- Se você estivesse menos obececada em encontrar defeitos teria prestado mais atenção e no mínimo percebido que não é esse o licor que usamos nas últimas três vezes - Avisou e a mesma medida que tomei a garrafa daquele local a devolvi começando a procurar por aquelas prateleiras.

- Haram - Pigarreou em alguns minutos tirando de trás das costas uma garrafa que eu rapidamente tentei pegar, mas que ela colocou em uma altura impossível de alcançar quando esticou o braço.

Sua postura começava a me irritar mais profundamente e a maneira como a barra do uniforme levantava mostrando um diminuto pedaço de sua barriga lisa não ajudava em nada.

- Se estivesse menos obececada em incentivar aquele desastre que chama de receita e tivesse trabalhado mais sua noção teria no mínimo percebido que muito além do que temos eu ainda sou sua chefe - Falei dando pulinhos tentando alcança-la e falhando.

- Então temos algo? - O que era um sorrisinho irônico se transformou num sorriso cheio de dentes brancos quando finalmente abaixou a garrafa.

- Sexo. Mas nem isso ultimamente - Expliquei tentando tomar a garrafa agora mais baixa que ela segurou com uma força que eu não poderia competir com aquelas mãos ágeis, habilidosas, incríveis e...

- Foram só quatro dias. Não precisa ficar sedenta - Ironizou alçando sua mão livre ao meu queixo que acariciou.

- Acho que a única pessoa sedenta é a que anda contando - Falei tentando outra vez, mas agora com as duas mãos, sendo na verdade arrastada quando ela disputa força comigo no último segundo, cortando a distância entre nós, fazendo com que nossos corpos se chocassem e nossas obsessões de fato estivessem a margem: Nossos olhares trocados, o seu verde pouco a pouco se deixando contaminar pelas faíscas do fogo que ardia nos meus.

- Você é engraçada. Já pensou em trabalhar num circo? - Ironizou acariciando a minha pele com tanta intenção de parar como de me dar espaço, ou seja, não havia nenhuma.

- Não. Mas tampouco pensei em trabalhar num bar e olha como estamos - Falei e ela soltou o ar devagar pela boca antes de exprimir sua irritação.

- Porque está agindo dessa maneira depois de termos selado um acordo? - Perguntou olhando para cima e depois de volta a mim.

- Porque esse evento é fundamental para o bistrô e está dando tudo errado como não deveria estar - Disse o máximo que consegui sem entrar em detalhes maiores sobre o quão importante era para o meu pai para mim.

- Que não tenha acontecido como esperado desde o início não quer dizer que não vai dar certo no fim - Falou me entregando a garrafa só para elevar sua outra mão ao meu rosto, subindo os dedos do queixo até pousa-los na lateral oposta com carinhos leves.

- Mas... - Comecei a refutar. Eu estava vendo que estava dando tudo errado. Errado para caramba e, como tudo na vida, eu estava dando por sem solução e não era pessimismo meu, era a realidade.

- Confia em mim? - Perguntou e minha vontade era não dizer ou fazer nada que confirmasse, mas o mover da minha cabeça foi mais veloz que meus pensamentos de autopreservação.

- Então vamos lá deixar seu pai orgulhoso - Declarou e antes que eu perguntasse quando dei a entender que se tratava de deixa-lo Rafa me deu um selinho doce como apenas ela conseguia, aliviando minhas tensões daqueles dias num curto contato.

- Obrigada - Eu disse quando encostou o nariz no meu com aquele carinho idiota que tinha em seus gestos. Maldita...

- Olha... Ela sabe agradecer! - Falou com deboche e eu devolvi o licor batendo contra seu peito antes que saísse do depósito sendo acompanhada por ela outra vez.

Não importava o quanto nos irritassemos mutuamente, eu tinha a ligeira impressão de que nessa semana desastrosa ela era a única coisa que me manteria no eixo...

🗼

Dessa vez não parei na cozinha. Deixei que o que quer que fosse fazer fizesse da sua forma como selamos naquele jantar.

Não posso negar que vez ou outra acabei olhando pelas persianas discretamente vendo como naturalmente se movia na cozinha, como se nascesse para estar ali e estivesse feliz em estar exatamente onde correspondia.

Eu não errei em contrata-la. Mais além da atração Rafaella era muito segura e confiante no que fazia e isso chegava a mim muito mais rápido do que se dissesse que gostava de mim.

Rafa era independente, forte e brigava pelo que queria e o sentimento de que querer beija-la quando fazia tudo isso era aterrador.

Me desviei das persianas e voltei para os meus papéis o quanto antes. Receberiamos muitas pessoas com o início do evento e eu teria de estar preparada, logo não era demais começar desde agora.

Mas mesmo com tanta antecedência na preparação em algum lugar distante daqui o destino riu de mim como quem diz que não importa o quanto me prepare quando o desastre tem que acontecer ele acontece...

Deliciosamente proibido  -  Versão RabiaWhere stories live. Discover now