Abraços Grátis - Isulio (Adaptada)

Sozinha?

Ele não diz nada, engole as palavras que ia me dizer e coloca as mãos dentro de seus bolsos. Olho para ele um segundo antes de tentar novamente sair do banheiro. Mas Julio é mais rápido, e me deixa presa, sem ter a oportunidade de sair pela porta e me esquecer de todo esse tema que já está me dando dor de cabeça. Tenho certeza de que quando chegarmos em casa, Agus vai fazer um interrogatório para saber porque demorei tanto no banheiro com Julio. Será uma longa noite.

- Você não respondeu minha pergunta. - Diz seco.

Quem consegue te entender Julio? Tenho vontade de empurra-lo, sair daqui e ir ver minha mãe, que é o mais importante agora. Meus pensamentos estão concentrados no caso de vida ou morte de minha mãe, e o tema do Julio (que eu já estava quase esquecendo) volta novamente em minha mente. Estou estressada, a cada minuto sinto fortes dores na têmpora, tenho certeza de que é pela falta de sono que estive tendo nos últimos dias. Espero que nada grave aconteça, não quero terminar em uma clínica horrível como essa.

- Que pergunta? - Digo inocente. - Você já me fez tantas hoje que fiquei confusa.

Ele suspira cansado. Deixa os braços cair ao lado de seu corpo e se apoia no trinco da porta. Passa uma mão por seu cabelo e evito manter contato visual. Se quero ser fria, distante e cortante com o assunto, tenho que lembrar que não posso olhar em seus olhos.

Mudo de opinião quando vejo seus pés dando passos curtos para se aproximar de mim. Estamos muito perto. Ele está invadindo minha bolha pessoal que ninguém até agora havia podido entrar. Consegue ficar tão perto que nossos corpos se tocam e eu tenho permanecer quieta e com a cabeça abaixada. Mas, como sempre consegue ler meus pensamentos, e com uma das mãos toca levemente meu queixo, o levantando lentamente. Pode ser que ele tenha levantado minha cabeça, mas meu olhar está fixo no piso de cerâmica que cobre o chão.

- Olha pra mim, por favor. - Sussurra.

Ele sabe. Sabe que seus olhos são meu ponto fraco. Passo a língua pelo meu lábio inferior e mordo. Estou tão nervosa que não tenho nem tempo para tentar pensar em algo inteligente para sair disso. Para minha sorte, uma senhora de uns trinta anos entra no banheiro, fazendo Julio se separar alguns passos de mim. A senhora nós olha com uma cara divertida, e eu saio como um raio, para esconder minhas bochechas vermelhas.

Me sento do lado de Agus, que está escrevendo em seu celular. Tento não escutar o som irritante das pontas de seus dedos batendo contra a tela do aparelho. Quando termina o que está fazendo, olha para mim: está falando comigo pelo olhar. Seus olhos me perguntam com foi com Julio. Eu lhe respondo com uma careta e olho para baixo, como uma fracassada que não sabe aproveitar os momentos. Era o momento perfeito para que algo acontecesse! Mas sou muito idiota para relacionar as coisas que meu coração diz com a mente.

- Já quer ir para casa? - Me pergunta. Eu nego com a cabeça, quero saber o diagnóstico de minha mãe. Ela se levanta da cadeira e prende a bolsa no ombro. - Tenho que ir. Quer que eu traga algo para você? Deixei dinheiro no bolso da sua blusa, para se você precisar. Prometo voltar logo para saber notícias de sua mãe. Beleza? Te adoro.

Beija minha bochecha e começa a arrumar as coisas bagunçadas em cima da cadeira ao lado de onde estava sentada. Pega seu casaco, um pacote de batatas fritas vazio, copos de café que seu pai tomou de manhã, a coberta rosa, as chaves de casa e se abaixa para pegar o pote de sopa que também era de seu pai. Quando está indo para a porta de saída e chega no final do corredor, ela se vira e me pergunta com a voz mais alta:

- Tem certeza de que quer ficar aí, sozinha?

Estou a ponto de dizer que sim com a cabeça, mas sinto um corpo se jogar na cadeira ao meu lado e um braço passar pelos meus ombros. Seu perfume tão conhecido por mim inunda meu nariz e por alguns segundo fico tonta, para depois sacudir a cabeça e me encontrar seus olhos cor de mel me olhando fixamente.

- Não se preocupe, eu ficarei com ela.