Cinquenta

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Pisco tantas vezes nos últimos três minutos que tenho medo de perder cenas inteiras de olhos fechados, as palavras de Jav soam como água no ouvido, nublando todo o restantes dos sons que me cercam. O meio anjo conseguiu, por intermédio de uma bruxa, achar meu irmão e como o seu resgate poderia ocasionar na revelação de quem são os anjos que o controlam, dando-nos uma chance de vencer essa guerra, ele pretende fazer isso o mais rápido possível, que no caso é ainda hoje. 

Jav comentou que apesar de toda a força que os anjos têm, se irmos com um exercito eles facilmente nos detectariam e em poucos minutos estaríamos todos mortos, temos que ser inteligentes, e isso significa irmos só alguns, mesmo que isso nos deixe mais fracos. Jack, um cupido de vinte anos que parece não ter mais o que perder na vida - palavras dele -, se ofereceu, a sua força e treino serão bem úteis, embora eu não acho que iremos lutar, não se ocorrer tudo bem. Assim como a camuflagem que a bruxa promete fazer como ninguém. 

Jav diz que estou na equipe não só por ser um dos cupidos que melhor se desenvolveu, mas também pelo fato de que Luke, ao me ver não vai tentar me matar como está sendo treinado para fazer com Jav desde que foi para esse mundo de anjos. Eu tenho o dever de o convencer que os anjos são do mau, só assim temos uma chance, senão, Luke mesmo nos dedurara e ajudará eles a nos matar. 

Meu anjo vai conosco por sua força, seu conhecimento e também porque não ficaria de fora nem se quisesse, já que é algo perigoso para mim, e se qualquer coisa der errado ele vai aparecer por lá de qualquer jeito. 

Resolvemos ir assim que passar das duas da tarde, assim dando tempo a todos para se preparar. Harry fala com Jav e a bruxa em um canto da casa, mas prefiro me manter de fora do assunto, me recolhendo a uma cadeira na grande mesa da segunda sala. Meu silêncio e paz não duram muito, pois logo Jack aparece na minha frente, se sentando no banco ao lado do que me faz frente. O cupido não fala nada comigo e ambos ficamos em silêncio alguns segundos, antes que eu me lembre algo que pensei certa vez. 

- Posso lhe perguntar algo que talvez seja pessoal? - minha pergunta soa um pouco mais fraca do que eu gostaria que soasse, então logo que ele assente me apresso ao perguntar: - O que... meu irmão é um anjo, e meu anjo, Harry, está sempre lá por mim... todos os outros, quantos deles têm o que eu tenho?

Minha pergunta soa confusa, mas Jack me olha como se tivesse entendido tudo e pensa um pouco antes de responder, me fazendo perceber que não preciso acrescentar nada nela. Jack é alto e jovem, seu físico me lembra meu irmão, ele na verdade o lembra por vários pontos em sua aparência. 

- Os anjos levavam nossos irmãos. Todos eles. Não os deixaram nos visitar, não sei como o...

- Luke. - completo com gosto amargo na boca.

- Não sei como Luke conseguiu, acho que eles estavam muito obcecados por conquistar a sua confiança e por isso deixaram seu irmão se fazer presente. - Me lembro de quando Ed fez meus pais não me odiarem, mesmo que só por cinco minutos, ele me disse que aquilo era um presente, lembro como na ocasião estranhei e senti estranhamente como se devesse algo a ele, eu não estava errada então, os anjos estão tentando me levar para o seu lado assim como Jav tenta me levar para o seu. 

- E porque você não? Porque os outros não? - Minha voz soa esquisita, me fazendo ficar um pouco vermelha. Jack respira fundo antes de continuar.

- Nossos anjos viam a gente também, mas depois que Jav apareceu e nos deu um proposito eles sumiram, é como se não tivessem mais como nos alcançar, como se... - ele fala lentamente, quase como se tivesse com medo de continuar.

- Os anjos não permitissem mais que vissem vocês, que criassem laços, eles não podem quebrar a ligação que cada um tem com seu anjo da guarda, mas podem proibir que os veja, não em caso de vida ou morte é claro. - lhe interrompo novamente, mas Jack parece não se importar, pois ele mantém uma postura rígida e séria tanto quanto entrou aqui a alguns minutos. 

Harry só pôde continuar me vendo porque os anjos não sabiam, até alguns dias atrás, que eu estava atuando contra eles, e agora é tarde demais para afastar Harry, pois ele já caiu. Jav os deu um propósito, mas ao mesmo tempo tirou deles, mesmo que sem querer, a proteção de seus anjos, ou a companhia no caso. 

Meu anjo aparece na sala no mesmo instante que Jack se levanta para ir em direção a Jav. Observo seu corpo se aproximar do meu e percebo o Quão sortuda eu sou por ter meu anjo ao meu lado, quando tantos outros não têm mais os seus, e por mais que eu saiba que considero meu anjo muito mais do que ele foi feito para ser, imagino que a falta dos anjos dos outros deva ser como perder a amizade de um grande amigo. 

Harry parece adivinhar meus pensamentos, pois me olha de forma orgulhosa, como se o fato de agora poder ser e fazer o que ele quiser esteja triunfando em sua mente, principalmente a parte de que pode fazer o que quiser comigo. A memória de seu beijo quente que acabou com meu anjo sem camisa invade minha mente e por mais que eu esteja ficando vermelha, com meu rosto denunciando algo de estranho em meus pensamentosq, agradeço a qualquer um mentalmente por meu anjo não ler meus pensamentos. 

+ + + 

Harry e eu vamos no mesmo carro em que viemos, e Jav e os outros vão no que vieram. Me sinto um pouco mais livre por estar só na companhia de meu anjo, mas ainda sinto que a cada segundo um balde de gelo é jogado contra meu estômago, com medo de que algo dê errado e que meu irmão pague por isso. 

Quando estamos a uns cem metros de uma velha igreja no meio do nada, Jav estaciona a nossa frente e meu anjo para o carro, observando o local junto a mim. Nada mais apropriado para um bando de anjos fanáticos do que uma igreja abandonada. 

- Você está bem? - Sua voz rouca perto do meu ouvido, quando saímos do carro, me faz me sentir um pouco mais confiante do que estava a alguns minutos atrás. 

- Estou. - Respondo e pego em sua mão por um segundo, notei que ambos temos essa mania, de pegar na mão um do outro e depois de um leve aperto, a soltar, é como mostramos a nossa presença, não só física mas mentalmente. Um tipo de toque que faz o outro perceber que a pessoa não só está ali como está ali por ela, transportando força e confiança de ambos os lados. 

Entramos todos juntos por uma porta atrás da igreja velha, que se fez bem maior olhando de perto. A luz do sol entra de forma regular pelas enormes janelas de vidro colorido que tem em ambos os lados do salão principal, mas não vamos até ele, a bruxa está usando algum truque para confundir as nossas imagens e os sons que fazemos com os sapatos, deixando a gente praticamente invisível. Descobri que bruxas podem canalizar força de objetos ou pessoas, e ela está usando o jovem cupido para deixar a camuflagem com força total, de forma que nem os anjos mais poderosos nos veriam. Só temos que não encostar em ninguém, o que é fácil se pensar que estamos aparentemente sozinhos. 

O medo de que tenham enganado Jev e não só que meu irmão não esteja aqui, mas que também tenhamos caído em algum tipo de armadilha cruel me persegue. a gente não sabe quantos eles são, nem o que Lillyte conseguiu descobrir da gente e contar para eles. 

Ao passar por uma porta no canto da igreja, vejo a alguns metros de distância meu irmão, olhando com um olhar vazio para algum ponto distante atrás de mim, meu coração falha uma batida e controlo meu nervosismo antes que ele me controle, a alguns metros de distância dele, vejo algumas pessoas, pessoas que não deveriam estar aqui. 

As mesmas pessoas que supostamente caíram sobre as ordens que Jav os deu de me dar uma surra, as mesmas pessoas que formaram uma muralha ao meu redor enquanto humanos me batiam até eu perder o ar, muito antes de eu descobrir qualquer coisa sobre quem eu sou. A ficha cai aos poucos e não demoro a perceber que eles não são pobres humanos reféns ou algo do tipo, eles são os anjos que eu vim para matar. Eles são os anjos que estão controlando todos os outros.

James e William.

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