𝙼𝚊𝚛𝚒𝚎

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1965, março.

Jack ajeitou seu cabelo e se olhou no espelho ─ aparentemente estava saudável e isso bastava. Fechou com força a porta em que dava para o lado de fora de sua casa. Sem perceber acabou por trombar em Jane que se preparava para ir a cozinha.

─ Olha por ande anda ─ disse ele, sem paciência. ─ Está no mundo da lua ou o quê?

Jane moveu os olhos sem parar e as palavras ─ quando elas saiam ─ eram inseguras. ─ Eu sinto muito! Isso não ira mais acontecer.
─ fez uma reverencia educada, levantando levemente as saias com ambas as mãos e assentiu com a cabeça, nesse momento, seu cabelo caiu pelo rosto. ─ A senhorita Sandra não ia gostar disso ─ de imediato, apontou para o barro nas solas dos pés do garoto.

Jack pensou em como aquilo era ridículo e cogitou se sequer a garota tinha opinião própria ou desejos que fossem só delas. Ele revirou os olhos e inspirou o ar com força. ─ Tanto faz. Eu preciso ir ─ semicerrou os olhos. ─ Ela pode ser minha mãe, mas nem de longe que manda em mim ─ pegou os sapatos e os tirou, os depositou no carpete avermelhado no centro, deixando marcas de lamas em um ato de rebeldia. ─ E nem você, sua fedelha.

─ Ei! Só pra constar temos aproximadamente a quase a mesma idade ─ Jane pareceu atordoada. ─ Isso não é nada bom ─ se apressou para os sapatos sujos, sua cabeça se voltava para uma das janelas como se aflita por alguém chegar.

─ O quê você está fazendo?

Ela não respondeu, apenas continuou a esfregar o chão frenéticamente.

─ Se você deixar, as pessoas vão fazer de você o que bem entenderem ─ ele levantou as sombrancelhas e fez um gesto para um dos quadros na parede onde tinha uma mulher de meia idade com uma expressão neutra e joias pelo braço ─ era Sandra. ─ Se você deixar, ela vai te tornar em uma marionete.

─ Não fale assim dela! ─ Jena aumentou a voz, mas logo em seguida a diminiu. ─ Eu sou grata por ter me ajudado, mas preciso regar as plantas ─ disse se preparando para se levantar.

─ Nem se de ao trabalho. Sem graça você, hein! Já estou de saída.

Jack era um típico jovem, seus fios eram sempre tão rebeldes como ele, de um tom tão escuro e mórbido. Suas vestes eram amassadas, mas ele carregava um jeito elegante e atrevido. Ele se virou e pegou as chaves que estavam encostadas na trava e as girou. O frio passou pelo seu rosto recém molhado e bagunçou ainda mais os cabelos negros.

─ Vai encontrar a namorada? ─ disse Jena do outro lado. Pela primeira vez, se dirigiu de forma sarcátisca. ─ Ou você não tem?

Isso fez ele dar um passo para trás. Parecia que os boatos realmente corriam rápido.

Jake se virou com rapidez de volta para ela e se esqueceu por um momento do vento frio. ─ E se for isso? Algum problema? ─ ele sorriu, mas seu sorriso não revelou sinceridade.

Jane pareceu supresa, como se não esperasse por isso. Piscou meio atordoada. ─ Ah, tá. É claro ─ esfregou as mãos nas saias. ─ Então, boa sorte.

Ele sempre vencia, não seria diferente dessa vez.

Virou as costas mais uma vez. ─ Se meu pai chegar, diga a ele que eu estou bem e que ele deveria dormir ─ não esperou por uma resposta ou confirmação, pois logo fechou as porta com um baque. Ouviu do outro lado um barulho de chaves se debatendo e concluiu que deveria ser sua nova meia irmã e a mania de limpeza.

Não sabia por quanto tempo andou, só a certeza de saber que era muito. Ele procurava por respostas, anseava por elas enquanto a chuva caia e o molhava por completo. Dessa vez, estava perdido em si mesmo. Não sabia do tempo, do clima ou das pessoas. Ás vezes, nem mesmo sabia quem ele era.

RevengeWhere stories live. Discover now