vai passar a noite gemendo como uma gazela.

Pego Myung no colo tentando escapar das almofadadas que Yoongi me dá, reclamando e dizendo que seus gemidos são sim bonitinhos.

Que nojo.

— Eu 'to cansadão, será que vocês poderiam não transar hoje? — Encosto minha cabeça no sofá, fechando os olhos.

— Claro… — Yoongi quem diz, me fazendo abrir um sorriso pequeno. — Que não.

— Idiota! — Reviro os olhos. Yoongi murmura mais alguma coisa, mas eu só consigo ouvir meu celular tocando dentro da mochila. Então o pego rápido, ignorando as besteiras que ele falava.

— Quem é, Jimin-ssi? — Taehyung pergunta se senta ao meu lado segurando a cintura de Yoongi e fazendo ele sentar em seu colo. Olho para o celular e suspiro, era um número desconhecido.

— Número desconhecido. — Rejeito a ligação. — Deve ser alguém passando trote.

Eu queria que fosse Jungkook. Mas não tinha sua foto de perfil ali.

— E se for Hoseok? Você já falou com ele? — Pergunta.

— Sim! Junghyun até concordou em falar com ele amanhã. — Sorri, sentindo meu celular voltar a tocar. — Mas que...

— Atende logo, se for algum tipo de trote... — Yoongi começa a falar. — Manda se ferrar.

E eu atendo.

— Alô?

Jimin? — Pergunta, me deixando confuso.

Era uma voz feminina. Meu Deus.

Jimin? Meu amor? — Volta a me chamar, então, eu sinto meu coração pular no peito.

Eu conhecia aquela voz, claro que conhecia.

Era Taeyeon.

Park Taeyeon. Minha mãe.


📚🧚🏻‍♂️🍓

¹: Libras (  Língua Brasileira de Sinais) foi usada na fanfic justamente por que usei uma expressão errada na escrita passada, então decidi mudar para a usada aqui no nosso país! Através dela, é possível promover mais acessibilidade na comunicação para pessoas com deficiência auditiva e etc.

²: Yeouido é um dos grandes parques de soul!

A mamãe do Jiminie apareceu ! 😔


Beijinhos em suas bochechinhas e até mais! 💜💙

#FadasNoCoração

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