𝚓𝚊𝚌𝚔 𝚎 𝙹𝚊𝚗𝚎

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1958, Slandivel.

Um senhora carancuda segurava com força o pulso de um rapazinho que se contorcia de maneira a se livrar do aperto que lhe causava marcas avermelhadas. O mundo pareceu pequeno quando ele olhou para cima e a encarou. Se arrependeu instantaneamente: o que o esperava era cruél.

— Me solta, sua velha bruaca! – gritou a criança com uma cara enojada. Seus cabelos eram jogados pelo rosto de modo bem arrumado, assim como suas roupas que eram de uma marca renomada. A quem pudesse ver, nada parecia estar fora dos eixos. Para muitos, era apenas uma criança com priviliégios.

A mulher tinha o rosto já preenchido pelas marcas que o tempo insistia em deixar. As rugas eram aparentes e um cheiro intenso de hidratante emanava, era enjoativamente doce. Seu cabelo prendido em um alto coque em gel e a criança pensou em como era exagerado a postura rígida e as grandes pérolas no pescoço da mulher. Caminhava em passos direcionados e não fraquejou em nenhum momento – nem mesmo quando sua atenção foi para uma porta distante, do qual anunciava uma visita.

Batidas ecoaram.

A sua face que era de sombrancelhas curvadas, virou instantaneamente em uma careta. Em um gesto, se aproximou da presença que grunhia e tentava se livrar das mãos com unhas perfeitamente feitas. Ignorando o bater insistente do outro lado, Sandra abaixou um pouco mais a cabeça, mas não se aproximou mais do que era necessário do garoto que a olhava com os olhos semicerrados. Firmou ainda mais o toque de seus dedos, certamente deixando marcas avermelhadas na palma da criança.

Ela moveu o vestido longo e escuro para o lado e nela fazia parecer mais jovem do que realmente era. — É melhor se portar melhor! Você é filho do Doutor Adriel, deveria se portar como tal – ela continou a jogar as palavras de modo nada delicado. Seu tom era autoritário e arrogante. — Eu não tenho todo o tempo do mundo, menino mimado!

As batidas da porta cessaram por um tempo.

Jake encarou os olhos tão escuros que pareciam pretos e não estremesseu, mesmo que seu corpo ainda frágil e pequenino pudesse desabar a qualquer momento.

Ele tinha apenas 7 anos.

Garotos de sete anos deveriam estar brincando na terra ou correr pelo pátio com seus amigos, mas Jack não era como os outros meninos. Ele era apenas o mesmo rebelde e solitário Frihk de todas as manhãs. Odiou os sete dias da semana, mas principalmente os domingos, pois eles eram regados da presença nada querida de Sandra Rios, a esposa de Adriel Frihk.

— Vou contar isso pro meu pai! – berrou a criança, olhando para os próprios pés e nesse mesmo momento sentiu uma leveza no pulso que antes era segurado. Ele piscou, incrédulo.

Havia um fogo intenso em seus olhos tão azuis profundo como o oceano - eram tão gélidos quanto.

Provavelmente usaria essa técnica com mais frequência.

— Não, meu senhor – retrucou a mulher que passava a mão na longa saia, e não o encarou dessa vez. — Já estamos resolvidos. É só você parar com esse gesto de colocar as mãos nos bolsos! – sua cara se avermelhou e se fosse possivel, poderia até sair fumaça de sua cabeça, onde havia um grande chapéu em penas escuras. — Tenha modos! – aumentou um pouco o tão da voz, era como se ela nem notasse já que lhe era algo comum. — O seu pai vai pensar que eu não cuido de você! Oras, que bobagem! Para de ser malcriado e agir como um maltrapilha. Você não é uma escória como as outras crianças!

Jake desojou ser como elas, se isso significasse não ter que encarar aquela figura a sua frente.

Não era assim que funcionava, não para ele.

Nem sempre desejar algo o faria ter. Apesar de a maioria das coisas serem assim. Não faltava-lhe brinquedos riscados de sua lista. No entanto, era algo mais enraizado que isso e coisas como essas não poderiam substituir.

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