Lies.

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Ela olha para me, com um olhar cheio de tristeza e solidão, seu rosto sujo de maquiagem por conta do choro. Eu estava paralisada olhando em direção dela, ela se levanta cambaleando e então se vira para me, soluçando.
-Você... Você não pode... -Ela diz entre soluços.
-Mas você... Você está... -Gaguejo em choque.
-Por favor... Não deixe ele ganhar...-Ela chora.
-C- como? -Digo ainda em choque.
-Por favor Alicia... Não o deixe ganhar...
-Anna... Quem...? -Digo confusa.

Quando eu finalmente consigo me mexer e ir em direção a ela para conforta-la, ela desaparece... Eu pisco atordoada, olho em volta e percebo que está tudo perfeitamente organizado, eu esfrego meus olhos confusa e saiu de lá o mais rápido possível.
Eu resolvo ir até o jardim para respirar um pouco, eu me sento no meio das flores pensativa, quando escuto a voz de alguém me chamando, e dou um leve pulo assustada.
-A- Adam... -Digo surpresa.
-Tudo bem? Você parece preocupada...
-Eu só estava pensando... -Sorrio nervosa.
-Posso me sentar aqui? -Ele aponta para meu lado.
-Claro. -Digo ajeitando a postura.

Ele se senta ao meu lado e suspira olhando para as flores a nossa frente.
-Eu fiquei assustado quando não te vi mais por aqui... -Ele diz.
-Porque? -Pergunto curiosa.
-Achei que estivesse se culpando pelo o que eu disse... -Ele suspira.
-Adam... O quanto você gostava de me naquela época? -Pergunto.
-huh? Como assim gostar? -Ele diz em tom surpreso.
-Digo... Aquela não foi a única vez em que eu te machuquei certo? -Digo por fim.
-Bem... Eu prefiro pensar que foram apenas acidentes. -Ele suspira.
-Porque? -Insisto.
-Você não estava bem naquela época, era entendível...

Então vejo a oportunidade de descobrir mais através daquelas últimas palavras de Adam.
-Está falando da ansiedade? -Digo.
-Sim... Você sempre me dizia que estava tendo sonhos estranhos, escutando vozes... Eu fiquei muito preocupado com você naquela época também... -Ele diz em um tom triste.
-Que tipo de sonhos eu dizia ter?
-Eu não sei ao certo, você apenas dizia que eram assustadores... Você parecia exausta naquela época, e depois que começou a tomar os remédios você mudou... Não para melhor como eles prometeram. -Ele suspira.
-Como assim? -Pergunto confusa.
-Você só... Havia momentos onde você parecia ser outra pessoa, você agia diferente, falava diferente... Não era nada parecido com a Anna que eu conhecia, e eu sei que não era você...
-Não era eu...? -Digo confusa.
-Você provavelmente não se lembra, mas quando tínhamos 16 anos, você veio até aqui em desespero, você chorou por horas em meus braços dizendo o quão cansada estava, e que não queria ser daquele jeito... Você até pediu que... -Ele pausa instantâneo.
-Pediu que...? -Insisto.
-Esquece isso. -Ele diz sério.

Então ele se levanta, e antes que ele saía eu agarro seu braço.
-Adam por favor... -Digo.
-Anna... É melhor não... Você está tão bem agora... -Ele diz em tom cansado.
-E se eu não estiver? -Digo por fim.
-C- como assim? -Ele gagueja surpreso.
-E se eu estiver tendo os mesmos sonhos? Você tem a opção de me ajudar a lidar com eles desta vez.-Digo.

Ele olha para me preocupado por um tempo, e então suspira, hesitante em continuar.
-Você... Você pediu para eu te envenenar... -Ele diz com nojo.
-Quê? -Digo surpresa.
-Você pediu para que eu lhe fizesse um chá de uma planta venenosa que havia aqui no jardim...
-...
-Mas eu jamais faria algo do tipo, jamais! -Ele diz com a voz trêmula.
-Eu sei que não faria... -Digo tentando conforta-lo.
-Desculpe... Eu não pude te ajudar... -os olhos dele se enchem de lágrimas.

Então eu me levanto e o abraço apertado, eu conseguia sentir a dor em sua voz, ele não é uma pessoa ruim, e eu sei que ele jamais machucaria sua melhor amiga.
Depois de abraça-lo eu me despeço com um sorriso e volto para dentro de casa.
Eu volto a pensar em tudo, eu estava cheia de preocupação... A noite logo caiu, o jantar chegou, porém eu perdi a fome pensando em todas as coisas horrorosas que aqueles dois haviam feito com Arawn em seu ritual. Naquela noite eu resolvi tentar novamente ir naquela biblioteca falsa, esperei até  ficar bem tarde, e então fui em silêncio até lá, já fazem uns dias que não escutei mais nada vindo de lá, eu entro na sala fechando cuidadosamente a porta atrás de me, e então indo em direção do livro, assim que encosto minha mão no livro eu fecho meus olhos com força esperando sentir alguma dor, mas nada acontece..
Eu puxo o livro lentamente, e um click saí de detrás da grande estante, a estante começa a se mover lentamente até dar visão de uma porta, eu empurro a maçaneta da porta porém ela se encontra fechada, e a fechadura parece ser muito antiga... Sem poder fazer mais nada eu apenas empurro o livro de volta e a estante começa a voltar para o lugar lentamente, antes de sair da sala eu me certifico de que ninguém tenha acordado, então volto para meu quarto para dormir.
Eu acordo pela manhã com um estranho sentimento no peito, sempre que eu passo pela biblioteca do meu quarto é como se eu escutasse algo me chamando, eu evitei entrar lá enquanto me arrumava pois minhas memórias sobre ter encontrado Anna lá ainda estavam frescas, mesmo eu ainda não sabendo dizer se aquilo foi um sonho... Depois de muito lutar contra essa curiosidade, eu acabo perdendo e decidindo entrar na biblioteca, eu seguro a maçaneta da porta e suspiro tentando criar coragem, então abro de uma vez, para ver a biblioteca completamente normal...
Eu suspiro de alívio e entro para a biblioteca me jogando em uma das poltronas lá.

"Eu disse que não tinha nada aqui..."

Penso comigo mesma, eu fico uns minutinhos largada na poltrona olhando para o teto, até que algo me tira dos meus pensamentos.
-Este era meu lugar preferido de toda a casa, eu sempre vinha aqui procurar por respostas...

Eu dou um pulo e olho para a direção da voz, para encontrar Anna perto de uma das estantes com um livro em mãos lendo, eu congelo.
-A-Anna? -Digo surpresa.
-Você também não acha esse lugar confortante?! -Ela sorri para me.
-V-você está aqui? Você está mesmo aqui? -Pergunto em choque.
-Talvez... -Ela dá de ombros.
-Mas como...? Você está... -Paro.
-Morta?! -Ela levanta uma sombrancelha.
-S-sim...
-Este não é o meu corpo? Se ele ainda existe, o que te faz pensar que eu simplesmente sumi? -Ela pergunta.
-Isso é possível? -Digo confusa.
-Eu preciso de sua ajuda alicia... -Ela me olha com tristeza.
-E-eu preciso falar com Arawn...
-Não! Não diga isso a ele, não somos tão amigos...
-Mas...
-Por favor Alicia eu só tenho a você! Mesmo que Arawn ache outra alma compatível, eu continuarei aqui, presa nesse maldito corpo, eu vou continuar sofrendo, por favor Alicia... Você sabe que eu não aguento mais. -Ela enche os olhos de lágrimas.
-Você esteve aqui o tempo todo?-Pergunto.
-Sim... Porém eu não conseguia falar com você por mais que eu tentasse...
-Anna eu... Eu sinto muito por tudo isso... -Digo.
-Então me ajude Alicia, me ajude a acabar com esse sofrimento!
-Como eu posso ajudar?
-Existe um jeito, eu planejava faze-lo antes do acidente, mas eu preciso que você confie em me! -Ela me encara.
-Tudo bem...
-Eu irei arrumar tudo, eu prometo que nós duas poderemos seguir nossos destinos felizes! -Ela sorri esperançosa.

E então desaparece, me deixando ali paralisada. Eu suspiro quase como se tivesse perdido o ar.

"Anna ainda está viva?"

Várias perguntas aparecem na minha cabeça, perguntas sem respostas.

"Eu devia dizer isso a Arawn?"
"Ou dizer isso a Stephan?"

O restante do dia passa voando, eu não tive tempo para reparar no tempo, estava pensando no ocorrido de mais cedo. A noite logo caí, e assim que saiu do banho, a porta da biblioteca se abre, como se me chamasse para dentro... Hesitante eu entro na sala e encontro Anna sentada em uma das poltronas.
-Finalmente você chegou! -Ela sorri amigável.
-Olá... -Digo nervosa.
-Eu consegui achar as coisas necessárias, aqui está! -Ela me mostra uma garrafa.
-O que é isso? -Pergunto curiosa.
-É um chá, você irá precisar tomar isso para que possamos começar. -Ela diz colocando em um copo.
-Você tem certeza disso? -Digo nervosa.
-Absoluta! Por favor Alicia, você é a única que me entende neste momento, você precisa me ajudar! -Ela diz em um tom triste.
-Tudo bem... -Digo pegando a xícara.

Então ela coloca um pouco em outra xícara, tomando um gole logo depois, eu hesito um pouco, pensando se aquilo era uma boa idéia, mas em parte eu me sentia culpada por Anna, e em débito, então tomei um gole do chá, que tinha um gosto agridoce.
-E agora? -Pergunto.

É então que minha visão começa a ficar embaçada, e a minha frente, eu vejo Anna se transformar em uma sombra.
-A-Anna? -Digo assustada.

Então eu começo a escutar gritos perturbadores, e uma risada horripilante, até minha visão escurecer totalmente e eu apagar por completo.

Destinos Cruzados.Where stories live. Discover now