Sessenta E Um (PENÚLTIMO)

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Ed

Meus sentimentos sempre foram confusos, sempre senti que faltava algo ali, mas nunca imaginei que alguém, tal como meu considerado irmão Nick, fosse capaz de tirar algo assim de mim. Minha única vantagem é saber que a pobre alma podre enfim está sobre o esquecimento, sobre as mais sombrias garras da morte. 

Toda a minha vida foi regada de mentiras, o menino ao qual fui ensinado a odiar e matar, se possível, esteve o tempo todo cheio de tristezas, magoas e do mais pesado abandono, sem saber que eu, seu verdadeiro pai, pouco sabia da sua existência, tendo sequer me lembrado que já cometi o ímpeto de me deitar com uma alma humana. 

Creio que pela forma como me manipularam, acabei criando a personalidade tão firme nas regras que eles criaram dizendo ser as do pai. Hoje sei, que isso tudo não passava de um mero preconceito com os mortais. Meus dias não são felizes ainda, choro em silêncio todas as noites pensando naqueles que lhe fora tirado o direito de viver, tudo por causa de algumas, quatro para se mais exato, almas ruins, pessoas fortes e belas, porém corrompidas demais pelos seus próprios preceitos e ego, trazendo a tona uma verdadeira infelicidade pela qual muitos fazem parte. 

Não estou feliz, digo novamente, pois a lâmina da espada em minha mão cai certeira no pescoço de Nova, uma bruxa antiga que ficou com tanto medo de perder a sua alma no esquecimento que ajudou os Manipuladores - como estamos chamando os anjos traidores - a criar uma maldição a qual deixaria os cúpidos infelizes a ponto de nunca viverem o bastante para conseguir se tornar o ser belo e poderoso que são, já que os mesmos têm o controle de ver sentimentos dos outros, podendo ver até mesmo aqueles que foram apagados, sendo assim uma ameaça a tudo o que planejavam.

Não desvio os olhos da lâmina enquanto ela corta seu pescoço como fatiaria um pão, assim fazendo o sangue jorrar apenas por um segundo antes que eu o faça sumir de vista com um simples afastar de mão, o fazendo sumir como grãos levados ao vento, parecido como quando um anjo morre. Como o ultimo anjo da Paz, tive o prazer e a responsabilidade de ficar na liderança daqueles que estão em posição mais baixa que eu, assim mantendo o controle para que tudo fique conforme o planejado e coisas como os Manipuladores, não ocorra novamente. 

O corpo da bruxa se desfaz por completo e olho ao meu redor com olhos firmes, os anjos que sobraram parecem estar cheios de dores, assim como a que eu carrego em meu peito por ter descoberto o Nefilin como meu filho. Sei de suas perdas, de praticamente todas, e é impossível não me sentir triste por eles assim como devem estar por mim, embora flagre vez ou outra um traço de julgamento por ter me deitado com uma humana. Suas mentes ainda têm muito o que se expandir. 

Com a morte da bruxa, posso pelo menos desfazer um grande mal, assim dando fim a maldição que tanto atormenta aqueles que nasceram para amar e trazer amor ao mundo. Posso sentir a energia da sua maldição se acabando aos poucos, conforme alcança cada canto do mundo. 

As almas ruins tiveram seu lugar de volta no esquecimento, dando fim ao inferno ao qual condenaram Jav, aceitei todos os anjos de volta, em um ato de boa fé que se mostrou bastante justo, já que todos voltaram ao seu devido lugar. 

Jav  teve uma cria, uma pequena humana que atenderá pelo nome de Rute, em homenagem a mãe humana, que tal como a última mãe de nelilim a nascer, morrera dando a vida pelo seu filho. A criança está na Terra, espero poder vê-la sempre e tê-la em minha guarda assim que as coisas se estabilizarem, embora ache que talvez ela tenha uma vida um pouco mais normal se estiver nas mãos de quem no momento a cria. 

Trouxe Jav comigo ao Céu, ele teve uma última batalha difícil, estou vendo melhora nele vez ou outra, mas temo que demorará anos, décadas talvez, para que volte a ser como era. Ele sofreu terríveis danos, quase irreversíveis, não está morto por muito pouco. Seu corpo pondera sobre uma cama o tempo todo, tendo como alimento somente o poder de cura de meus melhores anjos, que infelizmente não podem curar ferimentos como os dele, podendo no máximo o deixar vivo até que consiga melhorar por conta própria. 

Penso eu que esteja em algum tipo de sonho, já que vez ou outra o flagro falando durante seu sono. Tenho tantas coisas a organizar que trouxe todos os anjos aos céus, dando aos nelifins o poder de escolher onde ficarão. Terra ou Céu. Os cúpidos vagam pela Terra seguindo com as suas vidas, os poucos que restaram. 

Afinal, a Terra está precisando mais do que nunca de um pouco de amor. 

- Pensei que teria a chance de escolher, entre o Céu e a Terra, vai mesmo me prender aqui depois de tudo?! - meu melhor e mais próximo anjo fala quase que desesperado, imagino que doido para voltar a ver a sua protegida, a cúpido mais forte de todos e minha amiga Nina, estou tão grato a Harry pela sua força e ajuda que não poderia agradece-lo com mil palavras. Mas no momento preciso de algo dele. 

- Eu queria muito te dar a chance de escolher - minha voz é firme, explicando bem o nível do que quero pedir a ele. - Mas eu tenho uma missão muito importante para você, não posso a deixar de lado por nada nesse mundo
Você logo entenderá. 

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